AESB – ASSOCIAÇÃO DE ENSINO SUPERIOR DE BARREIRAS
FASB – FACULDADE SÃO FRANCISCO DE BARREIRAS
DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA CAPRINOCULTURA DE CORTE
NO ESTADO DA BAHIA
Ruberval Lima dos Santos
BARREIRAS - BA
MAIO/2001
Ficha Catalográfica preparada pela Divisão de Processos Técnicos da
Biblioteca Central da FASB
S237d
Santos, Ruberval Lima dos
Diagnóstico da Cadeia Produtiva da Caprinocultura de Corte no
Estado da Bahia / Ruberval Lima dos Santos – Barreiras : FASB, 2001
40p.
Monografia apresentada no curso de Especialização da Faculdade
São Francisco de Barreiras sob a orientação de Ivanir Maia da Silva.
Bibliografia
1. Caprinocultura.
II. Título.
2.
Bahia.
I. Santos, Ruberval Lima dos
CDD 636
2
RUBERVAL LIMA DOS SANTOS
DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA CAPRINOCULTURA DE
CORTE NO ESTADO DA BAHIA
Monografia apresentada à Faculdade São
Francisco de Barreiras como parte das
exigências do curso Lato Sensu – Administração em Agribusiness, para obtenção
do título de Especialista.
Orientador: Prof. MSc Ivanir Maia da Silva
BARREIRAS – BA
Maio/2001
3
RUBERVAL LIMA DOS SANTOS
DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA CAPRINOCULTURA DE CORTE NO
ESTADO DA BAHIA
Prof. Msc. Ivanir Maia da Silva
(Orientador)
Aprovada em 23 de agosto de 2001
Prof. Msc. Antonio Marcos Vivan
-
FASB
Prof. Msc.
-
FASB
Erick Rojas Cajavilca
BARREIRAS, BA
2001
4
Compreensão e apoio são fundamentais para este tipo de trabalho. E isto vocês me
hipotecaram ao longo da caminhada. Obrigado.
DEDICO A MINHA ESPOSA ANA E A MEUS
FILHOS RONNEY, ROBSON, RUBENILSON,
RUBERVÂNIA E ALINE.
5
AGRADECIMENTOS
Ao longo da caminhada avistei pedras, mas
alguém sempre as tirava do caminho,
facilitando assim minhas pegadas. (o autor).
Inicialmente, ao Grande Arquiteto do Universo. D`ELE adveio o Espírito, a Obstinação, a
Garra, insumos basilares na construção de qualquer projeto de vida.
Quero agradecer a todos que, direta e indiretamente, pontificaram em contribuição para a
conclusão deste trabalho, quer com atitudes, quer com gestos ou mesmo intenção.
A minha querida mãe Elizabete, “ in memorian”,
Aos Drs. José Cabral de Sousa, da EBDA, e Paulo Leiro Baqueiro pelo apoio maciço e
incentivo.
Aos Professores Antonio Vivan, Pedro Bérgamo, Fátima Bevenuta, Ivanir Maia, Lázaro
Camilo, Sergivaldo Bispo, Airton Pinto, pelos ensinamentos e conhecimentos transmitidos,
jamais subestimados por nós.
À Coordenação, na pessoa do Prof. Antonio Vivan e da secretária do I Curso de
Especialização em Agribusiness, Emília Karla Pignata, que em nenhum momento
escusaram-se de suas atribuições, tudo abraçando para o sucesso do mesmo.
Aos Srs. criadores de caprinos e ovinos, que não mediram esforços quando da participação
decisiva na pesquisa, e cujo compromisso me reserva a inquietante situação de não revelar
os nomes, lhes credencio o escopo desta monografia.
Ao bibliotecário Elton Luis, pelo empenho e profissionalismo a mim prestados, por ocasião
da conferência da bibliografia consultada.
Aos colegas de trabalho do ETENE, José Maria Marques e Francisco Evangelista. A
compreensão e o incentivo de vocês foram decisivos.
Ao Banco do Nordeste, cada vez mais preocupado com a capacitação de seus profissionais,
pela oportunidade ímpar e pela missão a mim confiada, meu muito obrigado.
Finalmente, quero externar meus sinceros agradecimentos pelo empenho do Mestre Ivanir
Maia, orientador zeloso, de quem as idéias serviram de esteio para o início, meio e fim
deste trabalho.
6
SUMÁRIO
RESUMO..........................................................................................................................
8
1. INTRODUÇÃO........................................................................................................... 9
2. OBJETIVOS................................................................................................................ 11
2.1 - Objetivo Geral..................................................................................................... 11
2.2 - Objetivos Específicos.......................................................................................... 11
3. METODOLOGIA........................................................................................................ 12
3.1 - Objeto de estudo.................................................................................................. 12
3.2 - Procedimentos para pesquisa............................................................................... 12
4. CENÁRIOS DA CAPRINOCULTURA DE CORTE................................................. 13
4.1 - Caracterização do ecossistema pecuário nordestino........................................ 14
4.2 - Os sistemas de exploração praticados na caprinocultura de corte nordestina...... 18
4.2.1 - O sistema tradicional de exploração de caprinos..................................... 19
4.2.2 - O sistema de exploração “progressivo” de caprinos................................ 20
4.3 - Aspectos produtivos e reprodutivos..................................................................... 21
5 - ASPECTOS DA CADEIA PRODUTIVA............................................................... 25
5.1 - Entraves do setor.............................................................................................. 25
5.1.1 - Baixo nível técnico dos produtores....................................................... 26
5.1.2 - Insuficiência e alto custo do capital financeiro...................................... 27
5.1.3 - Comercialização, processamento e marketing inapropriados............. 27
5.2 - Agentes da cadeia produtiva........................................................................... 28
5.3 - Aspectos financeiros da atividade................................................................... 31
6 - CONCLUSÕES....................................................................................................... 34
7 - BIBLIOGRAFIA.................................................................................................... 37
7
RESUMO
A abertura dos mercados forçou a atividade agropecuária e todos os demais
setores da economia nacional, a otimizarem as suas unidades produtivas a fim de se
tornarem mais competitivas.
Estudos comprovam que a pecuária do sertão nordestino está estagnada e seu
crescimento não consegue sequer acompanhar o da população humana que, nos últimos
trinta anos aumentou cerca de 140%, enquanto o rebanho bovino cresceu 51%; o ovino,
47% e o caprino, 45%. Uma grande parte dos agricultores é excessivamente dependente
do crédito rural e está exposta aos riscos e a vulnerabilidade do clima, pragas e mercados.
A escolha deste estudo recai sobre a cadeia produtiva da caprinocultura de corte
por ser um instrumento gerador de mão-de-obra fixando o homem ao campo e uma opção
alimentar de grande valor nutritivo. Busca-se fazer uma abordagem sobre a forma atual de
exploração caprina pelos produtores e o relacionamento com o ambiente institucional.
As características geográficas do Nordeste Brasileiro lhe credenciam como região
vocacionada para a produção de caprinos. Não só por apresentar aproximadamente 90% do
rebanho brasileiro, mas principalmente pela importância sócio-econômica que ela
representa.
Os maiores entraves ao crescimento da atividade, dizem respeito a crédito
insuficiente, baixo nível técnico, a comercialização e a questões culturais. A maioria dos
produtores rurais, geralmente de baixo nível educacional, resiste em aceitar novas
tecnologias e a diversificar a sua produção por indisposição ou por não dar status.
Como os recursos governamentais são escassos para oferecer crédito, seguro
agrícola e insumos a todos os produtores, a saída será a diversificação da produção e a
gradualidade tecnológica. Fatores estes que dependem muito mais de capacitação que de
intervenção estatal.
É indiscutível a necessidade de se melhorar os índices produtivos da
caprinocultura na Bahia e conhecer as interrelações de sua cadeia. Aliado a isso, é
necessário se formar um novo cidadão rural com conhecimentos e atitudes que lhe
permitam solucionar seus próprios problemas.
8
1 - INTRODUÇÃO
Com o advento das
mudanças nas relações comerciais internacionais, que
propiciou a abertura dos mercados, a atividade agropecuária, assim como os demais
setores da economia nacional, vêm buscando otimizar as suas unidades produtivas, a fim
de tornarem-se mais competitivas. Neste contexto, torna-se imperativo à caprinocultura
nacional, e em especial à nordestina, obter uma maior eficiência produtiva. Pois trata-se
de um segmento de grande importância para a diversificação da produção.
A falta de diversificação produtiva além de tornar os agricultores excessivamente
dependentes do crédito rural, os expõe a desnecessários riscos e vulnerabilidade de clima,
pragas e mercados. Para diversificar a produção agropecuária se requer muito mais de
capacitação que de complexos mecanismos de intervenção estatal, cujas frondosas
burocracias acabam consumindo os escassos recursos destinados à operação de tais
mecanismos.
Se os governos não estão em condições de oferecer crédito rural, seguro agrícola e
insumos a todos os produtores, a eficiente diversificação e verticalização da atividade
agropecuária deveria ser o “seguro agrícola” do produtor, sua “agência de crédito”, “sua
fábrica de alguns insumos”, seu “supermercado”, sua “agroindústria”, a “agência de
empregos” para todos os membros da família durante os 365 dias do ano.
A diversificação e a gradualidade tecnológica, horizontal ou vertical, são medidas
endógenas que liberam as famílias rurais da dependência de várias soluções exógenas e
geralmente inacessíveis; muito especialmente do crédito que é cada vez mais caro e
escasso.
A maior participação do efetivo do rebanho caprino da região nordeste em relação
às demais regiões do país – cerca de 90% do total de 15.987.286 cabeças existentes
(ANUALPEC, 1998), bem traduzem a vocação natural da região para a exploração desta
espécie de pequenos ruminantes, mercê da significativa adaptação às condições de clima,
solo, vegetação e demais condições propícias.
É grande a importância econômica
9
representada pela atividade para a região, especialmente como oferta de proteína animal às
populações do meio rural e de baixa renda, e da oferta de peles para a indústria.
Dois dos mais importantes segmentos da sociedade que estão a exigir o
fortalecimento da caprinocultura no nordeste brasileiro são a questão migratória e a
alimentar. Pesquisa realizada pelo Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste
– ETENE, apontava: “Da população rural do nordeste, 57% almejam ir para o resto do
país, 21% para as capitais do nordeste. Apenas 4,9% dos que pretendem migrar pensaram
em ficar na zona rural. Dos que planejam migrar, 60% estão na faixa etária de 18 aos 29
anos. Um total de 78% dos investigados indicaram o desemprego e inadequadas condições
de vida. Vale salientar que a pesquisa foi realizada em época de condições pluviométricas
normais.
10
2. OBJETIVOS
2.1 – Objetivo Geral
Tema dos mais questionados na atualidade, a alimentação humana se desponta
como o mais importante no cenário mundial. Estima-se que no ano 2030, a população do
planeta estará em torno dos 8 bilhões de habitantes. Em ordem inversa, os processos de
desertificação, quer pelas forças da natureza, quer resultante da ação do próprio homem,
evoluiu a tal ponto que, essas áreas hoje cobrem cerca de 40% da superfície do globo.
Urge, portanto, ampliar as alternativas alimentares existentes sobretudo em áreas
potenciais.
2.2 – Objetivos Específicos
A escolha deste estudo recai sobre a cadeia produtiva da caprinocultura de corte,
pelo aspecto visionário do que possa estar
reservado a essa espécie animal, como
instrumento gerador de mão-de-obra e como resgate à fixação do homem ao campo; opção
alimentar de reconhecido valor nutritivo e da melhor perspectiva de contribuição na
arrecadação de Municípios, Estados e da Nação.
São vários os problemas a serem superados pela atividade caprina baiana,
desde
a superação das
dificuldades geo-climáticas,
como os
longos períodos
de
estiagem, tipos de solo, degradação do ecossistema "caatinga", disponibilidade de capital
a ser investido, até mesmo, aspectos sócio-culturais.
Desta forma, busca-se através deste trabalho, o seguinte:
a) - Fazer uma abordagem sobre a forma atual de condução da exploração caprina pelos
produtores e o relacionamento destes com o ambiente institucional;
b) - Delimitar os gargalos existentes na cadeia produtiva;
c) -
Desenvolver um programa de incremento produtivo e reprodutivo para o setor,
inseindo-o no âmbito do agronegócio.
11
3. METODOLOGIA
3.1 – Objeto de Estudo
Utilizou-se a metodologia da pesquisa exploratória. Fez-se uma análise do
modelo e dos procedimentos utilizados atualmente pelos pequenos produtores rurais na
exploração da caprinocultura de corte no Estado da Bahia. Através de pesquisa
bibliográfica sobre o tema, analisou-se as possíveis soluções para
aumentar a
produtividade da atividade e eliminar os gargalos em sua comercialização.
3.2 – Procedimentos de Pesquisa
O trabalho teve início com a realização de visitas a empresas, órgãos públicos e
privados, e instituições ligadas a atividade da caprinocultura visando obter subsídios e
material (livros, artigos, trabalhos científicos, revistas e outras publicações). Também foi
elaborada pesquisa exploratória com os produtores e técnicos ligados a atividade,
compreendendo a parte de campo da pesquisa.
Tem por espaço geográfico o estado da Bahia, por se constituir num grande
centro de produção de carne e grãos; e dará grande contribuição para a elaboração de
projetos destinados ao financiamento da caprinocultura pelos órgãos fomentadores do
desenvolvimento da região, especialmente o Banco do Nordeste.
12
4 – CENÁRIOS DA CAPRINOCULTURA DE CORTE
Para entendimento da importância da caprinocultura de corte
é necessário
estabelecer, dentro de uma visão panorâmica, o cenário que ocupa hoje a atividade em
nível mundial, para daí adentrar na realidade brasileira, mais especificamente no estado da
Bahia.
Mundialmente, a distribuição da carne caprina é bastante heterogênea. Estudos da
FAO (1995), revelam um crescimento na produção, entre os anos de 1993 a 1995, de
10.648 para 11.451 mil toneladas. As maiores contribuições são oriundas da África e da
Ásia com cerca de 70%; a América do Sul tem se mantido no patamar da produção de 190
mil e, deste total, o Brasil participa com 147 mil toneladas , contribuindo com apenas
1,28% da produção mundial (Pereira, 1996).
O efetivo do rebanho brasileiro de caprinos é bem menor que de outros países.
Esta pequena participação no mercado mundial advém de fatores como: Baixa
produtividade -
resultado de cruzamentos raciais aleatórios; manejo inadequado da
criação. As raças locais adaptadas resultam em animais de grande rusticidade, porém de
baixa produtividade; Questões culturais;
e, reservadas as exceções, condições
edafoclimáticas. Do rebanho caprino nacional de 15.987.286 cabeças, o efetivo leiteiro
estimado é de 57.554 cabeças. (ANUALPEC, 1998).
As regiões Sul e Sudeste, têm alcançado crescimento mais substancial em relação
às demais. Isso é facilmente compreendido pelo caráter desenvolvimentista e cultural
próprio dessas regiões , aliado a maior facilidade de adaptação das raças caprinas
especializadas para a produção de leite às condições edafoclimáticas. O crescimento daí
advindo, permitiu que ambas as regiões passassem a responder por 68% da produção
nacional e por 78% de participação no mercado de leite de cabra (ANUALPEC, 1998).
A estimativa da produção nordestina de leite é de 26% da produção nacional,
mas, só 17% deste total é comercializado. A Bahia detém mais da metade do rebanho
efetivo nordestino, contribuindo com 6 milhões de cabeças. (IBGE, 2000).
13
No oeste baiano, a atividade só veio ganhar impulso a partir de 1997, com a
implantação de protocolos entre o Governo do Estado e o Banco do Nordeste, para
diversificação da renda dos pequenos produtores rurais.
4.1 - Caracterização do ecossistema pecuário nordestino
O Nordeste compõe uma das cinco regiões fisiográficas do Brasil, situando-se
entre as latitudes 1° a 18°30’S e longitude
34°30’ e 48°20’W, representando
aproximadamente 18,2% da superfície do Brasil.
Com uma
área territorial
de
1.561.177,8 km² , é formado pelos estados da Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe,
Bahia, Maranhão, Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte, além do arquipélago de Fernando
de Noronha anexado ao Estado de Pernambuco. Nesta região, encontra-se o semi-árido
brasileiro, abrangendo 75% do Nordeste (1.170.000 km² ) e 13% do Brasil (IBGE, 1996).
Existem amplas variações quanto ao tipo de solo, sendo geralmente rasos,
com freqüentes afloramentos rochosos e baixa capacidade de retenção de umidade além
de um reduzido teor de matéria orgânica, predominando o latossolo vermelho amarelo.
Na faixa litorânea e faixa da antiga Mata Atlântica o clima é quente e úmido, com
pluviosidade média anual de até 1.800 mm. O interior, excetuando-se algumas microregiões com microclimas típicos, caracteriza-se por apresentar clima quente e seco com
pluviosidade anual média variando de 250 a 1000 mm, irregular e de forma concentrada.
As estações do ano são apenas duas inverno (chuvosa) com duração média de dois a
quatro meses e verão (seca). A temperatura apresenta pouca variação, com média anual de
25°C, aproximadamente.
Na faixa litorânea e faixa da Mata Atlântica, ainda encontra-se resquícios da
vegetação natural, sendo atualmente, em sua maior parte, ocupadas pela monocultura da
cana-de-açúcar, assim como, algumas áreas de pasto cultivado, e
em menor escala,
culturas de subsistência. O interior do Nordeste apresenta várias sub-regiões, como o
agreste, cariris, seridó, curimataú e sertão, perfazendo o semi-árido nordestino. Nestas
áreas
a vegetação
predominante é
a caatinga, que
se caracteriza
por apresentar
geralmente, plantas de baixo ou médio porte (herbáceo-arbustivo-arbóreo), xerófilas e
em sua
maior parte, caducifólias,
com predominância de leguminosas. A produção
14
total de fitomassa (matéria seca) da vegetação da caatinga é estimada em 4,0 t/ha/ano.
Destas, somente 10% são consideradas forragens, sendo o restante constituído de
material impalatável ou de baixo valor nutritivo (Araújo Filho e Carvalho, 1997).
A
exploração predominante
é a silvo-pastoril,
persistindo
a agricultura de
subsistência nas áreas de melhor potencial. A atividade pecuária da região é composta
pela bovinocultura, caprinocultura, ovinocultura e bubalinocultura, praticadas geralmente
de forma extensiva ou semi-intensiva. Também há a avicultura, suinocultura, além de
outras em menor escala, estas praticadas quase sempre de forma empresarial. O efetivo
da espécie caprina encontra-se sumarizado na Tabela 1 e Gráfico 1, podendo ser
claramente observada a vanguarda da produção nordestina.
Tabela 1. Efetivo do rebanho caprino no Brasil em 1990 e 1998.
1990
%
1998
%
10.677.129
89,72
10.554.359
89,39
SUL
455.094
3,82
385.044
3,26
SUDESTE
362.052
3,04
366.814
3,11
NORTE
247.326
2,08
320.138
2,71
CENTRO OESTE
159.087
1,34
181.251
1,53
NORDESTE
11.900.688
BRASIL
Fonte: FNP-ANUALPEC, 1998.
100,00
11.807.635
100,00
Gráfico 1:
Rebanho caprino brasileiro em 1998
89%
NORDESTE
SUL
SUDESTE
2%
3%
3%
3%
NORTE
CENTRO OESTE
15
Apesar dos dados estatísticos da agropecuária brasileira serem estabelecidos
com base em estimativas projetadas de censos anteriores, em que pese, o último censo
agropecuário ter sido realizado em 1985, vê-se que a região Nordeste apresenta um maior
número de caprinos, com aproximadamente 89,5% ao longo da década, demonstrando a
vocação natural da região para a exploração da espécie caprina. Este comportamento está
diretamente associado a capacidade de adaptação do caprino as condições ecológicas do
semi-árido nordestino, que por apresentar características peculiares edafo-climáticas e
vegetativas, propiciam condições para o desenvolvimento da espécie. Ressalta-se ainda
a estabilidade populacional ao longo dos anos, sendo bem
provável que
devido as
grandes estiagens, o efetivo nordestino tenha sido reduzido substancialmente. Estudos
sobre a
projeção do efetivo caprino no nordeste têm apontado para
uma taxa de
crescimento em torno de 2% ao ano (IBGE, 1990-1996), com ampla variação em função
do que foi considerado anteriormente.
Conforme a Tabela 2, verifica-se que a Bahia detém quase a metade do rebanho
efetivo e, consequentemente, da produção nordestina.
Tabela 2. Efetivo de caprinos no Nordeste, em 1998.
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
ESTADO
EFETIVO
%
Bahia
Piauí
Pernambuco
Ceará
Maranhão
Paraíba
Rio Grande do Norte
Alagoas
Sergipe
4.446.155
2.233.609
1.351.406
1.149.543
511.499
481.298
285.428
72.235
23.186
42,13
21,16
12,80
10,89
4,86
4,56
2,70
0,68
0,22
10.554.359
100,00
NORDESTE
Fonte: FNP-ANUALPEC, 1998.
Estudos comprovam que a pecuária do sertão nordestino está estagnada e seu
crescimento não consegue sequer acompanhar o crescimento da população humana que,
nos últimos trinta anos aumentou cerca de 140%, enquanto que o rebanho bovino cresceu
51%, o de ovino, 47% e o de caprino, 45% (Araújo Filho e Carvalho, 1997).
16
Outro aspecto de grande importância que merece atenção redobrada dos órgãos
de pesquisas, universidades, ONGs e da sociedade nordestina, é a raridade cada vez maior
da ocorrência de tipos nativos, causada por um processo de acasalamento incontrolado,
proporcionado pelo sistema ultra-extensivo de criação, além da introdução de raças
exóticas consideradas melhorantes, iniciadas desde 1930.
Através de pesquisas realizadas no ano de 1979, portanto há 20 anos atrás,
para se identificar a ocorrência de concentrações quantitativamente significativas de
caprinos nativos no nordeste, o Escritório de Estudos Técnicos do Banco do NordesteETENE já alertava para o problema (Tabela
3),
que proporcionou uma mudança
substancial no padrão racial dos rebanhos nativos do nordeste, predominando agora o tipo
SRD (Kasprzykowski, 1982).
Tabela 3. Tipos étnicos nativos de caprinos do Nordeste brasileiro.
Estados
Paraíba
Tipos Nativos
Moxotó e Repartida
Piauí
Canindé, Marota e Moxotó
Ceará
Marota e Canindé
Rio Grande do Norte
Canindé, Moxotó e Repartida
Pernambuco
Canindé e Moxotó
Sergipe
Canindé
Bahia
Marota, Canindé e Repartida
Alagoas
Sem notificação
Maranhão
Sem notificação
Fonte: Kasprzykowski, 1982.
É indiscutível a importância do trabalho de melhoramento do rebanho caprino
nordestino através de raças exóticas, todavia, torna-se imperativo a consecução de
projetos
de preservação dos tipos nativos que apresentam características genética-
produtivas compatíveis com o meio-ambiente próprio desta região, sendo bem provável
que atualmente a ocorrência desses tipos nativos em criatórios privados deve ser bastante
rara, o que é preocupante. Vale ressaltar o trabalho desenvolvido pela EMEPA (Empresa
17
de Pesquisa Agropecuária do Estado da Paraíba) e de alguns criadores aficcionados do
Nordeste, em preservarem tipos nativos e, através destes, por meio de cruzamentos com
raças homólogas importadas de outros países, cujo fenótipo apresenta semelhança ao das
nativas, propiciarem novas opções de incremento a atividade caprina.
Na verdade,
pouco se
sabe sobre a
participação real
dos tipos nativos
existentes atualmente nos estados nordestinos. Outro aspecto muito importante é o
tamanho
das unidades produtivas
de caprinos, onde segundo um estudo
feito pela
EMATER-Ceará, com 5.332 produtores assistidos no Estado, verificou-se um efetivo
caprino de 109.890 animais, o que dá uma média de 20,6 animais por produtor, ocorre
que geralmente os núcleos produtivos que usam o sistema tradicional de exploração
detêm um maior número de animais que são criados em grandes áreas e sem um
controle mais efetivo, além de que, quase sempre não recebem assistência técnica.
Assim, considerando projeções econômicas que estabelecem um número em
torno de 100 a 200 cabeças para viabilizar um projeto,
dificuldade existente para aumentar
percebe-se de imediato a
e tornar a caprinocultura como um propulsor do
desenvolvimento econômico da região. Obviamente esta situação
estaria atrelada às
condições técnicas e físicas destas unidades.
4.2 - Os sistemas de exploração praticados na caprinocultura de corte nordestina
Diferente do que ocorre em outras regiões do Brasil, os sistemas de exploração
caprina no Nordeste brasileiro, seguindo as definições clássicas, é basicamente extensivo,
seguido pelo semi-intensivo (Souza Neto, 1987; citado por Pimenta Filho e Simplício,
1994), com enorme variação entre as diversas regiões do ecossistema semi-árido.
Sendo
assim,
preferiu-se descrevê-los de forma mais simples, caracterizando-os em
apenas dois, o sistema tradicional e o sistema progressivo.
Um aspecto geral que tipifica os sistemas de exploração caprina no Nordeste é a
utilização da caatinga nativa como suporte forrageiro, que no Estado de Pernambuco
representava na década de 80, cerca de 64% da área total. Além da integração com outras
criações, que para os Estados de Pernambuco e da Paraíba, das propriedades amostradas,
18% e 13%, dedicavam-se
apenas à caprinocultura, enquanto que 57% e 43%,
18
respectivamente, exploravam bovinos, ovinos e caprinos juntos (Souza Neto, 1987; citado
por Pimenta Filho e Simplício, 1994).
4.2.1 - O sistema tradicional de exploração de caprinos
Este sistema, se caracteriza pela utilização de áreas maiores, com animais SRD
(Sem Raça Definida) e Nativos (Moxotó, Canindé, Marota, Repartida), algumas em
processo de extinção, além de tipos, como: Gurguéia, Craúna e Azul. Pela sua rusticidade,
esses animais são utilizados básicamente na produção de carne e pele. Em períodos secos,
muitas vezes, o proprietário é obrigado a alugar pastos dos vizinhos.
Todavia, cada vez mais, encontra-se pequenas propriedades voltadas para a
criação de caprinos e ovinos deslanados. Geralmente são criados animais de pequeno
porte (canindé, moxotó, morada nova, somalis, etc) com menores necessidades de
manutenção.
Quanto à dieta, a caatinga é a principal fonte de alimentação. Não adota-se a
prática da suplementação alimentar, exceto no período crítico da seca, em que emprega-se
muito à prática de "salvar os animais", quando faz-se a queima de cactáceas, eliminandose os espinhos e fornecendo-se o “miolo-cabeça” de plantas como: faxeiro (Pilosocereus
pachycladus) e mandacaru (Cereus jamacaru) ou bromeliáceas como o agave (Agave
sisalana) e a macambira (Bromelia laciniosa). Algumas áreas dispõem da incidência
casual de
(Calliandra
outras
forrageiras, tais como a camaratuba (Cratylia mollis), Carqueija
depauperata),
Catingueira
(Caesalpinia
pyramidalis),
Espinheiro
(Chloroleucon foliolosum), Favela (Cnidoscolus phyllacanthus), Feijão Bravo (Capparis
flexuosa), Imbuzeiro (Spondias tuberosa), Juazeiro (Ziziphus joazeiro), Jurema-preta
(Mimosa tenuiflora), Jurema-vermelha
pseudoglaziovii), Marmeleiro
(Croton
(Mimosa
arenosa), Maniçoba (Manihot
sonderianus),
leucocephala), Mororó (Bauhinia chelilantha), Quebra-faca
Moleque-duro
(Croton
Sabiá (Mimosa caesalpinifolia) e Sete-cascas/Cascudo (Tabebuia
(Cordia
conduplicatus),
spongiosa) (Lima,
1996).
Raramente executa-se alguns cuidados sanitários. Praticamente não existem
instalações, apenas um "chiqueiro" onde os animais são reunidos ocasionalmente para
19
contagem ou separação
para venda. Este
sistema, encontra-se
em declínio,
pela
necessidade de uma maior ocupação da terra, além de uma mudança nas relações
comerciais e internacionalização dos mercados, exigindo maior eficiência produtiva do
setor.
4.2.2 - O sistema de exploração "progressivo" na caprinocultura de corte
Assim define-se ao sistema
de exploração que adota práticas racionais de
manejo, produzidas pela geração de tecnologia com base no conhecimento empírico ou
científico. Este
sistema encontra-se em plena expansão, sendo praticado em áreas
menores, geralmente com animais mestiços ou puros do tronco alpino (Saanen e Alpina)
e africano (Anglo-nubiana e Bhuj) e mais recentemente, animais da raça Boer. Encontrase também, criações bem planejadas de animais de raças nativas, como a Moxotó e a
Canindé, assim como, animais SRD. As criações com melhoramento efetuado através
das raças alpinas, cada vez mais, tentam direcionar sua exploração para a produção de
leite.
Neste sistema, utiliza-se a suplementação energética, protéica e/ou mineral,
objetivando obter uma melhoria nos índices produtivos e reprodutivos do plantel. Além
da caatinga, utiliza-se pastejos mistos, com campos cultivados e/ou banco de proteína
(este último, ainda de utilização incipiente). Utiliza-se bastante também a suplementação
através do fornecimento da Palma Forrageira (Opuntia ficus indica) e de restos de
culturas de milho e feijão.
Encontra-se a ocorrência
geralmente desorganizada e mal
manejada, da
algarobeira (Prosopis juliflora), sendo os animais alimentados com as suas vagens que são
consumidas diretamente no campo ou como suplementação no cocho. Já existe alguma
preocupação com o cultivo desta leguminosa, que muitas vezes passa a predominar em
áreas de pastejo, assim como de boa fertilidade do solo, reduzindo substancialmente a
ocorrência de espécies nativas do estrato herbáceo, arbustivo e arbóreo.
Além disso, há indicativos de que a utilização da vagem como dieta exclusiva
pode provocar a ocorrência de uma doença conhecida como o "mal da cara-torta".
Todavia, desde que bem manejada, a algarobeira mostra ser uma boa fonte de
20
nutrientes no período de escassez de forragens na região semi-árida. São adotadas práticas
de manejo sanitário, como vacinações e everminações, notadamente pelos produtores mais
capacitados.
Este sistema dispõe de instalações, como o
curral ou centro de manejo,
apartação, cabriteiro e sala de rações ou derivações. Verifica-se que as unidades produtivas
que adotam alguma
melhorias
base tecnológica, cada vez mais vêm se especializando,
substanciais nos
índices produtivos
com
e reprodutivos e com possibilidades
crescentes de organização empresarial da atividade.
4.3 - Aspectos produtivos e reprodutivos
De modo
Nordeste, por
geral, considera-se
que
a maioria
dos rebanhos
serem explorados basicamente em sistemas
caprinos do
de produção tradicional,
apresentam baixa produtividade e sem níveis de especialização definidos. Na caatinga
nativa os índices de desempenho animal são muitos baixos, sendo necessários 1,3 a 1,5 ha
para criar um ovino ou um caprino durante um ano, com uma produção de peso vivo
animal de 20 kg/ha. E para criar um bovino, com produção de 8,0 kg/ha, são necessários
de 10 a 12 ha de pasto (Araújo Filho, 1997). Todavia, pode-se incrementar muito a
produtividade destas espécies, quando se utilizam práticas adequadas de manejo da
caatinga.
De acordo com EMBRAPA-CNPC (1994), os índices atuais de produtividade da
caprinocultura, em criações com sistema tradicional, giram em torno de:
- fertilidade ao parto (60-70%);
- gemelidade (25-30%);
- mortalidade de jovens até um ano (30-40%) e de adultos (08-10%);
- idade ao abate (16-18 meses);
-
taxa de desfrute (28-30%).
Estes índices estão atrelados ao baixo nível de adoção tecnológica, que incorre em
índices reprodutivos baixos, elevada mortalidade em todas as fases da criação, baixo nível
21
de desfrute, acarretando conseqüentemente uma baixa produção de carne e pele, que de
modo geral, não atendem as exigências do mercado, o que provoca uma significativa
redução na taxa de retorno financeiro ao produtor.
Diversos trabalhos foram desenvolvidos no sentido de melhorar o desempenho da
caprinocultura no Nordeste. Na Tabela 4, visualiza-se
alguns índices
reprodutivos sugeridos atualmente pelo Banco do Nordeste
produtivos e
e EMBRAPA, como
recomendações para os diferentes níveis de tecnologia adotados no setor.
Considerando-se uma taxa de abate para machos e fêmeas na ordem de 15%, e
um rebanho de 10.677.129 no nordeste em 1990, teria sido abatido neste ano, cerca de
1.601.569 cabeças. Considerando ainda um peso médio de carcaça de 12 kg, têm-se que a
produção média de carne caprina em 1990 foi de 19.218.832 toneladas. Com base em
projeções
realizadas por Souza Neto (1986), verifica-se para esse mesmo ano, uma
demanda potencial de 70 ton. É notório mesmo que haja um incremento tecnológico no
setor e um aumento na eficiência produtiva da atividade, com um aumento na taxa de
abate para 30%, ainda assim, haveria um déficit de carne caprina no nordeste brasileiro,
e como o rebanho praticamente permaneceu estável nesta década, têm-se esses mesmos
níveis produtivos até hoje.
Tabela 4. Índices produtivos e reprodutivos recomendados para a espécie caprina no
Estado da Bahia, de acordo com os níveis de tecnologia adotados na atividade.
Níveis de Tecnologia
Variáveis
Baixa
Média
Alta
Parição (partos/ matriz/ ano) (%)
80
100
120
Prolificidade (crias/ partos) (und)
1,30
1,35
1,40
Natalidade (crias/ matriz/ ano) (und)
1,04
1,35
1,68
Mortalidade até 1 ano (%)
15
12
10
Mortalidade acima de 1 ano (%)
7
5
3
20
20
20
1:20
1:25
1:30
Peso vivo aos 100 dias (kg)
8
11
14
Peso vivo aos 365 dias (kg)
20
24
28
Descartes de matrizes (%)
Relação reprodutor matriz (und/ und)
22
Idade ao abate (meses)
14-18
11-14
08-12
Desfrute (%)
28-40
35-47
42-55
matrizes descartadas) (kg)
10
12
14
Idade ao primeiro acasalamento (meses)
12
12
12
Seleção de fêmeas para reprodução (%)
60
50
40
Peso médio da carcaça ao abate
(machos e fêmeas de um ano e
Número de animais até um ano por U.A
14
14
14
Nº de animais acima de um ano por U.A
7
7
7
Aprisco - Animais até 8 meses (m²/anim)
0,5
0,5
0,5
Aprisco - Animais acima de 8 meses (m²/
0,8
0,8
0,8
0,8
0,8
0,8
1,6
1,6
1,6
5
5
5
animal)
Curral de manejo - Animais até 8 meses
(m²/animal)
Curral de manejo- Animais acima de
8 meses (m²/ cab)
Consumo de água (litro)
Fonte: BNB-Agenda do Produtor, 1998 e EMBRAPA-CNPC, 1994.
A EMEPA-PB importou no ano de 1996, animais da raça Boer "Melhorada",
oriunda
da África do
Sul, que
têm
apresentado bom
desempenho produtivo
e
reprodutivo na região do Curimataú paraibano (Souza Neto, 1998). Esse fato tem
gerado grandes expectativas por parte dos caprinocultores,
raça
pela possibilidade desta
vir a contribuir com o desenvolvimento da caprinocultura de corte do Nordeste.
Souza Neto (1999), descreve alguns dados sobre o desempenho produtivo e reprodutivo de
raças de caprinos no Nordeste do Brasil (Tabela 5).
23
Tabela 5. Médias de alguns parâmetros produtivos e reprodutivos de raças e/ou
tipos de caprinos do Brasil.
Parâmetros
Raças e/ou tipos
Peso ao nascer (kg)
Peso a desmama* (kg)
Peso aos 196 dias (kg)
Ganho em peso (g)
Nascimento-desmama
Ganho em peso (g)
Desmama-196 dias
Rend. de carcaça (%)
Taxa de parição (%)
Prolificidade
Mortalid. até desmama (%)
Fonte: SOUSA et al. (1998-1999)
Sem Raça
Anglo-
Definida
Nubiana Al pina Canindé
Parda
BOER
2,0
10,2
12,2
2,8
12,8
16,8
2,8
13,8
17,3
1,9
9,1
11,7
3,0
18,0
23,2
73,0
89,2
98,2
64,7
141,7
43,8 47,6
41,6 22,6
62,0
42-44 44-47 43-44 41-44 47-52
83,4 81,2
80,1
86,0
87,3
1,4
1,5
1,6
1,3
1,8
13,8 14,0 18,6
12,7
7,0
* Desmama aos 112 dias de idade
Além dos excelentes resultados produtivos e reprodutivos apresentados pela
raça Boer, demonstrando ser um animal melhorado para a produção de carne, ela ainda
apresenta a mais alta percentagem de rendimento de carcaça entre todas as pequenas
criações. Com potencial de ganho-em-peso, podendo atingir 64 kg aos oito meses; 92,2
kg aos 12 meses; 116,8 kg aos dois dentes; e 114,7 kg aos quatro dentes, média para
machos Boer em condições controladas (Campbell 1984, citado por Souza, 1998).
Tabela 6. Rendimento de carcaça de animais da raça Boer na África do Sul, de
acordo com a idade.
Idade (Fase)
Rendimento de carcaça (%)
8 a 10 meses............................................
2 dentes.....................................................
4 dentes.....................................................
6 dentes.....................................................
Boca cheia.................................................
Fonte: ALTA GENETICS BRASIL , 1996.
48
50
52
54
56-60 ou mais
Geralmente, os índices de rendimento de carcaça no rebanho nativo e SRD do
Nordeste, estão em torno de 45%, variando com a idade do animal, apesar de sempre
considerar no processo de venda do animal 50% de rendimento.
24
5 – ASPECTOS DA CADEIA PRODUTIVA
Com a abertura econômica dos mercados internacionais, o setor agropecuário
brasileiro, dentre eles a caprinocultura, vem experimentando algumas transformações
estruturais influenciadas entre outras por:
- o comércio internacional dos produtos
agrícolas, dominado pelas commodities, apresentando sinais de saturação; - margens de
lucro decrescentes
por unidade de produto; - necessidade de maior integração
das
unidades de produção agropecuárias nas cadeias produtivas; - dependência cada vez maior
de suporte científico e tecnológico na atividade de produção agropecuária; - atendimento
a novas exigências de padronização e controle de qualidade dos produtos; e, - demanda
por processos de gestão (Medeiros, 1998).
A cadeia produtiva da caprinocultura brasileira como um todo, ainda carece de
estudos que possibilitem a análise da interação existente entre os diversos segmentos,
desde os geradores de recursos à fabricação
de insumos, passando pelas unidades
produtivas, a etapa de processamento do produto gerado, a distribuição e comercialização
dos produtos e sub-produtos e, por fim, o consumidor final que deve ser, sem dúvida, o
norteador da direção em que a atividade deve desenvolver-se. Assim, parece claro que, em
se tratando da caprinocultura de corte, existem problemas sérios em todos os elos da
cadeia, que servem de desafio para todos os envolvidos na atividade, sendo a pesquisa,
instrumento básico para identificação e resolução destes gargalos.
5.1 - Entraves do Setor
Baseado na pesquisa exploratória deste trabalho e através de informações obtidas na
literatura, principalmente, no I
WORKSHOP SOBRE
CAPRINOS E
OVINOS
TROPICAIS realizado em Fortaleza – CE, em dezembro de 1998 (onde grupos de
produtores, técnicos, pesquisadores, professores e empresários da área debatiam sobre o
assunto), foi feito um diagnóstico das várias ameaças que limitam o desenvolvimento do
setor, as quais descrevemos a seguir:
25
5.1.1 - Baixo nível técnico dos produtores.
Os baixos rendimentos médios da agropecuária nordestina (Feijão 782 kg/ha, milho
2.207 kg/ha, arroz 3.740 kg/ha, a vaca produz em média 4 litros de leite por dia, tendo seu
primeiro parto aos 42 meses ( o intervalo entre partos é de 24 meses) demonstram de forma
clara e indiscutível que a imensa maioria dos produtores ainda não está adotando inovações
elementares e de baixo custo, apesar de que estas já estão disponíveis desde muitas
décadas. Continuam sem adotá-las, não tanto por insuficiência de recursos, mas sim e
muito especialmente, por falta de conhecimentos, que os extensionistas poderiam
proporcionar-lhes.
Estes modestos rendimentos demonstram também que é exatamente a não adoção
destas inovações elementares (e não das sofisticadas e de alto custo) que está impedindo a
grande maioria dos produtores incrementarem os baixíssimos rendimentos acima
mencionados.
Se as inovações elementares, cuja introdução depende apenas de conhecimentos (e
não de recursos), já tivessem sido adotadas de forma correta pela maioria dos produtores,
os rendimentos da agropecuária nordestina não seriam tão baixos como são na atualidade.
Isto significa que um eficiente serviço de extensão, poderia e deveria ser o fator mais
decisivo para elevar os baixíssimos rendimentos da agropecuária nordestina e, através
desta elevação, dar o primeiro e mais importante passo para solucionar os principais
problemas dos produtores.
O número de agricultores que necessita ser urgentemente capacitado é de tal
magnitude que requer a conjugação de vários esforços institucionais, públicos e privados,
atuando de forma convergente em direção ao grande objetivo comum que é introduzir
novos conhecimentos, habilidades e atitudes no meio rural; porque no mundo moderno, o
êxito dos produtores dependerá em grande parte desses insumos intelectuais.
Diante deste desafio, instituições como Igreja, associações, sindicatos, ONGs,
prefeituras, terão papel preponderante nessa cruzada educativa destinada a eliminar do
26
meio rural a grande causa do subdesenvolvimento, que é o baixo nível de conhecimentos
dos seus habitantes.
5.1.2 - Insuficiência e alto custo do capital financeiro
Como se sabe, os investimentos de longo prazo para o setor primário, nunca
ofereceram o retorno esperado pelo investidor privado. Daí serem considerados de alto
risco e terem um elevado custo financeiro (TR + juros de 6 a 10% aa.).
Em relação aos recursos governamentais, durante a maior parte da década de 80, o
crescimento do setor agrícola brasileiro foi bastante estimulado. Já ao término desta, com o
agravamento do quadro macroeconômico e, em particular, pelas estratégias (via choque ou
moeda indexada) adotada pelo governo para controlar a inflação, o setor tornou-se a
principal vítima do descontrole inflacionário e da incapacidade demonstrada pelo governo
de combatê-lo. Surgiu daí a insuficiência e o alto custo do capital financeiro considerado
um dos entraves ao crescimento da caprinocultura nordestina.
5.1.3 - Comercialização, processamento e marketing inapropriados.
Se já existem problemas “dentro da porteira”, eles se agravam quando é para
colocar o produto no mercado. Os produtores, geralmente desorganizados, não fazem
qualquer planejamento ou estudo de mercado, ficando a mercê de atravessadores.
Outra dificuldade, principalmente do Oeste Baiano, é a inexistência de
abatedouros e frigoríficos. Impossibilitados de agregar valor ao produto, os produtores
geralmente vendem a produção em açougues, de porta em porta ou em lotes vivos a preços
mais baixos. Falta, enfim, de um arcabouço institucional e Leis que regulamentem o setor
e obriguem a sua modernização.
Apesar do mercado estar em crescimento, há necessidade de um marketing mais
agressivo, visando consolidar cada vez mais o consumo da carne caprina ao hábito
alimentar da população.
27
5.2 - Agentes da Cadeia Produtiva
Os elementos do complexo agroindustrial da caprinocultura são bem diversificados,
mas existe uma potencialidade de produção de produtos e sub-produtos pouco explorados,
indo desde os alimentos convencionais, como carne e derivados, leite e derivados, vísceras
e sangue; produtos oriundos da pele e pêlos (jaquetas, bolsas, calçados, pincéis, escovas,
etc); sêmen; reprodutores e matrizes até os sub-produtos como esterco, urina, ossos e
chifres.
Algumas ações têm sido
postas em prática por
agroindustrial. Nos últimos anos
foram implantados
alguns segmentos do setor
abatedouros e
frigoríficos nos
estados da Bahia, Ceará e Paraíba, para o abate e industrialização da carne caprina e
ovina, com capacidade para abater 300 a 400 animais/dia cada um, todavia, observou-se
a incapacidade de fornecimento da matéria-prima pelo setor produtivo, o que acarretou
em uma sub-utilização
destas unidades. Este fato reflete o
desconhecimento dos
participantes da cadeia produtiva, e mais uma vez, uma inversão de ações políticafinanceiras,
pois, necessariamente
devia-se
primeiramente pensar em incrementar a
produção de caprinos e ovinos, como também, a sua qualidade para o abate industrial, e
em seguida, criar uma infra-estrutura para processamento dos produtos gerados.
Atualmente, os abates são realizados sob duas condições: uma é o abate realizado
em matadouros/frigoríficos com inspeção sanitária e a outra, é o clandestino, praticado
em matadouros municipais ou em locais incertos, o que parece mais comum, e cada
uma destas
modalidades tem
características próprias
que determinam
o caminho
comercial após a "porteira" (Barreto Neto, 1998).
Tabela 8. Situações encontradas nos abates legalizados e clandestinos, de caprinos e
ovinos no Nordeste do Brasil.
MATADOUROS – FRIGORÍFICOS
X
ABATES CLANDESTINOS
Se enquadra na legislação Sanitária
Risco alimentar
Custos crescentes com a legislação
Custo zero
Maior mecanização das operações
Uso de Mão-de-Obra
Maior
Nenhum custo fixo
custo fixo
operacional
28
Necessita maior escala para operar
Opera em pequena escala
Custos menores com a escala
Deseconomia de escala
Vendas ao setor supermercadista
Vendas em feiras e
e institucional
Inseridos
na economia
açougues
formal
Tributação importante na formação do
preço
Economia informal
Tributação irrelevante
para o preço
Opera em escala regional ou nacional
Operações locais
Mercado em ascensão
Mercado em declínio
Fonte: Barreto Neto (1998).
Apesar de ser evidente o potencial de aumento do consumo de carne caprina e
ovina, estatísticas apontam para um baixo nível de consumo per capita por ano no
Nordeste e, mais ainda, em todo o Brasil, haja vista, ser hábito semanal do nordestino,
consumir a carne caprina e ovina.
São poucos os dados disponíveis sobre o consumo, principalmente para a espécie
caprina, e muitas vezes contraditórios, o que denota mais uma vez, a necessidade de
estudos sobre o assunto. Enquanto que o consumo de carne suína, bovina e de aves
no Brasil, gira em torno de, respectivamente, 7,5; 20,0; e 18,5 kg per capita/ano, o de
caprinos e ovinos é menor que 1 kg per capita /ano.
Em pesquisa direta realizada pelo SEBRAE/CE, em 1998, na cidade de
Fortaleza-CE, detectou-se um consumo de 0,590 e 0,375 kg per capita anuais, para
ovinos
e caprinos, respectivamente. Deve-se considerar que os
dados mostram a
diversidade de comportamento de mercado dentro das próprias sub-regiões do Nordeste
e entre cidades, sendo que, o consumo no interior parece ser bem maior que nas
capitais, e além disso, há indícios de que muitas vezes, o consumo é efetuado na própria
unidade produtora.
Estudos de mercado realizados pelo IPEA (1998), revelam que o consumo de
qualquer produto é influenciado por dois fatores principais: a tradição e
o preço. A
tradição pode ser alterada a longo prazo com um trabalho de marketing agressivo. Já o
29
preço, pode ser alterado a médio prazo, já que tem impacto imediato sobre o nível de
consumo e influencia a formação de novos hábitos.
Assim, espera-se que com a adoção de técnicas mais racionais de exploração que
acarretará em um menor custo de produção com uma conseqüente redução de preço ao
consumidor, que hoje no nordeste gira em torno de R$ 2,50 a R$ 4,00, tenha-se um
estímulo no consumo. Por outro lado,
o aumento
nesta
demanda esbarrará
no
problema da baixa oferta.
Quanto à comercialização de carne caprina, Barreto Neto (1998) enfatiza que o
principal cliente e o que mais cresce, é o setor supermercadista. Secundariamente, vem
o mercado HRI: Hotéis, Restaurantes
e Instituições.
Além disso, os matadouros
frigoríficos praticamente não vendem a açougues pela penetração maciça de carnes
clandestinas, porém, com o aumento das fiscalizações, a tendência futura é que venham
a participar deste mercado.
Outro aspecto bem peculiar da comercialização de carne caprina é a venda indireta
por "marchantes" ou atravessadores em feiras livres, e diretamente ao consumidor "de
porta em porta", prática bastante utilizada no interior/pequenas cidades, o que geralmente
ocorre sem nenhum controle sobre a qualidade do produto comercializado.
É bem provável que em breve, com a necessidade de se oferecer um produto de
maior qualidade, padronizado e bem embalado, características cada vez mais crescentes
nos consumidores atuais, haja uma
solidificação da
caprinocultura de corte
como
atividade empresarial, em que os custos e a conseqüente formação do preço final dos
produtos gerados devem direcionar as ações de toda a cadeia produtiva.
Atualmente, existem pontos críticos nesta composição de preço, obviamente,
mais uma vez, faltam estudos aprofundados sobre a composição dos preços na
caprinocultura de corte. Mesmo assim, Barreto Neto (1998) apresenta uma comparação na
estrutura de custos entre a carne ovina e bovina, e como a estrutura de produção da
caprinocultura é sempre considerada similar a da ovinocultura, serve de indicativo para a
situação predominante atualmente na atividade caprina.
30
Outro sub-produto de grande importância para a caprinocultura de corte nordestina
é a pele, que tem sido classificada como de excelente qualidade, com grande aceitação
no mercado externo. Apesar de existir várias inferências de que a pele do caprino ou ovino
pode chegar a valer até 30% do valor comercial da carne, atualmente, o que se vê, é a
prática de um preço quase que irrisório ao produtor. Todavia, com uma agregação de
valor considerável pelos atravessadores e curtumes. Sousa Neto (1987), em estudo sobre a
demanda potencial de carne de caprinos, apresenta projeções das exportações de peles de
caprinos para os anos de 1985 e 1990 (Tabela 11).
Tabela 11. Exportações brasileiras de peles de caprinos de 1995 a 2000 (ton).
ANOS
CAPRINOS
1995
1.576,97
1996
1.660,41
1997
1.743,85
1998
1.927,29
1999
1.910,73
2000
1.994,17
Fonte: ANUALPEC,2000).
Antes da porteira, podemos considerar como o maior entrave ao crescimento da
atividade, a questão cultural. A maioria dos produtores rurais, geralmente de baixo nível
educacional e técnico, resiste em utilizar novas tecnologias e a diversificar a produção em
suas propriedades. Muitas vezes, por ignorância ou por encarar sua rotina de trabalho
como tradicional, os animais são deixados à própria sorte,
sem nenhum controle de
sanidade e quantidade.
5.3 - Aspectos financeiros da atividade
Nossa caprinocultura está enveredando por um caminho no mínimo simplista, que é
o de limitar toda a problemática de um agronegócio à questão “dentro da porteira” e,
dentro desta, individualizá-la na questão da raça. Tudo isso induzido por um equivocado
conceito de tecnologia, associado a animais puros, importados, transplantes de embrião e
outras coisas mais, sem a correspondente preocupação com os outros fatores de produção.
Privilegiam-se cursos de inseminação artificial em zonas onde os animais sequer têm o que
comer nos períodos secos.
31
Nesse contexto, é natural que o caprinocultor fique maravilhado com os
magníficos espécimes expostos nas exposições de animais. Nada contra, já que alguns
desses genótipos, combinados harmônicamente com técnicas melhoradas de alimentação e
manejo, podem constituir instrumentos fundamentais para a mudança do padrão
tecnológico da atividade. É essencial, porém, que êle também se conscientize de que o fato
de um sistema produzir animais com 30 kg de peso vivo aos quatro meses de idade e outro
apenas aos oito meses, não significa, necessariamente, ser o primeiro sistema mais rentável
que o segundo. O que realmente importa saber é a que custo está sendo produzido um
quilograma de cada um e qual o preço que o mercado paga.
Em suma, o preço que o mercado paga é que vai indicar o sistema de produção
(incluindo o genótipo) mais adequado a ser utilizado pelo produtor. “Tecnologia de ponta”
será, toda aquela que contribuir para que o custo de produção permita uma margem de
lucro satisfatória sob aquela condição de preço de venda, seja ela pasto de catinga ou pasto
irrigado de tifton, raça Moxotó ou raça Boer, monta natural ou inseminação artificial.
O que o caprinocultor deve buscar, além de admirar os belos animais, é saber
identificar corretamente os fatores de produção que deverão ser trabalhados para melhor
adequar seu custo unitário às condições do mercado. Isto significa buscar o ótimo
econômico do seu sistema de produção, ótimo este localizado, via de regra, abaixo do
ótimo zootécnico.
Tabela 12. Custos de implantação de um projeto de caprinos. (*)
ORÇAMENTO
Conjunto moto-forrageiro..................................................
01 ha de capineira/pasto.....................................................
01 ha de mandioca..............................................................
Aprisco para 200 cabeças...................................................
01 km de cerca....................................................................
200 matrizes caprinas.........................................................
10 reprodutores P.O .........................................................
Assistência técnica.............................................................
TOTAL..............................................................................
Fonte: EBDA (Maio/2000).
R$
3.500,00
550,00
470,00
5.000,00
1.000,00
12.000,00
6.000,00
1.000,00
29.520,00
32
Tabela 13. Custos de produção da caprinocultura de corte. (*)
DISCRIMINAÇÃO
QUANT/
UNID
PREÇO UNIT.
PREÇO TOTAL
SERVIÇOS
2.960,00
Mão de obra
.Tratador
.Assistência técnica
.Roçagem de pasto
2.960,00
2.555,00
300,00
105,00
365,0 dia
3,0 visita
15,0 dia
7,00
100,00
7,00
INSUMOS
.Brincos
.Água sanitária
.Vacinas
.Febre Aftosa
.Raiva
.Polistar
.Vermifugação
.Mineralização
.Sal Mineral
2.548,00
200,0 Und
80,0 Lit
1,00
0,50
200,00
40,00
200,0 Dose
200,0 Dose
200,0 Dose
800,0 Dose
0,28
0,26
0,52
0,20
56,00
52,00
104,00
160,00
0,44
1.936,00
4.400,0 Kg
TOTAL
Fonte: EBDA (Maio/2000).
5.508,00
%
54,00%
46,00%
100,00%
(*) Valores em R$ e projetado para 200 animais.
Com relação ao capital financeiro, a partir de 1997 foram assinados protocolos
entre o governo do estado da Bahia e o Banco do Nordeste, para alavancar a atividade na
região, através da aplicação de recursos financeiros do Fundo de Desenvolvimento do
Nordeste – FNE, a juros fixos de 6% aa, com rebate de até 25% para pagamentos em dia;
prazos de até 08 anos, com três de carência. Ao mesmo tempo, foi desenvolvido pela
Secretaria da Agricultura do Estado, um programa de capacitação de mão-de-obra
executado pela EBDA, atingindo todos os produtores da região.
É sabido que grande parte das propriedades de pequenos produtores se situa entre
20 e 100 ha e geralmente apresentam estrutura deficiente quanto ao aspecto produtivo.
Levando em consideração alguns custos de implantação e produção descritos nas tabelas
12 e 13, respectivamente, pode-se afirmar que a caprinocultura só é economicamente
viável a partir de um plantel de 200 cabeças.
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6 - CONCLUSÕES
As características geográficas do Nordeste brasileiro lhe caracterizam como
região vocacionada para a produção de caprinos, não só por apresentar aproximadamente
90% do efetivo do rebanho brasileiro, mas, principalmente, pela importância sócioeconômica que ela representa. Observa-se que existe uma lenta evolução na dinâmica
produtiva da atividade e, ao mesmo tempo, pelas novas possibilidades proporcionada
pela abertura de mercados, há uma necessidade de incrementar as ações voltadas para
uma maior eficiência nos núcleos produtivos, buscando uma maior diversificação na
produção e consequentemente gerando mais renda para a propriedade.
Além da melhoria nos índices técnicos, urge estudar e conhecer as interrelações
da sua cadeia produtiva, corrigindo e norteando a atividade para inseri-la no âmbito do
agronegócio, tornando a produção de carne e sub-produtos caprinos definitivamente,
um propulsor do desenvolvimento das regiões pecuárias nordestinas.
Podemos considerar como o maior entrave ao crescimento da atividade, a questão
cultural. A maioria dos produtores rurais, geralmente de baixo nível educacional, resiste
em aceitar novas tecnologias e a diversificar a produção em suas propriedades por preguiça
e por não dar status. O regime predominante é o extensivo, onde os animais são deixados
à própria sorte, de forma que o criador não tem nenhuma noção de controle, sanidade e
quantidade de seus animais.
É indiscutível
a
necessidade
de se
melhorar
os
índices produtivos
e
reprodutivos da caprinocultura de corte na Bahia, para que possa haver um incremento
na
produtividade desta espécie na região. Portanto, de imediato verifica-se
a baixa
capacidade de produção de carne caprina na região.
Será que deveremos continuar priorizando infrutíferas reinvindicações dirigidas ao
Congresso Nacional, aos Ministérios da Economia, Fazenda, ao Banco Central, para pedir
paliativos inacessíveis, ineficazes e perpetuadores de dependência?
Ou será que
deveremos buscar soluções emancipadoras nas escolas fundamentais rurais (do 1º ao 8º
ano), nas escolas agrotécnicas e nas faculdades de ciências agrárias.
Será que todos os governos dos países da América Latina, os atuais e os das
décadas anteriores, são e foram insensíveis aos problemas do agricultores e não tiveram a
vontade política de solucioná-los? Ou será devido ao modelo paternalista e a insuficiência
de recursos. Se não funcionou quando as instituições estatais tinham mais poder e mais
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recursos, como esperar que funcione na atualidade quando os governos estão debilitados e
endividados?
Definitivamente, o intervencionismo estatal perenizador de dependências, de cima
para baixo, deverá ser substituido pelo protagonismo emancipador dos agricultores, de
baixo para cima.
Os solucionadores potenciais dos nossos problemas agropecuários estão em cada
família, propriedade e comunidade rural, em cada escola fundamental rural, escritório de
extensão rural, estação experimental, prefeitura, escola agrotécnica, faculdade de ciências
agrárias;
falta apenas transformá-los de solucionadores potenciais em
solucionadores
reais.
São várias as ações a serem implementadas pelos pecuaristas, dentre elas, a
utilização de
um manejo
alimentar bem
planejado, atrelado
a um
programa de
melhoramento genético das nossas raças. Deve-se reduzir a idade de abate dos animais e
incrementar a taxa de desfrute dos rebanhos, gerando uma maior produção de carne para o
mercado consumidor.
Aliado a isso, há necessidade de ser formado um novo cidadão rural com
conhecimento amplo da cadeia produtiva. Enquanto não se fizer, as medidas convencionais
que os governos adotem em prol do desenvolvimento agropecuário continuarão produzindo
resultados muito modestos, desperdiçando em grande parte os escassos recursos oficiais.
Isto porque os destinatários de tais iniciativas não estarão técnica nem emocionalmente
preparados para beneficiar-se delas, nem para assumir como sua a responsabilidade pelo
seu próprio desenvolvimento.
Enquanto não possam, não saibam e não estejam motivados para assumí-la,
simplesmente não poderá haver eficiência e racionalidade nas propriedades e comunidades,
porque a imensa maioria dos produtores continuarão cometendo, sem sequer dar-se conta,
erros elementares no acesso e utilização dos insumos, na aplicação de técnicas agrícolas,
no uso dos recursos produtivos, na armazenagem de suas colheitas e na comercialização de
seus excedentes.
Como consequência, os produtores continuarão produzindo um excedente diminuto,
de má qualidade e obtendo-o com baixos rendimentos. Também continuarão vendendo-o
sem agregar valor, de forma individual, ao primeiro intermediário que queira comprá-lo.
Devido a tais procedimentos seus custos de produção continuarão sendo muito altos e os
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preços de venda muitos baixos, e, que por estes motivos, seus ganhos serão insuficientes e
não lhes permitirão viabilizar-se econômicamente.
No nordeste existem muitos exemplos de projetos de desenvolvimento agrícola e
rural que demandaram enormes recursos e imensos esforços dos governos e da sociedade,
porém que não produziram os resultados esperados, exatamente por subestimar a
importância do fator conhecimento. Não se pode ignorar estes exemplos e reiterar este
gravíssimo erro, porque enquanto ele persistir será virtualmente impossível atingir a
equidade, a rentabilidade e a competitividade na produção nordestina e baiana.
Enquanto não se forme e não se capacite um novo cidadão rural com
conhecimentos e atitudes que lhe permitam encarregar-se da solução de seus próprios
problemas, de pouco servirão os grandes volumes de crédito, subsídios, obras de
infraestrutura, tecnologias de ponta e insumos de alto rendimento que o estado tente
oferecer-lhes. Nenhum destes desejados ou desejáveis fatores materiais será suficiente nem
eficaz, se prévio a isto, não se preparar e capacitar a família rural para que SAIBA,
QUEIRA E POSSA desenvolver-se, com o fruto de seu próprio esforço e sua própria
capacidade.
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7 - BIBLIOGRAFIA
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diagnóstico da cadeia produtiva da caprinocultura de