LÉVY, Pierre. O que é o virtual? Tradução de Paulo Neves. São Paulo: ed, 34, 1996. “ [...] o hipertexto contribui para produzir aqui e acolá acontecimentos de atualização textual, de navegação e de leitura.” (p.20) “A multiplicação dos meios de comunicação e o crescimento dos gastos com a comunicação acabarão por substituir a mobilidade física? Provavelmente não, pois até agora os dois crescimentos sempre foram paralelos. As pessoas que mais telefonam são também as que mais encontram outras pessoas em carne e osso.” (p.23) “[...] Todos os textos públicos acessíveis pela rede Internet doravante fazem virtualmente parte de um imenso hipertexto em crescimento ininterrupto. Os hiperdocumentos acessíveis por uma rede informática são poderosos instrumentos de escrita-leitura coletiva. [...] A partir do hipertexto, toda leitura tornou-se um ato de escrita” (p.46) “É o computador cujo centro esta em toda parte e a circunferência em nenhuma, um computador hipertextual, disperso, vivo, pululante, inacabado, virtual, um computador de Babel: o próprio ciberespaço.” (p.47) “No ciberespaço, como qualquer ponto é diretamente acessável a partir de qualquer outro, será cada vez maior da tendência a substituir as cópias de documentos por ligações hipertextuais: no limite, basta que o texto exista fisicamente uma única vez na memória de um computador conectado à rede para que ele faça parte, graças a um conjunto de vínculos, de milhares ou mesmo de milhões de percursos ou de estruturas semânticas diferentes.” (p.48) “No mundo digital, a distinção do original e da cópia há muito perdeu qualquer pertinência. o ciberespaço está misturando as noções de unidade, de identidade e de localização” (p.48) “Os dispositivos hipertextuais nas redes digitais desterritorializaram o texto” (p.48) “Chamo “inteligência” o conjunto canônico das aptidões cognitivas, a saber, as capacidades de perceber, de lembrar, de aprender, de imaginar e de raciocinar. Na medida em que possuem essas aptidões, os indivíduos humanos são todos inteligentes. No entanto, o exercício de suas capacidades cognitivas implica uma parte coletiva ou social geralmente subestimada.” (p.97) “Nossa inteligência possui uma dimensão coletiva considerável porque somos seres de linguagem. Por outro lado, as ferramentas e os artefatos que nos cercam incorporam a memória longa da humanidade. Toda vez que os utilizamos, recorremos portanto á inteligência coletiva. As casas, os carros, as televisões e os computadores resumem linhas seculares de pesquisa, de invenções e de descobertas. Cristalizam igualmente os tesouros de organização e de cooperação empregados para produzi-los efetivamente.” (p. 98) “O universo de coisas e de ferramentas que nos cerca e que compartilhamos pensa de nos mil maneiras diferentes. Deste modo, mais uma vez, participamos da inteligência coletiva que as produziu.” (p.99) “Presidindo aos tipos de interação entre os indivíduos, as “regras do jogo” social modelam a inteligência coletiva das comunidades humanas assim como as aptidões cognitivas das pessoas que nelas participam.” (p.99) “[...] a dimensão social da inteligência está intimamente ligada ás linguagens, ás técnicas e às instituições, notoriamente diferentes conforme os lugares e as épocas.” (p.99) “Como um dos principais efeitos da transformação em curso, aparece um novo dispositivo de comunicação no seio de coletividades desterritorializadas muito vastas que chamaremos “comunicação todos-todos”. É possível experienciar isso na Internet, nos chats, nas conferências ou fóruns eletrônicos, nos sistemas para o trabalho ou para a aprendizagem cooperativos [...] Com efeito, o ciberespaço em via de constituição autoriza uma comunicação não midiática em grande escala que, a nosso ver, representa um avanço decisivo rumo a formas novas e mais evoluídas de inteligência coletiva.” (p.13) “No ciberespaço, em troca, cada um é potencialmente emissor e receptor num espaço qualitativamente diferenciado, não fixo, disposto pelos participantes, explorável.” (p.113) “Ou o ciberespaço reproduzirá o midiático, o espetacular, o consumo e informação mercantil e a exclusão numa escala ainda mais gigantesca que hoje [...] Ou acompanhamos as tendências mais positivas da evolução em curso e criamos um projeto de civilização centrado sobre os coletivos inteligentes: recriação do vínculo social mediante trocas de saber, reconhecimento, escuta e valorização das singularidades, democracia mais direta, mais participativa, enriquecimento das vidas individuais, invenção de formas novas de cooperação abertas para resolver os terríveis problemas que a humanidade deve enfrentar, disposição das infraestruturas informáticas e culturais da inteligência coletiva.” (p.118) “A extensão do ciberespaço representa o último dos grandes surgimentos de objetos indutores de inteligência coletiva. O que torna a Internet tão interessante? Dizer que ela é “anarquista” é um modo grosseiro e falso de apresentar as coisas. Trata-se de um objeto comum, dinâmico, construído, ou pelo menos alimentado, por todos os que o utilizam. Ele certamente adquiriu esse caráter de não-separação por ter sido fabricado, ampliado, melhorado pelos informatas que eram seus principais usuários. Ele faz uma ligação por ser ao mesmo tempo o objeto comum de seus produtores e de seus exploradores. “(p.129) “O ciberespaço oferece objetos que rolam entre os grupos, memórias compartilhadas, hipertextos comunitários para a constituição de coletivos inteligentes. Deve-se distingui-lo, em primeiro lugar, da televisão, que não cessa de designar poderoso ou vítimas a massas de indivíduos separados e impotentes.” (p.129) “A questão não é portanto banir o comércio da Internet (por que proibi-lo?), mas preservar uma maneira original de construir coletivos inteligentes, diferente daquela que o mercado capitalista induz.” (p.129)