A PRODUÇÃO ORAL EM INGLÊS COMO LÍNGUA
ADICIONAL E A FERRAMENTA VOICETHREAD: UMA
ABORDAGEM HÍBRIDA
Lorena Azevedo de Sousa (UFRN)
Janaina Weissheimer (UFRN)
Resumo:
O VoiceThread é uma ferramenta de colaboração assíncrona que permite a
criação de apresentações orais com auxílio de imagens, textos e voz. As
apresentações podem ser gravadas e regravadas várias vezes, permitindo
ao aprendiz se ouvir, perceber as lacunas em sua produção oral (noticing) e
editar suas produções inúmeras vezes antes de publicá-las online. Pesquisas
mostram que essa revisão constante e sistemática pode influenciar
positivamente a habilidade oral dos aprendizes, em termos de precisão
gramatical e fluência, por exemplo.
Palavras-chave: Output, Voicethread, Noticing.
Abstract:
VoiceThread is an asynchronous collaborative tool that enables the creation
of oral presentations with the help of images, text and voice. The
presentations can be recorded and re-recorded multiple times, allowing
the learners to hear, notice the gaps, and edit their oral productions
numerous times before posting them online. Researches show that the
constant and systematic review can positively influence the learners’
speaking skills in terms of accuracy and fluency, for example.
Key-words: Output, Voicethread, Noticing.
Introdução
A Hipótese do Output, proposta por Swain (1985), afirma que a produção
estimula a aquisição da língua por forçar o aprendiz a processar a língua
sintaticamente. Em outras palavras, enquanto que compreender a mensagem não
requer uma análise sintática profunda, essa produção força o aprendiz a prestar
mais atenção na forma com que ele pretende expressar a mensagem. Nesse
processo, o output promove aquisição da língua por fazer com que os aprendizes
reconheçam e se tornem conscientes dos seus problemas linguísticos, os induzindo
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a fazer algo; e, ao produzir, o aprendiz é forçado a um processo sintático maior do
que o que ocorre na compreensão.
Nessa pesquisa, o Voicethread é a ferramenta através da qual os aprendizes
produzirão sua fala não apenas como prática da língua, mas como oportunidade de
se ouvirem para que eles percebam as lacunas existentes na sua interlíngua – o que
eles querem dizer e o que eles podem dizer. A partir desse reconhecimento, os
aprendizes irão procurar corrigir essas falhas e farão as modificações necessárias,
desenvolvendo, portanto, a sua interlíngua (SWAIN, 1995).
Voicethread
De acordo com Bottentuit Junior, Lisbôa & Coutinho (2009), VoiceThread é
uma ferramenta colaborativa que permite a criação de apresentações com auxílio
de imagens, textos e voz, permitindo que grupos de pessoas naveguem e
contribuam com comentários através de cinco maneiras: utilizando a voz (com
microfone ou telefone), texto, arquivo de áudio ou vídeo (webcam).
Esta ferramenta, além de funcionar como rede social, pois permite o
agrupamento de indivíduos dispersos geograficamente, possibilitando a interação e
compartilhamento
de
conhecimentos,
favorece
também
a
aprendizagem
colaborativa. Nesse tipo de aprendizagem, há a discussão de temas de interesse
comum, o que fomenta numa verdadeira comunidade virtual e informal de
aprendizagem.
Como ferramenta educativa, o Voicethread permite que cada estudante
grave individualmente, em formato de áudio, algum trabalho ou opinião a respeito
de um tópico que considere importante, possibilitando o compartilhamento deste
com seus colegas e com o mundo. Para os educadores, esse instrumento promove a
inclusão dos alunos no mundo digital, favorecendo o desenvolvimento de novas
estratégias, e de forma lúdica, para o exercício da oralidade.
Segundo Ducate & Lomicka (2009), estudos anteriores comprovaram que a
maioria dos alunos se mostrou envolvida e motivada com a experiência do uso
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dessa tecnologia. Muitos comentaram que a participação nesses tipos de projeto os
encorajou a prestar mais atenção na pronúncia e os ajudou com a prática da
habilidade
oral.
Em
geral,
os estudantes
responderam
positivamente
às
oportunidades de prática oral disponibilizadas na ferramenta VoiceThread e no
Podcasting, pois eles puderam planejar o que iriam falar: gravar, se ouvir, verificar
os erros gramaticais e de pronúncia, se auto corrigir e regravar; além disso, eles
puderam praticar o speaking de maneira híbrida (além da sala de aula), sem a
pressão dos seus colegas.
Hipótese do Output
Segundo Izumi (2002), o consenso global que tem emergido de décadas de
pesquisa em aquisição de língua adicional é o de que o input desempenha papel
crucial na formação da aquisição do aprendiz. Entretanto, pesquisas recentes tem
ido além do geral interesse na compreensão (input), que é considerado necessário,
porém insuficiente.
No Canadá e em algumas localidades nos Estados Unidos, por exemplo, há
programas onde as crianças recebem toda ou parte de sua educação em uma língua
adicional. Esses programas, chamados de “imersão”, fornecem muitas fontes de
compreensão, input. Pesquisas têm mostrado, por meio de testes, que esses
estudantes que fizeram parte desse programa possuem suas habilidades de reading
e listening equivalentes ao de uma pessoa nativa. Entretanto, ao se verificar suas
habilidades de speaking e writing, eles não alcançam a mesma pontuação.
Isso se explica pelo fato de que a produção oral é muito mais complexa,
linguisticamente, do que a compreensão. Na compreensão muitos sinais linguísticos
são ignorados: redundância gramatical, funções semânticas como, por exemplo,
distinções de singular e plural, etc., porém, eles não afetam no entendimento da
mensagem (SWAIN & LAPKIN, 1995).
Como
alternativa,
pesquisas
têm
estudado
de
que
maneira,
mais
precisamente, os aprendizes processam e interagem com o input para desenvolver
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sua competência interlinguística. Considerando que nem todo input ao qual os
aprendizes foram expostos é transformado em intake, estudos recentes em
psicologia cognitiva têm investigado o papel da atenção no aprendizado,
concluindo que a consciência é necessária para que ocorra o aprendizado de fato.
De acordo com Izumi & Bigelow (2000), Consciousness-raising (termo
introduzido por Sharwood Smith, 1981) refere-se às tentativas dos professores ou
pesquisadores em se aumentar o nível de consciência do aprendiz, promovendo um
desenvolvimento do seu conhecimento da língua adicional. Estudos comprovam que
focar a atenção do aprendiz na forma facilita sua aprendizagem e o torna mais
correto gramaticalmente. Segundo Schmidt (1990, 1995), a hipótese do Noticing
afirma que o intake é a parte do input que o aprendiz percebe. O Noticing é a
condição necessária e suficiente para a conversão desse input em intake, e requer
atenção e conhecimento por parte do aprendiz.
Além do input, há um outro tipo de abordagem que tem recebido uma
considerável atenção nas pesquisas mais recentes sobre aquisição de uma segunda
língua: o output. Enquanto a atenção no caso do input visual é induzida por meios
externos, a atenção no output surge internamente através de processos produtivos
que facilitam a identificação dos problemas. Consequentemente, o aprendiz busca,
através do input, auxílios para sua produção.
A visão popular do output de hoje em dia é a de que ele constitui não apenas
o produto da aquisição ou o meio pelo qual o aprendiz pratica a língua para
aumentar sua fluência, mas também um fator causal potencialmente importante no
processo de aquisição. Em geral, a importância do output no aprendizado pode ser
interpretada em termos de desenvolvimento ativo dos recursos cognitivos do
aprendiz. Em outras palavras, pressupõe-se que os requisitos do output oferecem
aos aprendizes oportunidades únicas para processar a língua que pode não ser
necessária decisivamente para a simples compreensão (IZUMI, 2002).
Entre os muitos métodos e técnicas que visam facilitar o desenvolvimento da
gramática da interlíngua de um aprendiz, o papel do output na aquisição da
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segunda língua ainda é relativamente inexplorado. Uma suposição comum é a de
que o output é apenas uma indicação de que a segunda língua já ocupa um lugar e
não desempenha nenhum papel significante no processo de aquisição. Entretanto,
essa hipótese foi questionada com a publicação de Swain (1985), quando pela
primeira vez a Hipótese do Output foi proposta.
A Hipótese do Output afirma que a produção estimula a aquisição da língua
por forçar o aprendiz a processá-la sintaticamente. Em outras palavras, enquanto
que compreender a mensagem não requer uma análise sintática profunda, essa
produção força o aprendiz a prestar mais atenção na forma com que ele pretende
expressar a mensagem. Nesse processo, o output promove aquisição da língua por
fazer com que os aprendizes reconheçam e se tornem conscientes dos seus
problemas linguísticos, os induzindo a fazer algo; e, ao produzir, o aprendiz é
forçado a um processo sintático maior do que o que ocorre na compreensão.
É importante reconhecer que a Hipótese do Output de nenhuma maneira
nega a importância do input ou da compreensão. A intenção é complementar e
reforçar, ao invés de substituir.
Dentre as várias funções do output identificadas por Swain (1995), o estudo
de Izumi & Bigelow (2000), que será descrito em seguida, foca na função de
noticing/triggering. Swain (1995) argumenta que ao se produzir a língua adicional
(vocalmente ou subvocalmente) os aprendizes podem perceber a lacuna entre o
que eles querem dizer e o que eles podem dizer, fazendo com que eles
reconheçam o que não sabem ou sabem apenas parcialmente. Em outras palavras,
atividades de produção fazem os aprendizes reconhecerem conscientemente seus
problemas linguísticos e os chama atenção para descobrirem novas informações
sobre a língua adicional.
Várias razões subjazem o foco nessa função do noticing. Primeiramente, a
função
do
output
tem
implicações
teóricas
e
pedagógicas
importantes.
Teoricamente, ela está diretamente relacionada com a questão da detecção,
noticing. Pedagogicamente, apesar de ser uma prática de ensino de línguas, faz-se
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relevante avaliar se e como a produção ajuda na aprendizagem. Em segundo lugar,
é de grande interesse saber se as atividades de produção escrita seguidas de input
relevante facilitariam o noticing e o aprendizado de uma forma gramatical
específica que os estudantes têm dificuldade de aprender. Por último, poucas
pesquisas até agora têm investigado a função noticing/triggering do output.
Uma dessas poucas pesquisas foi a realizada por Izumi, Bigelow, Fujiwara &
Fearnow (1999). Examinou-se se o reconhecimento dos problemas durante a
produção levava os aprendizes a pesquisarem input com atenção mais focada na
forma gramatical específica. Izumi ET AL. (1999) Comparou o aprendizado de um
tópico gramatical de dois grupos: um experimental, que produziu output escrito e
depois foi apresentado ao input na forma de leitura de passagens curtas, e um
controle, que foi exposto a esse mesmo input porém com o propósito de
compreensão apenas.
Na primeira fase, o grupo experimental reconstruiu o texto que tinha sido
apresentado a eles, da forma mais correta gramaticalmente possível. Na segunda
fase, esse mesmo grupo escreveu um ensaio a respeito de um tópico dado e depois
foi mostrado um modelo de ensaio. O grupo controle foi exposto ao mesmo input,
mas ao invés de reconstruir um texto ou escrever um ensaio, eles responderam
questões de compreensão.
Os três principais resultados desse estudo foram: primeiro, o grupo
experimental e o grupo controle demonstraram aumento no noticing, medido
através dos sublinhados a medida que eles liam as passagens (input). Segundo, o
grupo experimental demonstrou um índice significante de entendimento na sua
produção imediatamente seguida da exposição ao input. Terceiro, o grupo
experimental teve ganhos (na produção após a segunda fase) maiores do que o
grupo controle. Esses resultados sustentam a função de noticing do output no
aprendizado de uma língua adicional.
Similarmente à pesquisa feita por Izumi, Bigelow, Fujiwara & Fearnow
(1999), o estudo feito por Izumi & Bigelow (2000) buscou saber se as atividades de
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output promoviam a percepção da forma linguística subsequente ao input, e se
essas atividades de output-input resultavam em uma produção melhorada da forma
da língua alvo.
A primeira hipótese foi a de que o grupo experimental, que produziu output,
mostraria maior percepção do tópico gramatical contido no input do que o grupo
controle, que não produziu output, mas respondeu algumas questões de
compreensão.
Essa
hipótese
não foi
confirmada,
pois
ambos
os
grupos
reconheceram praticamente o mesmo percentual.
A segunda hipótese foi a de que depois de ter sido exposto ao input o grupo
experimental indicaria imediatamente o uso dessa forma em seu output. Essa
segunda hipótese foi parcialmente sustentada. Entretanto, considerando também
os resultados da primeira hipótese, esse fraco resultado sugere que a produção do
grupo experimental não necessariamente provocou uma maior percepção do que a
atividade de compreensão do grupo controle.
A terceira hipótese foi a de que após os pós-testes o grupo experimental
mostraria maiores ganhos na acurácia do uso da forma alvo do que o grupo
controle. O resultado desse estudo também não favoreceu a essa hipótese, pois
ambos os grupos melhoraram significativamente no uso da forma, sem diferenças
significativas entre eles.
Pode se concluir que embora os resultados não tenham mostrado nenhum
efeito do output, oportunidades oferecidas com a produção e o recebimento de
input relevante foram considerados cruciais no melhoramento do uso da estrutura
da língua adicional.
Outra pesquisa, dentre as poucas a investigar a função do noticing/triggering
do output, foi o estudo de Swain & Lapkin (1995). Este teve o propósito de
determinar se a própria produção do aprendiz servia como instrumento para
chamar sua atenção e, se sim, se ela também servia para estimular o aprendiz a
engajar em uma análise linguística.
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O interesse de Swain & Lapkin (1995) era em saber se a identificação dos
problemas era resultado da tentativa de produzir a língua, e o que eles relatavam
estarem fazendo para superá-los. Para isso, elas buscaram responder a três
perguntas de pesquisa: (1) se, ao produzir a língua, os jovens adultos se tornam
conscientes das lacunas em seu conhecimento linguístico; (2) ao perceber essa
falha através da produção da língua, o que eles fazem; (3) e se eles se engajam em
análises gramaticais e sintáticas ao tentar resolver esses problemas linguísticos.
Uma das hipóteses dessa pesquisa é a de que o output é um dos gatilhos para
o noticing. Em outras palavras, ao produzir a língua alvo o aprendiz encontrará
algum problema, o conduzindo a reconhecer o que ele não sabe ou sabe
parcialmente, os fazendo reconhecer seus problemas linguísticos. A hipótese do
output afirma que, mesmo sem um feedback explícito ou implícito fornecido por
um interlocutor, o aprendiz pode notar uma lacuna existente em seu próprio
conhecimento quando encontra um problema ao tentar produzir a língua adicional.
Há evidências de que ao notar os problemas os aprendizes tentam fazer algo para
corrigi-los.
Os dezoito estudantes, com idade média de treze anos, receberam uma
breve explicação em inglês sobre o que eles deveriam fazer. Foi explicado que o
pesquisador estava interessado em saber o que eles estavam pensando ao escrever
um texto, de um ou dois parágrafos, acerca de um tópico dado. Enquanto eles
escreviam (em francês), eles deveriam reportar, em voz alta (em inglês ou
francês), a respeito das modificações e correções feitas durante o processo de
produção. Após escrever o rascunho do texto, os estudantes deveriam editá-lo
usando uma caneta vermelha e pensando em voz alta para que seus comentários
fossem, novamente, gravados.
Os resultados dessa pesquisa comprovaram a primeira pergunta de pesquisa,
afirmando que, sim, os aprendizes se tornaram conscientes das lacunas existentes
no seu conhecimento linguístico a medida que produziam a sua língua adicional e,
ao perceber essa falha, eles se emprenharam em processos de pensamento.
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Foram notados 113 episódios relacionados à língua durante a criação do
rascunho, e 72 durante a fase de edição. Dos 113 episódios durante a fase de
rascunho, 50% deles foram relacionados ao léxico. Durante a fase de edição,
apenas 6% foram relacionados ao léxico e mais atenção, 75% dos episódios, foi dada
ao “fazer sentido”, como a sentença soava e se estava gramaticalmente correta.
Em resumo, o estudo sugeriu que a necessidade comunicativa da criação da
tarefa forçou os aprendizes a pensar na forma do seu output linguístico. Em outras
palavras, moveu o aprendiz do processo semântico para gramatical.
Pesquisas anteriores, como a de Pica (1989), mostraram que dois terços das
modificações foram semânticos e morfossintáticos. Apesar de ainda não haver
comprovações a respeito da manutenção dessa modificação na interlíngua do
aprendiz, assume-se que esse processo contribui para a aquisição de uma segunda
língua.
De acordo com um estudo de Nobuyoshi & Ellis (1993), há dois significados
para aquisição: o primeiro refere-se à internalização de novas formas, e o segundo
refere-se ao aumento do controle sobre as formas que têm sido internalizadas.
Acredita-se que ao forçar os aprendizes a modificar sua produção está se instigando
um aumento na sua habilidade de utilizar o conhecimento gramatical de maneira
mais correta. Além disso, acredita-se que ao se testar hipóteses e experimentar
novas estruturas e formas o aprendiz estará explorando e expandindo os recursos
da sua interlíngua de maneira criativa.
Os processos envolvidos na produção de uma língua são completamente
diferentes dos envolvidos na compreensão. De acordo com Van Dijk & Kintsch
(1983), pode-se entender uma sentença utilizando apenas as palavras chaves
isoladamente. Segundo Krashen (1982), em muitos casos não se utiliza sintaxe no
entendimento. Geralmente, se entende a mensagem por meio da combinação do
vocabulário, ou da informação lexical mais a informação extralinguística. Para Gary
& Gary (1981), o ato de falar requer mais tarefas complexas linguisticamente do
que a compreensão. Na compreensão, muitos sinais linguísticos podem ser
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ignorados como, por exemplo, redundâncias gramaticais e funções semânticas, sem
que haja distorção da mensagem a ser compreendida.
O tipo de processo necessário para a compreensão é diferente do tipo de
processo requisitado na produção e, por fim, na aquisição. Cook (1991) afirmou que
a habilidade de decodificar a língua (decoding), ou seja, a habilidade de entender
o significado transmitido por uma sentença particular, não é a mesma que quebrar
o código (code breaking), em outras palavras, explorar os sistemas linguísticos que
carregam aquele significado.
Com base nesses argumentos, portanto, Swain (1985) sugeriu que talvez uma
das funções do output seja forçar o aprendiz a se deslocar do processo semântico
prevalente para o processo sintático necessário para a produção. Possa ser que,
produzindo, os aprendizes reconheçam o que eles não sabem ou sabem
parcialmente. Essa ação pode, portanto, acionar uma análise dos dados do input,
ou seja, uma análise sintática, ou pode acionar uma análise dos recursos
linguísticos internos existentes, a fim de preencher a lacuna.
Projeto Piloto
O projeto piloto feito durante o primeiro semestre do ano de 2012 teve a
seguinte pergunta de pesquisa: a exposição sistemática ao Voicethread pode
impactar na produção oral de aprendizes de inglês como língua adicional em
termos de fluência e acurácia? Os participantes foram 26 estudantes matriculados
na disciplina de compreensão e expressão oral do curso de letras língua inglesa da
UFRN, campus Natal.
Eles vivenciaram uma experiência híbrida por 12 semanas, com momentos
presenciais: 90 minutos de aula duas vezes por semana, focada na preparação para
o CAE (Certificate in Advanced English); e momentos não presenciais, que
consistiram em 5 sessões de Voicethread. As sessões de Voicethread abordaram
temas diversos como, por exemplo, discussões a respeito de como melhorar as
habilidades de listening e speaking, assim como a descrição do filme favorito deles.
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Antes e após essa experiência híbrida, foram aplicados o pré e o pós teste a
fim de verificar a fluência (número de palavras por minuto) e a acurácia (número
de erros a cada 100 palavras). Esses testes consistiram de uma espécie de simulado
da parte 2 do teste de speaking do CAE.
Os resultados mostraram que o número de erros diminuiu, tendo sido uma
média de 4 erros no pré teste e 2 no pós. O número de palavras por minuto
aumentou, de 120 para 121. Portanto, pode-se concluir que a exposição híbrida de
atividades de speaking em sala de aula e através do Voicethread parece
potencializar o desenvolvimento da fluência e da acurácia da fala dos aprendizes
da língua adicional.
Pesquisa Atual
A pesquisa que está em andamento atualmente consiste em dois grupos: um
grupo experimental, usuário da ferramenta voicethread; e outro grupo controle,
não usuário. Ambos os grupos passarão pelo pré e pós-teste, nos quais eles terão
que descrever uma figura. Essa figura faz parte da terceira etapa da avaliação de
speaking do PET – Preliminary English Test da Cambridge. Com esses testes, serão
avaliadas a acurácia (quantidade de erros gramaticais em cada 100 palavras), a
complexidade (número de orações subordinadas por minuto), e a fluência (número
de palavras por minuto) das produções orais dos alunos (WEISSHEIMER, 2007). Além
disso, será também avaliado o registro cognitivo (número de erros percebidos pelo
aluno dividido pelo número total de erros) dos participantes e será dada uma nota
global por professores proficientes na língua inglesa.
O objetivo desses pré e pós-testes com ambos os grupos é verificar se há
uma correlação entre o grupo usuário de voicethread e o grupo não usuário, quais
as diferenças entre eles e se o voicethread é realmente responsável por essas
diferenças.
Entre o pré e pós-teste (intervalo de aproximadamente dois meses), o grupo
experimental passará por uma intervenção híbrida através de sessões semanais de
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atividades de speaking por meio da ferramenta voicethread. Após as sessões de
voicethread e após o pós-teste, esse grupo responderá a um questionário que
pretende abordar questões relacionadas às reações dos aprendizes ao participarem
desse processo de utilização dessa nova tecnologia para desenvolver sua habilidade
oral.
Portanto, as perguntas de pesquisas são: (1) De que forma a prática
sistemática com a ferramenta voicethread, em uma abordagem híbrida, influencia
a habilidade de noticing dos aprendizes da língua inglesa? (2) De que forma a
prática sistemática com a ferramenta voicethread influencia no desenvolvimento
da habilidade oral dos aprendizes (acurácia, complexidade, fluência…)? E (3) como
os alunos se sentem ao participar desse processo?
Considerações finais
Segundo Souza (2004), a discussão mediada pelo computador pode
influenciar no aumento da proficiência e da competência comunicativa tanto
campo da língua escrita quanto no campo da língua oral. Além disso, a discussão
eletrônica parece permitir uma maior autonomia do aprendiz, pois este tem a
liberdade de propor tópicos, tomar a iniciativa para se começar uma conversa,
além de poder intervir com suas opiniões. O uso da ferramenta Voicethread e do
podcast são dois desses meios em que o aprendiz pode usar sua criatividade.
Entretanto, apesar das diversas pesquisas na área de podcasting e produção
oral por meio de tecnologias, ainda há algumas limitações no que se diz respeito ao
impacto que esses meios têm sobre a habilidade oral dos estudantes.
Alguns projetos descritos por Ducate & Lomicka (2009) como, por exemplo, a
criação de podcasts sobre as atrações turísticas de diferentes cidades, por
estudantes de alemão e francês, mostrou que a maioria considerou essa ação uma
experiência positiva. Eles comentaram que a sua participação nesse projeto os
ajudaram a ter mais atenção com a pronúncia e com a prática da oralidade. Outros
comentaram positivamente a respeito do speaking sem a pressão dos colegas de
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sala de aula, o que tornou a tarefa mais fácil, pois eles tinham mais tempo para
pensar e praticar, além de permitir a regravação e correção dos erros.
Percebe-se que muitos resultados demonstram a satisfação do aprendiz e
apresentam depoimentos de estudantes dizendo ter percebido uma melhora nas
suas habilidades orais e auditivas. Entretanto essa área ainda carece de números ou
resultados mais concretos a respeito dos ganhos, do impacto do uso dessas
ferramentas na produção oral dos alunos.
Portanto, a presente pesquisa tem relevância científica e acadêmica por
abordar um tema que ainda requer muitos estudos, que é a influência do uso de
tecnologias no ensino e aprendizagem de línguas. Além disso, este estudo também
aborda o desenvolvimento da autonomia dos alunos e especialmente a prática de
atividades de output por meio da internet/computador. Sabe-se que é mais
acessível a prática das habilidades de reading e listening, pois há um vasto
material disponível online. Porém, ainda se carece de muitos estudos sobre a
prática das habilidades de speaking e writing por meio dessas tecnologias.
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Janaina Weissheimer, Profa. Dra.
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