Título: METODOLOGIA LOGO E EDUCAÇÃO : A FORMAÇÃO DO
PROFESSOR, UMA NECESSIDADE
Área Temática: Formação de Professores
Autor: PROFª. MS. VERA LUCIA MAROSTEGA e PROFª. DRA SILVIA
MARIA DE AGUIAR ISAIA
Instituição: Universidade Federal de Santa Maria - Pós-Graduação em
educação
Introdução
Atualmente os ambientes de trabalho, de um modo geral, estão em
constantes transformações. E isso exige um homem também em constante
transformação. Em várias partes do mundo, para o jovem ser bem sucedido
não basta apenas aprender determinadas habilidades que poderiam ser
usadas durante toda sua vida em seu trabalho. Neste contexto, segundo Papert
(1994, p.05), a habilidade mais importante na determinação do padrão de vida
de uma pessoa é a capacidade de aprender novas habilidades, de assimilar
novos conceitos, de avaliar novas situações, de lidar com o inesperado. Sendo
assim, “a habilidade competitiva será a habilidade de aprender”.
Nos diferentes setores sociais, a incorporação de novas tecnologias é
imprescindível para garantir a qualidade, produtividade e a competitividade no
mercado. Isto, provoca transformações marcantes na própria formação
profissional. Nas mais diversas áreas de atuação, o computador chegou ao
conhecimento dos profissionais, facilitando, agilizando e aprimorando seu
trabalho, tornando-os mais eficientes, provocando mudanças
Mudar no entanto, para a educação, significa muito mais do que
incorporar novas tecnologias. Vemos que os computadores estão invadindo as
escolas, mas será que existe uma preocupação acerca da utilidade do
computador na escola? Mais ainda, como o professor deverá apropriar-se do
mesmo utilizando-o na sua prática pedagógica? Estas questões levam a
reflexão de que o computador na escola não representa apenas mais um
recurso instrucional, mas uma ferramenta auxiliar na construção de
conhecimentos.
Argumentando
que
a
tecnologia
pode
apoiar
uma
megamudança na educação, Papert (1994, p. 55) antevê que “na educação, a
1
mudança virá através da utilização de meios técnicos para eliminar a natureza
técnica da aprendizagem na escola”.
Faz-se necessário definir a finalidade do computador na educação: para
que servirá e como será usado por professores e alunos. Esta tarefa exige
reflexão sobre todos os aspectos que constituem a educação, acarretando
mudanças na estrutura organizacional, no currículo, na metodologia e na
própria concepção de conhecimento. Em suma, em que contexto políticopedagógico será introduzida a informática na educação?
Quando pensamos no computador, na educação simplesmente como
tecnologia, o enfoque está centrado na informação: é visto como sendo um
instrumento que servirá para reter informações, para repassar informações,
conteúdos, saberes. Diferente é pensar o computador na educação como um
desafio provocador de mudanças, envolvendo um repensar sobre a educação
como um todo, sobretudo a ação pedagógica.
Conforme Valente (1993, p.20), “Os computadores estão propiciando
uma verdadeira revolução no processo de ensino-aprendizagem”. Isto reforça a
idéia de que não basta simplesmente o computador estar presente na sala de
aula faz-se necessário um profissional capacitado para utilizar esta ferramenta
educacional em sua prática pedagógica. É preciso considerar esta necessidade
no processo de formação de professores.
A informática na educação deverá atuar a favor de sujeitos criativos,
reflexivos, autônomos que pensem o seu próprio pensamento, que saibam
avaliar novas situações, lidar com o inesperado. E isto envolve repensar os
papeis costumeiramente vivenciados por professores e alunos no recôndito da
sala de aula. É neste ambiente que realmente se dão as verdadeiras
mudanças,
a
principiar pela
relação professor-aluno.
Decorre
daí a
necessidade de atuar diretamente na formação dos professores.
Entendemos que o Logo seja de valor substancial para a educação, uma
vez que foi construída por Papert e colaboradores, com objetivos educacionais,
caracterizando-se como uma metodologia de aprendizagem (Metodologia
Logo). Para Papert (1988) o Logo é um instrumento que servirá para mudar a
escola, mudar as atitudes dos professores, as relações estabelecidas entre
professor-professor, professsor-aluno, aluno-aluno, mudar a forma como se
pensa a aprendizagem. É uma linguagem computacional que exige uma
2
formação específica, de natureza essencialmente filosófica e pedagógica. Cada
aprendiz desta linguagem, seja criança, jovem ou adulto, alunos ou
professores, pode passar por uma experiência construtivista, ou como o próprio
Papert coloca
“construcionista”, onde fica
evidente o modo
próprio,
diferenciado, de pensar de cada um. Por isso, a importância de refletir sobre o
nível de competência que se busca em um programa que prepare o professor a
trabalhar com a informática educacional.
Aprendendo o Logo de uma forma íntegra, completa, conhecendo os
aspectos computacionais e, sobretudo, os pedagógicos, onde estão imbutidos
os princípios educacionais presentes nesta linguagem, o professor participa de
um processo de formação, onde irá consequentemente repensar, refletindo
sobre a sua prática pedagógica. Caso contrário, o professor recebe apenas um
treinamento.
O enfoque principal deste estudo diz respeito a formação do professor
para utilizar o Logo, com seus alunos, considerando-o uma metodologia
diferenciada de aprendizagem. Faz-se necessário elucidar a forma como o
professor aprende, conhece o Logo e utiliza com seus alunos.
Para isso, durante um período de 8 meses, através de observações no
ambiente de trabalho com o Logo, de questionários e entrevistas semiestruturadas, coletamos os dados necessários a serem elucidados. Os
contextos pesquisados referem-se a duas Instituições de Ensino do Município
de Santa Maria, localizadas no centro da cidade, as quais denominaremos de
“I” e “II”. Os sujeitos da pesquisa são fundamentalmente os professores que
trabalham com informática em educação, utilizando o Logo com seus alunos.
Como sujeitos centrais temos dois professores da Instituição de Ensino “I” e
três da Instituição de Ensino “II”.
Com este trabalho de investigação, buscamos entender se o professor
que utiliza a informática através do Logo, foi treinado ou realizou curso de
formação. A resposta que buscamos neste trabalho de pesquisa, é ver se o
professor fez treinamento ou formação para utilizar a Informática em educação,
e como isso repercute no fazer pedagógico. Esta resposta poderá ser
encontrada observando: a prática pedagógica do professor e seu discurso em
relação ao Logo; a visão ou concepção de educação presente; a forma como o
aluno utiliza esta linguagem computacional e como o professor desempenha
3
seu papel neste processo; como a informática em educação através do Logo, é
vista pelos demais membros desta comunidade educacional.
Análise e Discussão dos Resultados
Buscamos compreender como as instituições estão viabilizando todo o
processo de utilização da informática na educação, mais especificamente
quanto ao uso do Logo. Orientamo-nos, basicamente, pelas questões de
pesquisa: O professor que está utilizando o Logo como uma ferramenta no
processo ensino-aprendizagem, realizou curso de treinamento ou curso
de formação? Como o professor está utilizando o Logo com seus alunos?
Quais as repercussões do treinamento e da formação na utilização do
Logo na educação?
Nossa argumentação é subsidiada pelo seguintes focos de análise:
1-Condições Contextualizadoras do Trabalho do Professor.
Este primeiro foco balizou-se pelos seguintes parâmetros:
a)-Motivos Institucionais para a Utilização da Informática na Educação
Os motivos que levaram as duas instituições de ensino focos dessa
pesquisa a utilizar a informática na educação são distintos.
Na Instituição de Ensino-I (IE-I) pudemos constatar que o motivo
fundamental do uso de computadores está relacionado com: (1)exigência
social. A preocupação da escola consiste em oferecer a seus alunos
conhecimento de como usar um recurso cultural presente no meio social. Para
o professor “B” a presença da informática na escola ocorreu em virtude do
interesse que os pais manifestaram em que seus filhos aprendessem a
trabalhar com o computador. Conhecimento da informática em si, sobre
computação.
Segundo
motivo
está
relacionado
aos
(2)aspectos
mercadológicos. O fato de outras escolas já estarem oferecendo atividades
que envolvam o uso desse recurso levou essa instituição a considerar
relevante, para não perder sua clientela, a montagem de um laboratório com
tais instrumentos culturais.
Constatamos que esta escola, mesmo usando a linguagem Logo não
está voltada para oferecer aos alunos um instrumento que viabilize a
construção de conhecimentos, mas sim em absorver o conhecimento sobre um
4
instrumento tecnológico, ou seja conhecimento da informática. Isto contrapõese com toda a perspectiva teórica da informática na educação proposta por
Papert(1988) o qual considera o computador como sendo uma ferramenta
auxiliar no processo de construção do conhecimento da criança .
Na Instituição de Ensino-II (IE-II) o motivo principal do uso do
computador está relacionado ao fato de o professor desejar conhecer e usar
este instrumento em seu trabalho educacional.
Vimos que as duas instituições de ensino apresentam elementos
motivacionais distintos e, conseqüentemente, a inserção dos alunos nestas
atividades também tomam uma conotação diferenciada. Na IE-I, a informática
faz parte do currículo. Sendo assim os alunos têm que participar e portanto
alguém tem que responder pelas atividades desenvolvidas pelos alunos no
laboratório, sendo os professores “R” e “B” responsáveis, pelo fato de estes já
possuírem determinados conhecimentos de informática e do Logo de um modo
geral. Já na IE-II, a participação do professor no desenvolvimento de tais
atividades
depende de seu interesse. Conseqüentemente, os alunos
participarão de uma atividade em que inicialmente seu professor está
interessado.
b)-Como se deu a Preparação do Professor que Utiliza a Linguagem
Logo
A professora “R”, da IE-I, é professora de matemática e obteve
conhecimentos referentes à informática na educação através de um Curso de
Especialização em Informática Aplicada à Educação da Matemática. O curso
que ela freqüentou não foi especificamente sobre o uso do Logo como um
instrumento auxiliar para todo o processo educacional, mas sim sobre várias
possibilidades de se usar o computador para trabalhar a matemática. O Logo
entrou no programa como sendo mais uma linguagem computacional a ser
aprendida e usada do que propriamente um ambiente de aprendizagem, uma
metodologia que envolve uma filosofia, um repensar sobre a educação e
principalmente, sobre o papel do professor (Papert, 1988). E mais, conforme a
própria professora “R” coloca, haviam muitos conhecimentos para serem
adquiridos em pouco tempo. Isto leva a crer que tais condições impossibilitam
um processo reflexivo.
5
Quanto ao professor “B”, este teve conhecimento do Logo através da
professora “R”. Quando a escola implementou a informática (1993), só
contavam com a professora “R”, portanto tornou-se necessário a capacitação
de outros professores, porque ela estava sozinha para atender muitas turmas.
Coloca, o professor “B” que nesta ocasião vários professores iniciaram o curso
de treinamento, porem não se interessaram.
Quanto à preparação sobre o Logo, o professor “B”, coloca que aprendia
os comandos básicos do Logo, usando o manual da própria linguagem. Diz
ainda que esse “treinamento” consistia de aulas, onde foram trabalhados os
comandos básicos de movimentação da tartaruga para poder iniciar o trabalho
com o Logo junto as crianças. Nada referente aos aspectos pedagógicos desta
linguagem foi trabalhado, porque a professora “R” em sua especialização não
obteve este conhecimento. O fundamental do Logo não foi trabalhado. Através
das colocações feitas pelos professores da IE-I, de maneira explícita ou
implícita, revelaram ter sido sua preparação muito mais um treinamento do
que uma formação em relação ao aprendizado do Logo.
Os demais professores dos alunos que freqüentam o “Laboratório de
Informática” não estão envolvidos com a questão. Esta linguagem é vista
apenas como sendo uma linguagem computacional, onde a metodologia da
mesma é desconhecida e desconsiderada. O professor da turma apenas
acompanha os alunos até a sala de informática, permanecendo para controlar
mais a disciplina, o comportamento dos mesmos.
Os professores da IE-II tiveram sua capacitação para trabalhar com o
Logo de modo diverso. Alguns realizaram curso em Porto Alegre, no CIED, via
Secretaria Estadual de Educação e os demais (os professores “V”, “L” e “D”)
obtiveram seus conhecimentos na própria IE-II. Tais professores colocaram
que os cursos, tanto em Porto Alegre quanto na própria instituição, foram
insatisfatórios, muito fracos sem um estudo mais aprofundado sobre o Logo
tanto em seu aspecto computacional quanto em relação aos pressupostos
pedagógicos do mesmo.
Percebemos que a preparação dos professores se deu praticamente
relevando apenas os conhecimentos a respeito dos aspectos computacionais e
mesmo assim bastante superficiais. Isto leva-nos a refletir sobre a maneira
6
como o Logo tem sido apresentado na maioria (e grande maioria) das escolas.
Esta maneira reforça a idéia de que o ‘Logo é uma linguagem de programação
para criança’. Os outros aspectos mais avançados raramente são explorados,
levando as pessoas a adquirirem uma visão simplista e limitada do Logo.
É importante ressaltarmos que os professores da IE-II, participam das
atividades através de projetos, e portanto somente participa aquele que estiver
interessado.
Observamos que o curso de preparação, tanto dos professores da IE-I,
quanto da IE-II, caracterizou-se muito mais como um curso de treinamento do
que de formação. Sendo assim o uso do Logo servirá mais para o aprendizado
da informática do que o aprendizado pela informática.
c)-Organização Estrutural das Instituições para o Desenvolvimento das
Atividades em Logo
Em relação a organização estrutural das instituições, buscamos
compreender em quais condições o professor desenvolve seu trabalho,
considerando o espaço físico; material disponível; o número de alunos
atendidos; o envolvimento entre os professores da instituição e as
oportunidades que estes encontram para dar continuidade a sua formação.
A IE-I é uma escola particular de 1º e 2º Graus, com aproximadamente
dois mil alunos. Constatamos que em sua estrutura material, está muito bem
equipada. Porém, a maneira como a sala está organizada dificulta uma troca
de experiências entre os alunos. As atividades são desenvolvidas no
laboratório de informática por apenas dois professores (“R” e “B”) que atendem
em torno de 250 alunos da 1ª a 7ª série. Os alunos da 7ª série participam das
atividades uma vez por semana durante um período de 45min. Os demais,
varia de acordo com a série, os das séries iniciais permanecem 25 minutos
alguns freqüentando o laboratório apenas de quinze em quinze dias.
Aqui esta linguagem não é vista como sendo uma ferramenta
educacional que poderá promover “mudanças qualitativas de ensino” (Valente,
1991, p.24). Não é concebida como um instrumento que pode ser usado no
processo de construção de conhecimentos, mas sim um conhecimento em si
mesma. Não é a escola como um todo que está envolvida para que através do
uso do Logo possa modificar sua prática pedagógica, porque não é visto como
uma possibilidade de mudanças educacionais, proporcionando ao professor
7
mudanças interiores e oportunidade de conhecer melhor seu aluno: conhecer a
maneira como ele pensa, como ele resolve determinadas situações, como ele
constrói seu conhecimento para que então o professor possa exercer seu papel
de facilitador, mediando zonas de desenvolvimento proximais (Vygotsky, 1991),
enquanto a criança desempenha seu papel de construtor (Papert, 1988, 1994).
Os professores “R” e “B”, não dispõem de condições para inserir-se num
processo contínuo de formação.
Nesta instituição, o Logo se limita ao laboratório, não extrapola para a
sala de aula. Não existe uma transposição dos procedimentos presentes num
Ambiente Logo, até mesmo porque não existe os procedimentos Logo,
desenvolvidos nas atividades de informática desta instituição. As atividades
não transcendem a sala de informática, pois o professor não está inserido
dentro disso, é o aluno que é colocado a adquirir um tipo de conteúdo de
informática. Não houve uma mudança. Os professores permanecem os
mesmos, com a mesma postura, simplesmente tentam absorver um recurso
moderno, que é o computador, sem existir uma transformação interior e de
procedimentos quanto a sua prática pedagógica. Parece-nos que isso tudo
acontece principalmente porque os professores não tiveram uma formação
para trabalhar em um Ambiente Logo de Aprendizagem.
A Instituição de Ensino-II é uma instituição pública localizada num prédio
anexo a uma escola. Apesar de ter sido criada em 1987, com a finalidade de
contribuir para a formulação de uma política de informática aplicada à
educação, atendendo a um grande número de escolas, percebemos que o
grande objetivo não foi atingido, pois não existe em termos de educação
pública, pelo menos aqui em Santa Maria, uma política de informática aplicada
à educação.
O espaço físico e material é muito limitado, sala pequena, com poucos
computadores e além disso são equipamentos antigos que quando estragam
são difíceis de serem consertados. Constatamos que o trabalho com o Logo é
um trabalho isolado que envolve poucos professores e alunos, não faz parte do
trabalho da educação pública como um todo. E que tais professores estão
envolvidos, motivados por um desejo unicamente pessoal, por uma “vontade de
aprender, de conhecer, de experimentar algo novo” conforme coloca a
professora “V”. São muito poucos os professores que estão engajados neste
8
trabalho com o Logo. Apenas três(3) escolas estão atendendo em torno de
cento e cinqüenta (150) alunos alunos do ensino regular, pré-escola à 3ª série
do 1º grau; alunos de classes especiais de surdos e deficientes mentais e
alunos com problemas de aprendizagem.
Os professores que participam do Projeto Logo, possuíam um período
semanal de três horas e meia, para aprofundar os conhecimentos
computacionais do Logo, buscar novas alternativas no procedimento
educacional através de mais estudos, de trocas de experiências, de reflexões
sobre a atuação pedagógica, sobre o aprendizado dos alunos. A iniciativa
partiu dos próprios professores em decorrência das necessidades sentidas na
atuação junto as crianças. Porém, os mesmos se queixam que não recebem do
Governo Estadual as condições materiais e de recursos humanos necessárias
para possibilitar as mudanças educacionais necessária, que não recebem
estímulo e incentivo e que isto é muito frustrante para eles.
d)-Relacionamento dos Professores que Usam o Logo e os demais
Professores
Pudemos constatar que na IE-I não existe uma interação entre os
professores, nem mesmo entre “R” e “B” que são os professores responsáveis
pelas atividades desenvolvidas no laboratório de informática e que usam o
Logo com alunos. Tais professores não estabelecem um relacionamento para
discutir sobre a metodologia, ou o ambiente Logo.
Os demais professores dos alunos que freqüentam o laboratório e que
foram entrevistados não têm conhecimento sobre o Logo. Portanto, o Logo não
está repercutindo na sala de aula, sendo uma atividade totalmente
desvinculada. Esses professores não conhecem Logo, não sabem como e para
que é utilizada, para que serve na educação. Isto não está claro nem mesmo
para os professores “R” e “B”.
Já na IE-II a situação é diferenciada. Os professores envolvidos no
trabalho com o Logo, buscando conhecer melhor o Logo, discutir sobre o
aproveitamento do aluno para melhor conhecê-lo, refletir sobre suas atuações
e buscar novas alternativas de proceder junto aos alunos neste ambiente de
trabalho. Porém os professores “D” e “L” colocam que com os demais colegas
de sua escola, professores que não usam o Logo, isto não acontece, não
conseguem estabelecer uma interação no que diz respeito ao trabalho com o
9
Logo. Acreditam que isto ocorra porque estes professores não sentem a
necessidade de discutir a educação e por não conhecerem o Logo.
Dentro de todo este contexto percebemos que na escola pública
estadual de Santa Maria o trabalho de informática em educação é um trabalho
isolado, desenvolvidos por alguns professores que sentem a necessidade e
vontade de mudar.
e)-Expectativa dos Alunos e dos Pais
A expectativa dos alunos da IE-I, e de seus pais é de que através das
atividades desenvolvidas com o computador estes educandos absorvam
conhecimentos sobre informática. O que não poderia ser diferente tendo em
vista o exposto acima, onde a própria escola assim vê a informática na
educação. O Logo, não é visto pelos professores como um instrumento que
possibilite maneiras diferenciadas de aprender e assim podendo provocar
mudanças pedagógicas onde o aluno teria a oportunidade de construir seu
próprio conhecimento, levando a mudanças significativas no processo
educativo.
Na IE-II, apesar de existir pais que percebam o Logo como uma
ferramenta possibilitadora de um melhor aprendizado por parte do aluno, ainda
a grande maioria vê o computador como um instrumento que deve ser
conhecido e usado pelas crianças o mais cedo possível, dando-lhes condições
de um futuro melhor.
Utilização da Linguagem Logo pelo Aluno e Mediação do Professor
Neste foco de análise buscamos verificar como o Logo vem sendo usada
pelos alunos das duas instituições de ensino em questão. Buscamos
compreender se o ambiente onde as atividades são desenvolvidas caracterizase como sendo um Ambiente Logo de aprendizagem, onde fundamentalmente
o aluno encontra as condições básicas para construir seus conhecimentos e
onde o professor exerce o papel de mediador.
Constatamos que na IE-I, a forma como era usado o Logo não
caracterizava um ambiente de aprendizagem onde o aluno pudesse construir
seus conhecimentos. Caracterizava-se como um local onde o educando
realizava projetos, geralmente definidos pelo professor usando comandos
10
previamente “ensinados” em sala de aula, e usados pelos alunos durante todo
o primeiro semestre, sem introduzir nenhum outro novo comando necessário
para desenvolvimento dos projetos.
As crianças usavam o Logo superficialmente, conhecendo apenas
alguns comandos gráficos sem mesmo entrar em outros recursos mais
aprofundados. Isso tornou o Logo simplista demais, caracterizando-a como
linguagem só para criança (Valente, 1991, p.33). Daí a desvalorização da
mesma pelos alunos, pois não era estimulante, desafiador.
As relações dialógicas entre criança-adulto-Logo, criando condições
favoráveis para um clima reflexivo e de construção de conhecimentos pelo
próprio aluno, característica do Ambiente Logo de Aprendizagem, não se
estabelecem nesta instituição de ensino. “R” apenas determinava o que
deveriam fazer e apenas avaliava o trabalho no final, não avaliando o processo,
pois não acompanhava seus alunos durante as atividades respondendo a uma
demanda quando necessário ou explorando uma situação rica. Não
desempenhava o papel de facilitador interagindo. Não mantinha uma postura
dialógica com seus alunos o que permitiria a criança expressar seu estilo
cognitivo de pensar e solucionar problemas, instrumentalizando o professor
para refletir sobre as maneiras diferenciadas de se construir conhecimentos e
de atuar como educador construcionista.
Em todas as situações em que os alunos pediram ajuda, “R” nunca
mediou, o que deveria ocorrer não só quando seus alunos solicitassem, mas
quando ela sentisse a necessidade ou a oportunidade de acrescentar algum
comando novo, ou algum questionamento, reflexão que pudesse levar à
construção de novos conhecimentos. As respostas de “R” para seus alunos
foram sempre do tipo: “Não sei. Tenta!” “Procura no caderno!” A professora
considera este procedimento altamente importante, dizendo que assim a
criança estará desenvolvendo sua auto-aprendizagem ou seja, construindo
seus conhecimentos de forma criativa, sozinha. Isto fica claro que o
construtivismo para ela tem sinônimo de fazer solitário, sem o auxílio de
ninguém e de nada (outros recursos). Isto mostra que na interpretação de “R”,
o construir sozinho é deixar o aluno abandonado. Papert(1988, 1994) coloca
muito bem que as crianças são construtoras e que para construir se fazem
necessários os materiais. Neste caso os materiais, além dos recursos
11
computacionais, são encontrados em um professor que desempenha o papel
de mediador.
Na IE-II, diferente da anterior, os projetos são propostos pelo próprio
aluno. Não é imposto a ele nenhuma seqüência de comandos, exercícios ou
tarefas pré-determinadas por seus professores. O aluno tem a liberdade de
explorar o computador a sua maneira, propondo os projetos a serem
implementados e lhe é permitido encontrar a solução mais adequada aos
problemas surgidos, bem como respeitado seu estilo de pensamento, ou seja,
como será resolvido, qual o caminho, qual as estratégias a serem adotadas,
depende da criança. As crianças têm livre acesso para estabelecer interações
com quem desejarem e também são estimuladas a trocar experiências e
conhecimentos. Os professores de um modo geral e evidentemente em níveis
diferentes, demonstram em suas interações, certas características mais de
mediadores do que de instrutores, apesar de em muitas situações observadas
terem dado mais respostas diretas do que provocado questionamento e
também terem se neutralizado diante de uma situação propícia para
desencadear um processo de reflexão e construção de novos conhecimentos
por parte da criança.
Os professores se ajudam no que diz respeito à forma como procedem
frente às crianças, fazendo o melhor que podem dentro daquilo que conhecem.
Apesar deste esforço e vontade de trabalhar na educação de maneira
diferenciada, percebemos que faltam conhecimentos mais aprofundados ao
grupo, assim como também melhores condições para por em prática os
mesmos. Acreditamos que se o seu grupo de estudos contasse com a
presença de um mediador que os provocasse sobre os pressupostos
pedagógicos presentes no Logo e para uma maior reflexão sobre suas práticas
pedagógicas, estes poderiam desempenhar melhor seu papel de mediador
junto a seus alunos.
Considerações Finais
Ao refletirmos sobre a realidade referente à utilização da informática em
educação no universo pesquisado, percebemos a carência de programas
formativos coerentes com a Metodologia Logo. Ficou claro que predominou o
12
treinamento como forma de preparação do professor. Constatamos que só
aprender
os
aspectos
computacionais
reduzem
as
possibilidades
do
computador tornar-se um instrumento cultural mediador na educação,
provocando mudanças radicais no modo de ver a aprendizagem e também, os
sujeitos que aprendem e ensinam.
Decorrente disto, o professor treinado está longe de tornar-se um
Educador Construcionista que se forma na prática reflexiva, pois molda-se em
parâmetros instrucionistas. Isto repercute negativamente no modo como utiliza
este instrumento cultural com seus alunos. Percebemos que as atividades
impostas nem sequer promovem um nível de desenvolvimento, sendo o
entusiasmo pela descoberta do novo e instigador sufocado por atitudes típicas
de concepções tradicionais de ensino. Percebemos também que o próprio
professor não é instigado a este nível real de desenvolvimento, muito menos
seus
horizontes
ampliam-se
em
direção
às
zonas
potenciais
de
desenvolvimento pois, além dele ter sido apenas treinado, a escola como um
todo permanece intacta, passiva diante das possibilidades inovadoras que
poderiam ser vislumbradas.
Percebemos também que na IE-II, o Logo repercutiu positivamente, em
alguns aspectos, na mudança de postura de professores, pais e alunos. Não
fosse estas experiências isoladas, não poderíamos antever concretamente
possibilidades de inovação a partir da instituição pública, movendo as bases,
como estratégia de mudanças orgânicas necessárias para que a escola como
um todo constitua-se como um Ambiente Logo. E deste modo, trazendo a
informática para a educação para promover a humanização da tecnologia, ao
colocá-la a serviço do aprender a aprender, numa visão construcionista, em
que o sujeito é dinâmico, em permanente transformação, num mundo também
em permanente transformação.
Destacando a visão construcionista de homem, mundo e educação,
podemos apreender uma dinâmica diferenciada para a formação de
professores, partindo da Metodologia Logo. Ao destacar o papel do facilitador,
Papert (1988, 1994) coloca o educador também como sujeito do processo de
construção do conhecimento e, ao mediar as aprendizagens de seus alunos,
também estará sendo mediado, (re)construindo seu próprio conhecimento e
uma prática pedagógica reflexiva de valor ímpar. Destaca também o papel da
13
interlocução e da dialogicidade no processo, demarcando os limites da
máquina, pois o homem a transcende toda a vez que supera suas próprias
fronteiras e enfrenta o desafio do novo. Num mundo em mudanças
permanentes e estonteantes, o sujeito cognoscente tem que ser ativo e flexível,
possuidor de estratégias mentais capazes de auxiliá-lo à solução de problemas
e tomada de decisões. A educação neste contexto de complexidade para o
homem e para o mundo, necessita reconstruir-se.
Entendemos que a formação do Educador Construcionista deva se dar
no contexto em que exerce sua docência, onde podem ser trabalhadas as
variáveis restritivas e facilitadoras para a construção comunitária de ambiente
propício às mudanças. Os nossos achados de pesquisa demonstram as
repercussões dos cursos “preparatórios” no modo de atuação do professor. Os
agravantes de tais cursos são principalmente: o pouco tempo dispensado para
a preparação; cursos estanques; o fato de que ao final do curso o professor é
considerado “pronto” para atuar; falta de um facilitador durante e após o curso;
os cursos são realizados fora do contexto de trabalho do professor; cursos que
visam repasse de conhecimentos sobre o Logo, bastante limitados, sendo
somente conhecimentos computacionais gráficos e praticamente nada sobre os
aspectos pedagógicos e filosóficos; desmotivação e falta de condições para
que, o professor busque novos conhecimentos e os coloque em prática.
Partindo de três eixos norteadores, tempo, espaço e ação, pudemos
delinear aspectos que subsidiam um programa efetivo de formação de
professores para atuar no Ambiente Logo. Consideramos que o tempo
necessário para esta formação não pode ser delimitado por uma carga horária
pré estabelecida, pois esta se dá num processo contínuo de aprendizagem
crítico-criativa e não em cursos estanques.
O espaço de formação não poderia ser outro senão o próprio contexto
de atuação do professor, ou seja, na escola. Consideramos ser este local de
formação o mais efetivo por fundamentalmente três razões: a primeira por
facilitar a participação e o envolvimento de um maior número de professores e
demais pessoas que estão inseridas no processo educativo. A segunda pelo
fato de podermos levantar com maior clareza as necessidades, os problemas
que esta escola está enfrentando fundamentalmente em relação ao processo
ensino-aprendizagem. E por ultimo consideramos muito importante a formação
14
no local de atuação pois o professor facilitador que irá proporcionar a formação
para estes novos facilitadores (professores da escola) deverá praticar a
Metodologia Logo.
Ao atuar considerando os pressupostos desta metodologia, o professor
deve conhecer seus alunos para poder agir na Zona de Desenvolvimento
Proximal. Sendo assim, o facilitador que irá auxiliar na formação de novos
professores facilitadores deverá conhecer o contexto de atuação destes, sua
maneira de agir com seus alunos; sua maneira de pensar a respeito de como a
criança pensa, constrói seus conhecimentos; seus pontos de vista a respeito da
educação. Enfim, conhecer o professor futuro facilitador para auxiliá-lo a mudar
sua postura frente a educação. Acreditamos que a melhor maneira de conhecelo é acompanhando-o em seu próprio espaço de atuação pois aí encontramos
todos os reais elementos para uma reflexão sobre sua atuação e a educação
como um todo. Assim estaremos aplicando a Metodologia Logo na própria
formação do professor.
A ação de professores formadores e alunos, na verdade é uma
interação, construída via mediação facilitadora. Neste contexto a ação
significa o professor programando Logo e conhecendo a respeito dos
fundamentos epistemológicos que o constituem. Significa o professor lendo,
estudando, discutindo a respeito da educação, de teorias de aprendizagem, de
como a criança constrói seus conhecimentos. Ação significa o professor
trocando experiências com colegas, perguntando, agindo como facilitador
colocando em prática os conhecimentos construídos sobre a Metodologia Logo.
Ação, nesta proposta significa o professor realizar reflexões sobre sua práxis
pedagógica que o levem a mudanças de atitudes.
15
TEMPO
FORMAÇÃO
ESPAÇO
AÇÃO
Figura 1: Eixos norteadores para um programa de formação de Educadores
Construcionistas.
A formação do professor facilitador do Logo deve passar por uma reconstrução do conhecimento, nos moldes de como a criança aprende,
percebendo empaticamente o modo próprio de construir-se um pensamento
crítico-criativo. O professor, para oportunizar a criança ser construtiva deve ele
mesmo proceder como um construtor. A criança vendo-o engajado em um
projeto de pesquisa, entusiasmado em buscar respostas, também procederá
assim.
É importante também buscar o compromisso de todos os envolvidos no
processo educacional, ou seja, não apenas os professores, mas também a
direção, supervisão, coordenadores, pais e alunos. Desenvolver atividades
educativas usando o Logo, considerando os pressupostos pedagógicos
presentes nesta proposta, ou seja, buscar mudanças propondo um Ambiente
Logo
de
aprendizagem,
não
significa
apenas
promover
atividades
desenvolvidas em laboratórios onde esta linguagem está presente, mas sim
promover também uma mudança de postura do professor que deve ser
mantida em sala de aula.
A escola toda deve transformar-se num Ambiente Logo, oferecendo
espaços e condições ao aprendiz Logo (professor e aluno) para que ele possa
construir seus conhecimentos. Isto envolve uma grande mudança metodológica
e de concepção educacional no curso formador e na escola.
16
Referências Bibliográficas
DEMO, Pedro. Desafios Modernos da Educação. Petrópolis-RJ: Editora
Vozes Ltda., 1993.
ISAIA, Silvia Maria de Aguiar.. Repercussão dos Sentimentos e das
Cognições no Fazer Pedagógico de Professores de 3º e 4º Graus;
Produção de Conhecimento e Qualidade de Ensino. Porto Alegre, 1992.
Tese de Doutorado.
LÜDKE, M., ANDRÉ, M. Pesquisa em Educação:Abordagens Qualitativas.
São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária Ltda., 1986.
MAROSTEGA, Vera Lucia. O Professor e a Linguagem LOGO: Treinamento
ou Formação? Repercussão no modo como ele Viabiliza a Utilização
desta linguagem com seus Alunos. Santa Maria: UFSM, 1997.Dissertação
de Mestrado.
MENEZES, Sulamita Ponzo de. LOGO e a Formação de Professores: o uso
Interdisciplinar do Computador na Educação. São Paulo: USP, 1993. 305 p.
Dissertação (Mestrado em Ciências da Comunicação) - Universidade de São
Paulo.
PAPERT, Seymour. LOGO: Computadores e Educação. 3ª ed. São Paulo:
Editora Brasiliense S.A., 1988.
_____. A Máquina das Crianças: Repensando a Escola na Era da
Informática. Porto Alegre, R.S.: Artes Médicas, 1994.
VALENTE, José Armando. Diferentes Usos do Computador na Educação.
In: Computadores e Conhecimentos: Repensando a Educação. Organizado por
José Armando Valente. Campinas-SP, Gráfica Central da UNICAMP, 1993. p.
01-23.
_____. LOGO: mais do que uma Linguagem de Programação. In: Libeando
a Mente: Computadores na Educação Especial. Organizado por José Armando
Valente. Campinas-SP.: Gráfica Central da UNICAMP, 1991. p. 32-43.
_____. Usos do Computador na Educação. In: Liberando a Mente:
Computadores na Educação Especial. Organizado por José Armando Valente.
Campinas-SP.: Gráfica Central da UNICAMP, 1991. p. 16-31
17
VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente: O Desenvolvimento dos
Processos Psicológicos Superiores. 4ª ed. São Paulo, SP.: Editora Martins
Fontes, 1991.
18
Download

METODOLOGIA LOGO E EDUCAÇÃO