Com a devida vénia transcrevemos artigo publicado na edição do Jornal de Negócios
Luxemburgo ameaça passagem de Salgado a
"chairman" do BES
Maria João Gago | [email protected]
As irregularidades contabilísticas detectadas na Espírito Santo International (ESI),
"holding" de topo do Grupo Espírito Santo (GES), podem pôr em causa a passagem de
Ricardo Salgado a presidente não executivo do Banco Espírito Santo (BES).
Este cenário está em cima da mesa desde que o Banco de Portugal recomendou à família Espírito
Santo que reduza a sua influência significativa na gestão do banco, para isolar a instituição do
risco de contágio dos problemas da área não financeira do GES. Um processo que vai levar à saída
do banqueiro da liderança executiva do BES.
No entanto, as revelações do antigo contabilista da ESI, noticiadas pelo "Expresso" no
sábado, podem pôr em causa esta solução. Segundo relatou Francisco Machado Cruz, que até há
pouco tempo era "commissaire aux comptes" da ESI, em documentos internos do GES entregues
ao BdP, Salgado sabia desde 2008 que as contas da sociedade não espelhavam a sua verdadeira
situação patrimonial. Uma acusação que o banqueiro nega e que o antigo contabilista da ESI
omite em declarações ao comité de auditoria do Espírito Santo Financial Group, feitas já depois
dos relatos citados nos documentos do GES, descreve o semanário.
A eventual responsabilidade do presidente do BES e de outros administradores da ESI nas
irregularidades cometidas está já a ser investigada pelas autoridades luxemburguesas. Segundo
revelou fonte oficial da Procuradoria do Luxemburgo à Lusa, foi aberto um inquérito a três
sociedades do GES.
Salgado nas mãos do Banco de Portugal
Esta investigação e as dúvidas sobre a responsabilidade de Ricardo Salgado poderão pôr em
causa o cenário de sucessão que o banqueiro terá defendido junto do seu círculo próximo. Em
linha com a recomendação do supervisor para que a família reduza a sua influência na gestão do
banco, o presidente executivo já terá aceite abandonar este cargo a curto prazo.
A solução idealizada por Salgado passaria pela sua transferência para líder não executivo,
"chairman", lugar hoje ocupado por Alberto Oliveira Pinto, um independente que foi presidente
da Caixa Geral de Depósitos. Já a comissão executiva do BES passaria a ser liderada por um gestor
profissional sem ligações à família. Amílcar Morais Pires, actual administrador financeiro do
banco, ou Joaquim Goes, que está na administração há 14 anos, seriam duas alternativas para
suceder ao banqueiro como presidente executivo do BES.
A passagem de Ricardo Salgado a "chairman" está agora nas mãos do Banco de Portugal, que
terá de avaliar se, perante todos os factos de que tem conhecimento, o banqueiro e outros
membros da família que estavam no conselho da ESI, tem condições para continuar na
administração do BES.
16-Jun-14
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Luxemburgo ameaça passagem de Salgado a "chairman" do BES