A OMISSÃO DA FAMÍLIA NAS ATIVIDADES ESCOLARES E O FRACASSO ESCOLAR GT4 - PRÁTICAS INVESTIGATIVAS Joseane Pereira de Souza* Patrícia Mara Medeiros** Tânia Maria de Araujo*** RESUMO Um dos grandes desafios do Brasil nos últimos anos tem sido melhorar a qualidade de ensino, o fracasso escolar é real, atual e desestrutura toda e qualquer política pública que tenha conexão com o sistema educacional. O conteúdo que faz referência a este trabalho tem como objetivo estudar o fracasso escolar e as representações sociais de pais, alunos, e professores no meio popular, sobretudo quando se repensa na escola como um espaço humano e cultural. E como fato real a família não pode eximir-se da culpa do seu papel fundamental, tampouco a escola deve procurar subterfúgios para escapar da culpa. Portanto as questões a que se refere este artigo evidenciam tais representações como responsáveis em analisar com maior profundidade e limites que se atrelam aos mesmos, objetivando elevar o índice de aprovação e desempenho dos envolvidos. O propósito é que a parceria se construa através de uma intervenção planejada e consciente, criando espaços de reflexões e experiências. PALAVRAS-CHAVE: Educação. Discentes. Família. ABSTRACT A major challenge for Brazil in recent years has been to improve the quality of education, school failure is real, current and disrupts any public policy that has connection with the educational system. The content you are referring to this work aims to study the failure and the social representations of parents, students, and teachers in the popular medium, especially when it rethinks the school as a human and cultural. And as actual fact the family can not evade the guilt of his role, nor should the school seek loopholes to escape blame. So the questions that this article refers to evidence such representations to be responsible to analyze in greater depth and limits which lugar to them in order to increase the rate of adoption and performance of those involved. The purpose is that the partnership is built through a planned and conscious action, creating spaces for reflection and experience. KEYWORD: Education. Students. Family. * Graduada em Pedagogia pela Faculdade Pio Décimo e pós graduada em Psicopedagogia Institucional e Clínica pela Faculdade Atlântico-SE. E-mail:[email protected] ** Graduada em Psicologia pela UEM-PR, Especialista em Saúde Mental pela UEM-PR, Mestre em Serviços Social pela UNESP-SP, professora e orientadora da Faculdade Atlântico. Email: [email protected] *** Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal de Sergipe e pós graduada em Psicopedagogia Institucional e Clínica pela Faculdade Atlântico-SE. E-mail: [email protected] 2 1 INTRODUÇÃO Discutir o fracasso escolar é algo muito abrangente, sobretudo quando se repensa na organização da escola como um espaço humano e cultural. Diante dessa problemática “Fracasso Escolar”, os preconceitos e conceitos que os envolvidos no processo ensino aprendizagem estabelecem ao longo dos tempos, têm o propósito de elevar a problemática a uma ótica sobre vários aspectos, não delegando a culpa somente a um determinado grupo como dos pais, professores e ou alunos. Deve-se então, analisar as situações do fracasso de modo unificado, ou seja, problema individual de cada aluno considerado fracassado, sendo assim, promove-se junto com o mesmo uma forma de superar tal problemática, evidenciando sucesso futuro. Contudo as representações sociais do fracasso escolar, manifestado pelos sujeitos da pesquisa, revelam o quanto à escola tem de responsabilidade para com a formação do educando, com sua perspectiva de vida. A elaboração deste trabalho atende não só uma exigência do curso em si, como também possibilitar que as inquietações que nos cercam sejam amenizadas em relação à participação da família e da comunidade frente a todas as etapas do desenvolvimento do ensino e aprendizagem. Sabendo-se que a educação é um processo permanente e coletivo que se desenvolve no ambiente familiar e social. A família é o primeiro grupo social a qual a criança pertence e através desse convívio é que a criança vai desenvolver padrões de socialização, pois os pais são responsáveis em ensinar os primeiros passos a criança, e os primeiros conhecimentos e, a escola dá continuidade a esse processo, é por isso que a participação da família é de fundamental importância. É indispensável que a família e escola sejam parceiras, com os papéis bem definidos, onde não se prática a exigência e sim a proposta, o acordo. A família pode sugerir encontros para a escola, não ficando presos somente às reuniões formais, pois além de ser um bom momento para consolidar a confiança, podem discutir juntos acerca dos seus papéis. A escola pode estimular a participação dos pais, procurando conhecer o que pensam e fazem e obtendo informações sobre a criança. (LOPES, 200, p. 01). Então a família precisa estabelecer uma relação de parceria com a escola, colaborando com o aprendizado e o desenvolvimento do discente, pois através dessa parceria podemos garantir uma educação de qualidade. 3 Ao compreender as representações dos alunos, a escola poderá planejar e agir para que as mesmas possam ser utilizadas e suas vidas sejam uma afirmação da própria vida. Mas, e quando a estrutura educacional sofre alguns abalos geradores de problemas que resultam no fracasso escolar a culpa recai sobre quem, já que somos uma totalidade geradora da aprendizagem? Todavia, o volume de queixas apresentadas em relação às famílias dos alunos é enorme e consoante por todos os profissionais. Estas queixas despertam a curiosidade em conhecer os motivos da ausência da família na escola, quais os efeitos da atual política de coresponsabilidade da educação, que é repartida entre a família e o estado. Partindo desse princípio pensa-se o porquê do corpo docente depender tanto da família, por que os pais estão ausentes, que motivos levam a escola a diferenciar entre “bons” e “maus” os alunos e suas famílias, que por sua vez também é responsável pela aprendizagem da criança, já que são os primeiros ensinantes. Esse artigo possui como objeto uma pesquisa exploratória em referenciais bibliográficos, e de textos disponibilizados na internet. Análises e leituras foram feitas acerca da omissão da família nas atividades escolares e o fracasso escolar, bem como as tendências e, principalmente as lacunas apresentadas pelo mesmo, analisando a visão dos envolvidos no processo ensino aprendizagem. 2 NOVOS CONTORNOS E SIGNIFICADOS DE APRENDIZAGEM Vamos iniciar a discussão recorrentes do campo educacional, que é a questão da aprendizagem escolar. Neste sentido, a escola tem sido questionada sobre como vem perpetuando ao longo do tempo e da tradição escolar as práticas culturais inerentes ao ato de ensinar e aprender. Não obstante a isto se observa também um movimento de inquietação da escola em relação aos questionamentos que tem sofrido por parte de diversos seguimentos sociais, a exemplo do setor produtivo, das famílias dos alunos, dos instrumentos de comunicação, dos sindicatos e de uma série de organização que questionam a escola quanto ao cumprimento do seu papel e da sua função social, pondo em tensão as relações desenvolvidas em uma das principais instituições sociais que estão a serviço do estado na consecução da ordem, do desenvolvimento e da civilidade. É neste contexto que devemos compreender a escola e os significados que suas práticas culturais têm empreendido no alcance da qualidade social da escola no que tange à aprendizagem escolar, diga-se, de passagem que estamos nos referindo a uma escola de 4 orientação inclusiva tendo em vista a preocupação que devemos ter com aqueles que não conseguem obter o êxito desejado no tempo e no espaço pré-estabelecido socialmente. Partindo deste contexto desafiador, torna-se importante que a escola e seus atores, todos os protagonistas do processo de ensino e aprendizagem reflitam sobre a necessidade de se repensar o fazer pedagógico, revendo as formas de ensinar e aprender na tentativa de que possamos instituir uma prática social que inclua em sua simbiose os alunos, e professores, a direção, os funcionários técnicos administrativos, os pais e a comunidade escolar na empreitada de superação das fragilidades educacionais já verificadas. Ainda baseado no pensamento de Oliveira ([s/d]), vejamos a seguinte assertiva: a partir de sua experiência com o mundo objetivo e do contato com as formas culturalmente determinadas de ordenação e designação das categorias da experiência, o indivíduo vai então construindo sua estrutura conceitual, seu universo de significados. Esse é um processo que ocorre ao longo do desenvolvimento intelectual da criança e do adolescente e persiste na vida adulta – o indivíduo está sempre adquirindo novos conceitos, incorporando novas mudanças de significados a eles e reordenando as relações entre os conceitos disponíveis. A cada momento da vida do indivíduo ele disporá então de certa conceitual, a qual é uma espécie de rede de conceitos interligados por relações de semelhança contigüidade, subordinação. 2.1 Causas do Fracasso Escolar Segundo o minidicionário Dermival Ribeiro Rios (2009) da língua portuguesa, a palavra fracasso representa mau êxito; insucesso; fracasso; malogro. Então, compreender a aplicação da terminologia fracasso significa aprender que alguém ou alguma coisa causou interferência no processo de ensino e aprendizagem, sendo esta interferência um obstáculo para a consecução da aprendizagem. Para compreendermos de forma mais ampla as questões que permeiam a aprendizagem, faz-se necessária uma aproximação com a antropologia, a linguagem e a psicanálise. É evidente que uma análise socioeconômica das superestruturas educativas nos permite compreender porque o indivíduo acaba num processo de exclusão sócio educacional, sendo importante que tenhamos clareza de como e quando pode perceber a disfunção da inteligência, e como isto ocorre. 5 Vejamos abaixo a contribuição da pesquisadora Anna Maria Baeta, quando provoca todos os professores sobre a temática do fracasso escolar. Os fatores escolares – quer na perspectiva da prática pedagógica, quer de fatores institucionais – são apontados como tendo um papel considerável na produção do fracasso. Aliás, a produção do fracasso a partir da escola parece ser uma das preocupações dominantes da abordagem das pesquisas que analisam a educação de um prisma contextual. Esta preocupação aparece desde o fatalismo dos que analisam a escola inspirados na Reprodução, até a perspectiva que objetiva o conhecimento da especificidade escolar (...) (BAETA et all, 1982, p. 4) É com base neste escopo que devemos entender que vários são os condicionantes que fomentam as condições para que o fracasso escolar tome corpo e faça crescer vertiginosamente as estatísticas de evasão, reprovação e não-aprendizagem. Para que possamos realizar um diagnóstico psicopedagógico do fracasso escolar é necessário que consideremos os seguintes fatores: orgânicos; específicos; psicógenos e ambientais. A criança que tenha uma dificuldade de aprendizagem não pode ser entendida como uma criança deficiente, ela é uma criança normal que está passando por problemas adaptativos em relação ao contexto escolar. São inúmeros os problemas que podem ser apontados em relação a problemas de aprendizagem, a saber: problemas de audição de fala; impulsividade; problemas psicomotores; desordens de atenção; desordens na memória e no raciocínio; dificuldades específicas de aprendizagem: dislexia, disgrafia, disortografia, dislalia e discalculia; labilidade emocional; problemas gerais de orientação; hiperatividade e sinais neurológicos e equívocos. 2.2 Práticas Constituintes que Respeitem a Singularidade de Cada Educando Iniciamos nossa discussão neste conteúdo com uma reflexão sobre a aprendizagem e sobre como processamos a nossa prática pedagógica, uma vez que parafraseando o texto de Olavo Bilac, onde fica visível que a relação do pássaro que se pudesse falar cantaria para nossos ouvidos o tipo de alpiste que gostaria de comer, então será que o tipo de ensino que ofertamos é o que os alunos necessitam e desejam obter? Neste sentido, é sabido por todos que aprendizagem ocorre pelas interações vivenciadas pelo indivíduo onde o desenvolvimento das habilidades, das analogias, das 6 apreciações, dos raciocínios, bem como as aspirações, as atitudes e os valores do homem são construídos. Como já vimos, a aprendizagem ocorre no processo de transmissão da cultura, na interação do processo, na busca de significados dos signos ou símbolos sociais. Pois, à medida que o sujeito exerce atividade sobre o mundo, podemos observar que as múltiplas experiências realizadas permitem conhecer a influência da qualidade e da quantidade de estímulo na aquisição de hábitos mecanizados, na possibilidade de reconhecimento, no estresse muscular causado pela repetição e nas mudanças de aprendizagem pela interação de uma série de estímulos. Quando estamos pensando em qualificar a prática pedagógica focada na ação final que é a aprendizagem, torna-se salutar que a avaliação pedagógica seja vista não como um instrumento de detecção de falhas e/ou dificuldades dos alunos, mas sim como um campo de atuação em aberto para que o professor possa atuar na resolução de problemas no que tange à aprendizagem. 2.3 O Prazer de Ensinar X o Prazer de Aprender Fazer uma opção por uma pedagogia que privilegia o aprender e o ensinar de forma prazerosa tem sido um grande desafio para todos os educadores. Tradicionalmente, a prática educativa não reserva espaço para que a ação pedagógica contemple relações prazerosas na interação do sujeito com o conhecimento. Um grande número de educadores e de teóricos renomados tem construído um discurso em defesa de que as práticas em educação são essenciais ao exercício do ensino e da aprendizagem de forma prazerosa para ambos os protagonistas do processo educativo. Infelizmente, a aprendizagem, durante muitos séculos, esteve centrada no esforço e na renúncia, só permitindo o prazer sob formas perversas. Discute-se no circuito acadêmico que o prazer de aprender e o prazer de ensinar devem coexistir no espaço educacional, o que se observa é que cada um desses aspectos são trabalhados separadamente ou quase sempre de forma antagônica. O prazer de ensinar e aprender ocorre quando o professor, enquanto mediador do processo de ensino e aprendizagem trazendo a cena os alunos para que juntos (re) construam e dêem significados ao conhecimento historicamente construído, vai aos poucos instaurando novas posturas e mecanismos de participação dos alunos na relação junto e com o professor para que o sentido do aprender seja compartilhado e entendido por parte do mediador, o 7 professor responsável pela condução ao saber e pelo aluno que se torna desejoso e seduzido pela apreensão do conhecimento. 3 DIAGNÓSTICO DO PROBLEMA DE APRENDIZAGEM Aprender e ensinar são ações, verbos que possuem tal importância nas nossas vidas que muito intensivamente tem sido feito no sentido de compreender a maneira, os insumos e a forma como se processam. Inerente ao ato de ensinar e aprender nos aparece a questão da avaliação. Há no campo teórico e conceitual, uma série de conhecimentos sobre os elementos basilares e as formas mais adequadas de ensinar e aprender. Esses conhecimentos constituem variadas teorias, muitas vezes polarizadas e ambíguas entre si. De um lado temos as idéias comportamentalistas e de outro as cognitivistas. Para os comportamentalistas a aprendizagem é resultado da mudança de comportamento. Já para o cognitivista o conhecimento é elaborado a partir das operações mentais realizadas pelo sujeito no processo subjetivo de interação com o espaço e o meio ambiente. A epidemia das dificuldades de aprendizagem projeta-se não só em problemas pedagógicos como também em problemas econômicos e sociais. Vivemos numa sociedade competitiva, onde o diploma é sinônimo de salvo conduto e de sobrevivência social. O êxito escolar impõe como uma hiperexigência dos pais e, muitas vezes, como um meio de promoção profissional dos professores. A sociedade impõe à instituição escolar uma dimensão produtiva, onde a matéria-prima é a criança e o instrumento de produção, o professor. Ambos são vítimas de um sistema social que se exige transformar. (FONSECA, 1995, p. 241). É neste cenário de cobranças e altas demandas por parte do segmento social que a criança é burilada através de práticas pedagógicas uniformizadas e descontextualizadas, o que se torna forte contributo para seu fracasso escolar. As dificuldade de aprendizagem podem inferir no comportamento da criança, refletindo no jeito de brincar ou desenhar, na forma de pensar e sentir. A ação da criança ou de qualquer pessoa reflete, enfim, sua graduação mental, o nível de desenvolvimento cognitivo e afetivo emocional. Para identificarmos uma criança ou adolescente com problemas de aprendizagem devemos atentar para alguns sintomas como: saber: esforça-se por aprender, mas não 8 consegue, perde objetos frequentemente, é desorientada, atrapalha-se ao falar, coordena mal os movimentos, tem pró-ativas, sabe muita coisa, mas, não aprende a ler e escrever. Vitor da Fonseca ainda esclarece que: A aprendizagem escolar está muito ligada a uma atitude seletiva da sociedade, que se reflete na própria prática pedagógica do professor e da ansiedade dos pais. Se a criança não alcança o êxito escolar, logo se suspeita de alguma disfunção cerebral ou eventualmente de algum problema de maturação do sistema nervoso. (1995, p. 243) 3.1 Ação Diagnóstica Institucional A prática pedagógica reconhece que a criança deve desenvolver-se por meio de uma ação de aprendizagem junto à família ou ao grupo social, ou então na escola, onde a tarefa de aprender é intencional e sistemática. Cabe ao psicopedagogo a função de antecipar situações em que possam gerar uma aprendizagem frustrante, formando uma opinião e orientando o trabalho do educador para que este desempenhe seu papel de forma segura e afetiva. Quando se percebe um obstáculo no processo de aprendizagem da criança, o psicopedagogo clínico atua no sentido de reintegrar o aprendiz ao contexto socioescolar, agindo na reconstrução do resgate do poder de simbolizar, criar e reagir ativamente na consolidação do conhecimento. Durante o processo de intervenção o psicopedagogo atua como objetivo de diminuir a defasagem cognitiva e inter-relacional. Ao se deparar com os problemas e as dificuldades de aprendizagem do educando, cabe a tarefa de buscar saberes inerente a outras áreas para que aconteça a construção de um panorama diagnóstico.. Alguns cuidados são indispensáveis para a construção do diagnóstico interdisciplinar: Discussão prévia da equipe e Análise coletiva dos dados. Quando nos referimos à discussão prévia da equipe podemos dizer que os problemas de aprendizagem devem ser identificados como proceder a uma avaliação psicopedagógica, como partilhar avaliação em etapas, como proceder aos registros e relatos de anamnese que possam ser compreendidos pelos outros membros da equipe interdisciplinar. As análises da equipe interdisciplinar para interpretação e troca pessoal de observações e resultados é salutar para que se possa construir uma imagem global paciente, no que se concebe quanto à aprendizagem e ao desempenho escolar. Sem que haja uma troca 9 de saberes interdisciplinares, o diagnóstico se transforma em documentos isolados de forma parcial e descontextualizada. Independente do profissional que se coloca frente ao aluno e à sua família é imperioso que este sujeito possa atuar com uma visão ampla e seja encaminhado ao profissional mais adequado para o caso ou, dentro de seus próprios recursos, agindo de forma mais eficaz no problema de diagnóstico e de prognóstico. 4 A IMPORTÂNCIA DA QUALIDADE DE VIDA: EM CASA, NA ESCOLA E NA RUA. Quando nos propomos a discutir as relações desenvolvidas pela criança em casa, na escola e na rua, queremos instaurar uma reflexão sobre as influências na escola e, principalmente, na aprendizagem como resultado das vivências. A aprendizagem como resultado das vivências. A aprendizagem é um processo, isto é, uma atividade interior que é desencadeada no interior, que começa e possui meio e fim. Esse processo é algo muito particular, mas pode ser influenciado, com êxito, por pessoas habilitadas e pelo meio enriquecido de estímulos e técnicas. A criança é uma máquina pronta a desencadear este processo, a qualquer momento. Nossos métodos tradicionais de ensino só exploram uma parte mínima das aptidões e da capacidade de aprender do ser humano. Há muitas causas que perturbam a realização deste processo, a exemplo de: tensão afetiva, conflito, angustia e ansiedade – podendo ser apontados como causadores de queda no rendimento escolar da criança e provocando distúrbios intelectuais e até mesmo físicos. Em relação à carência afetiva, como consequência do abandono dos pais e da falta de amor, é uma das principais causas de baixo rendimento escolar. Pode haver situações em que a criança apresente na escola comportamento ambivalente. A necessidade de se estabelecer uma relação afetiva exige-se dos colegas e dos professores, na tentativa de obter certa compensação, mas também provoca atitudes hostis e agressivas em relação às mesmas pessoas. A criança, temerosa, com medo de ser rejeitada, passa a ter comportamentos sociais pouco ajustados. 5 IMPORTÂNCIA DO MEIO FAMILIAR NO APRENDIZADO 10 O meio familiar tem uma grande importância e significado na consolidação da aprendizagem do sujeito. Podemos encontrar diferenças entre as crianças de lares menos favorecidos e crianças da classe média, pois é visível que o estágio de desenvolvimento em que a criança se encontra, no que diz respeito à aquisição da lecto-escrita e do pensamento lógico matemático, são influenciado pelo estímulo decorrentes do ambiente em que a criança está inserida. Uma criança que vive no lar um clima de violência e agressão, que aprendeu as normas do comportamento social com pancadas e ameaças, ao encontrar na escola e na classe um ambiente democrático e acolhedor, poderá confundir a atitude da escola e do professor como sinal de fraqueza e tentar tirar proveito disto, dando vazão a toda revolta reprimida pelo medo em casa. A criança acostumada a ter todas as suas vontades satisfeitas em casa vai querer a mesma coisa quando for à escola e isto causa também violência, já que ela terá que se submeter às normas escolares e naturalmente se revoltará, porque não tem o hábito da obediência e do respeito. A presença de comportamento violento nas escolas muitas vezes tem sua gênese na origem das condições familiares que o estudante encontrou na primeira infância. A criança anti-social é, geralmente, o produto de um dos dois tipos de extremos de educação – o excesso de autoridade e/ou a ausência de autoridade ou permissividade total. O excesso de autoridade pode ser entendido quando a criança é radicalmente castigada pelos pais; e a ausência de autoridade como a permissividade completa, pois os pais deixam a criança fazer o que bem quer e na hora que quer. Em uma família ajustada à atmosfera familiar é equilibrada quando os pais assumem seus papéis, e assim colaboram para evitar determinados desajustes na formação da personalidade da criança, como também na forma de se conduzir nos diversos segmentos sociais dos quais participa. Quando ocorrem processos de desajustamento, a perturbação ou a origem perturbadora do comportamento encontra-se no indivíduo. Esta situação se origina e permanece no interior do sujeito. Em qualquer situação ocorre uma perturbação, pois faz parte de sua pessoa. Sua solução foge da alçada do orientador educacional, do professor, terapeutas especialistas, psiquiatras, psicólogos, psicopedagogos e demais profissionais que trabalham com a orientação psicopedagógica. 11 A adaptação ou desadaptação ocorre quando uma criança pode ter um sistema nervoso perfeito, quando possui um amadurecimento conflituoso adequado e não aprende por ser um mau aluno devido ao seu relacionamento conflituoso. A situação causadora da não aprendizagem não surge exclusivamente de dentro do aluno, mas nasce do relacionamento dele com os colegas, dele com os professores, dele como escola, enfim. É uma situação de inadaptação que poderá ser solucionada com a transferência do aluno para um lugar onde seja possível construir uma relação adequada. 5.1 Princípios Para uma Proposta de Interação Escola-família O presente estudo assume uma proposta de interação escola-família que está baseada nos seguintes princípios norteadores: (CADERNO ESCOLA, 2009) • A educação de qualidade, como direito fundamental de todas as pessoas, tem como elementos essenciais a equidade, a relevância e a pertinência, além de dois elementos de caráter operativo: a eficácia e a eficiência. • O Estado (nos níveis federal, estadual e municipal) é o responsável primário pela educação escolar. • A escola não é somente um espaço de transmissão da cultura e de socialização. É também um espaço de construção de identidade. • O reconhecimento de que a escola atende alunos diferentes uns dos outros possibilita a construção de estratégias educativas capazes de promover a igualdade de oportunidades. • É direito das famílias terem acesso a informações que lhes permitam opinar e tomar decisões sobre a educação de seus filhos e exercer seus direitos e responsabilidades. • O sistema de educação, por meio das escolas, é parte indispensável da rede de proteção integral que visa assegurar outros direitos das crianças e adolescentes. • A proteção integral das crianças e adolescentes extrapola as funções escolares e deve ser articulada por meio de ações que integrem as políticas públicas intersetoriais. 6 BREVE HISTÓRIA DA RELAÇÃO ESCOLA-FAMÍLIA NO BRASIL Tanto a escola quanto a família, as duas instituições cuja relação é nosso objeto de análise, sofreram transformações profundas ao longo da nossa história. Mediador e regulador dessa relação, o papel do Estado também foi se modificando. Ao percorrer esta história, 12 podemos compreender a origem de algumas idéias que ainda hoje estão presentes no pensamento educacional e verificar sua atualidade ou anacronismo. A recuperação deste fio de meada pode inspirar cada município a identificar conexões desse cenário geral com a história local, com seus traços específicos, e assim melhor compreender o terreno simbólico no qual irá atuar. De onde vem a escola que conhecemos e as idéias que ainda aceitamos? Com a instituição da República em 1889, surge no Brasil à escola como a conhecemos hoje, considerada fundamental para a construção da sociedade: a escola contemporânea 6.1 Interação Escola-família Os subsídios para práticas escolares nascem marcados pelo ideário da civilização e do progresso para todos. A ação educacional no Brasil começou ainda no período colonial, como uma ação para as elites, calcada nos valores da cultura européia, de conteúdo livresco e aristocrático. Para as classes populares, a educação, quando existia, voltava-se para a preparação para o trabalho e era quase uma catequese – o objetivo principal era moralizar, controlar e conformar os indivíduos às regras sociais. Nos primeiros anos da República, as poucas escolas primárias existentes – criadas ainda no período do Império – atendiam cerca de 250 mil alunos, em um país com cerca de 14 milhões de habitantes, dos quais 85% eram analfabetos. Até o final do século XIX, o abismo entre os setores da sociedade brasileira no que se refere à educação manteve-se praticamente inalterado: enquanto os filhos dos fazendeiros eram enviados à Europa para aprofundar seus estudos, formando a elite política e intelectual do país, a imensa maioria da população era analfabeta. Foi especialmente a partir da proclamação da República em 1889 que a escolarização ganhou impulso em direção à forma escolar que conhecemos atualmente. Podese mesmo afirmar que a escola se transforma numa instituição fundamental para a sociedade brasileira há pouco mais de 100 anos, e nesse sentido, ela pode ser considerada uma instituição republicana. No ideário republicano a educação escolar se associava à crença na civilização e no progresso. Apesar da importância conferida à educação pela República, não se verificou uma substancial melhoria da situação de ensino: o recenseamento de 1906 apresentou uma média nacional de analfabetismo de 74,6%. 13 Com a criação das escolas públicas pelo novo regime, começa-se a questionar a capacidade da família para educar os filhos. É neste quadro de contraposição da educação moderna que à educação doméstica se consolidam com as primeiras idéias – que resistem ao tempo, mesmo fora de contexto –, de que as famílias não estavam mais qualificadas para as tarefas do ensino. Além de terem de mandar os filhos à escola, os familiares precisavam também ser educados sobre os novos modos de ensinar. O Estado passa a ter um maior poder diante da família, regulando hábitos e comportamentos ligados à higiene, saúde e educação. 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS Durante o desenvolvimento deste tema de estudo a psicopedagogia, vista como uma (re) leitura do processo de aprendizagem foi suscitada a nossa atenção para as questões que permeiam o processo de ensino e aprendizagem. Quando fazemos menção sobre os novos contornos e significados que a aprendizagem tem tomado nos últimos tempos queremos refletir sobre o modelo escolar vigente e a necessidade de que a escola faz uma revisão geral de suas práticas, pois os tempos são outros, os alunos mudaram e os conceitos, os conteúdos e as formas de ensinar pouco mudaram ou quase nada mudaram. Se procedermos a uma análise profunda e coerente das práticas escolares, podemos encontrar uma série de indicadores que gestam as causas do fracasso escolar. Discutir quais as causas e as consequências do fracasso escolar é importante para que a escola e o professor, de forma específica e qualificada, possam empreender uma ação pedagógica com vistas à superação das dificuldades, ampliação das oportunidades e qualificação da escola através de sua função social e de seu papel para a emancipação das sociedades. O ideal seria ter uma relação efetiva entre pais e escola, possibilitando um espaço de conquista a fim de esclarecer possíveis dúvidas dos pais, quanto à aprendizagem de seus filhos/alunos enfim a respeito do trabalho realizado pela escola. Segundo Silva (2008, p.01) Aí entra a parceria família / escola. Uma conversa franca dos professores com os pais, em reuniões simples, organizadas, onde é permitido aos pais falarem e opinarem sobre todos os assuntos será de grande valia na tentativa de entender melhor os filhos/alunos. A construção desta parceria deveria partir dos professores, visando, com a proximidade dos pais na escola, que a família esteja cada vez mais preparada para ajudar seus filhos. Muitas 14 famílias sentem-se impotentes ao receberem, em suas mãos os problemas de seus filhos que lhe são passados pelos professores, não estão prontas para isso. A escola tem grande importância educacional na formação do ser social, por isso, a sintonia entre escola e família é fundamental para que criem uma força de trabalho capaz de provocar a mudança da estrutura social. Portanto, a parceria de ambas é necessária para que juntas atuem como agentes facilitadores do desenvolvimento pleno do educando. O comparecimento e o envolvimento devem ser permanentes e, acima de tudo, construtivos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALESSANDRINI, Cristina Dias. O desenvolvimento do grafismo arte & linguagem visual. INPG – Aracaju-se / julho de 2005. MIMEO. ANDRADE, Carlos Drumond de. As impurezas do branco. 4. ed. Rio de Janeiro: Editora José Olympio, 1978. ANTUNES, Celso. Como desenvolver conteúdos explorando as inteligências múltiplas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001. n. 3. ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo: antissemitismo, imperialismo e totalitarismo. Trad. Roberto Raposo. 8. Ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. BECKER, Fernando. 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