AESB – ASSOCIAÇÃO DE ENSINO SUPERIOR DE BARREIRAS FASB – FACULDADE SÃO FRANCISCO DE BARREIRAS DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA CAPRINOCULTURA DE CORTE NO ESTADO DA BAHIA Ruberval Lima dos Santos BARREIRAS - BA MAIO/2001 Ficha Catalográfica preparada pela Divisão de Processos Técnicos da Biblioteca Central da FASB S237d Santos, Ruberval Lima dos Diagnóstico da Cadeia Produtiva da Caprinocultura de Corte no Estado da Bahia / Ruberval Lima dos Santos – Barreiras : FASB, 2001 40p. Monografia apresentada no curso de Especialização da Faculdade São Francisco de Barreiras sob a orientação de Ivanir Maia da Silva. Bibliografia 1. Caprinocultura. II. Título. 2. Bahia. I. Santos, Ruberval Lima dos CDD 636 2 RUBERVAL LIMA DOS SANTOS DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA CAPRINOCULTURA DE CORTE NO ESTADO DA BAHIA Monografia apresentada à Faculdade São Francisco de Barreiras como parte das exigências do curso Lato Sensu – Administração em Agribusiness, para obtenção do título de Especialista. Orientador: Prof. MSc Ivanir Maia da Silva BARREIRAS – BA Maio/2001 3 RUBERVAL LIMA DOS SANTOS DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DA CAPRINOCULTURA DE CORTE NO ESTADO DA BAHIA Prof. Msc. Ivanir Maia da Silva (Orientador) Aprovada em 23 de agosto de 2001 Prof. Msc. Antonio Marcos Vivan - FASB Prof. Msc. - FASB Erick Rojas Cajavilca BARREIRAS, BA 2001 4 Compreensão e apoio são fundamentais para este tipo de trabalho. E isto vocês me hipotecaram ao longo da caminhada. Obrigado. DEDICO A MINHA ESPOSA ANA E A MEUS FILHOS RONNEY, ROBSON, RUBENILSON, RUBERVÂNIA E ALINE. 5 AGRADECIMENTOS Ao longo da caminhada avistei pedras, mas alguém sempre as tirava do caminho, facilitando assim minhas pegadas. (o autor). Inicialmente, ao Grande Arquiteto do Universo. D`ELE adveio o Espírito, a Obstinação, a Garra, insumos basilares na construção de qualquer projeto de vida. Quero agradecer a todos que, direta e indiretamente, pontificaram em contribuição para a conclusão deste trabalho, quer com atitudes, quer com gestos ou mesmo intenção. A minha querida mãe Elizabete, “ in memorian”, Aos Drs. José Cabral de Sousa, da EBDA, e Paulo Leiro Baqueiro pelo apoio maciço e incentivo. Aos Professores Antonio Vivan, Pedro Bérgamo, Fátima Bevenuta, Ivanir Maia, Lázaro Camilo, Sergivaldo Bispo, Airton Pinto, pelos ensinamentos e conhecimentos transmitidos, jamais subestimados por nós. À Coordenação, na pessoa do Prof. Antonio Vivan e da secretária do I Curso de Especialização em Agribusiness, Emília Karla Pignata, que em nenhum momento escusaram-se de suas atribuições, tudo abraçando para o sucesso do mesmo. Aos Srs. criadores de caprinos e ovinos, que não mediram esforços quando da participação decisiva na pesquisa, e cujo compromisso me reserva a inquietante situação de não revelar os nomes, lhes credencio o escopo desta monografia. Ao bibliotecário Elton Luis, pelo empenho e profissionalismo a mim prestados, por ocasião da conferência da bibliografia consultada. Aos colegas de trabalho do ETENE, José Maria Marques e Francisco Evangelista. A compreensão e o incentivo de vocês foram decisivos. Ao Banco do Nordeste, cada vez mais preocupado com a capacitação de seus profissionais, pela oportunidade ímpar e pela missão a mim confiada, meu muito obrigado. Finalmente, quero externar meus sinceros agradecimentos pelo empenho do Mestre Ivanir Maia, orientador zeloso, de quem as idéias serviram de esteio para o início, meio e fim deste trabalho. 6 SUMÁRIO RESUMO.......................................................................................................................... 8 1. INTRODUÇÃO........................................................................................................... 9 2. OBJETIVOS................................................................................................................ 11 2.1 - Objetivo Geral..................................................................................................... 11 2.2 - Objetivos Específicos.......................................................................................... 11 3. METODOLOGIA........................................................................................................ 12 3.1 - Objeto de estudo.................................................................................................. 12 3.2 - Procedimentos para pesquisa............................................................................... 12 4. CENÁRIOS DA CAPRINOCULTURA DE CORTE................................................. 13 4.1 - Caracterização do ecossistema pecuário nordestino........................................ 14 4.2 - Os sistemas de exploração praticados na caprinocultura de corte nordestina...... 18 4.2.1 - O sistema tradicional de exploração de caprinos..................................... 19 4.2.2 - O sistema de exploração “progressivo” de caprinos................................ 20 4.3 - Aspectos produtivos e reprodutivos..................................................................... 21 5 - ASPECTOS DA CADEIA PRODUTIVA............................................................... 25 5.1 - Entraves do setor.............................................................................................. 25 5.1.1 - Baixo nível técnico dos produtores....................................................... 26 5.1.2 - Insuficiência e alto custo do capital financeiro...................................... 27 5.1.3 - Comercialização, processamento e marketing inapropriados............. 27 5.2 - Agentes da cadeia produtiva........................................................................... 28 5.3 - Aspectos financeiros da atividade................................................................... 31 6 - CONCLUSÕES....................................................................................................... 34 7 - BIBLIOGRAFIA.................................................................................................... 37 7 RESUMO A abertura dos mercados forçou a atividade agropecuária e todos os demais setores da economia nacional, a otimizarem as suas unidades produtivas a fim de se tornarem mais competitivas. Estudos comprovam que a pecuária do sertão nordestino está estagnada e seu crescimento não consegue sequer acompanhar o da população humana que, nos últimos trinta anos aumentou cerca de 140%, enquanto o rebanho bovino cresceu 51%; o ovino, 47% e o caprino, 45%. Uma grande parte dos agricultores é excessivamente dependente do crédito rural e está exposta aos riscos e a vulnerabilidade do clima, pragas e mercados. A escolha deste estudo recai sobre a cadeia produtiva da caprinocultura de corte por ser um instrumento gerador de mão-de-obra fixando o homem ao campo e uma opção alimentar de grande valor nutritivo. Busca-se fazer uma abordagem sobre a forma atual de exploração caprina pelos produtores e o relacionamento com o ambiente institucional. As características geográficas do Nordeste Brasileiro lhe credenciam como região vocacionada para a produção de caprinos. Não só por apresentar aproximadamente 90% do rebanho brasileiro, mas principalmente pela importância sócio-econômica que ela representa. Os maiores entraves ao crescimento da atividade, dizem respeito a crédito insuficiente, baixo nível técnico, a comercialização e a questões culturais. A maioria dos produtores rurais, geralmente de baixo nível educacional, resiste em aceitar novas tecnologias e a diversificar a sua produção por indisposição ou por não dar status. Como os recursos governamentais são escassos para oferecer crédito, seguro agrícola e insumos a todos os produtores, a saída será a diversificação da produção e a gradualidade tecnológica. Fatores estes que dependem muito mais de capacitação que de intervenção estatal. É indiscutível a necessidade de se melhorar os índices produtivos da caprinocultura na Bahia e conhecer as interrelações de sua cadeia. Aliado a isso, é necessário se formar um novo cidadão rural com conhecimentos e atitudes que lhe permitam solucionar seus próprios problemas. 8 1 - INTRODUÇÃO Com o advento das mudanças nas relações comerciais internacionais, que propiciou a abertura dos mercados, a atividade agropecuária, assim como os demais setores da economia nacional, vêm buscando otimizar as suas unidades produtivas, a fim de tornarem-se mais competitivas. Neste contexto, torna-se imperativo à caprinocultura nacional, e em especial à nordestina, obter uma maior eficiência produtiva. Pois trata-se de um segmento de grande importância para a diversificação da produção. A falta de diversificação produtiva além de tornar os agricultores excessivamente dependentes do crédito rural, os expõe a desnecessários riscos e vulnerabilidade de clima, pragas e mercados. Para diversificar a produção agropecuária se requer muito mais de capacitação que de complexos mecanismos de intervenção estatal, cujas frondosas burocracias acabam consumindo os escassos recursos destinados à operação de tais mecanismos. Se os governos não estão em condições de oferecer crédito rural, seguro agrícola e insumos a todos os produtores, a eficiente diversificação e verticalização da atividade agropecuária deveria ser o “seguro agrícola” do produtor, sua “agência de crédito”, “sua fábrica de alguns insumos”, seu “supermercado”, sua “agroindústria”, a “agência de empregos” para todos os membros da família durante os 365 dias do ano. A diversificação e a gradualidade tecnológica, horizontal ou vertical, são medidas endógenas que liberam as famílias rurais da dependência de várias soluções exógenas e geralmente inacessíveis; muito especialmente do crédito que é cada vez mais caro e escasso. A maior participação do efetivo do rebanho caprino da região nordeste em relação às demais regiões do país – cerca de 90% do total de 15.987.286 cabeças existentes (ANUALPEC, 1998), bem traduzem a vocação natural da região para a exploração desta espécie de pequenos ruminantes, mercê da significativa adaptação às condições de clima, solo, vegetação e demais condições propícias. É grande a importância econômica 9 representada pela atividade para a região, especialmente como oferta de proteína animal às populações do meio rural e de baixa renda, e da oferta de peles para a indústria. Dois dos mais importantes segmentos da sociedade que estão a exigir o fortalecimento da caprinocultura no nordeste brasileiro são a questão migratória e a alimentar. Pesquisa realizada pelo Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste – ETENE, apontava: “Da população rural do nordeste, 57% almejam ir para o resto do país, 21% para as capitais do nordeste. Apenas 4,9% dos que pretendem migrar pensaram em ficar na zona rural. Dos que planejam migrar, 60% estão na faixa etária de 18 aos 29 anos. Um total de 78% dos investigados indicaram o desemprego e inadequadas condições de vida. Vale salientar que a pesquisa foi realizada em época de condições pluviométricas normais. 10 2. OBJETIVOS 2.1 – Objetivo Geral Tema dos mais questionados na atualidade, a alimentação humana se desponta como o mais importante no cenário mundial. Estima-se que no ano 2030, a população do planeta estará em torno dos 8 bilhões de habitantes. Em ordem inversa, os processos de desertificação, quer pelas forças da natureza, quer resultante da ação do próprio homem, evoluiu a tal ponto que, essas áreas hoje cobrem cerca de 40% da superfície do globo. Urge, portanto, ampliar as alternativas alimentares existentes sobretudo em áreas potenciais. 2.2 – Objetivos Específicos A escolha deste estudo recai sobre a cadeia produtiva da caprinocultura de corte, pelo aspecto visionário do que possa estar reservado a essa espécie animal, como instrumento gerador de mão-de-obra e como resgate à fixação do homem ao campo; opção alimentar de reconhecido valor nutritivo e da melhor perspectiva de contribuição na arrecadação de Municípios, Estados e da Nação. São vários os problemas a serem superados pela atividade caprina baiana, desde a superação das dificuldades geo-climáticas, como os longos períodos de estiagem, tipos de solo, degradação do ecossistema "caatinga", disponibilidade de capital a ser investido, até mesmo, aspectos sócio-culturais. Desta forma, busca-se através deste trabalho, o seguinte: a) - Fazer uma abordagem sobre a forma atual de condução da exploração caprina pelos produtores e o relacionamento destes com o ambiente institucional; b) - Delimitar os gargalos existentes na cadeia produtiva; c) - Desenvolver um programa de incremento produtivo e reprodutivo para o setor, inseindo-o no âmbito do agronegócio. 11 3. METODOLOGIA 3.1 – Objeto de Estudo Utilizou-se a metodologia da pesquisa exploratória. Fez-se uma análise do modelo e dos procedimentos utilizados atualmente pelos pequenos produtores rurais na exploração da caprinocultura de corte no Estado da Bahia. Através de pesquisa bibliográfica sobre o tema, analisou-se as possíveis soluções para aumentar a produtividade da atividade e eliminar os gargalos em sua comercialização. 3.2 – Procedimentos de Pesquisa O trabalho teve início com a realização de visitas a empresas, órgãos públicos e privados, e instituições ligadas a atividade da caprinocultura visando obter subsídios e material (livros, artigos, trabalhos científicos, revistas e outras publicações). Também foi elaborada pesquisa exploratória com os produtores e técnicos ligados a atividade, compreendendo a parte de campo da pesquisa. Tem por espaço geográfico o estado da Bahia, por se constituir num grande centro de produção de carne e grãos; e dará grande contribuição para a elaboração de projetos destinados ao financiamento da caprinocultura pelos órgãos fomentadores do desenvolvimento da região, especialmente o Banco do Nordeste. 12 4 – CENÁRIOS DA CAPRINOCULTURA DE CORTE Para entendimento da importância da caprinocultura de corte é necessário estabelecer, dentro de uma visão panorâmica, o cenário que ocupa hoje a atividade em nível mundial, para daí adentrar na realidade brasileira, mais especificamente no estado da Bahia. Mundialmente, a distribuição da carne caprina é bastante heterogênea. Estudos da FAO (1995), revelam um crescimento na produção, entre os anos de 1993 a 1995, de 10.648 para 11.451 mil toneladas. As maiores contribuições são oriundas da África e da Ásia com cerca de 70%; a América do Sul tem se mantido no patamar da produção de 190 mil e, deste total, o Brasil participa com 147 mil toneladas , contribuindo com apenas 1,28% da produção mundial (Pereira, 1996). O efetivo do rebanho brasileiro de caprinos é bem menor que de outros países. Esta pequena participação no mercado mundial advém de fatores como: Baixa produtividade - resultado de cruzamentos raciais aleatórios; manejo inadequado da criação. As raças locais adaptadas resultam em animais de grande rusticidade, porém de baixa produtividade; Questões culturais; e, reservadas as exceções, condições edafoclimáticas. Do rebanho caprino nacional de 15.987.286 cabeças, o efetivo leiteiro estimado é de 57.554 cabeças. (ANUALPEC, 1998). As regiões Sul e Sudeste, têm alcançado crescimento mais substancial em relação às demais. Isso é facilmente compreendido pelo caráter desenvolvimentista e cultural próprio dessas regiões , aliado a maior facilidade de adaptação das raças caprinas especializadas para a produção de leite às condições edafoclimáticas. O crescimento daí advindo, permitiu que ambas as regiões passassem a responder por 68% da produção nacional e por 78% de participação no mercado de leite de cabra (ANUALPEC, 1998). A estimativa da produção nordestina de leite é de 26% da produção nacional, mas, só 17% deste total é comercializado. A Bahia detém mais da metade do rebanho efetivo nordestino, contribuindo com 6 milhões de cabeças. (IBGE, 2000). 13 No oeste baiano, a atividade só veio ganhar impulso a partir de 1997, com a implantação de protocolos entre o Governo do Estado e o Banco do Nordeste, para diversificação da renda dos pequenos produtores rurais. 4.1 - Caracterização do ecossistema pecuário nordestino O Nordeste compõe uma das cinco regiões fisiográficas do Brasil, situando-se entre as latitudes 1° a 18°30’S e longitude 34°30’ e 48°20’W, representando aproximadamente 18,2% da superfície do Brasil. Com uma área territorial de 1.561.177,8 km² , é formado pelos estados da Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Maranhão, Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte, além do arquipélago de Fernando de Noronha anexado ao Estado de Pernambuco. Nesta região, encontra-se o semi-árido brasileiro, abrangendo 75% do Nordeste (1.170.000 km² ) e 13% do Brasil (IBGE, 1996). Existem amplas variações quanto ao tipo de solo, sendo geralmente rasos, com freqüentes afloramentos rochosos e baixa capacidade de retenção de umidade além de um reduzido teor de matéria orgânica, predominando o latossolo vermelho amarelo. Na faixa litorânea e faixa da antiga Mata Atlântica o clima é quente e úmido, com pluviosidade média anual de até 1.800 mm. O interior, excetuando-se algumas microregiões com microclimas típicos, caracteriza-se por apresentar clima quente e seco com pluviosidade anual média variando de 250 a 1000 mm, irregular e de forma concentrada. As estações do ano são apenas duas inverno (chuvosa) com duração média de dois a quatro meses e verão (seca). A temperatura apresenta pouca variação, com média anual de 25°C, aproximadamente. Na faixa litorânea e faixa da Mata Atlântica, ainda encontra-se resquícios da vegetação natural, sendo atualmente, em sua maior parte, ocupadas pela monocultura da cana-de-açúcar, assim como, algumas áreas de pasto cultivado, e em menor escala, culturas de subsistência. O interior do Nordeste apresenta várias sub-regiões, como o agreste, cariris, seridó, curimataú e sertão, perfazendo o semi-árido nordestino. Nestas áreas a vegetação predominante é a caatinga, que se caracteriza por apresentar geralmente, plantas de baixo ou médio porte (herbáceo-arbustivo-arbóreo), xerófilas e em sua maior parte, caducifólias, com predominância de leguminosas. A produção 14 total de fitomassa (matéria seca) da vegetação da caatinga é estimada em 4,0 t/ha/ano. Destas, somente 10% são consideradas forragens, sendo o restante constituído de material impalatável ou de baixo valor nutritivo (Araújo Filho e Carvalho, 1997). A exploração predominante é a silvo-pastoril, persistindo a agricultura de subsistência nas áreas de melhor potencial. A atividade pecuária da região é composta pela bovinocultura, caprinocultura, ovinocultura e bubalinocultura, praticadas geralmente de forma extensiva ou semi-intensiva. Também há a avicultura, suinocultura, além de outras em menor escala, estas praticadas quase sempre de forma empresarial. O efetivo da espécie caprina encontra-se sumarizado na Tabela 1 e Gráfico 1, podendo ser claramente observada a vanguarda da produção nordestina. Tabela 1. Efetivo do rebanho caprino no Brasil em 1990 e 1998. 1990 % 1998 % 10.677.129 89,72 10.554.359 89,39 SUL 455.094 3,82 385.044 3,26 SUDESTE 362.052 3,04 366.814 3,11 NORTE 247.326 2,08 320.138 2,71 CENTRO OESTE 159.087 1,34 181.251 1,53 NORDESTE 11.900.688 BRASIL Fonte: FNP-ANUALPEC, 1998. 100,00 11.807.635 100,00 Gráfico 1: Rebanho caprino brasileiro em 1998 89% NORDESTE SUL SUDESTE 2% 3% 3% 3% NORTE CENTRO OESTE 15 Apesar dos dados estatísticos da agropecuária brasileira serem estabelecidos com base em estimativas projetadas de censos anteriores, em que pese, o último censo agropecuário ter sido realizado em 1985, vê-se que a região Nordeste apresenta um maior número de caprinos, com aproximadamente 89,5% ao longo da década, demonstrando a vocação natural da região para a exploração da espécie caprina. Este comportamento está diretamente associado a capacidade de adaptação do caprino as condições ecológicas do semi-árido nordestino, que por apresentar características peculiares edafo-climáticas e vegetativas, propiciam condições para o desenvolvimento da espécie. Ressalta-se ainda a estabilidade populacional ao longo dos anos, sendo bem provável que devido as grandes estiagens, o efetivo nordestino tenha sido reduzido substancialmente. Estudos sobre a projeção do efetivo caprino no nordeste têm apontado para uma taxa de crescimento em torno de 2% ao ano (IBGE, 1990-1996), com ampla variação em função do que foi considerado anteriormente. Conforme a Tabela 2, verifica-se que a Bahia detém quase a metade do rebanho efetivo e, consequentemente, da produção nordestina. Tabela 2. Efetivo de caprinos no Nordeste, em 1998. 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. ESTADO EFETIVO % Bahia Piauí Pernambuco Ceará Maranhão Paraíba Rio Grande do Norte Alagoas Sergipe 4.446.155 2.233.609 1.351.406 1.149.543 511.499 481.298 285.428 72.235 23.186 42,13 21,16 12,80 10,89 4,86 4,56 2,70 0,68 0,22 10.554.359 100,00 NORDESTE Fonte: FNP-ANUALPEC, 1998. Estudos comprovam que a pecuária do sertão nordestino está estagnada e seu crescimento não consegue sequer acompanhar o crescimento da população humana que, nos últimos trinta anos aumentou cerca de 140%, enquanto que o rebanho bovino cresceu 51%, o de ovino, 47% e o de caprino, 45% (Araújo Filho e Carvalho, 1997). 16 Outro aspecto de grande importância que merece atenção redobrada dos órgãos de pesquisas, universidades, ONGs e da sociedade nordestina, é a raridade cada vez maior da ocorrência de tipos nativos, causada por um processo de acasalamento incontrolado, proporcionado pelo sistema ultra-extensivo de criação, além da introdução de raças exóticas consideradas melhorantes, iniciadas desde 1930. Através de pesquisas realizadas no ano de 1979, portanto há 20 anos atrás, para se identificar a ocorrência de concentrações quantitativamente significativas de caprinos nativos no nordeste, o Escritório de Estudos Técnicos do Banco do NordesteETENE já alertava para o problema (Tabela 3), que proporcionou uma mudança substancial no padrão racial dos rebanhos nativos do nordeste, predominando agora o tipo SRD (Kasprzykowski, 1982). Tabela 3. Tipos étnicos nativos de caprinos do Nordeste brasileiro. Estados Paraíba Tipos Nativos Moxotó e Repartida Piauí Canindé, Marota e Moxotó Ceará Marota e Canindé Rio Grande do Norte Canindé, Moxotó e Repartida Pernambuco Canindé e Moxotó Sergipe Canindé Bahia Marota, Canindé e Repartida Alagoas Sem notificação Maranhão Sem notificação Fonte: Kasprzykowski, 1982. É indiscutível a importância do trabalho de melhoramento do rebanho caprino nordestino através de raças exóticas, todavia, torna-se imperativo a consecução de projetos de preservação dos tipos nativos que apresentam características genética- produtivas compatíveis com o meio-ambiente próprio desta região, sendo bem provável que atualmente a ocorrência desses tipos nativos em criatórios privados deve ser bastante rara, o que é preocupante. Vale ressaltar o trabalho desenvolvido pela EMEPA (Empresa 17 de Pesquisa Agropecuária do Estado da Paraíba) e de alguns criadores aficcionados do Nordeste, em preservarem tipos nativos e, através destes, por meio de cruzamentos com raças homólogas importadas de outros países, cujo fenótipo apresenta semelhança ao das nativas, propiciarem novas opções de incremento a atividade caprina. Na verdade, pouco se sabe sobre a participação real dos tipos nativos existentes atualmente nos estados nordestinos. Outro aspecto muito importante é o tamanho das unidades produtivas de caprinos, onde segundo um estudo feito pela EMATER-Ceará, com 5.332 produtores assistidos no Estado, verificou-se um efetivo caprino de 109.890 animais, o que dá uma média de 20,6 animais por produtor, ocorre que geralmente os núcleos produtivos que usam o sistema tradicional de exploração detêm um maior número de animais que são criados em grandes áreas e sem um controle mais efetivo, além de que, quase sempre não recebem assistência técnica. Assim, considerando projeções econômicas que estabelecem um número em torno de 100 a 200 cabeças para viabilizar um projeto, dificuldade existente para aumentar percebe-se de imediato a e tornar a caprinocultura como um propulsor do desenvolvimento econômico da região. Obviamente esta situação estaria atrelada às condições técnicas e físicas destas unidades. 4.2 - Os sistemas de exploração praticados na caprinocultura de corte nordestina Diferente do que ocorre em outras regiões do Brasil, os sistemas de exploração caprina no Nordeste brasileiro, seguindo as definições clássicas, é basicamente extensivo, seguido pelo semi-intensivo (Souza Neto, 1987; citado por Pimenta Filho e Simplício, 1994), com enorme variação entre as diversas regiões do ecossistema semi-árido. Sendo assim, preferiu-se descrevê-los de forma mais simples, caracterizando-os em apenas dois, o sistema tradicional e o sistema progressivo. Um aspecto geral que tipifica os sistemas de exploração caprina no Nordeste é a utilização da caatinga nativa como suporte forrageiro, que no Estado de Pernambuco representava na década de 80, cerca de 64% da área total. Além da integração com outras criações, que para os Estados de Pernambuco e da Paraíba, das propriedades amostradas, 18% e 13%, dedicavam-se apenas à caprinocultura, enquanto que 57% e 43%, 18 respectivamente, exploravam bovinos, ovinos e caprinos juntos (Souza Neto, 1987; citado por Pimenta Filho e Simplício, 1994). 4.2.1 - O sistema tradicional de exploração de caprinos Este sistema, se caracteriza pela utilização de áreas maiores, com animais SRD (Sem Raça Definida) e Nativos (Moxotó, Canindé, Marota, Repartida), algumas em processo de extinção, além de tipos, como: Gurguéia, Craúna e Azul. Pela sua rusticidade, esses animais são utilizados básicamente na produção de carne e pele. Em períodos secos, muitas vezes, o proprietário é obrigado a alugar pastos dos vizinhos. Todavia, cada vez mais, encontra-se pequenas propriedades voltadas para a criação de caprinos e ovinos deslanados. Geralmente são criados animais de pequeno porte (canindé, moxotó, morada nova, somalis, etc) com menores necessidades de manutenção. Quanto à dieta, a caatinga é a principal fonte de alimentação. Não adota-se a prática da suplementação alimentar, exceto no período crítico da seca, em que emprega-se muito à prática de "salvar os animais", quando faz-se a queima de cactáceas, eliminandose os espinhos e fornecendo-se o “miolo-cabeça” de plantas como: faxeiro (Pilosocereus pachycladus) e mandacaru (Cereus jamacaru) ou bromeliáceas como o agave (Agave sisalana) e a macambira (Bromelia laciniosa). Algumas áreas dispõem da incidência casual de (Calliandra outras forrageiras, tais como a camaratuba (Cratylia mollis), Carqueija depauperata), Catingueira (Caesalpinia pyramidalis), Espinheiro (Chloroleucon foliolosum), Favela (Cnidoscolus phyllacanthus), Feijão Bravo (Capparis flexuosa), Imbuzeiro (Spondias tuberosa), Juazeiro (Ziziphus joazeiro), Jurema-preta (Mimosa tenuiflora), Jurema-vermelha pseudoglaziovii), Marmeleiro (Croton (Mimosa arenosa), Maniçoba (Manihot sonderianus), leucocephala), Mororó (Bauhinia chelilantha), Quebra-faca Moleque-duro (Croton Sabiá (Mimosa caesalpinifolia) e Sete-cascas/Cascudo (Tabebuia (Cordia conduplicatus), spongiosa) (Lima, 1996). Raramente executa-se alguns cuidados sanitários. Praticamente não existem instalações, apenas um "chiqueiro" onde os animais são reunidos ocasionalmente para 19 contagem ou separação para venda. Este sistema, encontra-se em declínio, pela necessidade de uma maior ocupação da terra, além de uma mudança nas relações comerciais e internacionalização dos mercados, exigindo maior eficiência produtiva do setor. 4.2.2 - O sistema de exploração "progressivo" na caprinocultura de corte Assim define-se ao sistema de exploração que adota práticas racionais de manejo, produzidas pela geração de tecnologia com base no conhecimento empírico ou científico. Este sistema encontra-se em plena expansão, sendo praticado em áreas menores, geralmente com animais mestiços ou puros do tronco alpino (Saanen e Alpina) e africano (Anglo-nubiana e Bhuj) e mais recentemente, animais da raça Boer. Encontrase também, criações bem planejadas de animais de raças nativas, como a Moxotó e a Canindé, assim como, animais SRD. As criações com melhoramento efetuado através das raças alpinas, cada vez mais, tentam direcionar sua exploração para a produção de leite. Neste sistema, utiliza-se a suplementação energética, protéica e/ou mineral, objetivando obter uma melhoria nos índices produtivos e reprodutivos do plantel. Além da caatinga, utiliza-se pastejos mistos, com campos cultivados e/ou banco de proteína (este último, ainda de utilização incipiente). Utiliza-se bastante também a suplementação através do fornecimento da Palma Forrageira (Opuntia ficus indica) e de restos de culturas de milho e feijão. Encontra-se a ocorrência geralmente desorganizada e mal manejada, da algarobeira (Prosopis juliflora), sendo os animais alimentados com as suas vagens que são consumidas diretamente no campo ou como suplementação no cocho. Já existe alguma preocupação com o cultivo desta leguminosa, que muitas vezes passa a predominar em áreas de pastejo, assim como de boa fertilidade do solo, reduzindo substancialmente a ocorrência de espécies nativas do estrato herbáceo, arbustivo e arbóreo. Além disso, há indicativos de que a utilização da vagem como dieta exclusiva pode provocar a ocorrência de uma doença conhecida como o "mal da cara-torta". Todavia, desde que bem manejada, a algarobeira mostra ser uma boa fonte de 20 nutrientes no período de escassez de forragens na região semi-árida. São adotadas práticas de manejo sanitário, como vacinações e everminações, notadamente pelos produtores mais capacitados. Este sistema dispõe de instalações, como o curral ou centro de manejo, apartação, cabriteiro e sala de rações ou derivações. Verifica-se que as unidades produtivas que adotam alguma melhorias base tecnológica, cada vez mais vêm se especializando, substanciais nos índices produtivos com e reprodutivos e com possibilidades crescentes de organização empresarial da atividade. 4.3 - Aspectos produtivos e reprodutivos De modo Nordeste, por geral, considera-se que a maioria dos rebanhos serem explorados basicamente em sistemas caprinos do de produção tradicional, apresentam baixa produtividade e sem níveis de especialização definidos. Na caatinga nativa os índices de desempenho animal são muitos baixos, sendo necessários 1,3 a 1,5 ha para criar um ovino ou um caprino durante um ano, com uma produção de peso vivo animal de 20 kg/ha. E para criar um bovino, com produção de 8,0 kg/ha, são necessários de 10 a 12 ha de pasto (Araújo Filho, 1997). Todavia, pode-se incrementar muito a produtividade destas espécies, quando se utilizam práticas adequadas de manejo da caatinga. De acordo com EMBRAPA-CNPC (1994), os índices atuais de produtividade da caprinocultura, em criações com sistema tradicional, giram em torno de: - fertilidade ao parto (60-70%); - gemelidade (25-30%); - mortalidade de jovens até um ano (30-40%) e de adultos (08-10%); - idade ao abate (16-18 meses); - taxa de desfrute (28-30%). Estes índices estão atrelados ao baixo nível de adoção tecnológica, que incorre em índices reprodutivos baixos, elevada mortalidade em todas as fases da criação, baixo nível 21 de desfrute, acarretando conseqüentemente uma baixa produção de carne e pele, que de modo geral, não atendem as exigências do mercado, o que provoca uma significativa redução na taxa de retorno financeiro ao produtor. Diversos trabalhos foram desenvolvidos no sentido de melhorar o desempenho da caprinocultura no Nordeste. Na Tabela 4, visualiza-se alguns índices reprodutivos sugeridos atualmente pelo Banco do Nordeste produtivos e e EMBRAPA, como recomendações para os diferentes níveis de tecnologia adotados no setor. Considerando-se uma taxa de abate para machos e fêmeas na ordem de 15%, e um rebanho de 10.677.129 no nordeste em 1990, teria sido abatido neste ano, cerca de 1.601.569 cabeças. Considerando ainda um peso médio de carcaça de 12 kg, têm-se que a produção média de carne caprina em 1990 foi de 19.218.832 toneladas. Com base em projeções realizadas por Souza Neto (1986), verifica-se para esse mesmo ano, uma demanda potencial de 70 ton. É notório mesmo que haja um incremento tecnológico no setor e um aumento na eficiência produtiva da atividade, com um aumento na taxa de abate para 30%, ainda assim, haveria um déficit de carne caprina no nordeste brasileiro, e como o rebanho praticamente permaneceu estável nesta década, têm-se esses mesmos níveis produtivos até hoje. Tabela 4. Índices produtivos e reprodutivos recomendados para a espécie caprina no Estado da Bahia, de acordo com os níveis de tecnologia adotados na atividade. Níveis de Tecnologia Variáveis Baixa Média Alta Parição (partos/ matriz/ ano) (%) 80 100 120 Prolificidade (crias/ partos) (und) 1,30 1,35 1,40 Natalidade (crias/ matriz/ ano) (und) 1,04 1,35 1,68 Mortalidade até 1 ano (%) 15 12 10 Mortalidade acima de 1 ano (%) 7 5 3 20 20 20 1:20 1:25 1:30 Peso vivo aos 100 dias (kg) 8 11 14 Peso vivo aos 365 dias (kg) 20 24 28 Descartes de matrizes (%) Relação reprodutor matriz (und/ und) 22 Idade ao abate (meses) 14-18 11-14 08-12 Desfrute (%) 28-40 35-47 42-55 matrizes descartadas) (kg) 10 12 14 Idade ao primeiro acasalamento (meses) 12 12 12 Seleção de fêmeas para reprodução (%) 60 50 40 Peso médio da carcaça ao abate (machos e fêmeas de um ano e Número de animais até um ano por U.A 14 14 14 Nº de animais acima de um ano por U.A 7 7 7 Aprisco - Animais até 8 meses (m²/anim) 0,5 0,5 0,5 Aprisco - Animais acima de 8 meses (m²/ 0,8 0,8 0,8 0,8 0,8 0,8 1,6 1,6 1,6 5 5 5 animal) Curral de manejo - Animais até 8 meses (m²/animal) Curral de manejo- Animais acima de 8 meses (m²/ cab) Consumo de água (litro) Fonte: BNB-Agenda do Produtor, 1998 e EMBRAPA-CNPC, 1994. A EMEPA-PB importou no ano de 1996, animais da raça Boer "Melhorada", oriunda da África do Sul, que têm apresentado bom desempenho produtivo e reprodutivo na região do Curimataú paraibano (Souza Neto, 1998). Esse fato tem gerado grandes expectativas por parte dos caprinocultores, raça pela possibilidade desta vir a contribuir com o desenvolvimento da caprinocultura de corte do Nordeste. Souza Neto (1999), descreve alguns dados sobre o desempenho produtivo e reprodutivo de raças de caprinos no Nordeste do Brasil (Tabela 5). 23 Tabela 5. Médias de alguns parâmetros produtivos e reprodutivos de raças e/ou tipos de caprinos do Brasil. Parâmetros Raças e/ou tipos Peso ao nascer (kg) Peso a desmama* (kg) Peso aos 196 dias (kg) Ganho em peso (g) Nascimento-desmama Ganho em peso (g) Desmama-196 dias Rend. de carcaça (%) Taxa de parição (%) Prolificidade Mortalid. até desmama (%) Fonte: SOUSA et al. (1998-1999) Sem Raça Anglo- Definida Nubiana Al pina Canindé Parda BOER 2,0 10,2 12,2 2,8 12,8 16,8 2,8 13,8 17,3 1,9 9,1 11,7 3,0 18,0 23,2 73,0 89,2 98,2 64,7 141,7 43,8 47,6 41,6 22,6 62,0 42-44 44-47 43-44 41-44 47-52 83,4 81,2 80,1 86,0 87,3 1,4 1,5 1,6 1,3 1,8 13,8 14,0 18,6 12,7 7,0 * Desmama aos 112 dias de idade Além dos excelentes resultados produtivos e reprodutivos apresentados pela raça Boer, demonstrando ser um animal melhorado para a produção de carne, ela ainda apresenta a mais alta percentagem de rendimento de carcaça entre todas as pequenas criações. Com potencial de ganho-em-peso, podendo atingir 64 kg aos oito meses; 92,2 kg aos 12 meses; 116,8 kg aos dois dentes; e 114,7 kg aos quatro dentes, média para machos Boer em condições controladas (Campbell 1984, citado por Souza, 1998). Tabela 6. Rendimento de carcaça de animais da raça Boer na África do Sul, de acordo com a idade. Idade (Fase) Rendimento de carcaça (%) 8 a 10 meses............................................ 2 dentes..................................................... 4 dentes..................................................... 6 dentes..................................................... Boca cheia................................................. Fonte: ALTA GENETICS BRASIL , 1996. 48 50 52 54 56-60 ou mais Geralmente, os índices de rendimento de carcaça no rebanho nativo e SRD do Nordeste, estão em torno de 45%, variando com a idade do animal, apesar de sempre considerar no processo de venda do animal 50% de rendimento. 24 5 – ASPECTOS DA CADEIA PRODUTIVA Com a abertura econômica dos mercados internacionais, o setor agropecuário brasileiro, dentre eles a caprinocultura, vem experimentando algumas transformações estruturais influenciadas entre outras por: - o comércio internacional dos produtos agrícolas, dominado pelas commodities, apresentando sinais de saturação; - margens de lucro decrescentes por unidade de produto; - necessidade de maior integração das unidades de produção agropecuárias nas cadeias produtivas; - dependência cada vez maior de suporte científico e tecnológico na atividade de produção agropecuária; - atendimento a novas exigências de padronização e controle de qualidade dos produtos; e, - demanda por processos de gestão (Medeiros, 1998). A cadeia produtiva da caprinocultura brasileira como um todo, ainda carece de estudos que possibilitem a análise da interação existente entre os diversos segmentos, desde os geradores de recursos à fabricação de insumos, passando pelas unidades produtivas, a etapa de processamento do produto gerado, a distribuição e comercialização dos produtos e sub-produtos e, por fim, o consumidor final que deve ser, sem dúvida, o norteador da direção em que a atividade deve desenvolver-se. Assim, parece claro que, em se tratando da caprinocultura de corte, existem problemas sérios em todos os elos da cadeia, que servem de desafio para todos os envolvidos na atividade, sendo a pesquisa, instrumento básico para identificação e resolução destes gargalos. 5.1 - Entraves do Setor Baseado na pesquisa exploratória deste trabalho e através de informações obtidas na literatura, principalmente, no I WORKSHOP SOBRE CAPRINOS E OVINOS TROPICAIS realizado em Fortaleza – CE, em dezembro de 1998 (onde grupos de produtores, técnicos, pesquisadores, professores e empresários da área debatiam sobre o assunto), foi feito um diagnóstico das várias ameaças que limitam o desenvolvimento do setor, as quais descrevemos a seguir: 25 5.1.1 - Baixo nível técnico dos produtores. Os baixos rendimentos médios da agropecuária nordestina (Feijão 782 kg/ha, milho 2.207 kg/ha, arroz 3.740 kg/ha, a vaca produz em média 4 litros de leite por dia, tendo seu primeiro parto aos 42 meses ( o intervalo entre partos é de 24 meses) demonstram de forma clara e indiscutível que a imensa maioria dos produtores ainda não está adotando inovações elementares e de baixo custo, apesar de que estas já estão disponíveis desde muitas décadas. Continuam sem adotá-las, não tanto por insuficiência de recursos, mas sim e muito especialmente, por falta de conhecimentos, que os extensionistas poderiam proporcionar-lhes. Estes modestos rendimentos demonstram também que é exatamente a não adoção destas inovações elementares (e não das sofisticadas e de alto custo) que está impedindo a grande maioria dos produtores incrementarem os baixíssimos rendimentos acima mencionados. Se as inovações elementares, cuja introdução depende apenas de conhecimentos (e não de recursos), já tivessem sido adotadas de forma correta pela maioria dos produtores, os rendimentos da agropecuária nordestina não seriam tão baixos como são na atualidade. Isto significa que um eficiente serviço de extensão, poderia e deveria ser o fator mais decisivo para elevar os baixíssimos rendimentos da agropecuária nordestina e, através desta elevação, dar o primeiro e mais importante passo para solucionar os principais problemas dos produtores. O número de agricultores que necessita ser urgentemente capacitado é de tal magnitude que requer a conjugação de vários esforços institucionais, públicos e privados, atuando de forma convergente em direção ao grande objetivo comum que é introduzir novos conhecimentos, habilidades e atitudes no meio rural; porque no mundo moderno, o êxito dos produtores dependerá em grande parte desses insumos intelectuais. Diante deste desafio, instituições como Igreja, associações, sindicatos, ONGs, prefeituras, terão papel preponderante nessa cruzada educativa destinada a eliminar do 26 meio rural a grande causa do subdesenvolvimento, que é o baixo nível de conhecimentos dos seus habitantes. 5.1.2 - Insuficiência e alto custo do capital financeiro Como se sabe, os investimentos de longo prazo para o setor primário, nunca ofereceram o retorno esperado pelo investidor privado. Daí serem considerados de alto risco e terem um elevado custo financeiro (TR + juros de 6 a 10% aa.). Em relação aos recursos governamentais, durante a maior parte da década de 80, o crescimento do setor agrícola brasileiro foi bastante estimulado. Já ao término desta, com o agravamento do quadro macroeconômico e, em particular, pelas estratégias (via choque ou moeda indexada) adotada pelo governo para controlar a inflação, o setor tornou-se a principal vítima do descontrole inflacionário e da incapacidade demonstrada pelo governo de combatê-lo. Surgiu daí a insuficiência e o alto custo do capital financeiro considerado um dos entraves ao crescimento da caprinocultura nordestina. 5.1.3 - Comercialização, processamento e marketing inapropriados. Se já existem problemas “dentro da porteira”, eles se agravam quando é para colocar o produto no mercado. Os produtores, geralmente desorganizados, não fazem qualquer planejamento ou estudo de mercado, ficando a mercê de atravessadores. Outra dificuldade, principalmente do Oeste Baiano, é a inexistência de abatedouros e frigoríficos. Impossibilitados de agregar valor ao produto, os produtores geralmente vendem a produção em açougues, de porta em porta ou em lotes vivos a preços mais baixos. Falta, enfim, de um arcabouço institucional e Leis que regulamentem o setor e obriguem a sua modernização. Apesar do mercado estar em crescimento, há necessidade de um marketing mais agressivo, visando consolidar cada vez mais o consumo da carne caprina ao hábito alimentar da população. 27 5.2 - Agentes da Cadeia Produtiva Os elementos do complexo agroindustrial da caprinocultura são bem diversificados, mas existe uma potencialidade de produção de produtos e sub-produtos pouco explorados, indo desde os alimentos convencionais, como carne e derivados, leite e derivados, vísceras e sangue; produtos oriundos da pele e pêlos (jaquetas, bolsas, calçados, pincéis, escovas, etc); sêmen; reprodutores e matrizes até os sub-produtos como esterco, urina, ossos e chifres. Algumas ações têm sido postas em prática por agroindustrial. Nos últimos anos foram implantados alguns segmentos do setor abatedouros e frigoríficos nos estados da Bahia, Ceará e Paraíba, para o abate e industrialização da carne caprina e ovina, com capacidade para abater 300 a 400 animais/dia cada um, todavia, observou-se a incapacidade de fornecimento da matéria-prima pelo setor produtivo, o que acarretou em uma sub-utilização destas unidades. Este fato reflete o desconhecimento dos participantes da cadeia produtiva, e mais uma vez, uma inversão de ações políticafinanceiras, pois, necessariamente devia-se primeiramente pensar em incrementar a produção de caprinos e ovinos, como também, a sua qualidade para o abate industrial, e em seguida, criar uma infra-estrutura para processamento dos produtos gerados. Atualmente, os abates são realizados sob duas condições: uma é o abate realizado em matadouros/frigoríficos com inspeção sanitária e a outra, é o clandestino, praticado em matadouros municipais ou em locais incertos, o que parece mais comum, e cada uma destas modalidades tem características próprias que determinam o caminho comercial após a "porteira" (Barreto Neto, 1998). Tabela 8. Situações encontradas nos abates legalizados e clandestinos, de caprinos e ovinos no Nordeste do Brasil. MATADOUROS – FRIGORÍFICOS X ABATES CLANDESTINOS Se enquadra na legislação Sanitária Risco alimentar Custos crescentes com a legislação Custo zero Maior mecanização das operações Uso de Mão-de-Obra Maior Nenhum custo fixo custo fixo operacional 28 Necessita maior escala para operar Opera em pequena escala Custos menores com a escala Deseconomia de escala Vendas ao setor supermercadista Vendas em feiras e e institucional Inseridos na economia açougues formal Tributação importante na formação do preço Economia informal Tributação irrelevante para o preço Opera em escala regional ou nacional Operações locais Mercado em ascensão Mercado em declínio Fonte: Barreto Neto (1998). Apesar de ser evidente o potencial de aumento do consumo de carne caprina e ovina, estatísticas apontam para um baixo nível de consumo per capita por ano no Nordeste e, mais ainda, em todo o Brasil, haja vista, ser hábito semanal do nordestino, consumir a carne caprina e ovina. São poucos os dados disponíveis sobre o consumo, principalmente para a espécie caprina, e muitas vezes contraditórios, o que denota mais uma vez, a necessidade de estudos sobre o assunto. Enquanto que o consumo de carne suína, bovina e de aves no Brasil, gira em torno de, respectivamente, 7,5; 20,0; e 18,5 kg per capita/ano, o de caprinos e ovinos é menor que 1 kg per capita /ano. Em pesquisa direta realizada pelo SEBRAE/CE, em 1998, na cidade de Fortaleza-CE, detectou-se um consumo de 0,590 e 0,375 kg per capita anuais, para ovinos e caprinos, respectivamente. Deve-se considerar que os dados mostram a diversidade de comportamento de mercado dentro das próprias sub-regiões do Nordeste e entre cidades, sendo que, o consumo no interior parece ser bem maior que nas capitais, e além disso, há indícios de que muitas vezes, o consumo é efetuado na própria unidade produtora. Estudos de mercado realizados pelo IPEA (1998), revelam que o consumo de qualquer produto é influenciado por dois fatores principais: a tradição e o preço. A tradição pode ser alterada a longo prazo com um trabalho de marketing agressivo. Já o 29 preço, pode ser alterado a médio prazo, já que tem impacto imediato sobre o nível de consumo e influencia a formação de novos hábitos. Assim, espera-se que com a adoção de técnicas mais racionais de exploração que acarretará em um menor custo de produção com uma conseqüente redução de preço ao consumidor, que hoje no nordeste gira em torno de R$ 2,50 a R$ 4,00, tenha-se um estímulo no consumo. Por outro lado, o aumento nesta demanda esbarrará no problema da baixa oferta. Quanto à comercialização de carne caprina, Barreto Neto (1998) enfatiza que o principal cliente e o que mais cresce, é o setor supermercadista. Secundariamente, vem o mercado HRI: Hotéis, Restaurantes e Instituições. Além disso, os matadouros frigoríficos praticamente não vendem a açougues pela penetração maciça de carnes clandestinas, porém, com o aumento das fiscalizações, a tendência futura é que venham a participar deste mercado. Outro aspecto bem peculiar da comercialização de carne caprina é a venda indireta por "marchantes" ou atravessadores em feiras livres, e diretamente ao consumidor "de porta em porta", prática bastante utilizada no interior/pequenas cidades, o que geralmente ocorre sem nenhum controle sobre a qualidade do produto comercializado. É bem provável que em breve, com a necessidade de se oferecer um produto de maior qualidade, padronizado e bem embalado, características cada vez mais crescentes nos consumidores atuais, haja uma solidificação da caprinocultura de corte como atividade empresarial, em que os custos e a conseqüente formação do preço final dos produtos gerados devem direcionar as ações de toda a cadeia produtiva. Atualmente, existem pontos críticos nesta composição de preço, obviamente, mais uma vez, faltam estudos aprofundados sobre a composição dos preços na caprinocultura de corte. Mesmo assim, Barreto Neto (1998) apresenta uma comparação na estrutura de custos entre a carne ovina e bovina, e como a estrutura de produção da caprinocultura é sempre considerada similar a da ovinocultura, serve de indicativo para a situação predominante atualmente na atividade caprina. 30 Outro sub-produto de grande importância para a caprinocultura de corte nordestina é a pele, que tem sido classificada como de excelente qualidade, com grande aceitação no mercado externo. Apesar de existir várias inferências de que a pele do caprino ou ovino pode chegar a valer até 30% do valor comercial da carne, atualmente, o que se vê, é a prática de um preço quase que irrisório ao produtor. Todavia, com uma agregação de valor considerável pelos atravessadores e curtumes. Sousa Neto (1987), em estudo sobre a demanda potencial de carne de caprinos, apresenta projeções das exportações de peles de caprinos para os anos de 1985 e 1990 (Tabela 11). Tabela 11. Exportações brasileiras de peles de caprinos de 1995 a 2000 (ton). ANOS CAPRINOS 1995 1.576,97 1996 1.660,41 1997 1.743,85 1998 1.927,29 1999 1.910,73 2000 1.994,17 Fonte: ANUALPEC,2000). Antes da porteira, podemos considerar como o maior entrave ao crescimento da atividade, a questão cultural. A maioria dos produtores rurais, geralmente de baixo nível educacional e técnico, resiste em utilizar novas tecnologias e a diversificar a produção em suas propriedades. Muitas vezes, por ignorância ou por encarar sua rotina de trabalho como tradicional, os animais são deixados à própria sorte, sem nenhum controle de sanidade e quantidade. 5.3 - Aspectos financeiros da atividade Nossa caprinocultura está enveredando por um caminho no mínimo simplista, que é o de limitar toda a problemática de um agronegócio à questão “dentro da porteira” e, dentro desta, individualizá-la na questão da raça. Tudo isso induzido por um equivocado conceito de tecnologia, associado a animais puros, importados, transplantes de embrião e outras coisas mais, sem a correspondente preocupação com os outros fatores de produção. Privilegiam-se cursos de inseminação artificial em zonas onde os animais sequer têm o que comer nos períodos secos. 31 Nesse contexto, é natural que o caprinocultor fique maravilhado com os magníficos espécimes expostos nas exposições de animais. Nada contra, já que alguns desses genótipos, combinados harmônicamente com técnicas melhoradas de alimentação e manejo, podem constituir instrumentos fundamentais para a mudança do padrão tecnológico da atividade. É essencial, porém, que êle também se conscientize de que o fato de um sistema produzir animais com 30 kg de peso vivo aos quatro meses de idade e outro apenas aos oito meses, não significa, necessariamente, ser o primeiro sistema mais rentável que o segundo. O que realmente importa saber é a que custo está sendo produzido um quilograma de cada um e qual o preço que o mercado paga. Em suma, o preço que o mercado paga é que vai indicar o sistema de produção (incluindo o genótipo) mais adequado a ser utilizado pelo produtor. “Tecnologia de ponta” será, toda aquela que contribuir para que o custo de produção permita uma margem de lucro satisfatória sob aquela condição de preço de venda, seja ela pasto de catinga ou pasto irrigado de tifton, raça Moxotó ou raça Boer, monta natural ou inseminação artificial. O que o caprinocultor deve buscar, além de admirar os belos animais, é saber identificar corretamente os fatores de produção que deverão ser trabalhados para melhor adequar seu custo unitário às condições do mercado. Isto significa buscar o ótimo econômico do seu sistema de produção, ótimo este localizado, via de regra, abaixo do ótimo zootécnico. Tabela 12. Custos de implantação de um projeto de caprinos. (*) ORÇAMENTO Conjunto moto-forrageiro.................................................. 01 ha de capineira/pasto..................................................... 01 ha de mandioca.............................................................. Aprisco para 200 cabeças................................................... 01 km de cerca.................................................................... 200 matrizes caprinas......................................................... 10 reprodutores P.O ......................................................... Assistência técnica............................................................. TOTAL.............................................................................. Fonte: EBDA (Maio/2000). R$ 3.500,00 550,00 470,00 5.000,00 1.000,00 12.000,00 6.000,00 1.000,00 29.520,00 32 Tabela 13. Custos de produção da caprinocultura de corte. (*) DISCRIMINAÇÃO QUANT/ UNID PREÇO UNIT. PREÇO TOTAL SERVIÇOS 2.960,00 Mão de obra .Tratador .Assistência técnica .Roçagem de pasto 2.960,00 2.555,00 300,00 105,00 365,0 dia 3,0 visita 15,0 dia 7,00 100,00 7,00 INSUMOS .Brincos .Água sanitária .Vacinas .Febre Aftosa .Raiva .Polistar .Vermifugação .Mineralização .Sal Mineral 2.548,00 200,0 Und 80,0 Lit 1,00 0,50 200,00 40,00 200,0 Dose 200,0 Dose 200,0 Dose 800,0 Dose 0,28 0,26 0,52 0,20 56,00 52,00 104,00 160,00 0,44 1.936,00 4.400,0 Kg TOTAL Fonte: EBDA (Maio/2000). 5.508,00 % 54,00% 46,00% 100,00% (*) Valores em R$ e projetado para 200 animais. Com relação ao capital financeiro, a partir de 1997 foram assinados protocolos entre o governo do estado da Bahia e o Banco do Nordeste, para alavancar a atividade na região, através da aplicação de recursos financeiros do Fundo de Desenvolvimento do Nordeste – FNE, a juros fixos de 6% aa, com rebate de até 25% para pagamentos em dia; prazos de até 08 anos, com três de carência. Ao mesmo tempo, foi desenvolvido pela Secretaria da Agricultura do Estado, um programa de capacitação de mão-de-obra executado pela EBDA, atingindo todos os produtores da região. É sabido que grande parte das propriedades de pequenos produtores se situa entre 20 e 100 ha e geralmente apresentam estrutura deficiente quanto ao aspecto produtivo. Levando em consideração alguns custos de implantação e produção descritos nas tabelas 12 e 13, respectivamente, pode-se afirmar que a caprinocultura só é economicamente viável a partir de um plantel de 200 cabeças. 33 6 - CONCLUSÕES As características geográficas do Nordeste brasileiro lhe caracterizam como região vocacionada para a produção de caprinos, não só por apresentar aproximadamente 90% do efetivo do rebanho brasileiro, mas, principalmente, pela importância sócioeconômica que ela representa. Observa-se que existe uma lenta evolução na dinâmica produtiva da atividade e, ao mesmo tempo, pelas novas possibilidades proporcionada pela abertura de mercados, há uma necessidade de incrementar as ações voltadas para uma maior eficiência nos núcleos produtivos, buscando uma maior diversificação na produção e consequentemente gerando mais renda para a propriedade. Além da melhoria nos índices técnicos, urge estudar e conhecer as interrelações da sua cadeia produtiva, corrigindo e norteando a atividade para inseri-la no âmbito do agronegócio, tornando a produção de carne e sub-produtos caprinos definitivamente, um propulsor do desenvolvimento das regiões pecuárias nordestinas. Podemos considerar como o maior entrave ao crescimento da atividade, a questão cultural. A maioria dos produtores rurais, geralmente de baixo nível educacional, resiste em aceitar novas tecnologias e a diversificar a produção em suas propriedades por preguiça e por não dar status. O regime predominante é o extensivo, onde os animais são deixados à própria sorte, de forma que o criador não tem nenhuma noção de controle, sanidade e quantidade de seus animais. É indiscutível a necessidade de se melhorar os índices produtivos e reprodutivos da caprinocultura de corte na Bahia, para que possa haver um incremento na produtividade desta espécie na região. Portanto, de imediato verifica-se a baixa capacidade de produção de carne caprina na região. Será que deveremos continuar priorizando infrutíferas reinvindicações dirigidas ao Congresso Nacional, aos Ministérios da Economia, Fazenda, ao Banco Central, para pedir paliativos inacessíveis, ineficazes e perpetuadores de dependência? Ou será que deveremos buscar soluções emancipadoras nas escolas fundamentais rurais (do 1º ao 8º ano), nas escolas agrotécnicas e nas faculdades de ciências agrárias. Será que todos os governos dos países da América Latina, os atuais e os das décadas anteriores, são e foram insensíveis aos problemas do agricultores e não tiveram a vontade política de solucioná-los? Ou será devido ao modelo paternalista e a insuficiência de recursos. Se não funcionou quando as instituições estatais tinham mais poder e mais 34 recursos, como esperar que funcione na atualidade quando os governos estão debilitados e endividados? Definitivamente, o intervencionismo estatal perenizador de dependências, de cima para baixo, deverá ser substituido pelo protagonismo emancipador dos agricultores, de baixo para cima. Os solucionadores potenciais dos nossos problemas agropecuários estão em cada família, propriedade e comunidade rural, em cada escola fundamental rural, escritório de extensão rural, estação experimental, prefeitura, escola agrotécnica, faculdade de ciências agrárias; falta apenas transformá-los de solucionadores potenciais em solucionadores reais. São várias as ações a serem implementadas pelos pecuaristas, dentre elas, a utilização de um manejo alimentar bem planejado, atrelado a um programa de melhoramento genético das nossas raças. Deve-se reduzir a idade de abate dos animais e incrementar a taxa de desfrute dos rebanhos, gerando uma maior produção de carne para o mercado consumidor. Aliado a isso, há necessidade de ser formado um novo cidadão rural com conhecimento amplo da cadeia produtiva. Enquanto não se fizer, as medidas convencionais que os governos adotem em prol do desenvolvimento agropecuário continuarão produzindo resultados muito modestos, desperdiçando em grande parte os escassos recursos oficiais. Isto porque os destinatários de tais iniciativas não estarão técnica nem emocionalmente preparados para beneficiar-se delas, nem para assumir como sua a responsabilidade pelo seu próprio desenvolvimento. Enquanto não possam, não saibam e não estejam motivados para assumí-la, simplesmente não poderá haver eficiência e racionalidade nas propriedades e comunidades, porque a imensa maioria dos produtores continuarão cometendo, sem sequer dar-se conta, erros elementares no acesso e utilização dos insumos, na aplicação de técnicas agrícolas, no uso dos recursos produtivos, na armazenagem de suas colheitas e na comercialização de seus excedentes. Como consequência, os produtores continuarão produzindo um excedente diminuto, de má qualidade e obtendo-o com baixos rendimentos. Também continuarão vendendo-o sem agregar valor, de forma individual, ao primeiro intermediário que queira comprá-lo. Devido a tais procedimentos seus custos de produção continuarão sendo muito altos e os 35 preços de venda muitos baixos, e, que por estes motivos, seus ganhos serão insuficientes e não lhes permitirão viabilizar-se econômicamente. No nordeste existem muitos exemplos de projetos de desenvolvimento agrícola e rural que demandaram enormes recursos e imensos esforços dos governos e da sociedade, porém que não produziram os resultados esperados, exatamente por subestimar a importância do fator conhecimento. Não se pode ignorar estes exemplos e reiterar este gravíssimo erro, porque enquanto ele persistir será virtualmente impossível atingir a equidade, a rentabilidade e a competitividade na produção nordestina e baiana. Enquanto não se forme e não se capacite um novo cidadão rural com conhecimentos e atitudes que lhe permitam encarregar-se da solução de seus próprios problemas, de pouco servirão os grandes volumes de crédito, subsídios, obras de infraestrutura, tecnologias de ponta e insumos de alto rendimento que o estado tente oferecer-lhes. Nenhum destes desejados ou desejáveis fatores materiais será suficiente nem eficaz, se prévio a isto, não se preparar e capacitar a família rural para que SAIBA, QUEIRA E POSSA desenvolver-se, com o fruto de seu próprio esforço e sua própria capacidade. 36 7 - BIBLIOGRAFIA ALTA GENETICS BRASIL. Boer goat. Porto Alegre, 1996, 2 p. ARAÚJO FILHO, J. A.; CARVALHO, F. C. Desenvolvimento sustentado da Caatinga. Sobral: EMBRAPA-CNPC, 1997, 19 p. (Circular Técnica, 13). BANCO MUNDIAL. Luta contra a pobreza – Panorama Geral. ONU: Oxford University Press, 2000. BNB. Agenda do Produtor Rural. 1a Ed. Fortaleza: 1998. BARRETO NETO, A. D. Abate, cortes, distribuição e comercialização de ovinos e caprinos no Nordeste. In: I WORKSOHP SOBRE CAPRINOS E OVINOS TROPICAIS. Fortaleza: Anais.. BNB, 1998, p. 20-23. EMBRAPA-CNPC. Recomendações tecnológicas para a produção de caprinos e ovinos no Estado do Ceará. 2 ed., Sobral: EMBRAPA-CNPC,1994. 58 p. (Circular técnica, 9). EBDA. 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