VARIABILIDADE FISIOLÓGICA DE ISOLADOS DE Monosporascus cannonballus Kamila Câmara Correia1, Thárcio Henrrique Calazans Amorim da Silva 2, Erlen Keila Candido e Silva3 e Sami Jorge Michereff4 Introdução A região Nordeste destaca-se como a maior produtora de melão alcançando grande importância econômica devido à maior parte da produção estar voltada à exportação. Em 2006, a produção brasileira de melão foi de 500.021 t, oriunda de 21.366 ha cultivados. A região Nordeste foi responsável por 96% da produção brasileira de melão, com destaque para os estados do Rio Grande do Norte e Ceará, cujas produções foram de 245.552 t e 165.633 t, respectivamente [1]. A expansão da cultura do meloeiro no Nordeste brasileiro, aliada ao cultivo intensivo e contínuo sem rotação de culturas, tem contribuído para o aumento da incidência e severidade de doenças radiculares [2]. Nos últimos anos, tem se tornado especialmente importante o colapso, causado principalmente pelo fungo Monosporascus cannonballus Pollack e Uecker [3]. Embora inexistam informações precisas sobre as perdas relacionadas a esta doença no Brasil, nas principais regiões produtoras do mundo acarreta grandes perdas e limita o cultivo em muitas áreas [4, 5, 6,7]. Em levantamentos conduzidos nessa região no ano seguinte, o fungo foi isolado de 30% das áreas apresentando colapso [3], evidenciando a magnitude do problema. No desenvolvimento de estratégias de manejo das doenças radiculares do meloeiro, é essencial o conhecimento da variabilidade das populações dos patógenos [8]. Diante do exposto, este trabalho tem como objetivo determinar a variabilidade fisiológica de isolados de M. cannonballus, considerando o crescimento micelial, a produção de peritécios e o número de ascósporos. Material e métodos B. Crescimento micelial Discos de micélio de 6 mm de diâmetro foram retirados da borda de colônias puras com 11 dias de idade e transferidos para placas com BDA. Após a repicagem, as placas foram incubadas em BOD, a temperatura de 22ºC e fotoperíodo de 12 h. O crescimento micelial dos isolados foi mensurado diariamente, até o 4º dia, quando um dos isolados preencheu a placa de Petri. A avaliação foi baseada na medida do crescimento radial da colônia, em dois sentidos perpendiculares, obtendo a taxa de crescimento micelial diário de cada isolado. C. Número de Peritécios Após 45 dias da repicagem, quatro discos de 12 mm de diâmetros foram retirados da colônia de cada isolado, sendo transferidos para lâminas, macerados e com o auxilio de um microscópio esterioscopio foi observado o número de peritécio presente em cada disco [9]. D. Número de Ascósporos Aos 50 dias após a repicagem, foram retirados 10 peritécios da colônia de cada isolado e transferidos para lâmina, macerados para exteriorização dos ascósporos, os quais foram quantificados. O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado, com quatro repetições, sendo cada repetição constituída por uma placa. Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de agrupamento de Scott-Knott, ao nível de 5% de probabilidade. O agrupamento dos isolados de M. cannonballus foi realizado pela análise da distância Euclidiana por ligações simples, utilizando os dados de crescimento micelial, número de peritécios e número de ascósporos/peritécio. A. Obtenção do Isolados Setenta isolados de M. cannonballus foram obtidos por meio de coletas de raízes de meloeiro com sintomas do calapso, em áreas de produção de melão no Rio Grande do Norte, as quais foram submetidas ao processo de isolamento. Resultados Foram verificadas diferenças significativas (P≤0.05) entre os isolados de M. cannonballus quanto às características fisiológicas avaliadas, pois os isolados ________________ 1. Mestranda do PPGF. Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP – 52171-900. 2. Aluno Graduação em Agronomia. Bolsista PIBIC CNPq da Agronomia da UFRPE. Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP – 52171-900. 3. Doutoranda do PPGF. Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP – 52171900. 4. Professor Adjunto do Departamento de Agronomia, Fitossanidade, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP – 52171-900. foram reunidos em grupos distintos segundo o teste de Scott-Knott. Quando considera a taxa de crescimento micelial, produção de peritécio e produção de ascósporos foram constatados quatro, três e dois grupos de similaridade, respectivamente (Tabela 1). Utilizando o conjunto das características avaliadas, analise da distância Euclidiana por ligações simples permitiu a separação dos isolados de M. cannonballus em seis grupos de similaridade, quando considerada a distância de 12 (figura 1). Os isolados 2451, 2371, 2396 e 2455 constituíram individualmente quatro grupos de similaridade. Os isolados 2421 e 2380 constituíram outro grupo, enquanto os demais isolados formaram um único grupo de similaridade. A existência de variabilidade entre os isolados de um patógeno indica uma possível presença de diversidade genética entre suas populações [8]. Para o controle do colapso do meloeiro é recomendada a utilização de práticas integradas, uma vez que individualmente dificilmente propiciarão o sucesso esperado [7, 10]. O conhecimento da existência de variabilidade em populações de M. cannonballus pode ser útil para otimizar o manejo de genes de resistência em meloeiro, para maximizar a expectativa de uso de fungicidas e minimizar as perdas que resultam da redução na eficiência desses métodos de controle. Agradecimentos Ao CNPq e a CAPES pela concessão das bolsas para o desenvolvimento dessa pesquisa. Referências [1] INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. 2008. [Online] Sistema IBGE de recuperação automática. Homepage:http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/agric [2] SANTOS, A. A.; CRISÓSTOMO, J. R.; CARDOSO, J. W. 2004. Avaliação de hibridos de melão quanto as principais doenças nos estados do Ceará e Rio Grande do Norte. Fort\leza, Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento, Embrapa Agroindústria Tropical 16. 14 p. [3] ANDRADE, D. E. G. T. et al. 2005. Freqüência de fungos associados ao colapso do meloeiro e relação com características físicas, químicas e microbiológicas dos solos. 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Puntos negros de las raíces de melón y sandía (Monosporascus spp.) In: DÍAS RUÍZ, J. R.; GARCÍA- JIMÉNEZ, J. (Eds.). Enfermedades de las Cucurbitáceas em España. Madrid: Sociedad Española de Fitopatología. P 38-41. Tabela 1. Agrupamento de isolados de Monosporascus cannonballus conforme a taxa de crescimento micelial, número de peritécio e número de ascósporos por peritécio. Taxa de crescimento micelial Grupos de isolados I II III IV Taxa de crescimento (mm/dia) 18,01 - 27,11 17,85 - 12,58 9,04 - 4,30 1,95 - 0,00 Número de isolados - [%] 47 - [67,1] 17 - [24,3] 2 - [2,9] 4 - [5,7] Número de peritécios Grupos de isolados I II III Número de peritécios/12 mm diam. 102,94 - 39,06 38,81 - 26,94 20,69 - 0,00 Número de isolados - [%] 46 - [65,7] 13 - [18,6] 11 - [15,7] Número de ascósporos Grupos de isolados I II Número de ascósporos/peritécio 65,22 - 16,40 16,62 - 0,00 Número de isolados - [%] 24 - [34,3] 46 - [65,7] a Conforme a análise dos dados de severidade pelo teste de agrupamento de Scott-Knott (P=0,05). 25 Distância de ligação 20 15 10 5 2451 2421 2380 2371 2396 2455 2452 2403 2457 2448 2405 2467 2398 2454 2372 2399 2363 2389 2440 2402 2446 2441 2370 2449 2438 2430 2450 2401 2390 2367 2443 2437 2376 2428 2391 2414 2434 2453 2435 2436 2379 2395 2387 2431 2444 2386 2362 2378 2377 2417 2411 2393 2365 2422 2382 2406 2439 2412 2361 2466 2404 2418 2397 2429 2427 2381 2369 2408 2394 2360 0 Isolados Figura 1 - Agrupamento de 70 isolados de Monosporascus cannonballus procedentes de diferentes áreas de cultivo de meloeiro do Estado do Rio Grande Norte, baseado na análise da distância Euclidiana por ligações simples, considerando características fisiológicas (taxa de crescimento micelial, número de peritécios e número de ascósporos/peritécio).