Condições Ambientais da UTIN: Implicações para o Cuidado de Enfermagem Residente Enfermagem em Neonatologia HRAS/SES/DF Mirna A. da Costa Ribeiro www.paulomargotto.com.br Introdução O grande desafio que é cuidar do RNPT(recémnascido pré-termo) e gravemente enfermo provoca um turbilhão de emoções. A emoção envolve a equipe de saúde, a família desse bebê e o bebê. Nesse cenário de constante embate com a morte, buscando vida e qualidade de vida, são muitos os desafios com que nós deparamos. Introdução É chegada a hora de muita reflexão! Novos conhecimentos e maior observação desse nosso pequeno paciente são hoje norteadoras de modificações. Não queremos fazer coisas diferentes; precisamos fazer diferente o que já fazemos. Não vamos modificar intervenções; vamos fazêlas sob uma nova ótica, com novos conhecimentos. Objetivo Geral Facilitar a maturação e adaptação do recém-nascido durante sua hospitalização na Unidade Terapia Intensiva Neonatal (UTIN). Objetivos Específicos Modificar as práticas que podem aumentar os transtornos motores, transtornos de integração sensorial secundárias e agravar patologia de base; Moderar o impacto sensorial; Proporcionar ao RN os estímulos sensoriais e motores de acordo a seu estado e desenvolvimento; Participação ativa e dirigida dos pais na estimulação sensorial do RN; Ambiente Intra-Uterino Rodeado de parede uterina Características físicas de contenção Quente Líquido Escuro Denso Ambiente Intra-Uterino O feto, durante uma gestação sem intercorrências, encontra no meio ambiente uterino todo os suporte fisiológico de que necessita em termos de nutrição, excreção, oxigenação, controle térmico etc. Desenvolvimento dos Sistemas • Sistema Tátil: Receptor da pele que registra as sensações de pressão, dor e temperatura; Se inicia no desenvolvimento perinatal por volta 8º sem. gest. e dissemina por todo corpo 20º; Primeiro estímulo: pressão profunda; Resposta integrada: reflexos básicos, desenvolvimento das habilidades motoras e manipulação; Primeiro vínculo emocional; Sistema Vestibular Receptores situados no ouvido interno, que informa sobre os movimentos do corpo, espaço e orientação em relação a força da gravidade; Resposta vestibular desde 24 sem. gest.; Reflexo de Moro, ativo intra-útero; Resposta integrada; Sistema Auditivo Desenvolvimento se inicia entre 5º e 6º semana gestacional; Funcional ao redor de 25 sem. gest.; Entre 28-34 semanas: 40dB; Entre 35-38 semanas: 30dB; RNT: 20dB; Sistema Visual Estruturas anatômicas desenvolvidas 24 sem. gest.; Período de maturação e diferenciação entre 28-40 sem.gest.; Entre 32-34 sem. gest. percepção da luz; Entre 38-40 sem. gest. reconhecimento facial; O Nascimento Prematuro O Nascimento Prematuro Ele constitui-se em uma agressão ao feto, uma vez que, em sua última etapa intra-uterina, ele apresenta órgãos em fase de desenvolvimento, com imaturidade morfológica e funcional. Níveis de Cortisol e Desenvolvimento do Cérebro Segundo os trabalhos científicos no campo da neurociência, as interações iniciais afetam diretamente a forma como o cérebro se desenvolve. Acontecimentos adversos ou traumáticos, estressantes, físicos ou psicológicos, podem elevar o nível de cortisol. Níveis de Cortisol e Desenvolvimento do Cérebro Os níveis de cortisol aumentados podem afetar o metabolismo, o sistema imunológico e o cérebro do bebê. ( Shore, 2000). Quando o cortisol afeta o cérebro, este se torna mais vulnerável a processos que podem destruir os neurônios e reduzir as sinapses em algumas regiões cerebrais. O Bebê Pré-termo e o Estresse Crianças que apresentam, de forma crônica, altos níveis de cortisol são mais suscetíveis a apresentar mais atraso no desenvolvimento – Cognitivo, motor e social – do que outras crianças. O Bebê Pré-termo e o Estresse É importante lembrarmos que o bebê pré-termo é geralmente privado de três aspectos responsáveis por seu desenvolvimento: O útero materno; A interação afetiva com os seus pais; O meio familiar; A Unidade Terapia Intensiva Neonatal Um dos acontecimentos importantes na atenção ao RNPT foi a implantação das modernas UTIN, repercutindo na redução da morbi-mortalidade neonatal. É um local altamente especializado e pode contribuir para o aparecimento de iatrogênias no processo de crescimento e desenvolvimento destas crianças. Iluminação Excessiva Procedimentos dolorosos Superfícies rígidas Ruídos Excesso de manipulação Falta de Contenção Interrupção do sono constante Postura pouco adequadas O Ambiente Sensorial em UTIN Se frente as demandas do meio ambiente, a capacidade de autoregulação do pequeno prematuro é excedida, impedindo o retorno à uma função integrada, ele apresentará condutas de má adaptação traduzidas em sinais clínicos, como: Alguns Sinais Clínicos Alterações dos sinais vitais; Movimentos corporais erráticos; Distúrbios ácido-básico; Regurgitação voluntária; Dificuldades de alimentar; Maior gasto calórico; Distérmias; Irritabilidade; O Ambiente Sensorial em UTIN O cuidador na UTIN, poderá usar as respostas do Pré-termo em cada um dos subsistemas, por meio da modulação dos estímulos e da facilitação das respostas do bebê, de forma a adequar o “gasto energético” e favorecer o desenvolvimento. Uma equipe de saúde atenta pode observar vários sinais de estresse do bebê. Sinais de Estresse Autonômicos • • • • • • • Flutuações de cor: Palidez; Moteamento; Cianose perioral; Pletora; Coloração mais escura; Alterações cardiocirculatórias: Bradicardia, respiração irregular, apnéia, ↑FR, Movimentos peristálticos: Vômitos, engasgos, salivação, soluços, respiração ofegante, tremores, susto, espirros, bocejos, suspiros. Sinais de Estresse Motores • • • • • • • • • Flacidez motora (turning-out= desligamento): Flacidez de tronco; Flacidez de extremidades; Flacidez facial; Hipertonia motora: Com hipertensão de pernas e braços; Hipertensão de tronco: arqueamento, opistótono; Afastamento de dedos; Caretas Extensão de língua; Atividade frenética, difusa ou movimentos de torção; Sinais de Estresse no Controle de Estado e Atenção Sono difuso, estados de alerta com choramingo, movimentos faciais bruscos ou discharge smile; Olhos errantes, movimentos oculares vagos; Choro extenuado, inquietação; choro silencioso; olhar fixo; Desvio ativo do olhar, de forma freqüente; Choro; Frenesi e inconsolabilidade; Dificuldade para dormir, inquietude; Como Proceder ante os Sinais de Estresse Fazer uma pausa, de modo a aguardar que o próprio bebê dê um sinal para continuar a interação ou o procedimento; Instituir manobras de organização, observando as respostas do bebê diante delas; Suspender a interação ou o procedimento, caso o bebê não responda adequadamente às duas manobras anteriores e continue a apresentar sinais de estresse; Sinais de Estresse Flacidez da Porção Superior do Corpo com Hipertonicidade da Porção Inferior Adaptação à Vida ExtraUterina Os diversos programas e protocolos de intervenções ao neonato prematuro tem o objetivo de adaptar o prematuro, proteger com estabilidade fisiológica no meio extra-uterino, sem causar danos. Metas do Programa de Adaptação Reduzir o estresse do neonato, facilitando a adaptação, as repostas adaptativas podem evidenciar menor flutuações dos sinais vitais, mínima mudança de cor durante procedimentos, melhor tolerância a alimentação, movimentos corporais suaves e coordenados, transições mais fáceis de sono e alerta, capacidade de consolo por ação externa; Vantagens do Programa Diminuição do consumo de oxigênio; Menor tempo com suporte ventilatório; Menor incidência de apnéias; Melhor ganho ponderal; Melhora o estado de organização; Hospitalização mais curtas; Melhora da organização motora; Melhor desenvolvimento social; Repercussão Clinica da Superestimulação Iluminação: a iluminação é continua, 24 horas por dia, de grande intensidade e florescente, podendo causar dano cromossômico, alterações endócrinas da função gonodal, do rítmo biológico e da síntese de vitamina D, bem como privação do sono e labilidade térmica. Minimizando a Luz do Ambiente Facilita o descanso; Melhora o padrão de movimentos do RN; Aumenta os períodos de sono; Diminui a atividade motora; Diminui a freqüência cardíaca; Diminui as flutuações da pressão arterial; Aumento do ganho ponderal; Cobrindo os Olhos do Bebê O Ruído Uma das principais fontes de estresse para o prematuro. Intra-útero, o feto está exposto a um som constante e regular. Dentro da incubadora os níveis de ruídos variam de 50 à 108 dB; Conseqüências: pode levar danos na cóclea com perda auditiva, irritação refletindo em instabilidade dos SSVV e impossibilitar o sono; Alguns Exemplos de Ruídos Cotidianos Despertador: 65-80 dB Refrigerador: 45-67 dB Lavadora: 45-77dB Televisão: 70 dB Batedeira: 65-90 dB Microondas: 55 dB Grito de uma criança: 110 dB Despertador 65-80 dB Os Neonatos estão Expostos a um Ruído Constante Tamborilar dos dedos na incubadora – 7095dB; Fechar a porta da incubadora – 82-111 dB; Fechar a portinhola da incubadora – 70- 95 dB; Alarme da BI – 60-78 dB; Alarme do oxímetro de pulso – 86 dB; Água borbulhando em circuito do ventilador – 62-87 dB; Sinais de Estresse no Neonato Mudança da cor; Mudança da freqüência e ritmo respiratório; Mudança da FC; Extensão e hipotonia das extremidades; Boca aberta; Bocejos; Atividades frenéticas e desorganizadas; Retorces; Choro sem consolo; Extensão de Braço, Sinalizando: Pare! Bocejando Protestando Franzindo a Testa Sinais de Estabilidade do Neonato Cor estável; Ritmo respiratório regular; FC regular; Posição flexionada e corrigida; Movimento de levar a mão na boca; Sucção; Sorrir; Postura relaxada; Estado de sono evidente; Estratégias Minimizadoras Manter níveis sonoros respeitosos; Responder rápido aos alarmes; Abrir e fechar portas suavemente; Mantas sobre as incubadoras; Diminuir o tom de voz e das conversas próximo das incubadoras; Eliminar os impacto produzidos sobre as incubadoras, como: fechar fortemente as portinholas, o tamborilar dos dedos; Estratégias Minimizadoras Manipulação cuidadosa da incubadora; Redução dos sons das vozes, monitores, alarmes, rádios e do acúmulo de água nas tubulações de gases; Evitar apoiar objetos sobre a incubadora; Conscientizar da importância do mencionado; Colocar os celulares no silencioso; Sinalizar a UTIN como área de silêncio!!! Risco Laboral A OMS afirma que o ruído é risco laborial de maior prevalência no mundo e um verdadeiro problema de saúde pública; Uma pessoa necessita trinta minutos de silêncio para recuperar de uma exposição de 10 minutos de um ruído de 100 dB; A exposição ao mesmo ruído durante 90 minutos, necessita de 36 horas para recuperar sua capacidade auditiva normal; Manuseio Excessivo • Outra fonte geradora de estresse no prematuro é Excessiva Manipulação; • Intra-útero: o feto permanece em sono profundo por aproximadamente 80% do tempo; • Na UTIN um prematuro extremo é manipulado de 81 à 132 vezes por dia; • Períodos muito breves de descanso ininterrupto, com durações de 4,6 à 6,2”; Manipulação Mínima Repercussão Clinica da Superestimulação Tem se documentado que o bebê em sono ligeiro apresenta menor oxigenação do que em sono profundo; O ambiente que não permite alcançar o estado de sono profundo, acrescido das freqüentes intervenções, ocasiona significativas e prolongadas reduções na oxigenação e instabilidade térmica; Tabela 1- Sinais de Estresse que Indicam Má Adaptação do Prematuro aos Estímulos Ambientais Sinal autonômico e visceral Sinal Motor Sinais de informação Flutuações da FC, FR, temperatura e pausas respiratórias; Flacidez motora Sono difuso ou vigília com soluços e contração facial; Mudança de cor, pálido, acinzentado ou cianose; Mudança de tônus muscular; Movimentos circulares irregulares; Estertores, tosse, bocejos, suspiros; Hiperextensão dos braços, pernas e tronco; Irritabilidade Convulsões Mãos e dedos abertos Olhos vidrados Má tolerância alimentar Extensão da língua Face de pânico, hiperalerta Náuseas, salivação Manobras de proteção: mãos no rosto, sinal de “pare” Choro continuo que não diminui ao consolo; SCOCHI, 2001 Contenção Facilitada Após o nascimento, o bebê é colocado em uma superfície plana com poucos limites físicos para aumentar ou dar suporte a flexão. A contenção fornecer oportunidades tanto para flexão quanto para extensão, é essencial para ajudar o bebê a atingir estabilização motora e pode diminuir a incidência de anormalidades músculo-esquelético. Prematuro sem Contenção Contenção Facilitada Contenção Facilitada Rolinhos em Volta do Bebê Ajuda a Manter a Flexão Contenção com as Mãos Contenção Facilitada Procedimentos Dolorosos Glicose Observa-se que com a administração oral de 1 ml de glicose a 25% 2 minutos antes dos procedimentos há diminuição das manifestações de dor. Mecanismo liberação de opióides endógenos Humanizando a Unidade Humanização da Assistência em UTIN Humanização: representa um conjunto de iniciativas que visa à produção de cuidados em saúde capaz de conciliar a melhor tecnologia disponível com promoção de acolhimento e respeito ético e cultural ao RN, de espaços de trabalhos favoráveis ao bom exercício técnico e à satisfação dos profissionais de saúde e usuários (Puccini & Cecílio, 2004). Humanização do Cuidado Neonatal Preconizado pelo MS Estão voltadas para o respeito às individualidades, à garantia de tecnologia que permita a segurança do neonato e o acolhimento ao bebê e sua família, com ênfase no cuidado voltado para o desenvolvimento e psiquismo, buscando facilitar o vinculo mãe-bebê durante a sua permanência no hospital (Lamy 2003). Humanização em Saúde Inicio da Interação com Ambiente Pense, Reflita e Tome uma Atitude... Sobre o Estresse dos RN??? “ Imagine-se nu, sem defesa, em um quarto frio, barulhento, cheio de luzes e pessoas. Você está lutando para respirar e um gigante enfia um tubo em sua boca. Você fica nauseado e quer vomitar. Você tenta dormir um pouco, mas toda vez que isso acontece, alguém pensa que você está em coma e te sacode, só para ver se você acorda ou chora... Pense, Reflita e Tome uma Atitude... Se você faz um movimento brusco, eles pensam logo em convulsão. Frequentemente vem alguém e te enfia uma agulha ou te espeta o calcanhar. Enormes mãos frias tocam no seu corpo e apertam sua barriga. Após alguns dias você está tão exausto que não consegue nem mais respirar...E você só pensa em dormir...dormir...dormir.” Texto retirado de MEDICO.org.com Dormir...dormir... Considerações Finais Garantir uma assistência sem danos, livre de processos iatrogênicos, otimizando o cuidado, a fim de melhorar o prognóstico e a sobrevida dos nossos pequenos prematuros. Referências Bibliográficas Hiniker P.K. e Moreno A. L.; Tradução livre Ricardo Nunes Moreira da Silva. Cuidados Voltados para o Desenvolvimento, Manual de AutoAplicação. Teoria e Aplicação. Lawhon, g. (1986). Management of stress in premature infants. Perinatal/ neonatal nursing: A clinical handbook, (pp. 30-38). Boston, Ma: Blackwell Scientific Publications Perehudoff, B. (1990). Parents’ perceptions of environmental stressors in the special care nursery. Neonatal Network, 9 (2), 39-44. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Área de Saúde da Criança. Atenção humanizada ao recém-nascido de baixo peso: método mãe-canguru: manual do curso/ Secretaria de Políticas de Saúde – 1° edição,-Brasília: Ministério da Saúde, 2002. Consultem: Humanização UTI OBRIGADO PELA ATENÇÃO!!!