IMVF POLICY PAPER 1/2013 RESUMO DO COLÓQUIO Lisboa, 2 de junho de 2015 O Financiamento do Desenvolvimento no Âmbito dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável Colóquio, 2 de junho de 2015 Introdução Luís Amado PRESIDENTE DA COMISSÃO ORGANIZADORA DAS CONFERÊNCIAS DE LISBOA Este colóquio foi organizado pelas Conferências de Lisboa na Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, a 2 de junho de 2015. Teve por objetivo debater as oportunidades e desafios do financiamento do desenvolvimento, num contexto em que está em definição uma agenda global para o desenvolvimento pós-2015, com a previsível aprovação dos novos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável em setembro de 2015. O colóquio realizou-se no âmbito do Ano Europeu do Desenvolvimento e contou com as intervenções do presidente da comissão organizadora das Conferências de Lisboa, Luís Amado, do Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, Luís Campos Ferreira, do Comissário Europeu para o Desenvolvimento e Cooperação Internacional, Neven Mimica, e com os comentários do coordenador da comissão executiva das Conferências de Lisboa, Fernando Jorge Cardoso. Seguiu-se um debate que potenciou uma discussão mais alargada sobre o tema em análise. Nesta sessão, que contou com cerca de 90 participantes, foi igualmente lançado e distribuído o livro da 1ª edição das Conferências de Lisboa sobre Desenvolvimento, a qual teve lugar em dezembro de 2014 na Fundação Calouste Gulbenkian. Esta publicação apresenta as intervenções e discursos realizados, bem como um resumo do debate. As apresentações são reproduzidas na língua em que foram proferidas. 1 CONFERÊNCIAS DE LISBOA I want to thank you Mr. Commissioner for the availability to come and stay with us this morning, in this seminar on Financing for Development in the context of the Sustainable Development Goals. What brings us to the Lisbon Conferences? Those who decided to launch these Conferences wanted to organise in Lisbon, from time to time, different conferences and debates under the same umbrella: Development. This is something we will also try to underline is this moment in which we are celebrating the beginning of our Discoveries’ adventure. In next August, we will celebrate six centuries of the Conquer of Ceuta, which symbolically is a reference because it marks the beginning of globalisation as we know it today. Indeed we can consider that it begun six centuries ago under this strange outset of launching people into the ocean as a way to survive, within a context of a very complex geopolitics in the Iberia Peninsula at that time. The launching of the Lisbon Conferences is associated with this adventure and with the process of globalisation which is impacting in our lives on a daily basis. Lisbon was in the 15th, 16th and 17th centuries a platform for connecting civilizations and cultures, a door open to the world; and in the moment we suffer the impact of the economic and social O Financiamento do Desenvolvimento no Âmbito dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável Colóquio, 2 de junho de 2015 crisis, with a very serious geopolitical crisis of Europe, we need to go back to our own history and focus on all the dynamics we have generated - which are still today shaping the geopolitics of the modern world. Development is also being impacted by huge dynamics of change and by the transformations that the world is living today. The dramatic, profound and quick changes in the concept of development are certainly a central topic for our discussions during the next couple of years under the umbrella of the Lisbon Conferences. It is therefore very relevant to organise a seminar with the intervention of the Commissioner that is in charge of the European Development Policy. Since the Millennium Development Goals in 2000 and the Monterrey Consensus in 2002, the world witnessed deep changes that certainly had an impact on the way financing for development is conceived and how policies are implemented, both at global and national levels. The magnitude and speed of these changes are affecting the nature of relations between people, between cultures, between human societies and the environment. That’s why we expect that during the next conference in Addis Ababa an important policy package can be discussed and agreed for the future and I am sure that the European Union, which is a main pillar of development policy around the world, will have an important and determining position in the accomplishments and successful outcomes of that Conference on Financing for Development. Commissioner Neven Mimica, whom I thank again for his presence here today, is a very experienced politician and an inspiration. He has had different roles and functions representing his country and has now the only job I really envy - I told him this morning, because it is indeed fascinating and fulfilling to have the tools to try to make a difference and change things on a European and global scale. He has those tools considering the role played by the European Union in development policies around the world and considering also the role of Member States policies within European 2 CONFERÊNCIAS DE LISBOA Institutions. I also want to thank the Portuguese Secretary of State, for his support to the Lisbon Conferences from the early beginning as well as for the availability to participate in this session. Thank you all for coming and all the best for the Lisbon Conferences. Luís Campos Ferreira SECRETÁRIO DE ESTADO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS E DA COOPERAÇÃO Esta Conferência não podia ser mais oportuna. Quer quanto ao tema, da máxima relevância para a Europa e para o Mundo, quer quanto ao momento em que tem lugar. Agradeço por isso à Comissão Organizadora das Conferências de Lisboa, aqui bem representadas pelo Dr. Luís Amado e pelo Professor Fernando Jorge Cardoso, pela visão e empenho na organização deste evento, ao qual o Camões – Instituto da Cooperação e da Língua de imediato se associou. É uma honra participar neste ilustre painel de oradores, onde, permitam-me, devo destacar o Senhor Comissário Neven Mimica, oficialmente em Lisboa pela primeira vez desde que assumiu funções. Senhor Comissário, A sua presença merece ser sublinhada, especialmente porque ocorre num momento crucial do debate internacional sobre a O Financiamento do Desenvolvimento no Âmbito dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável Colóquio, 2 de junho de 2015 agenda pós-2015 e respetivos meios de implementação. Estivemos juntos há uma semana, em Bruxelas, no Conselho de Ministros de Desenvolvimento, e compreendemos bem a exigência das áreas que coordena e os vários desafios que tem – temos – pela frente em relação ao papel da cooperação para o desenvolvimento e a sua relação com as migrações ou a segurança e desenvolvimento. Estamos hoje a pouco mais de um mês da Conferência de Adis Abeba sobre o financiamento do desenvolvimento, e a cerca de três meses da Cimeira de setembro que adotará a agenda pós-2015, e ainda temos um enorme e importante trabalho pela frente. Não obstante, os resultados até agora alcançados na negociação da agenda pós2015 são verdadeiramente encorajadores. Ao que tudo indica, a universalidade desta agenda e os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) propostos pelo Grupo de Trabalho Aberto não serão postos em causa, o que seria impensável há pouco mais de um ano. O facto de podermos hoje debater uma agenda global, que pressupõe uma verdadeira conjugação de esforços e de objetivos à escala planetária é, em si mesmo, um ponto de viragem histórico na forma como concebemos e trabalhamos o desenvolvimento, e um reconhecimento claro que nenhum país poderá encarar o seu próprio desenvolvimento de forma isolada. A abordagem contida nos 17 ODS é, ela própria, uma mudança de paradigma importante relativamente ao passado, ao integrar não só uma forte dimensão social como também uma maior dimensão ambiental e económica, e de respeito e promoção pela transversalidade dos Direitos Humanos, dimensões estas claramente interligadas. Acresce que, contrariamente aos ODM, esta nova agenda tem sido definida de forma 3 CONFERÊNCIAS DE LISBOA aberta e participativa, da base para o topo, o que constitui, sem dúvida, uma condição importante para que tenha sido possível caminhar neste sentido, indo muito além da tradicional visão entre Estados. Foi com este espírito, com esta convicção de que se trata de uma agenda de todos, na qual os vários atores se deverão rever e para cuja implementação deverão ser mobilizados, que preparámos o documento oficial da posição de Portugal sobre a agenda pós-2015. Resultou de um amplo processo de consulta aos vários ministérios e à sociedade civil, a municípios e universidades, bem como a organizações internacionais presentes em Portugal, que integraram um Grupo de Trabalho sobre esta agenda. E no final, foi politicamente endossado em sede de Conselho de Ministros, o que lhe conferiu uma especial importância no topo das prioridades deste Governo e da sua política externa. Recordo que Portugal foi ainda um dos países que, por convite do PNUD e da UN Habitat, acolheu, no primeiro semestre de 2014, uma consulta pública sobre a dimensão local da agenda pós-2015 que envolveu diversos atores nacionais, cujo envolvimento, numa fase ainda muito inicial, foi reconhecido por todos como extremamente importante para atingirmos uma posição nacional una e coesa. Senhoras e Senhores, A dimensão global desta agenda e o respetivo grau de ambição só poderão ser concretizados se acompanhados de uma abordagem idêntica ao nível dos meios de implementação. As questões relativas à Ajuda Pública ao Desenvolvimento ocuparão seguramente uma boa parte das negociações que se aproximam e são essenciais sobretudo para os países que enfrentam maiores níveis de pobreza e que não dispõe de recursos O Financiamento do Desenvolvimento no Âmbito dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável Colóquio, 2 de junho de 2015 necessários para, por si só, implementar os objetivos definidos. Refiro-me em particular aos Países Menos Avançados, aos Estados Frágeis, bem como aos Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento (SIDS) e a uma parte importante dos países africanos que se enquadram, em muitos dos casos, em mais do que uma destas categorias. Contudo, uma agenda global e partilhada desta natureza exige uma abordagem substancialmente mais ampla e equilibrada do que a estabelecida nas anteriores Conferências de Monterrey e de Doha. Estou por isso convicto que o sucesso de Adis será precisamente a adoção de compromissos compatíveis com a universalidade desta Agenda, ou seja, compromissos que permitam ultrapassar ou pelo menos atenuar a abordagem Norte-Sul, doadorrecetor, que ainda está muito presente nas negociações em Nova Iorque. Preocupa-me, sobretudo, que esta visão (ou diria melhor, cisão) seja perpetuada precisamente pelos países que deveriam, eles próprios, assumir responsabilidades mais compatíveis com o peso político e financeiro que atualmente detêm, em prol dos países mais necessitados que dizem representar. Refiro-me especificamente às economias emergentes e países de rendimento alto que também devem ser chamados a desempenhar o seu papel. O mundo mudou muito nesta última década. Mudou radicalmente! Os desafios são hoje maiores e estão totalmente interligados. E a repartição da riqueza já não é a mesma que existia quando os ODM foram adotados. A menos que os resultados da Conferência de Adis Abeba e da Cimeira de Nova Iorque reflitam essa mudança, todo o grau de ambição da agenda pós-2015 será seriamente comprometido. Por isso, devo aqui sublinhar a posição da União Europeia adotada no Conselho de Ministros do Desenvolvimento da semana passada, em Bruxelas, que referi no 4 CONFERÊNCIAS DE LISBOA início da minha intervenção. O debate e a posição ali assumida constituem um contributo importante para essa mudança de paradigma, ao apontar para um maior equilíbrio na partilha de responsabilidades entre os chamados doadores tradicionais, as economias emergentes e cada um dos países, bem como entre os meios de implementação financeiros e não-financeiros. No espírito do Conceito Estratégico da Cooperação Portuguesa 2014-2020, devo destacar a intervenção de Portugal, que mereceu o consequente apoio da Comissão Europeia, que não só enfatizou esta mudança de paradigma como assumiu um forte compromisso político com o continente africano, bem como com os Países Menos Avançados. Senhoras e Senhores, A União Europeia tem um papel importante a desempenhar na concretização dos ODS, tanto ao nível dos seus Estados Membros, em linha com a universalidade da agenda, quer no quadro do seu relacionamento externo, com destaque para a política de cooperação para o desenvolvimento, mas que deverá necessariamente envolver a mobilização de várias outras políticas, com destaque para o comércio ou o ambiente. Mas também quero aproveitar para sublinhar o papel ativo e o contributo que Portugal tem dado a outras organizações internacionais neste debate. Destaco o caso do Comité de Ajuda ao Desenvolvimento da OCDE, que se tem evidenciado na reflexão sobre as questões do financiamento do desenvolvimento e que possui uma experiência e conhecimento relevante em muitas outras áreas. Neste contexto, realço a definição de uma nova medida do esforço público total de apoio ao desenvolvimento sustentável (por ora designada de TOSD), uma medida que deverá ser complementar ao cálculo da Ajuda Pública O Financiamento do Desenvolvimento no Âmbito dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável Colóquio, 2 de junho de 2015 ao Desenvolvimento (APD) e que melhor reflita a panóplia de recursos mobilizados a favor da concretização dos ODS definidos no quadro da agenda pós-2015. Neven Mimica COMISSÁRIO EUROPEU PARA O DESENVOLVIMENTO E COOPERAÇÃO INTERNACIONAL, COMISSÃO EUROPEIA Este ponto é verdadeiramente essencial, pois deste debate sairá a nova forma de calcularmos – com real dimensão – a verdadeira contribuição para o desenvolvimento, adequando este conceito à evolução da arquitetura internacional da cooperação, com novos atores, nomeadamente o setor privado, novas modalidades e novos desafios nas relações entre Estados. Deve por isso ser alvo de um debate verdadeiramente inclusivo, de forma a assegurar que servirá tanto os países desenvolvidos como em desenvolvimento. Esta abordagem está incluída, quer na posição da União Europeia, como na proposta de documento final da Conferência de Adis Abeba que está atualmente a ser negociada em Nova Iorque. I would like to begin by recalling a comment made by Portugal's Nobel Prize winner for literature, José Saramago: 'There are plenty of reasons not to put up with the world as it is.' Por isso vos referi no início que este tema e o momento em que o discutimos não poderia ser mais oportuno. Porque é agora que estamos a negociar e é agora que devemos, enquanto União Europeia, assumir uma posição coesa de liderança que nos permita sobressair enquanto referência – que já somos – na cooperação para o desenvolvimento! Indeed, I am sure that we can all think of many examples of how the world can and should change for the better – economically, politically, socially, environmentally. Porque convém sempre sublinhar que a União Europeia tem sido, e continuará a ser, o principal doador internacional, passo a palavra ao Senhor Comissário Neven Mimica. As policy makers, we can go a step further to find possible solutions and to put them into practice, through cooperation, dialogue and determination to make a difference. As individuals, we can all identify ways in which we can make a small contribution to improving the life of those around us. As European Commissioner for international cooperation and development, I am determined to see the European Union fully play its part as a leader in global development policy, and act as a strong agent for that change in the international agenda. This year, 2015, is both the European Year for Development and a crucial year for the international development agenda. 5 CONFERÊNCIAS DE LISBOA O Financiamento do Desenvolvimento no Âmbito dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável Colóquio, 2 de junho de 2015 We have a unique opportunity to reshape the global agenda for the post-2015 period and to have a greater impact on the daily lives of people everywhere in the world – and in particular in developing countries. The decisions that will be taken at a number of key international conferences this year will determine the scope of our ambition for the years – even decades – to come. Today's conference is focussing on one particular aspect of a complex set of development issues – financing for development. Or, to put it another way, finding the way how to implement the new international development cooperation agenda with the strongest possible means of implementation. This goes beyond issues that are purely financial and touches on a number of broader questions. We are now less than two months away from the third international Conference on Financing for Development in Addis Ababa, which should set out the means of implementation for the post-2015 agenda. The EU has succeeded so far in being in the driving seat of the international processes that led to an Open Working Group proposal on the Sustainable Development Goals and to a draft outcome document for Addis. We must remain united and continue to show leadership at this last stretch of the negotiations. Evidence of this leadership will be the political message that we send in Addis Ababa about the EU's commitment to supporting the implementation of the post-2015 agenda. An ambitious EU contribution would help build the trust and confidence needed to secure a successful outcome, not only in Addis, but also at the United Nations Summit in New York in September and at the climate change conference in Paris in December. 6 CONFERÊNCIAS DE LISBOA The Addis Conference is not a pledging conference, and it must not be an ODA conference only. In its outcome document, it should cover both the financial side – public, private, domestic and international – and the non-financial enabling policy environment. I am confident that the ODA has to retain its symbolic iconic value and importance for the implementation of the new development agenda, especially in the countries that are most in need – the least developed countries in state of fragility and conflict. But the real financial impact of the ODA is by far not sufficient to cover all the needs of such a broad, new global development agenda. Whatever the ODA commitments we could reach in Addis, it would amount to less than 10% of the overall finance required to meet the sustainable development goals. In this respect, the EU should act in Addis along two equally relevant lines – reconfirming its strong adherence to the ODA commitments and forging an innovative approach to the ODA in order to use it in a more strategic, more catalytic way to facilitate and to leverage other resources, primarily private and domestic. And I see, I feel, that our insistence on these two lines of action is bearing fruits. A shared understanding is emerging – not only here in Europe, but also within the entire UN family – that to implement such a far-reaching agenda we need a broader, comprehensive approach to Means of Implementation. One that includes domestic resource mobilisation, the role of the private sector, innovative finance, remittances, trade, science, technology, innovation, human development, sustainable agriculture and nutrition, gender, energy and the environment. These are all areas in which the European Union has a particular expertise or experience on which to draw. O Financiamento do Desenvolvimento no Âmbito dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável Colóquio, 2 de junho de 2015 Indeed, the issue of financing for development cannot be addressed in isolation from the surrounding policy environment, nor from the national and global economic and financial contexts. those that have a traditionally close relationship with Portugal. The Union has reiterated its strong commitment to Africa and has undertaken to prioritise and increase it financial assistance to the continent. A clear and results-oriented good policy and governance framework really matter. It is an indispensable condition for any form of financing to have real and lasting impact. Of course, the EU should not be the only group with a timetabled commitment to the ODA targets - that is why we wish to use our recommitment to 'encourage' commitments from other developed countries and from emerging economies. The EU's efforts alone will not be enough to support such an ambitious set of Goals. Coming back to the ODA, I also sense that a clear EU position is now emerging. Discussions in Brussels with EU Member States on these issues have led to a strong and constructive position at Council, supporting the vision expressed in our Commission Communication of February this year. Last week, development ministers reaffirmed the EU's collective commitment to achieve a level of official development assistance that represents 0.7% of gross national income, within the time frame of the post-2015 agenda. This is important. It shows that, even at time of budgetary constraints, the EU is not shying away from its commitments. With these conclusions, the EU is leading the way internationally ahead of the Addis and New York conferences, by making a public commitment to achieving the UN ODA targets within a specific time frame. In addition, EU Member States last week agreed to focus efforts on the least developed countries, by committing to meet collectively the target of 0.15 – 0.20 % of gross national income in official development assistance to least developed countries in the short term. And, for the first time, they committed to reaching the upper target of 0.20 % within the time-frame of the post-2015 agenda. Such a position clearly articulates our continued support for the poorest countries and sends out a strong political signal. EU Member States have also recognised the particular challenges faced by developing countries in Africa. This, of course, includes 7 CONFERÊNCIAS DE LISBOA Beyond the important issue of levels and targets for official development assistance, it is important that I also outline some of the other key points for the European Union in the discussion on means of implementation. The Commission has proposed actions for an enabling policy environment at all levels, for mobilising and making effective use of domestic and international public finance – and for getting the private sector on board. This includes policies and legal frameworks, plus effective institutions with clear and transparent governance on behalf of citizens. A comprehensive approach must address areas such as the effectiveness of taxation systems, competition and trade policies. The aim is to facilitate greater capacity in recipient countries to mobilise their own domestic resources and to assume more responsibility themselves. When it comes to effectiveness of taxation systems, the European Commission has started our own action on fairer and more transparent taxation in the EU aimed at preventing tax base erosion and ensuring taxation where the profit is generated. This initiative contributes much to our credibility in global development agenda, because we should not ask from others to do something that we do not do at home. O Financiamento do Desenvolvimento no Âmbito dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável Colóquio, 2 de junho de 2015 We will also need to put greater focus on innovative financing instruments that can help to deliver assistance more effectively, raise more resources and leverage more private sector engagement. For example, strategically blending grants with public and private financing helps to unlock investments with considerable knock-on effects for small and medium-sized enterprises and the development of infrastructure in sectors such as energy, transport and the environment. Here, it is important to underline the principle of shared responsibility. National leadership and ownership are fundamental for the economic and social development of partner countries. At the same time, all actors need to take action and contribute their fair share in what will be a truly multi-stakeholder partnership. The outcome of the Addis Ababa conference should become the 'means of implementation' pillar for the New York post-2015 development agenda. I don't think it would be useful to reopen and duplicate the debate on the Addis Means of Implementation package in September in New York. I want to express my gratitude to the Portuguese government for the support that Portugal has offered to me and to the European Commission in defining and defending the EU position for the international negotiations on the post-2015 development agenda. I am well aware that, in some countries, the question of assistance to developing countries has risen up the political agenda. This is particularly the case in the light of the impact of the global economic and financial crises on the availability of national finances and subsequent political choices that have to be made. 8 CONFERÊNCIAS DE LISBOA In spite of this, Portugal has played a positive, facilitating role in the discussions with the Commission and the other Member States. This corresponds to the favourable view that Portuguese people in general take on the EU's development assistance. The latest survey results showed that nine out of ten respondents in Portugal believe that helping people in developing countries is important. This is good news and is a strong backing to the European Union's increasingly important role as a global actor, particularly in the area of development cooperation. It is also important as one of the aims of our activities on the European Year for Development is to ensure that citizens in all EU Member States, including Portugal, are better informed and more aware of the benefits of development assistance for both the beneficiary countries and the EU itself. In concluding, I come back to Saramago's comment about not putting up with the world as it is: Yes, there are many reasons to find fault and to wish that things could improve. Yes, there are many reasons to think that some of the problems to be tackled are too difficult. But, on the other hand, there are also many reasons to strive to take the necessary decisions and to change the system for the better – with a lasting and sustainable impact. We simply cannot afford to squander the opportunity that this unique year presents to make a major step forward - to make the world a better, fairer and more dignified place for all of its people. The next few months will determine how far we can go with that ambition. O Financiamento do Desenvolvimento no Âmbito dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável Colóquio, 2 de junho de 2015 I am sure that I can count on the continued support of Portugal in helping us put together a comprehensive and compelling EU contribution for Addis and to reach a successful conclusion in all major conferences this year – for the European Union and for the wider world. of the so-called “emergent economies”, the spread of South-South Cooperation and the strong influence of China, Development was finally globalised – not only the poor but also the rich countries suffer from problems of polarisation, sustainability and poverty. Development goals focus more on people and less on countries, and this perception is becoming global. Comentário My second comment is on instruments. The European Development Fund (EDF) evolved from a Fund created to invest in European colonies and “territoires d’outre mer” and attached to the 1957 Treaty of Rome. After the wave of decolonisation the EDF continued to serve its purpose of assisting those former colonies of Europe to develop as fast as they could. The instrument suffered several changes, according to the evolution of the political relationship, to the enlargement of members and mainly to the challenges posed by real events and political and economic transformations both in Europe, in the ACP countries and in the world. Now that the objectives and focus of Development are changing, my question is why not changing the instruments accordingly? Why should we keep an European Fund when development is becoming global and when Europe needs to sort out of its present inward looking trend? Europe needs to turn global and launching new initiatives is a way to do that; instead of going towards a “budgétisation” of the European Development Fund, why not contribute with the huge sum of more than 4000 Million Euros per year for creating a Global Sustainable Development Fund, participated not only by countries, developed and developing, but also by other entities, including Foundations? Fernando Jorge Cardoso COORDENADOR DA COMISSÃO EXECUTIVA DAS CONFERÊNCIAS DE LISBOA (INSTITUTO MARQUÊS DE VALLE FLOR) I have three main comments to the theme that bring us here today. My first comment is on objectives. Development started to be something that was centred in developing economies, aiming to help them reach the level of the so-called developed countries. This concept of development, based on the 1945 post-war architecture (East - West, North - South), evolved radically. With the end of the Cold War, the acceleration of the globalisation process and the growth of polarisation across countries, development became more and more a global reality and therefore a global concept. The Millennium Development Goals in 2000 expressed this shift of focus, but it was a half change, meaning that development became global but continued to be a list of goals developing economies, being helped by developed countries. Since then, with the rise 9 CONFERÊNCIAS DE LISBOA My last comment is on perceptions. The transformation of the EDF in a significative European contribution to support the SDGs with the creation of a global development or sustainable development fund, one in which nations, developed and developing, as well as multilateral and private entities, would contribute with its share (and also management positions) would give a sign and O Financiamento do Desenvolvimento no Âmbito dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável Colóquio, 2 de junho de 2015 build a real sense of purpose and commitment. A move like this could also give a decisive push to end the post-colonial era and begin a more transparent period of speaking and acting about mutual interests and concerns, helping to breed a new perception on real global shared goals and, consequently, burying those boring and recurrent accusations of Europe imposing “political conditionalities” transmuted into global shared values… These comments lead to the following question to the Commissioner: why not launching a real global initiative led by Europe instead of focusing on an European internal reform of instruments? Debate Após as intervenções dos oradores convidados, seguiu-se um debate que potenciou uma discussão mais alargada sobre o financiamento do desenvolvimento no âmbito dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Ficou patente ao longo do debate uma preocupação em compreender melhor o novo enquadramento da agenda de Desenvolvimento para o período pós-2015, cuja adoção está prevista para setembro de 2015 nas Nações Unidas, em particular ao nível do seu conteúdo, das suas condições de implementação e do seu impacto expectável numa efetiva mudança de paradigma na promoção do Desenvolvimento Global. Tendo em consideração que algumas das metas dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio não foram alcançadas, nomeadamente ao nível da proporção dos financiamentos canalisados para esta área por parte dos Estados, foi igualmente levantada a questão de como se poderá tornar mais efetivo, eficaz e sustentável o cumprimento das metas futuramente preconizadas pelos ODS. Seguindo esta linha de análise, foi estabelecido um paralelo com a recente intensificação do flagelo humanitário no Mar Mediterrâneo, referindo-se o papel estruturante de uma 10 CONFERÊNCIAS DE LISBOA aposta no financiamento do desenvolvimento como solução para este tipo de crises humanitárias, já que a aposta na prevenção e no desenvolvimento dos países de origem tem sido descurada e tem de ser assumida como a principal solução estratégica a longo-prazo, por contraposição com ações reativas e paliativas que não respondem às causas do problema. Entre os tópicos presentes nas intervenções e questões dos participantes, foi igualmente abordada a necessidade de apostar no desenvolvimento humano e na capacitação das pessoas e dos países mais pobres, com um desenvolvimento do capital humano que lhes permita uma efetiva apropriação do seu desenvolvimento e das suas políticas. Neste sentido, referiu-se também o papel das Universidades e da inovação científica na nova agenda pós-2015. A complexidade e morosidade dos procedimentos e requisitos legais para a utilização dos fundos comunitários em matéria de Cooperação para o Desenvolvimento, por um lado, e o eventual impacto que um maior número de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável poderá ter na fragmentação das linhas de financiamento do desenvolvimento e no esbatimento das linhas de responsabilização, por outro lado, foram aspetos salientados por alguns participantes. A problemática da construção dos indicadores de Desenvolvimento e a dimensão estatística assumem igualmente grande significado no contexto da nova agenda. Os comentários dos oradores, em particular do Comissário Europeu Neven Mimica, salientaram a necessidade de promover uma discussão multinível, integrada e construtiva, capaz de impulsionar uma abordagem mais abrangente relativamente aos meios de implementação mais adequados para pôr em prática uma nova agenda de Desenvolvimento com um enfoque mais amplo, de aplicação universal e representada em 17 objetivos com múltiplas dimensões. O Financiamento do Desenvolvimento no Âmbito dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável Colóquio, 2 de junho de 2015 Segundo o representante europeu, apenas a efetiva realização desta discussão alargada e construtiva (retomando-se, assim, o oitavo e último ODM relativo à parceria estratégica global) poderá afastar ameaças de fragmentação e ineficiência das políticas globais de apoio ao desenvolvimento e promover, desta forma, um impacto significativo e sustentável junto das populações dos países mais pobres. constrangimentos orçamentais, a importância estrutural do investimento na Ajuda Pública ao Desenvolvimento. O Comissário confirmou igualmente o compromisso europeu em assegurar um progressivo cumprimento da meta de investimento de 0,7% do RNB em ajuda ao desenvolvimento por parte dos países desenvolvidos, assim como reiterou a prioridade geográfica da UE em ajudar os países menos avançados, devido às suas vulnerabilidades, necessidades e contexto específico. As questões da paz, da estabilidade política e da boa governação foram referidas pelos participantes e pelos oradores como tendo uma importância estrutural quer na ação e na abordagem europeia ao nível do apoio ao desenvolvimento, quer na nova agenda pós2015. O comissário europeu referiu também o mote presente no recente Relatório Europeu de Desenvolvimento 2015, publicado no dia 4 de maio e que sintetiza a abordagem da estratégia europeia em matéria de Desenvolvimento: “se não é sustentável, não é desenvolvimento; se não é resiliente, não é desenvolvimento; e se é sem as mulheres, não é desenvolvimento”. No debate, foi igualmente enfatizada a responsabilidade da União Europeia enquanto ator global por excelência e o papel proeminente que esta, enquanto maior doador global de ajuda ao desenvolvimento, deve ter na definição da natureza e orientações da agenda global pós-2015. Especificamente, referiu-se o papel - igualmente importante que Portugal deverá desempenhar ao nível das negociações desta nova agenda, não devendo negligenciar, mesmo em tempos de 11 CONFERÊNCIAS DE LISBOA FICHA TÉCNICA Título: O Financiamento do Desenvolvimento no âmbito dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável: Resumo do Colóquio, 2 de junho de 2015 Data: junho de 2015 Edição: Conferências de Lisboa Edição do texto: Patrícia Magalhães Ferreira Transcrições: Ana Lopes O Financiamento do Desenvolvimento no Âmbito dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável Colóquio, 2 de junho de 2015 12 CONFERÊNCIAS DE LISBOA O projeto das Conferências de Lisboa visa estimular de forma sistemática e numa perspetiva policyoriented o debate em Portugal sobre as questões do desenvolvimento global. A realização das Conferências e as reflexões e sugestões nelas debatidas, centrando-se nas dinâmicas globais que influenciam modelos e políticas de desenvolvimento e de cooperação, têm por objetivo influenciar e contribuir para a agenda dos decisores políticos e empresariais. O projeto não se esgota na realização de edições internacionais bienais das “Conferências de Lisboa”; através de outros debates, publicações e eventos incorpora um trabalho sistemático e contínuo que alimenta a produção de conhecimento sobre as questões do Desenvolvimento. Mais informações em www.conferenciasdelisboa.com