JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2015 8 (15): 574-614. Genes de resistência aos antimicrobianos de Salmonella sp. Antimicrobial resistance genes of Salmonella sp. Genes de resistencia antimicrobiana de Salmonella sp. Angélica Ribeiro Araújo Leonídio1, Gisele Mendanha Nascimento2, Samantha Verdi Figueira2, Ana Maria de Souza Almeida2, Dunya Mara Cardoso Moraes3, Maria Auxiliadora Andrade4 Resumo As bactérias do gênero Salmonella são conhecidas por determinar um grande número de casos de infecção de origem alimentar em humanos, principalmente devido o consumo de produtos de origem animal contaminados. O impacto causado por este agente sobre a saúde pública poderá ser ainda maior devido o desenvolvimento de cepas resistentes a inúmeros antimicrobianos presentes nesses alimentos. Este artigo revisa as informações disponíveis sobre os principais genes de resistência aos antibióticos detectados em inúmeros sorovares de Salmonella isolados de amostras de produtos de origem animal. Palavras-chave: avicultura, multirresistência, saúde pública Abstract Bacteria of the genus Salmonella are known to determine a large number of cases of foodborne infection in humans, mainly due to the consumption of contaminated food of animal origin. The impact of this agent on human health can be further increased by the development of resistant strains to numerous antimicrobials present in these foods. This article reviews the 1 M.V., MSc. Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Ciência Animal. Escola de Veterinária e Zootecnia. Universidade Federal de Goiás (UFG). * Email: [email protected] 2 Zootecnista, MSc. Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Ciência Animal. Escola de Veterinária e Zootecnia. UFG. 3 M.V., DSc. Pós-doutoranda do Programa de Pós-graduação em Ciência Animal. Escola de Veterinária e Zootecnia. UFG. 4 M.V., DSc. Professora adjunta. Departamento de Medicina Veterinária Preventiva. Escola de Veterinária e Zootecnia. UFG. 574 JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2015 8 (15): 574-614. available information on the key genes conferring resistance to antibiotics detected in numerous Salmonella serovars isolated from animal products samples. Key words: poultry farming, multiresistance, public health Resumen Las bacterias del género Salmonella son conocidos para determinar un gran número de casos de infección transmitida por los alimentos en los seres humanos, principalmente debido al consumo de productos de origen animal contaminados. El impacto de este agente en la salud humana se puede aumentar aún más por el desarrollo de cepas resistentes a numerosos agentes antimicrobianos presentes en estos alimentos. Este artículo revisa la información disponible sobre los genes clave que confieren resistencia a los antibióticos detectadas en numerosos serotipos de Salmonella aisladas muestras de productos de origen animal. Palabras-clave: avicultura, múltipla resistencia, salud pública Introdução desempenho O sistema de produção intensivo atualmente empregado na avicultura industrial possibilitou uma grande expansão do setor, por melhorar os resultados produtivos e facilitar também o manejo. favorece Entretanto, a entrada, disseminação e permanência de agentes patogênicos, como os do gênero Salmonella, considerados importantes causadores de surtos de origem alimentar em humanos, além de afetar negativamente o zootécnico dos animais. Salmonella sp. pode ser encontrada em todos os países com produção avícola expressiva e pode tornar-se um fator limitante para o crescimento do setor, quando não há um programa específico para o seu controle1. As aves portadoras assintomáticas, incubatório, animais silvestres, instalações ração e manejo inadequados potenciais fontes de e são Salmonella para frangos de corte e poedeiras2. Além disso, as práticas adotadas 575 JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2015 8 (15): 574-614. nos abatedouros, velocidade de como a alta transferência dessa resistência processamento entre bactérias que infectam os promove estreita proximidade entre animais e as que são patogênicas as carcaças, o que ocasiona a para o homem8,12. transferência da bactéria3,4. Sua Independente da origem presença em produtos de origem da resistência, o fato é que a animal representa um risco para a quantidade saúde gerar patogênicas resistentes é maior que barreiras na comercialização para a capacidade dos laboratórios e outros países5. indústrias pública, além de O impacto de Salmonella de novas de bactérias desenvolverem fármacos antimicrobianos13. Vários sobre a saúde pública poderá ser estudos ainda maior devido à resistência presença de cepas resistentes de desenvolvida por esses patógenos Salmonella aos antimicrobianos6. Na medicina avícolas4,14-16. veterinária, monitoramento os antibióticos são já demonstraram em produtos Portanto, do a o perfil de utilizados no tratamento e profilaxia resistência dos sorovares paratíficos das doenças infecciosas e também é de extrema importância, pois além como promotores de crescimento7. de auxiliar na escolha do tratamento No último caso, são adicionados em mais doses subterapêuticas à ração com também a acompanhamento da evolução das finalidade de melhorar o eficaz contra a doença, possibilita o desempenho e conversão alimentar, cepas multirresistentes17-19. além de fornecer proteção contra Diante doenças provocadas pela criação que a em sistema intensivo, permitindo Salmonella da resistência aos importância do gênero antimicrobianos lotação8,9. representa para a saúde pública e Entretanto, tal prática também pode animal, esta revisão de literatura ter induzido o aparecimento de teve resistência principais uma maior taxa de bacteriana antimicrobianos10,11, e preocupação que é a aos maior deste por objetivo genes patógeno relatar os de resistência aos principais ocorra 576 JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2015 8 (15): 574-614. grupos de antimicrobianos já utilizados na avicultura. vários sorotipos e sorovares. Para a classificação além dos níveis de subespécie é utilizada a tipificação Revisão de literatura sorológica através do sistema de classificação de Kauffmann-White, Salmonella sp. O que gênero pertence Salmonella à família baseia-se na superfície envelope ou de bacilos pequenos de 0,7 a 1,5 x capsular “Vi”), 2,5μm, (antígenos não diversas estruturas antigênicas encontradas Enterobacteriaceae e é constituído Gram-negativos nas celular, como cápsula (antígeno parede somático “O”) o celular e os formadores de esporos, aeróbios ou flagelos (antígenos flagelares “H”)22. anaeróbios facultativos. Fermentam As salmoneloses aviárias a glicose e outros açúcares e são causadas por qualquer membro descarboxilam aminoácidos, do gênero Salmonella. Os sorovares reações químicas importantes para que infectam as aves produzem a quadros caracterização do gênero e clínicos que são diferenciação dos biótipos. Crescem classificados em: pulorose (causada a temperatura de 5 a 45°C, contudo por sua zona de conforto situa-se entre aviário (causado por Salmonella 37 e 40°C. Em sua grande maioria, Gallinarum) são móveis peritríquios, Salmonella e Pullorum), as tifo infecções com flagelos paratíficas (ocasionada por qualquer embora alguns outro sorovar). A terceira forma da sorotipos sejam imóveis20,21. Segundo Berchieri Júnior doença possui maior importância na saúde pública e animal, já que os e Freitas Neto21, este gênero é sorovares composto espécies colonizar o trato gastrintestinal (TGI) Salmonella enterica e Salmonella das aves sem provocar a doença bongori. S. enterica é subdividida clínica em seis subespécies – enterica, isolados em produtos avícolas, o salamae, que representa um risco para as pelas arizonae, diarizonae, e paratíficos são podem frequentemente houtenae e indica – que possuem 577 JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2015 8 (15): 574-614. pessoas que consomem tais produtos1,23. resistentes a 11 ou mais compostos antimicrobianos. Após testes de O tratamento da sensibilidade antimicrobiana em salmonelose em animais e humanos cepas de Salmonella isoladas em tem à pele e cortes de carcaças de emergência de cepas resistentes a frangos nos anos de 1993 e 2006, várias classes de antimicrobianos. Álvarez-Fernández O conhecimento dos mecanismos verificaram responsáveis pelo desenvolvimento todas as cepas: os 40 isolados de da 1993 sido dificultado resistência e os devido processos al.4 et multirresistência eram resistentes a em três relacionados à sua transferência (25,0%), quatro (52,5%) ou cinco entre os indivíduos são essenciais (22,5%) dos antibióticos testados; para o monitoramento e controle de as 19 amostras obtidas em 2006 cepas mostraram-se de Salmonella multirresistentes5. (26,3%), resistentes a quatro (26,3%), três cinco (10,5%), seis (26,3%), sete (5,3%) Resistência de Salmonella sp. aos ou antimicrobianos diferentes. até 13 (5,3%) antibióticos Bacci et al.15 analisaram Os produtos de origem animal constituem um importante 123 amostras de reservatório de cepas de Salmonella provenientes de carnes de aves e resistentes aos antibióticos, com detectaram 86,1% de resistência à destaque para os provenientes da tetraciclina indústria avícola15. Vários estudos multirresistência relataram uma alta prevalência de sulfametoxazol e tetraciclina. Em resistência aos antimicrobianos de seu estudo, Moraes16 investigou o diversos sorovares de Salmonella perfil de resistência de diversos isolados de carne de frango e ovos. sorovares de Salmonella isolados No estudo conduzido por Musgrove de amostras de ovos de granjas et al.14 os autores observaram que comerciais. Os maiores percentuais 60,1% das cepas de Salmonella de resistência observados foram isoladas em casca de ovos eram para e Salmonella 30,5% à sulfametoxazol de ampicilina, (91,0%), 578 JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2015 8 (15): 574-614. sulfonamidas (51,0%) e ceftiofur variante monofásico (28,9%). Salmonella Typhimurium – onde as pessoas Schwarzengrund apresentou contaminaram-se ao ingerir carne resistência a 13 dos 14 antibióticos suína testados. sensibilidade, Os Após foi sorovar testes de constatada a isolados a de resistência salmonelose humana provocados ampicilina, por estirpes multirresistentes são sulfonamidas e tetraciclina26. Estes frequentemente fatos reforçam o risco iminente que consumo surtos cozida. do associados de ao alimentos estas dos estreptomicina, cepas de Salmonella contaminados ou pelo contato direto multirresistentes representam para com animais doentes5. Entre os a saúde pública5. meses de julho e agosto de 2005 foi Ao infectar o homem, as reportado um surto na Dinamarca bactérias ocasionado pelo fagotipo DT104 de promovem uma infecção de difícil Salmonella Typhimurium resistente controle, a seis antibióticos diferentes. Neste acometidas mais propensas a sofrer episódio, pacientes os efeitos adversos associados ao relataram o consumo de carpaccio prolongamento do curso da doença em um restaurante italiano24. O e mesmo foi sintomas27. Além disso, estas cepas implicado em um surto ocorrido em também fornecem suporte genético Londres em agosto de 2008, onde para a microbiota intestinal humana, 16 como todos os fagotipo pessoas provavelmente também foram ao afetadas, consumirem multirresistentes tornando aumento da genes as pessoas gravidade codificadores resistência aos dos de fármacos carne seca. As cepas apresentaram antimicrobianos ou aqueles que resistência conferem cloranfenicol, a ampicilina, estreptomicina, sulfonamidas, tetraciclina e ácido por Salmonella 4,[5],12:i – um grau de patogenicidade, como os fatores de virulência28. nalidíxico25. Em junho de 2011, foi relatado um surto na Itália causado maior Genes mecanismos podem de estar que codificam multirresistência agrupados no 579 JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2015 8 (15): 574-614. cromossomo dentro de um mesmo do SGI-1, e em uma sequência lócus ou ilha, estrutura que permite similar de 18 pb na extremidade 3’ a transferência gênica na forma de do gene thdF, presente no DNA de blocos. Salmonella e E.coli. No gênero Salmonella, estes genes localizam-se na Ilha Genômica 1 de Os genes que codificam Salmonella a resistência aos antibióticos estão (Salmonella Genomic Island 1 – localizados em um segmento da SGI-1), que possui 43 kb com 44 SGI-1 de 13 kb, denominado região ORF MDR (Multidrug Resistance), que é (Open Reading Frame) conhecidos e outros com função desconhecida 29-33. A SGI-1 pode composta por complexos dois de integrons classe 1, meio de denominados In10435. Esse lócus estirpes de confere resistência simultânea a Salmonella e entre Salmonella e cinco classes de antimicrobianos, Escherichia coli, o que comprova o incluindo a ampicilina, cloranfenicol, seu estreptomicina, ser transferida conjugação por entre grande poder de disseminação34. espectinomicina, tetraciclina e sulfonamidas, também Estudos realizados por Doublet et al.34 denominado fenótipo ACSSuT. constataram a Salmonella Typhimurium fagotipo presença de SGI-1 na forma circular DT104, identificado na década de extracromossômica. Segundos os 1990, é considerado um clone autores, ACSSuT essa alcançada recombinação extremidades configuração por gênica meio da das suas antimicrobianos em uso de animais de produção36,37. A região MDR da SGI-1 a também está sujeita a eventos presença de um plasmídeo auxiliar recombinação gênica que levam à R55. Após a aquisição, a SGI-1 é expressão de outros fenótipos de integrada aos cromossomos por resistência nas cepas de Salmonella meio em de é para associado ao sua transferência, e é necessária recombinação sítio- que estão ASuTm, inseridos, como ACSu, CSSu, específica entre uma sequência de ASSu, 18 pb, encontrada na forma circular ACSuTm e CSSuTm, que também 580 JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2015 8 (15): 574-614. apresentam resistência fluorquinolonas, trimetoprim às cada grupo42. A legislação brasileira e proíbe o emprego dos antibióticos β-lactâmicos aminoglicosídeos38. Os principais genes de conferem resistência a como promotores de agentes desempenho ou como conservantes de alimentos animais43. antimicrobianos são: drf (resistência para ao trimetoprim); aad, aph, aad veterinária, (resistência aos aminoglicosídeos); restrição quanto ao uso destes tet (resistência à tetraciclina); sul fármacos, contudo, é previsto o (resistência à sufonamida); flo, clm, monitoramento da presença de seus cat (resistência ao florfenicol); qnr, resíduos nos produtos de origem qep, oqx (resistência quinolonas); animal44. não Na há terapêutica nenhuma aos Os β-lactâmicos inibem o de crescimento bacteriano ao interferir enzimas β-lactamases de amplo em uma etapa específica da síntese espectro é conferida pelos genes da blaCTM-X, blaTEM, blaPSE40. composta mph (resistência macrolídeos)39. A produção parede celular, por polímero um estrutura complexo denominado peptidoglicano. As moléculas do Resistência aos β-lactâmicos antimicrobiano se ligam de forma Os β-lactâmicos são uma covalente às proteínas ligadoras de que penicilina (penicillin-binding proteins possuem o anel β-lactâmico em – PBP), responsáveis pela ligação suas cruzada classe de antimicrobianos estruturas moleculares. do peptidoglicano da Dependendo de qual radical está parede celular, o que lhe confere ligado são rigidez. Após a ligação do antibiótico penicilinas, às PBP, ocorre o bloqueio da cefalosporinas, carbepenêmicos e síntese do peptidoglicano e a célula monobactâmicos41, vai morre devido às alterações de nas osmolaridade. A inibição das PBP ao núcleo diferenciados influenciar comum, em o que diretamente características farmacológicas antibacterianas da molécula e de também libera autolisinas que destroem a parede já existente. As 581 JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2015 8 (15): 574-614. penicilinas e cefalosporinas são pode atacar outra molécula do bactericidas as antibiótico46. bactérias estiverem na fase de Já somente crescimento, se momento em que produção e classificadas mais de 340 diferentes β- são particularmente relacionadas a lactamases por bactérias Gram- uma espécie bacteriana, enquanto negativas é a principal causa de outras resistência Existem a esta de descritas tipos de β-lactamases47. Algumas sintetizam sua parede celular41,42. A foram classe de são mais aquelas generalizadas. que possuem antibióticos. Outros mecanismos de atividade contra um grupo mais resistência incluem a modificação restrito de antibióticos e outras que de proteínas de membrana e o apresentam efluxo do antibiótico por meio de ação, também chamadas de β- proteínas lactamases transportadoras. amplo de espectro amplo de espectro Alterações nas PBP, como descrito (estended-spectrum em Gram- lactamases – ESBL). As ESBL são foram capazes de conferir resistência a detectadas em Salmonella, portanto subclasses dos β-lactâmicos, tais não como penicilinas, cefalosporinas e algumas positivas bactérias ainda constituem não um importante mecanismo de resistência neste monobactâmicos39,48. As gênero39,45. beta- β-lactamases As β-lactamases atuam detectadas em vários sorovares de por meio de dois mecanismos: (1) Salmonella são codificadas por um promovem a ruptura do anel β- número considerável de genes. Há lactâmico por meio de íons de zinco pelo menos 10 diferentes subgrupos ou (2) utilizam a via éster-serina. No de genes relacionados à produção último caso, a enzima liga-se de das β-lactamases (bla): TEM, SHV, forma não covalente ao antibiótico e PSE, OXA, PER, CTX-M, CMY, então, hidroxila ACC, DHA e KPC. Numa mesma hidrolisa o anel β-lactâmico. Após cepa podem estar presentes vários esta clivagem, a enzima é liberada e tipos de genes bla. Dentre estes o seu grupo grupos, os que possuem maior 582 JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2015 8 (15): 574-614. importância clínica responsáveis são pela aqueles produção de capazes de hidrolisar celafosporinas de 3ª geração53,54. ESBL39. Salmonella Typhimurium e Existe grande diversidade Salmonella Enteritidis produtoras de de genes para ESBL para o gênero ESBL são mais frequentemente Salmonella. associados analisaram isolados dos sorovares às infecções bacterianas em humanos. isolamento destes O Baraniak Typhimurium e al.55 et Enteritidis sorovares produtores de ESBL e observaram resistentes em animais e alimentos, que ambos possuíam o gene blaCTX- principalmente M-3, os de origem que foi localizado em diferentes avícola, sugere que o homem é plasmídeos, potencialmente infectado por estas adquirido de forma diferente por fontes45. cada estirpe. No estudo de Hasman As ESBL frequentemente são mais encontradas são indicando que foi et al.47, o gene blaTEM-52 foi o mais predominante nos sorovares pertencentes aos grupos TEM, SHV Blockey, e CTX-M, nos quais os genes Enteritidis, Paratyphi, Virchow e codificadores desta característica Typhimurium isolados em amostras encontram-se em plasmídeos49. A de aves vivas, carne de frango e enzima parenteral do grupo TEM é seres capaz de hidrolisar penicilinas e identificados pelos autores foram cefalosporinas de 1ª geração, como blaTEM-20, blaTEM-63, blaCTX-H-3, blaCTX- a cefalotina cealoridina50. e A M-2, Thomson, humanos. Londres, Outros genes blaSHV-2, blaTEM-1 e blaSHV-12. família SHV confere resistência à Yang et al.56 verificaram que 21,7% ampicilina, amoxicilina, carbenicilina das cepas de Salmonella obtidas de e às alimentos vendidos em comércios cefalosporinas de 3ª geração, que de Henan e Shaanxi (China), eram são destruídas pelas ESBL deste produtoras grupo51,52. As enzimas CTX-M são sendo o grupo de ESBL de emergência detectado em 87,6% delas. Neste mais estudo, Salmonella Indiana foi o ticarcilina, recente e e também também são que de o enzimas gene ESBL, blaTEM foi mais prevalente (60%), seguido por 583 JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2015 8 (15): 574-614. Salmonella Shubra (33,3%), foi detectado o gene blaCYM-2. Salmonella Typhimurium (3,3%) e Mohamed et al.61 verificaram a Salmonella Enteritidis (3,3%). presença de blaCYM em todas as β- cepas de Salmonella Typhimurium e lactamases do tipo AmpC, que são Salmonella Kentucky recuperadas codificadas por genes presentes no de carcaças de frangos. Já foi DNA cromossômico ou plasmidial. descrita a presença do gene blaAAC-1 Estas Existem ainda as enzimas promovem em Salmonella Bareilly, Salmonella às penicilinas, Braenderoup, Salmonella Infantis, resistência cefoxitinas, cefalosporinas de 1ª, 2ª Salmonella Livingstone, e e 3ª gerações e as combinações β- Salmonella Mbandaka47,62,63. O lactâmicos β- gene blaDHA-1 já foi identificado nos Portanto, sorovares Enteritidis, Montevideo e + inibidor lactamases57. de diferentemente das ESBL, as β- Senftenberg64-66. lactamases do tipo AmpC não são inibidas pelo ácido clavulânico. Resistências às tetraciclinas Diferentes grupos de genes que As tetraciclinas são expressam esta enzima têm sido fármacos bacteriostáticos de amplo descritos: CMY, AAC, ACT, DHA, espectro, eficazes contra diversas FOX, MIR e MOX58. Os tipos CMY, bactérias Gram-negativas e Gram- AAC e DHA já foram identificados positivas, em Salmonella39. riquétsias, Rodriguéz et al59. como blaCYM-2 radicais plasmídeos de anaeróbios, clamídias e micoplasmas, e contra protozoários, verificaram a presença do gene em incluindo as amebas. anexados Diferentes à estrutura Salmonella Agona e Salmonella tetracíclica comum os diferenciam Kentucky. Na investigação realizada em: por Dahshan et al.60, a tetraciclina, clortetraciclina, multirresistência foi observada em metacilina, Salmonella doxiciclina67,68. Salmonella Typhimurium Infantis isoladas e oxitetraciclina, de tetraciclinas fezes suínas, sendo que no último promotores demeclociclina, minocilina O como de e uso das agentes crescimento ou 584 JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2015 8 (15): 574-614. conservantes de rações é proibido citados, no Brasil43. Como são utilizados no importância é a produção da bomba tratamento de doenças infecciosas de em o proteínas codificadas por genes monitoramento de seus resíduos em contidos em plasmídeos e podem produtos de origem animal44. ser transmitidos por transdução ou animais, é determinado A atividade antimicrobiana desta classe o que efluxo, possui que maior consiste em conjugação67. é Apesar de já serem devido à inibição da síntese proteica descritos mais de 35 genes diferentes bacteriana. As tetraciclinas podem de resistência às tetraciclinas, apenas penetrar na membrana celular dos cinco deles – tet(A), tet(B), tet(C), tet(D) microrganismos por difusão passiva e tet(G) foram detectados em espécies e transporte ativo dependente de do gênero Salmonella. Todos eles energia. Uma vez no interior da codificam proteínas das bombas de célula, efluxo que são capazes de exportar as tetraciclinas ligam-se reversivelmente à subunidade 30S tetraciclina, do clortetraciclina e doxiciclina. Estes ribossomo bloqueando a bacteriano, adição de cinco oxitetraciclina, genes são associados a aminoácidos à proteína que está diferentes elementos gênicos móveis: sendo formada67. o tet(G) é detectado exclusivamente Já foram descritos três mecanismos às frequentemente encontrados e estão tetraciclinas: (1) redução do influxo associados aos transposons Tn1721 e ou aumento do efluxo por bomba Tn10, já identificados em grandes proteica ativo, plasmídeos de multirresistência; tet(C) concentração e tet(D) são carreados por plasmídeos de diminuindo de resistência em SGI-1; tet(A) e tet(B) são os mais transporte a intracelular da molécula do fármaco; detectados (2) proteção dos ribossomos por isolados39. com inativação a droga, enzimática e (3) das tetraciclinas. Dentre os mecanismos alguns casos Pasquali et al.69 avaliaram meio de proteínas que evitam a sua ligação em os padrões de gene tet em cepas de Salmonella isoladas de animais, produtos de origem animal e seres 585 JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2015 8 (15): 574-614. humanos. Os tipos tet(A), tet(B), tet(G), Gram-negativas aeróbias. O grupo foram detectados em todas as estirpes inclui a estreptomicina, neomicina, analisadas, de forma isolada – tet(A) canamicina, ou tet(G) – ou em combinações – gentamicina, tet(A) + tet(B), tet(B) + tet(G), tet(A) + sisomicina tet(B) + tet(G), tet(A) + tet(G). Também desenvolvimento de antimicrobianos Pezzella et al.70 analisaram a presença menos do gene tet em cepas de Salmonella aminoglicosídeos tem sido muito multirresistentes e questionado73,74. Não há restrições observaram que 68% das estirpes do uso dos aminoglicosídeos nos resistentes à tetraciclina possuíam o animais produtores de alimentos, tet(A), grande parte deles localizados entretanto, a legislação brasileira em define uma de animais variante do transposon amicacina, tobramicina, e netilmicina. tóxicos, limites o uso máximos Com dos para Tn1721. Em amostras de carne, Aslam detecção de seus resíduos nos et al.71 verificaram que Salmonella produtos de origem animal44. Hadar e Salmonella Heidelberg Os aminoglicosídeos são possuíram maior prevalência para os inibidores irreversíveis da síntese de genes tet, sendo que tet(A) foi proteínas e seu mecanismo de ação detectado em 28% das amostras e dos aminoglicosídeos é multifatorial tet(C) não foi encontrado. Glenn et al.72 e dose-dependente - quanto maior constataram a presença dos genes for tet(A), tet(B), tet(C), tet(D) e tet(R) em rapidamente promovem a morte isolados de Salmonella recuperados bacteriana. Primeiramente, ocorre de carnes e de seres humanos. sua difusão passiva pelos canais de porina Resistência aos aminoglicosídeos Os sua concentração, presentes na mais membrana externa. Em seguida, a droga é aminoglicosídeos transportada ativamente através da constituem um grupo de antibióticos membrana celular para o citoplasma bactericidas comumente utilizados bacteriano. Após sua penetração, no quadros as moléculas do aminoglicosídeo infecciosos graves, especialmente a ligam-se à subunidade 30S dos septicemia causada por bactérias ribossomos tratamento de (S12 no caso da 586 JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2015 8 (15): 574-614. estreptomicina), interferindo na de proteínas de três (AAC), adeniltransferases (AAD ou podem ANT) e fosfotransferases (APH). ocorrer simultaneamente: (1) afetam Para cada uma destas categorias, o da são conhecidos muitos membros (2) que possuem algumas diferenças produção diferentes formas, complexo formação de dos que iniciação peptídeos; induzem a leitura equivocada do divididas em acetiltransferases em suas estruturas moleculares39. mRNA que causa a incorporação de Há dois diferentes aminoácidos incorretos no peptídeo, sistemas de nomenclatura para os gerando uma proteína não funcional genes que codificam estas enzimas. ou tóxica; e (3) provocam a ruptura A dos polissomos (vários ribossomos exemplo, ligados ao mRna) em monossomos modificação não funcionais73,74. aminoglicosídeo fosfotransferase), a A resistência aminoglicosídeos ocorre designação aph(3’’)-Ib, caracteriza aos posição pela introduzida o por tipo (aph que a de para modificação (3’’) e também foi a combinação de três mecanismos: denominação do subtipo do gene (1) produção da enzima transferase (Ib). No outro sistema, a designação ou enzimas que inativam a droga strA, por ou mesmo gene, baseia-se somente no fosforilação, e constitui o principal fenótipo de resistência equivalente tipo de resistência encontrada para (str esta classe; (2) interferência na estreptomicina subtipo A)39. adelinalação, acetilação utilizada para para nomear resistência o à entrada do fármaco na célula, e (3) Mais de 20 diferentes modificação da proteína receptora variantes do gene add (também existente na subunidade 30S dos conhecido ribossomos73. descritos. Somente aqueles cujas São conhecidas três com modificações ant) já foram encontram-se 3’’[addA, na classes de enzimas que inativam posição este grupo de antibióticos, e são [aadB, ant(2’’)] foram identificados classificadas de acordo com o tipo em de modificação que promovem. São conferem Salmonella. ant(3’’)] e O gene resistência 2’’ aadA à 587 JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2015 8 (15): 574-614. estreptomicina que e espectinomicina geralmente encontra-se últimos frequentemente são encontrados ligados e precedidos localizado em cassetes gênicos de pelo integrons de classe 1 e 2 presentes resistência à sulfonamida79. Gleen em plasmídeos ou como parte da et al.72 ao analisar amostras de SGI-1. Já o aadB, comumente Salmonella de animais saudáveis, identificados em cassetes de genes, carnes comercializadas e infecções promove resistência à gentamicina, humanas, detectaram os genes aph canamicina e tobramicina39. Ao analisarem cepas de Salmonella gene sul2, que promove e strAB em 21 e 39 isolados, respectivamente. isoladas de amostras de animais e As enzimas do tipo AAC de produtos de origem animal, são divididas em quatro classes e Benacer et al.75 e Meng et al.76 várias subclasses: AAC(1) – sem identificaram em subclasses; AAC(3) – I a X; AAC(2’) cassetes gênicos de integrons de – I e AAC(6’) – I e II78. Destas, classe 1 de cepas de Salmonella. apenas as classes que acetilam os o gene aadA As enzimas codificadas grupos animo nas posições 3 [aacC, pelos genes aph são capazes de aac(3)] e 6 [aacA, ant(6’)] foram fosforilar detectadas no gênero Salmonella39. grupos hidroxila dos aminoglicosídeos, o que reduz a O sua capacidade de ligação com os cassetes ribossomos77,78. Já são conhecidas integrons de classe 1, codifica a cinco enzima AAC(6’), que possui grande classes de genes gene aac(6’)-Ib, gênicos contido em inseridos em codificadores de fosfotransferases, importância entretanto, resistência a amicacina, sisomicina, somente foram detectados no gênero Salmonella clínica por causar tobramicina e netilmicina78,80. aqueles que possuem modificações nas posições 3’, 3’’ e 6’’. O gene Resistência aph(3’)-I trimetoprim é responsável pela resistência a canamicina e os genes As à sulfonamida sulfas foram e os aph(3’’)-Ib e aph(6)-Id conferem primeiros antimicrobianos de ação resistência à estreptomicina39. Estes sistêmica utilizados na clínica de 588 JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2015 8 (15): 574-614. maneira eficaz. A descoberta desta purinas e ácidos nucleicos. As molécula permitiu a síntese de sulfonamidas inúmeros estruturais derivados de menor são do análogos PABA e, por toxicidade e melhor efetividade. A competição, inibem a diidropteroato partir dos anos 70, sua associação sintetase (DHPS). As sulfas inibem ao trimetoprim permitiu a ampliação o do ação irreversivelmente a síntese de ácido antimicrobiano. O trimetoprim é uma fólico. São utilizadas no tratamento droga dos de infecções causadas por bactérias antifolatos, um análogo estrutural do Gram-negativas e Gram-positivas e ácido fólico. A consequência clínica alguns desse sinergismo foi a possibilidade trimetoprim de utilizar de tal combinação no redutase tratamento de infecções provocadas converte o ácido diidrofólico em por diversos agentes em múltiplas ácido localizações81,82. No Brasil é vetado necessário à produção de DNA. A o emprego das sulfonamidas como administração de agentes sulfonamidas produz seu espectro sintética de do grupo promotores de crescimento ao bloquear protozoários81,83. inibe a O diidrofolato (DHF) bacteriana, tetradiidrofólico, que também trimetoprina e acentuado desempenho e como conservantes sinergismo, promovendo o bloqueio de rações animais43. Como são sequencial desta etapa metabólica. empregados de Esta associação é frequentemente legislação bactericida, ao contrário da ação diversas na terapêutica infecções, a brasileira prevê o controle de seus bacteriostática resíduos nos produtos de origem quando animal44. isoladamente83. Os necessitam microrganismos administrada A resistência à sulfonamida pode ocorrer como (1) aminobenzóico (PABA) extracelular consequência de mutações que para ácido causam uma produção abundante diidrofólico, precursor da síntese do de PABA, (2) produção de uma ácido é enzima de síntese de ácido fólico de com baixa afinidade à sulfonamida, formação fólico essencial ácido sulfonamida, para- a do da do bacteriano para a que produção 589 JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2015 8 (15): 574-614. ou (3) pela perda de permeabilidade gene sul284,86,88. Também já foi da membrana molécula. A celular produção à sua evidenciada a ligação entre o gene de uma sul3 em integrons de classe 1 nos enzima DHPS com baixa afinidade sorovares pelas sulfonamidas é codificada um Typhimurium, que pode ser a razão gene frequentemente contido em da rápida disseminação deste gene um plasmídeo transmissível83. nos últimos anos5,89-91. Já foram identificados Choleraesuis e O alto nível de resistência três diferentes genes de resistência ao à sulfonamida no gênero Salmonella Enterobacteriaceae – sul1, sul2, sul3 – que codificam a devido DHPS modificada. O gene sul1 faz modificada. São conhecidos mais parte da região 3’CS conservada de dos integrons de classe 1. Michael codificam esta enzima resistente, et al.84 detectaram estes três genes que em Salmonella Brenedey isolado identificados em linfonodos, tonsilas e conteúdo transposons e cassetes. Tais genes intestinal de suínos abatidos. Kozak são subdivididos em dois grupos: et al.85, Thong et al.86 e Aslam et drfA e drfB39,82,92. O gene de maior al.71 detectaram este gene nos prevalência em bactérias Gram- sorovares negativas é o drfA82. Heidelberg, Bredeney, Corvalis, Schwarzengrund, trimetoprim 30 à encontrado também produção genes em de diferentes são é DHF que frequentemente em plasmídeos, Um total de 13 genes Typhimurium drfA diferentes – a maioria contidos isolados de produtos de origem em cassetes gênicos inseridos em animal. O gene sul2 é comumente integrons de classe 1 e 2 – já foram encontrados ligados aos genes de sequenciados resistência à estreptomicina – strA e sorovares de Salmonella39. O gene strB – nos plasmídeos39,71,84,87. Em drfA1 foi detectado com diferentes sorovares de Salmonella, frequência nos sorovares Enteritidis, como Typhimurium, Rinsen, Anatum e Bredeney, Corvalis, em Agona, diversos maior Derby, Typhimurium, Heidelberg e Derby, Mbandaka, Newport, Paratyphi e já foi constatada a presença do Virchow59,91,93-96. Benacer et al75. 590 JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2015 8 (15): 574-614. identificaram o gene drfA12 em um possuem integron eficácia semelhante e não induzir de extremidade 1900bp 5’CS próximo presente a no aplasia as vantagens medular, como de o ter seu sorovar Typhimurium. O gene drfB análogo68. No Brasil, o uso do foi relatado pela primeira vez em cloranfenicol Salmonella por Leving et al.35, que produção é proibido97, enquanto identificaram o gene drfB6 em um que o florfenicol é indicado para o cassete inserido no integron de tratamento classe 1 do sorovar Infantis. infecciosas do trato respiratório e em animais de de enfermidades digestivo de suínos e bovinos5. O Resistência aos anfenicóis Plano Nacional de Controle de O cloranfenicol, do grupo Resíduos e primeiro Produtos de antibiótico considerado de amplo (PNCRC) espectro. Logo após ser produzido máximos de detecção de resíduos nos de dos anfenicóis, EUA foi em registrados o 1949, foram de aplasia casos em Animal determina limites em diversos alimentos de origem animal44. O que ocasionou a sua rejeição como potente suporte proteínas Entretanto, Origem cloranfenicol medular associados ao seu uso, terapêutico. Contaminantes cloranfenicol inibidor da é um síntese de microbianas. Sua após o reconhecimento de sua molécula liga-se reversivelmente à atividade contra anaeróbios e o subunidade 50S aparecimento bacteriano, inibindo de resistência bacteriana à ampicilina, cloranfenicol foi tratamentos últimos do ribossomo a peptidil o transferase, enzima que atua na reinserido nos produção de proteínas bacterianas. das infecções. Nos É um antibiótico de amplo espectro anos, devido à eficaz contra microrganismos Gram- disponibilidade de novos agentes, o positivos uso aeróbios e anaeróbios, e também deste antimicrobiano está sendo abandonado novamente. O tianfenicol e florfenicol congêneres do cloranfenicol são e e Gram-negativos, contra riquétsias e micoplasmas67. Existem dois principais mecanismos de resistência ao 591 JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2015 8 (15): 574-614. cloranfenicol em Salmonella. O mais O mecanismo de efluxo da ativo é conferido pelos genes cmlA cloranfenicol acetiltransferase (CAT) e floR102. O gene cmlA determina do tipo A ou B, que inativam as resistência somente ao cloranfenicol moléculas no e, em Salmonella, frequentemente entanto são ineficazes contra o está associado a cassetes gênicos florfenicol. a localizados em integrons de classe do 176. Este gene já foi isolado nos cloranfenicol/florfenicol para o meio sorovares Typhimurium, Muenchen, extracelular por meio de bombas de Istambul e Wandsworth86,103,104. Em efluxo39,67. seu comum é a de produção cloranfenicol, O segundo é exportação estudo, Braun al.105 et Em Salmonella, já foram detectaram clmA1 em isolados de detectadas dois tipos diferentes da Salmonella provenientes de centros enzima pelos mundiais de referência. O gene genes catA1e catA239. O gene clmA9 já foi identificado como parte catA1, frequentemente de uma SGI-2 no sorovar Emek35. CAT, codificadas detectado em plasmídeos, já foi identificado O gene floR, também nos sorovares Infantis, Typhimurium conhecido como flo, floSt, pp-flo ou e Typhi59,87,91,98,99. O gene catA2 foi cmlA-like, isolado exportadoras em um plasmídeo multirresistência presente de nos florfenicol. codifica de proteínas cloranfenicol e Michael et al.84 este gene em sorovares Choleraesuis, Enteritidis, identificaram Infantis, e plasmídeos presentes em cepas do grupo sorovar Bredeney isoladas a partir CATB, os genes catB2, catB3 e de amostras de abatedouros de catB8 podem ocorrer nos sorovares suínos. Também Thong et al.86 e Rissen, e Ahmed et al.101 detectaram este gene gene nos sorovares Typhimurium, Derby Typhimurium89,93,94,98. Anatum, Typhimurium39,87,98-100. Do Infantis O catB3 já foi identificado em cassetes Enteritidis, gênicos inseridos em integrons de provenientes de amostras de carne, classe leite, queijo e comida de rua. O floR 1 dos sorovares Typhimurium e Indiana96,101. Newport e Infantis faz parte da SGI-1 encontrada em 592 JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2015 8 (15): 574-614. Salmonella Typhimurium DT10436,39. indução de resistência83, Também foi no terceira plasmídeo conjugativo no composta identificado R-55 geração de pela 108. A quinolonas, gatifloxacina, sorovar Newport e em associação moxifloxacina, com o gene blaCMY – codificante trovafloxacina, para β-lactamases – em plasmídeos atividade também contra bactérias de Gram-positivas. No Brasil, o uso das resistência sorovares presentes nos Typhimurium e Newport106,107. quinolonas esparfloxacina possui como e maior aditivos e conservantes alimentares é proibido pelo MAPA43. Resistência às quinolonas e fluorquinolonas O mecanismo de ação desta classe envolve a inibição da As quinolonas atuais são DNA-girase (topoisomerase II) e análogos fluorados sintéticos do topoisomerase ácido primeiras enzimas importantes para inúmeras o ácido reações que acontecem durante o pipemídico, processo de replicação do DNA. A piromídico, cinoxacina, rosoxacina - inibição da DNA-girase impede o não atingiam níveis antibacterianos relaxamento sistêmicos, e apenas eram eficazes superespiralado no tratamento de infecções das vias necessário para a transcrição e urinárias inferiores. Seus derivados replicação normais. A inibição da fluorados, topoisomerase nalidíxico. quinolonas nalidíxico, - As como oxolínico, as fluorquinolonas (ciprofloxacina, enoxacina, norfloxacina, ofloxacina e apresentam, maior espectro lomefloxacina, Gram-negativas, antibacteriana, abrange bactérias propriedades bacterianas, do DNA positivo, IV que é provavelmente interfere na separação do DNA cromossômico nas células-filhas durante a divisão celular83. comparativamente, atividade que pefloxacina) IV A resistência às quinolonas ocorre devido à redução da afinidade da sua molécula às girases bacterianas, onde os farmacocinéticas mais favoráveis, mutantes apresentam substituições menos efeitos adversos e menor pontuais – entre os aminoácidos 67 593 JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2015 8 (15): 574-614. e 106, também denominada Região transferência Determinante de Resistência às encontra-se o gene qnr112. Em Quinolonas (QRDR – Quinolone amostras Resistance-determining Region) – alimentos, no gene gyrA, que codifica a detectaram os genes qnrS1e qnrS2 subunidade girase108,109. da da de região animais, Wasyl onde ração et e al.113 Os nos sorovares Agona, Enteritidis, microrganismos também podem se Infantis, Newport, Oranienburg e tornar resistentes a esta classe por Virchow, e os genes qnrB10 e meio da superexpressão de bombas qnrB19 nos sorovares Enteritidis, de efluxo, causadas por mutações Saintpaul, nos Typhimurium. genes reguladores destas proteínas109,110. Indiana, Ahmed Newport et e al.101 verificaram a presença dos genes plasmídeo qnrA, qnrB, qnrS nos sorovares conferem Typhimurium, Enteritidis e Infantis resistência às quinolonas – gene isolados em produtos de origem qnrA - foi descoberto em 1998, animal. O contendo primeiro genes denominado que (Plasmid- Além do qnr, existe um mediated quinolone resistance)111. A segundo gene de resistência às proteína codificada por este gene quinolonas – aac(6’)-Ib-cr – que é protege a DNA-girase do ataque frequentemente das quinolonas e fluorquinolonas. plasmídeos e codifica a enzima Posteriormente, outros genes qnr, aminoglicosídeo como qnrB, qnrC, qnrD e qnrS que foram PMQR detectados102. Salmonella localizado em acetiltransferase, promove resistência à canamicina e reduz a sensibilidade Infantis pode carrear um plasmídeo bacteriana conjugativo, denominado pINF5, no norfloxacina114. qual o gene qnrS fica intimamente identificado ligado Tn3, Typhimurium e Enteritidis isolados de de amostras de carne, leite e queijo com responsável o transposon pelo transporte à ciprofloxacina Este em gene e foi Salmonella blaTEM-1. Assim, uma recombinação egípcios101. gênica plasmídeo, observaram 11,9% de prevalência possivelmente, poderia resultar na do gene aac(6’)-Ib-cr em cepas do deste Wang et al.115 594 JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2015 8 (15): 574-614. sorovar Enteritidis isoladas de carne primeiro relato da detecção deste de frango de açougues chineses. gene no gênero Salmonella foi Uma nova variante deste gene, realizado por Wong e Chen122, que denominado foi identificaram-no em dois isolados do plasmídeo sorovar Derby oriundos de amostras sorovar de carne de frango e suíno de detectado aac(6’)-Ib-cr4, em presente um no Typhimurium116. supermercados de Hong Kong. Outro resistência às mecanismo quinolonas de é a Resistência aos macrolídeos expressão de bombas de efluxo pela presença do gene qepA, Os macrolídeos são uma classe de antimicrobianos presente no plasmídeo pIP1206. Os caracterizada pela presença de um genes qnr e qep conferem baixos anel de lactona macrocíclica, que níveis de resistência, mas quando contém presentes podem potencializar a carbono. A eritromicina, protótipo do evolução da bactéria que os possui grupo rumo a níveis mais elevados de erythreus, possui espectro de ação resistência117. O gene qepA possui relativamente extenso contra cocos duas variantes – qepA1 e qepA2 – aeróbios Gram-positivos e Gram- que codificam as bombas de efluxo negativos que são capazes de exportar as tratamento de fluorquinolonas hidrofílicas, como a intersticiais. Novos análogos da ciprofloxacina e enrofloxacina117-119. eritromicina, como roxitromicina, No estudo de Lunn et al.120 foi azitromicina, detectado os genes qnrS1, qnrB6 e diritromicina, qepA em cepas de Salmonella vantagens como maior facilidade de Enteritidis Salmonella administração e menor incidência Typhimurium, entretanto a presença de efeitos adversos68,123. É vetada a destes genes não foi associada com utilização da eritromicina com a a resistência às quinolonas. O gene finalidade oqxAB também codifica bombas de melhorador efluxo para as quinolonas121. O alimentação animal124. Entretanto, e 14 ou obtido 16 da e é átomos Streptomyces utilizada possuem de no pneumonias claritromicina de de aditivo e algumas zootécnico desempenho na 595 JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2015 8 (15): 574-614. como é empregada na terapêutica observados nos microrganismos à veterinária, é preconizado o seu eritromicina e seus análogos. As monitoramento do limite máximo de enzimas seu resíduo nos produtos de origem resistência animal44. estruturalmente A ação antibacteriana da também a conferem compostos não-relacionados, porém mecanicamente eritromicina pode ser inibitória ou semelhantes, como a clidamicina e bactericida – principalmente quando estreptogramina em resistência altas concentrações. Sua B, a denominada macrolídeos- molécula inibe a síntese proteica lincosaminas-estreptograminas bacteriana por meio de sua ligação MLS do tipo B com o RNA ribossomal 50S. A gene erm125. 122, ou conferida pelo produção de proteínas é impedida Segundo Michael et al.39, devido ao bloqueio das reações de Salmonella e outras enterobactérias translocação formação aminoacil de e da são geralmente resistentes à doses complexos de terapêuticas iniciação123. de macrolídeos, mesmo assim, já foram identificados A à nestas bactérias alguns genes que eritromicina, geralmente codificada conferem resistência a esta classe, por plasmídeos, se dá por três como o gene mph, que codifica uma principais mecanismos: (1) redução fosfotransferase, já foi detectado no da permeabilidade da membrana plasmídeo pU302L em Salmonella celular ou efluxo ativo; (2) produção Typhimurium. Van Hoek et al.126 de a verificaram a presença dos genes (3) mph(A) e mph(K) nos sorovares modificação do sítio de ligação Heidelberg e Blockley. Também Le ribossomal Hello et al.127 relataram o gene enzimas molécula resistência que hidrolisam antimicrobiana; por e mutação cromossômica ou por uma metilase mph(A) constitutiva Kentucky de origem humana. O macrolídeos. ou A induzível por produção de gene em ere, cepas é do sorovar responsável pela enzimas é responsável pela grande produção de uma esterase, e já foi maioria dos casos de resistência identificado nos sorovares Wien, 596 JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2015 8 (15): 574-614. Keurmassar e Heidelberg de característica para estirpes amostras de carne de frango e de causam seres humanos39,128,129. Tais genes humanos. Esta dinâmica representa também foram em um risco para a saúde humana, já integrons de em que infecções causadas por estes Salmonella Paratyphi e Salmonella microrganismos resistentes são de Typhimurium difícil tratamento. detectados classe 2 DT104 doenças multirresistente130,131. O possui Considerações finais gênero seres Salmonella diferentes conferem genes que resistência antibióticos Com o intuito de controlar em que da classe lactâmicos, aos dos β- tetraciclinas, as doenças que podem acometer as aminoglicosídeos, aves trimetoprim, anfenicóis, quinolonas e comprometer seu sulfonamidas, crescimento, por muitos anos foram e utilizados os antibióticos promotores multirresistentes possuem em seu de crescimento. O emprego destas material substâncias na avicultura permitiu genes, alcançar resultados permeabilidade da membrana da zootécnicos, entretanto, seu uso célula bacteriana ao fármaco, alterar prolongado em baixas dosagens o sítio-alvo do antibiótico, produzir pode ter favorecido a aquisição de bombas que retiram a droga do resistência meio excelentes aos antimicrobianos pelas bactérias. macrolídeos. genético que vários podem intracelular Cepas ou destes reduzir a sintetizar enzimas que degradam a molécula A transferência de genes, antimicrobiana. que incluem aqueles que conferem Em virtude do grande resistência aos antibióticos, pode número de trabalhos que reportam a ocorrer entre bactérias da mesma presença destes genes em cepas espécie e entre espécies diferentes. de Salmonella isoladas de produtos Portanto, de origem animal, estes podem agentes resistentes animais que podem patogênicos acometem transferir os representar uma potencial fonte de esta infecção para os seres humanos. 597 JBCA – Jornal Brasileiro de Ciência Animal 2015 8 (15): 574-614. Portanto, torna-se fundamental a promotores adoção de medidas que contenham utilizados o avanço da resistência bacteriana, animais de produção, bem como como maiores o uso racional antimicrobianos na dos medicina de na alimentação dos investimentos no desenvolvimento de fármacos mais humana e veterinária, realização eficazes pesquisas sobre microrganismo. substitutos aos possíveis crescimento contra estes antibióticos Referências bibliográficas 1. Andreatti Filho RL (2007). Paratifo aviário. In: Revolledo L, Ferreira AJP. Patologia Aviária. Barueri: Ed. Manole,18-33. 2. Freitas Neto OC et al. (2010). Sources of humannon-typhoid salmonellosis: a review. Rev Bras Cienc Avic, 12: 01-11. 3. Capita R, Alonso-Calleja C, Prieto M. (2007). Prevalence of Salmonella enterica serovars and genovars from chicken carcasses from slaughterhouses in Spain. J Appl Microbiol, 103: 1366-75. 4. Álvarez-Fernández E et al. (2012). 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