UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ PROGRAMA DE DOUTORADO INTEGRADO EM ZOOTECNIA TORTAS DE OLEAGINOSAS ORIUNDAS DA PRODUÇÃO DE BIODIESEL EM SUBSTITUIÇÃO AO FARELO DE SOJA NA ALIMENTAÇÃO DE VACAS EM LACTAÇÃO EM PASTEJO FRANCISCO HELTON SÁ DE LIMA Zootecnista AREIA – PARAÍBA - BRASIL JULHO - 2011 ii FRANCISCO HELTON SÁ DE LIMA TORTAS DE OLEAGINOSAS ORIUNDAS DA PRODUÇÃO DE BIODIESEL EM SUBSTITUIÇÃO AO FARELO DE SOJA NA ALIMENTAÇÃO DE VACAS EM LACTAÇÃO EM PASTEJO Tese apresentada ao Programa de Doutorado Integrado em Zootecnia da Universidade Federal da Paraíba, do qual participam a Universidade Federal Rural de Pernambuco e a Universidade Federal do Ceará, como requisito para obtenção do título de Doutor em Zootecnia. Área de Concentração: Nutrição Animal Comitê de Orientação: Prof. Dr. Severino Gonzaga Neto (CCA/UFPB) – Orientador principal Prof. Dr. Ariosvaldo Nunes de Medeiros (CCA/UFPB) Prof. Dr. Ronaldo Lopes Oliveira (EMEV/Z - UFBA) AREIA – PARAÍBA - BRASIL JULHO – 2011 iii Ficha Catalográfica Elaborada na Seção de Processos Técnicos da Biblioteca Setorial do CCA, UFPB, Campus II, Areia – PB. L732t Lima, Francisco Helton Sá de. Tortas de oleaginosas oriundas da produção de biodiesel em substituição ao farelo de soja na alimentação de vacas em lactação em pastejo. / Francisco Hélton Sá de Lima. - Areia: UFPB/CCA, 2011. 103 f. ; il. Tese (Doutorado em Zootecnia) - Centro de Ciências Agrárias. Universidade Federal da Paraíba, Areia, 2011. Bibliografia. Orientador: Severino Gonzaga Neto. 1. Nutrição animal 2. Torta de oleaginosa – bovino leiteiro 3. Bovino leiteiro I. Gonzaga Neto, Severino (Orientador) II. Título. UFPB/CCA CDU: 636.085.2(043.2) iv v À Deus!!! Aos meus pais Aluísio e Francineide pelo incentivo, apoio e carinho nas diversas horas desta caminhada. À minha irmã Érica por todo carinho e incentivo. Dedico vi AGRADECIMENTOS À Deus, pelo Dom da vida e saúde por ter me concedido tantos momentos de alegria e felicidade e ter colocado tantas pessoas boas no meu caminho as quais me ajudaram enfrentar muitos obstáculos que surgiram durante esta longa jornada, como também comemoraram comigo as vitórias alcançadas. À minha Família, por estar sempre ao meu lado e sempre apoiar os meus sonhos. À minha namorada Lydia Maria pelo amor, paciência e apoio para a conclusão deste trabalho. Ao Programa de Doutorado Integrado em Zootecnia da Universidade Federal da Paraíba / Universidade Federal Rural de Pernambuco e Universidade Federal do Ceará, pela oportunidade e apoio da realização deste curso. À Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal da Bahia, que proporcionou a liberação de suas instalações, funcionários e animais para execução desse trabalho, a Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pelo auxílio financeiro. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela concessão da bolsa de estudos. Ao professor Dr. Severino Gonzaga Neto, pela orientação, pelos valiosos ensinamentos, pela amizade, confiança e exemplo de vida profissional. Ao professor Dr. Ariosvaldo Nunes de Medeiros pela co-orientação, amizade e ainda por todo incentivo desde a Iniciação Científica (PIBIC). Muito obrigado professor levarei comigo seus ensinamentos. Ao professor Dr. Ronaldo Lopes Oliveira, pela co-orientação e oportunidade de desenvolver este trabalho, como também, pela atenção que dispensou o seu tempo para esclarecer dúvidas e discutir possibilidades. Aos amigos Luciano Lima, Vilson Lima e Leonardo Lima e a Dona Luzia que me acolheram em sua casa durante minha permanência em Salvador, meu muito obrigado, sempre serei grato a vocês. Ao amigo Bráulio Rocha, pela amizade e pela ajuda intensa durante o período experimental e de análises laboratoriais. Aos estagiários e amigos do LANA/UFBA Laís, Jamille, Amanda, Nivaldo, Jéssica, Soraia, Marcelo, Sidnei, Renato, Daiane e José Júnior que auxiliaram vii intensamente nas atividades de condução do experimento e análises laboratoriais sempre com muita responsabildade. À Paulo Andrade (P.A), amigo e estagiário nota “dez” pela sua grande contribuição no trabalho na fazenda e também pelos momentos de descontração. Aos funcionários da Fazenda Experimental de São Gonçalo dos Campos (UFBA) que contribuíram para a realização do experimento: Giovane, Heloisa, Dona Joana, Seu Antônio, Igor, Nau, Jorginho, Seu Zé, Tião, Renildo, Silvio, Cheiro, Expedito e Carlos pelas colaborações sempre que precisei sobretudo pela amizade, pela dedicação e paciência sem os quais seria impossível a realização deste trabalho. À Arinalva, pelo auxílio na realização das análises bromatológicas. Aos demais amigos e amigas componentes da família LANA/UFBA, Luciano, Máikal, Mariza, Rebeca, Ioná, Alessandro, Felicidade, Mariza, Thadeu, Laura, Adriana Palmieri, Ana Carolina, Mário e Raimundo por compartilharem bons momentos de conversa e trabalho. Ao prof. Bonina pelos momentos de descontração no LANA. Aos amigos André Leão e Ossival Ribeiro. À Rafaela Duplat pela disposição e auxílio na realização das análises sanguíneas. Aos professores Walter Esfrain e Luis Fernando pela colaboração nas análises estatísticas. À Profª. Dra. Rita de Cássia Ramos do Egypto Queiroga e a Elieidy, pela amizade, auxilio e orientações durante as analises laboratoriais de extração dos ácidos graxos do leite. Ao Departamento de Engenharia Química da Universidade Federal de Pernambuco, pela liberação dos equipamentos e técnicos para determinação do perfil dos ácidos graxos do leite. Ao Laboratório de Análises de Alimentos da Universidade Federal Rural de Pernambuco coordenado pela Profª Ângela Vieira Batista, pelas orientações na determinação do cromo das fezes e a aos pós-graduandos Paulo, Alenice e Luciana e também aos alunos da graduação que auxiliaram nas análises. Aos membros que compuseram a banca examinadora de qualificação: Prof. Dr. Severino Gonzaga Neto, Prof. Dr. Edson Mauro Santos, Prof. Dr. Airon Aparecido Silva de Melo, Prof. Dr. André Luiz Rodrigues Magalhães e Profª Lara Toledo Henriques, pelas valiosas contribuições. viii Aos professores avaliadores da defesa de tese: Prof. Dr. Severino Gonzaga Neto, Prof. Dr. Edilson Paes Saraiva, Prof. Dr. Airon Aparecido Silva de Melo, Prof. Dr. Gleidson Giordano Pinto de Carvalho e Prof. Dr. José Maurício de Souza Campos, pelas valiosas contribuições para a melhoria do nosso trabalho. Aos demais professores do Programa de Doutorado Integrado em Zootecnia e do Departamento de Zootecnia da UFBA que contribuíram de alguma forma para a realização deste trabalho. Aos funcionários do PPGZ, D. Graça, D. Jacilene, D. Carmen e Sr. Damião pela amizade e dedicação, e pela boas conversas na hora do cafezinho. Aos colegas de trabalho da Universidade Federal Rural da Amazônia – Campus de Parauapebas, pela amizade e incentivo para a conclusão deste trabalho. A toda família da Bovinocultura/CCA/UFPB Coordenada pelo Prof. Severino Gonzaga composta por Tobyas, Leilson, Ebson, Tatiana, Carla, Juliana Nogueira, Pérecles, George Vieira, Rogerinho, Jaqueline, Gabriela e Andréia, pela ajuda e atenção dispensada. À amiga Brunna Ferreira Maia pela amizade e apoio nas diversas etapas da realização deste trabalho, muito obrigado. Aos amigos da turma de 2008, Wirton Peixoto, Sérgio Antônio (Serjão), Aurinês, Lígia Maria, Darklê Luiza, Regina, Manuela, Daniel e Rodrigo pela amizade e companheirismo durante as etapas do doutorado. Aos amigos “primos” que se tornaram irmãos da “República dos sem L’ss” Leilson, Wirton, Faviano, Serjão, Jadson Pamplona, Humberto Caridoso, Agenor e Matheus pelos diversos momentos de descontração e conversas, espero levar essa amizade comigo e conservar apesar da distância. A todos os colegas e amigos do Doutorado e Mestrado PDIZ, PPGZ, não vou citar nomes, mas saibam que levarei comigo todas as boas lembranças deste período de convivência. A todos que, traídos pela memória neste momento, não foram citados e que contribuíram direta ou indiretamente para a elaboração deste trabalho. A vocês muito obrigado!!! ix BIOGRAFIA DO AUTOR FRANCISCO HELTON SÁ DE LIMA, nascido no dia 22 de fevereiro de 1983, no município de Campinas, estado da São Paulo, é filho de Aluísio Sá Lima e Francisca Cosmo de Lima. Realizou o ensino Médio e Técnico em Agropécuária na Escola Agrotécnica Federal de Iguatu – Ceará, nos anos de 1998 a 2000. Em 2001 ingressou no curso de graduação em Zootecnia no Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba, onde foi bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC/CNPq) durante três anos, formando-se em Outubro de 2005. Em Março de 2006, ingressou no Curso de Mestrado em Zootecnia, na área de concentração de Produção Animal, da Universidade Federal da Paraíba, no qual foi bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), finalizandoo em Fevereiro de 2008. No mesmo ano ingressou no curso de Doutorado em Zootecnia do Programa de Doutorado Integrado em Zootecnia também na Universidade Federal da Paraiba, desenvolvendo sua pesquisa na área de Nutrição de Ruminantes, com apoio financeiro da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível superior – CAPES. Em janeiro de 2011 ingressou a Universidade Federal Rural da Amazônia como Professor Assistente I, no curso de Zootecnia, ministrando as disciplinas: Forragicultura II e Bubalinocultura de Corte e Leite. No dia 29 de julho de 2011 foi aprovado na defesa de Tese. x SUMÁRIO Página LISTA DE TABELAS....................................................................................... xii LISTA DE FIGURAS....................................................................................... xv RESUMO GERAL............................................................................................ xvii GENERAL ABSTRACT................................................................................... xiii CAPÍTULO I. Referencial Teórico................................................................... 1 INTRODUÇÃO................................................................................................ 2 Biodiesel............................................................................................................ 3 Co-produtos da cadeia produtiva do biodiesel e seu potencial para a alimentação animal............................................................................................ 5 Torta de amendoim (Arachis hypogaea)........................................................... 6 Torta de girassol (Helianthus annus L.)........................................................... 8 Torta de dendê (Elaeis guineensis).................................................................... 11 Considerações Finais......................................................................................... 15 Referências Bibliográficas................................................................................. 16 CAPÍTULO II. Consumo, digestibilidade e parâmetros sanguíneos de vacas lactantes em pastejo suplementadas com co-produtos oriundos da produção de biodiesel................................................................................................ 19 Resumo.............................................................................................................. 20 Abstract............................................................................................................. 21 Introdução......................................................................................................... 22 Material e Métodos............................................................................................ 24 Resultados e Discussão...................................................................................... 29 Conclusões......................................................................................................... 40 Referências Bibliográficas................................................................................. 41 CAPÍTULO III. Comportamento ingestivo e bioclimatológico de vacas leiteiras a pasto suplementadas com co-produtos oriundos da produção de biodiesel..................................................................................................... 44 Resumo.............................................................................................................. 45 Abstract............................................................................................................. 46 Introdução......................................................................................................... 47 xi Material e Métodos............................................................................................ 48 Resultados e Discussão...................................................................................... 53 Conclusões......................................................................................................... 58 Referências Bibliográficas................................................................................. 59 CAPÍTULO IV. Produção, composição, perfil de ácidos graxos e economicidade da produção do leite de vacas em pastejo suplementadas com co-produtos oriundos da produção de biodiesel............................................... 62 Resumo.............................................................................................................. 63 Abstract............................................................................................................. 64 Introdução......................................................................................................... 65 Material e Métodos............................................................................................ 67 Resultados e Discussão...................................................................................... 72 Conclusões......................................................................................................... 81 Referências Bibliográficas................................................................................. 82 xii LISTA DE TABELAS CAPÍTULO II Página Tabela 1. Composição bromatológica dos ingredientes dos suplementos concentrados e do pasto de capim tanzânia..................................... 25 Tabela 2. Proporção dos ingredientes e composição bromatológica dos suplementos contendo tortas oriundas da produção de biodiesel para vacas em lactação..................................................................... 25 Tabela 3. Médias e coeficientes de variação (CV) para os consumos de matéria seca (CMS), proteína bruta (CPB), fibra em detergente neutro (CFDN) e fibra em detergente ácido (CFDA) de pasto e suplemento de vacas mestiças Holandês x Zebu, recebendo diferentes suplementos contendo tortas oriundas da produção de biodiesel....... 30 Tabela 4. Médias e coeficientes de variação (CV) para os coeficientes de digestibilidade aparente da matéria seca (CDMS), proteína bruta (CDPB), extrato etéreo (CDEE), fibra em detergente neutro (CDFDN), carboidratos totais (CDCT) e carboidratos não fibrosos (CDCNF) em vacas mestiças Holandês x Zebu, recebendo diferentes suplementos contendo tortas oriundas da produção de biodiesel............................................................................................ 34 Tabela 5. Médias das concentrações de glicose, proteína, N-ureico e albumina sérica em vacas mestiças em pastejo recebendo suplementação.......... 36 xiii LISTA DE TABELAS Capítulo III Página Tabela 1. Composição bromatológica dos ingredientes dos suplementos concentrados e do pasto de capim Tanzânia.................................... 49 Tabela 2. Proporção dos ingredientes e composição bromatológica dos suplementos contendo tortas oriundas da produção de biodiesel para vacas em lactação..................................................................... 49 Tabela 3. Médias e coeficientes de variação (CV) para variáveis comportamentais diurnas, consumo de matéria seca (CMS) e consumo de fibra em detergente neutro (CFDN) em vacas mestiças suplementadas em pastejo................................................. 53 Tabela 4. Valores médios de temperatura do ambiente, temperatura de globo negro, umidade relativa do ar, temperatura de ponto de orvalho, índice de temperatura do globo e umidade, índice de temperatura e umidade nos períodos experimentais................................................ 55 Tabela 5. Médias e coeficientes de variação (CV) para freqüência respiratória (mov./min), freqüência cardíaca (bat./min) e temperatura retal (ºC) em vacas mestiças suplementadas em pastejo................................... 56 Tabela 6. Médias para freqüência respiratória (mov./min), freqüência cardíaca (mov./min) e temperatura retal (ºC) nos turnos manhã e tarde em vacas mestiças suplementadas em pastejo......................................... 56 xiv LISTA DE TABELAS CAPÍTULO IV Página Tabela 1. Composição bromatológica dos ingredientes dos suplementos concentrados e do pasto de capim Tanzânia....................................... 68 Tabela 2. Proporção dos ingredientes e composição bromatológica dos suplementos contendo tortas oriundas da produção de biodiesel para vacas em lactação................................................................................. 68 Tabela 3. Médias e coeficientes de variação (CV) para produção de leite (PL), produção de leite corrigida (PLCG) para 4,0 % de gordura, e teores de gordura (G), proteína bruta (PB), lactose, extrato seco total (EST) e extrato seco desengordurado (ESD) em função dos suplementos experimentais.................................................................. 72 Tabela 4. Médias e coeficientes de variação (CV) para a composição percentual dos ácidos graxos na gordura do leite de vacas em função dos suplementos experimentais.................................................................. 75 Tabela 5. Totais de ácidos graxos saturados, insaturados, índice de aterogenecidade (IA) relação ácido graxo insaturado/saturado (I/S) no leite de vacas em função dos suplementos experimentais.............. 78 Tabela 6. Avaliação dos custos e receita em função da produção de leite e consumo de suplementos oriundos da produção de biodiesel.............. 79 xv LISTA DE FIGURAS CAPÍTULO II Página Figura 1. Concentrações de N-ureico sérico após a alimentação em vacas mestiças Holandês x Zebu, recebendo diferentes suplementos contendo tortas oriundas da produção do biodiesel a) sem torta adicional, b) torta de amendoim, c) torta de girassol, d) torta de dendê..................................................................................................... 38 xvi LISTA DE FIGURAS CAPÍTULO III Página Figura 1. Respostas comportamentais de pastejo, ruminação e ócio por vacas mestiças suplementadas em pastejo........................................................ 54 xvii Aproveitamento de tortas de oleaginosas oriundas da produção de biodiesel em substituição ao farelo de soja na alimentação de vacas em lactação em pastejo RESUMO GERAL Objetivou-se avaliar os efeitos de diferentes suplementos contendo co-produtos da produção de biodiesel em substituição ao farelo de soja sobre o consumo, digestibilidade de nutrientes, parâmetros sanguíneos, comportamento ingestivo, bioclimatológico, produção, composição, perfil de ácidos graxos e economicidade da produção de leite em vacas lactantes mantidas sob pastejo. Foram utilizadas 16 vacas em lactação, mestiças Holandês x Zebu, mantidas em pasto de Panicum maximum cv. Tanzânia em uma área experimental de 8 ha dividida em 10 piquetes de 0,8 ha cada. O experimento foi constituído por quatro períodos, com duração de 15 dias cada, sendo os 11 primeiros para adaptação as dietas experimentais e os demais para colheita de dados. As vacas foram distribuídas em quatro quadrados latinos 4x4. Os tratamentos experimentais foram caracterizados pela participação de diferentes tortas, oriundas da produção de biodiesel, em substituição ao farelo de soja no concentrado, sendo um testemunha (sem torta adicional) e os demais com a inclusão das tortas de amendoim, girassol e dendê. Os consumos de matéria seca, proteína bruta, extrato etéreo, fibra em detergente neutro, fibra em detergente ácido e carboidratos não fibrosos do pasto de Panicum maximum cv. Tanzânia não apresentaram diferença entre os tratamentos experimentais. As tortas de amendoim e girassol oriundas da produção de biodiesel podem ser utilizadas na substituição total do farelo de soja em suplementos para vacas em lactação por não alterar o consumo e a digestibilidade dos nutrientes, no entanto a utilização da torta de dendê influenciou negativamente o consumo e digestibilidade deste suplemento pelos animais devido à sua baixa aceitabilidade como também ao elevado teor de fibra. O comportamento ingestivo diurno não foi influenciado, como também, os parâmetros fisiológicos dos animais mantiveram-se dentro da normalidade com a substituição do farelo de soja pelas tortas de amendoim, girassol e dendê oriundas da produção de biodiesel em suplementos para vacas em lactação mantidas sob pastejo. A substituição total do farelo de soja por co-produtos da produção de biodiesel não influenciou a produção diária de leite em kg/dia. Entre as tortas estudadas, a que apresentou a melhor viabilidade econômica foi a torta de dendê, devido ao menor consumo deste suplemento. Os tratamentos experimentais com a participação das tortas de girassol e de dendê proporcionaram menores concentrações de ácidos graxos saturados e acréscimo na proporção de ácidos graxos insaturados possibilitando a redução da incidência de doenças coronarianas. Palavras chave: Bovino leiteiro, fontes de proteína, nutrição animal, suplementação, torta de amendoim, torta de dendê, torta de girassol xviii Oilseed pies from the biodiesel production substituting the soybean bran in the feeding of dairy cows to pasture GENERAL ABSTRACT This study aims to evaluate the effects of different supplements containing by products of biodiesel industry substituting the soybean bran on the consumption, nutrients digestibility, blood parameters, ingestive behavior, bioclimatology, production, composition, fat acids profile and economy of the milk production in lactating cows which have been kept grazing. It has been used 16 lactating cows, crossbred Holstein x Zebu, kept pasture in Panicum maximum cv. Tanzânia in an experimental area of 8 ha divided into ten pickets with 0.8 ha each one. The experiment has been made in four periods, during 15 days each, being the first eleven for adaptation to experimental diets and the others to collect data. The cows have been distributed into four Latin squares 4 x 4. The experimental treatments have been characterized by the participation of different, by products of biodiesel industry, substituting the soybean bran in the concentrate, being a witness (without additional pie) and the others including the sunflower, palm kernel and peanut pies. The consumption of nutrients from pasture of Panicum maximum cv. Tanzânia have not shown difference among the experimental treatments. The peanut and sunflower pies from the biodiesel production may be used in the total substitution of the soybean bran in supplements for lactating cows, because it does not change the consumption and digestibility of nutrients, whereas the use of palm kernel pie has influenced negatively the consumption and digestibility of this supplement by animals due its low acceptability as well as the high fiber content. The daytime ingestive behavior was not influenced, as well as, the physiological parameters of the animals were kept within normality with the substitution of the soybean bran to the sunflower, palm and peanut pies from the biodiesel production in supplements for lactating cows which were kept grazing. The total substitution of the soybean bran by co-products from the biodiesel production have not influenced the daily milk production in Kg/day. Among the studied pies, the one which has shown the best economic viability was the palm pie, due the lowest consumption of this supplement. The experimental treatments with sunflower and palm kernel pies have provided lower concentrations of saturated fat acids and an increase in the proportion of unsaturated fat acids, reducing the incidence of coronary heart diseases. Key words: animal nutrition, dairy cattle, palm kernel pie, peanut pie, protein sources, sunflower pie, supplementation 1 Capítulo I ______________________________________________________ REFERENCIAL TEÓRICO TORTAS DE OLEAGINOSAS ORIUNDAS DA PRODUÇÃO DE BIODIESEL EM SUBSTITUIÇÃO AO FARELO DE SOJA NA ALIMENTAÇÃO DE VACAS EM LACTAÇÃO EM PASTEJO 2 Tortas de oleaginosas oriundas da produção de biodiesel em substituição ao farelo de soja na alimentação de vacas em lactação em pastejo INTRODUÇÃO O interesse econômico e ambiental de inserir no mercado um novo combustível, seja na sua forma pura ou associada a outros combustíveis, tem sido um dos objetivos do setor energético para amenizar os impactos ambientais causados pelo consumidor de combustíveis fósseis. Levando-se em conta o potencial agrícola brasileiro e outros condicionantes ambientais e mundiais, torna-se oportuno discutir a produção de fontes de energia, “ecologicamente sustentáveis”. O impacto social deverá ser grande e a geração de empregos será de grande importância para os municípios, os agricultores e suas famílias. Contudo, ao se pensar em toda a cadeia produtiva, a torta produzida após a extração do óleo não pode ser vista como resíduo desta atividade, mas sim como um co-produto, ao qual deve ser agregado valor econômico para auxiliar a viabilização das indústrias de biodiesel e evitar lançamento desordenado desse “resíduo” no meio ambiente. Entre os principais pode-se citar: glicerina, lecitina, farelo e a torta de oleaginosa. Existem poucos estudos acerca do aproveitamento desses co-produtos como elementos de viabilização da cadeia produtiva. A alimentação dos animais representa o maior custo da atividade pecuária, sobretudo quando se utiliza fonte suplementar como o milho e soja, que, apesar da elevada qualidade nutricional, apresenta, em geral, alto custo, tornando necessária a utilização de fontes alimentares alternativas com melhor relação custo/benefício e que não concorram diretamente com a alimentação humana. Com isso, tem se buscado formas que possam diminuir os custos, onde as alternativas representam melhores oportunidades. Dentre os diversos produtos que podem substituir a soja estão os co-produtos derivados do algodão, girassol, amendoim, dendê, nabo forrageiro, mamona e pinhão manso. A utilização das tortas destas oleaginosas na alimentação animal tem despertado o interesse de vários produtores, que em certos casos fornecem este alimento aos animais mesmo sem saber informações básicas, como sua composição química, quantidade a ser fornecida e limitação de consumo. O Brasil possui grandes quantidades de resíduos e subprodutos, da agricultura e a agroindústria, com potencial de uso na alimentação de ruminantes. As limitações 3 para a transformação dos resíduos em co-produtos para alimentação animal estão ligadas à deficiência e, ou, a desequilíbrios nas características nutricionais do resíduo e aos custos com a coleta, o transporte e, geralmente, o tratamento necessário para melhoria de seu valor nutritivo (Burgi, 1992). A maioria das tortas ou farelos das oleaginosas que são utilizadas para produção de biodiesel no Brasil tem potencial para serem utilizadas na alimentação animal (Abdalla et al., 2008). Vários produtores têm utilizado as tortas de oleaginosas como alimento para os animais com conhecimento mínimo quanto à composição química, presença de fatores antinutricionais, quantidade a ser fornecida e limitação de consumo (Neiva Júnior et al., 2007). Assim, o uso de tortas oriundas da extração do biodiesel na alimentação animal deve receber atenção, visto que estas apresentam altas concentrações de proteína que é um nutriente caro para o produtor rural e de grande importância para a manutenção e o desempenho produtivo dos animais. A não utilização das tortas como alimentos para animais têm levado à destinação inadequada destes resíduos, o que pode inclusive comprometer o lençol freático devido à alta concentração de nitrogênio presente nestas fontes. É preciso, então, pensar em toda a cadeia do biodiesel para que os resíduos produzidos tenham destino adequado e não comprometam o meio ambiente, destruindo o objetivo desejado com a produção de biocombustíveis e outras formas limpas de produção de energia. Com isto, tornar-seá a atividade de produção de biodiesel sustentável e criar-se-á as prerrogativas necessárias ao fortalecimento e ampliação da produção de leite de vacas em pastejo, a partir da utilização de suplementos contendo em sua composição co-produtos regionais. Biodiesel Biodiesel é um combustível biodegradável derivado de fontes renováveis, que pode ser obtido por diferentes processos tais como o craqueamento, a esterificação ou pela transesterificação. Pode ser produzido a partir de gorduras animais ou de óleos vegetais, existindo dezenas de espécies vegetais no Brasil que podem ser utilizadas, tais como mamona, dendê, girassol, babaçu, amendoim, pinhão manso e soja, dentre outras. 4 A situação energética no mundo se torna de grande importância, principalmente quando a aliamos às necessidades percebidas pela sociedade de se atrelar o desenvolvimento econômico à preservação ambiental. Há diversas formas de produção energética, sendo ainda as mais usadas mundialmente a hidroelétrica e a queima de combustíveis fósseis. Os grandes impactos negativos advindos das hidroelétricas, aliados a uma preocupação cada vez maior com a limitação do acesso aos combustíveis fósseis, fez renascer, nos últimos trinta anos, em setores sociais específicos, o debate e a proposição de uma agenda positiva para a construção gradual de uma nova matriz energética. Existem hoje, em diversas partes do mundo, pequenas, porém bem sucedidas experiências na produção de energia a partir de fontes limpas. A placa solar, a energia eólica e o biodiesel, são algumas destas fontes que têm sido usadas de forma pontual em diversas regiões e cada vez mais, assumem um papel estratégico na pesquisa e, em alguns casos, na promoção de políticas públicas para o setor energético. No Brasil, a partir de 2004, o governo federal, por meio do Ministério das Minas e Energia (MME), iniciou a implementação de um programa de geração de energia renovável a partir da produção do BIODIESEL, que prevê, até 2013, adição de 5% do biodiesel no óleo diesel. De acordo com a Lei nº 11.097, de 13 de janeiro de 2005 sancionada pelo Presidente da República, fica introduzido o biodiesel na matriz energética brasileira, sendo fixado em 5% (cinco por cento), em volume, o percentual mínimo obrigatório de adição de biodiesel ao óleo diesel comercializado ao consumidor final, em qualquer parte do território nacional. O prazo para atingir esse percentual é de oito anos. Contudo, é de três anos o período para se utilizar um percentual mínimo obrigatório intermediário de 2% (dois por cento), em volume (Lima, 2005). Estudos desenvolvidos pelos Ministérios do Desenvolvimento Agrário; Agricultura, Pecuária e Abastecimento; Integração Nacional; e das Cidades mostram que a cada 1% de substituição de óleo diesel por biodiesel produzido com a participação da agricultura familiar podem ser gerados cerca de 45 mil empregos no campo, com uma renda média anual de aproximadamente R$ 4.900,00 por emprego. Admitindo-se que para um emprego no campo são gerados três empregos na cidade, seriam criados, então, 180 mil empregos. Numa hipótese otimista de 6% de participação da agricultura familiar no mercado de biodiesel, seriam gerados mais de 1 milhão de empregos. O biodiesel tem uma grande importância ambiental devido às suas características químicas que permitem que suas emissões gasosas sejam isentas de enxofre, substância 5 reconhecidamente cancerígena, além de ser um combustível com alto poder de biodegradação. Co-produtos da cadeia produtiva do biodiesel e seu potencial para a alimentação animal Dentre as principais matérias-primas utilizadas para a produção do biodiesel brasileiro, a soja se destaca como principal produto contribuindo com cerca de 80% do óleo produzido e, a previsão é de que essa situação não se modificará nos próximos anos. Essa cultura tem uma cadeia produtiva organizada e está no limite da fronteira tecnológica mundial, sendo o Brasil, hoje o segundo maior produtor mundial dessa oleaginosa, sendo, a região Centro-Oeste, a maior produtora desta oleaginosa (Conab, 2011). Segundo Durães (2008), o problema é que as espécies oleaginosas convencionais das quais já se têm domínio tecnológico: soja, girassol, algodão, amendoim e canola têm um potencial de rendimento de 500Kg/ha a 1.500kg/ha de óleo e estão produzindo entre 400kg/ha a 800kg/ha de óleo e, esses valores são considerados baixos. Já o dendê tem um potencial de rendimento de 4 mil quilos de óleo por hectare. Sua produção ocorre em uma área restrita, circunscrita ao Pará, Amazonas e Bahia, que soma apenas cerca de 80 mil hectares cultivados. Cabe ressaltar que as gorduras animais e outros materiais graxos também estão sendo também utilizados (18%) (Goes et al., 2011). A produção de biodiesel, a partir de fontes vegetais de óleo, irá gerar uma quantidade significativa de co-produtos para a alimentação animal. Basicamente estarão disponíveis para a alimentação animal a torta, se a extração do óleo for física (prensagem), ou o farelo, quando o material é submetido à extração química (com solventes) após o processo de extração física. A produção de torta deverá vir da extração de óleo nas unidades de produção, com a utilização de prensas artesanais e o farelo das grandes fábricas com a extração com solventes. Dependendo do material, podem ainda ficar disponíveis as cascas das amêndoas como é o caso da soja, do algodão ou mesmo da mamona. Em alguns casos, estas cascas são adicionadas à torta/farelo ou comercializadas separadamente. Segundo Bonfim et al. (2007) alguns pontos devem ser considerados quando se avalia co-produtos da extração de óleo. Primeiro, dependendo do método de extração, o teor de óleo no co-produto pode ser muito variável. Quando a extração é 6 física o co-produto vai apresentar maior conteúdo de óleo e é classificado como torta. Quando o solvente é utilizado, a quantidade de óleo residual é muito baixa e o coproduto é considerado farelo. Se por um lado, a presença do óleo eleva o valor de energia das dietas e, na maioria das vezes, melhora o perfil da gordura presente nos produtos animais, por outro, pode reduzir o consumo voluntário e a produção pela interferência na digestão da fibra ou palatabilidade das dietas. Em alguns materiais a casca pode ser retirada e a amêndoa utilizada na extração do óleo gera um co-produto com baixo nível de fibra e, portanto, com maior valor de digestibilidade e energia. No entanto, alimentos nos quais o óleo está localizado dentro de uma matriz fibrosa ou onde a casca não pode ser separada, a proporção de fibra pode ser tão alta quanto aquela observada para forrageiras, comprometendo, o valor nutritivo destes alimentos. A presença de PB em alta concentração não é suficiente para se afirmar que o alimento é uma boa fonte deste nutriente. É importante considerar que o método de extração do óleo pode ter uma importância vital sobre a disponibilidade da proteína. A temperatura usada para aumentar a eficiência da extração do óleo pode “desnaturar” a proteína do alimento. Neste aspecto, a análise da proteína bruta ligada à fibra em detergente ácido (PIDA) é importante para estes alimentos por fornecer uma estimativa da extensão deste dano (Bonfim et al., 2007). Outros co-produtos apresentam um conteúdo de fibra tão alto que são classificados como volumoso, como é o caso da torta de dendê. Torta de amendoim (Arachis hypogaea) O Sudeste brasileiro é a região que apresenta as condições edafoclimáticas mais apropriadas para a cultura do amendoim, que é utilizado em rotação com canaviais ou para reforma de pastagens. A extração do óleo gera a torta, que é rica em proteína (Sluszz & Machado, 2006). A produção nacional de amendoim em 2010, safra 2010/11 foi de 242,3 mil toneladas, superior em 7,2% as 226,0 mil toneladas da safra 2009/10. A região Sudeste, concentrou 81% da produção nacional de amendoim na safra 2010/11, onde, o estado de São Paulo ficou com a maior produção (187,9 mil toneladas) principalmente nas regiões de Ribeirão Preto, Marília, Alta Paulista e Alta Sorocabana, seguido por Minas Gerais (8,1 mil toneladas) (Conab, 2011). 7 O amendoim é muito consumido como alimento, além de ter grande número de aplicações na indústria. Pode, também, ser uma importante fonte de produção de biodiesel, com um teor de óleo de 40% e produtividade que pode chegar a 3.000 kg/ha. Quando cultivado em regiões com boa pluviosidade, em solos de boa fertilidade e com um manejo apropriado, o amendoim pode ser explorado em larga escala, tanto em modo exclusivo, como em lavouras consorciadas. Sua participação é crescente, dado que se constitui em uma excelente opção para cultivo na faixa litorânea, bem como na região dos Cerrados, no Oeste baiano. Pode, ainda, ser cultivado na região semiárida, notadamente em áreas com possibilidades de irrigação. Após a extração do óleo, obtém-se do amendoim, a torta, um co-produto de elevado valor comercial, devido as características nutritivas adequadas para ser empregado na composição das rações para animais que demandam de elevado teor de proteína, como é o caso de vacas em lactação. A riqueza nutritiva das tortas depende em geral da qualidade das sementes e do método utilizado na extração do óleo, que, apresentam elevado teor de nitrogênio e de nutrientes digestíveis. Segundo Góes et al. (2004), a utilização do amendoim, como alimento protéico, na forma de farelo, vem sendo estudado, sendo atribuídas a ele características que permite utilizá-lo como fonte de proteína degradável no rúmen. O valor nutritivo da torta é semelhante ao farelo de soja, entretanto, a proteína do farelo de amendoim apresenta degradação ruminal muito superior ao farelo de soja e de algodão. O farelo e, ou, a torta de amendoim são os co-produtos de biodiesel de melhor composição centesimal. Apresentam baixos teores de fibra (13%), com valores semelhantes ao do farelo de soja e alta degradação da proteína no rúmen (Goes et al., 2000). No entanto, o que chama a atenção neste alimento é a concentração de proteína bruta que chega a 53%. Apesar de não haver na literatura dados de concentração de energia, acredita-se em um valor próximo ou até maior que o próprio farelo de soja. Por outro lado, no caso da torta, os dados disponíveis demonstram um nível de óleo bastante alto (>40%) o que limita bastante seu potencial de utilização. Uma restrição ao uso da torta de amendoim é o seu conteúdo em aflatoxina. De acordo com o Ministério da Agricultura definiu através da Portaria Nº 07 de 09/11/1988, o nível máximo de aflatoxinas em qualquer matéria-prima a ser utilizada diretamente ou como ingrediente em rações destinadas a alimentação animal. A saber: Aflatoxinas (maximo) =50ag / kg (ppb). A referida portaria não especifica 8 quais metabolitos, mas depreende-se que seja o somatório das aflatoxinas B1, B2, G1 e G2. (Araújo & Sobreira, 2008) Torta de girassol (Helianthus annus L.) O girassol (Helianthus annuus L.) é uma dicotiledônea anual da família compositae, originária do continente Norte-Americano. Atualmente, o girassol é cultivado em todo o mundo, em área que atinge aproximadamente 19 milhões de hectares. Destaca-se como a quarta oleaginosa em produção de grãos e a quinta em área cultivada no mundo (Castro et al., 1997). Na nutrição de ruminantes, tanto o grão quanto a torta de girassol tornam-se alternativa de alimento por possuírem altos teores de proteína e energia, e os efeitos da sua adição nas dietas vem sendo estudados por diversos autores. Sluszz & Machado (2006) relatam que o girassol é uma planta rústica, se adaptando bem em várias condições edafoclimáticas, sendo especialmente indicada para a região sudeste e sul para a produção na safrinha. Dentre as oleaginosas, o girassol é, atualmente, a cultura que apresenta o maior índice de crescimento no mundo. Ocupa o quarto lugar como fonte de óleo vegetal comestível, em relação à soja, à palma e à canola. Como fonte protéica, é classificado como a quarta opção para ração animal, por apresentar excelentes qualidades nutricionais do óleo, do farelo e da silagem. Nas diferentes regiões brasileiras o girassol tem mostrado fácil adaptabilidade, adequando-se à época de semeadura, às condições edafoclimáticas locais e aos sistemas de rotação e de sucessão de culturas. Seu cultivo ajuda na melhor estruturação do solo. Resiste a períodos de estiagem e realiza bem a reciclagem de nutrientes. Não requer grandes investimentos em máquinas, uma vez que podem ser aproveitados os equipamentos existentes nos estabelecimentos agropecuários, com pequenas adaptações. Apresenta alto teor de óleo em sua semente e, portanto um alto rendimento de óleo por área. Como resíduos para a produção animal destacam-se o colmo e as folhas residuais da colheita, e a torta ou farelo de girassol (Sluszz e Machado, 2006). De acordo com a Conab (2011) a produção nacional de girassol em 2010, safra 2010/11 foi de 102,4 mil toneladas, superior em 27,0% as 80,6 mil toneladas da safra 2009/10. A região Centro Oeste, concentrou 85,6% da produção nacional de amendoim 9 na safra 2010/11, onde, o estado de Mato Grosso ficou com a maior produção (69,5 mil toneladas), seguido por Goiás (13,8 mil toneladas) e Mato Grosso do Sul (4,4 mil toneladas) (Conab, 2011). Cerca de 91% da produção de girassol é destinada ao processamento industrial resultando em cerca de 12 milhões de toneladas de farelo e 10 milhões de toneladas de óleo. O farelo de girassol apresenta 28,25% de proteína bruta e alto teor de fibra (>40%FDN), sendo que praticamente 30% desta fibra é composta de lignina, ou seja, indisponível para o animal, comprometendo seu conteúdo de energia. Apesar disto sua proteína apresenta alta digestibilidade total e degrabilidade ruminal (Alcaide et al., 2003). A simplicidade de manejo dessa cultura a converte em uma importante opção para os agricultores familiares no semiárido baiano, o que a situa como uma alternativa para a viabilização do programa de produção de biodiesel, contribuindo, assim, para o incremento de ações de inclusão social nas áreas rurais. Segundo Santos (2008) a torta de girassol pode ser considerada como alimento protéico (>20% de proteína bruta), com proteína de alta degradabilidade ruminal (>90% proteína degradável no rúmen), rico em ácidos graxos insaturados (>15 % extrato etéreo) e fibra (>30% fibra em detergente neutro). A torta, resultante do processo de extração a frio do óleo de girassol, tem sido extensivamente estudada na dieta de não-ruminantes. Porém, poucos são os trabalhos avaliando a produção e desempenho para ruminantes, neste caso vacas leiteiras. Considerando a alimentação animal como o elo entre a produção de biodiesel e a pecuária, a utilização da torta de girassol na alimentação de ruminantes visa manter a produtividade a partir de uma alternativa para o sistema de criação, especialmente para o produtor que poderia plantar o girassol e extrair o óleo em sua propriedade. O resíduo da produção passa a ser então utilizado para os animais, gerando renda com custo reduzido (Oliveira, 2010). Devido ao avanço do programa biodiesel, muitos produtores passaram a utilizar a torta de girassol como fonte protéica e energética na alimentação de ruminantes. A ausência de homogeneidade da torta é um fator que exige atenção na formulação para o emprego adequado na alimentação de vacas leiteiras. Com a inclusão de torta de girassol em substituição ao farelo de soja no concentrado para vacas em lactação (0, 20, 40 e 60%), Silva (2004) observou que o 10 consumo de matéria seca aumentou (12,76; 13,05; 13,04; 13,34%, respectivamente), no entanto, para os coeficientes de digestibilidade in vitro da matéria seca (90,18; 86,56; 81,40; 78,06%), proteína bruta (95,39; 93,97; 91,50; 90,64%) e fibra em detergente neutro (55,68; 38,14; 26,48; 19,79%) verificou-se decréscimo, respectivamente, conforme aumento nos níveis de participação da torta de girassol nas dietas experimentais. De acordo Santos (2008) avaliando quatro concentrados, contendo 20% de proteína bruta na matéria seca, com substituição parcial do farelo de girassol e do milho pela torta de girassol, nas proporções 0, 20, 40 e 60%, na alimentação de vacas da raça Holandesa. Concluiu que a substituição parcial do farelo de girassol e do milho pela torta de girassol diminuiu a digestibilidade in vitro do concentrado, porém, não comprometeu o consumo de nutrientes da dieta, podendo ser utilizada até o nível de 60%, levando-se em consideração o preço de aquisição da matéria prima. Pimentel et al. (2010) estudando níveis de inclusão de torta de girassol (0; 7; 14 e 21%) em dietas para vacas da raça Girolando, com produção média de 20 kg de leite/dia, e uma relação volumoso:concentrado de 60:40, na base da matéria seca, observaram que a produção de leite média apresentou efeito linear crescente com o aumento dos níveis de inclusão da torta de girassol, no entanto foi observado comportamento diferente para a produção de leite corrigida para 4% de gordura. Estes autores concluem que a torta de girassol pode ser recomendada como alternativa potencial para a alimentação de vacas leiteiras, caso haja disponibilidade na região. O farelo e a torta de girassol são dois derivados da extração do óleo de girassol, que tiveram suas disponibilidades aumentadas nos últimos anos. Ambos têm sido utilizados na alimentação de ruminantes, porém, deve-se considerar que estes derivados apresentam certas particularidades em sua composição que podem resultar em alterações na produção e na composição do leite (Santos, 2008). 11 Torta de dendê (Elaeis guineensis) Segundo Furlan Júnior et al. (2006) os frutos do dendezeiro produzem dois tipos de óleos distintos: o óleo de dendê ou óleo de palma, encontrado no mesocarpo (polpa do fruto); e o óleo de palmiste, extraído da amêndoa do fruto, este último tem como subproduto a torta de dendê, também chamada de torta de palmiste. Para cada 100 toneladas de cachos de frutos processados são obtidas 3 toneladas de torta de dendê. É importante ressaltar que toda a gama de subprodutos provenientes do dendê é utilizada, seja como adubo, alimentação animal ou como material para capear estradas (a partir da casca da amêndoa). De acordo com Sousa et al. (2010) a extração do óleo é realizada de duas formas: processo de extração por solvente e processo de extração mecânica. O primeiro processo é através de uso de solventes químicos, no entanto este não possui uma boa palatabilidade para animais. O segundo consiste resumidamente na prensagem mecânica dos frutos por uma prensa contínua para a retirada do óleo do mesocarpo carnoso. Esses diferentes métodos de extração determinam diferenças nos seus conteúdos de óleo: 5 a 12% para torta de dendê extraída por prensagem e 0,5 a 3% para o tipo de torta de dendê extraída por solvente (Chin, 2008), não observando diferença no conteúdo de proteína entre os dois métodos de extração, com variação de 14,6 a 16,0 % com base na matéria seca. O Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel do Governo Federal, lançado em dezembro de 2004, prioriza algumas matérias-primas, como o dendê, produzidas sob a forma de agricultura familiar nas regiões Norte e Nordeste do país; atribuindo a função de gerador de emprego e renda. O Brasil possui o maior potencial mundial para a produção do óleo de dendê, dado aos quase 75 milhões de hectares de terras aptas à dendeicultura. A Bahia participa com aproximadamente 900.000 ha deste total, sendo o único estado do Nordeste brasileiro com condições adequadas na faixa costeira para o plantio do dendezeiro. Isto porque o Litoral Sul da Bahia possui uma diversidade edafoclimática excepcional para o cultivo do dendezeiro, com disponibilidade de áreas litorâneas que se estendem desde o Recôncavo Baiano até os Tabuleiros Costeiros do Sul da Bahia. O estímulo à atividade fomentará a promoção de benefícios como: 12 ambiental-ecológico, em que a atividade possibilitará a recomposição do espaço florestal em processo adiantado de degradação, por “florestas de cultivo”; econômico-social, por meio do aumento da renda regional e criação de novos empregos, e finalmente estratégico, através da agropecuária integrada a caminho do desenvolvimento harmônico dos recursos da terra com os valores humanos. Com esta perspectiva, o Governo da Bahia criou o Programa de incentivo à expansão da área plantada, o qual foi formalizado pelo “Protocolo do Dendê”. Este estrutura um programa de fomento à plantação de 12.500 hectares em parceria com agricultores, indústrias e sociedade regional. Neste contexto, o cultivo do dendê destaca-se em todos os programas de produção de oleaginosas, pois apresenta adaptação climática na microrregião do baixo sul da Bahia. Além disso, esta cultura tem potencial de inclusão do pequeno agricultor no processo de produção da matéria-prima. De acordo com a FAO (2002), a torta de dendê produzida na Malásia apresentam variações na composição bromatológica, para matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra bruta (FB), fibra em detergente ácido (FDA), fibra em detergente neutro (FDN), extrato etéreo (EE), matéria mineral (MM), extrato não nitrogenado (ENN) e nutrientes digestíveis totais (NDT) estão entre 89 e 93; 14,6 e 16; 12,1 e 16,8; 39,6 e 46,1; 66,4 e 66,7; 0,9 e 10,6; 3,5 e 4,3; 52,5 e 65; 67,0 e 75,0%, respectivamente. Com relação aos teores de EE observa-se influência em função dos métodos de extração do óleo de dendê, por prensagem ou com o uso de solventes, sendo o primeiro método, o que proporciona maiores teores de EE no coproduto. Segundo Bonfim et al. (2007) a torta de dendê é um alimento pobre em proteína (13,87%PB), com alta concentração de fibra (>79%FDN). Esta composição é compatível com aquela apresentada por forrageiras como o capim-tifton (Cynodon spp.). Portanto, este co-produto deve ser usado como alimento alternativo ao volumoso da dieta animal. Apesar disto, pela alta digestibilidade da sua fibra e alta concentração de óleo (8,54%) apresenta bom conteúdo de energia. Resumidamente, a produção de torta de dendê envolve a moagem do dendê seguida da prensagem, podendo ter ou não uma fase intermediária de escamação e cozimento. Durante o estágio de prensagem, o óleo de dendê cru é desviado para clarificação e a torta de dendê residual é esfriada e armazenada em depósito (Sue, 2001). 13 Macome (2010) relata que após a moagem e extração do óleo de dendê, gerase uma torta, a qual é lançada no ambiente e pode constituir um sério problema de impacto ambiental. Então, tem-se pesquisado a utilização desta cultura, principalmente na dieta animal, com finalidades diversas, destacando-se o aumento da produtividade e a redução dos custos da atividade agropecuária (Nunes, 2008). De acordo com Bringel (2009) dentre os subprodutos agroindustriais, a torta de dendê se destaca como um subproduto fibroso, também chamado de fonte de fibra não forragem (FFNF), podendo ser uma estratégia interessante em períodos de seca, contribuindo para redução do custo de produção. Silva et al. (2000), estudando níveis de substituição de 0; 25; 50 e 75% do milho pela torta de dendê na alimentação de bezerros leiteiros, não observaram diferenças no consumo de MS na fase de aleitamento, registrando valores médios de 0,76 kg/dia, 1,47% de PV e 39,33 g/kg PV0,75. Contudo, nos 60 dias após desmame, observaram redução linear no consumo de MS com o acréscimo de torta de dendê na dieta, o que pode ter sido decorrido da palatabilidade ou do teor de fibra deste coproduto, que apresenta 70% de FDN. De acordo com Carvalho et al. (2006), avaliando a degradabilidade ruminal do farelo de cacau e da torta de dendê, em novilhos Holandês x Zebu, portando cânulas ruminais, observou-se que as estimativas da taxa de degradação da MS do farelo de cacau e da torta de dendê foram inferiores os apresentados pelo milho e farelo de soja, respectivamente. Provavelmente, devido aos elevados teores de FDN e FDA desses subprodutos. Contudo, ambos demonstraram valores semelhantes e superiores a 50 % para a degradabilidade potencial . Já, Correia (2010) avaliando dietas contendo tortas oriundas da produção de biodiesel em substituição ao farelo de soja na alimentação de bovinos mestiços Holandês x Zebu observou que a dieta contendo torta de dendê proporcionou menor consumo de MS em relação às demais dietas contendo farelo de soja, torta de amendoim e torta de girassol. O autor justifica que este comportamento ocorreu em decorrência do alto teor de FDN da dieta com torta de dendê, em relação às outras dietas experimentais contendo farelo de soja, torta de amendoim e torta de girassol. Contudo, é necessário mais estudos sobre a torta de dendê, em relação as suas características como alimento, a fim viabilizar a utilização dessa fonte alternativa de forma racional na alimentação de ruminantes, e fundamentar decisões corretas. 14 Segundo Bringel (2009) a torta de dendê pode ser uma alternativa interessante para compor dietas de baixo custo para ruminantes, no entanto, há uma carência de pesquisas sobre essa alternativa alimentar. Portanto, mais pesquisas são necessárias para o bom aproveitamento de suas características como alimento energético e redução de suas limitações, incluindo-a no manejo alimentar como estratégia para reduzir os custos de forma racional, garantindo boas perspectivas de produção. 15 CONSIDERAÇÕES FINAIS A atual situação da produção de biodiesel no Brasil indica um crescimento significativo do setor nos próximos anos, com a implantação da obrigatoriedade de inclusão de 5% deste combustível no óleo diesel gerando, consequentemente grande quantidade de co-produtos com potencial de utilização na alimentação de vacas em lactação. 16 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABDALLA, A.L.; SILVA FILHO, J.C.; GODOI, A. R. et al. Utilização de subprodutos da indústria de biodiesel na alimentação de ruminantes. Revista Brasileira de Zootecnia, v.37, p.260-258, 2008. ALCAIDE, E. M.; RUIZ, D.R.Y.; MOUMEN, A. et al. 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Foram utilizadas 16 vacas em lactação, mestiças Holandês x Zebu, mantidas em pastagem de Panicum maximum cv. Tanzânia em uma área experimental de 8 ha dividida em 10 piquetes de 0,8 ha cada. O experimento foi constituído por quatro períodos, com duração de 15 dias cada, sendo os 11 primeiros para adaptação as dietas experimentais e os demais para colheita de dados. As vacas foram distribuídas em quatro quadrados latinos 4x4. Os tratamentos experimentais foram caracterizados pela participação de diferentes tortas, oriundas da produção de biodiesel, em substituição ao farelo de soja no concentrado, sendo um testemunha (sem torta adicional) e os demais com a inclusão das tortas de amendoim, girassol e dendê. O consumo de nutrientes do pasto de Panicum maximum cv. Tanzânia não variou entre os tratamentos experimentais. Com relação ao consumo de suplemento observou-se diferença, entre os tratamentos experimentais, sendo que, as vacas que receberam suplemento contendo torta de dendê apresentaram redução nos consumos de matéria seca (CMS), proteína bruta (CPB), carboidratos não fibrosos (CCNF) e nutrientes digestíveis totais (CNDT). O consumo médio das frações fibrosas fibra em detergente neutro (CFDN) e fibra em detergente ácido (CFDA) dos suplementos foram superiores para vacas que receberam suplementação contendo torta de dendê, em comparação aos demais suplementos avaliados. O menor CDMS para o tratamento com torta de dendê, provavelmente está associado aos maiores teores de FDA e da conseqüente elevação da concentração de lignina no suplemento. As concentrações médias de glicose, proteína e albumina plasmática encontradas não variaram entre os tratamentos experimentais sendo consideradas normais, independente do co-produto de biodiesel utilizado. Os picos de ureia plasmática foram obtidos entre 4,19 e 5,12 horas após a alimentação. Nas condições experimentais estudadas, as tortas de amendoim e girassol podem ser utilizadas na substituição total do farelo de soja em suplementos para vacas em lactação. Não sendo recomendado a utilização da torta de dendê. Palavras-chave: Alimentação alternativa, bovino leiteiro, fontes de proteína, nutrição animal, suplementação. 21 Intake, digestibility and blood parameters of cows under grazing with by products of biodiesel industry ABSTRACT This study aims to evaluate the use of peanut, sunflower and palm kernel pies replacing the soybean bran for lactating cows under grazing system on the consumption, digestibility of nutrients and blood parameters. It had been used 16 lactating cows, crossbred Holstein x Zebu kept in pasture of Panicum maximum cv. Tanzania in an experimental area of 8 ha, divided into 10 paddocks of 0.8 ha each. The experiment had been constituted in four periods, during 15 days each, the first 11 being adapted to experimental diets and the others for data collection. The cows had been distributed into four Latin squares 4 x 4. The experimental treatments had been characterized by the use of different pies, from the biodiesel production, replacing the soybean bran in the concentrate, being one witness (without additional pie) the others with the inclusion of peanut, sunflower and palm kernel pies. The nutrients consumption from Panicum maximum cv. Tanzania did not vary among the experimental treatments. Regarding the supplement consumption, it had been observed differences among the experimental treatments, where, the cows which had received a supplement containing palm kernel pie had shown a reduction in the dry matter consumption (DMC), crude protein consumption (CPC), non-fiber carbohydrates consumption (NFCC) and total digestible nutrients consumption (TDNC). The average consumption of the fibrous fractions, fiber in neutral detergent (FND) and fiber in acid detergent (FAD) of the supplements had been higher for cows which had received the supplementation containing palm kernel pie, comparing to other evaluated supplements. The lowest (CDMS) for the treatment with palm kernel pie, probably is associated to the highest content of (FAD) and the consequent increase of the lignin concentration in the supplement. The average concentrations of glucose, protein and plasma albumin found, did not vary among the experimental treatments being considered as normal, independent of the biodiesel co-product used. The peaks of plasma urea had been achieved between 4.19 and 5.12 hours after feeding. In the studied experimental conditions, peanut and sunflower pies may be used in the total substitution of the soybean bran in supplements for lactation cows. It is not recommended the use of palm kernel pie. Key words: Alternative food, dairy cattle, protein sources, animal nutrition, supplementation. 22 INTRODUÇÃO A identificação de alimentos alternativos que possam substituir total ou parcialmente os grãos convencionais (milho e farelo de soja) tem recebido atenção especial por parte dos pesquisadores e produtores de modo geral, tendo como razão principal os aspectos de ordem econômica, uma vez que os concentrados contribuem para a elevação dos custos nos sistemas de produção de leite. Pesquisas na área de nutrição animal vêm buscando alternativas para determinar o valor nutritivo destes alimentos. A produção de alimentos com menor custo, de boa qualidade e que contribuam para o atendimento das exigências nutricionais dos animais torna-se condição fundamental à rentabilidade da pecuária leiteira. A utilização de co-produtos oriundos da produção de biodiesel em substituição aos ingredientes convencionais nas dietas pode contribuir com a redução dos custos de alimentação, sem, no entanto, afetar a eficiência nutricional e de produção dos rebanhos. Além disso, contribui com a redução de impactos ambientais evitando a deposição de resíduos no meio ambiente. Outro fator importante é que a maioria dos resíduos agroindustriais tem produção estacional e que geralmente coincide com o período de escassez de forragens, o que auxiliaria os produtores a solucionarem problemas decorrentes da falta de alimentos ao longo do ano. Geralmente, a torta ou farelo gerado na extração do óleo não passam por processo de agregação de valor porque são desconhecidas as suas potencialidades nutricionais e econômicas, salvo algumas exceções como soja, algodão e girassol (Abdala et al., 2008). Por serem escassos trabalhos na literatura utilizando tortas oriundas da produção de biodiesel, torna-se importante o conhecimento dos efeitos dessas na alimentação de vacas em lactação. Considerando o incentivo governamental para a produção de biodiesel e que há grande potencial de produção deste combustível tornar-se necessário criar alternativa viável para destinação dos co-produtos gerados no processo de obtenção. Uma alternativa para destinação ecologicamente correta é aproveitar tais co-produtos na alimentação animal, que poderá otimizar e elevar a produção de alimentos destinados ao atendimento da demanda da população, gerar recursos, melhorar as condições de vida do homem do campo e fortalecer a agricultura familiar. Além de estabelecer as bases técnicas e econômicas para o fortalecimento do agronegócio da 23 produção de leite integrada à promoção do desenvolvimento do setor de bioenergia de forma sustentável. Conduziu-se este trabalho com o objetivo de avaliar o uso das tortas de amendoim, girassol e dendê, em substituição ao farelo de soja em suplementos para vacas em lactação em pastejo sobre o consumo, digestibilidade de nutrientes e parâmetros sanguíneos. 24 MATERIAL E MÉTODOS O presente trabalho foi realizado na Fazenda Experimental da Universidade Federal da Bahia (12° 23’ 57.51” S, 38° 52’ 44.66” W), no município de São Gonçalo dos Campos - BA, localizada a 108 km de Salvador, situada na mesorregião Centro-Norte Baiano e microrregião de Feira de Santana (Recôncavo Baiano), no período de agosto a outubro de 2008. Utilizou-se 16 vacas mestiças Holandês x Zebu com peso vivo médio de 544 kg ± 57 kg, para a seleção dos animais experimentais, alguns critérios foram seguidos: 1) serem pluríparas, 2) dias em lactação entre o 45º e o 90º, 3) estar a mais de 90 dias do próximo parto, 4) bom estado de saúde, 5) produção média de 8 litros de leite/dia ± 1,4 litros de leite/dia. As vacas foram distribuídas em quatro quadrados latinos 4x4. Cada período experimental teve duração de 15 dias, sendo 11 dias de adaptação e 4 dias de observação e colheita, totalizando 60 dias de estudo. Os tratamentos experimentais consistiram de quatro diferentes suplementos, sendo o testemunha contendo farelo de soja, e os outros três, tendo cada um, em sua composição, uma das tortas em estudo: tortas de dendê (Elaeais guineensis), amendoim (Arachis hypogaea) e girassol (Helianthus annuus). Os suplementos foram formulados para atender as recomendações dietéticas dos animais de acordo com o NRC (2001). Foram ofertados 3 kg de suplementos por animal por dia em quantidades iguais no horário das duas ordenhas (1,5 kg manhã e 1,5 kg tarde). A água foi fornecida à vontade. Na Tabela 1 encontra-se a composição bromatológica dos ingredientes dos suplementos e do pasto de capim Tanzânia, enquanto na Tabela 2 encontram-se as proporções dos ingredientes e a composição bromatológica dos suplementos. 25 Tabela 1. Composição bromatológica dos ingredientes dos suplementos concentrados e do pasto de capim tanzânia Ingredientes Item Milho Farelo de Torta de Torta de Torta de Capim moído soja amendoim girassol dendê Tanzânia MS (%) 95,42 95,77 95,83 97,18 96,69 24,92 1 MM 1,21 5,98 4,75 5,45 5,58 7,97 PB1 9,00 46,74 44,57 24,37 13,15 7,77 EE1 3,22 2,22 8,12 5,80 11,18 0,96 1 FDN 18,90 10,50 14,29 33,85 69,63 71,25 FDA1 6,75 9,50 12,29 27,21 40,12 44,88 1 CNF 70,14 34,56 28,25 30,54 0,46 14,05 Hemicelulose1 12,15 0,99 2,00 6,64 29,51 26,37 1 Lignina 1,32 3,48 5,61 13,46 28,91 8,35 CT 1 86,57 45,06 42,56 64,38 70,09 83,30 1 Matéria mineral (MM), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), Hemicelulose, Lignina e carboidratos totais (CT), expressos em % MS Tabela 2. Proporção dos ingredientes e composição bromatológica dos suplementos contendo tortas oriundas da produção de biodiesel para vacas em lactação Suplementos Ingrediente Sem torta Torta de Torta de Torta de (% MS) adicional amendoim girassol Dendê Milho tritutado 82,06 84,07 77,66 46,75 Farelo de soja 10,34 Torta de 8,34 amendoim Torta de girassol 15,05 Torta de dendê 45,50 Mistura mineral 1 4,06 4,04 3,73 4,18 2 Ureia: SA 3,55 3,55 3,57 3,57 Item Composição Bromatológica MS (%) 95,81 95,80 96,03 96,35 MM 3 5,67 5,45 5,49 7,28 3 PB 20,91 20,29 19,72 19,25 EE 3 2,87 3,38 3,37 6,59 3 FDN 16,60 17,08 19,77 40,51 FDA 3 5,90 6,70 9,34 21,41 3 CNF 53,95 53,80 51,65 26,37 Hemicelulose 3 10,07 10,38 10,44 6,59 3 Lignina 1,44 1,58 3,05 13,77 CT 3 70,55 70,88 71,40 66,88 1 Níveis de garantia: cálcio - 18 g; fósforo - 81 g; sódio - 104 g; magnésio - 15,3 g; enxofre - 9,6 g; iodo - 49 mg; ferro - 517 mg; selênio - 27 mg; cobalto - 100 mg; manganês - 1.000 mg; flúor - 810 mg; cobre - 1.600 mg; e zinco - 6.000 mg. 2 Ureia e sulfato de amônia na proporção de 9:1. 3 Matéria mineral (MM), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), carboidratos não fibrosos (CNF), hemicelulose, lignina e carboidratos totais (CT), expressos em % MS. 26 As vacas foram mantidas em uma área de pastagem, com 8 ha, composta de Panicum maximum cv. Tanzânia, dividida em 10 piquetes de 0,8 hectares, cada, delimitados por cerca elétrica. Todos os piquetes tinham ligação a uma área de descanso com sombrite, cocho para o fornecimento de mistura mineral e bebedouro. O método de pastejo utilizado foi lotação rotativa, com três dias de ocupação e 27 dias de descanso. Para garantir a oferta de forragem pretendida foi realizado o acompanhamento da disponibilidade do pasto. Para isto, um dia antes da entrada dos animais nos piquetes, quadrados de 1 m (Haydock & Shaw, 1975) foram lançados em pontos aleatórios e a forrageira cortada a 10 cm do solo. Este material foi seco em estufa de ventilação forçada e feitas amostragens para avaliação do teor de matéria seca da forrageira. A diferença na quantidade da forragem na entrada e saída dos animais foi utilizada para avaliação da taxa de crescimento do pasto. Nos períodos de colheita de dados, amostras dos suplementos foram acondicionadas em sacos plásticos, individualmente. Ao final de cada período de colheita foi feita uma amostra composta por animal, tratamento e período. Estas amostras foram moídas em moinhos com peneira com crivo de 1 mm para análise. As análises bromatológicas foram realizadas no Laboratório de Nutrição Animal da EMV-UFBA. Foram determinados nas amostras compostas do pasto, alimentos concentrados, suplementos e nas tortas os teores de matéria seca (MS), matéria mineral (MM), extrato etéreo (EE) e nitrogênio total (N), conforme as técnicas descritas por Silva e Queiroz (2002), sendo que o teor de proteína bruta (PB) foi obtido multiplicando-se o teor de N pelo fator 6,25. Os teores de fibra em detergente neutro (FDN), ácido (FDA), e lignina foram determinados conforme Van Soest et al. (1991). Nas análises de FDN, dos alimentos concentrados empregou-se alfa-amilase termoestável, com objetivo de reduzir a contaminação com amido e facilitar a filtragem. Os carboidratos totais (CT) foram obtidos pela equação de Sniffen et al. (1992): CT = 100 – (%PB + %EE + % MM), os carboidratos não fibrosos (CNF) do pasto, foram calculados utilizando-se a equação 100 – (%PB + % FDN + % EE + % MM), e para os CNF dos suplementos utilizou-se a equação 100 – [(%PB - %PB derivada da ureia + % ureia) + %FDN + % EE + % MM] (Hall, 2000). O consumo de NDT foi obtido utilizando-se a equação: NDT = PB digestível + (EE digestível x 2,25) + FDN digestível + CNF digestível (NRC, 2001), sendo PBD = (PB ingerida - PB fezes), EED = (EE ingerido - EE fezes), FDND = (FDN ingerido - FDN fezes) e CNFD = (CNF ingeridos - CNF fezes). 27 A produção fecal foi estimada pelo fornecimento via oral de 10 g do indicador externo, o óxido de cromo, divididas em duas porções diárias de 5 g, após as ordenhas da manhã e da tarde respectivamente, durante 11 dias (sete de adaptação e quatro de colheita). Nos últimos quatro dias do período, foram coletadas amostras de fezes diretamente na ampola retal dos animais com aproximadamente 200g, duas vezes ao dia, mas em diferentes horários, de forma a ter amostras a intervalos de 2 horas (6:00, 8:00, 10:00, 12:00, 14:00, 16:00 e 18:00h) ao longo do período diurno. As amostras foram acondicionadas em sacolas plásticas identificadas e congeladas a -10ºC. Após a pré-secagem (55 – 65 ºC), as amostras foram moídas (1 mm), e compostas por animal, tratamento e período, e analisadas quanto ao teor de cromo. Para determinação da produção fecal (PF), foi utilizada a fórmula: Produção fecal (kg/dia) = (cromo fornecido (g/dia)/cromo nas fezes (g/kg de MS)). Como indicador interno foi utilizada a fibra em detergente neutro indigestível (FDNi), para avaliação do consumo, para isso utilizaram-se bovinos fistulados no rúmen, de acordo com a metodologia empregada por Cochran et al. (1986), que consiste na incubação in situ de aproximadamente 0,5 g das amostras (ingredientes dos suplementos, pasto de capim Tanzânia e fezes) por 144 h, em sacos de nylon Ankon® (filter bag) com porosidade específica, após a incubação o material remanescente foi submetido ao tratamento térmico com solução de detergente neutro, durante uma hora, assumindo o resíduo como indigestível. O consumo de suplemento foi determinado diretamente, isto é, pela diferença entre o oferecido e as sobras. A estimativa do consumo foi realizada conforme a equação: CMS (kg/dia) = {[(PF x CIF) IS]/CIFO} + CMSS, sendo: CMS = consumo de matéria seca (kgdia); PF = produção fecal (kg/dia); CIF = concentração de FDNi (kg/kg de MS) nas fezes; IS = FDNi no suplemento (kg/dia); CIFO = FDNi na forragem (kg/kg de MS); CMSS = consumo de matéria seca do suplemento (kg/dia). Os coeficientes de digestibilidade da MS e dos nutrientes foram calculados segundo Silva & Leão (1979): CD = [(kg de nutriente ingerido – kg de nutriente excretado)]/ (kg de nutriente ingerido) X 100. As amostras de sangue foram obtidas no dia seguinte, após cada período estabelecido para colheita de amostras. As colheitas de sangue foram realizadas, imediatamente antes (tempo zero), duas, quatro e seis horas após o fornecimento matinal do suplemento. Foram colhidos cerca de 10 mL de sangue, por punção da veia coccígea. Após a retirada do sangue, o material foi centrifugado a 3.500rpm por 15 minutos, e o soro resultante foi 28 armazenado em ependorfs e congelado a -20ºC, para análises posteriores. As determinações das concentrações de ureia e glicose, proteína e albumina foram feitas com kits comerciais (Labtest diagnóstica SA), empregando-se o método enzimáticocolorimétrico. Todas essas determinações foram analisadas pelo aparelho espectofotômetro. Para os parâmetros sanguíneos os dados foram analisados em parcela sub dividida onde a parcela principal foi o quadrado latino e a parcela secundária os tempos de colheita após a alimentação. Os dados obtidos para os consumos de nutrientes e digestibilidade aparente foram submetidos à análise de variância, e as médias comparadas pelo teste Tukey considerando um nível de significância de 5%. 29 RESULTADOS E DISCUSSÃO A disponibilidade média de massa forrageira durante o experimento foi 3.897 kg/ha, no entanto, Santos et al. (2005) avaliando a produção de forragem, em diferentes épocas de ocupação de piquetes de capim-tanzânia obteve uma variação de produção de 4.382 a 5.825 kg de matéria seca/ha, nas diferentes épocas de avaliação, sendo que, estes resultados encontrados mostram-se superiores aos observados neste trabalho. Conforme é relatado na literatura, a disponibilidade está diretamente correlacionada com o consumo voluntário de matéria seca. Os menores valores de produção de matéria seca/ha encontrados neste experimento podem ser justificados dentre outros fatores pela época em que foi conduzido o experimento (agosto à outubro de 2008), época essa que representaria o final do período chuvoso na região, o que ocasionou redução na produção de matéria verde do pasto. Os co-produtos de biodiesel utilizados em substituição ao farelo de soja, na suplementação de vacas em lactação não influenciaram (P>0,05) o consumo de matéria seca (CMS) do pasto e total expresso nas diferentes unidades, exceto o consumo de suplemento em kg/dia que foi menor para o tratamento com torta de dendê em sua composição (Tabela 3). Os valores médios obtidos para o CMS kg/dia entre os tratamentos experimentais variaram entre (13,48 a 14,64 kg/dia) apresentando-se próximos aos estimados pelo NRC (2001), que preconiza consumo de MS de 13,03 a 13,69 kg/dia para vacas com média de 540 kg de peso corporal e produção de leite corrigida de 8 a 10 kg de leite. Os consumos de MS, PB, EE, FDN, FDA e CNF do pasto de Panicum maximum cv. Tanzânia não apresentaram diferença (P>0,05) entre os suplementos com as diferentes tortas. 30 Tabela 3 - Médias e coeficientes de variação (CV) para os consumos de matéria seca (CMS), proteína bruta (CPB), fibra em detergente neutro (CFDN) e fibra em detergente ácido (CFDA) de pasto e suplemento de vacas mestiças Holandês x Zebu, recebendo diferentes suplementos contendo tortas oriundas da produção de biodiesel Suplemento Variável CV (%) Sem torta Torta Torta Torta adicional amendoim girassol dendê Consumo kg/dia CMS pasto 11,67 11,43 11,84 11,60 15,18 CMS suplemento 2,74 a 2,75 a 2,80 a 1,88 b 14,59 CMS total 14,41 14,18 14,64 13,48 12,60 CPB pasto 0,91 0,89 0,92 0,90 15,18 CPB suplemento 0,57 a 0,56 a 0,55 a 0,36 b 13,95 CPB total 1,48 a 1,45 a 1,47 a 1,26 b 10,24 CEE pasto 0,11 0,11 0,11 0,11 15,18 CEE suplemento 0,08 b 0,09 b 0,09 b 0,12 a 24,65 CEE total 0,19 b 0,20 b 0,20 b 0,23 a 13,43 CFDN pasto 8,32 8,15 8,44 8,27 15,18 CFDN suplemento 0,46 b 0,47 b 0,55 b 0,76 a 26,39 CFDN total 8,78 8,62 8,99 9,03 14,17 CFDA pasto 5,24 5,13 5,32 5,21 15,18 CFDA suplemento 0,16 c 0,18 c 0,26 b 0,40 a 31,07 CFDA total 5,40 5,31 5,58 5,61 14,41 CCNF pasto 1,64 1,61 1,66 1,63 15,18 CCNF suplemento 1,68 a 1,68 a 1,65 a 0,62 b 9,48 CCNF total 3,32 a 3,29 a 3,31 a 2,25 b 9,27 CNDT 8,00 ab 8,08 ab 8,26 a 7,21 b 12,70 Consumo g/kg CMS 2,68 2,64 2,80 2,50 13,84 FDN 1,63 1,60 1,72 1,67 15,40 Consumo g/kg0,75 CMS 128,87 126,78 133,66 120,14 13,40 Médias nas linhas seguidas por letras iguais não diferem (P>0,05) estatisticamente pelo teste Tukey. Com relação ao consumo de matéria seca (CMS) do suplemento observou-se diferença (P<0,05), entre os tratamentos experimentais, onde, as vacas que consumiram suplemento contendo torta de dendê apresentaram redução no consumo superior a 30% quando comparado às vacas que receberam suplementos contendo farelo de soja, torta de amendoim e torta de girassol. Verificou-se que alguns animais rejeitaram o suplemento contendo torta de dendê, provavelmente essa rejeição está relacionada com a aceitabilidade, quantidade de fibra ou ainda devido ao elevado teor de extrato etéreo quando comparado às demais tortas. 31 Correia (2010) avaliando dietas contendo tortas oriundas da produção de biodiesel em substituição ao farelo de soja na alimentação de bovinos mestiços Holandês x Zebu observou que a dieta contendo torta de dendê proporcionou menor consumo de MS em relação às demais dietas contendo farelo de soja, torta de amendoim e torta de girassol. O autor justifica que este comportamento ocorreu em decorrência do alto teor de FDN da dieta com torta de dendê, em relação às outras dietas experimentais contendo farelo de soja, torta de amendoim e torta de girassol. Da mesma forma, Silva et al. (2000) constataram redução nos consumos de MS em bezerros 7/8 Holandês x Zebu, não-castrados no período de 60 dias após desaleitamento recebendo diferentes níveis de torta de dendê, (0, 25, 50 e 75%) em substituição do milho no concentrado, explicada, pelos autores, provavelmente, pela menor palatabilidade e pelo alto teor de fibra da torta de dendê que possui aproximadamente 70% de FDN. A ingestão de MS é um dos fatores determinantes do desempenho animal, sendo o ponto inicial para o ingresso de nutrientes, principalmente de energia e proteína, necessários para o atendimento das exigências de mantença e produção. Observou-se, uma variação no consumo de matéria seca em relação ao peso vivo de 2,5 a 2,8% MS/PV e de 1,60 a 1,72% FDN/PV. Estes resultados estão de acordo com a literatura, neste experimento, a média geral para consumo de FDN foi de 1,65%/PV, apresentando-se superior à sugerida pelo referido autor. Detmann et al. (2003) analisando um conjunto de dados obtidos em experimentos com bovinos, alimentados com forrageiras tropicais, concluíram que consumos de FDN (%PV) para bovinos foram superiores a 1,2% PV em aproximadamente 39% dos dados analisados. Os dados encontrados neste estudo apresentam-se semelhantes aos obtidos por Soares et al. (2001) avaliando a predição do consumo voluntário de matéria seca em pastagens de Capim-tanzânia (Panicum maximum, J. cv. tanzânia), por vacas em lactação relatam consumos médios de matéria seca de 2,1% PV, sendo que os dados variaram de 1,30 a 2,75% PV. O mesmo comportamento do CMS do suplemento foi observado para o CPB do suplemento o que influenciou a redução do CPB total de vacas que receberam torta de dendê no suplemento, pois, apresentou-se inferior quando comparado aos demais suplementos experimentais sem torta adicional, com torta de girassol e torta de amendoim sendo, portanto, observado a maior diferença de CPB do suplemento 32 (36,8%) para vacas que consumiram a suplementação com torta de dendê (0,36 kg) em comparação as que consumiram o suplemento contendo farelo de soja (0,57 kg), este comportamento foi observado provavelmente porque a torta de dendê apresenta menor teor de proteína bruta (Tabela 1) na sua composição bromatológica, como também em resposta do menor consumo de MS deste suplemento, que pode ser observado na Tabela 3. O NRC (2001) preconizou um consumo de PB variando de 1,11 e 1,29 kg/dia para vacas com média de 550 kg de peso vivo, produzindo entre 8 e 10 kg de leite corrigido. Os consumos de PB totais encontrados neste experimento apresentam uma variação entre 1,26 kg e 1,48 kg apresentando-se superiores as exigências estimadas segundo o NRC (2001), para todos os tratamentos experimentais, desta forma, os consumos médios de PB, dos tratamentos experimentais, atenderam às exigências preconizadas pelas revisões do NRC referendadas. Os valores médios de CEE obtidos neste estudo foram 0,08; 0,09; 0,09 e 0,12 kg/dia para animais alimentados com os suplementos, sem torta adicional, e com torta de amendoim, torta de girassol e torta de dendê respectivamente. O suplemento com torta de dendê proporcionou maior CEE (P<0,05) aos demais tratamentos experimentais, provavelmente pelo fato deste suplemento ter apresentado o maior teor de extrato etéreo (Tabela 1). Estes resultados ainda podem ser explicados devido ao método de extração do óleo do dendê que é realizado por meio de um processo físico (prensagem) e o co-produto gerado contém quantidades consideráveis de extrato etéreo. Comportamento semelhante foi observado por Macome (2009) onde os valores de EE consumido pelos ovinos, machos não castrados, da raça Santa Inês, com idade entre 4 e 6 meses foram crescentes, com a adição da torta de dendê na dieta, pelo fato, do aumento no teor de EE nas dietas. O consumo médio das frações fibrosas FDN e FDA dos suplementos foram superiores (P<0,05) para vacas que receberam suplementação contendo torta de dendê, em comparação aos demais suplementos avaliados. Este comportamento pode estar relacionado aos maiores teores desses nutrientes na composição bromatológica deste alimento, pois, o mesmo apresenta elevado teor de fibra (69,63%FDN) e (40,12%FDA). Comportamento semelhante ao observado neste trabalho foi descrito por Silva et al. (2008) que estudaram dietas de capim-elefante amonizado e torta de 33 dendê para ovinos em crescimento e observaram aumento no consumo de FDN no grupo alimentado com 40% de torta de dendê na dieta, fato associado ao elevado teor de FDN desse produto. Já as médias de CFDN (%PV) apresentaram-se acima de 1,2% PV recomendado por Mertens (1992) em todos os tratamentos experimentais, contudo ressalta-se que várias pesquisas com vacas leiteiras, em países de clima tropical, já comprovaram que animais de menor produção de leite, em relação aos animais puros de clima temperado, têm maior capacidade de ingestão de fibra sem diminuir a produção de leite, como os observados por Cavalcanti et al. (2008). A suplementação de vacas em pastejo com diferentes tortas oriundas da produção de biodiesel influenciou (P<0,05) o consumo médio de NDT, sendo que, o consumo de NDT para os animais que receberam suplementação com a torta de dendê apresentou-se menor quando comparado ao encontrado para os animais que receberam suplementação com torta de girassol. Provavelmente esse menor consumo de NDT observado para o tratamento com torta de dendê, pode estar associado ao menor consumo de MS deste suplemento. As exigências de NDT estimadas de acordo com o NRC (2001) foram de 6,55 kg e 7,19 kg para produções médias de 8 kg e 10 kg de leite respectivamente em vacas com o peso médio de 550 kg. Os valores médios encontrados para o consumo de NDT neste experimento apresentam uma variação entre 7,21 kg e 8,26 kg apresentando-se superiores as exigências estimadas segundo o NRC (2001), para todos os tratamentos experimentais, atendendo desta forma as exigências nutricionais conforme preconizada de acordo com a recomendação do referido conselho. O tratamento experimental com torta de dendê apresentou redução sobre o consumo de CNF do suplemento e total (Tabela 3), este comportamento observado pode ser atribuído ao menor consumo de MS deste suplemento associado ao elevado teor de FDN presente na composição da torta de dendê. Segundo o NRC (2001), a concentração de CNF mínimo necessário seria entre 25 e 30% e a ótima estaria entre 38 e 40%. Altos teores, acima de 45% de CNF, podem comprometer a digestibilidade dos nutrientes, devido ao abaixamento do pH ruminal e aumento na taxa de passagem, diminuindo a atividade celulolítica e, conseqüentemente, a digestibilidade da fibra. Por outro lado, a ingestão inadequada de CNF pode deprimir a disponibilidade de energia do ácido propiônico e a produção de ácido láctico, reduzindo a síntese de proteína microbiana e diminuindo a digestão 34 da fibra (Van Soest, 1994). Verifica-se que os animais que receberam suplementos contendo farelo de soja, torta de amendoim e torta de girassol apresentaram composição nutricional de CNF dentro dos limites ótimos segundo as recomendações do NRC (2001), porém, o tratamento experimental com torta de dendê apresentou a concentração mínima de acordo com o preconizado pelo referido conselho. A digestibilidade aparente de um alimento é a diferença entre as quantidades consumidas e as excretadas nas fezes. Na Tabela 4 estão descritos os coeficientes de digestibilidade aparente total dos nutrientes de acordo com os suplementos avaliados. O coeficiente de digestibilidade aparente da matéria seca CDMS foi menor (P<0,05) nos animais que consumiram suplemento contendo torta de dendê, em comparação ao suplemento com torta de amendoim, entretanto estes coeficientes foram semelhantes aos demais suplementos. O menor CDMS para o tratamento com torta de dendê, provavelmente está associado aos maiores teores de FDA e da consequente elevação da concentração de lignina no suplemento que continha torta de dendê (Tabela 1), estes resultados parecem suficientes para afetar a digestibilidade da MS nos animais que consumiram o suplemento com esta torta. Os maiores coeficientes de digestibilidade aparente da MS foram encontrados nos que animais receberam suplementação com torta de amendoim, entretanto, os animais que receberam suplementos contendo farelo de soja e torta de girassol não diferiram dos demais suplementos. Tabela 4 - Médias e coeficientes de variação (CV) para os coeficientes de digestibilidade aparente da matéria seca (CDMS), proteína bruta (CDPB), extrato etéreo (CDEE), fibra em detergente neutro (CDFDN), carboidratos totais (CDCT) e carboidratos não fibrosos (CDCNF) em vacas mestiças Holandês x Zebu, recebendo diferentes suplementos contendo tortas oriundas da produção de biodiesel Suplementos Variável CV (%) Sem torta Torta Torta Torta adicional amendoim girassol dendê CDMS 56,65 ab 56,98 a 56,42 ab 53,85 b 5,35 CDPB 61,44 64,57 63,15 59,76 16,10 CDEE 36,34 b 43,40 ab 44,59 ab 51,07 a 29,61 CDFDN 50,00 51,59 51,06 51,20 6,70 CDCT 63,67 63,15 64,26 60,61 8,46 CDCNF 76,79 a 75,54 a 76,03 a 67,64 b 8,17 Médias nas linhas seguidas por letras iguais não diferem (P>0,05) estatisticamente pelo teste Tukey. 35 Segundo Silva e Leão (1979) a digestibilidade está intimamente relacionada com a composição de FDN do alimento e com o consumo desta pelos animais. Quanto maiores os teores de proteína, melhor será o aproveitamento da FDN pelos microrganismos do rúmen e consequentemente, melhor a digestibilidade. Os coeficientes de digestibilidade da PB, não diferiram (P>0,05) em função da suplementação com diferentes tortas oriundas da produção de biodiesel. Entre os tratamentos experimentais observa-se na Tabela 3, que houve diferença no CPB em kg dia (P<0,05) para os animais que receberam suplementação contendo torta de dendê apresentando-se portanto, inferior ao CPB dos demais tratamentos, no entanto, esta diferença não foi suficiente para afetar o coeficiente de digestibilidade deste nutriente. A redução na digestibilidade da fração fibrosa dos alimentos tem sido observada em algumas situações quando há maior teor de gordura na dieta (Jenkins, 1993), o que pode comprometer o valor energético desta em função de um decréscimo na digestibilidade total. No entanto, neste estudo não foi observado redução na digestibilidade da FDN (P>0,05). Desta forma, provavelmente, fatores metabólicos estejam relacionados à redução no consumo, já que a digestibilidade da fração fibrosa não foi afetada com a presença de torta de dendê (Bateman & Jenkins, 1998; Allen, 2000), que possui elevado teor de EE. Silva et al. (2007) avaliando a amonização da silagem de capim elefante e a substituição do concentrado por 40% de farelo de cacau ou 40% de torta de dendê não observaram influencias sobre os coeficientes de digestibilidade da (PB e FDN) em ovinos Santa Inês, machos não castrados. O coeficiente de digestibilidade aparente do extrato etéreo apresentou diferença (P<0,05) entre os suplementos com as diferentes tortas, sendo observado o maior coeficiente nos animais com suplementos com torta de dendê e o menor coeficiente naqueles sem torta adicional 51,07% e 36,34% respectivamente. Já os demais suplementos não proporcionaram diferença estatística. Observa-se na literatura que outros fatores podem influenciar a digestibilidade dos lipídios além da quantidade na dieta, como por exemplo o grau de insaturação e comprimento da cadeia dos ácidos graxos, tamanho de partículas de gorduras sólidas e a proporção de triglicerídeos e ácidos graxos presentes nas fontes lipídicas. 36 Torna-se essencial o conhecimento do perfil metabólico de vacas alimentadas com co-produtos oriundos da produção de biodiesel para o entendimento das relações entre as concentrações dos metabólitos e a produção de leite destes animais, o que servirá como um rastreador do metabolismo do animal. De acordo com Contreras et al. (2000) os perfis metabólicos refletem as interações provocadas pelo excesso ou pela deficiência de um nutriente na alimentação, mas também avaliam a interação entre nutrientes Os constituintes sanguíneos têm relação direta com a composição química e a digestibilidade dos componentes da dieta (Arruda et al., 2008), dessa forma, a utilização das diferentes tortas oriundas da produção de biodiesel na suplementação de vacas em lactação sob pastejo não influenciou (P>0,05) as concentrações de glicose proteína e albumina plasmática (Tabela 5). Entretanto, para o nitrogênio ureico observou-se efeito (P<0,05) entre os suplementos como também entre os tempos de coleta (Figura 1) o que demonstra que a concentração de ureia sanguínea está intimamente correlacionada à utilização da proteína na dieta. As concentrações médias de glicose encontradas neste estudo não variaram (P>0,05) entre os suplementos sendo considerada normal, independente do coproduto de biodiesel utilizado. Os resultados obtidos estão de acordo com valores fisiológicos de referência relatados por Fraser (1991) entre 42 e 74 mg/dL, de glicose no sangue de vacas. Tabela 5 - Médias das concentrações de glicose, proteína, N-ureico e albumina sérica em vacas mestiças em pastejo recebendo suplementação Suplemento Sem torta Torta de Torta de Torta de CV Variável adicional amendoim girassol dendê 15,15 Glicose (mg/dL) 61,56 61,84 59,99 59,59 7,47 Proteína (g/dL) 8,19 8,23 8,04 8,23 6,02 Albumina (mg/dL) 2,90 2,85 2,88 2,89 15,21 N-ureico (mg/dL) 19,60 ab 18,80 ab 20,20 a 18,00 b Médias nas linhas seguidas por letras iguais não diferem (P>0,05) estatisticamente pelo teste Tukey. As concentrações séricas de proteínas totais (g/dL) não foram influenciadas (P<0,05) pela inclusão de co-produtos da produção de biodiesel, na forma de torta, em substituição ao farelo de soja em suplementos para vacas em lactação sob pastejo, os valores obtidos neste estudo encontram-se dentro da normalidade para bovinos, 37 entre 66 e 90 g/L equivalente a 6,6 e 9,0 g/dL de acordo com González et al. (2000). Tem-se verificado que a secreção de proteína total pode ser influenciada pela ingestão de alimentos e exigências do animal. De acordo com estes resultados, podese inferir que a inclusão de tortas oriundas da produção de biodiesel forneceu adequado suprimento de proteína e, provavelmente, não provocou alteração do estado funcional das células hepáticas de vacas em lactação sob pastejo. A albumina é a proteína mais abundante do plasma sanguíneo, correspondendo a aproximadamente 50% das proteínas circulantes (González et al., 2000), neste estudo as concentrações séricas de albumina não variaram mediante a inclusão de co-produtos do biodiesel na suplementação dos animais. Isso demonstra que os animais estavam recebendo níveis de proteína na dieta compatíveis com suas exigências. A albumina é sintetizada no fígado e sua concentração pode ser influenciada pelo aporte protéico da ração. A concentração de ureia altera rapidamente por modificações na ração, sendo um indicador sensível da ingesta de proteínas (Roos et al., 2006). O N-ureico apresentou diferença (P<0,05) em função dos diferentes suplementos avaliados apesar destes terem sido formulados de forma isonitrogenados, provavelmente os menores valores encontrados para o tratamento com a participação da torta de dendê deve-se ao menor consumo de matéria seca deste suplemento e a consequente redução no consumo de proteína bruta. González et al. (2000) citam que os valores de referência para ureia para bovinos se situam entre 2,6 e 7,0 mmol L-1, estes valores equivalem a 7,29 e 19,61mg/dL de N-ureico, sendo que os valores médios de N-ureico encontrados neste trabalho foram considerados normais para os tratamentos, sem torta adiconal com a participação de torta de amendoim e torta de dendê, já para o tratamento com torta de girassol o resultado obtido para esta variável foi superior ao relatado anteriormente como normal, o que pode ser traduzido por uma maior quantidade de ureia sintetizada pelo fígado, a partir dos grupos amônia não utilizados pelos microrganismos ruminais. Geralmente, alterações na concentração de ureia estão correlacionadas com o conteúdo de amônia ruminal cuja utilização depende da atividade metabólica dos microrganismos ruminais. Estes transformam o nitrogênio da amônia em proteína bacteriana, processo que requer energia. Logo, se a ração estiver deficiente em energia prontamente disponível, as concentrações de amônia aumentam no rúmen, e a quantidade de ureia aumenta no sangue (González et al., 2000). 38 Observou-se efeito na concentração sérica de N-ureico (P<0,05) em função dos tempos de coleta de acordo com a inclusão de co-produtos da produção de biodiesel, na forma de torta, em substituição ao farelo de soja em suplementos para vacas em lactação sob pastejo, apresentando comportamento quadrático (Figura 1) nos diferentes tratamentos experimentais. A ureia é um produto de excreção do metabolismo do nitrogênio e a sua determinação em amostras de soro sangüíneo revela informação sobre a atividade metabólica protéica do animal. Neste trabalho, os picos de ureia foram obtidos entre 4,19 e 5,12 horas após a alimentação. O metabolismo da proteína degradável no rúmen determina o pico da ureia entre 4 e 6 horas após o fornecimento da alimentação em vacas lactantes, já o metabolismo da proteína não-degradável no rúmen contribui para os níveis plasmáticos de ureia durante o dia (Bequette, 1997). Figura 1. Concentrações de N-ureico sérico após a alimentação em vacas mestiças Holandês x Zebu, recebendo diferentes suplementos contendo tortas oriundas da produção do biodiesel a) sem torta adicional, b) torta de amendoim, c) torta de girassol, d) torta de dendê Observa-se uma maior concentração sérica de N-ureico em função suplementos oferecidos quando se utilizou a torta de girassol, apresentando o ponto 39 máximo de inflexão da derivada de 22,42 mg/dL ocorrendo 5,12 horas após a alimentação, o menor pico da concentração sérica de N-ureico foi obtido quando os animais foram suplementados com torta de dendê com ponto máximo de inflexão da derivada de 19,05 mg/dL ocorrendo 4,40 horas após a alimentação, os demais tratamentos sem torta adicional e torta de amendoim não apresentaram diferença (P>0,05) quando comparados aos citados anteriormente, sendo observado, valores máximos de 21,20 mg/dL às 4,19 horas pós-prandial e 20,59 mg/dL às 4,62 horas após a alimentação respectivamente A partir do pico, ocorreu uma redução gradativa que pode ser explicada pela excreção da ureia via rins. Os resultados obtidos neste estudo encontram-se de acordo com os valores de referência para N-ureico relatado por kaneko, (1997) para a espécie bovina variando entre 20 e 30 mg/dL indicando que estes animais encontravam-se clinicamente saudáveis. 40 CONCLUSÃO Nas condições experimentais estudadas, as tortas de amendoim e girassol podem ser utilizadas na substituição total do farelo de soja em suplementos para vacas em lactação. Não sendo recomendado a utilização da torta de dendê. 41 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABDALLA, A.L.; SILVA FILHO, J.C.; GODOI, A.R. et al. Utilização de subprodutos da indústria de biodiesel na alimentação de ruminantes. Revista Brasileira De Zootecnia, v.37, suplemento especial p.260-258, 2008 ARRUDA, D.S.; CALIXTO JUNIOR, M.; JOBIM, C.C. et al. Efeito de diferentes volumosos sobre os constituintes sangüíneos de vacas da raça holandesa. Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal, v. 9, n.1, p.35-44, jan/mar, 2008. BEQUETTE, B.J.; BACKWELL, F.R.C. 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Foram utilizadas 16 vacas em lactação, mestiças Holandês x Zebu, mantidas em pastagem de Panicum maximum cv. Tanzânia em uma área experimental de 8 ha dividida em 10 piquetes de 0,8 ha cada. O experimento foi constituído por quatro períodos, com duração de 15 dias cada, sendo os 11 primeiros para adaptação as dietas experimentais e os demais para colheita de dados. As vacas foram distribuídas em quatro quadrados latinos 4x4. Os tratamentos experimentais consistiram de quatro suplementos, sendo o farelo de soja como testemunha, e outros três, tendo cada um, em sua composição, uma das tortas em estudo: tortas de amendoim, girassol e dendê. Os dados obtidos para o comportamento ingestivo e bioclimatológico foram submetidos à análise de variância e quando significativos as médias foram comparadas pelo teste Tukey utilizando um nível de significância de 5%. A inclusão de diferentes tortas oriundas da produção do biodiesel em substituição ao farelo de soja na suplementação de vacas em lactação não influenciou os tempos médios despendidos com alimentação, ruminação e ócio. Da mesma forma os consumos de matéria seca (MS) e fibra em detergente neutro (FDN) e a eficiência de alimentação (g MS e FDN/hora) foram semelhantes entre os suplementos com diferentes tortas. Os valores médios de freqüência respiratória, freqüência cardíaca e temperatura retal obtidas neste estudo foram semelhantes aos valores de referência para bovinos relatados por diversos autores, caracterizando assim o conforto térmico dos animais. As tortas de amendoim, girassol e dendê oriundas da produção de biodiesel podem substituir o farelo de soja em suplementos para vacas em lactação mantidas sob pastejo pois não influenciam o comportamento ingestivo diurno, como também, mantém os parâmetros fisiológicos dos animais dentro da normalidade. Palavras-chave: bovinos, fisiologia, fontes de proteína, nutrição de ruminantes. 46 Ingestive behavior and bioclimatology cows under supplemented grazing with by products of biodiesel industry ABSTRACT This study aims to evaluate the use of peanut, sunflower and palm kernel pies replacing the soybean bran in supplements on the ingestive behavior, bioclimatology and lactating cows kept under grazing. It has been used 16 cows, in lactation period, crossbred Holstein x Zebu which were kept in pasture composed of Panicum maximum cv. Tanzania in an experimental area of 8 ha divided in 10 paddocks of 0.8 ha. The cows have been distributed in four latin squares 4 x 4 where the experiment was constituted by four periods, during 15 days being the first 11to be adapted to experimental diets and the others to collect data. The experimental treatments consisted of four supplements, being the soybean bran the witness, and the other three, being each one, in its composition, one of the pies which is being studied: peanut pie, sunflower and palm kernel. The obtained data to the ingestive behavior, bioclimatology have been submitted to variance analysis, considering a significance level of 5% by Tukey test. The inclusion of different pies from biodiesel production replacing the soybean bran in the supplementation of lactating cows, did not influence (P>0.05) the average time spent with feeding, rumination and leisure. In the same way the dry matter intake (DMI) and neutral detergent fiber (NDF) and the feeding efficiency (g DM and NDF/hour) were similar among the experimental treatments. The average values of respiratory frequency, heart frequency and rectal temperature which were obtained in this study were similar to the reference values for bovines, related by several authors, thus characterizing the animals’ thermal comfort. The inclusion of peanut pie, sunflower pie and palm kernel pie from the biodiesel production replacing the soybean bran in supplements to lactating cows kept under grazing did not influence in the daytime ingestive behavior, as well as, kept the physiological. Key words: bovine, physiology, ruminant’s nutrition, springs of protein. 47 INTRODUÇÃO A exploração de bovinos no Brasil caracteriza-se basicamente na utilização de pastagens tropicais, como reflexo das extensas áreas disponíveis e da diversidade das espécies forrageiras presentes. A ingestão de alimentos é uma das funções vitais mais importantes dos seres vivos, inclusive dos bovinos que respondem diferentemente a vários tipos de alimento e de dieta alterando os níveis de produção, a taxa de fertilidade e o comportamento alimentar (Pires et al., 2006). Os co-produtos oriundos da produção de biodiesel como as tortas de amendoim, girassol e dendê apresentam-se como alternativas para a alimentação de ruminantes em substituição ao farelo de soja, porém com algumas limitações, como a deficiência e/ou desequilíbrios em suas características nutricionais e os custos com a coleta, o transporte e, geralmente, o tratamento necessário para melhoria de seu valor nutritivo (Burgi, 1992). No entanto, seus efeitos sobre o comportamento ingestivo, bioclimatológico animal ainda foram pouco estudados. A alimentação animal é considerada o elo entre a produção de biodiesel e a pecuária, a utilização das tortas de amendoim, girassol e dendê na alimentação de ruminantes visa manter a produtividade a partir de uma alternativa para o sistema produtivo da bovinocultura leiteira. O alto valor nutricional de proteína bruta, geralmente obtido nas tortas, sugere que estes co-produtos podem ser utilizados como fonte protéica para os animais, substituindo fontes de alimentos tradicionais gerando renda com custo reduzido. No Nordeste brasileiro, poucos estudos foram desenvolvidos no intuito de avaliar o comportamento ingestivo de vacas leiteiras em condições de pastejo, principalmente no que diz respeito a práticas de manejo alimentar combinadas com as condições climáticas, visando uma maior eficiência na produção de rebanhos leiteiros (Mendes, 2009). Objetivou-se avaliar a influência do uso das tortas de amendoim, girassol e dendê, em substituição ao farelo de soja em suplementos para vacas em lactação em pastejo sobre o comportamento ingestivo e bioclimatológico de vacas lactantes mantidas em pastejo 48 MATERIAL E MÉTODOS O presente trabalho foi realizado na Fazenda Experimental da Universidade Federal da Bahia (12° 23’ 57.51” S, 38° 52’ 44.66” W), no município de São Gonçalo dos Campos - BA, localizada a 108 km de Salvador, situada na mesorregião Centro-Norte Baiano e microrregião de Feira de Santana (Recôncavo Baiano), no período de agosto a outubro de 2008. Utilizou-se 16 vacas mestiças Holandês x Zebu com peso vivo médio de 544 kg ± 57 kg, para a seleção dos animais experimentais, alguns critérios foram seguidos: 1) serem pluríparas, 2) dias em lactação entre o 45º e o 90º, 3) estar a mais de 90 dias do próximo parto, 4) bom estado de saúde, 5) produção média de 8 litros de leite/dia ± 1,4 litros de leite/dia. As vacas foram distribuídas em quatro quadrados latinos 4x4. Cada período experimental teve duração de 15 dias, sendo 11 dias de adaptação e 4 dias de observação e colheita, totalizando 60 dias de estudo. Os tratamentos experimentais consistiram de quatro diferentes suplementos, sendo o testemunha contendo farelo de soja, e os outros três, tendo cada um, em sua composição, uma das tortas em estudo: tortas de dendê (Elaeais guineensis), amendoim (Arachis hypogaea) e girassol (Helianthus annuus). Os suplementos foram formulados para atender as recomendações dietéticas dos animais de acordo com o NRC (2001). Foram ofertados 3 kg de suplementos por animal por dia em quantidades iguais no horário das duas ordenhas (1,5 kg manhã e 1,5 kg tarde). A água foi fornecida à vontade. Na Tabela 1 encontra-se a composição bromatológica dos ingredientes dos suplementos e do pasto de capim Tanzânia, enquanto na Tabela 2 encontram-se as proporções dos ingredientes e a composição bromatológica dos suplementos. 49 Tabela 1. Composição bromatológica dos ingredientes dos suplementos concentrados e do pasto de capim Tanzânia Ingredientes Item Milho Farelo de Torta de Torta de Torta de Capim moído soja amendoim girassol dendê Tanzânia MS (%) 95,42 95,77 95,83 97,18 96,69 24,92 1 MM 1,21 5,98 4,75 5,45 5,58 7,97 PB1 9,00 46,74 44,57 24,37 13,15 7,77 EE1 3,22 2,22 8,12 5,80 11,18 0,96 1 FDN 18,90 10,50 14,29 33,85 69,63 71,25 FDA1 6,75 9,50 12,29 27,21 40,12 44,88 1 CNF 70,14 34,56 28,25 30,54 0,46 14,05 Hemicelulose1 12,15 0,99 2,00 6,64 29,51 26,37 1 Lignina 1,32 3,48 5,61 13,46 28,91 8,35 CT 1 86,57 45,06 42,56 64,38 70,09 83,30 1 Matéria mineral (MM), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), carboidratos não fibrosos (CNF), Hemicelulose, Lignina e carboidratos totais (CT), expressos em % MS Tabela 2. Proporção dos ingredientes e composição bromatológica dos suplementos contendo tortas oriundas da produção de biodiesel para vacas em lactação Suplementos Ingrediente Sem torta Torta de Torta de Torta de (% MS) adicional amendoim girassol Dendê Milho tritutado 82,06 84,07 77,66 46,75 Farelo de soja 10,34 Torta de 8,34 amendoim Torta de girassol 15,05 Torta de dendê 45,50 Mistura mineral 1 4,06 4,04 3,73 4,18 2 Ureia: SA 3,55 3,55 3,57 3,57 Item Composição bromatológica MS (%) 95,81 95,80 96,03 96,35 MM 3 5,67 5,45 5,49 7,28 3 PB 20,91 20,29 19,72 19,25 EE 3 2,87 3,38 3,37 6,59 FDN 3 16,60 17,08 19,77 40,51 FDA 3 5,90 6,70 9,34 21,41 CNF 3 53,95 53,80 51,65 26,37 3 Hemicelulose 10,07 10,38 10,44 6,59 Lignina 3 1,44 1,58 3,05 13,77 CT 3 70,55 70,88 71,40 66,88 1 Níveis de garantia: cálcio - 18 g; fósforo - 81 g; sódio - 104 g; magnésio - 15,3 g; enxofre - 9,6 g; iodo - 49 mg; ferro - 517 mg; selênio - 27 mg; cobalto - 100 mg; manganês - 1.000 mg; flúor - 810 mg; cobre - 1.600 mg; e zinco - 6.000 mg. 2 Ureia e sulfato de amônia na proporção de 9:1 3 Matéria mineral (MM), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), carboidratos não fibrosos (CNF), Hemicelulose, Lignina e carboidratos totais (CT), expressos em % MS. 50 As vacas foram mantidas em uma área de pastagem, com 8 ha, composta de Panicum maximum cv. Tanzânia, dividida em 10 piquetes de 0,8 hectares, cada, delimitados por cerca elétrica. Todos os piquetes tinham ligação a uma área de descanso com sombrite, cocho para o fornecimento de mistura mineral e bebedouro. O método de pastejo utilizado foi lotação rotativa, com três dias de ocupação e 27 dias de descanso. Para garantir a oferta de forragem pretendida foi realizado o acompanhamento da disponibilidade do pasto. Para isto, um dia antes da entrada dos animais nos piquetes, quadrados de 1 m (Haydock & Shaw, 1975) foram lançados em pontos aleatórios e a forrageira cortada a 10 cm do solo. Este material foi seco em estufa de ventilação forçada e feitas amostragens para avaliação do teor de matéria seca da forrageira. A diferença na quantidade da forragem na entrada e saída dos animais foi utilizada para avaliação da taxa de crescimento do pasto. Nos períodos de colheita de dados, amostras dos suplementos foram acondicionadas em sacos plásticos, individualmente, sendo posteriormente homogeneizadas e retirada uma amostra composta por animal e por período. Estas amostras foram moídas em moinhos com peneira com crivo de 1 mm para análise. As análises bromatológicas foram realizadas no Laboratório de Nutrição Animal da EMV-UFBA. Foram determinados nas amostras compostas do pasto, alimentos concentrados e nas tortas oriundas da produção de biodiesel os teores de matéria seca (MS), matéria orgânica (MO), matéria mineral (MM), extrato etéreo (EE) e nitrogênio total (N), conforme as técnicas descritas por Silva & Queiroz (2002), sendo que o teor de proteína bruta (PB) foi obtido multiplicando-se o teor de N pelo fator 6,25. Os teores de fibra em detergente neutro (FDN), ácido (FDA), e lignina foram determinados conforme Van Soest et al. (1991). Os carboidratos totais (CT) foram obtidos pela equação de Sniffen et al. (1992): CT = 100 – (%PB + %EE + % cinzas), os carboidratos não fibrosos (CNF) do pasto, foram calculados através da equação 100 – (%PB + % FDN + % EE + % cinzas), e para os CNF dos suplementos utilizou-se a equação 100 – [(%PB - %PB derivada da ureia + % ureia) + %FDN + % EE + % cinzas] (Hall, 2000). Como indicador interno, foi utilizada a fibra em detergente neutro indigestível (FDNi), para avaliação do consumo. Para isso, utilizou-se quatro bovinos fistulados no rúmen, de acordo com a metodologia empregada por Cochran et al. (1986), que consiste na incubação in situ de aproximadamente 0,5 g das amostras (ingredientes dos suplementos, pasto e fezes) por 144 h, em sacos de nylon Ankon® 51 (filter bag) com porosidade específica. Após a incubação, o material remanescente foi submetido ao tratamento térmico com solução de detergente neutro, durante uma hora, assumindo o resíduo como indigestível. O consumo de suplemento foi determinado diretamente, isto é, pela diferença entre o oferecido e sobra. A estimativa do consumo foi realizada conforme a equação: CMS (kg/dia) = {[(PF x CIF) IS]/CIFO} + CMSS, sendo: CMS = consumo de matéria seca (kgdia); PF = produção fecal (kg/dia); CIF = concentração de FDNi (kg/kg de MS) nas fezes; IS = FDNi no suplemento (kg/dia); CIFO = FDNi na forragem (kg/kg de MS); CMSS = consumo de matéria seca do suplemento (kg/dia). As avaliações de comportamento animal foram diurnas, das 6 às 18 horas, realizadas no 12° dia de cada período experimental, com o registro do tempo despendido em pastejo, ruminação e ócio de acordo com Silva et al. (2004). Adotouse a observação visual instantânea dos animais a cada 30 minutos sendo as atividades desenvolvidas pelos animais foram registradas em etograma individual. Como tempo de pastejo foi considerado o período no qual ocorreu a prática de apreensão da forragem pelo animal, incluindo pequenos deslocamentos. O tempo de ruminação foi identificado através da cessação do pastejo, mas realização da atividade de mastigação. O tempo de ócio foi considerado o período no qual o animal mantinha-se em descanso. Os comportamentos ingestivos foram considerados como mutuamente excludentes, ou seja, a cada registro, cada um dos animais foi classificado em apenas uma atividade. Cada animal foi identificado com marcas de tinta em várias partes do corpo, facilitando a observação. O tempo total despendido em cada atividade foi calculado multiplicando-se o número total de observações por 30, intervalo utilizado para a observação dos mesmos. Para o monitoramento do ambiente experimental, foram utilizados termohigrômetro e termômetro de globo negro, termômetro de bulbo seco e termômetro de bulbo úmido para medir e registrar a temperatura ambiente (Ta), umidade relativa do ar (UR), temperatura de globo negro (TGN) e temperatura do ponto de orvalho (Tpo) e determinar o índice de temperatura do globo negro e umidade (ITGU = TGN+ 0,36*(Tpo) + 41,5), segundo recomendações de Buffington et al. (1981). Os termômetros foram mantidos na pastagem em área exposta a radiação solar direta, na área de descanso coberta com sombrite e na sala de ordenha. Durante o período de colheita, o ambiente foi monitoramento a cada hora, durante 12 horas 52 consecutivas, com início às 06:00 h e término às 18:00 h. A partir dos dados, foram calculados os índices de conforto térmico: Índice de temperatura e umidade foi calculado segundo metodologia proposta por Baeta & Sousa (1997): (ITU=Ta+0,36Tpo+41,2). O ponto de orvalho foi calculado pela fórmula (TPO =8√UR/100*[112+ (0,9*T)]+ (0,1*T)-112). As respostas fisiológicas dos animais foram avaliadas por intermédio dos seguintes parâmetros: frequência respiratória (FR), freqüência cardíaca (FC) e temperatura retal (TR). Foi tomada a frequência respiratória pelos movimentos dos flancos por minuto, a frequência cardíaca foi obtida com o auxílio de um estetoscópio posicionado diretamente na região torácica esquerda, contando-se o número de movimentos, ambos os parâmetros foram aferidos com o auxílio de um cronômetro por período de 30 segundos e o resultado multiplicado por dois para obtenção em minutos. A temperatura retal foi aferida por meio de termômetro clínico digital. Os dados obtidos para o comportamento ingestivo e bioclimatológico foram submetidos à análise de variância e quando significativos as médias foram comparadas pelo teste Tukey utilizando um nível de significância de 5%. 53 RESULTADOS E DISCUSSÃO A inclusão das tortas de amendoim, girassol e dendê oriundas da produção de biodiesel em substituição ao farelo de soja na suplementação de vacas em lactação, não influenciou (P>0,05) os tempos despendidos em alimentação, ruminação, ócio como também os consumos de MS e FDN (Tabela 3). Tabela 3. Médias e coeficientes de variação (CV) para variáveis comportamentais diurnas, consumo de matéria seca (CMS) e consumo de fibra em detergente neutro (CFDN) em vacas mestiças suplementadas em pastejo Variável Pastejo (min/dia) Ruminação (min/dia) Ócio (min/dia) CMS (g/dia) CFDN (g/dia) Sem torta adicional 425,63 121,88 52,50 14.410 8.780 Suplemento Torta Torta amendoim girassol 435,00 423,75 103,13 121,88 61,88 54,38 14.180 14.640 8.620 8.990 Torta dendê 420,00 118,13 61,88 13.480 9.030 CV (%) 11,18 31,32 63,17 12,60 14,17 Médias nas linhas seguidas por letras iguais não diferem (P>0,05) estatisticamente pelo teste Tukey Os valores de tempo médio despendido em pastejo obtidos nos animais deste estudo (Tabela 3), encontram-se dentro da amplitude normal de tempo de pastejo 420 a 600 minutos/dia, sugerida por Hodgson (1990) citado por Moreno et al. (2008). Os animais despenderam cerca de 70% do tempo de observação na atividade de pastejo no período diurno (Figura 1), estes resultados corroboram aqueles obtidos por Borja et al. (2009) que registraram taxa de pastejo média de 71,7 % em vacas mestiças Holandês x Zebu recebendo quatro tipos de concentrado, contendo níveis: 0; 1,5; 3,0; e 4,5% de óleo de Licurí na matéria seca, não sendo observado diferença entre os tratamentos experimentais para esta variável segundo os autores. A ausência de significância para esta variável pode ser explicada devido consumo de matéria seca total (Tabela 3) não ter apresentado diferença (P>0,05) entre os tratamentos experimentais. 54 Sem torta adicional Torta de amendoim Torta de girassol Torta de dendê Figura 1. Respostas comportamentais de pastejo, ruminação e ócio por vacas mestiças suplementadas em pastejo Para o tempo médio despendido em na atividade de ruminação observou-se variação de 103,13 a 121,88 minutos nesta atividade, representando 19,38 % do tempo total de observação no período diurno. Os resultados encontrados foram semelhantes aos relatados por Carlotto et al. (2010) onde os tempos médios de ruminação variaram de 92 a 124 minutos no período diurno e não diferiram entre os suplementos testados. Acredita-se que esses valores foram baixos porque a atividade de ruminação é realizada, em sua maior parte, no período noturno. Este comportamento foi observado por Zanine et al. (2009) relatando que, os maiores tempos de ruminação ocorreram no início e no final da noite nos períodos mais frescos do dia, período em que os animais não foram avaliados neste estudo. Essa característica se justifica por uma peculiaridade da espécie bovina, que, durante a noite, procura se proteger da predação sem comprometer a ruminação (Church, 1988; Zanine et al., 2007). Os tempos de ócio registrados neste estudo, apresentaram uma amplitude de 52,50 a 61,88 minutos/dia (Tabela 3) representando 9,6 % do tempo total de observação do período diurno. Resultados próximos aos deste experimento foram descritos por Borja et al. (2009) que relataram percentagem média diária de ócio de 11,2 % no período diurno, da mesma forma Carlotto et al. (2010) que observaram uma amplitude para o tempo de ócio de 55 a 74 minutos/dia. É possível que nas 55 condições deste estudo esta variável tenha sido influenciada pelo maior tempo despendido para a atividade de pastejo diurno pelos animais. A análise de variância mostrou não haver efeito significativo (P>0,05) da inclusão de co-produtos da produção de biodiesel, na forma de torta, em substituição ao farelo de soja em suplementos sobre o consumo em g MS/dia e g FDN/dia. Os valores médios das variáveis climáticas e dos índices de conforto térmico obtidos durante os períodos experimentais encontram-se na Tabela 4. Tabela 4. Valores médios de temperatura do ambiente, temperatura de globo negro, umidade relativa do ar, temperatura de ponto de orvalho, índice de temperatura do globo e umidade, índice de temperatura e umidade nos períodos experimentais Período Variável I II III IV Temperatura do ambiente (ºC) 25,21 24,44 26,22 23,28 Temperatura do globo negro (ºC) 30,84 27,29 31,59 29,04 Umidade relativa do ar (%) 71,21 81,08 77,46 82,54 Temperatura do ponto de orvalho (ºC) 19,12 20,62 21,62 20,85 Índice de temperatura globo e 79,02 76,00 80,65 77,83 umidade Índice de temperatura e umidade 73,30 73,07 75,21 72,99 A freqüência respiratória média variou entre 28,05 e 29,84 mov./min (Tabela 5) sendo um indicativo que nas condições deste experimento vacas mestiças Holandês x Zebu suplementadas com diferentes co-produtos oriundos da produção de biodiesel mantiveram-se em homeotermia de acordo com Hahn et al. (1997), citado por Gaughan et al. (1999), onde frequência respiratória de 20 a 60 mov/min. é indicativo de condições de termoneutralidade e de 80 a 120 mov/min., de que os animais estão sob estresse moderado, mas, quando a freqüência respiratória ultrapassa 120 mov/min., demonstra que os bovinos estão sob carga excessiva de calor. Observou-se médias superiores para a frequência respiratória no turno da tarde em relação ao turno da manhã (Tabela 6), entretanto, ambos valores são considerados normais indicando ausência de estresse. 56 Tabela 5. Médias e coeficientes de variação (CV) para freqüência respiratória (mov./min), freqüência cardíaca (bat./min) e temperatura retal (ºC) em vacas mestiças suplementadas em pastejo Suplemento Sem torta Torta de Torta de Torta de adicional amendoim girassol dendê Frequência respiratória 29,84 a 28,53 ab 28,43 ab 28,05 b 8,33 Frequência cardíaca 73,56 a 72,81 ab 72,25 ab 70,03 b 5,17 Temperatura retal 38,17 ab 38,24 a 38,18 ab 38,09 b 0,52 Variável CV (%) Médias nas linhas seguidas por letras iguais não diferem (P>0,05) estatisticamente pelo teste Tukey A freqüência cardíaca dos animais nesta pesquisa permaneceu dentro da faixa fisiológica de referência, mesmo sendo observado variação entre os tratamentos experimentais avaliados. De acordo com Detweiler (1996) a frequência cardíaca varia entre 48 a 80 bat./min em bovinos. Também verificou-se efeito de turno (P<0,05) para frequência cardíaca que apresentou médias superiores no turno da tarde em relação ao turno da manhã. Tabela 6. Manhã Tarde Manhã Tarde Manhã Tarde Médias para freqüência respiratória (mov./min), freqüência cardíaca (mov./min) e temperatura retal (ºC) nos turnos manhã e tarde em vacas mestiças suplementadas em pastejo Frequência respiratória (mov./min) 26,53 B 30,91 A Frequência cardíaca (mov./min) 70,81B 73,52 A Temperatura retal ºC 37,87 B 38,48 A Médias nas colunas seguidas por letras iguais não diferem (P>0,05) estatisticamente pelo teste Tukey As médias de temperatura retal obtidas neste estudo foram semelhantes às consideradas normais por Ferreira, (2005) entre 37,5 a 39,5ºC. A temperatura retal foi mais elevada no turno da tarde em relação ao da manhã, provavelmente, devido ao aumento da carga térmica adicional recebida da radiação solar, resultando em um aumento da quantidade de calor interno que foi mais intenso à tarde, como pode ser observado na (Tabela 6), entretanto, de acordo com estes resultados verificou-se que 57 esta variável não afetou a homeotermia das vacas, indicando ausência de estresse por calor entre os diferentes tratamentos experimentais. O aumento da temperatura retal reflete o acúmulo de calor no organismo animal, o qual é resultante do excesso de calor recebido do ambiente, somado à produção interna de calor durante o dia, e da incapacidade dos mecanismos termorreguladores em eliminar este excesso de calor (Baêta et al., 1987). Os dados obtidos no presente trabalho mostram-se relevantes e de suma importância, pois, apesar da temperatura de globo negro e o índice de temperatura e umidade indicarem situação de estresse por calor, a temperatura retal e também a freqüência respiratória das vacas mantiveram em níveis que indicam conforto térmico, comprovando que vacas mestiças apresentam maior adaptabilidade as condições adversas de climas quentes, quando comparadas com vacas da raça holandês. Vale ressaltar, que o estresse por calor reduz significativamente a ingestão de matéria seca, devido em parte, a taxa metabólica diminuída, que resulta em sinais de “feedback”, indicando menores exigências de energia, ou ainda podem evitar comer e irem procurar sombra, ficando abrigados nestes locais. 58 CONCLUSÃO As tortas de amendoim, girassol e dendê oriundas da produção de biodiesel podem substituir o farelo de soja em suplementos para vacas em lactação mantidas em pastejo pois não influenciam o comportamento ingestivo diurno, como também, mantém os parâmetros fisiológicos dos animais dentro da normalidade. 59 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAÊTA, F.C. et al. Equivalent temperature index at temperatures above the thermoneutral for lactating cows. Transactions of the ASAE, 1987, p.1-21. BAÊTA, F.C.; SOUZA, C.F. Ambiência em edificações rurais: conforto animal. Viçosa, MG: Universidade Federal de Viçosa, 1997. 246p BORJA, M. S; GARCEZ NETO, A. F.; OLIVEIRA, R. et al. 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Comportamento ingestivo de vacas Girolandas em pastejo de Brachiaria brizantha e Coast-cross. Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal, v.10, n.1, p.85-95, 2009. 62 Capítulo IV ______________________________________________________ PRODUÇÃO, COMPOSIÇÃO, PERFIL DE ÁCIDOS GRAXOS E ECONOMICIDADE DA PRODUÇÃO DO LEITE DE VACAS EM PASTEJO SUPLEMENTADO COM CO-PRODUTOS ORIUNDOS DA PRODUÇÃO DE BIODIESEL 63 Produção, composição, perfil de ácidos graxos e economicidade da produção do leite de vacas em pastejo suplementadas com co-produtos oriundos da produção de biodiesel RESUMO Objetivou-se avaliar o uso das tortas de amendoim, girassol e dendê, em substituição ao farelo de soja em suplementos para vacas em lactação em pastejo sobre a produção, composição química, perfil de ácidos graxos e a economicidade da produção de leite em vacas lactantes mantidas sob pastejo. Foram utilizadas 16 vacas em lactação, mestiças Holandês x Zebu, mantidas em pastagem de Panicum maximum cv. Tanzânia em uma área experimental de 8 ha dividida em 10 piquetes de 0,8 ha cada. O experimento foi constituído por quatro períodos, com duração de 15 dias cada, sendo os 11 primeiros para adaptação as dietas experimentais e os demais para colheita de dados. As vacas foram distribuídas em quatro quadrados latinos 4x4. Os tratamentos experimentais foram caracterizados pela participação de diferentes tortas, oriundas da produção de biodiesel, em substituição ao farelo de soja no concentrado, sendo um testemunha (sem torta adicional) e os demais com a inclusão das tortas de amendoim, girassol e dendê. O consumo de nutrientes do pasto de Panicum maximum cv. Tanzânia não variou entre os tratamentos experimentais. As vacas foram ordenhadas manualmente duas vezes ao dia 6:00 e 16:00 horas para o registro da produção de leite. Entre o 11º e 15º dia de cada período experimental, foram avaliadas as produções de leite e coletadas amostras proporcionais às produções obtidas nas ordenhas da manhã e da tarde. Os ésteres metílicos dos ácidos graxos foram separados e quantificados em cromatógrafo a gás (CG-MASTER, Shimadzu, Brasil). A substituição total do farelo de soja por co-produtos da produção de biodiesel não influenciou a produção diária de leite em kg/dia sendo observado o mesmo comportamento quando essa produção foi corrigida para 4 % de gordura. As médias de produção de leite/dia obtidas variaram de 7,73 a 8,33 Kg/dia. Não houve efeito dos suplementos sobre a concentração dos ácidos graxos, capróico (C6:0) e caprílico (C8:0), apresentando médias de 2,19 e 1,61% respectivamente. As diferentes tortas utilizada nos suplementos não influenciaram a concentração dos ácidos graxos C14:0 e C16:0. Os suplementos com torta de girassol e torta de dendê mostraram-se eficientes em melhorar as propriedades nutricionais da gordura do leite, pois observou-se aumento na concentração de ácidos graxos insaturados e contribuíram para que as relações entre os ácidos graxos insaturados/saturados fossem mais favoráveis. Os custos com alimentação/animal/dia e total (60 dias) foram menores no suplemento com torta de dendê em sua composição, seguido daqueles com torta de girassol, torta de amendoim e sem torta adicional. As tortas de amendoim, girassol e dendê oriundas da produção de biodiesel podem substituir o farelo de soja em suplementos para vacas em lactação mantidas em pastejo. Entre as tortas estudadas, a que apresenta a melhor viabilidade econômica é a torta de dendê. A substituição total do farelo de soja pelas tortas de girassol e de dendê em suplementos para vacas em lactação proporcionam menores concentrações de ácidos graxos saturados e acréscimo na proporção de ácidos graxos insaturados. Caso haja disponibilidade na região, recomenda-se como alternativa alimentar a utilização das tortas de amendoim, de girassol e de dendê em substituição ao farelo de soja na suplementação de vacas lactantes. Palavras-chave: Alimentação alternativa, bovinocultura leiteira, fontes de proteína, nutrição de ruminantes, perfil lipídico, suplementação 64 Production, composition, fatty acids profile and economical analysis of the milk production of the cow’s milk in grazing system supplemented with by products of biodiesel industry ABSTRACT This study aims to evaluate the use of peanut, sunflower and palm kernel pies, replacing the soybean bran in supplements for grazing lactating cows on the production, chemical composition, fat acids profile and the economy of the milk production of lactating cows kept under grazing system. It has been used 16 lactating cows, crossbred Holstein x Zebu, kept in pasture of Panicum maximum cv. Tanzânia in an experimental area of 8 ha. divided into 10 pickets of 0,8 ha. each. The experiment has been made by four periods, with 15 days each, being the first eleven for adaptation to experimental diets and the others for data collection. The cows have been distributed in four latin squares 4 x 4. The experimental treatments have been characterized by using different pies, from the biodiesel production, replacing the soybean bran in the concentrate, being one witness (without additional pie) and the others including the peanut, sunflower and palm kernel pies. The consumption of nutrients from pasture of Panicum maximum cv. Tanzânia did not vary among the experimental treatments. The cows have been milked manually twice a day 06:00 and AM and 04:00 PM for registering the milk production. Between 11° and 15° of each experimental period, it has been evaluated the milk production and collected samples proportional to the productions achieved in the milking early in the morning and in the afternoon. The methyl esters of the fat acids have been separated and quantified in a gas chromatograph (CG-MASTER, Shimadzu, Brazil). The total substitution of the soybean bran by the by-products of biodiesel production have not influenced the daily milk production in Kg/day being observed the same behavior when this production was corrected for 4% of fat. The averages of milk production/day gotten varied from 7.73 to 8.33 Kg/day. There was not any effect of the supplements on the concentration of the fat acids, caproic (C6:0) and caprylic (C8:0), showing averages of 2.19 and 1.61% respectively. The different pies used in the supplements have not influenced the fat acids concentration C14:0 and C16:0. The supplements with sunflower and palm pies are efficient to improve the nutritional properties of the fat in the milk, because it has been observed an increase in the unsaturated fat acids concentration and have contributed in order to get a good relation between saturated and unsaturated fat acids. The costs with feeding/animal/day and total (60 days) were lower in the supplement with palm pie in its composition, followed by those with sunflower pie, peanut pie and without additional pie. The peanut, sunflower and palm pies from the biodiesel production may replace the soybean bran in supplements for lactating cows kept under grazing system. Among the studied pies, the one which shows the best economic viability is the palm kernel pie. The total substitution of the soybean bran by the sunflower and palm kernel pies in supplements for lactating cows have provided lower concentrations of saturated fat acids and addition in the proportion of unsaturated fat acids. If there is availability in the region, it has been recommended as a food alternative the use of peanut, sunflower and palm kernel pies instead of the soybean bran in the supplementation of lactating cows. Key words: alternative food, dairy cattle, protein sources, ruminant nutrition, lipid profile, supplementation. 65 INTRODUÇÃO Na maioria das fazendas de leite no Brasil, a produção de alimento volumoso em quantidade e qualidade adequadas para suprir as exigências de vacas de leite durante todo o ano ainda é o principal fator limitante para a obtenção de índices de eficiência técnica, econômica e produtiva satisfatórios. Em diversas situações, alimentos suplementares são necessários para se obter níveis adequados de produtividade. Não é recente a intenção de alterar a composição do leite, principalmente em relação à gordura. A perspectiva de manipular a gordura do leite visa atender à demanda de um mercado consumidor cada vez mais exigente em relação ao consumo de determinadas gorduras saturadas, em razão de seus efeitos deletérios sobre a saúde humana (Eifert et al., 2006). A tendência atual tem sido a demanda crescente por alimentos saudáveis, com baixos teores de gordura saturada, sem o comprometimento das características organolépticas e tempo de prateleira. Tradicionalmente, os ácidos graxos saturados da gordura do leite têm causado preocupação entre os especialistas da saúde humana, embora recentemente a gordura de leite vem ganhando apreciação como um alimento funcional devido ao potencial promotor de saúde devido a presença de alguns ácidos graxos especificamente em produtos oriundos de ruminantes (Harvatine et al., 2008). Considerando o incentivo governamental para a produção de biodiesel e que há grande potencial de produção deste combustível nas diversas regiões do Brasil torna-se necessário criar alternativa viável para destinação destes co-produtos gerados no processo de obtenção. As tortas de oleaginosas, oriundas da produção do biodiesel são uma alternativa na alimentação animal, podendo substituir fontes suplementares de alta qualidade nutricional como o milho e o farelo de soja, reduzindo os custos com a alimentação animal. O conhecimento sobre a utilização das tortas de dendê (Elaeais guineensis), amendoim (Arachis hypogaea) e girassol (Helianthus annuus) nas dietas de vacas lactantes e seu efeito no perfil de ácidos graxos do leite ainda tem sido pouco estudado. Ademais, há grande carência de informações sobre alimentos alternativos típicos da região que apresentam potencial para serem empregados na composição 66 dos suplementos, objetivando o atendimento das exigências de vacas leiteiras mantidas em pastagens. Objetivou-se com o presente estudo avaliar o efeito das tortas de amendoim, girassol e dendê, em substituição ao farelo de soja em suplementos para vacas em lactação em pastejo sobre a produção, composição química, perfil de ácidos graxos e a economicidade da produção de leite em vacas lactantes mantidas sob pastejo. 67 MATERIAL E MÉTODOS O presente trabalho foi conduzido na Fazenda Experimental da Universidade Federal da Bahia (12° 23’ 57.51” S, 38° 52’ 44.66” W), no município de São Gonçalo dos Campos - BA, localizada a 108 km de Salvador, situada na mesorregião Centro-Norte Baiano e microrregião de Feira de Santana (Recôncavo Baiano), no período de agosto a outubro de 2008. Utilizou-se 16 vacas mestiças Holandês x Zebu com peso vivo médio de 544 kg ± 57 kg, para a seleção dos animais experimentais, alguns critérios foram seguidos: 1) serem pluríparas, 2) dias em lactação entre o 45º e o 90º, 3) estar a mais de 90 dias do próximo parto, 4) bom estado de saúde, 5) produção média de 8 litros de leite/dia ± 1,4 litros de leite/dia. As vacas foram distribuídas em quatro quadrados latinos 4x4. Cada período experimental teve duração de 15 dias, sendo 11 dias de adaptação e 4 dias de observação e colheita. Os tratamentos experimentais consistiram quatro diferentes suplementos, sendo o farelo de soja como testemunha, e os outros três, tendo cada um, em sua composição, uma das tortas em estudo: tortas de dendê (Elaeais guineensis), amendoim (Arachis hypogaea) e girassol (Helianthus annuus). Os suplementos foram formulados para atender as recomendações dietéticas dos animais de acordo com o NRC (2001). Foram ofertados 3 kg de suplemento por animal por dia em quantidades iguais no horário das duas ordenhas (1,5 kg manhã e 1,5 kg tarde). A água foi fornecida à vontade. Na Tabela 1 encontra-se a composição bromatológica dos ingredientes dos suplementos e do pasto de capim Tanzânia, enquanto na Tabela 2 encontram-se apresentadas as proporções dos ingredientes e a composição bomatológica dos suplementos 68 Tabela 1. Composição bromatológica dos ingredientes dos suplementos concentrados e do pasto de capim tanzânia Ingredientes Item Milho Farelo de Torta de Torta de Torta de Capim moído soja amendoim girassol dendê Tanzânia MS (%) 95,42 95,77 95,83 97,18 96,69 24,92 1 MM 1,21 5,98 4,75 5,45 5,58 7,97 PB1 9,00 46,74 44,57 24,37 13,15 7,77 EE1 3,22 2,22 8,12 5,80 11,18 0,96 1 FDN 18,90 10,50 14,29 33,85 69,63 71,25 FDA1 6,75 9,50 12,29 27,21 40,12 44,88 1 CNF 70,14 34,56 28,25 30,54 0,46 14,05 Hemicelulose1 12,15 0,99 2,00 6,64 29,51 26,37 1 Lignina 1,32 3,48 5,61 13,46 28,91 8,35 CT 1 86,57 45,06 42,56 64,38 70,09 83,30 1 Matéria mineral (MM), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), carboidratos não fibrosos (CNF), Hemicelulose, Lignina e carboidratos totais (CT), expressos em % MS Tabela 2. Proporção dos ingredientes e composição bromatológica dos suplementos contendo tortas oriundas da produção de biodiesel para vacas em lactação Suplementos Ingrediente Sem torta Torta de Torta de Torta de (% MS) adicional amendoim girassol Dendê Milho tritutado 82,06 84,07 77,66 46,75 Farelo de soja 10,34 Torta de 8,34 amendoim Torta de girassol 15,05 Torta de dendê 45,50 Mistura mineral 1 4,06 4,04 3,73 4,18 Ureia: SA 2 3,55 3,55 3,57 3,57 Item Composição Bromatológica MS (%) 95,81 95,80 96,03 96,35 3 MM 5,67 5,45 5,49 7,28 PB 3 20,91 20,29 19,72 19,25 EE 3 2,87 3,38 3,37 6,59 FDN 3 16,60 17,08 19,77 40,51 FDA 3 5,90 6,70 9,34 21,41 3 CNF 53,95 53,80 51,65 26,37 Hemicelulose 3 10,07 10,38 10,44 6,59 3 Lignina 1,44 1,58 3,05 13,77 CT 3 70,55 70,88 71,40 66,88 1 Níveis de garantia: cálcio - 18 g; fósforo - 81 g; sódio - 104 g; magnésio - 15,3 g; enxofre - 9,6 g; iodo - 49 mg; ferro - 517 mg; selênio - 27 mg; cobalto - 100 mg; manganês - 1.000 mg; flúor - 810 mg; cobre - 1.600 mg; e zinco - 6.000 mg. 2 Ureia e sulfato de amônia na proporção de 9:1 3 Matéria mineral (MM), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), carboidratos não fibrosos (CNF), Hemicelulose, Lignina e carboidratos totais (CT), expressos em % MS. 69 As vacas foram mantidas em uma área de pastagem, com 8 ha, composta de Panicum maximum cv. Tanzânia, dividida em 10 piquetes de 0,8 hectares, cada, delimitados por cerca elétrica. Todos os piquetes tinham ligação a uma área de descanso com sombrite, cocho para o fornecimento de mistura mineral e bebedouro. O método de pastejo adotado foi lotação rotativa, com três dias de ocupação e 27 dias de descanso. As vacas foram ordenhadas manualmente duas vezes ao dia 6:00 e 16:00 horas para o registro da produção de leite. Entre o 11º e 15º dia de cada período experimental, foram avaliadas as produções de leite e coletadas amostras (de 150 mL) proporcionais às produções obtidas nas ordenhas da manhã e da tarde, sendo armazenadas em recipientes contendo conservante (2-bromo-2-nitropropano-1-3diol) e enviadas a Clínica do Leite (ESALQ/USP), para análise das concentrações de proteína, gordura, lactose e cálculo extrato seco total, através do analisador IDF 141C (2000) infravermelho, Clinica do Leite ESALQ/USP. Para avaliar a produção dos animais realizou-se a pesagem do leite ordenhado pela manhã e a tarde, por animal, e somado para determinação da produção diária. A produção de leite foi corrigida para 4% de gordura pela equação PLC = 0,4 x (kg de leite) + 15 x (kg de leite x % de gordura) /100 (NRC, 1989). A extração e esterificação dos ácidos graxos, foram realizadas no Laboratório de Bromatologia do Setor de Nutrição do Campus I da Universidade Federal da Paraíba, em João Pessoa, PB, as amostras foram homogeneizadas com bastões de vidro e retiradas alíquotas de 100 mL de leite que foram submetidas á centrifugação por 5 minutos para separação da gordura dos demais nutrientes. Destas amostras foram obtidas alíquotas de 2 g para os processos de extração, saponificação e esterificação (Folch et al., 1957). Em seguida, foi realizada a metilação de acordo com metodologia de Hartman & Lago (1973) para obtenção dos ésteres produzidos que foram acondicionados em recipientes de vidro (10 mL) identificados e fechados para serem encaminhados para análise de cromatografia gasosa. As análises para identificação dos ácidos graxos foram realizadas na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) – PE, em Recife. Os ésteres metílicos dos ácidos graxos foram separados e quantificados em cromatógrafo a gás (CGMASTER, Shimadzu, Brasil), equipado com coluna capilar de sílica fundida (MEGABORE, J & W Scientific, Estados Unidos), fase estacionária polietilenoglicol, com dimensões de 30 m de comprimento, 0,53 mm de diâmetro 70 interno e 0,25 mm de espessura de filme, utilizando o hidrogênio como gás de arraste, à vazão de 5 mL/min. Amostras de 1 µL de ésteres metílicos foram introduzidas em injetor do tipo split/splitless a temperatura de 200 °C. Foram empregadas as seguintes condições cromatográficas: temperatura inicial da coluna de 80 °C, permanecendo por 3 minutos, seguida de uma variação de temperatura de 10 °C/min até 175 °C na primeira rampa, onde permaneceu por dez minutos. Procedeuse um novo aumento na temperatura da coluna utilizando-se uma razão de 10 °C/min até 200º C, permanecendo por cinco minutos, totalizando 30 minutos de análise. A temperatura do detector de ionização de chama foi mantida em 220 ºC. Os cromatogramas com dados sobre os tempos de retenção e percentagens de área dos ésteres metílicos de ácidos graxos foram registrados em software tipo Peaksimple (ARI Instruments – USA). A identificação e quantificação dos ácidos graxos foram realizadas de acordo com Norma Européia EN 14103:2001. Foram calculadas, as proporções entre o total de ácidos graxos insaturados e saturados. A partir do perfil de ácidos graxos, foi calculado o índice de aterogenicidade (IA), conforme proposto por Ulbricht & Southgate (1991), para relacionar o perfil de AG com riscos de distúrbios cardiovasculares, por intermédio da equação: IA = [C12:0 + (C14:0 x 4) + C16:0] / (Total de ácidos graxos insaturados) Em que: C12 = porcentagem do ácido láurico em relação aos ácidos graxos totais (AGT); C14 = porcentagem do ácido mirístico em relação aos AGT; C16 = porcentagem do palmítico em relação aos AGT. Os custos com suplementação foram contabilizados considerando os preços de cada ingrediente no mercado do Recôncavo Baiano, no segundo semestre de 2008. Foi estabelecido o preço por kg de suplemento, posteriormente esses dados foram usados para avaliar os custos com a suplementação por animal por dia. Contudo, considerando que houve sobras, foi proposto o cálculo com base no suplemento realmente consumido pelos animais. O lucro da atividade com a comercialização do leite foi calculado descontando-se o custo com a suplementação concentrada durante o período experimental para cada tratamento de modo a determinar o tratamento mais eficiente do ponto de vista econômico. O delineamento experimental teve quatro quadrados latinos simultâneos (4x4) para a produção e composição do leite, e, três quadrados latinos simultâneos 71 para a quantificação dos ácidos graxos do leite, os resultados foram submetidos à análise de variância, considerando um nível de significância de 5%, pelo teste Tukey. Na análise dos custos com a suplementação, não foram utilizadas comparações estatísticas. 72 RESULTADOS E DISCUSSÃO A substituição total do farelo de soja por co-produtos da produção de biodiesel não influenciou a produção diária de leite em kg/dia (P>0,05) sendo observado o mesmo comportamento quando essa produção foi corrigida para 4% de gordura (Tabela 3). As médias de produção de leite/dia obtidas neste trabalho apresentaram variação de 7,73 a 8,33 Kg/dia, diferindo dos valores observados por Gomide et al. (2001), ao estudar o consumo e a produção de leite de vacas mestiças em pasto de brachiaria decumbens manejada sob duas ofertas diárias de forragem encontrou médias entre 10,1 kg/vaca e 11,6 kg/vaca em dois ciclos de pastejo estudados, recebendo 2,0 kg/cabeça dia de suplementação concentrada. Pimentel et al. (2010) avaliando a produção de leite de vacas alimentadas com diferentes níveis de torta de girassol na ração observaram efeito linear crescente com o aumento dos níveis de inclusão da torta de girassol em substituição ao farelo de soja. Tabela 3 - Médias e coeficientes de variação (CV) para produção de leite (PL), produção de leite corrigida (PLCG) para 4,0 % de gordura, e teores de gordura (G), proteína bruta (PB), lactose, extrato seco total (EST) e extrato seco desengordurado (ESD) em função dos suplementos experimentais Suplemento Item CV (%) Sem torta Torta Torta Torta adicional amendoim girassol dendê PL (kg/d) 8,10 8,33 8,04 7,73 22,83 PLCG (4,0%) 6,65 6,55 6,26 6,35 21,73 G (%) 2,85 2,66 2,65 2,81 27,32 PB (%) 3,26 3,17 3,24 3,16 9,02 Lactose (%) 4,73 4,78 4,77 4,73 5,84 EST(%) 11,81 11,59 11,65 11,69 7,09 ESD 8,96 8,93 9,01 8,88 4,19 Médias na mesma linha seguidas de letras distintas diferem entre si (P<0,05). Os resultados obtidos não apresentaram diferenças (P>0,05) quanto ao uso dos suplementos contendo diferentes tortas oriundas da produção de biodiesel em comparação com o suplemento testemunha a base de farelo de soja, sobre os teores de gordura (G), proteína bruta (PB), lactose, extrato seco total (EST) e extrato seco desengordurado (ESD). Faria et al. (2010) avaliando o efeito de níveis de torta de dendê (0,0; 25,0; 50,0 e 75,0 %) no suplemento concentrado de vacas em lactação a pasto, sobre a composição química do leite, não verificou efeito sobre os percentuais médios da composição química do leite de vacas cruzadas Holandês x Gir com o uso 73 do suplemento concentrado contendo níveis de torta de dendê em comparação com o suplemento controle a base de farelo de soja, demonstrando que a inclusão da torta de dendê na dieta de vacas leiteiras não afetou a composição química do leite. Corroborando desta forma com os dados encontrados neste estudo. Assim, pressupõe-se que a inclusão das tortas oriundas da produção de biodiesel na dieta de vacas leiteiras não afetam a composição química do leite de vacas mantidas em pastagem. De acordo com Barbosa et al. (2010) durante o período de lactação das vacas, o constituinte que possui maior variabilidade é a gordura e pode ser considerado um componente negativamente correlacionado com a produção de leite, que aumenta gradualmente seu teor com o avanço da lactação. O teor de gordura do leite não diferiu entre os suplementos, apresentando valor médio de 2,74%. O teor de gordura do leite depende principalmente do teor de fibra da dieta (Oliveira & Fonseca, 1999). A partir das fibras da dieta é produzido acetato que é usado na síntese da gordura do leite pela glândula mamária (Teixeira, 1992). Assim, pode-se pressupor que suplementos utilizados nos tratamentos não diferiram quanto a proporção de ácidos graxos voláteis (acetatos) produzidos no rúmen, desta forma, a porcentagem de gordura no leite foram semelhantes entre os tratamentos. É importante ressaltar que os níveis de gordura do leite encontram-se dentro abaixo dos limites estabelecidos quando comparados com valores normais de gordura no leite de (3,4 a 3,8%) para o gado holandês citados por (González et al., 2001). Os baixos teores de gordura no leite observados nos diferentes os tratamentos experimentais podem ser justificados devido a presença do bezerro ao pé da vaca antes da ordenha para fazer o apojo e após a ordenha até as vacas serem levadas para o pasto. No início da ordenha, o leite é sempre mais ralo, aumentando o teor de gordura à medida que se aproxima do final. Isso ocorre porque a gordura, por ser mais leve, tende a ficar na superfície do úbere, ou ainda agregar-se nos alvéolos, o que retarda a sua passagem para os tetos. Então, se o bezerro mama no final, ele tem acesso a um leite mais rico em gordura. Devido à característica racial dos animais utilizados neste experimento (vacas mestiças Holandês x Zebu) existe a possibilidade da ocorrência deste comportamento. Segundo NRC, (2001) a concentração de PB no leite de vacas pode variar entre 3,11 e 3,65% neste estudo, a porcentagem de proteína no leite variou de 3,16 a 74 3,26%, porém não apresentou diferença (P>0,05) entre os suplementos. O resultado obtido neste estudo é considerado positivo, pois o leite manteve-se dentro das especificações do padrão físico-químico. Parece haver uma relação positiva entre a produção de ácido propiônico no rúmen e o teor de proteína no leite, a população de microrganismos que têm o ácido propiônico como principal produto final da fermentação (principalmente os que digerem amido) devem possuir perfil de aminoácidos mais adequado à síntese da proteína do leite (Gonzaléz et al., 2001). Quando há substituição de carboidratos disponíveis por lipídios no rúmen, os lipídios têm efeito tóxico sobre os microrganismos do rúmen, causando redução no crescimento microbiano e efeito sobre o transporte de aminoácidos da glândula mamária. Assim, o conteúdo de proteína do leite pode diminuir com a deficiência de um ou mais aminoácidos (Santos et al., 2001). A lactose apresentou média de 4,75%, não diferindo (P>0,05) entre os tratamentos, situando-se dentro dos limites do NRC (2001), os quais variam entre 3,84 e 5,66%. Os níveis de lactose no leite dependem principalmente da glicose que é produzida no fígado a partir do ácido propiônico produzido no rúmen. Este ácido é produzido em maior proporção quando quantidades adequadas de concentrado são fornecidas aos animais (Pereira, 2000). O EST equivale ao somatório de todos os componentes do leite (gordura, proteína, lactose, vitaminas e minerais) com exceção da água, e são em grande parte, dependentes das variações nos teores de gordura do leite, da fração com maior amplitude de variação e dos teores de proteína, devido às alterações no manejo nutricional (Santos, 2000; Peres, 2001). A média para o EST entre os tratamentos foi de 11,68%, e para o ESD, que corresponde ao EST com exceção da gordura, observou-se que a média entre os tratamentos foi de 8,99%, ambas variáveis não diferiram estatisticamente (P>0,05). Os resultados das análises físico-químicas do leite encontrados neste trabalho (Tabela 2) estão dentro da faixa de valores recomendados pelo Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (BRASIL, 1980). Isso indica que o leite de vacas que façam uso de suplementos com tortas oriundas da produção do Biodiesel nestas mesmas condições não tem as características alteradas, sendo portanto considerado um leite normal dentro da legislação, podendo ser utilizado pelas indústrias de laticínios. 75 De acordo com Palmquist et al. (1993), a gordura do leite contém ácidos graxos derivados da síntese de novo pela glândula mamária (C4:0 a C14:0 mais uma porção de C16:0) e dos ácidos graxos pré-formados na saída da glândula mamária (uma porção de C16:0 e todas as cadeias mais longas de ácidos graxos), sendo os lipídios do tecido adiposo dos ruminantes geralmente mais saturados do que os lipídios do tecido dos não-ruminantes, devido à biohidrogenação ruminal dos ácidos graxos insaturados no rúmen (Drackley et al., 2000). As concentrações dos ácidos graxos saturados e de mono e poliinsaturados do leite mensurados neste experimento estão descritos na (Tabela 4). Treze ácidos graxos foram identificados e quantificados, sendo oito ácidos graxos saturados e cinco ácidos graxos insaturados (três monoinsaturados e dois poliinsaturados). Observou-se diferença (P<0,05) entre os tratamentos experimentais com relação aos ácidos graxos (C12:0, C:16:1 e C18:1). Chilliard et al. (2003), ao revisar fatores fisiológicos e nutricionais que afetam a composição de ácidos graxos do leite de cabra, relatam que os ácidos graxos do leite pertencem a três grupos: o grupo C4 ao C8, o grupo C10 ao C16, e o grupo C18. Chilliard et al. (2003) descrevem ainda que o grupo C4 ao C8 não apresenta correlacão com os outros dois grupos e que o grupo C10 ao C16 foi correlacionado negativamente ao grupo C18 dos ácidos graxos. Tabela 4 - Médias e coeficientes de variação (CV) para a composição percentual dos ácidos graxos na gordura do leite de vacas em função dos suplementos experimentais Suplemento Item Denominação Sem torta CV (%) Torta Torta Torta adicional amendoim girassol dendê C6:0 Capróico 2,44 2,43 1,89 2,00 26,22 C8:0 Caprílico 1,72 1,73 1,61 1,38 21,80 C12:0 Láurico 4,23 ab 4,13 b 4,01 b 5,02 a 17,76 C14:0 Mirístico 15,74 15,35 14,78 15,62 9,67 C14:1 Miristoléico 1,43 1,01 1,33 1,39 44,56 C16:0 Palmítico 39,18 38,74 39,18 36,91 5,55 C16:1 Palmitoléico 1,40 ab 0,95 c 1,33 ab 1,65 a 20,59 C17:0 Margárico 0,77 0,61 0,38 0,60 108,25 C18:0 Esteárico 8,10 9,34 7,41 8,29 26,92 C18:1 Oléico 23,98 ab 23,11 b 26,21 a 25,01 ab 9,19 C18:2 Linoléico 0,50 0,87 0,29 0,57 109,04 C18:3 Linolênico 0,52 0,75 0,52 0,55 105,28 C20:0 Aráquico 0,97 0,45 0,80 0,87 112,20 Médias na mesma linha seguidas de letras distintas diferem entre si (P<0,05). 76 Não houve efeito dos tratamentos sobre a concentração dos ácidos graxos, capróico (C6:0) e caprílico (C8:0), apresentando médias de 2,19 e 1,61%, respectivamente. Estes valores ficaram próximos dos encontrado por Pereira et al. (2010), avaliando diferentes níveis de torta de girassol sobre o perfil de ácidos graxos no leite de vacas em lactação. A concentração de ácido láurico (C12:0) apresentou-se superior no tratamento com a participação da torta de dendê, em relação aos tratamentos com torta de amendoim e torta de girassol, possivelmente, o suplemento com torta de dendê aumentou a disponibilidade de acetato e ß-hidroxibutirato, importantes precursores na síntese “de novo” que resulta, em sua grande maioria, em ácidos graxos saturados de cadeia curta e média (C4:0 – C16:0). As diferentes tortas oriundas da produção de biodiesel nos suplementos não influenciaram a concentração dos ácidos graxos C14:0 e C16:0. Entre os ácidos graxos saturados, a literatura indica fortes evidências quanto à promoção de efeitos hipercolesterolêmicos (Murphy, 2001), estando associados às lipoproteínas de baixa densidade (LDL), reconhecidamente nocivas em relação ao “bom” colesterol. Esse é o caso dos C14:0 e C16:0. Pode-se atribuir a ausência de significância entre os tratamentos experimentais para a concentração de ácido mirístico (C14:0) e palmítico (C16:0), como uma característica positiva sob o ponto de vista da nutrição humana por não alterar o colesterol sanguíneo no homem. Segundo Grummer (1991) a habilidade para modificar a gordura do leite depende da eficiência pela qual os ácidos graxos são transferidos da dieta para o retículo endoplasmático liso das células secretoras onde são esterificados. Contudo, os lipídios dietéticos são alterados pelo metabolismo microbiano no rúmen (Bauman & Griinari, 2001), fazendo com que o perfil de ácidos graxos do leite em ruminantes não seja reflexo direto da composição original do alimento. A concentração do ácido esteárico (C18:0, Tabela 4) não apresentou diferença (P>0,05) entre os suplementos avaliados, possivelmente como consequência do maior consumo deste ácido graxo e da maior quantidade de AG expostos à biohidrogenação. De acordo com Hartman (1993) o ácido esteárico não está associado ao colesterol, pois, quando ele é ingerido, é metabolizado a ácido oléico. 77 Entre os ácidos graxos monoinsaturados, destaca-se o ácido oléico (C18:1) que apresentou diferença entre os suplementos, sendo que, a utilização de torta de girassol nos suplementos elevou (P<0,05) a sua concentração (C18:1), quando comparado com o suplemento com torta de amendoim de modo que o valor encontrado (26,21%) foi 12,12% superior ao obtido no suplemento com torta de amendoim (23,11%), que pode ser atribuído ao aumento das concentrações de seu precursor C18:0, quando utilizou-se torta de girassol no concentrado. Este aumento é desejável em alimentos, já que, este ácido graxo é considerado hipocolesterolêmico (Baer et al., 1996). Considerando a atividade da enzima ∆-9 desaturase na glândula mamária Chilliard et al. (2000) determinaram que 40% do ácido esteárico e do ácido vacênico (C18:1 trans 11) oriundos da biohidrogenação ruminal são convertidos em ácidos oléico (C18:1, cis 9) e ácido linoléico conjugado (CLA-C18:2, cis-9, trans-11), provavelmente os animais que receberam suplemento com torta de girassol disponibilizaram maior quantidade de precursores para a atividade da enzima ∆-9 desaturase, melhorando o perfil de AG do leite. A gordura do leite é geralmente pobre em ácido linolênico (0,7–2,5%) e em ácido de linoléico (1–4%) quando vacas são mantidas exclusivamente a pasto (Kelly et al., 1998). Este fato retrata a intensa hidrogenação ruminal. A composição lipídica das forragens de acordo com Bauman et al. (1999) consiste em grande parte de glicolipídeos e fosfolipídeos, e ácidos graxos insaturados importantes, ácido graxo linolênico (C18:3) e ácido linoléico (C18:2). Entretanto, a composição lipídica de sementes oleaginosas é predominantemente os triglicérides contendo ácido linoléico e oléico (cis-9 C18:1) como ácidos graxos predominantes. Entre os ácidos graxos poliinsaturados, destaca-se o ácido linoléico (C18:2) e linolênico (C18:3), não sendo observado diferenças estatísticas quanto a sua concentração entre os suplementos. Este efeito torna-se apreciável, uma vez que estes ácidos graxos se correlacionam a diversos benefícios à saúde humana (Lanna & Medeiros, 2000), e uma importante fonte nutricional de ômega-3 e ômega-6 sendo considerados como nutrientes essenciais. Demonstrando desta forma que as tortas oriundas da produção de biodiesel podem ser utilizadas na suplementação de vacas em lactação. Na atualidade, um dos requerimentos do consumidor é a disponibilidade de alimentos seguros, saudáveis, bem como anseia por alimentos que possam lhe 78 proporcionar melhor qualidade nutricional (Monardes, 2004), sob o ponto de vista de funcionalidade alimentar. Torna-se interessante aumentar a participação de ácidos graxos de cadeia longa, mono e poliinsaturados, na composição da gordura do leite, pois estes AG possibilitam redução da incidência de doenças coronarianas, com o aumento do colesterol de alta densidade, o HDL (Demeyer & Doreau, 1999). Os valores obtidos para as concentrações dos ácidos graxos saturados, insaturados, índice de aterogenecidade (IA) e relação insaturados / saturados (I/S) do leite de acordo com os suplementos encontram-se na Tabela 5. Não houve diferença entre os suplementos com relação à concentração de ácidos graxos saturados. Porém a concentração total de ácidos graxos insaturados apresentou diferença (P<0,05) entre os tratamentos experimentais, sendo observado que a concentração de ácidos graxos insaturados aumentou quando os animais receberam suplementos com torta de girassol como também com torta de dendê quando comparados aos animais que receberam torta de amendoim na suplementação. Portanto, nas condições deste experimento pode-se afirmar que a suplementação concentrada com a participação de torta de girassol e torta de dendê para vacas em lactação seria uma forma eficiente de melhorar as propriedades nutricionais da gordura do leite, pois promoveu aumento na concentração de ácidos graxos insaturados e contribuíram para que as relações entre os ácidos graxos insaturados/saturados fossem mais favoráveis. Tabela 5 –Totais de ácidos graxos saturados, insaturados, índice de aterogenecidade (IA) relação ácido graxo insaturado/saturado (I/S) no leite de vacas em função dos suplementos experimentais Item Saturados Insaturados IA I/S Sem torta adicional 72,15 27,83 ab 4,39 0,39 Suplemento Torta Torta amendoim girassol 72,78 70,07 26,68 b 29,69 a 4,46 3,94 0,37 0,46 Torta dendê 70,68 29,18 a 4,13 0,42 CV (%) 4,01 9,19 28,57 12,76 IA= ((C12+4*C14+C16)/ (soma dos insaturados)). Os valores médios obtidos neste estudo para o IA não apresentaram diferenças (P>0,05) entre os tratamentos experimentais, observando desta forma que a substituição total da proteína do farelo de soja por tortas oriundas da produção do 79 biodiesel nos suplementos para vacas em lactação possivelmente não altera o potencial da gordura em gerar colesterol endógeno. Os resultados encontrados neste trabalho diferem dos descritos por Santos et al. (2011) avaliando níveis de substituição do feno de capim Tifton 85 pela casca de mamona na dieta de cabras sobre a produção, composição química e perfil de ácidos graxos do leite, onde estes encontraram menor índice de aterogenicidade (IA) com o nível 100% de substituição indicando que, no que se refere ao potencial da gordura em gerar colesterol endógeno, houve melhora na qualidade com o aumento dos níveis. Os custos com a suplementação por animal por dia como também a respectiva análise econômica referente ao período experimental constam na Tabela 5. O preço por kg dos suplementos, sem torta adicional, torta de amendoim, torta de girassol e torta de dendê foram R$ 0,81; R$ 0,78; R$ 0,74 e R$ 0,64 respectivamente. Tabela 6. Avaliação dos custos e receita em função da produção de leite e consumo de suplementos oriundos da produção de biodiesel Suplemento Variável Sem torta Torta Torta Torta adicional amendoim girassol dendê Concentrado fornecido (kg/dia) 3,00 3,00 3,00 3,00 Consumo de concentrado (kg/dia) 2,86 2,88 2,91 1,95 Custo suplemento concentrado (kg) 0,81 0,78 0,74 0,64 Custo com suplementação/animal/dia (R$) 2,32 2,24 2,16 1,25 Dias suplementação 60,00 60,00 60,00 60,00 Custo com alimentação total (R$) 139,19 134,68 129,40 74,79 Produção média de leite diária (kg) 8,00 8,33 8,04 7,73 480,00 499,80 482,40 463,80 0,65 0,65 0,65 0,65 Renda bruta (R$) 312,00 324,87 313,56 301,47 Saldo (R$/animal) 172,81 190,19 184,16 226,68 Produção total (kg/animal) Preço recebido por kg de leite (R$) Os custos com alimentação/animal/dia e total (60 dias) apresentaram-se inferiores para o suplemento concentrado que teve a participação da torta de dendê em sua composição, em virtude do menor consumo, seguida daqueles com torta de girassol, torta de amendoim e sem torta adicional (Tabela 5). Justifica-se que os 80 menores custos com a suplementação com co-produtos oriundos da produção de biodiesel deve-se principalmente por estes serem alimentos ainda pouco explorados, onde seus resíduos na maioria das vezes não possuem destinação adequada e, principalmente, não competem com a alimentação humana a exemplo da soja. Por outro lado, quando esses produtos são adquiridos no período da safra, podem-se encontrar preços ainda mais competitivos. Ao considerar o preço do leite comercializado, de R$ 0,65/L, observou-se que a maior margem bruta encontrada foi obtida para as vacas que receberam suplementação com torta de dendê. Este comportamento está relacionado ao menor consumo de suplemento concentrado resultando em menor custo de alimentação/animal/dia além dos animais terem apresentado médias de produção de leite semelhante aos demais tratamentos experimentais. Estes resultados nos permite inferir que nas condições deste experimento o tratamento experimental com torta de dendê apresentou-se economicamente mais viável. Os co-produtos oriundos da produção de biodiesel não foram suficientemente pesquisados em dietas de vacas leiteiras, porém, o mais importante a ser observado é que com a substituição do farelo de soja por estes co-produtos, os custos com alimentação mantiveram-se semelhantes na produção de leite, tornandose economicamente vantajoso. 81 CONCLUSÃO As tortas de amendoim, girassol e dendê oriundas da produção de biodiesel podem substituir o farelo de soja em suplementos para vacas em lactação mantidas em pastejo. Entre as tortas estudadas, a que apresenta a melhor viabilidade econômica é a torta de dendê. A substituição total do farelo de soja pelas tortas de girassol e de dendê em suplementos para vacas em lactação proporcionam menores concentrações de ácidos graxos saturados e acréscimo na proporção de ácidos graxos insaturados. Caso haja disponibilidade na região, recomenda-se como alternativa alimentar a utilização das tortas de amendoim, de girassol e de dendê em substituição ao farelo de soja na suplementação de vacas lactantes. 82 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAER, R.J.; LENTSCH, M.R.; SCHINGOETH, D.J.; MADINSON-ANDERSON, R.J. et al. Characteristics of milk and reduced fat cheddar cheese from cows fed extruded soybeans and niacin. Journal of Dairy Science. v.9, n.7, p.1127-1136. 1996. BARBOSA, J.G.; GONZAGA NETO, S.; QUEIROGA, R.C.R.E. et al. Características físico-químicas e sensoriais do leite de vacas Sindi suplementadas em pastagem. Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal, v.11, n.2, p. 362-370, 2010. BAUMAN, D.E.; BAUMGARD, L. H.; CORL, B.A.; AND GRIINARI, J. M. Biosynthesis of conjugated linoleic acid in ruminants. Proceedings of the American Society of Animal Science, 1999. BAUMAN, D.E.; GRIINARI, J.M. Regulation and nutritional manipulation of milk fat: low-fat milk syndrome. 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