Anemia da Prematuridade:fisiopatologia e tratamento Anaemia of Prematurity: Pathophysiology & Treatment Ronald G Strauss, MD Blood Rev 2010; 24: 221–225. Apresentação: Lílian Nicácio – Residente uti Pediátrica Unidade de Neonatologia do HRAS www.paulomargotto.com.br Brasília, 30 de dezembro de 2011 Você pode consultar este artigo integral: Anaemia of prematurity: pathophysiology and treatment. Strauss RG. Blood Rev. 2010 Nov;24(6):221-5. Review. PMID: ◦ 20817366 ◦ [PubMed - indexed for MEDLINE] Free PMC Article Related citations Introdução Recém-nascidos (RN) Prematuros com peso de nascimento inferior a 1 kg e Idade gestacional de 29 semanas de gestação vão necessitar de transfusão de concentrado de hemácias nas primeiras semanas de vida. ◦ Toda semana nos EUA nascem cerca de 10.000 prematuros (menos de 37semanas), destes 6% são extremo baixo peso e 90% destes receberão transfusão de sangue. Fatores fisiológicos e não fisiológicos relacionados a prematuridade são responsáveis pela anemia da prematuridade com a contribuição de coletas de sangue excessivo para análise laboratorial. Com a diminuição das coletas de sangue e critérios para transfusão mais conservador tem diminuído o número de transfusões anuais. ◦ No Hospital da Universidade de Iowa o valor médio de transfusões nos anos de 2000 a 2005: RN de muito Baixo peso (RNMBP (P<1000g) 4,5/criança RN pré-termo (RNPT) (P: 1001 a 1500g) : 1,1/ criança Fisiopatologia da anemia da prematuridade Ocorre um declínio na produção de eritrócitos durante a primeira semana de vida por múltiplos fatores em RN enfermo, principalmente por coletas de sangue para testes laboratoriais. Em RN sadios o valor de hemoglobina raramente cai abaixo de 10g/dl entre 10ª a 12ª semanas. Esta queda é bem tolerada e não requer tratamento, sendo chamada de anemia fisiológica. Em RNPT a queda ocorre mais cedo com nadir entre 4ª e 6ª semanas e os valores de hemoglobina também são menores: 8 para RN de 1,0 a 1,5 Kg e de 7 para RN de <1,0 Kg. Como nos RNMBP esta queda da hemoglobina está associada a sinais clínicos anormais recebem transfusão e raramente são aceitos como anemia fisiológica. Fatores fisiológicos têm papel importante na anemia da prematuridade ◦ Os RNMBP nascem antes do terceiro trimestre de gestação eles não recebem a maior parte do ferro transportado na gestação e grande quantidade de eritopoiese fetal. ◦ Extra-útero ocorre um aumento de peso extremamente rápido durante o 1° mês de vida e produção de células vermelhas pela medula deve aumentar na mesma proporção. ◦ A vida média da hemácia do neonato é menor que a do adulto devido a diferença no metabolismo e nas características de membrana. A vida média das hemácias em RN é difícil de mensurar: ◦ Em adultos saudáveis com tamanho do corpo estável de modo que volume de sangue e hemácias são constantes que não recebem transfusões e não são submetidos a coletas de sangue, o desaparecimento de hemácias marcadas transfundidas é bem determinada. ◦ Em contraste em RN com aumento de peso, coletas de sangue constantes e transfusões o cálculo da sobrevida da hemácia não é precisa. Nos prematuros a resposta da eritropoietina face a anemia é menor que do nascido a termo. As células progenitoras de hemácias são bastante sensíveis a eritropoietina mas as células do RN não têm a mesma sensibilidade. Os fatores que levam a um nível de eritropoietina plasmática baixa no sangue são vários e nem todos determinados. ◦ A produção da eritropoietina no RN é feita no fígado ao invés do rim sendo o fígado menos sensível a anemia e hipóxia tecidual, além de uma resposta relativamente lenta para a queda do hematócrito. A resposta reduzida da eritropoietina a hipóxia tecidual é fator de proteção para o feto uma vez que a hipóxia intra-útero poderia produzir uma hiperviscosidade sanguínea . Após o nascimento esta resposta é desvantajosa pois prejudica a compensação de níveis baixos de hematócrito . Esta resposta lenta para a produção de eritropoietina não explica totalmente seu nível diminuído em anêmicos. Os macrófagos do sangue do cordão humano produzem quantidade normal de eritropoietina RNA mensageiro e proteína. Assim mecanismos adicionais para a baixa produção devem contribuir para a diminuição dos níveis plasmáticos de eritropoietina como : Rápida depuração assim como a produção. ◦ Estudos em bebês humanos mostraram baixos níveis de eritropoietina sérica devido a depuração plasmática, rápida eliminação e menor permanência no plasma se comparados com adulto. ◦ Então, a baixa eritropoietina sérica é resultante de diminuição de síntese e aumento de metabolismo. A coleta de sangue para análise laboratorial tem papel fundamental para a anemia da prematuridade. ◦ A neonatologia moderna requer que seja feito um acompanhamento de perto com gasometria, eletrólitos, série vermelha e culturas. ◦ RNPT são mais críticos e necessitam de coletas mais frequentes. No passado a média de sangue retirado para exames era de 0,8 a 1,3 ml/kg/dia nas 5 primeiras semanas de vida do RNPT crítico. ◦ Existem dispositivos capazes de retirar o sangue, fazer a análise e em seguida reinfundir o sangue. ◦ Até que estes dispositivos estejam disponíveis para a clinica, a coleta de sangue ainda permanece ponto chave para a anemia da prematuridade. As coleta de sangue devem ser absolutamente necessária para o melhor cuidado do RN. Transfusões para tratar a anemia da prematuridade Diretrizes para a transfusão em recém-nascidos são controversas e as práticas variam muito. Isso resulta do conhecimento limitado da biologia molecular e da eritropoiese durante o período neonatal. Geralmente as transfusões níveis de hemoglobina acreditam ser ideais para paciente. A tabela 1 apresente um pelos neonatologistas são feitas para manter e hematócrito que a condição clínica do guideline muito aceito Existem dois tipos de diretrizes para a transfusão de hemácias, uma com orientações restritivas (RES) que permitem a transfusão com valores relativamente baixos de hematócrito e a diretriz liberal (LIB) com valores altos de hematócrito. Dois estudos controlados e randomizados de grupos usando orientações RES e outro LIB, concordam em um ponto, que os bebês prematuros tem risco aumentado de lesão cerebral quando recebem transfusões de hemácias pela diretriz RES. Quando foram usadas orientações baseadas em hematócrito ou hemoglobina pré-transfusão, idade e condições clinicas como necessidade de ventilação mecânica ambos os estudos encontraram que o grupo RES recebeu menos transfusão sem aumento na mortalidade e morbidade. Bell e col, encontraram aumento de apnéia, hemorragia cerebral e leucomalácia cerebral no grupo RES. Kirpalani e col, não encontraram diferenças nos resultados de crianças graves nos dois grupos. ◦ As taxas de resultados graves foram bastante elevados neste estudo talvez pela extrema prematuridade dos RN. No entanto em uma análise usando o score Bayley <85 , os indivíduos do grupo RES tiveram piores resultados sugerindo acordo com os achados de Bell e col que transfusões dadas por diretrizes RES podem colocar em risco prematuros em relação a lesões neurológicas. São necessários estudos adicionais, mas até que novas informações estejam disponíveis parece sensato para transfundir RN usar orientações não tão restritas. A maioria da transfusões são prescritas para tratar anemia da prematuridade e com 15 +- 5ml de hemácia/kg infundidas em 2 a 4 horas. A transfusão de apenas hemácias frescas com menos de 7 dias foi substituída na maioria dos centros por hemácias armazenadas até 42 dias como forma de diminuir a exposição elevada entre crianças de vários doadores. Neonatologistas insistem em transfundir com hemácias frescas com os seguintes argumentos: ◦ Aumento progressivo na concentração de potássio do armazenado ◦ Diminuição do nível do nível hemácia 2,3DPG ◦ Os possíveis riscos de cada aditivo como manitol e adenina e os montantes relativamente grande de glicose e fosfato presentes nas soluções de aditivos ◦ A mudança na forma da hemácia e deformidade que ela sofre durante o armazenamento podendo levar a má circulação através da microcirculação. Embora estas preocupações sejam legitimas para grandes volumes de concentrado de hemácia (maior que 25ml/kg) particularmente quando infundidas rapidamente, não se aplica a pequenos volumes pelas seguintes razões: ◦ Após 42 dias armazenadas em soluções aditivadas (AS1-AS3-AS5) em um hematócrito de 60% as concentrações de potássio em unidade de hemácia é aproximadamente 50mEq/l , um nível que a primeira vista parece alarmante. Criança de 1 kg que recebe 15ml de concentrado de hemácia armazenada há 42 dias recebe apenas 0,3mEq de potássio –dose pequena quando comparada a dose diária exigida de 2-3mEk /kg. ◦ Por 21 dias de armazenamento a 2,3 DPG é totalmente esgotada de hemácias como refletido por um valor de P50 (pressão de oxigênio necessário para manter a hemoglobina saturada em 50%.) que diminui de 27mmHg no sangue fresco para 18mmHg no armazenado, este valor se assemelha ao da hemácia endógena do RN (hemácia fetal). ◦ A quantidade de aditivos nas hemácias armazenadas é improvável ser perigoso quando transfundida em pequenas quantidades (15ml/kg) ◦ Durante o armazenamento ocorre diminuição da 2,3-DPG e trifosfato adenosina e ocorre alterações no citoesqueleto que levam a diminuição da deformidade da célula. ◦ Vejam na tabela 2 a quantidade de aditivos recebidos em pequena quantidade de transfusão (15ml/kg). Ensaios bem desenhados tem abordado a eficácia e segurança do uso de hemácias armazenadas e frescas como equivalente. O risco de transfusão com hemácias armazenadas em relação a hemácias frescas não foi evidente e parece prudente no momento continuar a transfundir hemácias armazenadas em soluções com aditivos até 42 dias se feitas em pequeno volume. Eritropoietina recombinante (EPO-R) para tratamento da anemia da prematuridade Como as células progenitoras de hemácias respondem a eritropoietina baixa no plasma é um argumento para o uso da EPO-R para tratamento da anemia da prematuridade. Como a anemia ocorre devido a quantidade de eritropoietina diminuída no sangue e como a resposta da medula é normal supõe-se que a EPO-R iria corrigir esta deficiência. Esta pratica não tem sido aceita amplamente pelos neonatologistas porque sua eficácia é incompleta. ◦ Por um lado progenitores eritróides respondem bem a EPO-R in vitro. ◦ Por outro lado, quando a finalidade é eliminar a transfusão de hemácias muitas vezes não foi bem sucedida. Até o final de 2009 cerca de 20 ensaios clínicos controlados avaliando a eficácia da EPO-R para eliminar transfusões de sangue foram publicadas com resultados inconsistentes. Uma metanálise foi feita com o objetivo de investigar a extensão e razões destes resultados inconsistentes. ◦ Os estudos controlados diferiam uns dos outros e por isso produziram resultados muito variados. ◦ Quando 4 estudos foram analisados separadamente a EPO-R como maneira eficaz de reduzir as transfusões de hemácias foi relativamente modesta e de importância clinica questionável. Donato e col, ◦ metanálise com 114 RN com peso menor que 1,25 kg para receber eritopoietina ou placebo durante as duas primeiras semanas de vida seguindo um tratamento de 6 semanas com eritropoietina, ferro e acido fólico para todas as crianças. Durante as 3 primeiras semanas houve um aumento de reticulócitos e os valores de hematócrito mas não houve diferença nas transfusões de hemácias entre os grupos. ◦ No final de todo o tratamento um grupo com <0,8kg e coletas de sangue >30ml/kg que recebeu eritropoietina logo após o nascimento recebeu menos transfusões que o grupo placebo. Yeo e col, encontraram vantagens modestas para o subgrupo de RNMBP que recebeu eritropoetina recombinante em relação ao placebo. Meyer e col, ◦ em estudo cego, randomizado. ◦ encontraram uma vantagem para o grupo com eritropoietina recombinante. ◦ RN com <1,7 kg receberam eritropoietina recombinante logo após o nascimento contra um grupo placebo. ◦ Foi dado ferro para os dois grupos mas no placebo foi dada uma dose menor que no grupo que recebeu a eritropoetina, podendo afetar a eritropoiese e a necessidade de transfusão. ◦ Não houve diferença significativa nas transfusões mas se analisado um subgrupo com peso inferior a 1kg que recebeu transfusão depois de 30dias de vida foi reduzida no grupo eritropoetina recombinante. Maier e col, ◦ 219 RNs randomizados com peso de nascimento de 0,5 a 0,99kg para receber EPO-R precoce desde a 1ª semana até a 9ª semana; tardia que recebeu a partir da 4ª semana até a 6ª semana grupo que não recebeu a eritropoetina. ◦ Resultado foi modesto: 13% precoce; 11% tardio 4% sem ◦ Apenas o grupo de tratamento precoce foi significativo Avent e col ◦ 93 RN randomizados com peso de nascimento de 0,9 a 1,5kg para receber: dose baixa eritropoetina recombinante (250 ui/kg) alta dose (400 ui/kg) sem tratamento. Iniciado tratamento com 7 dias de vida e continuado até a alta. ◦ Resultado considerado em manter um hematócrito razoável sem transfusões de sangue: 75% dose baixa 71% alta dose 41% sem tratamento. Posteriormente os autores concluíram que a eritropoietina recombinante não diminui as transfusões de hemácias em RN nascidos com 0,9 a 1,5kg que tiveram poucas perdas com coletas de sangue e quando seguido diretrizes rigorosas para a transfusão. Franz e Pohlandt avaliaram o número de transfusões em 4 ensaios prospectivos randomizados onde EPO-R foi dada a RNPT. ◦ Foram selecionados inclusive pacientes em ventilação mecânica, propensos a receber transfusões se sangue. ◦ Os autores descobriram que quando as diretrizes de transfusão restritas foram seguidas o número de transfusões e o volume de hemácias foram baixas e semelhantes nos lactentes que receberam ou não eritropoetina recombinante. Amin não encontrou diferença no número de transfusões dadas para RN com peso de nascimento maior que 1kg que recebeu eritropoetina recombinante se comparado com os que não receberam quando transfusões foram feitas seguindo diretrizes restritas. Consultem também: www.paulomargotto.com.br, em Distúrbios Hematológicos) Monografia-2011(Apresentação): Associação do tempo de armazenagem do concentrado de hemácias transfundidas em UTI Pediátrica e evolução das crianças. Autor(es): Marcela dos Santos Amorim, Alexandre Peixoto Serafim Objetivo: Analisar as conseqüências das transfusões de sangue em crianças e determinar se o tempo de armazenamento dos concentrados de hemácias utilizados em uma UTI Pediátrica teve associação com maior tempo de internação ou maior mortalidade Resultados Não houve relação estatisticamente significativa entre o tempo de armazenagem do concentrado de hemácia transfundido e o tempo de internação e a mortalidade Hemoderivados (critérios) Autor(es): Samiro Assreuy Critério para hemotransfusão Hematócrito (Htc ≤ 40%) Doença cardíaca severa com cianose ou insuficiência cardíaca congestiva. Se FiO2 > 35% no HOOD. Se em CPAP ou ventilação mecânica com pressão média das vias aéreas (MAP: mean air pressure) > 6cm H2O . Enterocolite necrosante. Htc ≤ 30% Se em FiO2 > 21% sob qualquer forma. Em CPAP ou ventilação mecânica (com MAP < 6cm de H2O). Se apnéia significante e bradicardia (> 6 episódios em 12 horas ou 2 em 24 horas, requerendo uso de ventilação pulmonar positiva) na vigência de doses terapêuticas de teofilina. Se freqüência cardíaca > 180 batimentos por minuto em freqüência respiratória > 80 rpm persistente por 24 horas. Se ganho ponderal < 10g/dia por mais que 4 dias com ingesta > 100 cal/kg/dia. Se for submetido à cirurgia (considerar estabilidade clínica do RN e natureza da intervenção cirúrgica). Htc ≤ 25% Todos. Não Transfundir Para repor sangue removido para exames de laboratório, a não ser que ultrapasse 10% da volemia em 1 semana no RN < 1000g, na 1º semana. Pelo simples motivo de que o hematócrito está baixo. O concentrado de hemácias lavadas (produto obtido por meio de lavagens sucessivas com soro fisiológico a 0.9%, a uma temperatura de 40C, removendo-se assim proteínas plasmáticas e a quase totalidade das plaquetas e leucócitos, com importante diminuição de antígenos plaquetários, plasmáticos, leucocitários e do sistema HLA). Esta indicada nas seguintes situações: 10ml/Kg -na forma anêmica da incompatibilidade sanguínea materno-fetal Rh e ABO -Hb <=12g% e reticulócitos >= 0.5g% nos primeiros dias de vida -Hb <11g% e reticulócitos >= 0.5% até o final do primeiro mês de vida Anemia neonatal Autor(es): Paulo R. Margotto, Fabiana Márcia de Alcântara Morais Aderência aos guidelines de transfusão para a UTI Neonatal: dados de um sistema de cuidado da saúde multihospitalar Autor(es): VL Baer et al. Apresentação: Aline Freire, Ellen Andrade, Gilson Santiago, Paulo R. Margotto Anemia da prematuridade: uso da eritropoetina Autor(es): Cléa R. Leone (SP). Realizado por Paulo R. Margotto Uma dose cumulativa de 6 semanas de eritropoetina foi associada com um risco aumentado para a progressão da retinopatia da prematuridade (Odds ratio de 1,27 por 500 unidades/kg -IC a 95% de 1,04-1,55-p=0,02). É uma situação de gravidade Limiar de Transfusão para RN Pré-Termo:Até onde devemos ir ? Autor(es): Edward F. Bell. Apresentação: Mariana Regis Jansen, Mathias Palácio John,Paulo R. Margotto Estudo randomizado e controlado de transfusão restritiva versus liberal nos recémnascidos de extremo baixo peso Autor(es): Kirpalani H et al. Apresentação: Giselle Maria Araujo Felix, Paulo César Montalvão de Albuquerque, Paulo R. Margotto Estudo randomizado de protocolos liberais versus restritos para a transfusão de hemácias em recém-nascidos pré-termos Autor(es): Bell EF, et al. Apresentação: Virgínia Lira Estratégias de transfusão para pacientes em Unidades de Cuidados Intensivos Pediátricas Autor(es): Lacroix J et al. Apresentação: Mila Maia Estudo da Rede de Pesquisa Neonatal Brasileira A transfusão sanguínea associou-se com maior óbito