AVALIAÇÃO MICROBIOLÓGICA EM LEITE PASTEURIZADO TIPO “C” Carlos Adriano de Santana Leal1, Cristine Espíndola Agra da Silva 2, Lúcia Sadae2, Andressa Ana de Paiva Santana3, Williams Napoleão dos Santos3, Maria Idalina de Lima Callado4, Ana Mércia Mendes Vasconcelos5, Maria José de Sena6 Introdução Entende-se por leite, sem outra especificação, o produto oriundo da ordenha completa e ininterrupta, em condições de higiene, de vacas sadias, bem alimentadas e descansadas. O Leite Pasteurizado tipo C é o produto classificado quanto ao teor de gordura como integral, padronizado a 3% m/m, semidesnatado ou desnatado, submetido à temperatura de 72 a 75ºC durante 15 a 20s, em equipamento de pasteurização a placas [1]. O leite pasteurizado tipo “C” vem perdendo mercado, uma vez que sua qualidade microbiológica não possui um controle tão rigoroso durante seu processamento. Isso propicia a ocorrência de constantes denúncias quanto à sua qualidade, fazendo com que o consumidor dê preferência para outros tipos de leite [2]. O controle microbiológico em amostras de leite é realizado, principalmente, através da pesquisa de microrganismos indicadores que, quando presentes, podem fornecer informações sobre as condições sanitárias da produção, do processamento, ou armazenamento, assim como a possível presença de patógenos e estimativa da vida de prateleira do produto. Os principais grupos de microrganismos indicadores de qualidade do leite são os aeróbios mesófilos e os coliformes [3]. Diante do exposto o presente trabalho teve como objetivo avaliar as condições higiênicas do leite pasteurizado tipo “C” através da análise microbiológica para mesófilos, coliformes e Salmonella. Material e métodos Foram analisadas 92 amostras de leite tipo “C”, no período de 01 de janeiro a 31 de março de 2009, provenientes de todo o Estado de Pernambuco. As análises foram feitas no setor de Microbiologia de Alimentos, do Laboratório Nacional Agropecuário em Pernambuco – LANAGRO/PE, baseadas na metodologia analítica da Instrução Normativa n° 62 [4], que dispõe sobre os Métodos Analíticos Oficiais para Análises Microbiológicas para Controle de Produtos de Origem Animal e Água. Coliformes Teste Presuntivo Baseou-se na inoculação de 1 ml da amostra em 9 ml de caldo lauril sulfato de sódio (concentração simples), diluição 10-1, ou seja, diretamente da amostra (100), inoculou-se volumes de 1 mL em uma série de 3 tubos contendo caldo lauril sulfato de sódio, em concentração simples. Transferiu-se também 1 mL da amostra para tubos contendo solução salina peptonada 0,1% de forma a obter a diluição 10-1. A partir da diluição 10-1 efetuou-se as demais diluições em solução salina peptonada 0,1%, repetindo-se o processo anteriormente descrito até obtenção da diluição desejada. Ao final incubou-se os tubos a 36 1ºC por 24 a 48 horas. Após esse período a presença de coliformes foi evidenciada pela formação de gás nos tubos de Durhan, produzido pela fermentação da lactose contida no meio. Teste Confirmativo Para coliformes totais: A confirmação da presença de coliformes totais foi feita por meio da inoculação dos tubos positivos para a fermentação de lactose em caldo verde brilhante bile lactose 2% e posterior incubação a 36 ± 1ºC por 24 a 48 horas. A presença de gás nos tubos de Durhan do caldo verde brilhante evidenciou a fermentação da lactose presente no meio. Para coliformes termotolerantes: A confirmação da presença de coliformes termotolerantes foi feita por meio da inoculação em caldo EC, com incubação em temperatura seletiva de 45 ± 0,2ºC por 24 a 48 horas, a partir dos tubos positivos obtidos na prova presuntiva. A presença de gás nos tubos de Durhan evidenciou a fermentação da lactose presente no meio. Mesófilos A contagem padrão de microrganismos aeróbios mesófilos, estritos e facultativos viáveis baseou-se na semeadura em ágar padrão para contagem (PCA) seguida de incubação em temperatura de 36 ± 1ºC por 48 horas. ________________ 1. Aluno do 11° Período de Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros s/n. Dois Irmãos – Recife- PE. E-mail: [email protected] 2. Analista de Laboratório Pleno do Laboratório de Microbiologia de Alimentos, LANAGRO/PE. 3. Assistente de Laboratório Jr. do Laboratório de Microbiologia de Alimentos, LANAGRO/PE. 4. Técnico em química do Laboratório de Microbiologia de Alimentos, LANAGRO/PE. 5. Supervisora do Laboratório de Microbiologia de Alimentos, LANAGRO/PE. 6. Professor (a) Adjunto do Departamento de Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Inoculação em placas Foi pipetado 1 ml da amostra e inoculado em 9 ml de solução salina peptonada 0,1 %, para obtenção da diluição 10-1, que após ter sido homogeneizada em agitador automático, retirou-se 1 ml para inoculação em placa de Petri estéril devidamente identificada (meio, diluição, nº da amostra e data da análise) e 1 ml para inoculação em outro tubo contendo solução salina peptonada 0,1 % (9 ml), obtendo assim a diluição 10-2. Seguindo-se dessa forma até a obtenção da diluição 10-5, para logo após serem adicionados cerca de 15 a 20 mL de PCA fundido e mantido em banho-maria a 46-48ºC. Homogeneizou-se adequadamente o ágar com o inoculo, deixando-o solidificar em superfície plana, para em seguida incubar as placas invertidas à 36 1°C por 48 horas. Após esse intervalo as placas foram retiradas da estufa para a realização da leitura, onde foram contadas todas as colônias presentes. Salmonella Pré-enriquecimento Baseou-se na incubação, a 36 ± 1ºC por 16 a 20 horas, de 25 + 0,2 g ou 25 + 0,2 mL da amostra, adicionada de 225 mL do diluente específico para cada caso, no caso do leite pasteurizado tipo “C” foi utilizada a solução salina peptonada tamponada a 1%, após 1 hora de inoculação. Esse procedimento visou minimizar os efeitos do processamento industrial dos alimentos, capaz de promover stress nas células de Salmonella, sem inativálas biologicamente. Quando foi utilizada solução salina peptonada tamponada, esta favoreceu a manutenção do pH, evitando que as bactérias acompanhantes acidificassem o meio, prejudicando a recuperação das células de Salmonella. Detecção de Salmonella spp pelo Sistema BAX® Enriquecimento As amostras foram enriquecidas de acordo com os procedimentos padrões do laboratório. Preparo As amostras enriquecidas foram recultivadas e depois aquecidas com uma solução de lise para quebra da parede da célula bacteriana e liberação do DNA genômico (37°C por 20 minutos, depois 95°C por 10 minutos e por fim 5 minutos no refrigerador, 4-7°C). Amplificação e Detecção Os tabletes de PCR (Reação em Cadeia da Polimerase) foram hidratados com o lisado (amostra após etapa de lise). Os tubos de PCR foram então colocados no termociclador/detector, que amplificou o DNA alvo. O DNA amplificado gera sinais fluorescentes, que são automaticamente analisados para determinação dos resultados (presente ou ausente). Com tempo total para amplificação e identificação do microrganismo em torno de 3h e 30 min. Resultados e Discussão Os resultados das análises microbiológicas das 92 amostras de leite pasteurizado tipo C estão representados na Tabela1. Os resultados foram comparados com os parâmetros microbiológicos para Leite Pasteurizado tipo C, conforme Instrução Normativa nº. 51 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA [5] apresentados na Tabela 2. De acordo com os resultados obtidos, onde 17,4% das amostras analisadas para contagem de Mesófilos, 60,9% para coliformes totais e 41,3% para coliformes fecais (termotolerantes) estavam fora dos parâmetros estipulados pela legislação vigente, pode-se dizer que as condições higiênico-sanitárias de processamento e/ou armazenamento do produto estão aquém das necessárias. Não foi encontrada Salmonella em nenhuma das amostras analisadas. Estes resultados são superiores aos encontrados por Bricio et al. [6], em que apenas 4,4%, 24,4% e 11,1% das amostras estavam fora do padrão para mesófilos, coliformes totais e termotolerantes, respectivamente. Porém também não encontraram nenhuma Salmonella nas amostras analisadas. Mas assemelham-se aos encontrados por Silva et al. [7] que foram de 55,7% para coliformes totais, 52,3% para fecais e 25% para mesófilos em amostras de leite tipo “C” destinado ao programa do leite no Estado de Alagoas. Também não detectaram Salmonella nas amostras analisadas. Leite et al [8] obtiveram resultados bem parecidos quando avaliaram leite integral tipo “C” comercializado em Salvador – Bahia, com 55% das amostras fora dos padrões para coliformes totais e 35% das mesmas para coliformes fecais. Conclusão Considerando os resultados obtidos, pode-se concluir que o tratamento térmico não está sendo adequado, devido à alta carga microbiana inicial, denotando-se assim a necessidade de melhoria e implantação de medidas de controle higiênico-sanitárias nas fazendas leiteiras, no que diz respeito à ordenhadeiras, ordenhadores, assepsia do úbere e tetos, além de boa higienização dos utensílios e equipamentos, seja por parte das fazendas, como também da Indústria. Referências [1] [2] [3] BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal. Instrução Normativa nº 51, de 18 de setembro de 2002. Aprova e oficializa o Regulamento Técnico de identidade e qualidade de leite pasteurizado tipo C refrigerado. Diário Oficial da União, Brasília, 20 de setembro de 2002. PIETROWSKI, G. A. M.; OTT, A. P.; SIQUEIRA, C. R.; SILVEIRA, F. J.; BAYER, K. H.; CARVALHO, T. Avaliação da Qualidade Microbiológica de Leite Pasteurizado Tipo C Comercializado na Cidade de Ponta Grossa-PR. VI Semana de Tecnologia em Alimentos. Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR. Campus Ponta Grossa - Paraná – Brasil. ISSN: 1981-366X / v. 02, n. 36, 2008. TAMANINI, R.; SILVA, L. C. C.; MONTEIRO, A. A.; MAGNANI, D. F.; BARROS, M. A. F.; BELOTI, V. Avaliação da qualidade microbiológica e dos parâmetros enzimáticos da pasteurização de [4] [5] leite tipo “C” produzido na região norte do Paraná. Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v. 28, n. 3, p. 449-454, jul./set. 2007. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária E Abastecimento. Secretaria de Defesa Agropecuária (DISPOA). 0 Instrução Normativa n 62, de 26 de agosto de 2003. Oficializa os Métodos Analíticos Oficiais para Análises Microbiológicas para Controle de Produtos de Origem Animal e Água. Diário Oficial da União, Brasília, 26 de agosto de 2003. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal. Instrução Normativa nº 51, de 18 de setembro de 2002. Aprova e oficializa o Regulamento Técnico de identidade e qualidade de leite pasteurizado tipo C refrigerado. Diário Oficial da União, Brasília, 20 de setembro de 2002. [6] [7] [8] BRICIO, S. M. L.; SILVA, C. G.; FINGER, R. M. Qualidade bacteriológica do leite pasteurizado tipo C produzido no estado do Rio de Janeiro. R. bras. Ci. Vet., v. 12, n. 1/3, p. 124-126, jan./dez. 2005. SILVA, M. C. D.; SILVA, J. V. L.; RAMOS, A. C. S.; MELO, R. O.; OLIVEIRA, J. O. Caracterização microbiológica e físicoquímica de leite pasteurizado destinado ao programa do leite no Estado de Alagoas. Ciênc. Tecnol. Aliment., Campinas, 28(1): 226-230, jan.-mar. 2008. LEITE,C.C.; GUIMARÃES, A.G.; ASSIS, P. N.; SILVA, M.D.; ANDRADE, C. S.0. Qualidade bacteriológica do leite integral (tipo C) comercializado em Salvador – Bahia. Rev. Bras. Saúde Prod. 3 (1): 21-25, 2002. An. Tabela 2 – Parâmetros microbiológicos para Leite Pasteurizado tipo C da Instrução Normativa nº. 51 – MAPA. Tabela 1 – Número de amostras de leite pasteurizado tipo C que não atenderam aos parâmetros microbiológicos da Instrução Normativa nº. 51 – MAPA. Análises Contagem de Mesófilos NMP de coliformes totais NMP de coliformes fecais Salmonella /25ml Total 92 Número de amostras fora dos parâmetros 16 17,4 92 56 60,9 92 38 41,3 92 0 0 % Microrganismos Contagem de Mesófilos (UFC/mL) Coliformes totais (NMP/mL) Coliformes fecais (NMP/mL) Salmonella /25ml Parâmetros Máx. de 3,0x105 Máx. de 4 Máx. de 2 Ausência