Coletânea Convivência e Segurança Cidadã: Guias de Gestão Territorial Participativa Monitoramento e Avaliação do Plano Integral em Convivência e Segurança Cidadã Empoderando vidas. Fortalecendo nações. Coletânea Convivência e Segurança Cidadã: Guias de Gestão Territorial Participativa Guia de Monitoramento e Avaliação em Convivência e Segurança Cidadã 1ª Edição Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - Brasil ARNAUD PERAL Representante Residente Adjunto MARISTELA MARQUES BAIONI Representante Residente Assistente Coordenação | Érica Mássimo Machado – PNUD Brasil Edição | Bruna Pegna Hercog e Marialina Côgo Antolini Equipe Técnica | Alline Pedra, Bruna Pegna Hercog, Cíntia Yoshihara, Cristiano Pereira da Silva, Joselita Frutuoso de Araujo Macêdo Filha, Juliana Mattedi Dalvi, Marialina Côgo Antolini, Paulo Ricardo de Souza e Paiva, Ricardo de Lacerda Ferreira e Rita de Cássia Lima Andrea Colaboradores | Claudia Ocelli, Daniel de Castro, Daniel Luz, Débora Sol, Eugenia Piza-Lopez, Fernanda dos Anjos, Gabriela Dutra, Gerardo Berthin, Hugo Acero, Jairo Matallana, João José Barbosa Sana, José Carlos Arruti Rey, Lina Salazar, Maristela Marques Baioni, Moema Freire, Nicolas Garrigue, Norma Peña Textos | Bruna Pegna Hercog, Cíntia Yoshihara, Joselita Frutuoso de Araujo Macêdo Filha, Juliana Mattedi Dalvi e Marialina Côgo Antolini Projeto gráfico e editoração | Valentina Garcia É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte e que não seja para venda ou qualquer fim comercial. Para elaboração dos textos desta Coletânea, optou-se pelo uso de linguagem não discriminatória em relação a gênero, raça, etnia ou classe social. Em muitos casos, foi necessário o uso genérico do masculino, a exemplo do termo “ator social”, ou de termos neutros como “crianças, adolescentes e jovens”. Mesmo nesses casos, entende-se que o genérico do masculino refere-se a homem e mulher e que os termos neutros reúnem as especificidades e direitos adquiridos de cada cidadão e cidadã aqui representados. Publicado pelo Programa das Nações Unidas Para o Desenvolvimento (PNUD). © PNUD 2013 Projeto Gráfico: Valentina Garcia Primeira edição: dezembro de 2013 Tiragem: 800 exemplares Impressão: Estação Gráfica Ltda Guia de monitoramento e avaliação em convivência e segurança cidadã. – Brasília : PNUD, 2013. 40 p. – (Coletânea convivência e segurança cidadã : guias de gestão territorial participativa). Incl. bibl. ISBN: 978-85-88201-18-7 1. Segurança Cidadã 2. Direitos civis e políticos 3. Direitos humanos 4. Tolerância 5. Cultura de paz 6. Segurança humana 7. Participação social 8. Participação comunitária 9. Administração pública 10. Monitoramento 11. Avaliação 12. Política de desenvolvimento 13. Desenvolvimento humano 14. Brasil 15. Guias I. PNUD Impresso no Brasil PREFÁCIO A Redução da Vulnerabilidade e a Promoção da Segurança Cidadã formam um dos pilares da atuação do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) no Brasil. São claras as evidências de que os altos índices de criminalidade e de insegurança nos países da América Latina e Caribe têm imposto entraves significativos para o pleno desenvolvimento econômico e social da região, mesmo face às recentes melhorias na governança e na qualidade de vida das populações mais vulneráveis. Neste sentido, o PNUD Brasil compartilha da prioridade brasileira de promover melhorias na segurança pública como caminho necessário ao que chamamos de desenvolvimento humano sustentável. A contribuição a esta área vem da atuação de nossas equipes a partir da perspectiva conceitual da Convivência e Segurança Cidadã, que envolve a adoção de um enfoque integral, local e participativo no tratamento da segurança pública. Isto nos permitiu acumular, nos últimos anos, experiência corporativa relevante na área de Segurança, tanto em âmbito nacional quanto local, como resultado de várias atividades de prevenção do conflito, reforma institucional e construção de capacidades para a governabilidade democrática. Por meio de práticas efetivas em gestão da Segurança Cidadã, o PNUD vem desenvolvendo um conjunto de metodologias, instrumentos e ferramentas que visam apoiar e fortalecer os municípios no âmbito das políticas de prevenção à violência. São instrumentos que recuperam experiências de sucesso da região | GUIA DOE MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO JORGE CHEDIEK Representante Residente 5 | GUIA DE MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO em segurança cidadã e também colocam à disposição dos governos suas redes de especialistas certificados, com experiências concretas e exitosas em diversos países. 6 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO 6 Um dos frutos desta experiência é esta Coletânea: Convivência e Segurança Cidadã: Guias de Gestão Territorial Participativa. As metodologias aqui apresentadas resultam do crescente compartilhamento de responsabilidades na prevenção e no enfrentamento da violência, do âmbito nacional ao local, revelando o quanto a participação das comunidades é fundamental para o sucesso de projetos e programas na área da segurança. O QUE É MONITORAMENTO E O QUE É AVALIAÇÃO? POR QUE MONITORAR E AVALIAR ? 8 10 Audiência com prefeito eleito incentiva ação da Comissão de Comunicação 11 Entrevista: Clarice Zilberman Knijnik 14 A Coletânea foi elaborada a partir da experiência de execução do Programa Conjunto Interagencial da Organização das Nações Unidas (ONU) Segurança com Cidadania: prevenindo a violência e fortalecendo a cidadania, com foco em crianças, adolescentes e jovens em condições vulneráveis nas comunidades brasileiras. Essa experiência de cooperação técnica foi desenvolvida entre os anos de 2010 e 2013, em três unidades territoriais das cidades brasileiras de Contagem (MG), Lauro de Freitas (BA) e Vitória (ES). A Coletânea apresenta não só as metodologias utilizadas, como também fatos e histórias marcantes, que ocorreram ao longo da implementação do Programa nos três municípios e que ilustram a riqueza e a diversidade de experiências bem-sucedidas e o impacto gerado nessas localidades. COMO MONITORAR E COMO AVALIAR? 18 Definindo princípios fundamentais para uma boa prática de monitoramento e avaliação 18 Identificando peças chaves para o monitoramento e avaliação 20 Dessa forma, nosso objetivo é oferecer a governos, organizações, movimentos sociais, entre outros, materiais de referência para uma atuação local, integral e participativa na construção de uma cultura de prevenção à violência. Elaborando um Plano de Trabalho de monitoramento e avaliação Desejamos uma excelente leitura a todas e todos bem como nossos votos de que este material encontre uso efetivo na promoção da Convivência e da Segurança Cidadã neste país. Jorge Chediek Coordenador-Residente do Sistema das Nações Unidas no Brasil e Representante-Residente do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) no Brasil Monitorando25 Comissão de Comunicação tem papel monitorador no Programa Conjunto da ONU “Segurança com Cidadania” Avaliando 27 28 31 Rodas de Diálogo: fortalecimento da sociedade civil e envolvimento de jovens no processo de avaliação e monitoramento 32 O QUE A PRÁTICA ENSINA 33 Cartilha do Plano: instrumento de apoio ao processo de Monitoramento e Avaliação 35 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS36 | GUIA DE MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO APRESENTAÇÃO 8 O Guia de Monitoramento e Avaliação em Convivência e Segurança Cidadã faz parte da Coletânea Convivência e Segurança Cidadã: Guias de Gestão Territorial Participativa do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), composta por um encarte conceitual e sete Guias: Preparação, Curso de Convivência e Segurança Cidadã, Diagnóstico Integral e Participativo, Plano Integral e Participativo, Intercâmbio de Experiências, Monitoramento e Avaliação e Comunicação e Mobilização Social e o Jogo Fica Seguro, que convida – de forma lúdica e dinâmica – para a vivência de todas as etapas da implementação de um projeto de Convivência e Segurança Cidadã. O objetivo do PNUD é oferecer a governos, organizações e movimentos sociais, entre outros, materiais de referência para a atuação local na construção de uma cultura de prevenção da violência. Este Guia tem como objetivo ser um instrumento que facilite o acompanhamento e o controle da execução do Plano Integral e Participativo de Convivência e Segurança Cidadã, por meio da disponibilização de orientações sobre o desenvolvimento de processos de monitoramento e de algumas noções para contribuir com os processos de avaliação. Pretende-se, com isso, responder à necessidade de suprir gestores públicos, técnicos e representações dos movimentos sociais com subsídios para uma prática de monitoramento e avaliação que possa ser participativa, enquanto recurso de controle social, e instigante do processo de planejamento, como etapa fundamental para a governança local. Desenho sobre foto de ação do Programa Conjunto da ONU ”Segurança com Cidadania” | GUIA DE MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO ator social 10 Um determinado indivíduo é um ator social quando representa algo para a sociedade, encarna uma ideia, uma reivindicação, um projeto, uma promessa, uma denúncia. Uma classe social, uma categoria social ou um grupo podem ser atores sociais, assim como instituições: partidos políticos, jornais, igrejas etc. (SOUZA, 1991). Os atores sociais, são portanto, todos aqueles que tenham interesse na questão da convivência e segurança cidadã. São, prioritariamente, aquelas que integram o território trabalhado, podendo se estender a todos que atuam com a temática. (Souza, 1991) e (RGCI, 2007) Leia mais sobre o conceito de Convivência e Segurança Cidadã no Guia de Apresentação. Toda ação, para ser bem executada, precisa ser bem planejada, monitorada e avaliada. Atualmente, a importância e o uso dos recursos de planejamento já estão bastante difundidos entre os executores de políticas públicas e de programas ou projetos sociais. No entanto, a importância e o uso da avaliação e, principalmente, do monitoramento ainda não foi suficientemente absorvida por gestores, técnicos e lideranças comunitárias, como fundamentais para os processos de gestão do território. A dificuldade em seu uso se dá desde a compreensão do que são seus instrumentos de medição, como os indicadores, até quanto aos métodos de análise a serem utilizados no acompanhamento da execução das iniciativas para o alcance dos resultados esperados. O planejamento de iniciativas contextualizadas, voltadas para a Convivência e a Segurança Cidadã, preveem que, a partir de uma prática intersetorial, interdisciplinar e participativa, seja alcançada efetivamente a redução das práticas de violência e a promoção de uma cultura de paz. Tal tarefa desafiadora exige um amplo horizonte de tempo e a apropriação pelos atores sociais envolvidos para se concretizar e, por isso, deve ser pensada na perspectiva do planejamento de curto, médio e longo prazo. Assim sendo, ao se planejar planos, programas e projetos, as ações de monitoramento e avaliação se constituem em importantes ferramentas de gestão que auxiliam na superação de dificuldades que normalmente ocorrem no processo de execução, no acompanhamento do desempenho e no aperfeiçoamento contínuo da qualidade do que se almeja atingir. A palavra monitoramento vem do termo em latim monere, que significa alerta. Em português, tem-se traduzido como monitoria ou monitoramento, sendo usada também como sinônimo de vigilância, acompanhamento, seguimento. Pode-se dizer que monitorar é acompanhar algo para saber se seu desenvolvimento ou crescimento está se dando conforme o esperado. Monitorar é um ato contínuo de observação no qual os atores sociais envolvidos obtêm retorno de informações sobre o progresso que tem sido feito para o alcance de metas e objetivos. Monitorar é constatar. A avaliação, por sua vez, é estabelecer um juízo de valor, fazendo uma análise das vantagens e desvantagens dos procedimentos adotados, se estão respondendo ou não ao que se busca alcançar. Possibilita um olhar que identifica responsabilidades e processos a serem disseminados, reforçados ou reorientados. Em outras palavras, a avaliação é o processo de valoração das ações concluídas, ou em andamento, para determinar até que ponto estão sendo atingidos seus objetivos declarados e contribui para a tomada de decisão do que deve permanecer, ser reorientado ou disseminado em determinada iniciativa. Avaliar é valorar. Na prática, o monitoramento deve estar articulado com a avaliação; os dois aparecem juntos nos processos de acompanhamento, pois possuem objetivos comuns: garantir que a ação programada alcance metas e resultados previstos da melhor forma, ou seja, de modo eficiente e eficaz. Ambos são processos contínuos e têm metodologias próprias. A diferença fundamental entre os dois é que a avaliação exige análises mais rigorosas, muitas delas feitas de modo independente de quem executa, para indicar aos gestores e demais atores sociais envolvidos se estão ou não no caminho certo. PARA COMPREENDER AS RELAÇÕES E DEPENDÊNCIAS ENTRE PLANEJAMENTO, MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO: Sem um planejamento adequado e uma articulação com os resultados desejados não fica claro o que deve ser monitorado, nem como; portanto, não se pode fazer bem o monitoramento sem planejamento eficaz, com resultados bem definidos, a base da avaliação é fraca; portanto, não se pode fazer bem uma avaliação sem um monitoramento atento, não se podem coletar os dados necessários; portanto, não se pode fazer uma boa avaliação o monitoramento é necessário, mas não suficiente, para a avaliação o monitoramento facilita a avaliação, mas a avaliação utiliza compilação de dados adicionais e diferentes quadros para análise o monitoramento e a avaliação de um programa, muitas vezes, levarão a mudanças em seus planos do programa. Isso pode significar mudanças adicionais ou modificações na coleta de dados para o monitoramento Fonte: Adaptado de MANUAL DE PLANIFICACIÓN, SEGUIMIENTO Y EVALUACIÓN DE LOS RESULTADOS DE DESARROLLO, PNUD, 2009. | GUIA DOE MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO O QUE É MONITORAMENTO E O QUE É AVALIAÇÃO? 11 METODOLOGIA as ações e decisões. As avaliações devem ser feitas para melhorias programáticas, enquanto o programa ainda está em andamento, e para apoiar o planejamento de novos programas. Monitorar e avaliar vão além de fiscalizar ou de exercer controle social, são possibilidades de fazer com que planos, programas e projetos se tornem melhores, flexíveis e mais criativos. | GUIA DE MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO POR QUE MONITORAR E AVALIAR? 12 Leia mais no Guia do Plano Integral e participativo. O principal objetivo do Plano Integral de Convivência e Segurança Cidadã é a redução da criminalidade e da violência em um território. Para isso, são definidas diretrizes, ações e metas visando à prevenção e ao enfrentamento da violência e da criminalidade, com a atuação integrada entre o poder público, a comunidade e a sociedade civil organizada. Tais diretrizes, ações e metas são desdobradas em projetos que, por sua vez, são elaborados e implementados de modo participativo desde o planejamento até a execução. Um Plano bem monitorado e avaliado possibilita: Atendimento de diretrizes, ações e alcance de metas nos tempos previstos Aperfeiçoamento na utilização dos recursos Potencialização de resultados Promoção de uma gestão transparente do processo e incentivo à corresponsabilização dos atores para a execução das atividades e alcance dos objetivos e impactos esperados Audiência com prefeito eleito incentiva ação da Comissão de Comunicação A troca da gestão municipal em Vitória (ES) apresentou uma oportunidade não esperada de avaliação da metodologia utilizada no desenvolvimento de projetos na área de Convivência e Segurança Cidadã e para uma ação de monitoramento da Comissão de Comunicação e Mobilização Social Puxaí. O prefeito eleito, antes de tomar posse, realizou audiências públicas nas regiões administrativas do município, com o objetivo de ouvir as principais demandas da população local. Em São Pedro – região de Vitória integrante do Programa Conjunto da ONU “Segurança com Cidadania”, a audiência aconteceu no final de novembro de 2012 e reuniu lideranças dos dez bairros que compõem o território. Na dinâmica da reunião, todos poderiam se inscrever para em poucos minutos falar sobre o problema que gostaria de ver resolvido pela nova gestão. Dentre os mais de cem participantes, havia tanto pessoas que conheciam o Diagnóstico e o Plano Integral e Participativo, como aquelas que não sabiam da existência do Programa. Assim, a Comissão de Comunicação – composta principalmente por algumas lideranças locais e jovens da região – fez a entrega do Plano para o novo prefeito, apresentando-o como uma demanda da comunidade local. À medida que as demais colocações dos presentes iam sendo feitas, foi possível perceber que boa parte delas estavam, de alguma forma, inseridas no Plano. Um dos problemas mais destacados durante a audiência foi a falta de segurança na Rodovia Serafim Derenze – principal via da região. A melhoria na segurança desta avenida está prevista no Plano Local, por meio do projeto de Ampliação das Políticas de Acessibilidade e Mobilidade da Região de São Pedro, que tem como uma de suas metas a implantação do Corredor da Serafim Derenze, proposta já existente na Secretaria de Desenvolvimento da Cidade, mas ainda não executada. Outra questão levantada diversas vezes durante a audiência foi o problema do lixo e dos entulhos que se acumulam na região. A coleta seletiva do lixo e a implantação de programas de sensibilização para importância da separação de resíduos são ações também contidas no Plano. Dessa mesma maneira, diversos temas contemplados, tanto no Diagnóstico quanto no Plano, foram aparecendo ao longo da reunião: melhoria no acolhimento de mulheres vítimas de violência, ampliação das vagas dos programas de escola em tempo integral, falta de uma escola de ensino médio e técnico na região, criação de programas de capacitação profissional, conclusão de obras do Orçamento Participativo e melhoria da iluminação pública, entre outros. Assim, foi possível checar que a metodologia proposta e desenvolvida na região vai ao encontro dos anseios da comunidade de São Pedro, contribuindo para apresentar de forma clara as principais questões enfrentadas naquele território e propondo alternativas de melhoria da qualidade de vida na região. | GUIA DOE MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO O monitoramento fornece informações em tempo real necessárias para a gestão, enquanto a avaliação fornece uma análise mais abrangente. O processo de monitoramento pode gerar perguntas que devem ser respondidas pela avaliação. Juntos, monitoramento e avaliação fortalecem o planejamento e a aprendizagem, alimentando o ciclo do fazer, aprender e melhorar. As lições aprendidas do monitoramento são discutidas periodicamente e usadas para reforçar 13 públicos e dos diversos atores sociais das comunidades participantes dos planos, programas e projetos. É importante saber se o que aconteceu é por causa da ação empreendida e que mudanças essa ação provocou em relação ao problema que se pretendia resolver. Para melhorar as chances de sucesso da ação, devem-se fortalecer quatro áreas principais 1. Planejamento e definição do programa e do projeto | Projetos e programas têm uma maior chance de sucesso quando seus objetivos e seu alcance são bem definidos e compreendidos. Isso reduz a chance de encontrar desafios significativos durante a implantação. | GUIA DE MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO 2. Participação ampliada | Altos níveis de compromisso de usuários, atores sociais envolvidos na execução e partes interessadas na iniciativa são cruciais para seu sucesso. 14 Leia mais no Guia de Comunicação e Mobilização Social. 3. Comunicação | Uma boa comunicação resulta numa mobilização e maior aceitação por parte dos interessados. Além disso, a melhoria da comunicação esclarece objetivos, papeis e responsabilidades, bem como as informações sobre o andamento e desempenho do projeto. Essa clareza ainda ajuda a garantir a utilização ótima dos recursos. 4. Acompanhamento e avaliação | Os programas e projetos com fortes componentes de monitoramento e avaliação tendem a ser relevantes para ter continuidade e serem replicados. Além disso, muitas vezes os problemas são detectados antes, reduzindo a probabilidade de custos excessivos ou atrasos significativos. Fonte: Adaptado de MANUAL DE PLANIFICACIÓN, SEGUIMIENTO Y EVALUACIÓN DE LOS RESULTADOS DE DESARROLLO, PNUD, 2009. Todos os envolvidos no processo deverão ter a oportunidade de monitorar e avaliar a implantação do Plano e de seus respectivos projetos ao longo do tempo. Assim, é possível a identificação dos efeitos e dos impactos alcançados pelas ações, de modo que seja possível agregar, continuamente, valor ao que se está sendo executado. Isso representa um aumento da capacidade governamental de responder às demandas da gestão da Convivência e Segurança Cidadã dentro das capacidades existentes em cada localidade. Para serem efetivos, o monitoramento e a avaliação exigem métodos e recursos rigorosos e, muitas vezes, dispendiosos para a gestão pública. Apesar disso, quanto mais participativo for o processo, maior será a chance de obtenção de informações qualificadas e válidas para alimentar os indicadores e as análises e, como consequência, pode-se baratear os custos e otimizar os recursos disponíveis. Embora muitas sejam as dificuldades para se assumir esta decisão, os ganhos posteriores e o nível de envolvimento da comunidade se configurarão em um legado que, aos poucos, tornará o monitoramento e a avaliação imprescindíveis na gestão de qualquer iniciativa para o desenvolvimento local com base no desenvolvimento humano. | GUIA DOE MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO O monitoramento e a avaliação possibilitam a geração de informações fidedignas sobre os resultados alcançados, a identificação de restrições ou dificuldades enfrentadas na implantação, bem como que sejam criadas recomendações para auxiliar a tomada de decisão dos gestores 15 Entrevista | Clarice Zilberman Knijnik Como pode ser definida, de maneira sucinta, a diferença entre monitoramento e avaliação? | GUIA DE MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO O monitoramento é um insumo da avaliação. Você não consegue avaliar perfeitamente se não tiver um processo de monitoramento bem definido e executado de maneira efetiva, ao longo de toda a implementação do projeto. Sem monitoramento não se faz avaliação. 16 Quais as especificidades que um projeto tão amplo como o Plano Integral e Participativo de Convivência e Segurança Cidadã tem no viés do monitoramento e da avaliação? A primeira delas é o monitoramento de longo prazo. Isso é um grande desafio, principalmente em períodos de troca de governo. O monitoramento tem que ser um compromisso assumido pela comunidade, por técnicos e autoridades desde o início da formulação do projeto. Existem instituições coparticipantes que, independente das autoridades e das pessoas que estão incluídas no processo, podem assumir conjuntamente esse compromisso, porque isso é uma forma de assegurar que as atividades vão continuar. A segunda especificidade é a metodologia que será adotada. O monitoramento feito de forma participativa, com o envolvimento de ONGs, comunidade e instituições públicas, é um processo que exige uma maior capacidade dos diferentes atores de articulação, assim como o entendimento das responsabilidades e das Clarice Zilberman Knijnik é consultora do PNUD em Monitoramento e Avaliação para o Programa Conjunto da ONU “Segurança com Cidadania”. Mestre em Planejamento de Políticas Públicas e Meio Ambiente pela Universidade de Paris XII, Clarice trabalha desde 2006 com consultoria em desenho, monitoramento e avaliação de projetos em diferentes áreas de políticas públicas para organizações internacionais. Na entrevista abaixo, ela fala um pouco sobre os desafios dos processos de monitoramento e da avaliação. contribuições a serem dadas. Por isso, a metodologia adotada deve ser clara, discutida e acordada pelos parceiros e atores envolvidos. E quais são os fatores que merecem mais atenção durante esse processo de monitoramento e avaliação? Uma das coisas importantes é a constituição de uma linha de base. Ela é anterior à implantação do projeto. Teoricamente, ela teria que dar os insumos para o detalhamento do projeto. Por exemplo: por que, em determinada ação de um projeto, é sugerida a capacitação de 300 pessoas? De onde saiu essa meta a ser alcançada? Temos a situação atual, geradora de uma demanda (diagnóstico), que pode ser de mil pessoas capacitadas. No entanto, a decisão do projeto de atender somente 300 numa primeira etapa se baseou no tempo exíguo para a execução e em recursos limitados. Então, a primeira recomendação é o estabelecimento de linha de base para orientar o planejamento da proposta de projeto, apoiar a avaliação da iniciativa e permitir, em um prazo maior, medir os impactos do projeto. O segundo ponto, muito importante, é que muitas vezes as pessoas não conhecem direito esse processo de acompanhamento de um projeto. Em certas ocasiões, os atores podem ter uma atividade mais executiva e conhecem bem certas etapas do projeto, reduzindo a visão do todo. Monitorar um projeto significa também ter uma visão completa dele. E quando esse processo é acompanhado por diversos atores, como é o caso, é | GUIA DOE MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO “É importante ter em mente que o monitoramento é um instrumento de participação, transparência e cidadania.” 17 O local onde o Plano Integral e Participativo de Convivência e Segurança Cidadã e seus processos de monitoramento e avaliação estão sendo executados tem influência no perfil do projeto? Na constituição dos Planos, apesar de serem semelhantes nos eixos de atuação, encontramos conteúdos diferentes. Significa que não tem uma única receita! Existe um quadro de referência para o planejamento das ações, que são os grandes eixos de desenvolvimento, mas podemos ver refletidas no Plano as dificuldades, as facilidades e as vantagens de cada localidade. Assim, é preciso que as especificidades dos territórios e das comunidades sejam respeitadas. A metodologia deve ser aplicada para atender aos anseios locais, tendo em mente que os processos e as articulações para a implantação de projetos são diferentes em cada lugar, respeitando as características das comunidades envolvidas. Qual é o perfil ideal do comitê ou da pessoa que irá acompanhar o processo de monitoramento e avaliação? O comitê deve ser constituído por um número não muito grande de pessoas, mas ele tem que ter pelo menos um membro representativo de cada uma das categorias de atores, parceiros e beneficiários envolvidos. É fundamental ter pessoas com um perfil comunicativo, que apresentem muita liderança, consigam receber informações, analisá-las e devolvê-las para as comunidades e que tenham poder de agregação grande. Essas pessoas devem saber escutar e disseminar o que foi decidido, além de trazer respostas de consultas à comunidade ou à instituição à qual representam. Principalmente, pessoas que tenham a capacidade de pensar nos benefícios do projeto como um todo, deixando de lado os interesses específicos das suas instituições ou organizações para tratar os temas em termos de comunidade e cidadania. É um desafio em que as pessoas têm que deixar questões internas das suas entidades de lado e pensar sempre: qual é o objetivo e por que nós estamos aqui? Determinados temas muitas vezes exigem que o comitê apresente em sua composição uma pessoa neutra, altamente reconhecida pela sociedade e que aporte expertise em determinados temas. Essa pessoa atuará como um mediador nos conflitos que podem acontecer ocasionalmente nos processos de implantação de projetos e de planos. | GUIA DOE MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO | GUIA DE MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO 18 importante ter em mente que o monitoramento é um instrumento de participação, transparência e cidadania. Ele exige e permite condições de transparência do que está sendo efetivamente executado, como está sendo e os avanços e dificuldades enfrentados na implantação do projeto. Em geral, algumas instituições públicas não criam espaços que permitam a participação da sociedade em termos de cobrança, de colaboração e de acompanhamento dos projetos. Este processo de planejamento participativo vem se incorporando com mais força nas ações públicas na última década. Assim, é preciso que a comunidade conheça os processos de planejamento participativo (incluindo monitoramento e avaliação), criando formas de colaboração e de cobrança de resultados das instituições públicas, que têm sua existência voltada ao atendimento da sociedade. É um instrumento de participação, de exercício de cidadania e de governança. 19 Como dito anteriormente, o monitoramento e a avaliação são práticas complementares e interdependentes. Por isso, há a necessidade de se estabelecer com cuidado o desenho do projeto, considerando as demandas de informações que irão orientar tanto a execução quanto o acompanhamento. O Plano Integral e Participativo é uma ferramenta que define o conjunto de ações a serem realizadas, relacionando compromisso e responsabilidades dos diversos atores sociais envolvidos, além dos prazos e recursos necessários para a implementação. caminhos, para serem acompanhados, precisam de marcos que sinalizarão onde se está chegando. Estes marcos são chamados de indicadores. Além dos indicadores, é preciso descrever de forma clara e objetiva as metas (mudanças desejadas), os meios de verificação (como serão encontrados os indicadores), a linha de base (situação anterior à implementação do projeto) entre outros elementos de planejamento, que, ao serem bem definidos, favorecem o alcance dos resultados. O resultado é aquilo que se espera ao final da execução de uma atividade, de um projeto ou de um programa. São os Ao definir as ações que serão detalhadas resultados que provocam as mudanças esperadas em relação aos problemas em programas e projetos, o Plano traça ou às necessidades inicialmente caminhos a serem trilhados para o alcance das mudanças desejadas. Esses identificados. | GUIA DE MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO Definindo princípios fundamentais para uma boa prática de monitoramento e avaliação 20 Apropriação pelo Governo, pela comunidade e pelas lideranças do Plano Integral de Convivência e Segurança Cidadã | Assegurar a participação ampla dos diversos atores sociais em todos os estágios do Plano favorece o fortalecimento pelo governo de sua capacidade institucional, associada a uma cultura de gestão voltada para o alcance dos resultados, com forte contribuição da comunidade, de modo consultivo, e de seus representantes de diversos setores, de modo deliberativo. Assim, potencializam-se os acordos estabelecidos quando da elaboração do Plano, o que incentiva o uso dos resultados do Monitoramento e da Avaliação para a proposição e reformulação de políticas públicas. Relevância e aplicabilidade | Para serem relevantes, o monitoramento e a avaliação devem ser desenhados para responder as demandas de Convivência e Segurança Cidadã que são importantes para a comunidade e os beneficiários. O planejamento conjunto favorece a compreensão sobre o que realmente a comunidade espera conhecer, ser informada ou colaborar. Isso assegura um bom desenho de plano de trabalho de monitoramento e avaliação, o que aumenta a probabilidade de que as lições aprendidas e recomendações possam alimentar a formulação de novas iniciativas e de políticas públicas. Flexibilidade e adaptabilidade às condições locais | É imprescindível que haja flexibilidade e adaptabilidade do Monitoramento e da Avaliação para as especificidades locais. Para tanto, o planejamento deve ser pensado de modo a adaptar o projeto aos contextos institucionais, sociais e econômicos em que irá ser desenvolvido. Isso envolve uma análise prévia quanto aos atores sociais envolvidos em termos de disponibilidade, nível de conhecimento e possibilidade de acesso às informações, que inclui as condições das organizações envolvidas e a capacidade de disponibilização de recursos financeiros. A metodologia existe como referência para o processo, mas deve ser trabalhada como orientadora da ação, inclusive ao considerar as possibilidades de reorientação de suas etapas, fases ou procedimentos às condições locais. Tempo e Oportunidades de Monitoramento e Avaliação | A implementação do Plano em sua totalidade e os seus diferentes projetos, indica o prazo que é necessário para o alcance de determinados resultados. Este tempo que leva para alcançar os resultados é um importante elemento a considerar para a definição da frequência do monitoramento e dos momentos adequados de avaliação. As avaliações intermediárias e finais normalmente deveriam ser focadas naqueles resultados que possam mostrar mudanças mais rápidas, de acordo com o plano de trabalho e as metas a alcançar. | GUIA DOE MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO COMO MONITORAR E COMO AVALIAR? 21 É preciso que se compreenda os referidos elementos de planejamento, pois eles possibilitam observação e análise do desenvolvimento de determinado processo, de modo permanente e sistemático, ao longo de um plano, programa ou projeto. Assim, seguem abaixo os elementos necessários para um melhor entendimento do processo de monitoramento e avaliação. | GUIA DE MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO a) Indicadores 22 Um indicador é um marco, uma referência, uma medida para que se possa verificar ou constatar determinado fenômeno ou situação. Por isso, é usado para responder à questão “se” ou “quanto” progresso tem sido feito para atingir os objetivos declarados. O uso de indicadores possibilita ter uma visão do processo, identificando o desempenho do plano de ação e os resultados alcançados. Eles devem ser qualitativos e quantitativos e, ao serem definidos, também é preciso que se informe como serão coletados, quais os procedimentos a serem adotados para a coleta e quem vai executá-la. Algumas características devem ser atendidas na definição e na seleção dos indicadores: ser significativo ter objetividade e coerência ser sensível às mudanças no tempo ser de fácil mensuração, o que significa basear-se em informações acessíveis e de baixo custo ser centrado em aspectos práticos, o que implica ser de fácil compreensão e gerar resultados facilmente apropriados ter fontes seguras e contar com o maior universo disponível Além disso, é preciso observar que: a qualidade do indicador é mais importante que a quantidade, pois o excesso de indicadores dificulta a sistematização e a interpretação dos dados e de informações para cada etapa do processo – diagnóstico, planejamento, implementação, monitoramento e avaliação – devem ser definidos indicadores próprios que ajudem a conhecer o cumprimento dos objetivos e o alcance dos resultados os indicadores devem traduzir a temática trabalhada, neste caso, Convivência e Segurança Cidadã Para que os indicadores sejam apropriados a cada fase do processo, pode-se classificá-los da seguinte forma: Indicadores de Linha de Base são informações quantitativas e qualitativas que servem de referência para comparação posterior (por exemplo: número de jovens desempregados, número de projetos de lazer que atendem à comunidade, taxa de homicídio, entre outros, que existiam quando da implantação do projeto) demonstram a situação encontrada; indicam o caminho a seguir Indicadores de Processo informam sobre a dinâmica das ações e atividades realizadas, ou seja, recursos e insumos utilizados, aproveitamento das capacitações, avaliação qualitativa das ações, parcerias envolvidas, análise realizada pelos atores sociais envolvidos demonstram se a ação está no caminho certo Conferem os passos dados Indicadores de Resultado apontam o grau em que os objetivos e metas foram alcançados, tais como: produtos realizados (número de cursos realizados e quantidade de programas implantados, entre outros); impacto na população beneficiada; instrumentos (formulários, fontes, etc.) para cada uma das etapas acima demonstram se o trabalho atingiu o objetivo esperado verificam até onde se consegue chegar Os indicadores de monitoramento atuam como sinalizadores para mostrarem o que precisa ser investigado mais cuidadosa e profundamente nas avaliações. Estas abordarão como foi feito, como poderia ser feito de uma melhor maneira, se foi importante para a comunidade, se a iniciativa tem sustentabilidade e, sobretudo, sobre os seus resultados e mudanças (efeitos e impactos). A definição de indicadores para avaliação, por sua vez, deve ser feita em função dos aspectos que queremos avaliar, medir ou acompanhar, de acordo com critérios de eficiência, eficácia e efetividade. Uma boa definição de indicadores | GUIA DOE MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO Identificando peças chaves para o monitoramento e a avaliação 23 b) Linhas de Base | GUIA DE MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO Os diagnósticos são as bases necessárias para a elaboração de planejamentos estratégicos. Eles são a leitura do cenário a ser trabalhado, sendo um elemento essencial para as definições que comporão o projeto. Um diagnóstico é um instrumento de interpretação da realidade que deve anteceder qualquer iniciativa, para que se possa ter uma leitura do cenário inicial que receberá determinada proposta. 24 A Linha de Base, ou Marco Zero, é um tipo de diagnóstico. A Linha de Base possibilita a identificação de problemas e de condições já existentes, servindo de base segura para as definições de ações do Plano. Devem constar da Linha de Base indicadores de Monitoramento e Avaliação que possibilitarão avaliar efeitos e impactos causados pela iniciativa. Para uma avaliação final, pode ser realizada, também, uma análise comparativa entre os dados da Linha de Base sem intervenção da iniciativa e os resultados alcançados com a execução da mesma. Na maioria dos casos, as Linhas de Base não são realizadas nos planejamentos por diferentes razões, sendo as mais comuns: falta de recursos, de tempo, de informações ou ausência de séries (a mesma informação levantada em um conjunto de anos consecutivos). No entanto, as Linhas de Base são fundamentais para dar insumos de comparação entre um ponto de partida e um ponto de chegada. Assim é possível saber com mais segurança se determinada iniciativa mudou a realidade, pois teremos a referência de como estava antes dela ser realizada. Por exemplo: dentro de um Plano Integral e Participativo de Convivência e Segurança Cidadã, identifica-se no estudo da linha de base que no início do projeto havia um número alto de eventos de violência doméstica na comunidade a ser trabalhada. Algum tempo depois, este é um número que servirá de base comparativa para a afirmação de que o projeto contribuiu para diminuir ou não o número de eventos de violência doméstica. Os estudos de linha de base devem ser criteriosos e relativos a uma real existência ou não dos programas e projetos informados, bem como ao alcance de beneficiários já realizado, reconhecendo, de fato, não somente o que aquele território necessita, mas também o que já conquistou. Além disso, os dados obtidos e sistematizados são fundamentais para um bom desenho do projeto, bem como determinantes das definições de estratégias para a reconfiguração daquela realidade identificada. Ao retratar fidedignamente a realidade encontrada, pode-se dar a dimensão mais aproximada possível daquilo que aquele território dispõe ou precisa. Caso contrário, se o contexto inicial não for tratado com rigor pode-se mascarar ou superdimensionar os efeitos e resultados alcançados, o que, por sua vez, pode comprometer a validade de todo o processo de execução e de monitoramento e avaliação da iniciativa. c) Metas As metas estão diretamente ligadas aos objetivos. Os objetivos são declarações do que se pretende alcançar, dividindo-se em geral e específicos. O Objetivo Geral descreve o que se pretende alcançar com toda a iniciativa e aponta para uma meta que descreve sinais de mudanças gerais em longo prazo. Os objetivos específicos são os resultados que se pretendem atingir com as diversas ações previstas, possuindo metas próprias. As metas quantificam e qualificam os objetivos em relação ao período de realização previsto. As metas são a quantificação dos resultados esperados, indicam qual o percentual que se deseja reduzir em determinado problema ou mesmo resultados qualitativos, como que mudanças comportamentais se espera desenvolver e em quanto tempo se espera alcançar cada resultado. Várias etapas são cumpridas para se chegar à versão final do Plano. A partir do estudo previamente feito na região, o Diagnóstico Integral e Participativo, define-se o impacto que o plano deve atingir, seu objetivo final e suas áreas de atuação, que representam a meta final ou geral do plano. Assim, discutem-se também quais as ações que são necessárias para o alcance da meta final. Estas ações definem as metas parciais que, como já dito, correspondem aos objetivos específicos. Leia mais no Guia do Diagnóstico Integral e Participativo. | GUIA DOE MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO contribui para um conhecimento aprofundado das organizações e dos sistemas que queremos transformar, sinalizando dificuldades, facilidades e tendências a serem mantidas ou reorientadas. 25 Os resultados devem prever indicadores mensuráveis, ou seja, que possuam meios de verificação correspondentes. Isso significa que os dados e as informações devem estar facilmente disponíveis para poderem facilitar a medição do progresso que está sendo feito, ou foi feito, na execução ou finalização da iniciativa. Por isso, é importante lembrar que, ao definir indicadores, é preciso considerar como os dados serão coletados durante o processo de monitoramento e avaliação. Observar os meios de verificação é fundamental por que: Meios de verificação bem definidos evitam que haja definição de metas e objetivos demasiados | GUIA DE MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO meios de verificação acessíveis, a partir de informações facilmente disponibilizadas, contribuem 26 para delimitar com mais precisão o alcance do projeto e, consequentemente, demonstrar o nível de sucesso da iniciativa tipos de informações que serão necessárias para garantir a obtenção de resultados, definidos com clareza, bem como custos necessários e o esforço para obtê-los, contribuem para não por em risco a integridade da iniciativa resultados e indicadores baseados em dados mensuráveis e verificáveis de forma independente evitam que se questione até que ponto a iniciativa é realista ou realizável meios de verificação definidos de forma participativa e interativa contribuem para a compreensão e o apoio à iniciativa, bem como para o conhecimento, por parte dos envolvidos e interessados, na verificação da obtenção dos resultados Monitorando Alguns exemplos são comuns para descrever o processo de monitoramento, como o de observar um paciente com febre, acompanhando-o com a mensuração de temperatura de tempos em tempos para saber se houve aumento ou redução dela. Outro exemplo é o de observar os sinalizadores de gasolina, velocidade ou temperatura em um painel de controle de um carro. Por ali constata-se se o carro está com gasolina suficiente para o percurso que se pretende realizar, se está na velocidade devida tanto no que se refere às regras de trânsito quanto ao tempo necessário para se romper a distância no tempo pretendido, ou se o carro está com o motor na temperatura adequada para o seu desempenho. Os projetos sociais também possuem instrumentos de medição que funcionarão para, de tempos e tempos, indicar o que mudou naquele contexto, como fotografias que, ao serem colocadas em sequência, demonstram a evolução de determinada situação. Neste caso, os sinalizadores serão os indicadores do desenvolvimento das ações. Assim, ao monitorar, pode-se dizer, por exemplo, que se o objetivo é aumentar o envolvimento de jovens na discussão de temáticas relacionadas à Convivência e Segurança Cidadã, define-se a necessidade do alcance de participação em Rodas de Diálogos sobre violência de 400 jovens de determinada comunidade, num período de 12 meses. Pode-se, a cada dois meses, verificar quantos jovens estão participando nas atividades das Rodas de Diálogo. Isso demonstrará se o nível de participação tem aumentado ou diminuído. De modo simplista, nos exemplos citados anteriormente, podemos estabelecer algumas diferenças entre monitoramento e avaliação. No caso da pessoa com febre, o monitoramento sinaliza o estado da temperatura, existência ou não de febre ou hiportermia. Supondo que se identifique que ao aplicar todos os procedimentos decididos a temperatura permaneça alta, avalia-se: o que provocou aquela permanência? Quais os novos procedimentos que deverão ser tomados? Muda-se o medicamento, faz-se um resfriamento ou se prossegue por mais tempo com a mesma conduta? A mesma coisa para o carro. Quanto ao combustível, o que deve ser realizado é completar a quantidade ou analisar | GUIA DOE MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO d) Meios de Verificação 27 de diálogo, é preciso saber porque a frequência está ou não sendo atendida. Em caso negativo - é por que o facilitador tem uma metodologia pouco atrativa? A turma é muito heterogênea em termos de idade? Os assuntos são inadequados para a Roda de Diálogo? Só para citar algumas possibilidades. Passo a passo para a realização do monitoramento 1. Revisar o contexto político e operativo e definir papeis e responsáveis. 2. Preparar o processo de Monitoramento e Avaliação com a elaboração participativa de um Plano de Trabalho, reforçando a data de início do processo. 3. Para a elaboração do Plano de Trabalho, responder: O que vai ser monitorado? Com que finalidade irá monitorar? Que aspectos da iniciativa é preciso conhecer melhor e investigar? | GUIA DE MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO Como e quando será feita a obtenção e coleta de informações? 28 Como e por quem serão analisadas as informações coletadas? Para quem e como serão comunicados os resultados das análises? Como e quem tomará as decisões com base no que foi descoberto? 4. Recolher dados: Em relatórios financeiros Em relatórios de atividades Por meio de entrevistas em relatório de visitas técnicas entre outras fontes 5. Analisar, por meio de comparação entre o planejado e o observado, procurando o porquê dos alcances e dos não alcances e sugerindo caminhos para recuperar os desvios e atrasos. 6. Informar aos gestores, a pessoas envolvidas, a interessados e à comunidade sobre os alcances e não alcances e sugestão de caminhos para recuperar os desvios e atrasos. 7. Usar os dados e a informação do monitoramento na gestão e na tomada de decisões. Fonte: PNUD (2009) e material do curso de Monitoramento de Projeto para a Implantação do Plano Integral no âmbito do Programa Conjunto “Segurança Cidadã” controle social Comissão de Comunicação tem papel monitorador no Programa Conjunto da ONU “Segurança com Cidadania” Para garantir que as ações previstas no Plano Integral e Participativo em Convivência e Segurança Cidadã saiam do papel é preciso avaliar os resultados e monitorar as ações. Sabemos que a execução do Plano depende de vontade política, mas não só disso. O controle social, exercido pelos atores locais, é fundamental para garantir que isso ocorra. Nos três municípios integrantes do Programa Conjunto da ONU “Segurança com Cidadania”, o Comitê Gestor Local é a instância responsável por esse processo. No entanto, em Lauro de Freitas (BA), em Vitória (ES) e em Contagem (MG), a criação da Comissão de Comunicação e Mobilização Social – formada, em sua maioria, por lideranças comunitárias locais – deu um grande salto no processo de avaliação e monitoramento das ações e dos projetos previstos no Plano. Exemplo disso foi a ação realizada pela Comissão Puxaí, de Vitória (ES). Após o estudo detalhado do Plano de São Pedro, os integrantes da Comissão levaram o documento para o novo prefeito de Vitória, durante audiência pública realizada antes da posse. Em Lauro de Freitas (BA), foram realizados encontros para estudo do Plano que reuniram policiais militares, lideranças comunitárias, agentes de saúde e representantes de ONGs, entre outros. O Plano foi entregue pelo grupo à Comissão de Transição do prefeito eleito do município durante reunião. Foi iniciado, também, um processo de construção coletiva de conteúdos para compor uma Cartilha do Plano Integral de Convivência e Segurança Cidadã, com dicas e informações para orientar as pessoas a exercerem o seu papel de cidadãs para garantir que todas as ações e projetos previstos sejam executados. | GUIA DOE MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO se o tipo utilizado está sendo o mais adequado? Pode ser feita uma parada de descanso por conta das distâncias alcançadas ou é necessário aumentar a velocidade para chegar a tempo? Ou, ainda, se é preciso avaliar o motor por conta da temperatura, entre outras coisas. E, quanto aos jovens das rodas 29 Avaliando Critérios da Avaliação de Resultados: Como dito anteriormente, a avaliação é o estabelecimento de um juízo de valor baseado em evidências, que devem estar amparadas em fatos, o que permite a proposição de recomendações e a sistematização de lições aprendidas. A avaliação torna-se mais relevante quanto maior for a capacidade de retorno feedback que ela consiga oferecer: quer seja para os executores do plano, programa ou projeto, para os beneficiários diretos ou qualquer outro ator social envolvido ou interessado pela iniciativa. Relevância | examina a validade e a necessidade de um projeto, observando se os efeitos esperados atendem às demandas dos beneficiários, se a intervenção é apropriada para solucionar os problemas identificados, se o conteúdo é consistente com as políticas, se as estratégias e abordagens adotadas são relevantes. Tipos de avaliação em relação ao que será avaliado: AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA (usar recursos da melhor forma possível no tempo fixado) custos executados METAS ALCANÇADAS CUSTOS EXECUTADOS AVALIAÇÃO DA EFETIVIDADE (alcançar as transformações desejadas por meio de efeitos e impactos) | GUIA DE MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO SITUAÇÃO ANTES DA INICIATIVA (EX-ANTE) 30 OBJETIVA Verifica mudança quantitativa Sustentabilidade | considera as probabilidades de os efeitos continuarem a ocorrer após o término da assistência. Etapas da avaliação dos resultados da iniciativa AVALIAÇÃO DA EFICÁCIA (conseguir cumprir metas) METAS PROPOSTAS CUSTOS PREVISTOS Impacto | analisa os efeitos a médio e longo prazos, inclusive direta ou indiretamente, positiva ou negativamente, intencionais ou não. SITUAÇÃO DEPOIS DA INICIATIVA (EX-POST) SUBSTANTIVA SUBJETIVA Verifica mudança qualitativa na vida dos beneficiários Verifica mudança comportamental ou de cultura ETAPA 1 ETAPA 2 ETAPA 3 Observa RESULTADOS Observa IMPLANTAÇÃO DE PROCESSOS Observa RELAÇÕES CAUSAIS Identifica o que foi realizado e em que medida Analisa o que está acontecendo ou aconteceu no processo para o alcance do objetivo Determina se os resultados alcançados foram devido à intervenção realizada com a iniciativa; verifica como a implantação afeta o desenvolvimento Analisa a relação de causalidade entre a iniciativa e o impacto apresentado verifica a validade dos planos e os valores definidos em relação à base de dados verifica se houve planejamento adequado | GUIA DOE MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO EFEITOS OBTIDOS Eficácia | avalia a implementação do projeto em relação ao alcance dos efeitos para os beneficiários. Eficiência | avalia a forma como foram utilizados os recursos econômicos e insumos na promoção dos resultados, observando a relação entre os custos do projeto e efeitos. 31 AVALIAÇÃO DE PROCESSO Realizada durante todo o processo de implantação Avalia continuamente, com equipe executora e beneficiários, as reações das pessoas envolvidas e os efeitos das atividades, durante ou após a sua execução Realizada pelos executores AVALIAÇÃO ANTERIOR ao início do Plano OU EXANTE (Diagnóstico/ Linha de Base) Apreende características do contexto na sua dinâmica identifica prioridade e importância da iniciativa em relação ao público que pretende alcançar e para o desenvolvimento local identifica demandas e expectativas da comunidade envolvida orienta os detalhes e resultados do plano, programa ou projeto, com dados e estatísticas relevantes AVALIAÇÃO DE MEIO-TERMO do Plano OU INTERMEDIÁRIA realizada no meio do período da execução do projeto analisa a eficiência das realizações e dos processos de implementação afere o desempenho e os produtos da ação; orienta os possíveis ajustes com modificações operativas para alcance dos resultados pretendidos AVALIAÇÃO FINAL quando do término do plano AVALIAÇÃO DE IMPACTO após o término do plano (mínimo de 3 anos) OU EX-POST realizada após a conclusão do projeto realizada depois de um período da conclusão da iniciativa analisa a eficiência, a eficácia e a sustentabilidade da iniciativa orienta as mudanças necessárias ao desenho identifica as lições e recomendações derivadas da execução da iniciativa identifica a necessidade de novas ações para completar ou ampliar o período de execução do projeto orienta a melhoria de planos e de outras iniciativas em relação ao desenho adotado pela proposta orienta maior eficácia e eficiência de experiências futuras; orienta replicação da iniciativa | GUIA DE MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO garante coerência entre os objetivos, estratégias e resultados pretendidos e a proposta 32 analisa o impacto e a sustentabilidade exige a comparação entre o “antes” e o “depois” Um Plano de Trabalho de Monitoramento e da Avaliação é peça fundamental para garantir a boa articulação entre etapas, responsáveis e prazos. Deve ser tido como um instrumento que orienta o processo permanente de planejamento durante e após a execução de determinada iniciativa. Passo a passo para elaboração de um Plano de Trabalho: 1. Realizar um alinhamento metodológico e conceitual de modo a garantir o envolvimento e o comprometimento dos atores sociais e de pessoas que interagem na iniciativa em questão 2. realizar Curso de Monitoramento e Avaliação de Projetos de Convivência e Segurança Cidadã para contribuir para a construção de uma nova cultura de gestão e garantir uma leitura bastante cuidadosa da realidade, bem como de suas potencialidades e desafios 3. identificar processos criativos para a garantia da realização do Monitoramento e de Avaliação de forma integrada 4. elaborar o Plano de Trabalho, que deve: propor atividades, produtos e resultados identifica viabilidade da iniciativa aponta os indicadores de avaliação que serão utilizados para medir o efeito da iniciativa nas demais etapas avaliativas Realizada pelos propositores e envolvidos Elaborando um Plano de Trabalho de Monitoramento e Avaliação Realizada por pessoa externa ao processo Fonte: adaptado de PEDROSO e ROCHA, 2010 Realizada por pessoa externa ao processo Realizada por pessoa externa ao processo definir pessoal e recursos financeiros necessários, e a contrapartida de cada setor envolvido, a partir das propostas apresentadas no Plano de Convivência e Segurança Cidadã observar os Resultados e os Efeitos esperados a curto, médio e longo prazos definir os processos de acompanhamento e avaliação local dos avanços a serem alcançados com cada projeto do Plano, até a finalização do período estabelecido definir o modo com que esse processo de monitoramento e avaliação possa ser apropriado pelos interlocutores e pontos focais nas zonas de trabalho considerar as dificuldades e os pontos positivos existentes estabelecer prazos para a análise dos avanços que vão sendo alcançados observar a seleção de indicadores e metas anuais para alcance de Produtos e Resultados, bem como a identificação das prioridades Estabelecer prazos para proposição e execução de ajustes identificados como necessários ao bom desenvolvimento da iniciativa | GUIA DOE MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO A Avaliação no Processo de Implantação 33 conscientização | GUIA DE MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO Para monitorar e avaliar o Plano Integral de Convivência e Segurança Cidadã é preciso antes conhecê-lo. Portanto, o processo de divulgação do documento é de extrema importância para garantir a sua execução. Em Lauro de Freitas (BA), a Comissão de Comunicação e Mobilização Social “Pegue Visão Cidadão, Pegue Visão Cidadã” apostou na realização de Rodas de Diálogo sobre Convivência e Segurança Cidadã para divulgar amplamente a temática e o Plano. O público jovem foi o grande foco das ações; afinal, é para garantir dignidade e vida segura aos meninos e às meninas que as ações de Segurança Cidadã são realizadas. 34 Mais de 100 adolescentes e jovens foram mobilizados pelas Rodas de Diálogo. Jovens e adolescentes moradores de Itinga e de outros bairros de Lauro de Freitas, que puderam não só falar sobre os preconceitos vivenciados no cotidiano, lembrar os amigos assassinados, citar os casos de violência doméstica e as inúmeras histórias de amigos e familiares envolvidos no uso de álcool e outras drogas, como também refletir sobre a pergunta: e você, adolescente, jovem, o que pode fazer para contribuir para a Convivência e Segurança Cidadã em sua comunidade? As respostas foram várias. Ajudar a conscientizar amigos, familiares e parentes a cuidar dos espaços públicos; orientar amigos e amigas sobre os malefícios do uso de álcool e de outras drogas; utilizar mecanismos de comunicação (como folhetos, rádios comunitárias e a arte de rua) para sensibilizar a comunidade foram algumas das ações listadas. “Chega de pensar que o jovem só é influenciado. O jovem pode e deve, sim, influenciar e mudar a sua realidade”. Recado dado pela adolescente Carla Ribeiro, 15 anos. Uma Roda de Diálogo promovida com agentes de limpeza de Lauro de Freitas para falar sobre o Plano Integral de Convivência e Segurança Cidadã, também deu o que falar. Participaram mais de 100 trabalhadores, que tiveram a oportunidade de refletir sobre o papel das pessoas enquanto agentes da paz e enquanto cidadãos que podem, e devem, exercer seu papel político e cobrar a garantia de iniciativas na área de segurança cidadã. Para Carlos Augusto Anunciação, há sete anos atuando como gari em Lauro de Freitas, a conversa foi importante para deixar a ideia de que todos - polícia, comunidade e agentes de limpeza - devem trabalhar juntos. “Só assim, as coisas vão melhorar, não é?”, indagou. Relatos sobre preconceitos vivenciados cotidianamente por esses profissionais também surgiram durante a Roda de Diálogo. “Eu não sou lixo não, sou mulher”, disse uma agente de limpeza ao contar que quando está com a farda, as pessoas na rua a chamam “lixo, venha cá”. O que a prática ensina Para que o monitoramento e a avaliação sejam efetivos é preciso que o desenho do projeto seja feito de forma criteriosa e flexível, de modo a maximizar o aprendizado sobre mudanças, quando necessárias, melhorando as chances de sucesso. A participação no monitoramento e na avaliação dos diversos atores sociais envolvidos no Plano Integral e Participativo de Convivência e Segurança Cidadã, desde o Diagnóstico até o planejamento, proporciona uma melhor execução dos planos, programas e projetos, fortalecendo a efetividade e a eficiência e incentivando a definição de responsabilidades. O uso de espaços de controle social já existentes na sociedade, como Comitês, Conselhos e outros, favorecem o processo participativo para o acompanhamento das ações planejadas. Além disso, contribuem para a aprendizagem coletiva, pois o desenvolvimento de cada pessoa promove o desenvolvimento de toda a sociedade. Quando um processo é formulado de maneira criteriosa e participativa, o envolvimento dos diversos atores sociais, com ênfase na sociedade civil, fortalece a capacidade de fiscalização, exigindo de todos um contínuo alinhamento do uso dos recursos com maior transparência e referencial técnico. Com a realização de práticas qualificadas de monitoramento e avaliação dos Planos Integrais de Convivência e Segurança Cidadã, garante-se um maior alcance das metas estabelecidas e a sustentabilidade do que foi proposto. A execução de cada plano, programa ou projeto terá maior chance de sucesso na medida em que o monitoramento e a avaliação sejam observados e praticados de forma sistemática e responsável, como instrumento de tomada de decisões e de maior participação dos beneficiários no acompanhamento da iniciativa. A avaliação pode ser entendida como uma fase do ciclo do projeto e como uma atividade que afeta todas as demais etapas. É um mecanismo usado para aprender com o que pode ser melhorado e com os sucessos e, consequentemente, melhorar o planejamento e a gestão do projeto. | GUIA DOE MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO Rodas de Diálogo: fortalecimento da sociedade civil e envolvimento de jovens no processo de avaliação e monitoramento 35 Como vimos, tão importante quanto fazer é monitorar o que é feito no momento em que está sendo feito, analisar continuamente o andamento da execução do plano, medir a distância entre meta e resultado, avaliar em momentos estratégicos para se apropriar dos processos de como estão sendo feito e se estão sendo bem feitos e aprender com essa experiência, de modo a contribuir para uma prática sustentável. IMPORTANTE LEMBRAR O monitoramento e a avaliação devem responder às necessidades daqueles que decidem sobre a iniciativa, em especial, gestores públicos e comunidade avaliação possa gerar: aprendizagem para novos projetos; prestação de contas para a comunidade e responsabilização pública da sua implantação física e financeira O monitoramento deve indicar prazos, ações, recursos e responsáveis para os ajustes necessários nos planos A avaliação deve ser entregue a tempo de assegurar a melhor utilização dos resultados pelos atores sociais e gestores envolvidos, de modo a ampliar os resultados e efeitos esperados As conclusões, recomendações e lições aprendidas devem ser claras, pertinentes e direcionadas para que a | GUIA DE MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO Fonte: KNIJNIK (2012) 36 empoderamento Cartilha do Plano: instrumento de apoio ao processo de Monitoramento e Avaliação Independente de quem esteja governando um município ou estado, são as pessoas que vivem ali as principais interessadas em ver seus problemas resolvidos. São elas que sofrem com a violência, com a falta de transporte público de qualidade, com uma via perigosa que corta o bairro, com a falta de coleta de lixo ou com um mau atendimento no posto de saúde. Elas conhecem os principais problemas que enfrentam no cotidiano e, mais do que ninguém, querem ver o lugar onde moram ganhando qualidade de vida. Por isso, a comunidade é personagem principal em todas as etapas de um projeto de Convivência e Segurança Cidadã. E isso não é diferente na fase de monitoramento e avaliação. No entanto, para que isso aconteça de forma efetiva, é preciso criar mecanismos de participação que se adaptem à realidade vivida por aquela determinada comunidade. Uma ferramenta que pode ser bastante útil neste processo é a Cartilha do Plano – que nada mais é do que o próprio Plano Integral e Participativo, apresentado em uma linguagem popular, de fácil entendimento. Ela pode trazer ainda informações sobre controle social, participação e mobilização, entre outros. O objetivo é fazer com que grande parte da comunidade conheça o conteúdo do plano, munindo-a de ferramentas para buscar sua execução. A Comissão de Comunicação deve participar do projeto de elaboração da cartilha, que também poderá envolver outros atores locais por meio, por exemplo, de oficinas de educomunicação. | GUIA DOE MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO Os dados produzidos ao longo do período de implantação e com o monitoramento constituem um recurso essencial nas avaliações. A conclusão do processo de monitoramento e avaliação será tanto mais fácil, menos cara e mais útil quanto melhor forem identificadas e formuladas as ações da iniciativa. 37 ReferênciaS BibliográficaS BRASIL, Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Manual de Elaboração do Plano Gerencial dos Programas do PPA 2004-2007. Brasília, 2004. BRASIL, Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão / Secretaria de Gestão Pública. Avaliação Continuada da Gestão Pública. Brasília. 2004. BRASIL, Tribunal de Contas da União. Prêmio Serzedello Corrêa 2003: monografias vencedoras: avaliação de programas no Brasil : o papel do Tribunal de Contas da União. Brasília : TCU, Instituto Serzedello Corrêa, 2005. P. 59. GARCIA, Ronaldo Coutinho. Subsídios para organizar avaliações da ação governamental (texto para discussão nº 776). Brasília : Ipea, 2001. p. 29-30. JOPPERT, Márcia Paterno e SILVA, Rogério Renato. Guia Metodológico para Monitoramento e Avaliação Participativa. Confederação Nacional de Municípios – CNM e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD/Brasil – Brasília: CNM, 2012. KNIJNIK, Clarice. Planejamento e Avaliação para Programa Conjunto “Segurança Cidadã” – Relatórios. PNUD, Brasília, 2012. MAFRA, Fábio. O monitoramento dos resultados da gestão governamental no Brasil [manuscrito] / Fábio Mafra. -- 2007. 80 f. Disponível em: http://portal2.tcu.gov.br/portal/pls/portal/docs/2055558. PDF. Acessado em 12 de novembro de 2012. ONU/PNUD. 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PNUD, Brasília, 2012. 39 Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Casa das Nações Unidas no Brasil Complexo Sergio Vieira de Mello - Módulo I Setor de Embaixadas Norte, Quadra 802 - Conjunto C, Lote 17 Brasília – DF CEP: 70800-400 Telefone: + 55 (61) 3038-9300 [email protected] / [email protected] Para mais detalhes sobre o PNUD e sobre os projetos desenvolvidos no Brasil, visite: www.pnud.org.br www.segurancacomcidadania.org e acompanhe o PNUD nas mídias sociais: www.twitter.com.br/PNUDBrasil www.facebook.com.br/PNUDBrasil www.youtube.com.br/PNUDBrasil