Formando Leitores na Escola
Rosemeri Fraga da Rosa1
Resumo: Este artigo resultou de um estudo sobre a importância da formação de leitores dentro do
ambiente escolar. Apresenta sugestões de como a leitura pode ser trabalhada na escola, partindo da
realidade do aluno e das características da faixa etária destes.
Palavras-chave: aluno, encantamento, escola, leitura e professor.
Abstract: This paper resulted from a study on the importance of training of readers within the school
environment. Suggests how reading can be taught in regular schools, based on the student's reality
and characteristics of these age groups.
Keywords: student – enchantment – school – reading - teacher.
1. Introdução
O encantamento pela leitura pode ser despertado nos primeiros meses de vida; o
bebê lê, claro que não uma leitura através de palavras, mas através de imagens.
Desde quando a criança começa a enxergar, ela vê placas, rótulos, outdoors,
embalagens, jornais, revistas; através deste contato ela vai identificando as escritas
e formando o seu conceito de leitura.
“A criança entra em contato com a linguagem das gravuras antes da
linguagem das letras. Uma vez que ela já aprendeu a entender o significado
das figuras, é necessário que o material de leitura inicial as contenha em
grande número. As ilustrações exercem uma atração redobrada sobre os
principiantes e os maus leitores: elas ornamentam o texto, estimulam o
interesse e dividem o livro de modo que a criança possa virar as páginas
com freqüência e ter a impressão de estar lendo depressa. As gravuras
ajudam a tornar o texto compreensível.” (BAMBERGER; RICHARD,1977,
p.50)
Mas, a realidade do nosso país é diferente, pois grande parte da população
brasileira é analfabeta e o hábito da leitura não vem de casa.
“Fala-se muito em formação de leitores. Nosso país realmente vai ser outro
quando sua população for formada por leitores, gente que saiba diferenciar
uma obra literária de um texto informativo, gente que leia jornais mas
também leia poesia; gente, enfim, que saiba utilizar textos em benefício
próprio, seja para receber informações, seja por motivação estética, seja
como instrumento para ampliar sua visão de mundo, seja por puro
entretenimento. Considerando nosso desequilíbrio social, formar leitores
evidentemente é um imenso desafio. A maioria de nossas crianças é filha
de pais analfabetos ou semi-analfabetos, ou seja, voltando para casa elas
não têm com quem discutir suas lições. E nem mesmo espaço, uma vez
1
Especialista egressa do curso de Pós-graduação em Novas Abordagens em Língua e Literatura em
Língua – 2005 Portuguesa - Faculdade Cenecista de Osório – FACOS/ RS- letras @facos.edu.br
Orientadora Profa. Dra. Cristina Maria de Oliveira
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que suas casas, muitas vezes um único cômodo, não costumam possibilitar
isolamento mínimo que a leitura requer.” (AZEVEDO, 2004, p.21)
Conforme o autor, grande parte dos brasileiros não tem acesso à leitura e por isso
não será fácil incentivar as crianças, em idade escolar, a se tornarem leitoras. Cabe,
pois, à escola incentivar o hábito de leitura. Nessa expectativa social, o professor
tenta buscar e oferecer as melhores situações para que os alunos cresçam e
progridam como leitores; ler e escrever são práticas que fazem parte do crescimento
de um cidadão, mesmo nesta sociedade com poucos leitores.
Até a quarta série, os alunos têm um contato diário com apenas uma professora,
que tem como objetivo alfabetizá-los, ensinando-os a ler e escrever. Em decorrência
disso, a proposta de leitura é desenvolvida com mais freqüência, pois a educadora
faz acompanhamento contínuo no processo de aprendizagem de seus alunos. No
entanto, na quinta série, os alunos se deparam com até nove professores, cada um
querendo “passar” o conteúdo de sua disciplina e, muitas vezes, esquecendo estes
leitores em formação.
“Os professores são, freqüentemente, desviados da função de educador
para cuidar da papelada, fichas, tabelas, cadernetas, na maioria das vezes
irrelevantes ao seu trabalho. Os alunos recebem informações de seis a oito
professores que se revezam na classe, cada um tocando uma música
particular, sem nenhum ponto de ligação com as outras. O corpo
administrativo, os professores e os alunos são grupos completamente
distantes uns dos outros, havendo, na maioria das vezes, uma total frieza e
impossibilidade no conjunto todo.” (LEITE, 1988, p. 44).
Os professores precisam manter, também nestas séries da etapa final do Ensino
Fundamental, uma proposta de leitura intensiva, para que os alunos consigam
compreender a importância dessa como momentos de interação social com os
demais cidadãos/autores do que lêem e possam ir construindo uma concepção de
cidadãos críticos, além de, pela leitura, terem acesso à diversidade de cultura.
“Ler e escrever são tarefas da escola, questões para todas as áreas, uma
vez que são habilidades indispensáveis para a formação de um estudante,
que é responsabilidade da escola. Ensinar é dar condições ao aluno para
que ele se aproprie do conhecimento historicamente construído e se insira
nessa construção como produtor de conhecimento. Ensinar é ensinar a ler
para que o aluno se torne capaz dessa apropriação, pois o conhecimento
acumulado, está escrito em livros, revistas, jornais, relatórios, arquivos.
Ensinar é ensinar a escrever porque a reflexão sobre a produção de
conhecimento se expressão por escrito.” (GUEDES, 1998, p. 13).
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Apesar da atuação dos pais ser fundamental, é para o professor que se concentra a
maior responsabilidade, a partir do momento em que a escola passa a ser
responsável pela alfabetização; o professor deve incentivar a criança a ler também
para que ela desenvolva o gosto e o prazer de ler; precisa indicar e separar material
a ser lido, criar diferentes propostas de conquista de um leitor, entre as quais, o
desafio à escolha do livro literário ou do assunto informativo a ser lido.
“A leitura permite sonhar, enfrentar medos, vencer angústias, desenvolver a
imaginação, viver outras vidas, conhecer outras civilizações. Além disso,
nos dá acesso a uma parte da herança cultural da humanidade.”
(MACHADO, 2001, p.21)
Partindo dessa concepção da interatividade do leitor, então em sua ação social e
comunicativa, neste artigo, apresenta-se um estudo sobre a importância da escola
no incentivo a ler. Destaca-se que, nas séries finais do Ensino Fundamental, a
leitura deve ser trabalhada partindo da realidade e faixa etária do aluno; na
adolescência, período caracterizado pela busca do eu, o aluno tem a preferência
pelo que ele pode relacionar com a sua vivência. Visto que nessa etapa do Ensino
Fundamental, as informações recebidas pelos alunos são diversas, é necessário um
trabalho direcionado à leitura, partindo de todas as disciplinas e das realidades dos
alunos para que se formem cidadãos leitores.
Optou-se, neste estudo desenvolvido através de uma pesquisa qualitativa, de
aproximação
etnográfica,
fazer
uma
pesquisa-ação
em
que
se
procurou
compreender como, na escola, é possível resgatar o leitor que desperta seu prazer e
seu gosto em ler obras literárias. Mesmo que se necessitou trazer alguns aportes de
teorias psicossociais, procurou-se manter o enfoque ensino, na possível atuação do
professor na organização de propostas de leituras.
2. A importância das propostas de leitura na escola
Na escola, deve ser incentivada a ação de ler para se construir a concepção da
importância da leitura e do prazer de ler. Segundo Zilberman (1988, p.16) é a escola
“que conduz ao ato de ler.” No entanto, a leitura que deveria ser lazer e fonte de
informação é considerada, muitas vezes, como uma obrigação, um dever escolar.
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Muitos adolescentes e jovens não lêem com freqüência, e quando o fazem é por
obrigação. É preciso, pois, recuperar o seu prazer e a necessidade de se informar.
“A proposta de que a leitura seja reintroduzida na sala de aula significa o
resgate de sua função primordial, buscando sobretudo a recuperação do
contrato do aluno com a obra de ficção. Pois é deste intercâmbio,
respeitando o convívio individualizado que se estabelece entre o texto e o
leitor, que emerge a possibilidade de um conhecimento do real ampliando
os limites.”(CATTANI e MARQUES, 1988, p. 21).
O professor poderá propor atividades interativas que despertem o gosto pela leitura,
mostrando que o livro não é uma máquina “chata” que só uma pessoa com
habilidades especiais sabe conduzi-la. Também se faz necessário o uso adequado
do “arsenal” de materiais escolares, como o livro didático ou o livro de ficção, que
poderão se constituir em instrumentos que veiculam o contato do aluno/leitor com os
escritores e os demais informantes. O livro didático, com suas inúmeras
informações, pode se constituir em fonte de consulta na busca de informações e
outros contatos culturais. Já o livro de ficção deve servir como o piloto da viagem
pelo mundo da leitura, alimentando a imaginação e desenvolvendo a criatividade.
Acredita-se ser essa uma proposta através da qual possam os alunos desenvolver
uma visão diferente da escola, da sala de aula, da leitura, construindo sentido em
ser estudante.
Porém, para orientar a leitura, é preciso que o professor conheça as preferências
literárias correspondentes à faixa etária dos seus alunos. De acordo com Bamberger
(1977), as preferências literárias são de acordo com a faixa etária do leitor. A seguir,
apresenta-se o que o referido autor caracteriza como fase de leitura:
2.1 As Fases Da Leitura
1a. fase - Idade dos livros de gravura e dos versos infantis (de 2 a 5/6 anos) – a
criança faz pouca distinção entre o mundo interior e o exterior, é a idade do
pensamento mágico. Os livros de gravuras ajudam quando apresentam objetos
simples, sozinhos, retirados do meio em que ela vive; o seu primeiro interesse pelo
conhecimento é satisfeito pelo mais simples dos livros de gravuras. A criança se
interessa mais pelas cenas isoladas do que pelo enredo da história e gosta dos
versos infantis por causa do ritmo. As brincadeiras com os livros de gravuras são
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importantes para incentivá-la a busca de prazer no contato com o livro e poderão ser
observados sinais de independência e desafio em que isso se constitui.
2a. fase - Idade do conto de fadas (de 5 a 8/9 anos) – segundo Beinlich (1970, apud
Bamberger, 1977, p.37.) é a idade de leitura de realismo mágico e a criança é
suscetível à fantasia. No começo desse período, a criança gosta principalmente de
contos de fadas que representam um ambiente que lhe é familiar. Quanto menos se
identifica com os personagens mais os aprecia; manifesta seu sentimento nas
brincadeiras em que poderá imaginar e mostrar sua preferência por personagens e
histórias de um mundo distante, de maravilhas, de heróis, etc.
3a. fase - Idade da leitura fatual (de 9 a 12 anos) - caracterizada pela construção de
uma fachada prática, realista, ordenada racionalmente. A criança orientar-se no
mundo concreto, objetivo. As perguntas “como?” e “por quê?” são cada vez mais
freqüentes e são acrescentadas à pergunta “O quê?”. O interesse pelos contos de
fadas ainda é marcante, mas também começa a surgir o interesse por ler aventuras.
4a. fase - Idade da história de aventuras (de 12 a 13 anos) – como adolescente,
ocorre
tomada de consciência da própria personalidade: começa a busca de
independência e do desafio; manifesta-se a agressividade como uma das
características da fase. O interesse dos leitores pode ser despertado principalmente
através do enredo, dos acontecimentos. Em relação às meninas, por influências do
convívio, percebe-se um interesse por romances e sentimentalismo.
5a. fase - Anos da maturidade (de 14 a 17 anos) – manifestam-se marcas do
descobrimento do próprio mundo interior, do desenvolvimento de planos de vida e
de valores. O interesse pelo mundo exterior é substituído pela participação do
mundo interior, no mundo dos valores. Os interesses de leitura voltam-se a
aventuras de conteúdo mais intelectual, a romances históricos ou livros que se
relacionem com preferências e sonhos profissionais.
Com base nesse estudo, observa-se que de acordo com a faixa etária, a pessoa tem
uma preferência literária, para que se possa desenvolver um trabalho centrado na
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leitura, o professor pode usar como ponto de partida a motivação a partir das
características literárias correspondentes à idade. Observa-se sempre a realidade e
características individuais de seus alunos, pois esse estudo é uma orientação e não
um modelo a ser seguido; em alguns casos, os alunos poderão não se encontrar
nessa divisão.
2.2 Reflexões sobre o papel do professor no processo de leitura
É necessário também que o professor conheça os tipos de interesses mais comuns
nas etapas escolares e a partir delas estimular a leitura em sala de aula:
 no período da Educação Infantil – a leitura deve ser estimulada intensamente;
a proposta a ser apresentada deve incentivar na criança a expectativa de aprender a
ler, mesmo tendo o cuidado de não sobrecarregar a criança.
 na primeira etapa do Ensino Fundamental – a ajuda do professor no
desenvolvimento de interesses e do prazer em ler é extremamente necessária,
tendo o cuidado para não romper o interesse da criança por brincadeiras: deve-se
criar parcerias entre leitura e brincadeira. O exemplo do professor leitor é essencial,
pois o seu exemplo e a sua imagem influenciam a criança, ela se identifica com o
seu professor: se o professor mostrar que gosta de ler, o desenvolvimento da leitura
será favoravelmente influenciado.
 entre a quarta e a quinta série – na transição entre a idade do conto de fadas
e a idade das aventuras, pode-se perceber se a criança gosta de ler. Caso não se
manifeste, inicia-se o período de resgate de um leitor. Também poderá persistir uma
variação de interesses: algumas crianças ainda são crianças de contos de fada,
outras estão na idade das aventuras. É importante que o professor saiba combinar e
trabalhar os diferentes níveis de interesse e gosto da turma para que não haja
nenhuma imposição no que será lido; a proposta de escolha será determinante.
 da sexta até a oitava série – é importante mostrar aos adolescentes que os
livros estão à sua espera e são seus amigos, considerando que poderão dialogar de
acordo com os seus interesses individuais. A mobilização para a leitura pode surgir a
partir de discussões sobre assuntos em geral, profissão, sociedade; por isso, é
importante debater sobre diferentes assuntos em aula.
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 no Ensino Médio – se os livros apresentarem o tipo de idéias e valores que
preocupam os leitores, certamente o interesse pela leitura será maior; os temas que
se referem aos problemas sociais também tem destaque nessa fase em que terão
influência sobre a individualidade e sociabilidade de cada um.
 em todas as idades – a leitura não deve ser concebida como uma atividade
imposta pela escola, para que os livros se tornem companheiros eternos. É
importante que, em qualquer fase da vida, as pessoas respeitem os gostos de quem
cercam. Entre leitores adultos, percebe-se um gosto bem diversificado e
depoimentos que comprovam prazer na ação de ler.
Com base nessa divisão, pode-se conhecer um pouco mais a faixa etária e o tipo de
leitura correspondente a ela, para que se possa desenvolver um trabalho centrado
em motivação e interesses de leitura por idade. O educador deve também ter o
cuidado de não seguir essa divisão como um modelo, mas apenas como uma
sugestão de orientação para um desenvolvimento melhor de um trabalho centrado
na prática de leitura, a partir da motivação caracterizada pela faixa etária.
2.3 A leitura em sala de aula – planejando uma proposta
Considera-se essencial como ponto de partida, em uma proposta de leitura,
conhecer um pouco a realidade dos alunos, inclusive como leitores ou não. Com
base nos estudos de Bamberger (1977), o primeiro passo para despertar o gosto
pela leitura deve ser a motivação de quem lê, daí considerar a faixa etária e as
características do leitor. A leitura deverá impulsionar a fantasia, a vontade, o
desenvolvimento do raciocínio, podendo o leitor se tornar crítico e facilitar assim sua
compreensão de mundo.
Sabe-se que só se gosta daquilo que se conhece: as pessoas não conseguem
gostar de algo que não conhecem ou que nunca viram. Também, a partir do
momento em que é conhecida e entendida, a leitura começa a fazer parte da vida de
quem interage com ela; conseqüentemente se iniciará o processo de formação de
leitores. É importante apresentar uma variação de propostas de leitura como
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entretenimento (em revistas de moda, esporte, contos, gibis...) ou como informação
(em jornais, revistas, livros...), ações que poderão despertar interesse e prazer.
“A escola deve ajudar a criança a tornar-se leitor de textos que circulam no
social e não limitá-la a leitura de um texto pedagógico, destinando apenas a
ensiná-lo a ler.”(FONCAMBERT, 1989, p.10 )
Tanto a criança quando lê um conto de fadas, quanto um idoso quando lê um
romance podem fazer uma bela viagem pelo imaginário; ou quando a criança lê um
gibi e um adulto lê uma revista de moda, podem sentir o mesmo prazer. E por que
não utilizar gêneros variados de textos para despertar o gosto e o prazer de ler?
“Quando o trabalho é feito com gosto, fica fácil descobrir a melhor forma de
envolver a turma. É possível analisar o contexto da história, fazer um júri,
uma dramatização, um debate... tudo vai depender da realidade de cada
turma.” (MACHADO, 2001, p.22)
Quando a leitura é feita com gosto e prazer, envolvendo a realidade dos alunos, ela
se torna real e concreta. Facilitando assim o desenvolvimento do trabalho a partir do
contexto da leitura, tornado-se possíveis diversas maneiras de abordagem.
2.4. A Leitura em sala de aula – uma proposta de ação
As propostas a seguir apresentadas são sugestões que podem ser desenvolvidas
com alunos de 7ª série do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio e uma
proposta de ação realizada com alunos de 6ª série, como proposta de pesquisa:
uma proposta de aula a partir de um paralelo com duas obras que têm dois
adolescentes como personagens.
2.4.1. Leitura na 7a série
Aqui seguem algumas sugestões de obra que podem ser desenvolvidas com alunos
de 7ª serie ao 3º ano, como, por exemplo, com a obra Dom Casmurro, de Machado
de Assis. O personagem Bentinho, que quando jovem é cheio de dúvidas, faz o que
a mãe manda e quer, a ponto até de ir para um seminário se preparar para ser
padre; quando adulto, se torna uma pessoa ciumenta e possessiva. Pode-se levar a
turma ao questionamento se atualmente ainda há um jovem quer faz o que seus
pais mandam e até que ponto ciúmes pode tornar uma pessoa infeliz.
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Com a obra Lucíola, pode-se fazer um trabalho centrado na personagem que se
prostitui para poder ajudar a família, levar a turma ao questionamento se hoje há
jovens que chegam a esse estremo para pagar uma faculdade e ter uma futura vida
melhor.
Esses enfoques, que podem ser desenvolvidos entre alunos de 7ª série ao 3º ano do
Ensino Médio, abordam a nossa realidade, apesar de ambas as obras terem sido
escritas há muitos anos atrás; há muita semelhança com a sociedade atual.
Uma outra obra é A Hora da Estrela, de Clarice Lispector, que tem como
personagem uma mulher que sofre muito e mantém um relacionamento em que ela
é inferiorizada. Esse aspecto pode ser analisado a partir do papel da mulher na
sociedade, como ela conseguiu conquistar o seu espaço atualmente.
Com alunos de 7ª e 8ª série, ao serem abordados estes temas dos discursos
narrativos, pode-se planejar atividades vinculadas à proposta de estudo da disciplina
de História sobre a sociedade da época.
Já no Ensino Médio, o vínculo pode se estabelecer entre propostas das disciplinas
de Literatura, Português e História: na Literatura, a leitura das obras, em Português,
produção textual, teatro, etc., e, em História, questões relacionadas à sociedade.
2.4.2 A Leitura na 6ª série –uma prática de ação
A proposta de leitura foi desenvolvida com alunos de sexta série, de uma escola
pública, no Município do Balneário Pinhal, no ano de 2004, objetivando o resgate de
uma prática do hábito de leitura, a partir da motivação e da realidade dos alunos.
O estudo foi desenvolvido com as obras Eu, pescador de mim, de Wagner Costa e
Martin Pescador, de Emilce Webber, que tem como personagem o menino chamado
Martin, um menino pescador que vivia sobre o domínio de uma bruxa, até resolver
enfrentá-la para ter uma vida sossegada. A história se passa nos municípios de
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Palmares do Sul, Praia do Quintão e Balneário Pinhal, local onde os alunos
moravam.
Foram escolhidas essas obras porque uma fala sobre a “busca do eu” e outra sobre
uma criança que é pescadora, uma realidade de muitas crianças do litoral, que
ajudam os seus pais no trabalho.
A história da obra Eu, pescador de mim foi apenas contada à turma e a história do
Martin Pescador foi lida por duas alunas para a turma, por ser um livro que
oportuniza a leitura em aula.
A obra Eu, pescador de mim, tem como personagem Pepê, um menino de 16 anos,
que escreve poemas e quer conhecer o horizonte no mar. Ele resolve largar tudo
por um tempo para ir para alto mar descobrir o horizonte. Pepê enfrenta muitas
dificuldades ao fazer essa viagem longe de casa, mas não desiste de realizar o seu
sonho; porém, com todas as aventuras vividas, ele descobre que o verdadeiro
horizonte estava dentro dele. Ou seja, quem vai dar respostas aos nossos
questionamentos somos nós mesmos, através da busca do que se quer e do que se
quer aprender. Nessa idade o pré-adolescente e o adolescente estão buscando
respostas para seus questionamentos e anseios e até, em algumas vezes, o
adolescente não sabe quem ele ama e quem odeia. Esta obra foi selecionada
porque certamente os alunos se identificaram com os personagens, por serem
adolescentes com questionamentos interiores e morarem no litoral, onde crianças
trabalham na pesca.
Depois de conhecidas as histórias, questionei os alunos sobre a opinião deles sobre
as histórias e como elas seriam estudadas. A maioria dos alunos mostrou maior
gosto pela história de Pepê e escolheram fazer a reprodução em quadrinhos das
duas histórias e criar poemas sobre quem eles eram.
Na atividade com poemas, foram criados acrósticos com o nome dos alunos, com a
palavra horizonte, mar, adolescência, entre outras. A atividade envolveu as
disciplinas de Educação Artística e Língua Portuguesa. Nas aulas de Educação
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Artística, os alunos produziam as histórias em quadrinhos e confeccionaram o barco
onde o personagem Pepê viveu as suas aventuras no mar. As aulas de Língua
Portuguesa foram destinadas à correção das histórias e criação dos poemas.
Quando prontos, convidei os alunos para irem ao bate-papo com o autor Wagner
Costa, na abertura do Espaço Literário em um evento municipal. Como o bate-papo
se realizou no sábado, foram apenas doze alunos, aproximadamente a metade da
turma. Os alunos presentes mostraram muito interesse na conversa com o autor, por
ele falar da sua vida, da sua profissão, de decisões importantes que ele teve que
tomar ao final de sua adolescência e falou também da importância do professor na
vida de um aluno. Também o fato do autor ser paulista, de um lugar distante chamou
a atenção dos participantes, pois eles haviam desenvolvido um trabalho com ele e
naquele momento estavam o conhecendo.
No decorrer da segunda semana do evento, foi feita a exposição dos trabalhos e
contava com a presença da autora Emilce Webber. A sua presença também foi
importante para os alunos, pois esta demonstrou grande admiração pelos trabalhos
expostos, que eram as histórias em quadrinhos, poesia, o barco onde o personagem
Pepê havia vivido as suas aventuras.
Para finalizar a prática, já na outra semana após a exposição dos trabalhos,
questionei os alunos sobre o que a proposta desenvolvida havia significado para
eles e lancei como desafio que eles lessem a obra Eu pescador de mim, a qual eles
já conheciam a história, mas não haviam lido. No final do ano, noventa por cento da
turma fez a leitura e diziam que queriam ler outros livros parecidos com aquele.
Com alunos de 6ª séries, também pode ser desenvolvida, na proposta de resgate
aos leitores, a leitura de Tudo depende de como você vê as coisas, de Norton
Juster, fazendo um paralelo com a obra Eu pescador de mim, pois ambas enfocam a
busca da identidade na adolescência. O que pode se tornar uma ótima proposta aos
alunos de sexta ou sétima série.
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A história do livro Tudo depende de como você vê as coisas narra a trajetória de um
menino chamado Milo, que não sabia o que fazer da sua vida. Não tinha interesse
na escola, nem nos estudos. Tudo para ele era perda de tempo e sem graça. Se
estava na escola queria estar em casa, se estava em casa, queria estar na escola, e
assim era a sua vida. Tudo foi assim até o menino ganhar uma cabine de pedágio
com apenas um folheto que dizia: “Fácil de armar em casa. Para uso daqueles que
nunca viajaram a terras estranhas.” E Milo aceitou fazer essa viagem que o fez
despertar para o prazer da vida através do conhecimento.
A reflexão pode ser feita sobre o que quer dizer viajar a terras estranhas, fazendo
um paralelo entre como se pode viajar através do mundo mágico da leitura.
É possível, pois, quando houver um envolvimento de diversas disciplinas, estiverem
resgatar o leitor que lê com gosto e prazer, e se estará conquistando o processo de
formação de leitores.
“Nós professores de todas as áreas, em vez de nos limitarmos a
choramingar que nossos alunos não têm o hábito da leitura, devemos nos
dedicar a propiciar prazer,diversão, conhecimento, liberdade, uma vida
melhor, enfim. E essas oportunidades terão de ser tantas quantas forem
necessárias para que o aluno passe a gostar de ler e, por isso, contraria a
necessidade da leitura e que esta vire hábito.” (GUEDES, 1998, p.15)
Todos os profissionais da educação devem ser conscientes de que todas as
disciplinas ministradas na escola são de grande valia e todas elas precisam e devem
exercer a leitura.
“O peso da escola é muito maior aqui do que nos países mais
desenvolvidos, onde as pessoas lêem mais. Como ainda não somos uma
sociedade leitora, não podemos esperar que o exemplo venha de casa. Ou
acabaremos condenando as futuras gerações a também não ler. A escola
tem de entrar para quebrar o ciclo vicioso, criando em seu espaço um
ambiente leitor. O mestre tem de dar o exemplo e despertar a curiosidade
de jovens. Ler é gostoso demais. Por isso, é natural que as pessoas
gostem. Basta dar uma chance para que isso aconteça.” (MACHADO, 2001,
p.21)
Essas obras também podem se constituir estudos transversais com enfoques de
Psicologia ou Relações Humanas, abordando a “busca do eu” e de “quem eu sou”.
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Considerações Finais
O desenvolvimento de interesses em leitura é um processo constante, que começa
na família, se aperfeiçoa na escola e continua pela vida em diferentes espaços
sociais. Mas quando esse interesse não vem de casa, resta à escola recuperá-lo.
Para que isso ocorra da melhor maneira é necessário que todos dentro do ambiente
escolar se conscientizem de que todos os educadores são participantes na formação
de cidadãos leitores.
A leitura deve ser prazerosa e não feita por obrigação ou para ganhar uma nota;
deve ser aproveitada como uma atividade gostosa e prazerosa por ser interativa. No
entanto, quando desprovida de crítica, pode levar à simples aceitação mecânica, se
transforma em rotina mecânica, perde seu prazer e, conseqüentemente, não tem
nenhum sentido para quem lê. Sendo assim, não basta apenas incentivar a ler, mas
incentivar o gosto e prazer em praticar a leitura.
Os professores podem mostrar aos seus alunos que ler não é apenas identificar
palavras, mas é viajar sem sair do lugar, romper barreiras e praticar um exercício
gostoso e prazeroso.
Formar leitores não é moldá-los a um padrão mecânico, mas formar cidadãos
críticos, conscientes de que eles podem mudar a sociedade e capazes de se
posicionarem perante os seus ideais. Para que isso aconteça, os educadores devem
trabalhar com a leitura a partir da realidade dos alunos e, então, desafiá-los a
participarem do movimento de uma sociedade letrada através do diálogo com os
escritores, mediado pelos discursos lidos. A sociedade então conta com a escola
para formar cidadãos leitores.
Escolhi estudar este tema, a leitura na escola, porque ao longo desses sete anos
que trabalho como educadora, tenho observado uma falta de interesse em relação à
leitura partindo dos alunos. É um questionamento muito grande por parte dos
professores de como resgatar esse leitor aluno. Quando retornei a estudar, nesse
curso de pós-graduação, alguns professores nos apresentaram algumas sugestões
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de mudança nas propostas de leitura; consiste não em um modelo para ser seguido,
o que muitas vezes acaba acontecendo na educação, e que não resulta em
mudança, apenas em padrão.
Comecei então a compreender o compromisso que temos em mudar essa
sociedade em que vivemos, o que pode ser feito pela interação através do que se lê.
E concordo que um bom lugar para se começar essa mudança é na escola,
formando cidadãos leitores, críticos e conscientes da necessidade de sua
participação no discurso social.
Referências
AZEVEDO,Ricardo. Aspectos da Literatura Infantil no Brasil, hoje. Revista Projeto.
POA,Editora Projeto,Maio de 2002, p. 21
BAMBERGER,Richard. Como incentivar o hábito da leitura.Tradução de Octavio
Mendes Cajado. SP: Cultrix,1977.
COSTA,Wagner. Eu, pescador de mim.SP:Moderna,1995.
FOUCAMBERT. Jean. A leitura em questão.Tradução Bruno Charles Magne. POA:
Artes Médicas,1994.
GUEDES,Paulo Coimbra e outros. Ler e escrever compromisso de todas as áreas.
POA.: Editora da Universidade/UFRGS,1999.
JUSTER,Norton.Tudo depende de como você vê as coisas.Tradução Jorio Dauster;
ilustrações Jules Feiffer. SP: Companhia das Letras,1999.
MACHADO,Ana Maria. A literatura deve dar prazer. Revista Nova Escola.Setembro
de 2001, p. 21
WEBBER, Emilce. Martin Pescador. Palmares do Sul: s/e, 2002.
ZILBERMAN, Regina. A leitura em crise na escola: as alternativas do professor.
POA: Mercado Aberto,1988.
48
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