15 de abril – Dia da Conservação do Solo Em 15 de abril de 1881 nascia, em Wadesboro, Anson County, Carolina do Norte, Estados Unidos, aquele que dedicaria toda sua vida à pesquisa, ensino e extensão em Conservação do Solo e que seria conhecido como o Médico do Solo, o Pai da Conservação do Solo, o idealizador dos Distritos de Conservação do Solo. Segundo Maurice G. Cook, Professor Emérito de Ciência do Solo da Universidade da Carolina do Norte 1, Hugh Hammond Bennett foi o homem especial para um momento especial na história. Entretanto, se se deseja explicar - seja indicação divina, alinhamento planetário, ou visão extraordinária do próprio indivíduo, o momento da presença de Hugh Bennett no palco do mundo foi perfeito. Uma das principais tarefas em um momento crítico na história da América precisava ser feito, e ele estava singularmente qualificado como o homem para a tarefa. Após examinar a sua carreira, que teve muitas reviravoltas e produziu muitas conquistas, pode-se ver como cada fase de sua vida o preparou para a próxima. Sua infância em uma plantação de algodão na Carolina do Norte incutiu nele as qualidades de parcimônia, trabalho rígido, resistência, perseverança, amor, respeito e gratidão. Sua formação científica e experiência forneceram-lhe uma base sólida para a pesquisa de erosão do solo e interação com os cientistas. Sua experiência nos levantamentos de solos proporcionou-lhe uma compreensão dos solos dos EUA não igualada por qualquer outro em seu tempo. Todas essas experiências equiparam-no para seu melhor momento, ou seja, sua resposta corajosa de uma das piores crises da história americana, o Dust Bowl. Um homem do solo, Hugh Bennett deixou um rico legado para todos os que seguem na profissão da Ciência do Solo. Deixou um registro invejável de publicações: cinco livros e mais de 400 artigos técnicos, centenas de levantamentos pedológicos realizados, artigos de revistas e materiais diversos 1 http://www.soil.ncsu.edu/about/century/hugh.html não oficialmente totalizados pelo USDA. Estima-se que a produção de Bennett exceda 1.000 itens. Dono de liderança incontestável, respondendo certa vez à pergunta de como conseguia convencer os mais cépticos sobre suas idéias, Bennett respondeu: “ciência, participação dos lavradores, publicidade e interesse do Governo”. Seria preciso dizer mais? Em 1954, aposentado pela compulsória, mas trabalhando tão intensamente quanto quando na ativa, Bennett foi convidado pelo Dr. Guido César Rando, Diretor da Divisão de Conservação do Solo da Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo – a extinta DEMA a vir a São Paulo para conhecer e avaliar o trabalho de conservação do solo que se fazia. Bennett veio ao Brasil a convite da Sociedade Brasileira de Conservação do Solo e sob os auspícios da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo. A visita durou quatro semanas, entre 16 de fevereiro e 23 de março de 1954 e foi destaque em todos os jornais da época: A Gazeta, Correio Paulistano, Diário da Noite, Diário do Povo (Campinas), Diário de Santos, Diário de São Paulo, Folha da Manhã, O Estado de São Paulo, O Tempo. No dizer do próprio Dr. Guido, eles percorreram muitas centenas de quilômetros pelo Estado de São Paulo, tendo o trabalho que aqui se realizava recebido total aprovação do Dr. Bennett. No Instituto Agronômico, que também recebeu a visita do Dr. Bennett, João Quintiliano de Avellar Marques e José Bertoni eram os pesquisadores da Seção de Conservação do Solo, responsáveis pela implantação da pesquisa em erosão de forma sistematizada no Estado de São Paulo: o Instituto Agronômico dispunha, desde 1942/43, de instalações especiais para a determinação de perdas por erosão (108 talhões coletores) em quatro locais do Estado de São Paulo. Neste singelo reconhecimento ao trabalho de ambos, incluímos o Dr. Francisco Lombardi Neto, que não só deu continuidade aos trabalhos como deixou significativo legado científico para a conservação do solo. Em 1995, o Instituto Agronômico homenageou os fundadores da Seção de Conservação do Solo outorgando ao Dr. João Quintiliano de Avellar Marques o título de Pai da Conservação do Solo no Brasil e dando seu nome a uma das aléias de seu Centro Experimental em Campinas. A área dos talhões coletores de perdas de solo e água nesse mesmo Centro Experimental passou a ser denominada Unidade de Pesquisa em Manejo e Conservação do Solo Dr. José Bertoni. Relatos científicos dessa visita podem ser encontrados na Iowa State University, Departamento de Coleções Especiais2: (1) Conservation in Brazil, Ecuador, Spain and South Africa: “Soil Conservation in the State of São Paulo, Brazil,” Report to the Secretary of Agriculture, State of São Paulo, March 1954; (2) Conservation in Brazil, Ecuador, Spain and South Africa: “Observations on Coffee Production and Soil Conservation in Southeastern Brazil”, with note to Hugh H. Bennett and excerpt from article in Congressional Record, August 5, 1954; (3) Conservation in Brazil, Ecuador, Spain and South Africa: “Soil Conservation: an Important Problem in Brazil,”, October 20, 1958. Por sugestão do próprio Dr. Guido César Rando ao Dr. Renato Costa Lima, então Secretário de Agricultura, em 1955 o Estado de São Paulo publicou o decreto-lei 24.169, de 18 de janeiro de 1955 instituindo o Dia da Conservação do Solo em 15 de abril. Nas palavras do Dr. Guido, a assinatura foi seguida de muitos festejos e a instituição da Taça Hugh Hammond Bennett, para o agricultor que apresentasse o melhor trabalho em conservação do solo. Hoje comemoramos o Dia da Conservação do Solo, mas, como nos disse o Dr. Guido, se tivesse que ter uma nacionalidade, esta seria paulista! A importância de que se reveste o tema fez com que todos os outros Estados também tomassem o dia 15 de abril para comemorá-lo e em 13 de novembro de 1989 o Presidente da República, José Sarney, sancionou como lei nº 7876, decreto do Congresso Nacional, instituindo o Dia Nacional da Conservação do Solo, a ser comemorado em todo o País no dia 15 de abril de cada ano. A propositura foi do senador José Passos Porto, Engenheiro Agrônomo e político radicado em Sergipe, com Especialização em Genética e Tecnologia do Algodão no Instituto Agronômico. 2 http://www.lib.iastate.edu/spcl/manuscripts/MS164.pdf. Na data de hoje, Dia Nacional da Conservação do Solo, cumprimentamos a Fundação Agrisus pelos apoios financeiros às pesquisas conservacionistas e pro sua perseverança no foco de que a sustentabilidade da agricultura está calcada na conservação do solo e da água. Sonia Carmela Falci Dechen Pesquisadora Científica Instituto Agronômico - Centro de Solos e Recursos Ambientais [email protected]