JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2015 8 (15): 574-614.
Genes de resistência aos antimicrobianos de Salmonella sp.
Antimicrobial resistance genes of Salmonella sp.
Genes de resistencia antimicrobiana de Salmonella sp.
Angélica Ribeiro Araújo Leonídio1, Gisele Mendanha Nascimento2,
Samantha Verdi Figueira2, Ana Maria de Souza Almeida2, Dunya
Mara Cardoso Moraes3, Maria Auxiliadora Andrade4
Resumo
As bactérias do gênero Salmonella são conhecidas por determinar um
grande número de casos de infecção de origem alimentar em humanos,
principalmente devido o consumo de produtos de origem animal
contaminados. O impacto causado por este agente sobre a saúde pública
poderá ser ainda maior devido o desenvolvimento de cepas resistentes a
inúmeros antimicrobianos presentes nesses alimentos. Este artigo revisa
as informações disponíveis sobre os principais genes de resistência aos
antibióticos detectados em inúmeros sorovares de Salmonella isolados de
amostras de produtos de origem animal.
Palavras-chave: avicultura, multirresistência, saúde pública
Abstract
Bacteria of the genus Salmonella are known to determine a large number
of cases of foodborne infection in humans, mainly due to the consumption
of contaminated food of animal origin. The impact of this agent on human
health can be further increased by the development of resistant strains to
numerous antimicrobials present in these foods. This article reviews the
1
M.V., MSc. Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Ciência Animal. Escola de Veterinária e
Zootecnia. Universidade Federal de Goiás (UFG).
* Email:
[email protected]
2
Zootecnista, MSc. Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Ciência Animal. Escola de
Veterinária e Zootecnia. UFG.
3
M.V., DSc. Pós-doutoranda do Programa de Pós-graduação em Ciência Animal. Escola de Veterinária
e Zootecnia. UFG.
4
M.V., DSc. Professora adjunta. Departamento de Medicina Veterinária Preventiva. Escola de
Veterinária e Zootecnia. UFG.
574
JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2015 8 (15): 574-614.
available information on the key genes conferring resistance to antibiotics
detected in numerous Salmonella serovars isolated from animal products
samples.
Key words: poultry farming, multiresistance, public health
Resumen
Las bacterias del género Salmonella son conocidos para determinar un
gran número de casos de infección transmitida por los alimentos en los
seres humanos, principalmente debido al consumo de productos de origen
animal contaminados. El impacto de este agente en la salud humana se
puede aumentar aún más por el desarrollo de cepas resistentes a
numerosos agentes antimicrobianos presentes en estos alimentos. Este
artículo revisa la información disponible sobre los genes clave que
confieren resistencia a los antibióticos detectadas en numerosos serotipos
de Salmonella aisladas muestras de productos de origen animal.
Palabras-clave: avicultura, múltipla resistencia, salud pública
Introdução
desempenho
O sistema de produção
intensivo atualmente empregado na
avicultura industrial possibilitou uma
grande expansão do setor, por
melhorar os resultados produtivos e
facilitar
também
o
manejo.
favorece
Entretanto,
a
entrada,
disseminação e permanência de
agentes patogênicos, como os do
gênero Salmonella, considerados
importantes causadores de surtos
de origem alimentar em humanos,
além de afetar negativamente o
zootécnico
dos
animais.
Salmonella sp. pode ser
encontrada em todos os países com
produção avícola expressiva e pode
tornar-se um fator limitante para o
crescimento do setor, quando não
há um programa específico para o
seu controle1. As aves portadoras
assintomáticas, incubatório, animais
silvestres,
instalações
ração
e
manejo
inadequados
potenciais fontes de
e
são
Salmonella
para frangos de corte e poedeiras2.
Além disso, as práticas adotadas
575
JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2015 8 (15): 574-614.
nos
abatedouros,
velocidade
de
como
a
alta
transferência
dessa
resistência
processamento
entre bactérias que infectam os
promove estreita proximidade entre
animais e as que são patogênicas
as carcaças, o que ocasiona a
para o homem8,12.
transferência da bactéria3,4. Sua
Independente da origem
presença em produtos de origem
da resistência, o fato é que a
animal representa um risco para a
quantidade
saúde
gerar
patogênicas resistentes é maior que
barreiras na comercialização para
a capacidade dos laboratórios e
outros países5.
indústrias
pública,
além
de
O impacto de Salmonella
de
novas
de
bactérias
desenvolverem
fármacos antimicrobianos13. Vários
sobre a saúde pública poderá ser
estudos
ainda maior devido à resistência
presença de cepas resistentes de
desenvolvida por esses patógenos
Salmonella
aos antimicrobianos6. Na medicina
avícolas4,14-16.
veterinária,
monitoramento
os
antibióticos
são
já
demonstraram
em
produtos
Portanto,
do
a
o
perfil
de
utilizados no tratamento e profilaxia
resistência dos sorovares paratíficos
das doenças infecciosas e também
é de extrema importância, pois além
como promotores de crescimento7.
de auxiliar na escolha do tratamento
No último caso, são adicionados em
mais
doses subterapêuticas à ração com
também
a
acompanhamento da evolução das
finalidade
de
melhorar
o
eficaz
contra
a
doença,
possibilita
o
desempenho e conversão alimentar,
cepas multirresistentes17-19.
além de fornecer proteção contra
Diante
doenças provocadas pela criação
que
a
em sistema intensivo, permitindo
Salmonella
da
resistência
aos
importância
do
gênero
antimicrobianos
lotação8,9.
representa para a saúde pública e
Entretanto, tal prática também pode
animal, esta revisão de literatura
ter induzido o aparecimento de
teve
resistência
principais
uma
maior
taxa
de
bacteriana
antimicrobianos10,11,
e
preocupação
que
é
a
aos
maior
deste
por
objetivo
genes
patógeno
relatar
os
de
resistência
aos
principais
ocorra
576
JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2015 8 (15): 574-614.
grupos
de
antimicrobianos
já
utilizados na avicultura.
vários sorotipos e sorovares. Para a
classificação além dos níveis de
subespécie é utilizada a tipificação
Revisão de literatura
sorológica através do sistema de
classificação de Kauffmann-White,
Salmonella sp.
O
que
gênero
pertence
Salmonella
à
família
baseia-se
na
superfície
envelope
ou
de bacilos pequenos de 0,7 a 1,5 x
capsular
“Vi”),
2,5μm,
(antígenos
não
diversas
estruturas antigênicas encontradas
Enterobacteriaceae e é constituído
Gram-negativos
nas
celular,
como
cápsula
(antígeno
parede
somático
“O”)
o
celular
e
os
formadores de esporos, aeróbios ou
flagelos (antígenos flagelares “H”)22.
anaeróbios facultativos. Fermentam
As salmoneloses aviárias
a glicose e outros açúcares e
são causadas por qualquer membro
descarboxilam
aminoácidos,
do gênero Salmonella. Os sorovares
reações químicas importantes para
que infectam as aves produzem
a
quadros
caracterização
do
gênero
e
clínicos
que
são
diferenciação dos biótipos. Crescem
classificados em: pulorose (causada
a temperatura de 5 a 45°C, contudo
por
sua zona de conforto situa-se entre
aviário (causado por Salmonella
37 e 40°C. Em sua grande maioria,
Gallinarum)
são
móveis
peritríquios,
Salmonella
e
Pullorum),
as
tifo
infecções
com
flagelos
paratíficas (ocasionada por qualquer
embora
alguns
outro sorovar). A terceira forma da
sorotipos sejam imóveis20,21.
Segundo Berchieri Júnior
doença possui maior importância na
saúde pública e animal, já que os
e Freitas Neto21, este gênero é
sorovares
composto
espécies
colonizar o trato gastrintestinal (TGI)
Salmonella enterica e Salmonella
das aves sem provocar a doença
bongori. S. enterica é subdividida
clínica
em seis subespécies – enterica,
isolados em produtos avícolas, o
salamae,
que representa um risco para as
pelas
arizonae,
diarizonae,
e
paratíficos
são
podem
frequentemente
houtenae e indica – que possuem
577
JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2015 8 (15): 574-614.
pessoas
que
consomem
tais
produtos1,23.
resistentes a 11 ou mais compostos
antimicrobianos. Após testes de
O
tratamento
da
sensibilidade
antimicrobiana
em
salmonelose em animais e humanos
cepas de Salmonella isoladas em
tem
à
pele e cortes de carcaças de
emergência de cepas resistentes a
frangos nos anos de 1993 e 2006,
várias classes de antimicrobianos.
Álvarez-Fernández
O conhecimento dos mecanismos
verificaram
responsáveis pelo desenvolvimento
todas as cepas: os 40 isolados de
da
1993
sido
dificultado
resistência
e
os
devido
processos
al.4
et
multirresistência
eram
resistentes
a
em
três
relacionados à sua transferência
(25,0%), quatro (52,5%) ou cinco
entre os indivíduos são essenciais
(22,5%) dos antibióticos testados;
para o monitoramento e controle de
as 19 amostras obtidas em 2006
cepas
mostraram-se
de
Salmonella
multirresistentes5.
(26,3%),
resistentes a
quatro
(26,3%),
três
cinco
(10,5%), seis (26,3%), sete (5,3%)
Resistência de Salmonella sp. aos
ou
antimicrobianos
diferentes.
até
13
(5,3%)
antibióticos
Bacci et al.15 analisaram
Os produtos de origem
animal constituem um importante
123
amostras
de
reservatório de cepas de Salmonella
provenientes de carnes de aves e
resistentes aos antibióticos, com
detectaram 86,1% de resistência à
destaque para os provenientes da
tetraciclina
indústria avícola15. Vários estudos
multirresistência
relataram uma alta prevalência de
sulfametoxazol e tetraciclina. Em
resistência aos antimicrobianos de
seu estudo, Moraes16 investigou o
diversos sorovares de Salmonella
perfil de resistência de diversos
isolados de carne de frango e ovos.
sorovares de Salmonella isolados
No estudo conduzido por Musgrove
de amostras de ovos de granjas
et al.14 os autores observaram que
comerciais. Os maiores percentuais
60,1% das cepas de Salmonella
de resistência observados foram
isoladas em casca de ovos eram
para
e
Salmonella
30,5%
à
sulfametoxazol
de
ampicilina,
(91,0%),
578
JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2015 8 (15): 574-614.
sulfonamidas (51,0%) e ceftiofur
variante
monofásico
(28,9%).
Salmonella
Typhimurium – onde as pessoas
Schwarzengrund
apresentou
contaminaram-se ao ingerir carne
resistência a 13 dos 14 antibióticos
suína
testados.
sensibilidade,
Os
Após
foi
sorovar
testes
de
constatada
a
isolados
a
de
resistência
salmonelose humana provocados
ampicilina,
por estirpes multirresistentes são
sulfonamidas e tetraciclina26. Estes
frequentemente
fatos reforçam o risco iminente que
consumo
surtos
cozida.
do
associados
de
ao
alimentos
estas
dos
estreptomicina,
cepas
de
Salmonella
contaminados ou pelo contato direto
multirresistentes representam para
com animais doentes5. Entre os
a saúde pública5.
meses de julho e agosto de 2005 foi
Ao infectar o homem, as
reportado um surto na Dinamarca
bactérias
ocasionado pelo fagotipo DT104 de
promovem uma infecção de difícil
Salmonella Typhimurium resistente
controle,
a seis antibióticos diferentes. Neste
acometidas mais propensas a sofrer
episódio,
pacientes
os efeitos adversos associados ao
relataram o consumo de carpaccio
prolongamento do curso da doença
em um restaurante italiano24. O
e
mesmo
foi
sintomas27. Além disso, estas cepas
implicado em um surto ocorrido em
também fornecem suporte genético
Londres em agosto de 2008, onde
para a microbiota intestinal humana,
16
como
todos
os
fagotipo
pessoas
provavelmente
também
foram
ao
afetadas,
consumirem
multirresistentes
tornando
aumento
da
genes
as
pessoas
gravidade
codificadores
resistência
aos
dos
de
fármacos
carne seca. As cepas apresentaram
antimicrobianos ou aqueles que
resistência
conferem
cloranfenicol,
a
ampicilina,
estreptomicina,
sulfonamidas, tetraciclina e ácido
por
Salmonella
4,[5],12:i
–
um
grau
de
patogenicidade, como os fatores de
virulência28.
nalidíxico25. Em junho de 2011, foi
relatado um surto na Itália causado
maior
Genes
mecanismos
podem
de
estar
que
codificam
multirresistência
agrupados
no
579
JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2015 8 (15): 574-614.
cromossomo dentro de um mesmo
do SGI-1, e em uma sequência
lócus ou ilha, estrutura que permite
similar de 18 pb na extremidade 3’
a transferência gênica na forma de
do gene thdF, presente no DNA de
blocos.
Salmonella e E.coli.
No
gênero
Salmonella,
estes genes localizam-se na Ilha
Genômica
1
de
Os genes que codificam
Salmonella
a resistência aos antibióticos estão
(Salmonella Genomic Island 1 –
localizados em um segmento da
SGI-1), que possui 43 kb com 44
SGI-1 de 13 kb, denominado região
ORF
MDR (Multidrug Resistance), que é
(Open
Reading
Frame)
conhecidos e outros com função
desconhecida
29-33.
A SGI-1 pode
composta
por
complexos
dois
de
integrons
classe
1,
meio
de
denominados In10435. Esse lócus
estirpes
de
confere resistência simultânea a
Salmonella e entre Salmonella e
cinco classes de antimicrobianos,
Escherichia coli, o que comprova o
incluindo a ampicilina, cloranfenicol,
seu
estreptomicina,
ser
transferida
conjugação
por
entre
grande
poder
de
disseminação34.
espectinomicina,
tetraciclina e sulfonamidas, também
Estudos realizados por
Doublet et al.34
denominado
fenótipo
ACSSuT.
constataram a
Salmonella Typhimurium fagotipo
presença de SGI-1 na forma circular
DT104, identificado na década de
extracromossômica. Segundos os
1990, é considerado um clone
autores,
ACSSuT
essa
alcançada
recombinação
extremidades
configuração
por
gênica
meio
da
das
suas
antimicrobianos
em
uso
de
animais
de
produção36,37.
A região MDR da SGI-1
a
também está sujeita a eventos
presença de um plasmídeo auxiliar
recombinação gênica que levam à
R55. Após a aquisição, a SGI-1 é
expressão de outros fenótipos de
integrada aos cromossomos por
resistência nas cepas de Salmonella
meio
em
de
é
para
associado ao
sua
transferência,
e
é
necessária
recombinação
sítio-
que
estão
ASuTm,
inseridos,
como
ACSu,
CSSu,
específica entre uma sequência de
ASSu,
18 pb, encontrada na forma circular
ACSuTm e CSSuTm, que também
580
JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2015 8 (15): 574-614.
apresentam
resistência
fluorquinolonas,
trimetoprim
às
cada grupo42. A legislação brasileira
e
proíbe o emprego dos antibióticos
β-lactâmicos
aminoglicosídeos38.
Os principais genes de
conferem
resistência
a
como
promotores
de
agentes
desempenho
ou
como conservantes de alimentos
animais43.
antimicrobianos são: drf (resistência
para
ao trimetoprim); aad, aph, aad
veterinária,
(resistência aos aminoglicosídeos);
restrição quanto ao uso destes
tet (resistência à tetraciclina); sul
fármacos, contudo, é previsto o
(resistência à sufonamida); flo, clm,
monitoramento da presença de seus
cat (resistência ao florfenicol); qnr,
resíduos nos produtos de origem
qep, oqx (resistência quinolonas);
animal44.
não
Na
há
terapêutica
nenhuma
aos
Os β-lactâmicos inibem o
de
crescimento bacteriano ao interferir
enzimas β-lactamases de amplo
em uma etapa específica da síntese
espectro é conferida pelos genes
da
blaCTM-X, blaTEM, blaPSE40.
composta
mph
(resistência
macrolídeos)39.
A
produção
parede
celular,
por
polímero
um
estrutura
complexo
denominado
peptidoglicano. As moléculas do
Resistência aos β-lactâmicos
antimicrobiano se ligam de forma
Os β-lactâmicos são uma
covalente às proteínas ligadoras de
que
penicilina (penicillin-binding proteins
possuem o anel β-lactâmico em
– PBP), responsáveis pela ligação
suas
cruzada
classe
de
antimicrobianos
estruturas
moleculares.
do
peptidoglicano
da
Dependendo de qual radical está
parede celular, o que lhe confere
ligado
são
rigidez. Após a ligação do antibiótico
penicilinas,
às PBP, ocorre o bloqueio da
cefalosporinas, carbepenêmicos e
síntese do peptidoglicano e a célula
monobactâmicos41,
vai
morre devido às alterações de
nas
osmolaridade. A inibição das PBP
ao
núcleo
diferenciados
influenciar
comum,
em
o
que
diretamente
características
farmacológicas
antibacterianas
da
molécula
e
de
também
libera
autolisinas
que
destroem a parede já existente. As
581
JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2015 8 (15): 574-614.
penicilinas e cefalosporinas são
pode atacar outra molécula do
bactericidas
as
antibiótico46.
bactérias estiverem na fase de
Já
somente
crescimento,
se
momento
em
que
produção
e
classificadas mais de 340 diferentes
β-
são particularmente relacionadas a
lactamases por bactérias Gram-
uma espécie bacteriana, enquanto
negativas é a principal causa de
outras
resistência
Existem
a
esta
de
descritas
tipos de β-lactamases47. Algumas
sintetizam sua parede celular41,42.
A
foram
classe
de
são
mais
aquelas
generalizadas.
que
possuem
antibióticos. Outros mecanismos de
atividade contra um grupo mais
resistência incluem a modificação
restrito de antibióticos e outras que
de proteínas de membrana e o
apresentam
efluxo do antibiótico por meio de
ação, também chamadas de β-
proteínas
lactamases
transportadoras.
amplo
de
espectro
amplo
de
espectro
Alterações nas PBP, como descrito
(estended-spectrum
em
Gram-
lactamases – ESBL). As ESBL são
foram
capazes de conferir resistência a
detectadas em Salmonella, portanto
subclasses dos β-lactâmicos, tais
não
como penicilinas, cefalosporinas e
algumas
positivas
bactérias
ainda
constituem
não
um
importante
mecanismo de resistência neste
monobactâmicos39,48.
As
gênero39,45.
beta-
β-lactamases
As β-lactamases atuam
detectadas em vários sorovares de
por meio de dois mecanismos: (1)
Salmonella são codificadas por um
promovem a ruptura do anel β-
número considerável de genes. Há
lactâmico por meio de íons de zinco
pelo menos 10 diferentes subgrupos
ou (2) utilizam a via éster-serina. No
de genes relacionados à produção
último caso, a enzima liga-se de
das β-lactamases (bla): TEM, SHV,
forma não covalente ao antibiótico e
PSE, OXA, PER, CTX-M, CMY,
então,
hidroxila
ACC, DHA e KPC. Numa mesma
hidrolisa o anel β-lactâmico. Após
cepa podem estar presentes vários
esta clivagem, a enzima é liberada e
tipos de genes bla. Dentre estes
o
seu
grupo
grupos, os que possuem maior
582
JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2015 8 (15): 574-614.
importância
clínica
responsáveis
são
pela
aqueles
produção
de
capazes de hidrolisar celafosporinas
de 3ª geração53,54.
ESBL39. Salmonella Typhimurium e
Existe grande diversidade
Salmonella Enteritidis produtoras de
de genes para ESBL para o gênero
ESBL são mais frequentemente
Salmonella.
associados
analisaram isolados dos sorovares
às
infecções
bacterianas
em
humanos.
isolamento
destes
O
Baraniak
Typhimurium
e
al.55
et
Enteritidis
sorovares
produtores de ESBL e observaram
resistentes em animais e alimentos,
que ambos possuíam o gene blaCTX-
principalmente
M-3,
os
de
origem
que foi localizado em diferentes
avícola, sugere que o homem é
plasmídeos,
potencialmente infectado por estas
adquirido de forma diferente por
fontes45.
cada estirpe. No estudo de Hasman
As
ESBL
frequentemente
são
mais
encontradas
são
indicando
que
foi
et al.47, o gene blaTEM-52 foi o mais
predominante
nos
sorovares
pertencentes aos grupos TEM, SHV
Blockey,
e CTX-M, nos quais os genes
Enteritidis, Paratyphi, Virchow e
codificadores desta característica
Typhimurium isolados em amostras
encontram-se em plasmídeos49. A
de aves vivas, carne de frango e
enzima parenteral do grupo TEM é
seres
capaz de hidrolisar penicilinas e
identificados pelos autores foram
cefalosporinas de 1ª geração, como
blaTEM-20, blaTEM-63, blaCTX-H-3, blaCTX-
a
cefalotina
cealoridina50.
e
A
M-2,
Thomson,
humanos.
Londres,
Outros
genes
blaSHV-2, blaTEM-1 e blaSHV-12.
família SHV confere resistência à
Yang et al.56 verificaram que 21,7%
ampicilina, amoxicilina, carbenicilina
das cepas de Salmonella obtidas de
e
às
alimentos vendidos em comércios
cefalosporinas de 3ª geração, que
de Henan e Shaanxi (China), eram
são destruídas pelas ESBL deste
produtoras
grupo51,52. As enzimas CTX-M são
sendo
o grupo de ESBL de emergência
detectado em 87,6% delas. Neste
mais
estudo, Salmonella Indiana foi o
ticarcilina,
recente
e
e
também
também
são
que
de
o
enzimas
gene
ESBL,
blaTEM
foi
mais prevalente (60%), seguido por
583
JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2015 8 (15): 574-614.
Salmonella
Shubra
(33,3%),
foi
detectado
o
gene
blaCYM-2.
Salmonella Typhimurium (3,3%) e
Mohamed et al.61 verificaram a
Salmonella Enteritidis (3,3%).
presença de blaCYM em todas as
β-
cepas de Salmonella Typhimurium e
lactamases do tipo AmpC, que são
Salmonella Kentucky recuperadas
codificadas por genes presentes no
de carcaças de frangos. Já foi
DNA cromossômico ou plasmidial.
descrita a presença do gene blaAAC-1
Estas
Existem
ainda
as
enzimas
promovem
em Salmonella Bareilly, Salmonella
às
penicilinas,
Braenderoup, Salmonella Infantis,
resistência
cefoxitinas, cefalosporinas de 1ª, 2ª
Salmonella
Livingstone,
e
e 3ª gerações e as combinações β-
Salmonella
Mbandaka47,62,63.
O
lactâmicos
β-
gene blaDHA-1 já foi identificado nos
Portanto,
sorovares Enteritidis, Montevideo e
+
inibidor
lactamases57.
de
diferentemente das ESBL, as
β-
Senftenberg64-66.
lactamases do tipo AmpC não são
inibidas
pelo
ácido
clavulânico.
Resistências às tetraciclinas
Diferentes grupos de genes que
As
tetraciclinas
são
expressam esta enzima têm sido
fármacos bacteriostáticos de amplo
descritos: CMY, AAC, ACT, DHA,
espectro, eficazes contra diversas
FOX, MIR e MOX58. Os tipos CMY,
bactérias Gram-negativas e Gram-
AAC e DHA já foram identificados
positivas,
em Salmonella39.
riquétsias,
Rodriguéz
et
al59.
como
blaCYM-2
radicais
plasmídeos
de
anaeróbios,
clamídias
e
micoplasmas, e contra protozoários,
verificaram a presença do gene
em
incluindo
as
amebas.
anexados
Diferentes
à
estrutura
Salmonella Agona e Salmonella
tetracíclica comum os diferenciam
Kentucky. Na investigação realizada
em:
por
Dahshan
et
al.60,
a
tetraciclina,
clortetraciclina,
multirresistência foi observada em
metacilina,
Salmonella
doxiciclina67,68.
Salmonella
Typhimurium
Infantis
isoladas
e
oxitetraciclina,
de
tetraciclinas
fezes suínas, sendo que no último
promotores
demeclociclina,
minocilina
O
como
de
e
uso
das
agentes
crescimento
ou
584
JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2015 8 (15): 574-614.
conservantes de rações é proibido
citados,
no Brasil43. Como são utilizados no
importância é a produção da bomba
tratamento de doenças infecciosas
de
em
o
proteínas codificadas por genes
monitoramento de seus resíduos em
contidos em plasmídeos e podem
produtos de origem animal44.
ser transmitidos por transdução ou
animais,
é
determinado
A
atividade
antimicrobiana
desta
classe
o
que
efluxo,
possui
que
maior
consiste
em
conjugação67.
é
Apesar
de
já
serem
devido à inibição da síntese proteica
descritos mais de 35 genes diferentes
bacteriana. As tetraciclinas podem
de resistência às tetraciclinas, apenas
penetrar na membrana celular dos
cinco deles – tet(A), tet(B), tet(C), tet(D)
microrganismos por difusão passiva
e tet(G) foram detectados em espécies
e transporte ativo dependente de
do gênero Salmonella. Todos eles
energia. Uma vez no interior da
codificam proteínas das bombas de
célula,
efluxo que são capazes de exportar
as
tetraciclinas
ligam-se
reversivelmente à subunidade 30S
tetraciclina,
do
clortetraciclina e doxiciclina. Estes
ribossomo
bloqueando
a
bacteriano,
adição
de
cinco
oxitetraciclina,
genes
são
associados
a
aminoácidos à proteína que está
diferentes elementos gênicos móveis:
sendo formada67.
o tet(G) é detectado exclusivamente
Já foram descritos três
mecanismos
às
frequentemente encontrados e estão
tetraciclinas: (1) redução do influxo
associados aos transposons Tn1721 e
ou aumento do efluxo por bomba
Tn10, já identificados em grandes
proteica
ativo,
plasmídeos de multirresistência; tet(C)
concentração
e tet(D) são carreados por plasmídeos
de
diminuindo
de
resistência
em SGI-1; tet(A) e tet(B) são os mais
transporte
a
intracelular da molécula do fármaco;
detectados
(2) proteção dos ribossomos por
isolados39.
com
inativação
a
droga,
enzimática
e
(3)
das
tetraciclinas. Dentre os mecanismos
alguns
casos
Pasquali et al.69 avaliaram
meio de proteínas que evitam a sua
ligação
em
os padrões de gene tet em cepas de
Salmonella
isoladas
de
animais,
produtos de origem animal e seres
585
JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2015 8 (15): 574-614.
humanos. Os tipos tet(A), tet(B), tet(G),
Gram-negativas aeróbias. O grupo
foram detectados em todas as estirpes
inclui a estreptomicina, neomicina,
analisadas, de forma isolada – tet(A)
canamicina,
ou tet(G) – ou em combinações –
gentamicina,
tet(A) + tet(B), tet(B) + tet(G), tet(A) +
sisomicina
tet(B) + tet(G), tet(A) + tet(G). Também
desenvolvimento de antimicrobianos
Pezzella et al.70 analisaram a presença
menos
do gene tet em cepas de Salmonella
aminoglicosídeos tem sido muito
multirresistentes
e
questionado73,74. Não há restrições
observaram que 68% das estirpes
do uso dos aminoglicosídeos nos
resistentes à tetraciclina possuíam o
animais produtores de alimentos,
tet(A), grande parte deles localizados
entretanto, a legislação brasileira
em
define
uma
de
animais
variante do
transposon
amicacina,
tobramicina,
e
netilmicina.
tóxicos,
limites
o
uso
máximos
Com
dos
para
Tn1721. Em amostras de carne, Aslam
detecção de seus resíduos nos
et al.71 verificaram que Salmonella
produtos de origem animal44.
Hadar
e
Salmonella
Heidelberg
Os aminoglicosídeos são
possuíram maior prevalência para os
inibidores irreversíveis da síntese de
genes tet, sendo que tet(A) foi
proteínas e seu mecanismo de ação
detectado em 28% das amostras e
dos aminoglicosídeos é multifatorial
tet(C) não foi encontrado. Glenn et al.72
e dose-dependente - quanto maior
constataram a presença dos genes
for
tet(A), tet(B), tet(C), tet(D) e tet(R) em
rapidamente promovem a morte
isolados de Salmonella recuperados
bacteriana. Primeiramente, ocorre
de carnes e de seres humanos.
sua difusão passiva pelos canais de
porina
Resistência aos aminoglicosídeos
Os
sua
concentração,
presentes
na
mais
membrana
externa. Em seguida, a droga é
aminoglicosídeos
transportada ativamente através da
constituem um grupo de antibióticos
membrana celular para o citoplasma
bactericidas comumente utilizados
bacteriano. Após sua penetração,
no
quadros
as moléculas do aminoglicosídeo
infecciosos graves, especialmente a
ligam-se à subunidade 30S dos
septicemia causada por bactérias
ribossomos
tratamento
de
(S12
no
caso
da
586
JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2015 8 (15): 574-614.
estreptomicina),
interferindo
na
de proteínas de
três
(AAC), adeniltransferases (AAD ou
podem
ANT) e fosfotransferases (APH).
ocorrer simultaneamente: (1) afetam
Para cada uma destas categorias,
o
da
são conhecidos muitos membros
(2)
que possuem algumas diferenças
produção
diferentes
formas,
complexo
formação
de
dos
que
iniciação
peptídeos;
induzem a leitura equivocada do
divididas
em
acetiltransferases
em suas estruturas moleculares39.
mRNA que causa a incorporação de
Há
dois
diferentes
aminoácidos incorretos no peptídeo,
sistemas de nomenclatura para os
gerando uma proteína não funcional
genes que codificam estas enzimas.
ou tóxica; e (3) provocam a ruptura
A
dos polissomos (vários ribossomos
exemplo,
ligados ao mRna) em monossomos
modificação
não funcionais73,74.
aminoglicosídeo fosfotransferase), a
A
resistência
aminoglicosídeos
ocorre
designação
aph(3’’)-Ib,
caracteriza
aos
posição
pela
introduzida
o
por
tipo
(aph
que
a
de
para
modificação
(3’’)
e
também
foi
a
combinação de três mecanismos:
denominação do subtipo do gene
(1) produção da enzima transferase
(Ib). No outro sistema, a designação
ou enzimas que inativam a droga
strA,
por
ou
mesmo gene, baseia-se somente no
fosforilação, e constitui o principal
fenótipo de resistência equivalente
tipo de resistência encontrada para
(str
esta classe; (2) interferência na
estreptomicina subtipo A)39.
adelinalação,
acetilação
utilizada
para
para
nomear
resistência
o
à
entrada do fármaco na célula, e (3)
Mais de 20 diferentes
modificação da proteína receptora
variantes do gene add (também
existente na subunidade 30S dos
conhecido
ribossomos73.
descritos. Somente aqueles cujas
São
conhecidas
três
com
modificações
ant)
já
foram
encontram-se
3’’[addA,
na
classes de enzimas que inativam
posição
este grupo de antibióticos, e são
[aadB, ant(2’’)] foram identificados
classificadas de acordo com o tipo
em
de modificação que promovem. São
conferem
Salmonella.
ant(3’’)] e
O
gene
resistência
2’’
aadA
à
587
JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2015 8 (15): 574-614.
estreptomicina
que
e
espectinomicina
geralmente
encontra-se
últimos
frequentemente
são
encontrados ligados e precedidos
localizado em cassetes gênicos de
pelo
integrons de classe 1 e 2 presentes
resistência à sulfonamida79. Gleen
em plasmídeos ou como parte da
et al.72 ao analisar amostras de
SGI-1. Já o aadB, comumente
Salmonella de animais saudáveis,
identificados em cassetes de genes,
carnes comercializadas e infecções
promove resistência à gentamicina,
humanas, detectaram os genes aph
canamicina
e
tobramicina39.
Ao
analisarem cepas de Salmonella
gene
sul2,
que
promove
e strAB em 21 e 39 isolados,
respectivamente.
isoladas de amostras de animais e
As enzimas do tipo AAC
de produtos de origem animal,
são divididas em quatro classes e
Benacer et al.75 e Meng et al.76
várias subclasses: AAC(1) – sem
identificaram
em
subclasses; AAC(3) – I a X; AAC(2’)
cassetes gênicos de integrons de
– I e AAC(6’) – I e II78. Destas,
classe 1 de cepas de Salmonella.
apenas as classes que acetilam os
o
gene
aadA
As enzimas codificadas
grupos animo nas posições 3 [aacC,
pelos genes aph são capazes de
aac(3)] e 6 [aacA, ant(6’)] foram
fosforilar
detectadas no gênero Salmonella39.
grupos
hidroxila
dos
aminoglicosídeos, o que reduz a
O
sua capacidade de ligação com os
cassetes
ribossomos77,78. Já são conhecidas
integrons de classe 1, codifica a
cinco
enzima AAC(6’), que possui grande
classes
de
genes
gene
aac(6’)-Ib,
gênicos
contido
em
inseridos
em
codificadores de fosfotransferases,
importância
entretanto,
resistência a amicacina, sisomicina,
somente
foram
detectados no gênero Salmonella
clínica
por
causar
tobramicina e netilmicina78,80.
aqueles que possuem modificações
nas posições 3’, 3’’ e 6’’. O gene
Resistência
aph(3’)-I
trimetoprim
é
responsável
pela
resistência a canamicina e os genes
As
à
sulfonamida
sulfas
foram
e
os
aph(3’’)-Ib e aph(6)-Id conferem
primeiros antimicrobianos de ação
resistência à estreptomicina39. Estes
sistêmica utilizados na clínica de
588
JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2015 8 (15): 574-614.
maneira eficaz. A descoberta desta
purinas e ácidos nucleicos. As
molécula permitiu a síntese de
sulfonamidas
inúmeros
estruturais
derivados
de
menor
são
do
análogos
PABA
e,
por
toxicidade e melhor efetividade. A
competição, inibem a diidropteroato
partir dos anos 70, sua associação
sintetase (DHPS). As sulfas inibem
ao trimetoprim permitiu a ampliação
o
do
ação
irreversivelmente a síntese de ácido
antimicrobiano. O trimetoprim é uma
fólico. São utilizadas no tratamento
droga
dos
de infecções causadas por bactérias
antifolatos, um análogo estrutural do
Gram-negativas e Gram-positivas e
ácido fólico. A consequência clínica
alguns
desse sinergismo foi a possibilidade
trimetoprim
de utilizar de tal combinação no
redutase
tratamento de infecções provocadas
converte o ácido diidrofólico em
por diversos agentes em múltiplas
ácido
localizações81,82. No Brasil é vetado
necessário à produção de DNA. A
o emprego das sulfonamidas como
administração
de
agentes
sulfonamidas
produz
seu
espectro
sintética
de
do
grupo
promotores
de
crescimento
ao
bloquear
protozoários81,83.
inibe
a
O
diidrofolato
(DHF) bacteriana,
tetradiidrofólico,
que
também
trimetoprina
e
acentuado
desempenho e como conservantes
sinergismo, promovendo o bloqueio
de rações animais43. Como são
sequencial desta etapa metabólica.
empregados
de
Esta associação é frequentemente
legislação
bactericida, ao contrário da ação
diversas
na
terapêutica
infecções, a
brasileira prevê o controle de seus
bacteriostática
resíduos nos produtos de origem
quando
animal44.
isoladamente83.
Os
necessitam
microrganismos
administrada
A
resistência
à
sulfonamida pode ocorrer como (1)
aminobenzóico (PABA) extracelular
consequência de mutações que
para
ácido
causam uma produção abundante
diidrofólico, precursor da síntese do
de PABA, (2) produção de uma
ácido
é
enzima de síntese de ácido fólico
de
com baixa afinidade à sulfonamida,
formação
fólico
essencial
ácido
sulfonamida,
para-
a
do
da
do
bacteriano
para
a
que
produção
589
JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2015 8 (15): 574-614.
ou (3) pela perda de permeabilidade
gene sul284,86,88. Também já foi
da
membrana
molécula.
A
celular
produção
à
sua
evidenciada a ligação entre o gene
de
uma
sul3 em integrons de classe 1 nos
enzima DHPS com baixa afinidade
sorovares
pelas sulfonamidas é codificada um
Typhimurium, que pode ser a razão
gene frequentemente contido em
da rápida disseminação deste gene
um plasmídeo transmissível83.
nos últimos anos5,89-91.
Já
foram
identificados
Choleraesuis
e
O alto nível de resistência
três diferentes genes de resistência
ao
à sulfonamida no gênero Salmonella
Enterobacteriaceae
– sul1, sul2, sul3 – que codificam a
devido
DHPS modificada. O gene sul1 faz
modificada. São conhecidos mais
parte da região 3’CS conservada
de
dos integrons de classe 1. Michael
codificam esta enzima resistente,
et al.84 detectaram estes três genes
que
em Salmonella Brenedey isolado
identificados
em linfonodos, tonsilas e conteúdo
transposons e cassetes. Tais genes
intestinal de suínos abatidos. Kozak
são subdivididos em dois grupos:
et al.85, Thong et al.86 e Aslam et
drfA e drfB39,82,92. O gene de maior
al.71 detectaram este gene nos
prevalência em bactérias Gram-
sorovares
negativas é o drfA82.
Heidelberg,
Bredeney,
Corvalis,
Schwarzengrund,
trimetoprim
30
à
encontrado
também
produção
genes
em
de
diferentes
são
é
DHF
que
frequentemente
em
plasmídeos,
Um total de 13 genes
Typhimurium
drfA diferentes – a maioria contidos
isolados de produtos de origem
em cassetes gênicos inseridos em
animal. O gene sul2 é comumente
integrons de classe 1 e 2 – já foram
encontrados ligados aos genes de
sequenciados
resistência à estreptomicina – strA e
sorovares de Salmonella39. O gene
strB – nos plasmídeos39,71,84,87. Em
drfA1 foi detectado com
diferentes sorovares de Salmonella,
frequência nos sorovares Enteritidis,
como
Typhimurium,
Rinsen,
Anatum
e
Bredeney,
Corvalis,
em
Agona,
diversos
maior
Derby,
Typhimurium, Heidelberg e Derby,
Mbandaka, Newport, Paratyphi e
já foi constatada a presença do
Virchow59,91,93-96. Benacer et al75.
590
JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2015 8 (15): 574-614.
identificaram o gene drfA12 em um
possuem
integron
eficácia semelhante e não induzir
de
extremidade
1900bp
5’CS
próximo
presente
a
no
aplasia
as
vantagens
medular,
como
de
o
ter
seu
sorovar Typhimurium. O gene drfB
análogo68. No Brasil, o uso do
foi relatado pela primeira vez em
cloranfenicol
Salmonella por Leving et al.35, que
produção é proibido97, enquanto
identificaram o gene drfB6 em um
que o florfenicol é indicado para o
cassete inserido no integron de
tratamento
classe 1 do sorovar Infantis.
infecciosas do trato respiratório e
em
animais
de
de
enfermidades
digestivo de suínos e bovinos5. O
Resistência aos anfenicóis
Plano Nacional de Controle de
O cloranfenicol, do grupo
Resíduos
e
primeiro
Produtos
de
antibiótico considerado de amplo
(PNCRC)
espectro. Logo após ser produzido
máximos de detecção de resíduos
nos
de
dos
anfenicóis,
EUA
foi
em
registrados
o
1949,
foram
de
aplasia
casos
em
Animal
determina
limites
em
diversos
alimentos de origem animal44.
O
que ocasionou a sua rejeição como
potente
suporte
proteínas
Entretanto,
Origem
cloranfenicol
medular associados ao seu uso,
terapêutico.
Contaminantes
cloranfenicol
inibidor
da
é
um
síntese
de
microbianas.
Sua
após o reconhecimento de sua
molécula liga-se reversivelmente à
atividade contra anaeróbios e o
subunidade
50S
aparecimento
bacteriano,
inibindo
de
resistência
bacteriana
à
ampicilina,
cloranfenicol
foi
tratamentos
últimos
do
ribossomo
a
peptidil
o
transferase, enzima que atua na
reinserido
nos
produção de proteínas bacterianas.
das
infecções.
Nos
É um antibiótico de amplo espectro
anos,
devido
à
eficaz contra microrganismos Gram-
disponibilidade de novos agentes, o
positivos
uso
aeróbios e anaeróbios, e também
deste
antimicrobiano
está
sendo abandonado novamente. O
tianfenicol
e
florfenicol
congêneres
do
cloranfenicol
são
e
e
Gram-negativos,
contra riquétsias e micoplasmas67.
Existem dois principais
mecanismos
de
resistência
ao
591
JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2015 8 (15): 574-614.
cloranfenicol em Salmonella. O mais
O mecanismo de efluxo
da
ativo é conferido pelos genes cmlA
cloranfenicol acetiltransferase (CAT)
e floR102. O gene cmlA determina
do tipo A ou B, que inativam as
resistência somente ao cloranfenicol
moléculas
no
e, em Salmonella, frequentemente
entanto são ineficazes contra o
está associado a cassetes gênicos
florfenicol.
a
localizados em integrons de classe
do
176. Este gene já foi isolado nos
cloranfenicol/florfenicol para o meio
sorovares Typhimurium, Muenchen,
extracelular por meio de bombas de
Istambul e Wandsworth86,103,104. Em
efluxo39,67.
seu
comum
é
a
de
produção
cloranfenicol,
O
segundo
é
exportação
estudo,
Braun
al.105
et
Em Salmonella, já foram
detectaram clmA1 em isolados de
detectadas dois tipos diferentes da
Salmonella provenientes de centros
enzima
pelos
mundiais de referência. O gene
genes catA1e catA239. O gene
clmA9 já foi identificado como parte
catA1, frequentemente
de uma SGI-2 no sorovar Emek35.
CAT,
codificadas
detectado
em plasmídeos, já foi identificado
O gene floR, também
nos sorovares Infantis, Typhimurium
conhecido como flo, floSt, pp-flo ou
e Typhi59,87,91,98,99. O gene catA2 foi
cmlA-like,
isolado
exportadoras
em
um
plasmídeo
multirresistência
presente
de
nos
florfenicol.
codifica
de
proteínas
cloranfenicol
e
Michael
et
al.84
este
gene
em
sorovares Choleraesuis, Enteritidis,
identificaram
Infantis,
e
plasmídeos presentes em cepas do
grupo
sorovar Bredeney isoladas a partir
CATB, os genes catB2, catB3 e
de amostras de abatedouros de
catB8 podem ocorrer nos sorovares
suínos. Também Thong et al.86 e
Rissen,
e
Ahmed et al.101 detectaram este
gene
gene nos sorovares Typhimurium,
Derby
Typhimurium89,93,94,98.
Anatum,
Typhimurium39,87,98-100.
Do
Infantis
O
catB3 já foi identificado em cassetes
Enteritidis,
gênicos inseridos em integrons de
provenientes de amostras de carne,
classe
leite, queijo e comida de rua. O floR
1
dos
sorovares
Typhimurium e Indiana96,101.
Newport
e
Infantis
faz parte da SGI-1 encontrada em
592
JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2015 8 (15): 574-614.
Salmonella Typhimurium DT10436,39.
indução de resistência83,
Também
foi
no
terceira
plasmídeo
conjugativo
no
composta
identificado
R-55
geração
de
pela
108.
A
quinolonas,
gatifloxacina,
sorovar Newport e em associação
moxifloxacina,
com o gene blaCMY – codificante
trovafloxacina,
para β-lactamases – em plasmídeos
atividade também contra bactérias
de
Gram-positivas. No Brasil, o uso das
resistência
sorovares
presentes
nos
Typhimurium
e
Newport106,107.
quinolonas
esparfloxacina
possui
como
e
maior
aditivos
e
conservantes alimentares é proibido
pelo MAPA43.
Resistência
às
quinolonas
e
fluorquinolonas
O mecanismo de ação
desta classe envolve a inibição da
As quinolonas atuais são
DNA-girase (topoisomerase II) e
análogos fluorados sintéticos do
topoisomerase
ácido
primeiras
enzimas importantes para inúmeras
o
ácido
reações que acontecem durante o
pipemídico,
processo de replicação do DNA. A
piromídico, cinoxacina, rosoxacina -
inibição da DNA-girase impede o
não atingiam níveis antibacterianos
relaxamento
sistêmicos, e apenas eram eficazes
superespiralado
no tratamento de infecções das vias
necessário para a transcrição e
urinárias inferiores. Seus derivados
replicação normais. A inibição da
fluorados,
topoisomerase
nalidíxico.
quinolonas
nalidíxico,
-
As
como
oxolínico,
as
fluorquinolonas
(ciprofloxacina,
enoxacina,
norfloxacina,
ofloxacina
e
apresentam,
maior
espectro
lomefloxacina,
Gram-negativas,
antibacteriana,
abrange
bactérias
propriedades
bacterianas,
do
DNA
positivo,
IV
que
é
provavelmente
interfere na separação do DNA
cromossômico
nas
células-filhas
durante a divisão celular83.
comparativamente,
atividade
que
pefloxacina)
IV
A
resistência
às
quinolonas ocorre devido à redução
da afinidade da sua molécula às
girases
bacterianas,
onde
os
farmacocinéticas mais favoráveis,
mutantes apresentam substituições
menos efeitos adversos e menor
pontuais – entre os aminoácidos 67
593
JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2015 8 (15): 574-614.
e 106, também denominada Região
transferência
Determinante de Resistência às
encontra-se o gene qnr112. Em
Quinolonas (QRDR – Quinolone
amostras
Resistance-determining Region) –
alimentos,
no gene gyrA, que codifica a
detectaram os genes qnrS1e qnrS2
subunidade
girase108,109.
da
da
de
região
animais,
Wasyl
onde
ração
et
e
al.113
Os
nos sorovares Agona, Enteritidis,
microrganismos também podem se
Infantis, Newport, Oranienburg e
tornar resistentes a esta classe por
Virchow, e os genes qnrB10 e
meio da superexpressão de bombas
qnrB19 nos sorovares Enteritidis,
de efluxo, causadas por mutações
Saintpaul,
nos
Typhimurium.
genes
reguladores
destas
proteínas109,110.
Indiana,
Ahmed
Newport
et
e
al.101
verificaram a presença dos genes
plasmídeo
qnrA, qnrB, qnrS nos sorovares
conferem
Typhimurium, Enteritidis e Infantis
resistência às quinolonas – gene
isolados em produtos de origem
qnrA - foi descoberto em 1998,
animal.
O
contendo
primeiro
genes
denominado
que
(Plasmid-
Além do qnr, existe um
mediated quinolone resistance)111. A
segundo gene de resistência às
proteína codificada por este gene
quinolonas – aac(6’)-Ib-cr – que é
protege a DNA-girase do ataque
frequentemente
das quinolonas e fluorquinolonas.
plasmídeos e codifica a enzima
Posteriormente, outros genes qnr,
aminoglicosídeo
como qnrB, qnrC, qnrD e qnrS
que
foram
PMQR
detectados102.
Salmonella
localizado
em
acetiltransferase,
promove
resistência
à
canamicina e reduz a sensibilidade
Infantis pode carrear um plasmídeo
bacteriana
conjugativo, denominado pINF5, no
norfloxacina114.
qual o gene qnrS fica intimamente
identificado
ligado
Tn3,
Typhimurium e Enteritidis isolados
de
de amostras de carne, leite e queijo
com
responsável
o
transposon
pelo
transporte
à
ciprofloxacina
Este
em
gene
e
foi
Salmonella
blaTEM-1. Assim, uma recombinação
egípcios101.
gênica
plasmídeo,
observaram 11,9% de prevalência
possivelmente, poderia resultar na
do gene aac(6’)-Ib-cr em cepas do
deste
Wang
et
al.115
594
JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2015 8 (15): 574-614.
sorovar Enteritidis isoladas de carne
primeiro relato da detecção deste
de frango de açougues chineses.
gene no gênero Salmonella foi
Uma nova variante deste gene,
realizado por Wong e Chen122, que
denominado
foi
identificaram-no em dois isolados do
plasmídeo
sorovar Derby oriundos de amostras
sorovar
de carne de frango e suíno de
detectado
aac(6’)-Ib-cr4,
em
presente
um
no
Typhimurium116.
supermercados de Hong Kong.
Outro
resistência
às
mecanismo
quinolonas
de
é
a
Resistência aos macrolídeos
expressão de bombas de efluxo
pela
presença
do
gene
qepA,
Os macrolídeos são uma
classe
de
antimicrobianos
presente no plasmídeo pIP1206. Os
caracterizada pela presença de um
genes qnr e qep conferem baixos
anel de lactona macrocíclica, que
níveis de resistência, mas quando
contém
presentes podem potencializar a
carbono. A eritromicina, protótipo do
evolução da bactéria que os possui
grupo
rumo a níveis mais elevados de
erythreus, possui espectro de ação
resistência117. O gene qepA possui
relativamente extenso contra cocos
duas variantes – qepA1 e qepA2 –
aeróbios Gram-positivos e Gram-
que codificam as bombas de efluxo
negativos
que são capazes de exportar as
tratamento
de
fluorquinolonas hidrofílicas, como a
intersticiais.
Novos
análogos da
ciprofloxacina e enrofloxacina117-119.
eritromicina,
como
roxitromicina,
No estudo de Lunn et al.120 foi
azitromicina,
detectado os genes qnrS1, qnrB6 e
diritromicina,
qepA em cepas de Salmonella
vantagens como maior facilidade de
Enteritidis
Salmonella
administração e menor incidência
Typhimurium, entretanto a presença
de efeitos adversos68,123. É vetada a
destes genes não foi associada com
utilização da eritromicina com a
a resistência às quinolonas. O gene
finalidade
oqxAB também codifica bombas de
melhorador
efluxo para as quinolonas121. O
alimentação animal124. Entretanto,
e
14
ou
obtido
16
da
e
é
átomos
Streptomyces
utilizada
possuem
de
no
pneumonias
claritromicina
de
de
aditivo
e
algumas
zootécnico
desempenho
na
595
JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2015 8 (15): 574-614.
como é empregada na terapêutica
observados nos microrganismos à
veterinária, é preconizado o seu
eritromicina e seus análogos. As
monitoramento do limite máximo de
enzimas
seu resíduo nos produtos de origem
resistência
animal44.
estruturalmente
A ação antibacteriana da
também
a
conferem
compostos
não-relacionados,
porém
mecanicamente
eritromicina pode ser inibitória ou
semelhantes, como a clidamicina e
bactericida – principalmente quando
estreptogramina
em
resistência
altas
concentrações.
Sua
B,
a
denominada
macrolídeos-
molécula inibe a síntese proteica
lincosaminas-estreptograminas
bacteriana por meio de sua ligação
MLS do tipo B
com o RNA ribossomal 50S. A
gene erm125.
122,
ou
conferida pelo
produção de proteínas é impedida
Segundo Michael et al.39,
devido ao bloqueio das reações de
Salmonella e outras enterobactérias
translocação
formação
aminoacil
de
e
da
são geralmente resistentes à doses
complexos
de
terapêuticas
iniciação123.
de
macrolídeos,
mesmo assim, já foram identificados
A
à
nestas bactérias alguns genes que
eritromicina, geralmente codificada
conferem resistência a esta classe,
por plasmídeos, se dá por três
como o gene mph, que codifica uma
principais mecanismos: (1) redução
fosfotransferase, já foi detectado no
da permeabilidade da membrana
plasmídeo pU302L em Salmonella
celular ou efluxo ativo; (2) produção
Typhimurium. Van Hoek et al.126
de
a
verificaram a presença dos genes
(3)
mph(A) e mph(K) nos sorovares
modificação do sítio de ligação
Heidelberg e Blockley. Também Le
ribossomal
Hello et al.127 relataram o gene
enzimas
molécula
resistência
que
hidrolisam
antimicrobiana;
por
e
mutação
cromossômica ou por uma metilase
mph(A)
constitutiva
Kentucky de origem humana. O
macrolídeos.
ou
A
induzível
por
produção
de
gene
em
ere,
cepas
é
do
sorovar
responsável
pela
enzimas é responsável pela grande
produção de uma esterase, e já foi
maioria dos casos de resistência
identificado nos sorovares Wien,
596
JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2015 8 (15): 574-614.
Keurmassar
e
Heidelberg
de
característica
para
estirpes
amostras de carne de frango e de
causam
seres humanos39,128,129. Tais genes
humanos. Esta dinâmica representa
também
foram
em
um risco para a saúde humana, já
integrons
de
em
que infecções causadas por estes
Salmonella Paratyphi e Salmonella
microrganismos resistentes são de
Typhimurium
difícil tratamento.
detectados
classe
2
DT104
doenças
multirresistente130,131.
O
possui
Considerações finais
gênero
seres
Salmonella
diferentes
conferem
genes
que
resistência
antibióticos
Com o intuito de controlar
em
que
da
classe
lactâmicos,
aos
dos
β-
tetraciclinas,
as doenças que podem acometer as
aminoglicosídeos,
aves
trimetoprim, anfenicóis, quinolonas
e
comprometer
seu
sulfonamidas,
crescimento, por muitos anos foram
e
utilizados os antibióticos promotores
multirresistentes possuem em seu
de crescimento. O emprego destas
material
substâncias na avicultura permitiu
genes,
alcançar
resultados
permeabilidade da membrana da
zootécnicos, entretanto, seu uso
célula bacteriana ao fármaco, alterar
prolongado em baixas dosagens
o sítio-alvo do antibiótico, produzir
pode ter favorecido a aquisição de
bombas que retiram a droga do
resistência
meio
excelentes
aos
antimicrobianos
pelas bactérias.
macrolídeos.
genético
que
vários
podem
intracelular
Cepas
ou
destes
reduzir
a
sintetizar
enzimas que degradam a molécula
A transferência de genes,
antimicrobiana.
que incluem aqueles que conferem
Em virtude do grande
resistência aos antibióticos, pode
número de trabalhos que reportam a
ocorrer entre bactérias da mesma
presença destes genes em cepas
espécie e entre espécies diferentes.
de Salmonella isoladas de produtos
Portanto,
de origem animal, estes podem
agentes
resistentes
animais
que
podem
patogênicos
acometem
transferir
os
representar uma potencial fonte de
esta
infecção para os seres humanos.
597
JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2015 8 (15): 574-614.
Portanto, torna-se fundamental a
promotores
adoção de medidas que contenham
utilizados
o avanço da resistência bacteriana,
animais de produção, bem como
como
maiores
o
uso
racional
antimicrobianos
na
dos
medicina
de
na
alimentação
dos
investimentos
no
desenvolvimento de fármacos mais
humana e veterinária, realização
eficazes
pesquisas
sobre
microrganismo.
substitutos
aos
possíveis
crescimento
contra
estes
antibióticos
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Recebido em: Março de 2015
Aceito em: Julho de 2015
Publicado em: Julho de 2015
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