LIGAÇÃO IÔNICA: MODELO ALTERNATIVO PARA A APRENDIZAGEM DOS ALUNOS CEGOS NUMA PERSPECTIVA INCLUSIVA UTILIZADA EM UMA ESCOLA EM TUCURUÍ-PA Luan Felício N. da SILVA¹, Alirio Gaia de LIMA1, Ana Vladia de FREITAS2, Heriberto Rodrigues BITENCOURT3, José Ciríaco PINHEIRO4, Geziel Nascimento de MOURA5, Victor Wagner Bechir DINIZ6. 1 Discente/UFPA/ICEN/FAC QUÍMICA ([email protected]); 1Discente/UFPA/ICEN/FAC QUÍMICA 2 ([email protected]); Discente/UFPA/ICEN/ QUÍMICA-EAD ([email protected]); 3 UFPA/ICEN/FAC QUÍMICA ([email protected]); 4UFPA/ICEN/FAC QUÍMICA ([email protected]); 5SEDUC ([email protected]); 6UEPA ([email protected]). RESUMO: O ensino da Química perpassa por nossa vida como forma de explicar e interpretar as propriedades químicas existentes em todo o universo. Assim, como as ligações iônicas explicadas pelas aplicações simples da eletrostática clássica que são modelos de origem da mecânica quântica. A sua representação estrutural utilizada por meio de linguagem simbólica para o aluno cego pode se tornar um obstáculo por não ter como percebê-la principalmente porque as figuras estruturais de átomos e moléculas são carregadas de informações. Essas representações constituem os textos científicos em livros ou são apresentadas por educadores para ensinar os conceitos químicos. O aluno cego passa a ser excluído do processo de ensino e aprendizagem pela falta de informações necessárias por não ter o devido acesso as representações ou suas descrições. O processo de inclusão de alunos com necessidades especiais em salas de aulas regulares ocorre em geral de maneira desorganizada, assim prejudicando a aprendizagem desse aluno que sofre com ausência de professores capacitados, a falta de materiais adaptados que é um fator de grande relevância para esse processo, e principalmente no Ensino de Química. Portanto, o sistema de ensino exige que os alunos cegos devam adquirir conhecimentos iguais e com o mesmo grau de exigência que os demais alunos. Para isso, foram utilizados materiais alternativos e adaptados que contribuem para a aprendizagem de conceitos relacionados ao conteúdo de ligações iônicas em um contexto inclusivo. A pesquisa foi do tipo qualitativo, envolveu três alunos do ensino médio cegos com e sem memória visual. Com a adaptação de materiais e a sequências didáticas mostraram-se uma aprendizagem eficaz e significativa para o conhecimento dos conceitos em questão. PALAVRAS-CHAVE: Deficiência Visual. Inclusão. Ligação iônica. ENSINO DA QUÍMICA (ENQUI) INTRODUÇÃO: A Constituição Federal, de 1988, determina “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação” (Art.3º inciso IV). Portanto, a Declaração Mundial de Educação para Todos (1990) e a Declaração de Salamanca (1994), preconizam a formulação das políticas públicas da educação inclusiva. A Portaria nº 2.678/02 regulariza as diretrizes e normas para o uso, o ensino, a produção e a difusão do Sistema Braille em todas as modalidades de ensino, compreendendo o projeto da Grafia Braille para a Língua Portuguesa e a recomendação para o seu uso em todo o território nacional. O ensino da Química perpassa por nossa vida como forma de explicar e interpretar as propriedades químicas existentes em todo o universo. Assim, como as ligações iônicas explicadas 348 pelas aplicações simples da eletrostática clássica que são modelos de origem da mecânica quântica. A sua representação estrutural utilizada por meio de linguagem simbólica para o aluno cego pode se tornar um obstáculo por não ter como percebê-la principalmente porque as figuras estruturais de átomos e moléculas são carregadas de informações. Essas representações constituem os textos científicos em livros ou são apresentadas por educadores para ensinar os conceitos químicos. O aluno cego passa a ser excluído do processo de ensino e aprendizagem pela falta de informações necessárias por não ter o devido acesso as representações ou suas descrições. O mesmo acontece quando o educador aborda diferentes representações para indicar variações que acontecem nos processos em estudo sem o educando ter em mãos mecanismo que favoreçam a sua compreensão. O processo inclusivo é uma ação política, cultural, social e pedagógica, e que os alunos cegos mesmo com algumas barreiras encontradas são membros da sociedade e têm o direito de aprender e participar, sem nenhum tipo de discriminação dentro ou fora da escola. A Educação Inclusiva não é uma ficção e sim uma realidade que a cada dia temos que aprender a conviver com a diversidade ao nosso redor. Tudo isso é o resultado de muitos estudos (práticos e teóricos) e discussões no âmbito educacional, familiar e associações que lutam em prol das pessoas com deficiência. A Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), onde preconiza uma sociedade mais justa em que seus valores fundamentais são resgatados como a igualdade de direitos e o combate a qualquer forma de discriminação. Ao longo de várias discussões percebeu-se que as escolas estavam descumprindo estes direitos, perante os altos índices de exclusão escolar, não somente as pessoas com deficiências, mas as pessoas marginalizadas, e de diferentes condições seja ela social, cultural ou racial, dentre outros, afastado do processo educacional. A Declaração Mundial de Educação para Todos (1990), a Declaração de Salamanca (1994) e a Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Pessoa Portadora de Deficiência (1999) são documentos importantíssimos e de grande relevância sobre esse assunto. O código Braille criado por Louis Braille, em 1825, aluno cego do Instituto Real de Jovens Cegos, fundada no ano de 1784, na cidade de Paris por Valentin Haüy, foi a primeira escola para cegos no mundo. Na escola, Haüy permitia à pessoa cega a leitura tátil, das letras manuscritas em alto relevo, impressas sobre o papel permitindo o acesso ao mundo das letras. Porém esse método não foi eficiente por inviabilizar o sistema de escrita, uma vez que a escrita era feita com letras móveis onde se aprendia o seu contorno, uma forma bastante complexa para ser feita individualmente e assim podese concluir que a produção da escrita pela pessoa cega, neste período, era inexistente. Até que um capitão do exército francês Charles Barbier criou um sistema de comunicação noturna utilizado nas campanhas de guerra entre os oficiais militares, denominado Sonografia ou Código Militar, o sistema era composto de 12 (doze) pontos, apresentou o seu invento no Instituto Real de Jovens Cegos, pois acreditava que o sistema de comunicação noturna poderia servir para a comunicação das pessoas cegas, Louis Braille, jovem cego, estudante do Instituto Real, teve acesso ao sistema desenvolvido por Barbier e se interessou pelo sistema. Em período de férias, Louis aprofundou seus estudos e aperfeiçoou o sistema de Barbier, pela sua experiência devido a cegueira e diversos estudos reduziu o número dos pontos do sistema original de 12 (doze) para 6 (seis) pontos, possibilitando ao cego o acesso ao processo de leitura tátil. Somente após a morte de Louis Braille o sistema foi oficialmente reconhecido e recebeu o nome do seu criador, permitindo que as pessoas cegas ampliassem as suas possibilidades educacionais, culturais, sociais, profissionais e de lazer. Valentin Haüy, Charles Barbier e Louis Braille foram os grandes nomes que incentivaram o processo de ensino de alunos cegos em todo o mundo. No Brasil, José Álvares de Azevedo, um jovem brasileiro, cego, ex-aluno do Instituto de Paris, trouxe para o país o Sistema Braille e incentivou a criação do Imperial Instituto de Meninos Cegos, 349 hoje conhecido como o Instituto Benjamin Constant, criado por D. Pedro II, em 21 de setembro de 1854. Mais da metade dos conhecimentos que se adquiri durante a formação e do ambiente que se cerca, vem do estímulo visual, ele é o mais utilizado, pois é a principal experiência sensorial que o cérebro humano utiliza. Os apelos visuais e imagens principalmente nos conteúdos escolares quando a maioria dos alunos aprende são por meio visual por símbolos gráficos, formas, contrastes, desenhos, letras e números sendo cada vez mais sofisticados e complexos. Portanto, as limitações visuais não podem ser ignoradas, negligenciadas ou confundidas com permissão ou fictícias. Desta maneira, a escola tem que se atentar em relação aos conceitos, preconceitos, gestos, atitudes e posturas de inovar e rever as práticas convencionais, conhecer, aceitar e transformar os desafios das diferenças em expressão natural do desenvolvimento das potencialidades humanas. A pessoa é considerada deficiente visual quando “apresenta acuidade visual igual ou menor que 20/200 no melhor olho, após a melhor correção, ou campo visual inferior a 20° (de acordo com a tabela Snellen), ou ocorrência simultânea de ambas as situações” (Decreto nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999). Esse decreto em seu artigo 4º, inciso III, define a deficiência visual como: “acuidade visual igual ou menor que 20/200 no melhor olho, após a melhor correção, ou campo visual inferior a 20° (tabela de Snellen), ou ocorrência simultânea de ambas as situações.” (BRASIL, 1999). OBJETIVO Construir um modelo didático para aula de ligações iônica para alunos cegos. METODOLOGIA: Considerando a particularidade quanto à qualidade da aprendizagem dos alunos cegos em sala de aula comum, pode-se perceber que a pesquisa qualitativa é a mais adequada, pois os alunos cegos foram as fontes dos dados coletados em sala de aula comum e sala de recurso multifuncional. Porém, os dados coletados foram registrados por meios de observações, anotações e aplicações de método alternativo pedagógico. O modelo alternativo foi feito com material acessível como feltro, lixa, botões, base de papelão, barbante e papel brailon. O desenvolvimento dos materiais didáticos foi feito com a colaboração de três alunos que ficaram cegos em idades distintas, o aluno M (18 anos) nasceu com visão subnormal e perdeu aos 5 anos, o outro aluno P (36 anos) perdeu aos 12 anos e a aluna T (20 anos) nasceu com glaucoma e perdeu aos 6 anos. RESULTADOS E DISCUSSÃO: De acordo com a afirmação citada, o deficiente visual, ou seja, é a pessoa que visualiza menos de 20 metros em relação a uma pessoa normovisual ou vidente (nomenclatura dada para quem tem visão comum) que enxerga a 200 metros de distância. 350 A deficiência visual se divide em dois grandes grupos: a cegueira e a baixa visão ou visão subnormal. No Brasil, segundo o Conselho Brasileiro de Oftalmologista estima-se que das 4 milhões de pessoas que apresentam uma deficiência visual, 25% ou seja, cerca de 1 milhão é cego. A deficiência visual poderia ser evitada com medidas eficientes de prevenção, dentre elas os programas de saúde, vacinação, acompanhamento pré-natal e teste genético, saneamento básico e triagens oftalmológicas desde o nascimento para detectar e tratar precocemente possíveis problemas visuais. Os alunos com baixa visão no ambiente escolar precisam de ampliação para ler e escrever e ajuda de auxílios ópticos (óculos, lupa, lentes, entre outros). Diferentes dos alunos que apresentam cegueira os mesmos se utilizam do Sistema Braille para ler e escrever. A cegueira pode ser congênita quando causada por lesões ou enfermidades que comprometem as funções do globo ocular e ocorre durante a infância até aproximadamente cinco anos de idade e não há formação da construção de sua memória visual e de suas estruturas mentais. Porém a cegueira adventícia que é causada pela perda da visão ocorrida na infância depois da construção da memória visual, na adolescência, na fase adulta ou senil, portanto, preserva as memórias obtidas antes da perda visual e a sua aprendizagem é mais rápida dos que não tem esta memória. O alfabeto braille (Figura 01) é um método de leitura e escrita tátil utilizado pelas pessoas cegas. É composto por uma cela braille composta de seis pontos (Figura 02) que se combinam entre si formando letras simples e acentuadas, algarismos, sinais de pontuação, símbolos algébricos e notas musicais. Usando a cela braille podemos fazer 63 combinações de pontos em relevo. Figura 01: fotos do Alfabeto Braille de EVA Figura 02: Cela Braille 351 Os professores de ensino de química que tem aluno cego em sua sala de aula tem um grande desafio a ser superado, fazer com que o processo ensino e aprendizado desses alunos de fato aconteça. Para isso, há uma Grafia Química Braille para o uso no Brasil (MEC, 2002) com representação de fórmulas, equações e símbolos químicos. Portanto, o professor tem que conhecer o sistema braille, mas se não conhecer pode lançar mão de recursos e promover meios com materiais didáticos alternativos, diferentes texturas, utilização de modelos táteis para o aluno compreender e apreender o que se está ensinando. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1999, p. 66) nos lembram que: “(...) os conhecimentos difundidos no ensino de Química permitem a construção de uma visão de mundo mais articulada e menos fragmentada, contribuindo para que o indivíduo se veja como participante de um mundo em constante transformação”. O ensino da química no âmbito escolar é de fundamental importância para a formação do aluno como cidadão participante de uma sociedade justa, não somente para repassar o conteúdo teórico, mas levá-lo a refletir, observar, compreender, analisar e questionar fenômenos (químico e físico) que fazem parte do nosso cotidiano. Para o aluno cego o uso das grafias braille é imprescindível pois devido as representações das linguagens específicas pode-se compreender o uso de gráficos, tabelas, diagramas, estruturas e fórmulas moleculares, além de sua leitura e transcrição para o sistema braille. A formação das ligações químicas incide quando cada átomo busca uma configuração mais estável e normalmente acontece só com os átomos mais externos. Podemos citar os gases nobres conhecidos por sua inércia química, portanto, monoatômicos, possuem baixa reatividade e diminuem mais quando formam compostos por terem o nível eletrônico mais externo preenchido totalmente. Pode-se entender a ligação iônica por envolver a transferência completa de um ou mais elétrons de um átomo para outro. Sendo representações idealizadas. Formam-se por elementos eletropositivos (cátions) atraídos por elementos eletronegativos (ânions) para atingir uma configuração eletrônica mais estável. Para um aluno cego em sala de aula regular, essas informações são complicadas e em muitas vezes sem os recursos didáticos adequados torna a aula monótona deixando muitas dúvidas e a aversão à disciplina química por ter características de observação, análise e principalmente por representação simbólica visual. A má formação e informação dos professores desqualificam a entender o processo de inclusão dos alunos cegos dentro das salas de aula regular e somente com a busca de materiais, métodos alternativos, a reformulação e adaptação da grade curricular e do Projeto Político Pedagógico da escola é que podem ser contempladas as diversidades e diferenças no âmbito escolar. Com a ajuda dos alunos que são conhecedores do sistema braille e alunos de sala regular de ensino. Devido sentir as dificuldades em entender os conteúdos ministrados em algumas disciplinas principalmente a química, esses mesmos relatam que em suas salas eles somente absorvem conceitos, dificultando o aprendizado. Portanto, conseguem entender pelos materiais alternativos adaptados. Como por exemplo, o modelo de distribuição eletrônica (Figura 03) considerada pelos alunos cegos, incompreensível quando esplanada pelo professor em sala de aula sendo sanada através de modelos adaptados. 352 Figura 03: Modelo de Distribuição Eletrônica Pela conversa informal e várias tentativas conseguiu-se criar uma prancha para que os modelos atômicos possam ser manuseados para a realização de atividades com ligação iônica, pela teoria de Lewis (Figura 04), demonstrando assim na prática como acontece nas imagens dos livros em que eles não têm acesso. Figura 04: Modelo da Teoria de Lewis (Ligação Iônica) CONCLUSÕES A inclusão escolar é necessária para o processo ensino e aprendizado dos alunos com necessidade especial, principalmente os alunos cegos, pois, o ensino de química é repleto de visualização, portanto com a utilização de modelos alternativos a aula de química terá mais significado e relevância para o aprendizado e melhor compreensão do conteúdo. O que se pretende é incluir esse aluno cego de maneira íntegra e continua, para o pleno desenvolvimento de suas potencialidades e habilidades sem restrição ou privilégio entre os demais alunos. Muitos conteúdos do ensino de Química por se tratar de diversos fenômenos que ocorrem em um processo químico como mudança de cor, variação de temperatura/massa/volume, precipitação e outros, acredita-se que os alunos cegos seriam incapazes de realizar algumas atividades químicas, porém se houver as adaptações necessárias, proposta de material alternativo e a boa vontade do 353 profissional em buscar se capacitar para entender o processo de ensino desse aluno. Desta forma o aluno cego não encontrará dificuldades em termos de aprendizagem e avaliações. REFERÊNCIAS BRASIL. Decreto nº 3.298 de 20/12/99. Disponível em: http://www.cedipod.org.br. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Capítulo V – Da Educação Especial. Lei nº 9.394 de 20/12/96. BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial da União, Brasília, 20.12.1996. BRASIL. Ministério da Educação. Grafia Química Braille para uso no Brasil: versão preliminar/Secretaria da Educação Especial. Brasília: MEC; SEESP, 2002. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio: Bases Legais. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Média e Tecnológica, 1999. DECRETO Nº 9.404 DE 11/03/99. Disponível em www.sed.ms.gov.br. INSTITUTO BENJAMIM CONSTANT. Disponível em: <www.ibc.gov.br>. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Grafia Química Braille – Para uso no Brasil. Versão preliminar / Secretaria de Educação Especial – Brasília: MEC; SEESP, 2002. UNESCO. Declaração de Salamanca: Sobre necessidades educativas especiais. Conferência Mundial sobre Educação para Necessidades Especiais: Acesso e Qualidade. Espanha, Salamanca, 1994. Disponível em: http://www.centroruibianchi.sp.gov.br/ 354