REDAÇÃO VENCEDORA CATEGORIA CARTA JÚLIA DEMUNER PIMENTEL Escola: Salesiano, 2º ano Jardim Camburi, Vitória-ES Vitória, 15 de Março de 1975. Prezado Lindenberg, Gostaria de parabenizá-lo pelo recebimento do diploma da Ordem Estadual do Mérito Jerônimo Monteiro e o grau de Grã-Cruz da mesma Ordem. No dia 12 de março, o senhor conquistou pelas mãos do governador Élcio Álvares, a homenagem que representa a maior honraria que um capixaba pode receber. Essa homenagem é a mera representação de sua história política no Espírito Santo, responsável por prestigiar a minha e diversas outras famílias rurais. Lembro-me até hoje, caro Carlos, de quando meu pai me contou os detalhes da revolução de 1930, sempre meticuloso e com um grande teor nacionalista perante o país, e principalmente ao Espírito Santo. No decorrer do conto, ele sempre se referia a um episódio heroico do estado, no qual o senhor era o protagonista. Ele referia-se sempre a sua participação em prol da justiça do seu irmão, José Sinval, e que, mesmo depois de sua soltura, você esteve presente acentuadamente na Revolução, participando do movimento da Aliança Liberal e abrigando, em sua própria residência, revolucionários ameaçados de prisão, pondo em risco a própria vida em busca de uma melhoria para o país. Além de momentos memoráveis, as histórias que minha família contava sobre a mesa de jantar aos domingos, fizeram crescer em mim, o mesmo sentimento nacional de meu pai, e consequentemente, uma grande admiração por aqueles que lutavam pela mesma causa, como é o caso do senhor, Carlos Lindenberg. Ah, meu pai, como sinto falta de sua presença nas refeições. Penso que não existiu um capixaba mais fanático que ele, sempre debatendo as questões políticas do país, embora não tivesse o mesmo talento para o direito quanto tinha para o campo. Era um grande sonho dele visitar a assembleia para cumprimentar seus grandes ídolos nacionais. Da Revolução em si, confesso que não me recordo, afinal uma criança aos 10 anos não se interessa por muitas coisas a não ser as brincadeiras na rua. O que de fato me lembro era da situação tensa em minha casa, a preocupação de minha mãe, enquanto eu e meus irmãos escutávamos sempre a mesma palavra: “É a crise, a crise, a crise!’’. Naquele contexto não compreendia o que se passava, mas hoje compreendo que se tratava da tão temida Crise de 29, por isso, talvez, a colheita tenha mudado naquela época, bem que eu senti a falta do café, nunca pensei sobre isso. Mas logo mais, veio a superação estadual, a qual o meu pai brilhava os olhos em pronunciar seu protagonista: “Foi João Punaro Bley, minha filha, que lutou pela classe agrícola e pelos descendentes delas, que hoje somos nós” ele dizia, sempre apontando o dedo para alto, como se fosse um discursante, e eu, a sua plateia. Grande foi a comemoração quando o senhor, Lindenberg, foi eleito deputado, se não me engano, o almoço especial foi o “peru com batatas”, tradicional de dona Deborah, minha mãe. Já mais amadurecida, me interessava e começava a participar dos debates durante as refeições. Meu pai dizia: “É o personagem da Revolução, se lembra minha filha?” sempre com uma grande satisfação, como se um ícone musical tivesse entrado para a política. Hoje vejo que sua comemoração era justificável, pois o nome Lindenberg, na política, possibilitou a valorização do homem do campo, dando a eles seu devido merecimento e seus devidos direitos. Penso que esse era o maior orgulho para meu pai, pois valorizava, enfim, a vida rural na qual ele meu avô viveram desde o nascimento. Quando foi nomeado titular da Secretaria da Agricultura do Espírito Santo, eu já estava tão envolvida com a política quanto meu pai. “Deslumbrante”, seria essa a palavra que eu usaria para descrever seu desempenho nesse cargo. Com a eleição de João Punaro, o protetor dos campos, segundo meu pai, minha família visava o crescimento de um estado justo e de uma maior valorização para os moradores rurais, o que de fato aconteceu. Confesso que no inicio da jornada duvidei das propostas, poucos se importavam com o campo. No entanto, o senhor se apresentou e de inicio pagou a divida estadual com o Banco Ítalo-Belga, uma divida de quase dez anos, nunca mais duvidei. Penso que foi vivenciando essa sua fase política que defini quem eu seria como profissional. Quando o senhor percorreu todo o interior, para bater de porta em porta e pesquisar as necessidades das famílias, fiquei encantada. Afinal, o grande personagem de minha família estava vindo para promover a mudança tão esperada em nossas vidas. Foi na visita a Santa Teresa, eu ajudava minha mãe a preparar o almoço quando Carlos Lindenberg apareceu no quintal, fiquei estagnada, mas me lembro do assunto que o senhor debateu com meu avô. Se não me engano, ele pedia mais atenção para as doenças da época, coitado do meu avô Jocarly, tinha perdido o neto recentemente para raiva, o mais velho dos primos, Josué, meu avô sentiu muito a perda. O mais incrível foi que logo mais o senhor passou a auxiliar nas pesquisas para anti-rábica, com ou sem a influência direta de meu avô acabou beneficiando outras diversas famílias. Não se lembra Lindenberg? Era uma casa laranja com galinheiro, meu avô o era o sujeito de longa barba branca... Quando você estava para entrar no carro deixou cair o chapéu, uma menina com avental sujo de farinha lhe entregou, era eu. Lembro que meu pai se desesperou quando soube de sua visita inesperada, ele nunca mais deixou para ir ao mercado nos domingos. Desse dia em diante, minha vida estava decidida. Mais tarde, tive a oportunidade de trabalhar com Augusto Ruschi e conhecer seus projetos, com a situação financeira estável e os agricultores valorizados, meu pai colocou os três filhos na faculdade. Eu me encontrei na medicina. Em 1947 reunimos a família para prestigiá-lo em um dos seus discursos para governador, finalmente meu pai pode ver o homem responsável por melhorar a vida no campo de perto, lembro-me de seus olhos cheios d’água. Um ano inesquecível, a figura política da família era agora governador, o futuro do Espírito Santo estava em boas mãos. Meu pai não pode presenciar seu segundo mandato. Eu como médica, estava casada e tinha minha primeira filha, Júlia. Distanciei-me um pouco da política quando meu pai morreu, era difícil ver a sua imagem, Carlos, sem relembrar a dele, passei a acompanhar pelo rádio e pelos jornais. Continuei a seguir sua carreira no senado, eu gostava da política, fiz questão de levar minha filha a Ponte do Rio Doce, e ela, me acompanhou nas eleições para o seu segundo mandato como governador, vencemos. Estávamos em um típico jantar de domingo quando ouvimos o pronunciamento: “Carlos Lindenberg deixa a carreira política” acho que todos lembraram a figura do meu pai. Levantei da cadeira e discursei a todos essa história que o senhor lê neste momento, sobre a importância de Carlos Lindenberg para aquela família, discursei para todos os sobrinhos e filhos mais novos saberem a quem devem agradecer pela vida que vivem agora. Minha mãe veio até mim e disse: “Minha filha, pareces muito com seu pai”, senti muito orgulho. Por tudo isso, ao saber da homenagem, senti a necessidade de parabenizá-lo. Para que nunca duvide de seu merecimento, pois eu e minha família somos resultados de sua sábia carreira na política e sei que o senhor ainda pode fazer muito. Independente do futuro, assim como meu pai, sempre discursarei sobre as figuras que fizeram diferença no país, figuras como o senhor, caro Carlos Lindenberg. Atenciosamente, Maria de Jesus.