UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
PROGRAMA DE DOUTORADO INTEGRADO EM ZOOTECNIA
TORTAS DE OLEAGINOSAS ORIUNDAS DA PRODUÇÃO DE
BIODIESEL EM SUBSTITUIÇÃO AO FARELO DE SOJA NA
ALIMENTAÇÃO DE VACAS EM LACTAÇÃO EM PASTEJO
FRANCISCO HELTON SÁ DE LIMA
Zootecnista
AREIA – PARAÍBA - BRASIL
JULHO - 2011
ii
FRANCISCO HELTON SÁ DE LIMA
TORTAS DE OLEAGINOSAS ORIUNDAS DA PRODUÇÃO DE
BIODIESEL EM SUBSTITUIÇÃO AO FARELO DE SOJA NA
ALIMENTAÇÃO DE VACAS EM LACTAÇÃO EM PASTEJO
Tese apresentada ao Programa de
Doutorado Integrado em Zootecnia da
Universidade Federal da Paraíba, do qual
participam a Universidade Federal Rural de
Pernambuco e a Universidade Federal do
Ceará, como requisito para obtenção do
título de Doutor em Zootecnia.
Área de Concentração: Nutrição Animal
Comitê de Orientação:
Prof. Dr. Severino Gonzaga Neto (CCA/UFPB) – Orientador principal
Prof. Dr. Ariosvaldo Nunes de Medeiros (CCA/UFPB)
Prof. Dr. Ronaldo Lopes Oliveira (EMEV/Z - UFBA)
AREIA – PARAÍBA - BRASIL
JULHO – 2011
iii
Ficha Catalográfica Elaborada na Seção de Processos Técnicos da
Biblioteca Setorial do CCA, UFPB, Campus II, Areia – PB.
L732t
Lima, Francisco Helton Sá de.
Tortas de oleaginosas oriundas da produção de biodiesel em
substituição ao farelo de soja na alimentação de vacas em lactação em
pastejo. / Francisco Hélton Sá de Lima. - Areia: UFPB/CCA, 2011.
103 f. ; il.
Tese (Doutorado em Zootecnia) - Centro de Ciências Agrárias.
Universidade Federal da Paraíba, Areia, 2011.
Bibliografia.
Orientador: Severino Gonzaga Neto.
1. Nutrição animal 2. Torta de oleaginosa – bovino leiteiro 3.
Bovino leiteiro I. Gonzaga Neto, Severino (Orientador) II. Título.
UFPB/CCA
CDU: 636.085.2(043.2)
iv
v
À Deus!!!
Aos meus pais Aluísio e Francineide pelo incentivo, apoio e carinho nas diversas horas
desta caminhada.
À minha irmã Érica por todo carinho e incentivo.
Dedico
vi
AGRADECIMENTOS
À Deus, pelo Dom da vida e saúde por ter me concedido tantos momentos de
alegria e felicidade e ter colocado tantas pessoas boas no meu caminho as quais me
ajudaram enfrentar muitos obstáculos que surgiram durante esta longa jornada, como
também comemoraram comigo as vitórias alcançadas.
À minha Família, por estar sempre ao meu lado e sempre apoiar os meus sonhos.
À minha namorada Lydia Maria pelo amor, paciência e apoio para a conclusão
deste trabalho.
Ao Programa de Doutorado Integrado em Zootecnia da Universidade Federal da
Paraíba / Universidade Federal Rural de Pernambuco e Universidade Federal do Ceará,
pela oportunidade e apoio da realização deste curso.
À Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal da
Bahia, que proporcionou a liberação de suas instalações, funcionários e animais para
execução desse trabalho, a Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado da Bahia
(FAPESB) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq), pelo auxílio financeiro.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela
concessão da bolsa de estudos.
Ao professor Dr. Severino Gonzaga Neto, pela orientação, pelos valiosos
ensinamentos, pela amizade, confiança e exemplo de vida profissional.
Ao professor Dr. Ariosvaldo Nunes de Medeiros pela co-orientação, amizade e
ainda por todo incentivo desde a Iniciação Científica (PIBIC). Muito obrigado professor
levarei comigo seus ensinamentos.
Ao professor Dr. Ronaldo Lopes Oliveira, pela co-orientação e oportunidade de
desenvolver este trabalho, como também, pela atenção que dispensou o seu tempo para
esclarecer dúvidas e discutir possibilidades.
Aos amigos Luciano Lima, Vilson Lima e Leonardo Lima e a Dona Luzia que
me acolheram em sua casa durante minha permanência em Salvador, meu muito
obrigado, sempre serei grato a vocês.
Ao amigo Bráulio Rocha, pela amizade e pela ajuda intensa durante o período
experimental e de análises laboratoriais.
Aos estagiários e amigos do LANA/UFBA Laís, Jamille, Amanda, Nivaldo,
Jéssica, Soraia, Marcelo, Sidnei, Renato, Daiane e José Júnior que auxiliaram
vii
intensamente nas atividades de condução do experimento e análises laboratoriais sempre
com muita responsabildade.
À Paulo Andrade (P.A), amigo e estagiário nota “dez” pela sua grande
contribuição no trabalho na fazenda e também pelos momentos de descontração.
Aos funcionários da Fazenda Experimental de São Gonçalo dos Campos
(UFBA) que contribuíram para a realização do experimento: Giovane, Heloisa, Dona
Joana, Seu Antônio, Igor, Nau, Jorginho, Seu Zé, Tião, Renildo, Silvio, Cheiro,
Expedito e Carlos pelas colaborações sempre que precisei sobretudo pela amizade, pela
dedicação e paciência sem os quais seria impossível a realização deste trabalho.
À Arinalva, pelo auxílio na realização das análises bromatológicas.
Aos demais amigos e amigas componentes da família LANA/UFBA, Luciano,
Máikal, Mariza, Rebeca, Ioná, Alessandro, Felicidade, Mariza, Thadeu, Laura, Adriana
Palmieri, Ana Carolina, Mário e Raimundo por compartilharem bons momentos de
conversa e trabalho.
Ao prof. Bonina pelos momentos de descontração no LANA.
Aos amigos André Leão e Ossival Ribeiro.
À Rafaela Duplat pela disposição e auxílio na realização das análises
sanguíneas.
Aos professores Walter Esfrain e Luis Fernando pela colaboração nas análises
estatísticas.
À Profª. Dra. Rita de Cássia Ramos do Egypto Queiroga e a Elieidy, pela
amizade, auxilio e orientações durante as analises laboratoriais de extração dos ácidos
graxos do leite.
Ao Departamento de Engenharia Química da Universidade Federal de
Pernambuco, pela liberação dos equipamentos e técnicos para determinação do perfil
dos ácidos graxos do leite.
Ao Laboratório de Análises de Alimentos da Universidade Federal Rural de
Pernambuco coordenado pela Profª Ângela Vieira Batista, pelas orientações na
determinação do cromo das fezes e a aos pós-graduandos Paulo, Alenice e Luciana e
também aos alunos da graduação que auxiliaram nas análises.
Aos membros que compuseram a banca examinadora de qualificação: Prof. Dr.
Severino Gonzaga Neto, Prof. Dr. Edson Mauro Santos, Prof. Dr. Airon Aparecido
Silva de Melo, Prof. Dr. André Luiz Rodrigues Magalhães e Profª Lara Toledo
Henriques, pelas valiosas contribuições.
viii
Aos professores avaliadores da defesa de tese: Prof. Dr. Severino Gonzaga Neto,
Prof. Dr. Edilson Paes Saraiva, Prof. Dr. Airon Aparecido Silva de Melo, Prof. Dr.
Gleidson Giordano Pinto de Carvalho e Prof. Dr. José Maurício de Souza Campos,
pelas valiosas contribuições para a melhoria do nosso trabalho.
Aos demais professores do Programa de Doutorado Integrado em Zootecnia e do
Departamento de Zootecnia da UFBA que contribuíram de alguma forma para a
realização deste trabalho.
Aos funcionários do PPGZ, D. Graça, D. Jacilene, D. Carmen e Sr. Damião pela
amizade e dedicação, e pela boas conversas na hora do cafezinho.
Aos colegas de trabalho da Universidade Federal Rural da Amazônia – Campus
de Parauapebas, pela amizade e incentivo para a conclusão deste trabalho.
A toda família da Bovinocultura/CCA/UFPB Coordenada pelo Prof. Severino
Gonzaga composta por Tobyas, Leilson, Ebson, Tatiana, Carla, Juliana Nogueira,
Pérecles, George Vieira, Rogerinho, Jaqueline, Gabriela e Andréia, pela ajuda e atenção
dispensada.
À amiga Brunna Ferreira Maia pela amizade e apoio nas diversas etapas da
realização deste trabalho, muito obrigado.
Aos amigos da turma de 2008, Wirton Peixoto, Sérgio Antônio (Serjão),
Aurinês, Lígia Maria, Darklê Luiza, Regina, Manuela, Daniel e Rodrigo pela amizade e
companheirismo durante as etapas do doutorado.
Aos amigos “primos” que se tornaram irmãos da “República dos sem L’ss”
Leilson, Wirton, Faviano, Serjão, Jadson Pamplona, Humberto Caridoso, Agenor e
Matheus pelos diversos momentos de descontração e conversas, espero levar essa
amizade comigo e conservar apesar da distância.
A todos os colegas e amigos do Doutorado e Mestrado PDIZ, PPGZ, não vou
citar nomes, mas saibam que levarei comigo todas as boas lembranças deste período de
convivência.
A todos que, traídos pela memória neste momento, não foram citados e que
contribuíram direta ou indiretamente para a elaboração deste trabalho.
A vocês muito obrigado!!!
ix
BIOGRAFIA DO AUTOR
FRANCISCO HELTON SÁ DE LIMA, nascido no dia 22 de fevereiro de 1983, no
município de Campinas, estado da São Paulo, é filho de Aluísio Sá Lima e Francisca
Cosmo de Lima. Realizou o ensino Médio e Técnico em Agropécuária na Escola
Agrotécnica Federal de Iguatu – Ceará, nos anos de 1998 a 2000. Em 2001 ingressou no
curso de graduação em Zootecnia no Centro de Ciências Agrárias da Universidade
Federal da Paraíba, onde foi bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação
Científica (PIBIC/CNPq) durante três anos, formando-se em Outubro de 2005. Em
Março de 2006, ingressou no Curso de Mestrado em Zootecnia, na área de concentração
de Produção Animal, da Universidade Federal da Paraíba, no qual foi bolsista do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), finalizandoo em Fevereiro de 2008. No mesmo ano ingressou no curso de Doutorado em Zootecnia
do Programa de Doutorado Integrado em Zootecnia também na Universidade Federal da
Paraiba, desenvolvendo sua pesquisa na área de Nutrição de Ruminantes, com apoio
financeiro da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível superior – CAPES.
Em janeiro de 2011 ingressou a Universidade Federal Rural da Amazônia como
Professor Assistente I, no curso de Zootecnia, ministrando as disciplinas: Forragicultura
II e Bubalinocultura de Corte e Leite. No dia 29 de julho de 2011 foi aprovado na defesa
de Tese.
x
SUMÁRIO
Página
LISTA DE TABELAS.......................................................................................
xii
LISTA DE FIGURAS.......................................................................................
xv
RESUMO GERAL............................................................................................
xvii
GENERAL ABSTRACT...................................................................................
xiii
CAPÍTULO I. Referencial Teórico...................................................................
1
INTRODUÇÃO................................................................................................
2
Biodiesel............................................................................................................
3
Co-produtos da cadeia produtiva do biodiesel e seu potencial para a
alimentação animal............................................................................................
5
Torta de amendoim (Arachis hypogaea)...........................................................
6
Torta de girassol (Helianthus annus L.)...........................................................
8
Torta de dendê (Elaeis guineensis)....................................................................
11
Considerações Finais.........................................................................................
15
Referências Bibliográficas.................................................................................
16
CAPÍTULO II. Consumo, digestibilidade e parâmetros sanguíneos de vacas
lactantes em pastejo suplementadas com co-produtos oriundos da produção
de biodiesel................................................................................................
19
Resumo..............................................................................................................
20
Abstract.............................................................................................................
21
Introdução.........................................................................................................
22
Material e Métodos............................................................................................
24
Resultados e Discussão......................................................................................
29
Conclusões.........................................................................................................
40
Referências Bibliográficas.................................................................................
41
CAPÍTULO III. Comportamento ingestivo e bioclimatológico de vacas
leiteiras a pasto suplementadas com co-produtos oriundos da produção de
biodiesel.....................................................................................................
44
Resumo..............................................................................................................
45
Abstract.............................................................................................................
46
Introdução.........................................................................................................
47
xi
Material e Métodos............................................................................................
48
Resultados e Discussão......................................................................................
53
Conclusões.........................................................................................................
58
Referências Bibliográficas.................................................................................
59
CAPÍTULO IV. Produção, composição, perfil de ácidos graxos e
economicidade da produção do leite de vacas em pastejo suplementadas com
co-produtos oriundos da produção de biodiesel...............................................
62
Resumo..............................................................................................................
63
Abstract.............................................................................................................
64
Introdução.........................................................................................................
65
Material e Métodos............................................................................................
67
Resultados e Discussão......................................................................................
72
Conclusões.........................................................................................................
81
Referências Bibliográficas.................................................................................
82
xii
LISTA DE TABELAS
CAPÍTULO II
Página
Tabela 1. Composição bromatológica dos ingredientes dos suplementos
concentrados e do pasto de capim tanzânia.....................................
25
Tabela 2. Proporção dos ingredientes e composição bromatológica dos
suplementos contendo tortas oriundas da produção de biodiesel
para vacas em lactação.....................................................................
25
Tabela 3. Médias e coeficientes de variação (CV) para os consumos de matéria
seca (CMS), proteína bruta (CPB), fibra em detergente neutro
(CFDN) e fibra em detergente ácido (CFDA) de pasto e suplemento
de vacas mestiças Holandês x Zebu, recebendo diferentes
suplementos contendo tortas oriundas da produção de biodiesel.......
30
Tabela 4. Médias e coeficientes de variação (CV) para os coeficientes de
digestibilidade aparente da matéria seca (CDMS), proteína bruta
(CDPB), extrato etéreo (CDEE), fibra em detergente neutro
(CDFDN), carboidratos totais (CDCT) e carboidratos não fibrosos
(CDCNF) em vacas mestiças Holandês x Zebu, recebendo
diferentes suplementos contendo tortas oriundas da produção de
biodiesel............................................................................................
34
Tabela 5. Médias das concentrações de glicose, proteína, N-ureico e albumina
sérica em vacas mestiças em pastejo recebendo suplementação..........
36
xiii
LISTA DE TABELAS
Capítulo III
Página
Tabela 1. Composição bromatológica dos ingredientes dos suplementos
concentrados e do pasto de capim Tanzânia....................................
49
Tabela 2. Proporção dos ingredientes e composição bromatológica dos
suplementos contendo tortas oriundas da produção de biodiesel
para vacas em lactação.....................................................................
49
Tabela 3. Médias e coeficientes de variação (CV) para variáveis
comportamentais diurnas, consumo de matéria seca (CMS) e
consumo de fibra em detergente neutro (CFDN) em vacas
mestiças suplementadas em pastejo.................................................
53
Tabela 4. Valores médios de temperatura do ambiente, temperatura de globo
negro, umidade relativa do ar, temperatura de ponto de orvalho,
índice de temperatura do globo e umidade, índice de temperatura e
umidade nos períodos experimentais................................................
55
Tabela 5. Médias e coeficientes de variação (CV) para freqüência respiratória
(mov./min), freqüência cardíaca (bat./min) e temperatura retal (ºC)
em vacas mestiças suplementadas em pastejo...................................
56
Tabela 6. Médias para freqüência respiratória (mov./min), freqüência cardíaca
(mov./min) e temperatura retal (ºC) nos turnos manhã e tarde em
vacas mestiças suplementadas em pastejo.........................................
56
xiv
LISTA DE TABELAS
CAPÍTULO IV
Página
Tabela 1. Composição bromatológica dos ingredientes dos suplementos
concentrados e do pasto de capim Tanzânia.......................................
68
Tabela 2. Proporção dos ingredientes e composição bromatológica dos
suplementos contendo tortas oriundas da produção de biodiesel para
vacas em lactação.................................................................................
68
Tabela 3. Médias e coeficientes de variação (CV) para produção de leite (PL),
produção de leite corrigida (PLCG) para 4,0 % de gordura, e teores
de gordura (G), proteína bruta (PB), lactose, extrato seco total
(EST) e extrato seco desengordurado (ESD) em função dos
suplementos experimentais..................................................................
72
Tabela 4. Médias e coeficientes de variação (CV) para a composição percentual
dos ácidos graxos na gordura do leite de vacas em função dos
suplementos experimentais..................................................................
75
Tabela 5. Totais de ácidos graxos saturados, insaturados, índice de
aterogenecidade (IA) relação ácido graxo insaturado/saturado (I/S)
no leite de vacas em função dos suplementos experimentais..............
78
Tabela 6. Avaliação dos custos e receita em função da produção de leite e
consumo de suplementos oriundos da produção de biodiesel..............
79
xv
LISTA DE FIGURAS
CAPÍTULO II
Página
Figura 1. Concentrações de N-ureico sérico após a alimentação em vacas
mestiças Holandês x Zebu, recebendo diferentes suplementos
contendo tortas oriundas da produção do biodiesel a) sem torta
adicional, b) torta de amendoim, c) torta de girassol, d) torta de
dendê.....................................................................................................
38
xvi
LISTA DE FIGURAS
CAPÍTULO III
Página
Figura 1. Respostas comportamentais de pastejo, ruminação e ócio por vacas
mestiças suplementadas em pastejo........................................................
54
xvii
Aproveitamento de tortas de oleaginosas oriundas da produção de biodiesel em
substituição ao farelo de soja na alimentação de vacas em lactação em pastejo
RESUMO GERAL
Objetivou-se avaliar os efeitos de diferentes suplementos contendo co-produtos da
produção de biodiesel em substituição ao farelo de soja sobre o consumo,
digestibilidade de nutrientes, parâmetros sanguíneos, comportamento ingestivo,
bioclimatológico, produção, composição, perfil de ácidos graxos e economicidade da
produção de leite em vacas lactantes mantidas sob pastejo. Foram utilizadas 16 vacas
em lactação, mestiças Holandês x Zebu, mantidas em pasto de Panicum maximum cv.
Tanzânia em uma área experimental de 8 ha dividida em 10 piquetes de 0,8 ha cada. O
experimento foi constituído por quatro períodos, com duração de 15 dias cada, sendo os
11 primeiros para adaptação as dietas experimentais e os demais para colheita de dados.
As vacas foram distribuídas em quatro quadrados latinos 4x4. Os tratamentos
experimentais foram caracterizados pela participação de diferentes tortas, oriundas da
produção de biodiesel, em substituição ao farelo de soja no concentrado, sendo um
testemunha (sem torta adicional) e os demais com a inclusão das tortas de amendoim,
girassol e dendê. Os consumos de matéria seca, proteína bruta, extrato etéreo, fibra em
detergente neutro, fibra em detergente ácido e carboidratos não fibrosos do pasto de
Panicum maximum cv. Tanzânia não apresentaram diferença entre os tratamentos
experimentais. As tortas de amendoim e girassol oriundas da produção de biodiesel
podem ser utilizadas na substituição total do farelo de soja em suplementos para vacas
em lactação por não alterar o consumo e a digestibilidade dos nutrientes, no entanto a
utilização da torta de dendê influenciou negativamente o consumo e digestibilidade
deste suplemento pelos animais devido à sua baixa aceitabilidade como também ao
elevado teor de fibra. O comportamento ingestivo diurno não foi influenciado, como
também, os parâmetros fisiológicos dos animais mantiveram-se dentro da normalidade
com a substituição do farelo de soja pelas tortas de amendoim, girassol e dendê oriundas
da produção de biodiesel em suplementos para vacas em lactação mantidas sob pastejo.
A substituição total do farelo de soja por co-produtos da produção de biodiesel não
influenciou a produção diária de leite em kg/dia. Entre as tortas estudadas, a que
apresentou a melhor viabilidade econômica foi a torta de dendê, devido ao menor
consumo deste suplemento. Os tratamentos experimentais com a participação das tortas
de girassol e de dendê proporcionaram menores concentrações de ácidos graxos
saturados e acréscimo na proporção de ácidos graxos insaturados possibilitando a
redução da incidência de doenças coronarianas.
Palavras chave: Bovino leiteiro, fontes de proteína, nutrição animal, suplementação,
torta de amendoim, torta de dendê, torta de girassol
xviii
Oilseed pies from the biodiesel production substituting the soybean bran in the
feeding of dairy cows to pasture
GENERAL ABSTRACT
This study aims to evaluate the effects of different supplements containing by products
of biodiesel industry substituting the soybean bran on the consumption, nutrients
digestibility, blood parameters, ingestive behavior, bioclimatology, production,
composition, fat acids profile and economy of the milk production in lactating cows
which have been kept grazing. It has been used 16 lactating cows, crossbred Holstein x
Zebu, kept pasture in Panicum maximum cv. Tanzânia in an experimental area of 8 ha
divided into ten pickets with 0.8 ha each one. The experiment has been made in four
periods, during 15 days each, being the first eleven for adaptation to experimental diets
and the others to collect data. The cows have been distributed into four Latin squares 4
x 4. The experimental treatments have been characterized by the participation of
different, by products of biodiesel industry, substituting the soybean bran in the
concentrate, being a witness (without additional pie) and the others including the
sunflower, palm kernel and peanut pies. The consumption of nutrients from pasture of
Panicum maximum cv. Tanzânia have not shown difference among the experimental
treatments. The peanut and sunflower pies from the biodiesel production may be used in
the total substitution of the soybean bran in supplements for lactating cows, because it
does not change the consumption and digestibility of nutrients, whereas the use of palm
kernel pie has influenced negatively the consumption and digestibility of this
supplement by animals due its low acceptability as well as the high fiber content. The
daytime ingestive behavior was not influenced, as well as, the physiological parameters
of the animals were kept within normality with the substitution of the soybean bran to
the sunflower, palm and peanut pies from the biodiesel production in supplements for
lactating cows which were kept grazing. The total substitution of the soybean bran by
co-products from the biodiesel production have not influenced the daily milk production
in Kg/day. Among the studied pies, the one which has shown the best economic
viability was the palm pie, due the lowest consumption of this supplement. The
experimental treatments with sunflower and palm kernel pies have provided lower
concentrations of saturated fat acids and an increase in the proportion of unsaturated fat
acids, reducing the incidence of coronary heart diseases.
Key words: animal nutrition, dairy cattle, palm kernel pie, peanut pie, protein sources,
sunflower pie, supplementation
1
Capítulo I
______________________________________________________
REFERENCIAL TEÓRICO
TORTAS DE OLEAGINOSAS ORIUNDAS DA PRODUÇÃO DE
BIODIESEL EM SUBSTITUIÇÃO AO FARELO DE SOJA NA
ALIMENTAÇÃO DE VACAS EM LACTAÇÃO EM PASTEJO
2
Tortas de oleaginosas oriundas da produção de biodiesel em substituição ao
farelo de soja na alimentação de vacas em lactação em pastejo
INTRODUÇÃO
O interesse econômico e ambiental de inserir no mercado um novo
combustível, seja na sua forma pura ou associada a outros combustíveis, tem sido um
dos objetivos do setor energético para amenizar os impactos ambientais causados
pelo consumidor de combustíveis fósseis. Levando-se em conta o potencial agrícola
brasileiro e outros condicionantes ambientais e mundiais, torna-se oportuno discutir a
produção de fontes de energia, “ecologicamente sustentáveis”.
O impacto social deverá ser grande e a geração de empregos será de grande
importância para os municípios, os agricultores e suas famílias. Contudo, ao se
pensar em toda a cadeia produtiva, a torta produzida após a extração do óleo não
pode ser vista como resíduo desta atividade, mas sim como um co-produto, ao qual
deve ser agregado valor econômico para auxiliar a viabilização das indústrias de
biodiesel e evitar lançamento desordenado desse “resíduo” no meio ambiente. Entre
os principais pode-se citar: glicerina, lecitina, farelo e a torta de oleaginosa. Existem
poucos estudos acerca do aproveitamento desses co-produtos como elementos de
viabilização da cadeia produtiva.
A alimentação dos animais representa o maior custo da atividade pecuária,
sobretudo quando se utiliza fonte suplementar como o milho e soja, que, apesar da
elevada qualidade nutricional, apresenta, em geral, alto custo, tornando necessária a
utilização de fontes alimentares alternativas com melhor relação custo/benefício e
que não concorram diretamente com a alimentação humana. Com isso, tem se
buscado formas que possam diminuir os custos, onde as alternativas representam
melhores oportunidades. Dentre os diversos produtos que podem substituir a soja
estão os co-produtos derivados do algodão, girassol, amendoim, dendê, nabo
forrageiro, mamona e pinhão manso. A utilização das tortas destas oleaginosas na
alimentação animal tem despertado o interesse de vários produtores, que em certos
casos fornecem este alimento aos animais mesmo sem saber informações básicas,
como sua composição química, quantidade a ser fornecida e limitação de consumo.
O Brasil possui grandes quantidades de resíduos e subprodutos, da agricultura
e a agroindústria, com potencial de uso na alimentação de ruminantes. As limitações
3
para a transformação dos resíduos em co-produtos para alimentação animal estão
ligadas à deficiência e, ou, a desequilíbrios nas características nutricionais do resíduo
e aos custos
com a coleta, o transporte e, geralmente, o tratamento necessário para melhoria de
seu valor nutritivo (Burgi, 1992).
A maioria das tortas ou farelos das oleaginosas que são utilizadas para
produção de biodiesel no Brasil tem potencial para serem utilizadas na alimentação
animal (Abdalla et al., 2008). Vários produtores têm utilizado as tortas de
oleaginosas como alimento para os animais com conhecimento mínimo quanto à
composição química, presença de fatores antinutricionais, quantidade a ser fornecida
e limitação de consumo (Neiva Júnior et al., 2007).
Assim, o uso de tortas oriundas da extração do biodiesel na alimentação
animal deve receber atenção, visto que estas apresentam altas concentrações de
proteína que é um nutriente caro para o produtor rural e de grande importância para a
manutenção e o desempenho produtivo dos animais. A não utilização das tortas como
alimentos para animais têm levado à destinação inadequada destes resíduos, o que
pode inclusive comprometer o lençol freático devido à alta concentração de
nitrogênio presente nestas fontes. É preciso, então, pensar em toda a cadeia do
biodiesel para que os resíduos produzidos tenham destino adequado e não
comprometam o meio ambiente, destruindo o objetivo desejado com a produção de
biocombustíveis e outras formas limpas de produção de energia. Com isto, tornar-seá a atividade de produção de biodiesel sustentável e criar-se-á as prerrogativas
necessárias ao fortalecimento e ampliação da produção de leite de vacas em pastejo,
a partir da utilização de suplementos contendo em sua composição co-produtos
regionais.
Biodiesel
Biodiesel é um combustível biodegradável derivado de fontes renováveis, que
pode ser obtido por diferentes processos tais como o craqueamento, a esterificação
ou pela transesterificação. Pode ser produzido a partir de gorduras animais ou de
óleos vegetais, existindo dezenas de espécies vegetais no Brasil que podem ser
utilizadas, tais como mamona, dendê, girassol, babaçu, amendoim, pinhão manso e
soja, dentre outras.
4
A situação energética no mundo se torna de grande importância, principalmente
quando a aliamos às necessidades percebidas pela sociedade de se atrelar o
desenvolvimento econômico à preservação ambiental. Há diversas formas de produção
energética, sendo ainda as mais usadas mundialmente a hidroelétrica e a queima de
combustíveis fósseis. Os grandes impactos negativos advindos das hidroelétricas, aliados
a uma preocupação cada vez maior com a limitação do acesso aos combustíveis fósseis,
fez renascer, nos últimos trinta anos, em setores sociais específicos, o debate e a
proposição de uma agenda positiva para a construção gradual de uma nova matriz
energética. Existem hoje, em diversas partes do mundo, pequenas, porém bem sucedidas
experiências na produção de energia a partir de fontes limpas. A placa solar, a energia
eólica e o biodiesel, são algumas destas fontes que têm sido usadas de forma pontual em
diversas regiões e cada vez mais, assumem um papel estratégico na pesquisa e, em
alguns casos, na promoção de políticas públicas para o setor energético.
No Brasil, a partir de 2004, o governo federal, por meio do Ministério das Minas
e Energia (MME), iniciou a implementação de um programa de geração de energia
renovável a partir da produção do BIODIESEL, que prevê, até 2013, adição de 5% do
biodiesel no óleo diesel.
De acordo com a Lei nº 11.097, de 13 de janeiro de 2005 sancionada pelo
Presidente da República, fica introduzido o biodiesel na matriz energética brasileira,
sendo fixado em 5% (cinco por cento), em volume, o percentual mínimo obrigatório de
adição de biodiesel ao óleo diesel comercializado ao consumidor final, em qualquer
parte do território nacional. O prazo para atingir esse percentual é de oito anos. Contudo,
é de três anos o período para se utilizar um percentual mínimo obrigatório intermediário
de 2% (dois por cento), em volume (Lima, 2005).
Estudos desenvolvidos pelos Ministérios do Desenvolvimento Agrário;
Agricultura, Pecuária e Abastecimento; Integração Nacional; e das Cidades mostram que
a cada 1% de substituição de óleo diesel por biodiesel produzido com a participação da
agricultura familiar podem ser gerados cerca de 45 mil empregos no campo, com uma
renda média anual de aproximadamente R$ 4.900,00 por emprego. Admitindo-se que
para um emprego no campo são gerados três empregos na cidade, seriam criados, então,
180 mil empregos. Numa hipótese otimista de 6% de participação da agricultura familiar
no mercado de biodiesel, seriam gerados mais de 1 milhão de empregos.
O biodiesel tem uma grande importância ambiental devido às suas características
químicas que permitem que suas emissões gasosas sejam isentas de enxofre, substância
5
reconhecidamente cancerígena, além de ser um combustível com alto poder de
biodegradação.
Co-produtos da cadeia produtiva do biodiesel e seu potencial para a
alimentação animal
Dentre as principais matérias-primas utilizadas para a produção do biodiesel
brasileiro, a soja se destaca como principal produto contribuindo com cerca de 80%
do óleo produzido e, a previsão é de que essa situação não se modificará nos
próximos anos. Essa cultura tem uma cadeia produtiva organizada e está no limite da
fronteira tecnológica mundial, sendo o Brasil, hoje o segundo maior produtor
mundial dessa oleaginosa, sendo, a região Centro-Oeste, a maior produtora desta
oleaginosa (Conab, 2011). Segundo Durães (2008), o problema é que as espécies
oleaginosas convencionais das quais já se têm domínio tecnológico: soja, girassol,
algodão, amendoim e canola têm um potencial de rendimento de 500Kg/ha a
1.500kg/ha de óleo e estão produzindo entre 400kg/ha a 800kg/ha de óleo e, esses
valores são considerados baixos. Já o dendê tem um potencial de rendimento de 4 mil
quilos de óleo por hectare. Sua produção ocorre em uma área restrita, circunscrita ao
Pará, Amazonas e Bahia, que soma apenas cerca de 80 mil hectares cultivados. Cabe
ressaltar que as gorduras animais e outros materiais graxos também estão sendo
também utilizados (18%) (Goes et al., 2011).
A produção de biodiesel, a partir de fontes vegetais de óleo, irá gerar uma
quantidade significativa de co-produtos para a alimentação animal. Basicamente
estarão disponíveis para a alimentação animal a torta, se a extração do óleo for física
(prensagem), ou o farelo, quando o material é submetido à extração química (com
solventes) após o processo de extração física. A produção de torta deverá vir da
extração de óleo nas unidades de produção, com a utilização de prensas artesanais e o
farelo das grandes fábricas com a extração com solventes.
Dependendo do material, podem ainda ficar disponíveis as cascas das
amêndoas como é o caso da soja, do algodão ou mesmo da mamona. Em alguns
casos, estas cascas são adicionadas à torta/farelo ou comercializadas separadamente.
Segundo Bonfim et al. (2007) alguns pontos devem ser considerados quando
se avalia co-produtos da extração de óleo. Primeiro, dependendo do método de
extração, o teor de óleo no co-produto pode ser muito variável. Quando a extração é
6
física o co-produto vai apresentar maior conteúdo de óleo e é classificado como torta.
Quando o solvente é utilizado, a quantidade de óleo residual é muito baixa e o coproduto é considerado farelo. Se por um lado, a presença do óleo eleva o valor de
energia das dietas e, na maioria das vezes, melhora o perfil da gordura presente nos
produtos animais, por outro, pode reduzir o consumo voluntário e a produção pela
interferência na digestão da fibra ou palatabilidade das dietas.
Em alguns materiais a casca pode ser retirada e a amêndoa utilizada na
extração do óleo gera um co-produto com baixo nível de fibra e, portanto, com maior
valor de digestibilidade e energia. No entanto, alimentos nos quais o óleo está
localizado dentro de uma matriz fibrosa ou onde a casca não pode ser separada, a
proporção de fibra pode ser tão alta quanto aquela observada para forrageiras,
comprometendo, o valor nutritivo destes alimentos.
A presença de PB em alta concentração não é suficiente para se afirmar que o
alimento é uma boa fonte deste nutriente. É importante considerar que o método de
extração do óleo pode ter uma importância vital sobre a disponibilidade da proteína.
A temperatura usada para aumentar a eficiência da extração do óleo pode
“desnaturar” a proteína do alimento. Neste aspecto, a análise da proteína bruta ligada
à fibra em detergente ácido (PIDA) é importante para estes alimentos por fornecer
uma estimativa da extensão deste dano (Bonfim et al., 2007).
Outros co-produtos apresentam um conteúdo de fibra tão alto que são
classificados como volumoso, como é o caso da torta de dendê.
Torta de amendoim (Arachis hypogaea)
O Sudeste brasileiro é a região que apresenta as condições edafoclimáticas
mais apropriadas para a cultura do amendoim, que é utilizado em rotação com
canaviais ou para reforma de pastagens. A extração do óleo gera a torta, que é rica
em proteína (Sluszz & Machado, 2006).
A produção nacional de amendoim em 2010, safra 2010/11 foi de 242,3 mil
toneladas, superior em 7,2% as 226,0 mil toneladas da safra 2009/10. A região
Sudeste, concentrou 81% da produção nacional de amendoim na safra 2010/11, onde,
o estado de São Paulo ficou com a maior produção (187,9 mil toneladas)
principalmente nas regiões de Ribeirão Preto, Marília, Alta Paulista e Alta
Sorocabana, seguido por Minas Gerais (8,1 mil toneladas) (Conab, 2011).
7
O amendoim é muito consumido como alimento, além de ter grande número de
aplicações na indústria. Pode, também, ser uma importante fonte de produção de
biodiesel, com um teor de óleo de 40% e produtividade que pode chegar a 3.000 kg/ha.
Quando cultivado em regiões com boa pluviosidade, em solos de boa fertilidade e com
um manejo apropriado, o amendoim pode ser explorado em larga escala, tanto em modo
exclusivo, como em lavouras consorciadas. Sua participação é crescente, dado que se
constitui em uma excelente opção para cultivo na faixa litorânea, bem como na região
dos Cerrados, no Oeste baiano. Pode, ainda, ser cultivado na região semiárida,
notadamente em áreas com possibilidades de irrigação.
Após a extração do óleo, obtém-se do amendoim, a torta, um co-produto de
elevado valor comercial, devido as características nutritivas adequadas para ser
empregado na composição das rações para animais que demandam de elevado teor de
proteína, como é o caso de vacas em lactação. A riqueza nutritiva das tortas depende em
geral da qualidade das sementes e do método utilizado na extração do óleo, que,
apresentam elevado teor de nitrogênio e de nutrientes digestíveis. Segundo Góes et al.
(2004), a utilização do amendoim, como alimento protéico, na forma de farelo, vem
sendo estudado, sendo atribuídas a ele características que permite utilizá-lo como fonte
de proteína degradável no rúmen. O valor nutritivo da torta é semelhante ao farelo de
soja, entretanto, a proteína do farelo de amendoim apresenta degradação ruminal muito
superior ao farelo de soja e de algodão.
O farelo e, ou, a torta de amendoim são os co-produtos de biodiesel de melhor
composição centesimal. Apresentam baixos teores de fibra (13%), com valores
semelhantes ao do farelo de soja e alta degradação da proteína no rúmen (Goes et al.,
2000). No entanto, o que chama a atenção neste alimento é a concentração de
proteína bruta que chega a 53%. Apesar de não haver na literatura dados de
concentração de energia, acredita-se em um valor próximo ou até maior que o
próprio farelo de soja. Por outro lado, no caso da torta, os dados disponíveis
demonstram um nível de óleo bastante alto (>40%) o que limita bastante seu
potencial de utilização.
Uma restrição ao uso da torta de amendoim é o seu conteúdo em aflatoxina.
De acordo com o Ministério da Agricultura definiu através da Portaria Nº 07 de
09/11/1988, o nível máximo de aflatoxinas em qualquer matéria-prima a ser utilizada
diretamente ou como ingrediente em rações destinadas a alimentação animal. A
saber: Aflatoxinas (maximo) =50ag / kg (ppb). A referida portaria não especifica
8
quais metabolitos, mas depreende-se que seja o somatório das aflatoxinas B1, B2, G1
e G2. (Araújo & Sobreira, 2008)
Torta de girassol (Helianthus annus L.)
O girassol (Helianthus annuus L.) é uma dicotiledônea anual da família
compositae, originária do continente Norte-Americano. Atualmente, o girassol é
cultivado em todo o mundo, em área que atinge aproximadamente 19 milhões de
hectares. Destaca-se como a quarta oleaginosa em produção de grãos e a quinta em
área cultivada no mundo (Castro et al., 1997). Na nutrição de ruminantes, tanto o
grão quanto a torta de girassol tornam-se alternativa de alimento por possuírem altos
teores de proteína e energia, e os efeitos da sua adição nas dietas vem sendo
estudados por diversos autores.
Sluszz & Machado (2006) relatam que o girassol é uma planta rústica, se
adaptando bem em várias condições edafoclimáticas, sendo especialmente indicada
para a região sudeste e sul para a produção na safrinha. Dentre as oleaginosas, o
girassol é, atualmente, a cultura que apresenta o maior índice de crescimento no
mundo. Ocupa o quarto lugar como fonte de óleo vegetal comestível, em relação à
soja, à palma e à canola. Como fonte protéica, é classificado como a quarta opção
para ração animal, por apresentar excelentes qualidades nutricionais do óleo, do
farelo e da silagem.
Nas
diferentes
regiões
brasileiras
o
girassol
tem
mostrado
fácil
adaptabilidade, adequando-se à época de semeadura, às condições edafoclimáticas
locais e aos sistemas de rotação e de sucessão de culturas. Seu cultivo ajuda na
melhor estruturação do solo. Resiste a períodos de estiagem e realiza bem a
reciclagem de nutrientes. Não requer grandes investimentos em máquinas, uma vez
que podem ser aproveitados os equipamentos existentes nos estabelecimentos
agropecuários, com pequenas adaptações.
Apresenta alto teor de óleo em sua semente e, portanto um alto rendimento de
óleo por área. Como resíduos para a produção animal destacam-se o colmo e as
folhas residuais da colheita, e a torta ou farelo de girassol (Sluszz e Machado, 2006).
De acordo com a Conab (2011) a produção nacional de girassol em 2010, safra
2010/11 foi de 102,4 mil toneladas, superior em 27,0% as 80,6 mil toneladas da safra
2009/10. A região Centro Oeste, concentrou 85,6% da produção nacional de amendoim
9
na safra 2010/11, onde, o estado de Mato Grosso ficou com a maior produção (69,5 mil
toneladas), seguido por Goiás (13,8 mil toneladas) e Mato Grosso do Sul (4,4 mil
toneladas) (Conab, 2011).
Cerca de 91% da produção de girassol é destinada ao processamento
industrial resultando em cerca de 12 milhões de toneladas de farelo e 10 milhões de
toneladas de óleo.
O farelo de girassol apresenta 28,25% de proteína bruta e alto teor de fibra
(>40%FDN), sendo que praticamente 30% desta fibra é composta de lignina, ou seja,
indisponível para o animal, comprometendo seu conteúdo de energia. Apesar disto
sua proteína apresenta alta digestibilidade total e degrabilidade ruminal (Alcaide et
al., 2003).
A simplicidade de manejo dessa cultura a converte em uma importante opção
para os agricultores familiares no semiárido baiano, o que a situa como uma
alternativa para a viabilização do programa de produção de biodiesel, contribuindo,
assim, para o incremento de ações de inclusão social nas áreas rurais.
Segundo Santos (2008) a torta de girassol pode ser considerada como
alimento protéico (>20% de proteína bruta), com proteína de alta degradabilidade
ruminal (>90% proteína degradável no rúmen), rico em ácidos graxos insaturados
(>15 % extrato etéreo) e fibra (>30% fibra em detergente neutro).
A torta, resultante do processo de extração a frio do óleo de girassol, tem sido
extensivamente estudada na dieta de não-ruminantes. Porém, poucos são os trabalhos
avaliando a produção e desempenho para ruminantes, neste caso vacas leiteiras.
Considerando a alimentação animal como o elo entre a produção de biodiesel e a
pecuária, a utilização da torta de girassol na alimentação de ruminantes visa manter a
produtividade a partir de uma alternativa para o sistema de criação, especialmente
para o produtor que poderia plantar o girassol e extrair o óleo em sua propriedade. O
resíduo da produção passa a ser então utilizado para os animais, gerando renda com
custo reduzido (Oliveira, 2010).
Devido ao avanço do programa biodiesel, muitos produtores passaram a
utilizar a torta de girassol como fonte protéica e energética na alimentação de
ruminantes. A ausência de homogeneidade da torta é um fator que exige atenção na
formulação para o emprego adequado na alimentação de vacas leiteiras.
Com a inclusão de torta de girassol em substituição ao farelo de soja no
concentrado para vacas em lactação (0, 20, 40 e 60%), Silva (2004) observou que o
10
consumo de matéria seca aumentou (12,76; 13,05; 13,04; 13,34%, respectivamente),
no entanto, para os coeficientes de digestibilidade in vitro da matéria seca (90,18;
86,56; 81,40; 78,06%), proteína bruta (95,39; 93,97; 91,50; 90,64%) e fibra em
detergente neutro (55,68; 38,14; 26,48; 19,79%) verificou-se decréscimo,
respectivamente, conforme aumento nos níveis de participação da torta de girassol
nas dietas experimentais.
De acordo Santos (2008) avaliando quatro concentrados, contendo 20% de
proteína bruta na matéria seca, com substituição parcial do farelo de girassol e do
milho pela torta de girassol, nas proporções 0, 20, 40 e 60%, na alimentação de vacas
da raça Holandesa. Concluiu que a substituição parcial do farelo de girassol e do
milho pela torta de girassol diminuiu a digestibilidade in vitro do concentrado,
porém, não comprometeu o consumo de nutrientes da dieta, podendo ser utilizada até
o nível de 60%, levando-se em consideração o preço de aquisição da matéria prima.
Pimentel et al. (2010) estudando níveis de inclusão de torta de girassol (0; 7;
14 e 21%) em dietas para vacas da raça Girolando, com produção média de 20 kg de
leite/dia, e uma relação volumoso:concentrado de 60:40, na base da matéria seca,
observaram que a produção de leite média apresentou efeito linear crescente com o
aumento dos níveis de inclusão da torta de girassol, no entanto foi observado
comportamento diferente para a produção de leite corrigida para 4% de gordura.
Estes autores concluem que a torta de girassol pode ser recomendada como
alternativa potencial para a alimentação de vacas leiteiras, caso haja disponibilidade
na região.
O farelo e a torta de girassol são dois derivados da extração do óleo de
girassol, que tiveram suas disponibilidades aumentadas nos últimos anos. Ambos têm
sido utilizados na alimentação de ruminantes, porém, deve-se considerar que estes
derivados apresentam certas particularidades em sua composição que podem resultar
em alterações na produção e na composição do leite (Santos, 2008).
11
Torta de dendê (Elaeis guineensis)
Segundo Furlan Júnior et al. (2006) os frutos do dendezeiro produzem dois
tipos de óleos distintos: o óleo de dendê ou óleo de palma, encontrado no mesocarpo
(polpa do fruto); e o óleo de palmiste, extraído da amêndoa do fruto, este último tem
como subproduto a torta de dendê, também chamada de torta de palmiste. Para cada
100 toneladas de cachos de frutos processados são obtidas 3 toneladas de torta de
dendê.
É importante ressaltar que toda a gama de subprodutos provenientes do dendê
é utilizada, seja como adubo, alimentação animal ou como material para capear
estradas (a partir da casca da amêndoa).
De acordo com Sousa et al. (2010) a extração do óleo é realizada de duas
formas: processo de extração por solvente e processo de extração mecânica. O
primeiro processo é através de uso de solventes químicos, no entanto este não possui
uma boa palatabilidade para animais. O segundo consiste resumidamente na
prensagem mecânica dos frutos por uma prensa contínua para a retirada do óleo do
mesocarpo carnoso.
Esses diferentes métodos de extração determinam diferenças nos seus
conteúdos de óleo: 5 a 12% para torta de dendê extraída por prensagem e 0,5 a 3%
para o tipo de torta de dendê extraída por solvente (Chin, 2008), não observando
diferença no conteúdo de proteína entre os dois métodos de extração, com variação
de 14,6 a 16,0 % com base na matéria seca.
O Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel do Governo Federal,
lançado em dezembro de 2004, prioriza algumas matérias-primas, como o dendê,
produzidas sob a forma de agricultura familiar nas regiões Norte e Nordeste do país;
atribuindo a função de gerador de emprego e renda.
O Brasil possui o maior potencial mundial para a produção do óleo de dendê,
dado aos quase 75 milhões de hectares de terras aptas à dendeicultura. A Bahia
participa com aproximadamente 900.000 ha deste total, sendo o único estado do
Nordeste brasileiro com condições adequadas na faixa costeira para o plantio do
dendezeiro. Isto porque o Litoral Sul da Bahia possui uma diversidade edafoclimática excepcional para o cultivo do dendezeiro, com disponibilidade de áreas
litorâneas que se estendem desde o Recôncavo Baiano até os Tabuleiros Costeiros do
Sul da Bahia. O estímulo à atividade fomentará a promoção de benefícios como:
12
ambiental-ecológico, em que a atividade possibilitará a recomposição do espaço
florestal em processo adiantado de degradação, por “florestas de cultivo”;
econômico-social, por meio do aumento da renda regional e criação de novos
empregos, e finalmente estratégico, através da agropecuária integrada a caminho do
desenvolvimento harmônico dos recursos da terra com os valores humanos. Com esta
perspectiva, o Governo da Bahia criou o Programa de incentivo à expansão da área
plantada, o qual foi formalizado pelo “Protocolo do Dendê”. Este estrutura um
programa de fomento à plantação de 12.500 hectares em parceria com agricultores,
indústrias e sociedade regional.
Neste contexto, o cultivo do dendê destaca-se em todos os programas de
produção de oleaginosas, pois apresenta adaptação climática na microrregião do
baixo sul da Bahia. Além disso, esta cultura tem potencial de inclusão do pequeno
agricultor no processo de produção da matéria-prima.
De acordo com a FAO (2002), a torta de dendê produzida na Malásia
apresentam variações na composição bromatológica, para matéria seca (MS),
proteína bruta (PB), fibra bruta (FB), fibra em detergente ácido (FDA), fibra em
detergente neutro (FDN), extrato etéreo (EE), matéria mineral (MM), extrato não
nitrogenado (ENN) e nutrientes digestíveis totais (NDT) estão entre 89 e 93; 14,6 e
16; 12,1 e 16,8; 39,6 e 46,1; 66,4 e 66,7; 0,9 e 10,6; 3,5 e 4,3; 52,5 e 65; 67,0 e
75,0%, respectivamente. Com relação aos teores de EE observa-se influência em
função dos métodos de extração do óleo de dendê, por prensagem ou com o uso de
solventes, sendo o primeiro método, o que proporciona maiores teores de EE no coproduto.
Segundo Bonfim et al. (2007) a torta de dendê é um alimento pobre em
proteína (13,87%PB), com alta concentração de fibra (>79%FDN). Esta composição
é compatível com aquela apresentada por forrageiras como o capim-tifton (Cynodon
spp.). Portanto, este co-produto deve ser usado como alimento alternativo ao
volumoso da dieta animal. Apesar disto, pela alta digestibilidade da sua fibra e alta
concentração de óleo (8,54%) apresenta bom conteúdo de energia.
Resumidamente, a produção de torta de dendê envolve a moagem do dendê
seguida da prensagem, podendo ter ou não uma fase intermediária de escamação e
cozimento. Durante o estágio de prensagem, o óleo de dendê cru é desviado para
clarificação e a torta de dendê residual é esfriada e armazenada em depósito (Sue,
2001).
13
Macome (2010) relata que após a moagem e extração do óleo de dendê, gerase uma torta, a qual é lançada no ambiente e pode constituir um sério problema de
impacto ambiental. Então, tem-se pesquisado a utilização desta cultura,
principalmente na dieta animal, com finalidades diversas, destacando-se o aumento
da produtividade e a redução dos custos da atividade agropecuária (Nunes, 2008).
De acordo com Bringel (2009) dentre os subprodutos agroindustriais, a torta
de dendê se destaca como um subproduto fibroso, também chamado de fonte de fibra
não forragem (FFNF), podendo ser uma estratégia interessante em períodos de seca,
contribuindo para redução do custo de produção.
Silva et al. (2000), estudando níveis de substituição de 0; 25; 50 e 75% do
milho pela torta de dendê na alimentação de bezerros leiteiros, não observaram
diferenças no consumo de MS na fase de aleitamento, registrando valores médios de
0,76 kg/dia, 1,47% de PV e 39,33 g/kg PV0,75. Contudo, nos 60 dias após desmame,
observaram redução linear no consumo de MS com o acréscimo de torta de dendê na
dieta, o que pode ter sido decorrido da palatabilidade ou do teor de fibra deste coproduto, que apresenta 70% de FDN.
De acordo com Carvalho et al. (2006), avaliando a degradabilidade ruminal
do farelo de cacau e da torta de dendê, em novilhos Holandês x Zebu, portando
cânulas ruminais, observou-se que as estimativas da taxa de degradação da MS do
farelo de cacau e da torta de dendê foram inferiores os apresentados pelo milho e
farelo de soja, respectivamente. Provavelmente, devido aos elevados teores de FDN
e FDA desses subprodutos. Contudo, ambos demonstraram valores semelhantes e
superiores a 50 % para a degradabilidade potencial .
Já, Correia (2010) avaliando dietas contendo tortas oriundas da produção de
biodiesel em substituição ao farelo de soja na alimentação de bovinos mestiços
Holandês x Zebu observou que a dieta contendo torta de dendê proporcionou menor
consumo de MS em relação às demais dietas contendo farelo de soja, torta de
amendoim e torta de girassol. O autor justifica que este comportamento ocorreu em
decorrência do alto teor de FDN da dieta com torta de dendê, em relação às outras
dietas experimentais contendo farelo de soja, torta de amendoim e torta de girassol.
Contudo, é necessário mais estudos sobre a torta de dendê, em relação as suas
características como alimento, a fim viabilizar a utilização dessa fonte alternativa de
forma racional na alimentação de ruminantes, e fundamentar decisões corretas.
14
Segundo Bringel (2009) a torta de dendê pode ser uma alternativa interessante
para compor dietas de baixo custo para ruminantes, no entanto, há uma carência de
pesquisas sobre essa alternativa alimentar. Portanto, mais pesquisas são necessárias
para o bom aproveitamento de suas características como alimento energético e
redução de suas limitações, incluindo-a no manejo alimentar como estratégia para
reduzir os custos de forma racional, garantindo boas perspectivas de produção.
15
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A atual situação da produção de biodiesel no Brasil indica um crescimento
significativo do setor nos próximos anos, com a implantação da obrigatoriedade de
inclusão de 5% deste combustível no óleo diesel gerando, consequentemente grande
quantidade de co-produtos com potencial de utilização na alimentação de vacas em
lactação.
16
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SUE, T.T. Quality and Characteristics of Malaysian Palm Kernel Cakes/Expellers.
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19
Capítulo II
______________________________________________________
CONSUMO, DIGESTIBILIDADE E PARÂMETROS
SANGUÍNEOS DE VACAS LACTANTES EM PASTEJO
SUPLEMENTADAS COM CO-PRODUTOS ORIUNDOS DA
PRODUÇÃO DE BIODIESEL
20
Consumo, digestibilidade e parâmetros sanguíneos de vacas lactantes em
pastejo suplementadas com co-produtos oriundos da produção de biodiesel
RESUMO
Objetivou-se com este trabalho avaliar o uso das tortas de amendoim, girassol e
dendê, em substituição ao farelo de soja em suplementos para vacas em lactação em
pastejo sobre o consumo, digestibilidade de nutrientes e parâmetros sanguíneos.
Foram utilizadas 16 vacas em lactação, mestiças Holandês x Zebu, mantidas em
pastagem de Panicum maximum cv. Tanzânia em uma área experimental de 8 ha
dividida em 10 piquetes de 0,8 ha cada. O experimento foi constituído por quatro
períodos, com duração de 15 dias cada, sendo os 11 primeiros para adaptação as
dietas experimentais e os demais para colheita de dados. As vacas foram distribuídas
em quatro quadrados latinos 4x4. Os tratamentos experimentais foram caracterizados
pela participação de diferentes tortas, oriundas da produção de biodiesel, em
substituição ao farelo de soja no concentrado, sendo um testemunha (sem torta
adicional) e os demais com a inclusão das tortas de amendoim, girassol e dendê. O
consumo de nutrientes do pasto de Panicum maximum cv. Tanzânia não variou entre
os tratamentos experimentais. Com relação ao consumo de suplemento observou-se
diferença, entre os tratamentos experimentais, sendo que, as vacas que receberam
suplemento contendo torta de dendê apresentaram redução nos consumos de matéria
seca (CMS), proteína bruta (CPB), carboidratos não fibrosos (CCNF) e nutrientes
digestíveis totais (CNDT). O consumo médio das frações fibrosas fibra em
detergente neutro (CFDN) e fibra em detergente ácido (CFDA) dos suplementos
foram superiores para vacas que receberam suplementação contendo torta de dendê,
em comparação aos demais suplementos avaliados. O menor CDMS para o
tratamento com torta de dendê, provavelmente está associado aos maiores teores de
FDA e da conseqüente elevação da concentração de lignina no suplemento. As
concentrações médias de glicose, proteína e albumina plasmática encontradas não
variaram entre os tratamentos experimentais sendo consideradas normais,
independente do co-produto de biodiesel utilizado. Os picos de ureia plasmática
foram obtidos entre 4,19 e 5,12 horas após a alimentação. Nas condições
experimentais estudadas, as tortas de amendoim e girassol podem ser utilizadas na
substituição total do farelo de soja em suplementos para vacas em lactação. Não
sendo recomendado a utilização da torta de dendê.
Palavras-chave: Alimentação alternativa, bovino leiteiro, fontes de proteína,
nutrição animal, suplementação.
21
Intake, digestibility and blood parameters of cows under grazing with by
products of biodiesel industry
ABSTRACT
This study aims to evaluate the use of peanut, sunflower and palm kernel pies
replacing the soybean bran for lactating cows under grazing system on the
consumption, digestibility of nutrients and blood parameters. It had been used 16
lactating cows, crossbred Holstein x Zebu kept in pasture of Panicum maximum cv.
Tanzania in an experimental area of 8 ha, divided into 10 paddocks of 0.8 ha each.
The experiment had been constituted in four periods, during 15 days each, the first
11 being adapted to experimental diets and the others for data collection. The cows
had been distributed into four Latin squares 4 x 4. The experimental treatments had
been characterized by the use of different pies, from the biodiesel production,
replacing the soybean bran in the concentrate, being one witness (without additional
pie) the others with the inclusion of peanut, sunflower and palm kernel pies. The
nutrients consumption from Panicum maximum cv. Tanzania did not vary among the
experimental treatments. Regarding the supplement consumption, it had been
observed differences among the experimental treatments, where, the cows which had
received a supplement containing palm kernel pie had shown a reduction in the dry
matter consumption (DMC), crude protein consumption (CPC), non-fiber
carbohydrates consumption (NFCC) and total digestible nutrients consumption
(TDNC). The average consumption of the fibrous fractions, fiber in neutral detergent
(FND) and fiber in acid detergent (FAD) of the supplements had been higher for
cows which had received the supplementation containing palm kernel pie, comparing
to other evaluated supplements. The lowest (CDMS) for the treatment with palm
kernel pie, probably is associated to the highest content of (FAD) and the consequent
increase of the lignin concentration in the supplement. The average concentrations of
glucose, protein and plasma albumin found, did not vary among the experimental
treatments being considered as normal, independent of the biodiesel co-product used.
The peaks of plasma urea had been achieved between 4.19 and 5.12 hours after
feeding. In the studied experimental conditions, peanut and sunflower pies may be
used in the total substitution of the soybean bran in supplements for lactation cows. It
is not recommended the use of palm kernel pie.
Key words: Alternative food, dairy cattle, protein sources, animal nutrition,
supplementation.
22
INTRODUÇÃO
A identificação de alimentos alternativos que possam substituir total ou
parcialmente os grãos convencionais (milho e farelo de soja) tem recebido atenção
especial por parte dos pesquisadores e produtores de modo geral, tendo como razão
principal os aspectos de ordem econômica, uma vez que os concentrados contribuem
para a elevação dos custos nos sistemas de produção de leite. Pesquisas na área de
nutrição animal vêm buscando alternativas para determinar o valor nutritivo destes
alimentos. A produção de alimentos com menor custo, de boa qualidade e que
contribuam para o atendimento das exigências nutricionais dos animais torna-se
condição fundamental à rentabilidade da pecuária leiteira.
A utilização de co-produtos oriundos da produção de biodiesel em
substituição aos ingredientes convencionais nas dietas pode contribuir com a redução
dos custos de alimentação, sem, no entanto, afetar a eficiência nutricional e de
produção dos rebanhos. Além disso, contribui com a redução de impactos ambientais
evitando a deposição de resíduos no meio ambiente. Outro fator importante é que a
maioria dos resíduos agroindustriais tem produção estacional e que geralmente
coincide com o período de escassez de forragens, o que auxiliaria os produtores a
solucionarem problemas decorrentes da falta de alimentos ao longo do ano.
Geralmente, a torta ou farelo gerado na extração do óleo não passam por
processo de agregação de valor porque são desconhecidas as suas potencialidades
nutricionais e econômicas, salvo algumas exceções como soja, algodão e girassol
(Abdala et al., 2008). Por serem escassos trabalhos na literatura utilizando tortas
oriundas da produção de biodiesel, torna-se importante o conhecimento dos efeitos
dessas na alimentação de vacas em lactação.
Considerando o incentivo governamental para a produção de biodiesel e que
há grande potencial de produção deste combustível tornar-se necessário criar
alternativa viável para destinação dos co-produtos gerados no processo de obtenção.
Uma alternativa para destinação ecologicamente correta é aproveitar tais co-produtos
na alimentação animal, que poderá otimizar e elevar a produção de alimentos
destinados ao atendimento da demanda da população, gerar recursos, melhorar as
condições de vida do homem do campo e fortalecer a agricultura familiar. Além de
estabelecer as bases técnicas e econômicas para o fortalecimento do agronegócio da
23
produção de leite integrada à promoção do desenvolvimento do setor de bioenergia
de forma sustentável.
Conduziu-se este trabalho com o objetivo de avaliar o uso das tortas de
amendoim, girassol e dendê, em substituição ao farelo de soja em suplementos para
vacas em lactação em pastejo sobre o consumo, digestibilidade de nutrientes e
parâmetros sanguíneos.
24
MATERIAL E MÉTODOS
O presente trabalho foi realizado na Fazenda Experimental da Universidade
Federal da Bahia (12° 23’ 57.51” S, 38° 52’ 44.66” W), no município de São
Gonçalo dos Campos - BA, localizada a 108 km de Salvador, situada na mesorregião
Centro-Norte Baiano e microrregião de Feira de Santana (Recôncavo Baiano), no
período de agosto a outubro de 2008.
Utilizou-se 16 vacas mestiças Holandês x Zebu com peso vivo médio de 544
kg ± 57 kg, para a seleção dos animais experimentais, alguns critérios foram
seguidos: 1) serem pluríparas, 2) dias em lactação entre o 45º e o 90º, 3) estar a mais
de 90 dias do próximo parto, 4) bom estado de saúde, 5) produção média de 8 litros
de leite/dia ± 1,4 litros de leite/dia. As vacas foram distribuídas em quatro quadrados
latinos 4x4. Cada período experimental teve duração de 15 dias, sendo 11 dias de
adaptação e 4 dias de observação e colheita, totalizando 60 dias de estudo.
Os tratamentos experimentais consistiram de quatro diferentes suplementos,
sendo o testemunha contendo farelo de soja, e os outros três, tendo cada um, em sua
composição, uma das tortas em estudo: tortas de dendê (Elaeais guineensis),
amendoim (Arachis hypogaea) e girassol (Helianthus annuus). Os suplementos
foram formulados para atender as recomendações dietéticas dos animais de acordo
com o NRC (2001). Foram ofertados 3 kg de suplementos por animal por dia em
quantidades iguais no horário das duas ordenhas (1,5 kg manhã e 1,5 kg tarde). A
água foi fornecida à vontade.
Na Tabela 1 encontra-se a composição bromatológica dos ingredientes dos
suplementos e do pasto de capim Tanzânia, enquanto na Tabela 2 encontram-se as
proporções dos ingredientes e a composição bromatológica dos suplementos.
25
Tabela 1. Composição bromatológica dos ingredientes dos suplementos concentrados
e do pasto de capim tanzânia
Ingredientes
Item
Milho Farelo de Torta de Torta de
Torta de
Capim
moído
soja
amendoim girassol
dendê
Tanzânia
MS (%)
95,42
95,77
95,83
97,18
96,69
24,92
1
MM
1,21
5,98
4,75
5,45
5,58
7,97
PB1
9,00
46,74
44,57
24,37
13,15
7,77
EE1
3,22
2,22
8,12
5,80
11,18
0,96
1
FDN
18,90
10,50
14,29
33,85
69,63
71,25
FDA1
6,75
9,50
12,29
27,21
40,12
44,88
1
CNF
70,14
34,56
28,25
30,54
0,46
14,05
Hemicelulose1
12,15
0,99
2,00
6,64
29,51
26,37
1
Lignina
1,32
3,48
5,61
13,46
28,91
8,35
CT 1
86,57
45,06
42,56
64,38
70,09
83,30
1
Matéria mineral (MM), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), fibra em detergente neutro (FDN),
fibra em detergente ácido (FDA), Hemicelulose, Lignina e carboidratos totais (CT), expressos em %
MS
Tabela 2. Proporção dos ingredientes e composição bromatológica dos suplementos
contendo tortas oriundas da produção de biodiesel para vacas em lactação
Suplementos
Ingrediente
Sem torta
Torta de
Torta de
Torta de
(% MS)
adicional
amendoim
girassol
Dendê
Milho tritutado
82,06
84,07
77,66
46,75
Farelo de soja
10,34
Torta de
8,34
amendoim
Torta de girassol
15,05
Torta de dendê
45,50
Mistura mineral 1
4,06
4,04
3,73
4,18
2
Ureia: SA
3,55
3,55
3,57
3,57
Item
Composição Bromatológica
MS (%)
95,81
95,80
96,03
96,35
MM 3
5,67
5,45
5,49
7,28
3
PB
20,91
20,29
19,72
19,25
EE 3
2,87
3,38
3,37
6,59
3
FDN
16,60
17,08
19,77
40,51
FDA 3
5,90
6,70
9,34
21,41
3
CNF
53,95
53,80
51,65
26,37
Hemicelulose 3
10,07
10,38
10,44
6,59
3
Lignina
1,44
1,58
3,05
13,77
CT 3
70,55
70,88
71,40
66,88
1
Níveis de garantia: cálcio - 18 g; fósforo - 81 g; sódio - 104 g; magnésio - 15,3 g; enxofre - 9,6 g;
iodo - 49 mg; ferro - 517 mg; selênio - 27 mg; cobalto - 100 mg; manganês - 1.000 mg; flúor - 810
mg; cobre - 1.600 mg; e zinco - 6.000 mg.
2
Ureia e sulfato de amônia na proporção de 9:1.
3
Matéria mineral (MM), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), fibra em detergente neutro (FDN),
fibra em detergente ácido (FDA), carboidratos não fibrosos (CNF), hemicelulose, lignina e
carboidratos totais (CT), expressos em % MS.
26
As vacas foram mantidas em uma área de pastagem, com 8 ha, composta de
Panicum maximum cv. Tanzânia, dividida em 10 piquetes de 0,8 hectares, cada,
delimitados por cerca elétrica. Todos os piquetes tinham ligação a uma área de
descanso com sombrite, cocho para o fornecimento de mistura mineral e bebedouro.
O método de pastejo utilizado foi lotação rotativa, com três dias de ocupação e 27
dias de descanso. Para garantir a oferta de forragem pretendida foi realizado o
acompanhamento da disponibilidade do pasto. Para isto, um dia antes da entrada dos
animais nos piquetes, quadrados de 1 m (Haydock & Shaw, 1975) foram lançados
em pontos aleatórios e a forrageira cortada a 10 cm do solo. Este material foi seco em
estufa de ventilação forçada e feitas amostragens para avaliação do teor de matéria
seca da forrageira. A diferença na quantidade da forragem na entrada e saída dos
animais foi utilizada para avaliação da taxa de crescimento do pasto.
Nos períodos de colheita de dados, amostras dos suplementos foram
acondicionadas em sacos plásticos, individualmente. Ao final de cada período de
colheita foi feita uma amostra composta por animal, tratamento e período. Estas
amostras foram moídas em moinhos com peneira com crivo de 1 mm para análise.
As análises bromatológicas foram realizadas no Laboratório de Nutrição
Animal da EMV-UFBA. Foram determinados nas amostras compostas do pasto,
alimentos concentrados, suplementos e nas tortas os teores de matéria seca (MS),
matéria mineral (MM), extrato etéreo (EE) e nitrogênio total (N), conforme as
técnicas descritas por Silva e Queiroz (2002), sendo que o teor de proteína bruta (PB)
foi obtido multiplicando-se o teor de N pelo fator 6,25. Os teores de fibra em
detergente neutro (FDN), ácido (FDA), e lignina foram determinados conforme Van
Soest et al. (1991). Nas análises de FDN, dos alimentos concentrados empregou-se
alfa-amilase termoestável, com objetivo de reduzir a contaminação com amido e
facilitar a filtragem. Os carboidratos totais (CT) foram obtidos pela equação de
Sniffen et al. (1992): CT = 100 – (%PB + %EE + % MM), os carboidratos não
fibrosos (CNF) do pasto, foram calculados utilizando-se a equação 100 – (%PB + %
FDN + % EE + % MM), e para os CNF dos suplementos utilizou-se a equação 100
– [(%PB - %PB derivada da ureia + % ureia) + %FDN + % EE + % MM] (Hall,
2000). O consumo de NDT foi obtido utilizando-se a equação: NDT = PB digestível
+ (EE digestível x 2,25) + FDN digestível + CNF digestível (NRC, 2001), sendo
PBD = (PB ingerida - PB fezes), EED = (EE ingerido - EE fezes), FDND = (FDN
ingerido - FDN fezes) e CNFD = (CNF ingeridos - CNF fezes).
27
A produção fecal foi estimada pelo fornecimento via oral de 10 g do
indicador externo, o óxido de cromo, divididas em duas porções diárias de 5 g, após
as ordenhas da manhã e da tarde respectivamente, durante 11 dias (sete de adaptação
e quatro de colheita). Nos últimos quatro dias do período, foram coletadas amostras
de fezes diretamente na ampola retal dos animais com aproximadamente 200g, duas
vezes ao dia, mas em diferentes horários, de forma a ter amostras a intervalos de 2
horas (6:00, 8:00, 10:00, 12:00, 14:00, 16:00 e 18:00h) ao longo do período diurno.
As amostras foram acondicionadas em sacolas plásticas identificadas e
congeladas a -10ºC. Após a pré-secagem (55 – 65 ºC), as amostras foram moídas (1
mm), e compostas por animal, tratamento e período, e analisadas quanto ao teor de
cromo. Para determinação da produção fecal (PF), foi utilizada a fórmula: Produção
fecal (kg/dia) = (cromo fornecido (g/dia)/cromo nas fezes (g/kg de MS)).
Como indicador interno foi utilizada a fibra em detergente neutro
indigestível (FDNi), para avaliação do consumo, para isso utilizaram-se bovinos
fistulados no rúmen, de acordo com a metodologia empregada por Cochran et al.
(1986), que consiste na incubação in situ de aproximadamente 0,5 g das amostras
(ingredientes dos suplementos, pasto de capim Tanzânia e fezes) por 144 h, em sacos
de nylon Ankon® (filter bag) com porosidade específica, após a incubação o material
remanescente foi submetido ao tratamento térmico com solução de detergente neutro,
durante uma hora, assumindo o resíduo como indigestível. O consumo de suplemento
foi determinado diretamente, isto é, pela diferença entre o oferecido e as sobras. A
estimativa do consumo foi realizada conforme a equação: CMS (kg/dia) = {[(PF x
CIF) IS]/CIFO} + CMSS, sendo: CMS = consumo de matéria seca (kgdia); PF =
produção fecal (kg/dia); CIF = concentração de FDNi (kg/kg de MS) nas fezes; IS =
FDNi no suplemento (kg/dia); CIFO = FDNi na forragem (kg/kg de MS); CMSS =
consumo de matéria seca do suplemento (kg/dia).
Os coeficientes de digestibilidade da MS e dos nutrientes foram calculados
segundo Silva & Leão (1979): CD = [(kg de nutriente ingerido – kg de nutriente
excretado)]/ (kg de nutriente ingerido) X 100. As amostras de sangue foram obtidas
no dia seguinte, após cada período estabelecido para colheita de amostras.
As colheitas de sangue foram realizadas, imediatamente antes (tempo zero),
duas, quatro e seis horas após o fornecimento matinal do suplemento. Foram
colhidos cerca de 10 mL de sangue, por punção da veia coccígea. Após a retirada do
sangue, o material foi centrifugado a 3.500rpm por 15 minutos, e o soro resultante foi
28
armazenado em ependorfs
e congelado a -20ºC, para análises posteriores. As
determinações das concentrações de ureia e glicose, proteína e albumina foram feitas
com kits comerciais (Labtest diagnóstica SA), empregando-se o método enzimáticocolorimétrico. Todas essas determinações foram analisadas pelo aparelho
espectofotômetro.
Para os parâmetros sanguíneos os dados foram analisados em parcela sub
dividida onde a parcela principal foi o quadrado latino e a parcela secundária os
tempos de colheita após a alimentação.
Os dados obtidos para os consumos de nutrientes e digestibilidade aparente
foram submetidos à análise de variância, e as médias comparadas pelo teste Tukey
considerando um nível de significância de 5%.
29
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A disponibilidade média de massa forrageira durante o experimento foi 3.897
kg/ha, no entanto, Santos et al. (2005) avaliando a produção de forragem, em
diferentes épocas de ocupação de piquetes de capim-tanzânia obteve uma variação de
produção de 4.382 a 5.825 kg de matéria seca/ha, nas diferentes épocas de avaliação,
sendo que, estes resultados encontrados mostram-se superiores aos observados neste
trabalho. Conforme é relatado na literatura, a disponibilidade está diretamente
correlacionada com o consumo voluntário de matéria seca. Os menores valores de
produção de matéria seca/ha encontrados neste experimento podem ser justificados
dentre outros fatores pela época em que foi conduzido o experimento (agosto à
outubro de 2008), época essa que representaria o final do período chuvoso na região,
o que ocasionou redução na produção de matéria verde do pasto.
Os co-produtos de biodiesel utilizados em substituição ao farelo de soja, na
suplementação de vacas em lactação não influenciaram (P>0,05) o consumo de
matéria seca (CMS) do pasto e total expresso nas diferentes unidades, exceto o
consumo de suplemento em kg/dia que foi menor para o tratamento com torta de
dendê em sua composição (Tabela 3).
Os valores médios obtidos para o CMS kg/dia entre os tratamentos
experimentais variaram entre (13,48 a 14,64 kg/dia) apresentando-se próximos aos
estimados pelo NRC (2001), que preconiza consumo de MS de 13,03 a 13,69 kg/dia
para vacas com média de 540 kg de peso corporal e produção de leite corrigida de 8 a
10 kg de leite.
Os consumos de MS, PB, EE, FDN, FDA e CNF do pasto de Panicum
maximum cv. Tanzânia não apresentaram diferença (P>0,05) entre os suplementos
com as diferentes tortas.
30
Tabela 3 - Médias e coeficientes de variação (CV) para os consumos de matéria seca
(CMS), proteína bruta (CPB), fibra em detergente neutro (CFDN) e fibra
em detergente ácido (CFDA) de pasto e suplemento de vacas mestiças
Holandês x Zebu, recebendo diferentes suplementos contendo tortas
oriundas da produção de biodiesel
Suplemento
Variável
CV (%)
Sem torta
Torta
Torta
Torta
adicional
amendoim
girassol
dendê
Consumo kg/dia
CMS pasto
11,67
11,43
11,84
11,60
15,18
CMS suplemento
2,74 a
2,75 a
2,80 a
1,88 b
14,59
CMS total
14,41
14,18
14,64
13,48
12,60
CPB pasto
0,91
0,89
0,92
0,90
15,18
CPB suplemento
0,57 a
0,56 a
0,55 a
0,36 b
13,95
CPB total
1,48 a
1,45 a
1,47 a
1,26 b
10,24
CEE pasto
0,11
0,11
0,11
0,11
15,18
CEE suplemento
0,08 b
0,09 b
0,09 b
0,12 a
24,65
CEE total
0,19 b
0,20 b
0,20 b
0,23 a
13,43
CFDN pasto
8,32
8,15
8,44
8,27
15,18
CFDN suplemento
0,46 b
0,47 b
0,55 b
0,76 a
26,39
CFDN total
8,78
8,62
8,99
9,03
14,17
CFDA pasto
5,24
5,13
5,32
5,21
15,18
CFDA suplemento
0,16 c
0,18 c
0,26 b
0,40 a
31,07
CFDA total
5,40
5,31
5,58
5,61
14,41
CCNF pasto
1,64
1,61
1,66
1,63
15,18
CCNF suplemento
1,68 a
1,68 a
1,65 a
0,62 b
9,48
CCNF total
3,32 a
3,29 a
3,31 a
2,25 b
9,27
CNDT
8,00 ab
8,08 ab
8,26 a
7,21 b
12,70
Consumo g/kg
CMS
2,68
2,64
2,80
2,50
13,84
FDN
1,63
1,60
1,72
1,67
15,40
Consumo g/kg0,75
CMS
128,87
126,78
133,66
120,14
13,40
Médias nas linhas seguidas por letras iguais não diferem (P>0,05) estatisticamente pelo teste Tukey.
Com relação ao consumo de matéria seca (CMS) do suplemento observou-se
diferença (P<0,05), entre os tratamentos experimentais, onde, as vacas que
consumiram suplemento contendo torta de dendê apresentaram redução no consumo
superior a 30% quando comparado às vacas que receberam suplementos contendo
farelo de soja, torta de amendoim e torta de girassol.
Verificou-se que alguns animais rejeitaram o suplemento contendo torta de
dendê, provavelmente essa rejeição está relacionada com a aceitabilidade, quantidade
de fibra ou ainda devido ao elevado teor de extrato etéreo quando comparado às
demais tortas.
31
Correia (2010) avaliando dietas contendo tortas oriundas da produção de
biodiesel em substituição ao farelo de soja na alimentação de bovinos mestiços
Holandês x Zebu observou que a dieta contendo torta de dendê proporcionou menor
consumo de MS em relação às demais dietas contendo farelo de soja, torta de
amendoim e torta de girassol. O autor justifica que este comportamento ocorreu em
decorrência do alto teor de FDN da dieta com torta de dendê, em relação às outras
dietas experimentais contendo farelo de soja, torta de amendoim e torta de girassol.
Da mesma forma, Silva et al. (2000) constataram redução nos consumos de
MS em bezerros 7/8 Holandês x Zebu, não-castrados no período de 60 dias após
desaleitamento recebendo diferentes níveis de torta de dendê, (0, 25, 50 e 75%) em
substituição do milho no concentrado, explicada, pelos autores, provavelmente, pela
menor palatabilidade e pelo alto teor de fibra da torta de dendê que possui
aproximadamente 70% de FDN.
A ingestão de MS é um dos fatores determinantes do desempenho animal,
sendo o ponto inicial para o ingresso de nutrientes, principalmente de energia e
proteína, necessários para o atendimento das exigências de mantença e produção.
Observou-se, uma variação no consumo de matéria seca em relação ao peso
vivo de 2,5 a 2,8% MS/PV e de 1,60 a 1,72% FDN/PV. Estes resultados estão de
acordo com a literatura, neste experimento, a média geral para consumo de FDN foi
de 1,65%/PV, apresentando-se superior à sugerida pelo referido autor.
Detmann et al. (2003) analisando um conjunto de dados obtidos em
experimentos com bovinos, alimentados com forrageiras tropicais, concluíram que
consumos de FDN (%PV) para bovinos foram superiores a 1,2% PV em
aproximadamente 39% dos dados analisados.
Os dados encontrados neste estudo apresentam-se semelhantes aos obtidos
por Soares et al. (2001) avaliando a predição do consumo voluntário de matéria seca
em pastagens de Capim-tanzânia (Panicum maximum, J. cv. tanzânia), por vacas em
lactação relatam consumos médios de matéria seca de 2,1% PV, sendo que os dados
variaram de 1,30 a 2,75% PV.
O mesmo comportamento do CMS do suplemento foi observado para o CPB
do suplemento o que influenciou a redução do CPB total de vacas que receberam
torta de dendê no suplemento, pois, apresentou-se inferior quando comparado aos
demais suplementos experimentais sem torta adicional, com torta de girassol e torta
de amendoim sendo, portanto, observado a maior diferença de CPB do suplemento
32
(36,8%) para vacas que consumiram a suplementação com torta de dendê (0,36 kg)
em comparação as que consumiram o suplemento contendo farelo de soja (0,57 kg),
este comportamento foi observado provavelmente porque a torta de dendê apresenta
menor teor de proteína bruta (Tabela 1) na sua composição bromatológica, como
também em resposta do menor consumo de MS deste suplemento, que pode ser
observado na Tabela 3.
O NRC (2001) preconizou um consumo de PB variando de 1,11 e 1,29 kg/dia
para vacas com média de 550 kg de peso vivo, produzindo entre 8 e 10 kg de leite
corrigido. Os consumos de PB totais encontrados neste experimento apresentam uma
variação entre 1,26 kg e 1,48 kg apresentando-se superiores as exigências estimadas
segundo o NRC (2001), para todos os tratamentos experimentais, desta forma, os
consumos médios de PB, dos tratamentos experimentais, atenderam às exigências
preconizadas pelas revisões do NRC referendadas.
Os valores médios de CEE obtidos neste estudo foram 0,08; 0,09; 0,09 e 0,12
kg/dia para animais alimentados com os suplementos, sem torta adicional, e com
torta de amendoim, torta de girassol e torta de dendê respectivamente. O suplemento
com torta de dendê proporcionou maior CEE (P<0,05) aos demais tratamentos
experimentais, provavelmente pelo fato deste suplemento ter apresentado o maior
teor de extrato etéreo (Tabela 1). Estes resultados ainda podem ser explicados devido
ao método de extração do óleo do dendê que é realizado por meio de um processo
físico (prensagem) e o co-produto gerado contém quantidades consideráveis de
extrato etéreo.
Comportamento semelhante foi observado por Macome (2009)
onde os
valores de EE consumido pelos ovinos, machos não castrados, da raça Santa Inês,
com idade entre 4 e 6 meses foram crescentes, com a adição da torta de dendê na
dieta, pelo fato, do aumento no teor de EE nas dietas.
O consumo médio das frações fibrosas FDN e FDA dos suplementos foram
superiores (P<0,05) para vacas que receberam suplementação contendo torta de
dendê, em comparação aos demais suplementos avaliados. Este comportamento pode
estar relacionado aos maiores teores desses nutrientes na composição bromatológica
deste alimento, pois, o mesmo apresenta elevado teor de fibra (69,63%FDN) e
(40,12%FDA).
Comportamento semelhante ao observado neste trabalho foi descrito por
Silva et al. (2008) que estudaram dietas de capim-elefante amonizado e torta de
33
dendê para ovinos em crescimento e observaram aumento no consumo de FDN no
grupo alimentado com 40% de torta de dendê na dieta, fato associado ao elevado teor
de FDN desse produto.
Já as médias de CFDN (%PV) apresentaram-se acima de 1,2% PV
recomendado por Mertens (1992) em todos os tratamentos experimentais, contudo
ressalta-se que várias pesquisas com vacas leiteiras, em países de clima tropical, já
comprovaram que animais de menor produção de leite, em relação aos animais puros
de clima temperado, têm maior capacidade de ingestão de fibra sem diminuir a
produção de leite, como os observados por Cavalcanti et al. (2008).
A suplementação de vacas em pastejo com diferentes tortas oriundas da
produção de biodiesel influenciou (P<0,05) o consumo médio de NDT, sendo que, o
consumo de NDT para os animais que receberam suplementação com a torta de
dendê apresentou-se menor quando comparado ao encontrado para os animais que
receberam suplementação com torta de girassol. Provavelmente esse menor consumo
de NDT observado para o tratamento com torta de dendê, pode estar associado ao
menor consumo de MS deste suplemento.
As exigências de NDT estimadas de acordo com o NRC (2001) foram de 6,55
kg e 7,19 kg para produções médias de 8 kg e 10 kg de leite respectivamente em
vacas com o peso médio de 550 kg. Os valores médios encontrados para o consumo
de NDT neste experimento apresentam uma variação entre 7,21 kg e 8,26 kg
apresentando-se superiores as exigências estimadas segundo o NRC (2001), para
todos os tratamentos experimentais, atendendo desta forma as exigências nutricionais
conforme preconizada de acordo com a recomendação do referido conselho.
O tratamento experimental com torta de dendê apresentou redução sobre o
consumo de CNF do suplemento e total (Tabela 3), este comportamento observado
pode ser atribuído ao menor consumo de MS deste suplemento associado ao elevado
teor de FDN presente na composição da torta de dendê.
Segundo o NRC (2001), a concentração de CNF mínimo necessário seria
entre 25 e 30% e a ótima estaria entre 38 e 40%. Altos teores, acima de 45% de CNF,
podem comprometer a digestibilidade dos nutrientes, devido ao abaixamento do pH
ruminal e aumento na taxa de passagem, diminuindo a atividade celulolítica e,
conseqüentemente, a digestibilidade da fibra. Por outro lado, a ingestão inadequada
de CNF pode deprimir a disponibilidade de energia do ácido propiônico e a produção
de ácido láctico, reduzindo a síntese de proteína microbiana e diminuindo a digestão
34
da fibra (Van Soest, 1994). Verifica-se que os animais que receberam suplementos
contendo farelo de soja, torta de amendoim e torta de girassol apresentaram
composição nutricional de CNF dentro dos limites ótimos segundo as recomendações
do NRC (2001), porém, o tratamento experimental com torta de dendê apresentou a
concentração mínima de acordo com o preconizado pelo referido conselho.
A digestibilidade aparente de um alimento é a diferença entre as quantidades
consumidas e as excretadas nas fezes. Na Tabela 4 estão descritos os coeficientes de
digestibilidade aparente total dos nutrientes de acordo com os suplementos avaliados.
O coeficiente de digestibilidade aparente da matéria seca CDMS foi menor (P<0,05)
nos animais que consumiram suplemento contendo torta de dendê, em comparação
ao suplemento com torta de amendoim, entretanto estes coeficientes foram
semelhantes aos demais suplementos.
O menor CDMS para o tratamento com torta de dendê, provavelmente está
associado aos maiores teores de FDA e da consequente elevação da concentração de
lignina no suplemento que continha torta de dendê (Tabela 1), estes resultados
parecem suficientes para afetar a digestibilidade da MS nos animais que consumiram
o suplemento com esta torta. Os maiores coeficientes de digestibilidade aparente da
MS foram encontrados nos que animais receberam suplementação com torta de
amendoim, entretanto, os animais que receberam suplementos contendo farelo de
soja e torta de girassol não diferiram dos demais suplementos.
Tabela 4 - Médias e coeficientes de variação (CV) para os coeficientes de
digestibilidade aparente da matéria seca (CDMS), proteína bruta
(CDPB), extrato etéreo (CDEE), fibra em detergente neutro (CDFDN),
carboidratos totais (CDCT) e carboidratos não fibrosos (CDCNF) em
vacas mestiças Holandês x Zebu, recebendo diferentes suplementos
contendo tortas oriundas da produção de biodiesel
Suplementos
Variável
CV (%)
Sem torta
Torta
Torta
Torta
adicional
amendoim
girassol
dendê
CDMS
56,65 ab
56,98 a
56,42 ab
53,85 b
5,35
CDPB
61,44
64,57
63,15
59,76
16,10
CDEE
36,34 b
43,40 ab
44,59 ab
51,07 a
29,61
CDFDN
50,00
51,59
51,06
51,20
6,70
CDCT
63,67
63,15
64,26
60,61
8,46
CDCNF
76,79 a
75,54 a
76,03 a
67,64 b
8,17
Médias nas linhas seguidas por letras iguais não diferem (P>0,05) estatisticamente pelo teste Tukey.
35
Segundo Silva e Leão (1979) a digestibilidade está intimamente relacionada
com a composição de FDN do alimento e com o consumo desta pelos animais.
Quanto maiores os teores de proteína, melhor será o aproveitamento da FDN pelos
microrganismos do rúmen e consequentemente, melhor a digestibilidade.
Os coeficientes de digestibilidade da PB, não diferiram (P>0,05) em função da
suplementação com diferentes tortas oriundas da produção de biodiesel. Entre os
tratamentos experimentais observa-se na Tabela 3, que houve diferença no CPB em
kg dia (P<0,05) para os animais que receberam suplementação contendo torta de
dendê apresentando-se portanto, inferior ao CPB dos demais tratamentos, no entanto,
esta diferença não foi suficiente para afetar o coeficiente de digestibilidade deste
nutriente.
A redução na digestibilidade da fração fibrosa dos alimentos tem sido
observada em algumas situações quando há maior teor de gordura na dieta (Jenkins,
1993), o que pode comprometer o valor energético desta em função de um
decréscimo na digestibilidade total. No entanto, neste estudo não foi observado
redução na digestibilidade da FDN (P>0,05). Desta forma, provavelmente, fatores
metabólicos estejam relacionados à redução no consumo, já que a digestibilidade da
fração fibrosa não foi afetada com a presença de torta de dendê (Bateman & Jenkins,
1998; Allen, 2000), que possui elevado teor de EE.
Silva et al. (2007) avaliando a amonização da silagem de capim elefante e a
substituição do concentrado por 40% de farelo de cacau ou 40% de torta de dendê
não observaram influencias sobre os coeficientes de digestibilidade da (PB e FDN)
em ovinos Santa Inês, machos não castrados.
O coeficiente de digestibilidade aparente do extrato etéreo apresentou
diferença (P<0,05) entre os suplementos com as diferentes tortas, sendo observado o
maior coeficiente nos animais com suplementos com torta de dendê e o menor
coeficiente naqueles sem torta adicional 51,07% e 36,34% respectivamente. Já os
demais suplementos não proporcionaram diferença estatística.
Observa-se
na
literatura
que
outros
fatores
podem
influenciar
a
digestibilidade dos lipídios além da quantidade na dieta, como por exemplo o grau de
insaturação e comprimento da cadeia dos ácidos graxos, tamanho de partículas de
gorduras sólidas e a
proporção de triglicerídeos e ácidos graxos presentes nas fontes lipídicas.
36
Torna-se essencial o conhecimento do perfil metabólico de vacas alimentadas
com co-produtos oriundos da produção de biodiesel para o entendimento das relações
entre as concentrações dos metabólitos e a produção de leite destes animais, o que
servirá como um rastreador do metabolismo do animal.
De acordo com Contreras et al. (2000) os perfis metabólicos refletem as
interações provocadas pelo excesso ou pela
deficiência de um nutriente na
alimentação, mas também avaliam a interação entre nutrientes
Os constituintes sanguíneos têm relação direta com a composição química e a
digestibilidade dos componentes da dieta (Arruda et al., 2008), dessa forma, a
utilização das diferentes tortas oriundas da produção de biodiesel na suplementação
de vacas em lactação sob pastejo não influenciou (P>0,05) as concentrações de
glicose proteína e albumina plasmática (Tabela 5). Entretanto, para o nitrogênio
ureico observou-se efeito (P<0,05) entre os suplementos como também entre os
tempos de coleta (Figura 1) o que demonstra que a concentração de ureia sanguínea
está intimamente correlacionada à utilização da proteína na dieta.
As concentrações médias de glicose encontradas neste estudo não variaram
(P>0,05) entre os suplementos sendo considerada normal, independente do coproduto de biodiesel utilizado. Os resultados obtidos estão de acordo com valores
fisiológicos de referência relatados por Fraser (1991) entre 42 e 74 mg/dL, de glicose
no sangue de vacas.
Tabela 5 - Médias das concentrações de glicose, proteína, N-ureico e albumina sérica
em vacas mestiças em pastejo recebendo suplementação
Suplemento
Sem torta
Torta de
Torta de
Torta de
CV
Variável
adicional
amendoim
girassol
dendê
15,15
Glicose (mg/dL)
61,56
61,84
59,99
59,59
7,47
Proteína (g/dL)
8,19
8,23
8,04
8,23
6,02
Albumina (mg/dL)
2,90
2,85
2,88
2,89
15,21
N-ureico (mg/dL)
19,60 ab
18,80 ab
20,20 a
18,00 b
Médias nas linhas seguidas por letras iguais não diferem (P>0,05) estatisticamente pelo teste Tukey.
As concentrações séricas de proteínas totais (g/dL) não foram influenciadas
(P<0,05) pela inclusão de co-produtos da produção de biodiesel, na forma de torta,
em substituição ao farelo de soja em suplementos para vacas em lactação sob pastejo,
os valores obtidos neste estudo encontram-se dentro da normalidade para bovinos,
37
entre 66 e 90 g/L equivalente a 6,6 e 9,0 g/dL de acordo com González et al. (2000).
Tem-se verificado que a secreção de proteína total pode ser influenciada pela
ingestão de alimentos e exigências do animal. De acordo com estes resultados, podese inferir que a inclusão de tortas oriundas da produção de biodiesel forneceu
adequado suprimento de proteína e, provavelmente, não provocou alteração do
estado funcional das células hepáticas de vacas em lactação sob pastejo.
A albumina é a proteína mais abundante do plasma sanguíneo,
correspondendo a aproximadamente 50% das proteínas circulantes (González et al.,
2000), neste estudo as concentrações séricas de albumina não variaram mediante a
inclusão de co-produtos do biodiesel na suplementação dos animais. Isso demonstra
que os animais estavam recebendo níveis de proteína na dieta compatíveis com suas
exigências. A albumina é sintetizada no fígado e sua concentração pode ser
influenciada pelo aporte protéico da ração.
A concentração de ureia altera rapidamente por modificações na ração,
sendo um indicador sensível da ingesta de proteínas (Roos et al., 2006). O N-ureico
apresentou diferença (P<0,05) em função dos diferentes suplementos avaliados
apesar destes terem sido formulados de forma isonitrogenados, provavelmente os
menores valores encontrados para o tratamento com a participação da torta de dendê
deve-se ao menor consumo de matéria seca deste suplemento e a consequente
redução no consumo de proteína bruta. González et al. (2000) citam que os valores
de referência para ureia para bovinos se situam entre 2,6 e 7,0 mmol L-1, estes
valores equivalem a 7,29 e 19,61mg/dL de N-ureico, sendo que os valores médios de
N-ureico encontrados neste trabalho foram considerados normais para os
tratamentos, sem torta adiconal com a participação de torta de amendoim e torta de
dendê, já para o tratamento com torta de girassol o resultado obtido para esta variável
foi superior ao relatado anteriormente como normal, o que pode ser traduzido por
uma maior quantidade de ureia sintetizada pelo fígado, a partir dos grupos amônia
não utilizados pelos microrganismos ruminais.
Geralmente, alterações na concentração de ureia estão correlacionadas com
o conteúdo de amônia ruminal cuja utilização depende da atividade metabólica dos
microrganismos ruminais. Estes transformam o nitrogênio da amônia em proteína
bacteriana, processo que requer energia. Logo, se a ração estiver deficiente em
energia prontamente disponível, as concentrações de amônia aumentam no rúmen, e
a quantidade de ureia aumenta no sangue (González et al., 2000).
38
Observou-se efeito na concentração sérica de N-ureico (P<0,05) em função
dos tempos de coleta de acordo com a inclusão de co-produtos da produção de
biodiesel, na forma de torta, em substituição ao farelo de soja em suplementos para
vacas em lactação sob pastejo, apresentando comportamento quadrático (Figura 1)
nos diferentes tratamentos experimentais.
A ureia é um produto de excreção do metabolismo do nitrogênio e a sua
determinação em amostras de soro sangüíneo revela informação sobre a atividade
metabólica protéica do animal. Neste trabalho, os picos de ureia foram obtidos entre
4,19 e 5,12 horas após a alimentação. O metabolismo da proteína degradável no
rúmen determina o pico da ureia entre 4 e 6 horas após o fornecimento da
alimentação em vacas lactantes, já o metabolismo da proteína não-degradável no
rúmen contribui para os níveis plasmáticos de ureia durante o dia (Bequette, 1997).
Figura 1. Concentrações de N-ureico sérico após a alimentação em vacas mestiças
Holandês x Zebu, recebendo diferentes suplementos contendo tortas
oriundas da produção do biodiesel a) sem torta adicional, b) torta de
amendoim, c) torta de girassol, d) torta de dendê
Observa-se uma maior concentração sérica de N-ureico em função
suplementos oferecidos quando se utilizou a torta de girassol, apresentando o ponto
39
máximo de inflexão da derivada de 22,42 mg/dL ocorrendo 5,12 horas após a
alimentação, o menor pico da concentração sérica de N-ureico foi obtido quando os
animais foram suplementados com torta de dendê com ponto máximo de inflexão da
derivada de 19,05 mg/dL ocorrendo 4,40 horas após a alimentação, os demais
tratamentos sem torta adicional e torta de amendoim não apresentaram diferença
(P>0,05) quando comparados aos citados anteriormente, sendo observado, valores
máximos de 21,20 mg/dL às 4,19 horas pós-prandial e 20,59 mg/dL às 4,62 horas
após a alimentação respectivamente
A partir do pico, ocorreu uma redução gradativa que pode ser explicada
pela excreção da ureia via rins.
Os resultados obtidos neste estudo encontram-se de acordo com os valores
de referência para N-ureico relatado por kaneko, (1997) para a espécie bovina
variando entre 20 e 30 mg/dL indicando que estes animais encontravam-se
clinicamente saudáveis.
40
CONCLUSÃO
Nas condições experimentais estudadas, as tortas de amendoim e girassol
podem ser utilizadas na substituição total do farelo de soja em suplementos para
vacas em lactação. Não sendo recomendado a utilização da torta de dendê.
41
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44
Capítulo III
______________________________________________________
COMPORTAMENTO INGESTIVO E BIOCLIMATOLÓGICO DE
VACAS LEITEIRAS A PASTO SUPLEMENTADAS COM COPRODUTOS ORIUNDOS DA PRODUÇÃO DE BIODIESEL
45
Comportamento ingestivo e bioclimatológico de vacas leiteiras a pasto
suplementadas com co-produtos oriundos da produção de biodiesel
RESUMO
Objetivou-se avaliar a influência do uso das tortas de amendoim, girassol e dendê,
em substituição ao farelo de soja em suplementos para vacas em lactação em pastejo
sobre o comportamento ingestivo e bioclimatológico de vacas lactantes mantidas em
pastejo. Foram utilizadas 16 vacas em lactação, mestiças Holandês x Zebu, mantidas
em pastagem de Panicum maximum cv. Tanzânia em uma área experimental de 8 ha
dividida em 10 piquetes de 0,8 ha cada. O experimento foi constituído por quatro
períodos, com duração de 15 dias cada, sendo os 11 primeiros para adaptação as
dietas experimentais e os demais para colheita de dados. As vacas foram distribuídas
em quatro quadrados latinos 4x4. Os tratamentos experimentais consistiram de
quatro suplementos, sendo o farelo de soja como testemunha, e outros três, tendo
cada um, em sua composição, uma das tortas em estudo: tortas de amendoim,
girassol e dendê. Os dados obtidos para o comportamento ingestivo e
bioclimatológico foram submetidos à análise de variância e quando significativos as
médias foram comparadas pelo teste Tukey utilizando um nível de significância de
5%. A inclusão de diferentes tortas oriundas da produção do biodiesel em
substituição ao farelo de soja na suplementação de vacas em lactação não influenciou
os tempos médios despendidos com alimentação, ruminação e ócio. Da mesma forma
os consumos de matéria seca (MS) e fibra em detergente neutro (FDN) e a eficiência
de alimentação (g MS e FDN/hora) foram semelhantes entre os suplementos com
diferentes tortas. Os valores médios de freqüência respiratória, freqüência cardíaca e
temperatura retal obtidas neste estudo foram semelhantes aos valores de referência
para bovinos relatados por diversos autores, caracterizando assim o conforto térmico
dos animais. As tortas de amendoim, girassol e dendê oriundas da produção de
biodiesel podem substituir o farelo de soja em suplementos para vacas em lactação
mantidas sob pastejo pois não influenciam o comportamento ingestivo diurno, como
também, mantém os parâmetros fisiológicos dos animais dentro da normalidade.
Palavras-chave: bovinos, fisiologia, fontes de proteína, nutrição de ruminantes.
46
Ingestive behavior and bioclimatology cows under supplemented grazing with
by products of biodiesel industry
ABSTRACT
This study aims to evaluate the use of peanut, sunflower and palm kernel pies
replacing the soybean bran in supplements on the ingestive behavior, bioclimatology
and lactating cows kept under grazing. It has been used 16 cows, in lactation period,
crossbred Holstein x Zebu which were kept in pasture composed of Panicum
maximum cv. Tanzania in an experimental area of 8 ha divided in 10 paddocks of 0.8
ha. The cows have been distributed in four latin squares 4 x 4 where the experiment
was constituted by four periods, during 15 days being the first 11to be adapted to
experimental diets and the others to collect data. The experimental treatments
consisted of four supplements, being the soybean bran the witness, and the other
three, being each one, in its composition, one of the pies which is being studied:
peanut pie, sunflower and palm kernel. The obtained data to the ingestive behavior,
bioclimatology have been submitted to variance analysis, considering a significance
level of 5% by Tukey test. The inclusion of different pies from biodiesel production
replacing the soybean bran in the supplementation of lactating cows, did not
influence (P>0.05) the average time spent with feeding, rumination and leisure. In
the same way the dry matter intake (DMI) and neutral detergent fiber (NDF) and the
feeding efficiency (g DM and NDF/hour) were similar among the experimental
treatments. The average values of respiratory frequency, heart frequency and rectal
temperature which were obtained in this study were similar to the reference values
for bovines, related by several authors, thus characterizing the animals’ thermal
comfort. The inclusion of peanut pie, sunflower pie and palm kernel pie from the
biodiesel production replacing the soybean bran in supplements to lactating cows
kept under grazing did not influence in the daytime ingestive behavior, as well as,
kept the physiological.
Key words: bovine, physiology, ruminant’s nutrition, springs of protein.
47
INTRODUÇÃO
A exploração de bovinos no Brasil caracteriza-se basicamente na utilização
de pastagens tropicais, como reflexo das extensas áreas disponíveis e da diversidade
das espécies forrageiras presentes. A ingestão de alimentos é uma das funções vitais
mais importantes dos seres vivos, inclusive dos bovinos que respondem
diferentemente a vários tipos de alimento e de dieta alterando os níveis de produção,
a taxa de fertilidade e o comportamento alimentar (Pires et al., 2006).
Os co-produtos oriundos da produção de biodiesel como as tortas de
amendoim, girassol e dendê apresentam-se como alternativas para a alimentação de
ruminantes em substituição ao farelo de soja, porém com algumas limitações, como a
deficiência e/ou desequilíbrios em suas características nutricionais e os custos com a
coleta, o transporte e, geralmente, o tratamento necessário para melhoria de seu valor
nutritivo (Burgi, 1992). No entanto, seus efeitos sobre o comportamento ingestivo,
bioclimatológico animal ainda foram pouco estudados.
A alimentação animal é considerada o elo entre a produção de biodiesel e a
pecuária, a utilização das tortas de amendoim, girassol e dendê na alimentação de
ruminantes visa manter a produtividade a partir de uma alternativa para o sistema
produtivo da bovinocultura leiteira. O alto valor nutricional de proteína bruta,
geralmente obtido nas tortas, sugere que estes co-produtos podem ser utilizados
como fonte protéica para os animais, substituindo fontes de alimentos tradicionais
gerando renda com custo reduzido.
No Nordeste brasileiro, poucos estudos foram desenvolvidos no intuito de
avaliar o comportamento ingestivo de vacas leiteiras em condições de pastejo,
principalmente no que diz respeito a práticas de manejo alimentar combinadas com
as condições climáticas, visando uma maior eficiência na produção de rebanhos
leiteiros (Mendes, 2009).
Objetivou-se avaliar a influência do uso das tortas de amendoim, girassol e
dendê, em substituição ao farelo de soja em suplementos para vacas em lactação em
pastejo sobre o comportamento ingestivo e bioclimatológico de vacas lactantes
mantidas em pastejo
48
MATERIAL E MÉTODOS
O presente trabalho foi realizado na Fazenda Experimental da Universidade
Federal da Bahia (12° 23’ 57.51” S, 38° 52’ 44.66” W), no município de São
Gonçalo dos Campos - BA, localizada a 108 km de Salvador, situada na mesorregião
Centro-Norte Baiano e microrregião de Feira de Santana (Recôncavo Baiano), no
período de agosto a outubro de 2008.
Utilizou-se 16 vacas mestiças Holandês x Zebu com peso vivo médio de 544
kg ± 57 kg, para a seleção dos animais experimentais, alguns critérios foram
seguidos: 1) serem pluríparas, 2) dias em lactação entre o 45º e o 90º, 3) estar a mais
de 90 dias do próximo parto, 4) bom estado de saúde, 5) produção média de 8 litros
de leite/dia ± 1,4 litros de leite/dia. As vacas foram distribuídas em quatro quadrados
latinos 4x4. Cada período experimental teve duração de 15 dias, sendo 11 dias de
adaptação e 4 dias de observação e colheita, totalizando 60 dias de estudo.
Os tratamentos experimentais consistiram de quatro diferentes suplementos,
sendo o testemunha contendo farelo de soja, e os outros três, tendo cada um, em sua
composição, uma das tortas em estudo: tortas de dendê (Elaeais guineensis),
amendoim (Arachis hypogaea) e girassol (Helianthus annuus). Os suplementos
foram formulados para atender as recomendações dietéticas dos animais de acordo
com o NRC (2001). Foram ofertados 3 kg de suplementos por animal por dia em
quantidades iguais no horário das duas ordenhas (1,5 kg manhã e 1,5 kg tarde). A
água foi fornecida à vontade.
Na Tabela 1 encontra-se a composição bromatológica dos ingredientes dos
suplementos e do pasto de capim Tanzânia, enquanto na Tabela 2 encontram-se as
proporções dos ingredientes e a composição bromatológica dos suplementos.
49
Tabela 1. Composição bromatológica dos ingredientes dos suplementos concentrados
e do pasto de capim Tanzânia
Ingredientes
Item
Milho Farelo de Torta de Torta de
Torta de
Capim
moído
soja
amendoim girassol
dendê
Tanzânia
MS (%)
95,42
95,77
95,83
97,18
96,69
24,92
1
MM
1,21
5,98
4,75
5,45
5,58
7,97
PB1
9,00
46,74
44,57
24,37
13,15
7,77
EE1
3,22
2,22
8,12
5,80
11,18
0,96
1
FDN
18,90
10,50
14,29
33,85
69,63
71,25
FDA1
6,75
9,50
12,29
27,21
40,12
44,88
1
CNF
70,14
34,56
28,25
30,54
0,46
14,05
Hemicelulose1
12,15
0,99
2,00
6,64
29,51
26,37
1
Lignina
1,32
3,48
5,61
13,46
28,91
8,35
CT 1
86,57
45,06
42,56
64,38
70,09
83,30
1
Matéria mineral (MM), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), fibra em detergente neutro (FDN),
fibra em detergente ácido (FDA), carboidratos não fibrosos (CNF), Hemicelulose, Lignina e
carboidratos totais (CT), expressos em % MS
Tabela 2. Proporção dos ingredientes e composição bromatológica dos suplementos
contendo tortas oriundas da produção de biodiesel para vacas em lactação
Suplementos
Ingrediente
Sem torta
Torta de
Torta de
Torta de
(% MS)
adicional
amendoim
girassol
Dendê
Milho tritutado
82,06
84,07
77,66
46,75
Farelo de soja
10,34
Torta de
8,34
amendoim
Torta de girassol
15,05
Torta de dendê
45,50
Mistura mineral 1
4,06
4,04
3,73
4,18
2
Ureia: SA
3,55
3,55
3,57
3,57
Item
Composição bromatológica
MS (%)
95,81
95,80
96,03
96,35
MM 3
5,67
5,45
5,49
7,28
3
PB
20,91
20,29
19,72
19,25
EE 3
2,87
3,38
3,37
6,59
FDN 3
16,60
17,08
19,77
40,51
FDA 3
5,90
6,70
9,34
21,41
CNF 3
53,95
53,80
51,65
26,37
3
Hemicelulose
10,07
10,38
10,44
6,59
Lignina 3
1,44
1,58
3,05
13,77
CT 3
70,55
70,88
71,40
66,88
1
Níveis de garantia: cálcio - 18 g; fósforo - 81 g; sódio - 104 g; magnésio - 15,3 g; enxofre - 9,6 g;
iodo - 49 mg; ferro - 517 mg; selênio - 27 mg; cobalto - 100 mg; manganês - 1.000 mg; flúor - 810
mg; cobre - 1.600 mg; e zinco - 6.000 mg.
2
Ureia e sulfato de amônia na proporção de 9:1
3
Matéria mineral (MM), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), fibra em detergente neutro (FDN),
fibra em detergente ácido (FDA), carboidratos não fibrosos (CNF), Hemicelulose, Lignina e
carboidratos totais (CT), expressos em % MS.
50
As vacas foram mantidas em uma área de pastagem, com 8 ha, composta de
Panicum maximum cv. Tanzânia, dividida em 10 piquetes de 0,8 hectares, cada,
delimitados por cerca elétrica. Todos os piquetes tinham ligação a uma área de
descanso com sombrite, cocho para o fornecimento de mistura mineral e bebedouro.
O método de pastejo utilizado foi lotação rotativa, com três dias de ocupação e 27
dias de descanso. Para garantir a oferta de forragem pretendida foi realizado o
acompanhamento da disponibilidade do pasto. Para isto, um dia antes da entrada dos
animais nos piquetes, quadrados de 1 m (Haydock & Shaw, 1975) foram lançados
em pontos aleatórios e a forrageira cortada a 10 cm do solo. Este material foi seco em
estufa de ventilação forçada e feitas amostragens para avaliação do teor de matéria
seca da forrageira. A diferença na quantidade da forragem na entrada e saída dos
animais foi utilizada para avaliação da taxa de crescimento do pasto.
Nos períodos de colheita de dados, amostras dos suplementos foram
acondicionadas em sacos plásticos, individualmente, sendo posteriormente
homogeneizadas e retirada uma amostra composta por animal e por período. Estas
amostras foram moídas em moinhos com peneira com crivo de 1 mm para análise.
As análises bromatológicas foram realizadas no Laboratório de Nutrição
Animal da EMV-UFBA. Foram determinados nas amostras compostas do pasto,
alimentos concentrados e nas tortas oriundas da produção de biodiesel os teores de
matéria seca (MS), matéria orgânica (MO), matéria mineral (MM), extrato etéreo
(EE) e nitrogênio total (N), conforme as técnicas descritas por Silva & Queiroz
(2002), sendo que o teor de proteína bruta (PB) foi obtido multiplicando-se o teor de
N pelo fator 6,25. Os teores de fibra em detergente neutro (FDN), ácido (FDA), e
lignina foram determinados conforme Van Soest et al. (1991). Os carboidratos totais
(CT) foram obtidos pela equação de Sniffen et al. (1992): CT = 100 – (%PB + %EE
+ % cinzas), os carboidratos não fibrosos (CNF) do pasto, foram calculados através
da equação 100 – (%PB + % FDN + % EE + % cinzas), e para os CNF dos
suplementos utilizou-se a equação 100 – [(%PB - %PB derivada da ureia + %
ureia) + %FDN + % EE + % cinzas] (Hall, 2000).
Como indicador interno, foi utilizada a fibra em detergente neutro
indigestível (FDNi), para avaliação do consumo. Para isso, utilizou-se quatro bovinos
fistulados no rúmen, de acordo com a metodologia empregada por Cochran et al.
(1986), que consiste na incubação in situ de aproximadamente 0,5 g das amostras
(ingredientes dos suplementos, pasto e fezes) por 144 h, em sacos de nylon Ankon®
51
(filter bag) com porosidade específica. Após a incubação, o material remanescente
foi submetido ao tratamento térmico com solução de detergente neutro, durante uma
hora, assumindo o resíduo como indigestível. O consumo de suplemento foi
determinado diretamente, isto é, pela diferença entre o oferecido e sobra. A
estimativa do consumo foi realizada conforme a equação: CMS (kg/dia) = {[(PF x
CIF) IS]/CIFO} + CMSS, sendo: CMS = consumo de matéria seca (kgdia); PF =
produção fecal (kg/dia); CIF = concentração de FDNi (kg/kg de MS) nas fezes; IS =
FDNi no suplemento (kg/dia); CIFO = FDNi na forragem (kg/kg de MS); CMSS =
consumo de matéria seca do suplemento (kg/dia).
As avaliações de comportamento animal foram diurnas, das 6 às 18 horas,
realizadas no 12° dia de cada período experimental, com o registro do tempo
despendido em pastejo, ruminação e ócio de acordo com Silva et al. (2004). Adotouse a observação visual instantânea dos animais a cada 30 minutos sendo as atividades
desenvolvidas pelos animais foram registradas em etograma individual. Como tempo
de pastejo foi considerado o período no qual ocorreu a prática de apreensão da
forragem pelo animal, incluindo pequenos deslocamentos. O tempo de ruminação foi
identificado através da cessação do pastejo, mas realização da atividade de
mastigação. O tempo de ócio foi considerado o período no qual o animal mantinha-se
em descanso. Os comportamentos ingestivos foram considerados como mutuamente
excludentes, ou seja, a cada registro, cada um dos animais foi classificado em apenas
uma atividade. Cada animal foi identificado com marcas de tinta em várias partes do
corpo, facilitando a observação. O tempo total despendido em cada atividade foi
calculado multiplicando-se o número total de observações por 30, intervalo utilizado
para a observação dos mesmos.
Para o monitoramento do ambiente experimental, foram utilizados
termohigrômetro e termômetro de globo negro, termômetro de bulbo seco e
termômetro de bulbo úmido para medir e registrar a temperatura ambiente (Ta),
umidade relativa do ar (UR), temperatura de globo negro (TGN) e temperatura do
ponto de orvalho (Tpo) e determinar o índice de temperatura do globo negro e
umidade (ITGU = TGN+ 0,36*(Tpo) + 41,5), segundo recomendações de Buffington
et al. (1981).
Os termômetros foram mantidos na pastagem em área exposta a radiação
solar direta, na área de descanso coberta com sombrite e na sala de ordenha. Durante
o período de colheita, o ambiente foi monitoramento a cada hora, durante 12 horas
52
consecutivas, com início às 06:00 h e término às 18:00 h. A partir dos dados, foram
calculados os índices de conforto térmico:
Índice de temperatura e umidade foi calculado segundo metodologia
proposta por Baeta & Sousa (1997): (ITU=Ta+0,36Tpo+41,2). O ponto de orvalho
foi calculado pela fórmula (TPO =8√UR/100*[112+ (0,9*T)]+ (0,1*T)-112).
As respostas fisiológicas dos animais foram avaliadas por intermédio dos
seguintes parâmetros: frequência respiratória (FR), freqüência cardíaca (FC) e
temperatura retal (TR). Foi tomada a frequência respiratória pelos movimentos dos
flancos por minuto, a frequência cardíaca foi obtida com o auxílio de um
estetoscópio posicionado diretamente na região torácica esquerda, contando-se o
número de movimentos, ambos os parâmetros foram aferidos com o auxílio de um
cronômetro por período de 30 segundos e o resultado multiplicado por dois para
obtenção em minutos. A temperatura retal foi aferida por meio de termômetro clínico
digital.
Os dados obtidos para o comportamento ingestivo e bioclimatológico foram
submetidos à análise de variância e quando significativos as médias foram
comparadas pelo teste Tukey utilizando um nível de significância de 5%.
53
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A inclusão das tortas de amendoim, girassol e dendê oriundas da produção
de biodiesel em substituição ao farelo de soja na suplementação de vacas em
lactação, não influenciou (P>0,05) os tempos despendidos em alimentação,
ruminação, ócio como também os consumos de MS e FDN (Tabela 3).
Tabela 3. Médias e coeficientes de variação (CV) para variáveis comportamentais
diurnas, consumo de matéria seca (CMS) e consumo de fibra em
detergente neutro (CFDN) em vacas mestiças suplementadas em pastejo
Variável
Pastejo (min/dia)
Ruminação (min/dia)
Ócio (min/dia)
CMS (g/dia)
CFDN (g/dia)
Sem torta
adicional
425,63
121,88
52,50
14.410
8.780
Suplemento
Torta
Torta
amendoim
girassol
435,00
423,75
103,13
121,88
61,88
54,38
14.180
14.640
8.620
8.990
Torta
dendê
420,00
118,13
61,88
13.480
9.030
CV (%)
11,18
31,32
63,17
12,60
14,17
Médias nas linhas seguidas por letras iguais não diferem (P>0,05) estatisticamente pelo teste Tukey
Os valores de tempo médio despendido em pastejo obtidos nos animais
deste estudo (Tabela 3), encontram-se dentro da amplitude normal de tempo de
pastejo 420 a 600 minutos/dia, sugerida por Hodgson (1990) citado por Moreno et al.
(2008). Os animais despenderam cerca de 70% do tempo de observação na atividade
de pastejo no período diurno (Figura 1), estes resultados corroboram aqueles obtidos
por Borja et al. (2009) que registraram taxa de pastejo média de 71,7 % em vacas
mestiças Holandês x Zebu recebendo quatro tipos de concentrado, contendo níveis:
0; 1,5; 3,0; e 4,5% de óleo de Licurí na matéria seca, não sendo observado diferença
entre os tratamentos experimentais para esta variável segundo os autores.
A ausência de significância para esta variável pode ser explicada devido
consumo de matéria seca total (Tabela 3) não ter apresentado diferença (P>0,05)
entre os tratamentos experimentais.
54
Sem torta
adicional
Torta de
amendoim
Torta de
girassol
Torta de
dendê
Figura 1. Respostas comportamentais de pastejo, ruminação e ócio por vacas
mestiças suplementadas em pastejo
Para o tempo médio despendido em na atividade de ruminação observou-se
variação de 103,13 a 121,88 minutos nesta atividade, representando 19,38 % do
tempo total de observação no período diurno. Os resultados encontrados foram
semelhantes aos relatados por Carlotto et al. (2010) onde os tempos médios de
ruminação variaram de 92 a 124 minutos no período diurno e não diferiram entre os
suplementos testados.
Acredita-se que esses valores foram baixos porque a atividade de
ruminação é realizada, em sua maior parte, no período noturno. Este comportamento
foi observado por Zanine et al. (2009) relatando que, os maiores tempos de
ruminação ocorreram no início e no final da noite nos períodos mais frescos do dia,
período em que os animais não foram avaliados neste estudo. Essa característica se
justifica por uma peculiaridade da espécie bovina, que, durante a noite, procura se
proteger da predação sem comprometer a ruminação (Church, 1988; Zanine et al.,
2007).
Os tempos de ócio registrados neste estudo, apresentaram uma amplitude de
52,50 a 61,88 minutos/dia
(Tabela 3) representando 9,6 % do tempo total de
observação do período diurno. Resultados próximos aos deste experimento foram
descritos por Borja et al. (2009) que relataram percentagem média diária de ócio de
11,2 % no período diurno, da mesma forma Carlotto et al. (2010) que observaram
uma amplitude para o tempo de ócio de 55 a 74 minutos/dia. É possível que nas
55
condições deste estudo esta variável tenha sido influenciada pelo maior tempo
despendido para a atividade de pastejo diurno pelos animais.
A análise de variância mostrou não haver efeito significativo (P>0,05) da
inclusão de co-produtos da produção de biodiesel, na forma de torta, em substituição
ao farelo de soja em suplementos sobre o consumo em g MS/dia e g FDN/dia.
Os valores médios das variáveis climáticas e dos índices de conforto térmico
obtidos durante os períodos experimentais encontram-se na Tabela 4.
Tabela 4. Valores médios de temperatura do ambiente, temperatura de globo negro,
umidade relativa do ar, temperatura de ponto de orvalho, índice de
temperatura do globo e umidade, índice de temperatura e umidade nos
períodos experimentais
Período
Variável
I
II
III
IV
Temperatura do ambiente (ºC)
25,21
24,44
26,22
23,28
Temperatura do globo negro (ºC)
30,84
27,29
31,59
29,04
Umidade relativa do ar (%)
71,21
81,08
77,46
82,54
Temperatura do ponto de orvalho (ºC)
19,12
20,62
21,62
20,85
Índice de temperatura globo e
79,02
76,00
80,65
77,83
umidade
Índice de temperatura e umidade
73,30
73,07
75,21
72,99
A freqüência respiratória média variou entre 28,05 e 29,84 mov./min
(Tabela 5) sendo um indicativo que nas condições deste experimento vacas mestiças
Holandês x Zebu suplementadas com diferentes co-produtos oriundos da produção
de biodiesel mantiveram-se em homeotermia de acordo com Hahn et al. (1997),
citado por Gaughan et al. (1999), onde frequência respiratória de 20 a 60 mov/min. é
indicativo de condições de termoneutralidade e de 80 a 120 mov/min., de que os
animais estão sob estresse moderado, mas, quando a freqüência respiratória
ultrapassa 120 mov/min., demonstra que os bovinos estão sob carga excessiva de
calor.
Observou-se médias superiores para a frequência respiratória no turno da
tarde em relação ao turno da manhã (Tabela 6), entretanto, ambos valores são
considerados normais indicando ausência de estresse.
56
Tabela 5.
Médias e coeficientes de variação (CV) para freqüência respiratória
(mov./min), freqüência cardíaca (bat./min) e temperatura retal (ºC) em
vacas mestiças suplementadas em pastejo
Suplemento
Sem torta
Torta de
Torta de
Torta de
adicional
amendoim
girassol
dendê
Frequência respiratória
29,84 a
28,53 ab
28,43 ab
28,05 b
8,33
Frequência cardíaca
73,56 a
72,81 ab
72,25 ab
70,03 b
5,17
Temperatura retal
38,17 ab
38,24 a
38,18 ab
38,09 b
0,52
Variável
CV (%)
Médias nas linhas seguidas por letras iguais não diferem (P>0,05) estatisticamente pelo teste Tukey
A freqüência cardíaca dos animais nesta pesquisa permaneceu dentro da
faixa fisiológica de referência, mesmo sendo observado variação entre os tratamentos
experimentais avaliados. De acordo com Detweiler (1996) a frequência cardíaca
varia entre 48 a 80 bat./min em bovinos. Também verificou-se efeito de turno
(P<0,05) para frequência cardíaca que apresentou médias superiores no turno da
tarde em relação ao turno da manhã.
Tabela 6.
Manhã
Tarde
Manhã
Tarde
Manhã
Tarde
Médias para freqüência respiratória (mov./min), freqüência cardíaca
(mov./min) e temperatura retal (ºC) nos turnos manhã e tarde em vacas
mestiças suplementadas em pastejo
Frequência respiratória (mov./min)
26,53 B
30,91 A
Frequência cardíaca (mov./min)
70,81B
73,52 A
Temperatura retal ºC
37,87 B
38,48 A
Médias nas colunas seguidas por letras iguais não diferem (P>0,05) estatisticamente pelo teste Tukey
As médias de temperatura retal obtidas neste estudo foram semelhantes às
consideradas normais por Ferreira, (2005) entre 37,5 a 39,5ºC. A temperatura retal
foi mais elevada no turno da tarde em relação ao da manhã, provavelmente, devido
ao aumento da carga térmica adicional recebida da radiação solar, resultando em um
aumento da quantidade de calor interno que foi mais intenso à tarde, como pode ser
observado na (Tabela 6), entretanto, de acordo com estes resultados verificou-se que
57
esta variável não afetou a homeotermia das vacas, indicando ausência de estresse por
calor entre os diferentes tratamentos experimentais.
O aumento da temperatura retal reflete o acúmulo de calor no organismo
animal, o qual é resultante do excesso de calor recebido do ambiente, somado à
produção interna de calor durante o dia, e da incapacidade dos mecanismos
termorreguladores em eliminar este excesso de calor (Baêta et al., 1987).
Os dados obtidos no presente trabalho mostram-se relevantes e de suma
importância, pois, apesar da temperatura de globo negro e o índice de temperatura e
umidade indicarem situação de estresse por calor, a temperatura retal e também a
freqüência respiratória das vacas mantiveram em níveis que indicam conforto
térmico, comprovando que vacas mestiças apresentam maior adaptabilidade as
condições adversas de climas quentes, quando comparadas com vacas da raça
holandês.
Vale ressaltar, que o estresse por calor reduz significativamente a ingestão de
matéria seca, devido em parte, a taxa metabólica diminuída, que resulta em sinais de
“feedback”, indicando menores exigências de energia, ou ainda podem evitar comer
e irem procurar sombra, ficando abrigados nestes locais.
58
CONCLUSÃO
As tortas de amendoim, girassol e dendê oriundas da produção de biodiesel
podem substituir o farelo de soja em suplementos para vacas em lactação mantidas
em pastejo pois não influenciam o comportamento ingestivo diurno, como também,
mantém os parâmetros fisiológicos dos animais dentro da normalidade.
59
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61
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62
Capítulo IV
______________________________________________________
PRODUÇÃO, COMPOSIÇÃO, PERFIL DE ÁCIDOS GRAXOS E
ECONOMICIDADE DA PRODUÇÃO DO LEITE DE VACAS EM
PASTEJO SUPLEMENTADO COM CO-PRODUTOS ORIUNDOS
DA PRODUÇÃO DE BIODIESEL
63
Produção, composição, perfil de ácidos graxos e economicidade da produção do
leite de vacas em pastejo suplementadas com co-produtos oriundos da produção
de biodiesel
RESUMO
Objetivou-se avaliar o uso das tortas de amendoim, girassol e dendê, em
substituição ao farelo de soja em suplementos para vacas em lactação em pastejo
sobre a produção, composição química, perfil de ácidos graxos e a economicidade da
produção de leite em vacas lactantes mantidas sob pastejo. Foram utilizadas 16 vacas
em lactação, mestiças Holandês x Zebu, mantidas em pastagem de Panicum
maximum cv. Tanzânia em uma área experimental de 8 ha dividida em 10 piquetes de
0,8 ha cada. O experimento foi constituído por quatro períodos, com duração de 15
dias cada, sendo os 11 primeiros para adaptação as dietas experimentais e os demais
para colheita de dados. As vacas foram distribuídas em quatro quadrados latinos 4x4.
Os tratamentos experimentais foram caracterizados pela participação de diferentes
tortas, oriundas da produção de biodiesel, em substituição ao farelo de soja no
concentrado, sendo um testemunha (sem torta adicional) e os demais com a inclusão
das tortas de amendoim, girassol e dendê. O consumo de nutrientes do pasto de
Panicum maximum cv. Tanzânia não variou entre os tratamentos experimentais. As
vacas foram ordenhadas manualmente duas vezes ao dia 6:00 e 16:00 horas para o
registro da produção de leite. Entre o 11º e 15º dia de cada período experimental,
foram avaliadas as produções de leite e coletadas amostras proporcionais às
produções obtidas nas ordenhas da manhã e da tarde. Os ésteres metílicos dos ácidos
graxos foram separados e quantificados em cromatógrafo a gás (CG-MASTER,
Shimadzu, Brasil). A substituição total do farelo de soja por co-produtos da produção
de biodiesel não influenciou a produção diária de leite em kg/dia sendo observado o
mesmo comportamento quando essa produção foi corrigida para 4 % de gordura. As
médias de produção de leite/dia obtidas variaram de 7,73 a 8,33 Kg/dia. Não houve
efeito dos suplementos sobre a concentração dos ácidos graxos, capróico (C6:0) e
caprílico (C8:0), apresentando médias de 2,19 e 1,61% respectivamente. As
diferentes tortas utilizada nos suplementos não influenciaram a concentração dos
ácidos graxos C14:0 e C16:0. Os suplementos com torta de girassol e torta de dendê
mostraram-se eficientes em melhorar as propriedades nutricionais da gordura do
leite, pois observou-se aumento na concentração de ácidos graxos insaturados e
contribuíram para que as relações entre os ácidos graxos insaturados/saturados
fossem mais favoráveis. Os custos com alimentação/animal/dia e total (60 dias)
foram menores no suplemento com torta de dendê em sua composição, seguido
daqueles com torta de girassol, torta de amendoim e sem torta adicional. As tortas de
amendoim, girassol e dendê oriundas da produção de biodiesel podem substituir o
farelo de soja em suplementos para vacas em lactação mantidas em pastejo. Entre as
tortas estudadas, a que apresenta a melhor viabilidade econômica é a torta de dendê.
A substituição total do farelo de soja pelas tortas de girassol e de dendê em
suplementos para vacas em lactação proporcionam menores concentrações de ácidos
graxos saturados e acréscimo na proporção de ácidos graxos insaturados. Caso haja
disponibilidade na região, recomenda-se como alternativa alimentar a utilização das
tortas de amendoim, de girassol e de dendê em substituição ao farelo de soja na
suplementação de vacas lactantes.
Palavras-chave: Alimentação alternativa, bovinocultura leiteira, fontes de proteína,
nutrição de ruminantes, perfil lipídico, suplementação
64
Production, composition, fatty acids profile and economical analysis of the milk
production of the cow’s milk in grazing system supplemented with by products
of biodiesel industry
ABSTRACT
This study aims to evaluate the use of peanut, sunflower and palm kernel pies,
replacing the soybean bran in supplements for grazing lactating cows on the
production, chemical composition, fat acids profile and the economy of the milk
production of lactating cows kept under grazing system. It has been used 16 lactating
cows, crossbred Holstein x Zebu, kept in pasture of Panicum maximum cv. Tanzânia
in an experimental area of 8 ha. divided into 10 pickets of 0,8 ha. each. The
experiment has been made by four periods, with 15 days each, being the first eleven
for adaptation to experimental diets and the others for data collection. The cows have
been distributed in four latin squares 4 x 4. The experimental treatments have been
characterized by using different pies, from the biodiesel production, replacing the
soybean bran in the concentrate, being one witness (without additional pie) and the
others including the peanut, sunflower and palm kernel pies. The consumption of
nutrients from pasture of Panicum maximum cv. Tanzânia did not vary among the
experimental treatments. The cows have been milked manually twice a day 06:00
and AM and 04:00 PM for registering the milk production. Between 11° and 15° of
each experimental period, it has been evaluated the milk production and collected
samples proportional to the productions achieved in the milking early in the morning
and in the afternoon. The methyl esters of the fat acids have been separated and
quantified in a gas chromatograph (CG-MASTER, Shimadzu, Brazil). The total
substitution of the soybean bran by the by-products of biodiesel production have not
influenced the daily milk production in Kg/day being observed the same behavior
when this production was corrected for 4% of fat. The averages of milk
production/day gotten varied from 7.73 to 8.33 Kg/day. There was not any effect of
the supplements on the concentration of the fat acids, caproic (C6:0) and caprylic
(C8:0), showing averages of 2.19 and 1.61% respectively. The different pies used in
the supplements have not influenced the fat acids concentration C14:0 and C16:0.
The supplements with sunflower and palm pies are efficient to improve the
nutritional properties of the fat in the milk, because it has been observed an increase
in the unsaturated fat acids concentration and have contributed in order to get a good
relation between saturated and unsaturated fat acids. The costs with
feeding/animal/day and total (60 days) were lower in the supplement with palm pie
in its composition, followed by those with sunflower pie, peanut pie and without
additional pie. The peanut, sunflower and palm pies from the biodiesel production
may replace the soybean bran in supplements for lactating cows kept under grazing
system. Among the studied pies, the one which shows the best economic viability is
the palm kernel pie. The total substitution of the soybean bran by the sunflower and
palm kernel pies in supplements for lactating cows have provided lower
concentrations of saturated fat acids and addition in the proportion of unsaturated fat
acids. If there is availability in the region, it has been recommended as a food
alternative the use of peanut, sunflower and palm kernel pies instead of the soybean
bran in the supplementation of lactating cows.
Key words: alternative food, dairy cattle, protein sources, ruminant nutrition, lipid
profile, supplementation.
65
INTRODUÇÃO
Na maioria das fazendas de leite no Brasil, a produção de alimento
volumoso em quantidade e qualidade adequadas para suprir as exigências de vacas
de leite durante todo o ano ainda é o principal fator limitante para a obtenção de
índices de eficiência técnica, econômica e produtiva satisfatórios. Em diversas
situações, alimentos suplementares são necessários para se obter níveis adequados de
produtividade.
Não é recente a intenção de alterar a composição do leite, principalmente
em relação à gordura. A perspectiva de manipular a gordura do leite visa atender à
demanda de um mercado consumidor cada vez mais exigente em relação ao consumo
de determinadas gorduras saturadas, em razão de seus efeitos deletérios sobre a saúde
humana (Eifert et al., 2006).
A tendência atual tem sido a demanda crescente por alimentos saudáveis, com
baixos teores de gordura saturada, sem o comprometimento das características
organolépticas e tempo de prateleira.
Tradicionalmente, os ácidos graxos saturados da gordura do leite têm
causado preocupação entre os especialistas da saúde humana, embora recentemente a
gordura de leite vem ganhando apreciação como um alimento funcional devido ao
potencial promotor de saúde devido a presença de alguns ácidos graxos
especificamente em produtos oriundos de ruminantes (Harvatine et al., 2008).
Considerando o incentivo governamental para a produção de biodiesel e que
há grande potencial de produção deste combustível nas diversas regiões do Brasil
torna-se necessário criar alternativa viável para destinação destes co-produtos
gerados no processo de obtenção. As tortas de oleaginosas, oriundas da produção do
biodiesel são uma alternativa na alimentação animal, podendo substituir fontes
suplementares de alta qualidade nutricional como o milho e o farelo de soja,
reduzindo os custos com a alimentação animal. O conhecimento sobre a utilização
das tortas de dendê (Elaeais guineensis), amendoim (Arachis hypogaea) e girassol
(Helianthus annuus) nas dietas de vacas lactantes e seu efeito no perfil de ácidos
graxos do leite ainda tem sido pouco estudado.
Ademais, há grande carência de informações sobre alimentos alternativos
típicos da região que apresentam potencial para serem empregados na composição
66
dos suplementos, objetivando o atendimento das exigências de vacas leiteiras
mantidas em pastagens.
Objetivou-se com o presente estudo avaliar o efeito das tortas de amendoim,
girassol e dendê, em substituição ao farelo de soja em suplementos para vacas em
lactação em pastejo sobre a produção, composição química, perfil de ácidos graxos e
a economicidade da produção de leite em vacas lactantes mantidas sob pastejo.
67
MATERIAL E MÉTODOS
O presente trabalho foi conduzido na Fazenda Experimental da
Universidade Federal da Bahia (12° 23’ 57.51” S, 38° 52’ 44.66” W), no município
de São Gonçalo dos Campos - BA, localizada a 108 km de Salvador, situada na
mesorregião Centro-Norte Baiano e microrregião de Feira de Santana (Recôncavo
Baiano), no período de agosto a outubro de 2008.
Utilizou-se 16 vacas mestiças Holandês x Zebu com peso vivo médio de
544 kg ± 57 kg, para a seleção dos animais experimentais, alguns critérios foram
seguidos: 1) serem pluríparas, 2) dias em lactação entre o 45º e o 90º, 3) estar a mais
de 90 dias do próximo parto, 4) bom estado de saúde, 5) produção média de 8 litros
de leite/dia ± 1,4 litros de leite/dia. As vacas foram distribuídas em quatro quadrados
latinos 4x4. Cada período experimental teve duração de 15 dias, sendo 11 dias de
adaptação e 4 dias de observação e colheita.
Os tratamentos experimentais consistiram quatro diferentes suplementos,
sendo o farelo de soja como testemunha, e os outros três, tendo cada um, em sua
composição, uma das tortas em estudo: tortas de dendê (Elaeais guineensis),
amendoim (Arachis hypogaea) e girassol (Helianthus annuus). Os suplementos
foram formulados para atender as recomendações dietéticas dos animais de acordo
com o NRC (2001). Foram ofertados 3 kg de suplemento por animal por dia em
quantidades iguais no horário das duas ordenhas (1,5 kg manhã e 1,5 kg tarde). A
água foi fornecida à vontade.
Na Tabela 1 encontra-se a composição bromatológica dos ingredientes dos
suplementos e do pasto de capim Tanzânia, enquanto na Tabela 2 encontram-se
apresentadas as proporções dos ingredientes e a composição bomatológica dos
suplementos
68
Tabela 1. Composição bromatológica dos ingredientes dos suplementos concentrados
e do pasto de capim tanzânia
Ingredientes
Item
Milho Farelo de Torta de Torta de
Torta de
Capim
moído
soja
amendoim girassol
dendê
Tanzânia
MS (%)
95,42
95,77
95,83
97,18
96,69
24,92
1
MM
1,21
5,98
4,75
5,45
5,58
7,97
PB1
9,00
46,74
44,57
24,37
13,15
7,77
EE1
3,22
2,22
8,12
5,80
11,18
0,96
1
FDN
18,90
10,50
14,29
33,85
69,63
71,25
FDA1
6,75
9,50
12,29
27,21
40,12
44,88
1
CNF
70,14
34,56
28,25
30,54
0,46
14,05
Hemicelulose1
12,15
0,99
2,00
6,64
29,51
26,37
1
Lignina
1,32
3,48
5,61
13,46
28,91
8,35
CT 1
86,57
45,06
42,56
64,38
70,09
83,30
1
Matéria mineral (MM), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), fibra em detergente neutro (FDN),
fibra em detergente ácido (FDA), carboidratos não fibrosos (CNF), Hemicelulose, Lignina e
carboidratos totais (CT), expressos em % MS
Tabela 2. Proporção dos ingredientes e composição bromatológica dos suplementos
contendo tortas oriundas da produção de biodiesel para vacas em lactação
Suplementos
Ingrediente
Sem torta
Torta de
Torta de
Torta de
(% MS)
adicional
amendoim
girassol
Dendê
Milho tritutado
82,06
84,07
77,66
46,75
Farelo de soja
10,34
Torta de
8,34
amendoim
Torta de girassol
15,05
Torta de dendê
45,50
Mistura mineral 1
4,06
4,04
3,73
4,18
Ureia: SA 2
3,55
3,55
3,57
3,57
Item
Composição Bromatológica
MS (%)
95,81
95,80
96,03
96,35
3
MM
5,67
5,45
5,49
7,28
PB 3
20,91
20,29
19,72
19,25
EE 3
2,87
3,38
3,37
6,59
FDN 3
16,60
17,08
19,77
40,51
FDA 3
5,90
6,70
9,34
21,41
3
CNF
53,95
53,80
51,65
26,37
Hemicelulose 3
10,07
10,38
10,44
6,59
3
Lignina
1,44
1,58
3,05
13,77
CT 3
70,55
70,88
71,40
66,88
1
Níveis de garantia: cálcio - 18 g; fósforo - 81 g; sódio - 104 g; magnésio - 15,3 g; enxofre - 9,6 g;
iodo - 49 mg; ferro - 517 mg; selênio - 27 mg; cobalto - 100 mg; manganês - 1.000 mg; flúor - 810
mg; cobre - 1.600 mg; e zinco - 6.000 mg.
2
Ureia e sulfato de amônia na proporção de 9:1
3
Matéria mineral (MM), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), fibra em detergente neutro (FDN),
fibra em detergente ácido (FDA), carboidratos não fibrosos (CNF), Hemicelulose, Lignina e
carboidratos totais (CT), expressos em % MS.
69
As vacas foram mantidas em uma área de pastagem, com 8 ha, composta de
Panicum maximum cv. Tanzânia, dividida em 10 piquetes de 0,8 hectares, cada,
delimitados por cerca elétrica. Todos os piquetes tinham ligação a uma área de
descanso com sombrite, cocho para o fornecimento de mistura mineral e bebedouro.
O método de pastejo adotado foi lotação rotativa, com três dias de ocupação e 27
dias de descanso.
As vacas foram ordenhadas manualmente duas vezes ao dia 6:00 e 16:00
horas para o registro da produção de leite. Entre o 11º e 15º dia de cada período
experimental, foram avaliadas as produções de leite e coletadas amostras (de 150
mL) proporcionais às produções obtidas nas ordenhas da manhã e da tarde, sendo
armazenadas em recipientes contendo conservante (2-bromo-2-nitropropano-1-3diol) e enviadas a Clínica do Leite (ESALQ/USP), para análise das concentrações de
proteína, gordura, lactose e cálculo extrato seco total, através do analisador IDF
141C (2000) infravermelho, Clinica do Leite ESALQ/USP. Para avaliar a produção
dos animais realizou-se a pesagem do leite ordenhado pela manhã e a tarde, por
animal, e somado para determinação da produção diária. A produção de leite foi
corrigida para 4% de gordura pela equação PLC = 0,4 x (kg de leite) + 15 x (kg de
leite x % de gordura) /100 (NRC, 1989). A extração e esterificação dos ácidos
graxos, foram realizadas no Laboratório de Bromatologia do Setor de Nutrição do
Campus I da Universidade Federal da Paraíba, em João Pessoa, PB, as amostras
foram homogeneizadas com bastões de vidro e retiradas alíquotas de 100 mL de leite
que foram submetidas á centrifugação por 5 minutos para separação da gordura dos
demais nutrientes. Destas amostras foram obtidas alíquotas de 2 g para os processos
de extração, saponificação e esterificação (Folch et al., 1957). Em seguida, foi
realizada a metilação de acordo com metodologia de Hartman & Lago (1973) para
obtenção dos ésteres produzidos que foram acondicionados em recipientes de vidro
(10 mL) identificados e fechados para serem encaminhados para análise de
cromatografia gasosa.
As análises para identificação dos ácidos graxos foram realizadas na
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) – PE, em Recife. Os ésteres metílicos
dos ácidos graxos foram separados e quantificados em cromatógrafo a gás (CGMASTER, Shimadzu, Brasil), equipado com coluna capilar de sílica fundida
(MEGABORE,
J
&
W
Scientific,
Estados
Unidos),
fase
estacionária
polietilenoglicol, com dimensões de 30 m de comprimento, 0,53 mm de diâmetro
70
interno e 0,25 mm de espessura de filme, utilizando o hidrogênio como gás de
arraste, à vazão de 5 mL/min. Amostras de 1 µL de ésteres metílicos foram
introduzidas em injetor do tipo split/splitless a temperatura de 200 °C. Foram
empregadas as seguintes condições cromatográficas: temperatura inicial da coluna de
80 °C, permanecendo por 3 minutos, seguida de uma variação de temperatura de 10
°C/min até 175 °C na primeira rampa, onde permaneceu por dez minutos. Procedeuse um novo aumento na temperatura da coluna utilizando-se uma razão de 10 °C/min
até 200º C, permanecendo por cinco minutos, totalizando 30 minutos de análise. A
temperatura do detector de ionização de chama foi mantida em 220 ºC. Os
cromatogramas com dados sobre os tempos de retenção e percentagens de área dos
ésteres metílicos de ácidos graxos foram registrados em software tipo Peaksimple
(ARI Instruments – USA). A identificação e quantificação dos ácidos graxos foram
realizadas de acordo com Norma Européia EN 14103:2001.
Foram calculadas, as proporções entre o total de ácidos graxos insaturados e
saturados.
A partir do perfil de ácidos graxos, foi calculado o índice de aterogenicidade
(IA), conforme proposto por Ulbricht & Southgate (1991), para relacionar o perfil de
AG com riscos de distúrbios cardiovasculares, por intermédio da equação:
IA = [C12:0 + (C14:0 x 4) + C16:0] / (Total de ácidos graxos insaturados)
Em que: C12 = porcentagem do ácido láurico em relação aos ácidos graxos
totais (AGT); C14 = porcentagem do ácido mirístico em relação aos AGT; C16 =
porcentagem do palmítico em relação aos AGT.
Os custos com suplementação foram contabilizados considerando os preços
de cada ingrediente no mercado do Recôncavo Baiano, no segundo semestre de
2008.
Foi estabelecido o preço por kg de suplemento, posteriormente esses dados
foram usados para avaliar os custos com a suplementação por animal por dia.
Contudo, considerando que houve sobras, foi proposto o cálculo com base no
suplemento realmente consumido pelos animais. O lucro da atividade com a
comercialização do leite foi calculado descontando-se o custo com a suplementação
concentrada durante o período experimental para cada tratamento de modo a
determinar o tratamento mais eficiente do ponto de vista econômico.
O delineamento experimental teve quatro quadrados latinos simultâneos
(4x4) para a produção e composição do leite, e, três quadrados latinos simultâneos
71
para a quantificação dos ácidos graxos do leite, os resultados foram submetidos à
análise de variância, considerando um nível de significância de 5%, pelo teste Tukey.
Na análise dos custos com a suplementação, não foram utilizadas
comparações estatísticas.
72
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A substituição total do farelo de soja por co-produtos da produção de
biodiesel não influenciou a produção diária de leite em kg/dia (P>0,05) sendo
observado o mesmo comportamento quando essa produção foi corrigida para 4% de
gordura (Tabela 3).
As médias de produção de leite/dia obtidas neste trabalho
apresentaram variação de 7,73 a 8,33 Kg/dia, diferindo dos valores observados por
Gomide et al. (2001), ao estudar o consumo e a produção de leite de vacas mestiças
em pasto de brachiaria decumbens manejada sob duas ofertas diárias de forragem
encontrou médias entre 10,1 kg/vaca e 11,6 kg/vaca em dois ciclos de pastejo
estudados, recebendo 2,0 kg/cabeça dia de suplementação concentrada. Pimentel et
al. (2010) avaliando a produção de leite de vacas alimentadas com diferentes níveis
de torta de girassol na ração observaram efeito linear crescente com o aumento dos
níveis de inclusão da torta de girassol em substituição ao farelo de soja.
Tabela 3 - Médias e coeficientes de variação (CV) para produção de leite (PL),
produção de leite corrigida (PLCG) para 4,0 % de gordura, e teores de
gordura (G), proteína bruta (PB), lactose, extrato seco total (EST) e
extrato seco desengordurado (ESD) em função dos suplementos
experimentais
Suplemento
Item
CV (%)
Sem torta
Torta
Torta
Torta
adicional
amendoim
girassol
dendê
PL (kg/d)
8,10
8,33
8,04
7,73
22,83
PLCG (4,0%)
6,65
6,55
6,26
6,35
21,73
G (%)
2,85
2,66
2,65
2,81
27,32
PB (%)
3,26
3,17
3,24
3,16
9,02
Lactose (%)
4,73
4,78
4,77
4,73
5,84
EST(%)
11,81
11,59
11,65
11,69
7,09
ESD
8,96
8,93
9,01
8,88
4,19
Médias na mesma linha seguidas de letras distintas diferem entre si (P<0,05).
Os resultados obtidos não apresentaram diferenças (P>0,05) quanto ao uso
dos suplementos contendo diferentes tortas oriundas da produção de biodiesel em
comparação com o suplemento testemunha a base de farelo de soja, sobre os teores
de gordura (G), proteína bruta (PB), lactose, extrato seco total (EST) e extrato seco
desengordurado (ESD). Faria et al. (2010) avaliando o efeito de níveis de torta de
dendê (0,0; 25,0; 50,0 e 75,0 %) no suplemento concentrado de vacas em lactação a
pasto, sobre a composição química do leite, não verificou efeito sobre os percentuais
médios da composição química do leite de vacas cruzadas Holandês x Gir com o uso
73
do suplemento concentrado contendo níveis de torta de dendê em comparação com o
suplemento controle a base de farelo de soja, demonstrando que a inclusão da torta
de dendê na dieta de vacas leiteiras não afetou a composição química do leite.
Corroborando desta forma com os dados encontrados neste estudo. Assim,
pressupõe-se que a inclusão das tortas oriundas da produção de biodiesel na dieta de
vacas leiteiras não afetam a composição química do leite de vacas mantidas em
pastagem.
De acordo com Barbosa et al. (2010) durante o período de lactação das
vacas, o constituinte que possui maior variabilidade é a gordura e pode ser
considerado um componente negativamente correlacionado com a produção de leite,
que aumenta gradualmente seu teor com o avanço da lactação.
O teor de gordura do leite não diferiu entre os suplementos, apresentando
valor médio de 2,74%. O teor de gordura do leite depende principalmente do teor de
fibra da dieta (Oliveira & Fonseca, 1999). A partir das fibras da dieta é produzido
acetato que é usado na síntese da gordura do leite pela glândula mamária (Teixeira,
1992). Assim, pode-se pressupor que suplementos utilizados nos tratamentos não
diferiram quanto a proporção de ácidos graxos voláteis (acetatos) produzidos no
rúmen, desta forma, a porcentagem de gordura no leite foram semelhantes entre os
tratamentos.
É importante ressaltar que os níveis de gordura do leite encontram-se dentro
abaixo dos limites estabelecidos quando comparados com valores normais de
gordura no leite de (3,4 a 3,8%) para o gado holandês citados por (González et al.,
2001). Os baixos teores de gordura no leite observados nos diferentes os tratamentos
experimentais podem ser justificados devido a presença do bezerro ao pé da vaca
antes da ordenha para fazer o apojo e após a ordenha até as vacas serem levadas para
o pasto. No início da ordenha, o leite é sempre mais ralo, aumentando o teor de
gordura à medida que se aproxima do final. Isso ocorre porque a gordura, por ser
mais leve, tende a ficar na superfície do úbere, ou ainda agregar-se nos alvéolos, o
que retarda a sua passagem para os tetos. Então, se o bezerro mama no final, ele tem
acesso a um leite mais rico em gordura. Devido à característica racial dos animais
utilizados neste experimento (vacas mestiças Holandês x Zebu) existe a possibilidade
da ocorrência deste comportamento.
Segundo NRC, (2001) a concentração de PB no leite de vacas pode variar
entre 3,11 e 3,65% neste estudo, a porcentagem de proteína no leite variou de 3,16 a
74
3,26%, porém não apresentou diferença (P>0,05) entre os suplementos. O resultado
obtido neste estudo é considerado positivo, pois o leite manteve-se dentro das
especificações do padrão físico-químico.
Parece haver uma relação positiva entre a produção de ácido propiônico no
rúmen e o teor de proteína no leite, a população de microrganismos que têm o ácido
propiônico como principal produto final da fermentação (principalmente os que
digerem amido) devem possuir perfil de aminoácidos mais adequado à síntese da
proteína do leite (Gonzaléz et al., 2001).
Quando há substituição de carboidratos disponíveis por lipídios no rúmen,
os lipídios têm efeito tóxico sobre os microrganismos do rúmen, causando redução
no crescimento microbiano e efeito sobre o transporte de aminoácidos da glândula
mamária. Assim, o conteúdo de proteína do leite pode diminuir com a deficiência de
um ou mais aminoácidos (Santos et al., 2001).
A lactose apresentou média de 4,75%, não diferindo (P>0,05) entre os
tratamentos, situando-se dentro dos limites do NRC (2001), os quais variam entre
3,84 e 5,66%. Os níveis de lactose no leite dependem principalmente da glicose que
é produzida no fígado a partir do ácido propiônico produzido no rúmen. Este ácido é
produzido em maior proporção quando quantidades adequadas de concentrado são
fornecidas aos animais (Pereira, 2000).
O EST equivale ao somatório de todos os componentes do leite (gordura,
proteína, lactose, vitaminas e minerais) com exceção da água, e são em grande parte,
dependentes das variações nos teores de gordura do leite, da fração com maior
amplitude de variação e dos teores de proteína, devido às alterações no manejo
nutricional (Santos, 2000; Peres, 2001). A média para o EST entre os tratamentos foi
de 11,68%, e para o ESD, que corresponde ao EST com exceção da gordura,
observou-se que a média entre os tratamentos foi de 8,99%, ambas variáveis não
diferiram estatisticamente (P>0,05).
Os resultados das análises físico-químicas do leite encontrados neste
trabalho (Tabela 2) estão dentro da faixa de valores recomendados pelo Regulamento
de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (BRASIL, 1980).
Isso indica que o leite de vacas que façam uso de suplementos com tortas oriundas da
produção do Biodiesel nestas mesmas condições não tem as características alteradas,
sendo portanto considerado um leite normal dentro da legislação, podendo ser
utilizado pelas indústrias de laticínios.
75
De acordo com Palmquist et al. (1993), a gordura do leite contém ácidos
graxos derivados da síntese de novo pela glândula mamária (C4:0 a C14:0 mais uma
porção de C16:0) e dos ácidos graxos pré-formados na saída da glândula mamária
(uma porção de C16:0 e todas as cadeias mais longas de ácidos graxos), sendo os
lipídios do tecido adiposo dos ruminantes geralmente mais saturados do que os
lipídios do tecido dos não-ruminantes, devido à biohidrogenação ruminal dos ácidos
graxos insaturados no rúmen (Drackley et al., 2000).
As concentrações dos ácidos graxos saturados e de mono e poliinsaturados
do leite mensurados neste experimento estão descritos na (Tabela 4). Treze ácidos
graxos foram identificados e quantificados, sendo oito ácidos graxos saturados e
cinco ácidos graxos insaturados (três monoinsaturados e dois poliinsaturados).
Observou-se diferença (P<0,05) entre os tratamentos experimentais com relação aos
ácidos graxos (C12:0, C:16:1 e C18:1).
Chilliard et al. (2003), ao revisar fatores fisiológicos e nutricionais que afetam
a composição de ácidos graxos do leite de cabra, relatam que os ácidos graxos do
leite pertencem a três grupos: o grupo C4 ao C8, o grupo C10 ao C16, e o grupo C18.
Chilliard et al. (2003) descrevem ainda
que o grupo C4 ao C8 não apresenta
correlacão com os outros dois grupos e que o grupo C10 ao C16 foi correlacionado
negativamente ao grupo C18 dos ácidos graxos.
Tabela 4 - Médias e coeficientes de variação (CV) para a composição percentual dos
ácidos graxos na gordura do leite de vacas em função dos suplementos
experimentais
Suplemento
Item
Denominação Sem torta
CV (%)
Torta
Torta
Torta
adicional amendoim girassol
dendê
C6:0
Capróico
2,44
2,43
1,89
2,00
26,22
C8:0
Caprílico
1,72
1,73
1,61
1,38
21,80
C12:0
Láurico
4,23 ab
4,13 b
4,01 b
5,02 a
17,76
C14:0
Mirístico
15,74
15,35
14,78
15,62
9,67
C14:1
Miristoléico
1,43
1,01
1,33
1,39
44,56
C16:0
Palmítico
39,18
38,74
39,18
36,91
5,55
C16:1
Palmitoléico
1,40 ab
0,95 c
1,33 ab
1,65 a
20,59
C17:0
Margárico
0,77
0,61
0,38
0,60
108,25
C18:0
Esteárico
8,10
9,34
7,41
8,29
26,92
C18:1
Oléico
23,98 ab
23,11 b
26,21 a 25,01 ab
9,19
C18:2
Linoléico
0,50
0,87
0,29
0,57
109,04
C18:3
Linolênico
0,52
0,75
0,52
0,55
105,28
C20:0
Aráquico
0,97
0,45
0,80
0,87
112,20
Médias na mesma linha seguidas de letras distintas diferem entre si (P<0,05).
76
Não houve efeito dos tratamentos sobre a concentração dos ácidos graxos,
capróico (C6:0) e caprílico (C8:0), apresentando médias de 2,19 e 1,61%,
respectivamente. Estes valores ficaram próximos dos encontrado por Pereira et al.
(2010), avaliando diferentes níveis de torta de girassol sobre o perfil de ácidos graxos
no leite de vacas em lactação.
A concentração de ácido láurico (C12:0) apresentou-se superior no tratamento
com a participação da torta de dendê, em relação aos tratamentos com torta de
amendoim e torta de girassol, possivelmente, o suplemento com torta de dendê
aumentou a disponibilidade de acetato e ß-hidroxibutirato, importantes precursores
na síntese “de novo” que resulta, em sua grande maioria, em ácidos graxos
saturados de cadeia curta e média (C4:0 – C16:0).
As diferentes tortas oriundas da produção de biodiesel nos suplementos não
influenciaram a concentração dos ácidos graxos C14:0 e C16:0. Entre os ácidos graxos
saturados, a literatura indica fortes evidências quanto à promoção de efeitos
hipercolesterolêmicos (Murphy, 2001), estando associados às lipoproteínas de baixa
densidade (LDL), reconhecidamente nocivas em relação ao “bom” colesterol. Esse é
o caso dos C14:0 e C16:0.
Pode-se atribuir a ausência de significância entre os tratamentos experimentais
para a concentração de ácido mirístico (C14:0) e palmítico (C16:0), como uma
característica positiva sob o ponto de vista da nutrição humana por não alterar o
colesterol sanguíneo no homem.
Segundo Grummer (1991) a habilidade para modificar a gordura do leite
depende da eficiência pela qual os ácidos graxos são transferidos da dieta para o
retículo endoplasmático liso das células secretoras onde são esterificados. Contudo,
os lipídios dietéticos são alterados pelo metabolismo microbiano no rúmen (Bauman
& Griinari, 2001), fazendo com que o perfil de ácidos graxos do leite em ruminantes
não seja reflexo direto da composição original do alimento.
A concentração do ácido esteárico (C18:0, Tabela 4) não apresentou diferença
(P>0,05) entre os suplementos avaliados, possivelmente como consequência do
maior consumo deste ácido graxo e da maior quantidade de AG expostos à biohidrogenação.
De acordo com Hartman (1993) o ácido esteárico não está associado ao
colesterol, pois, quando ele é ingerido, é metabolizado a ácido oléico.
77
Entre os ácidos graxos monoinsaturados, destaca-se o ácido oléico (C18:1)
que apresentou diferença entre os suplementos, sendo que, a utilização de torta de
girassol nos suplementos elevou (P<0,05) a sua concentração (C18:1), quando
comparado com o suplemento com torta de amendoim de modo que o valor
encontrado (26,21%) foi 12,12% superior ao obtido no suplemento com torta de
amendoim (23,11%), que pode ser atribuído ao aumento das concentrações de seu
precursor C18:0, quando utilizou-se torta de girassol no concentrado. Este aumento é
desejável em alimentos, já que, este ácido graxo é considerado hipocolesterolêmico
(Baer et al., 1996).
Considerando a atividade da enzima ∆-9 desaturase na glândula mamária
Chilliard et al. (2000) determinaram que 40% do ácido esteárico e do ácido vacênico
(C18:1 trans 11) oriundos da biohidrogenação ruminal são convertidos em ácidos
oléico (C18:1, cis 9) e ácido linoléico conjugado (CLA-C18:2, cis-9, trans-11),
provavelmente os animais que receberam suplemento com torta de girassol
disponibilizaram maior quantidade de precursores para a atividade da enzima ∆-9
desaturase, melhorando o perfil de AG do leite.
A gordura do leite é geralmente pobre em ácido linolênico (0,7–2,5%) e em
ácido de linoléico (1–4%) quando vacas são mantidas exclusivamente a pasto (Kelly
et al., 1998). Este fato retrata a intensa hidrogenação ruminal.
A composição lipídica das forragens de acordo com Bauman et al. (1999)
consiste em grande parte de glicolipídeos e fosfolipídeos, e ácidos graxos insaturados
importantes, ácido graxo linolênico (C18:3) e ácido linoléico (C18:2). Entretanto, a
composição lipídica de sementes oleaginosas é predominantemente os triglicérides
contendo ácido linoléico e oléico (cis-9 C18:1) como ácidos graxos predominantes.
Entre os ácidos graxos poliinsaturados, destaca-se o ácido linoléico (C18:2) e
linolênico (C18:3), não sendo observado diferenças estatísticas quanto a sua
concentração entre os suplementos. Este efeito torna-se apreciável, uma vez que estes
ácidos graxos se correlacionam a diversos benefícios à saúde humana (Lanna &
Medeiros, 2000), e uma importante fonte nutricional de ômega-3 e ômega-6 sendo
considerados como nutrientes essenciais. Demonstrando desta forma que as tortas
oriundas da produção de biodiesel podem ser utilizadas na suplementação de vacas
em lactação.
Na atualidade, um dos requerimentos do consumidor é a disponibilidade de
alimentos seguros, saudáveis, bem como anseia por alimentos que possam lhe
78
proporcionar melhor qualidade nutricional (Monardes, 2004), sob o ponto de vista de
funcionalidade alimentar. Torna-se interessante aumentar a participação de ácidos
graxos de cadeia longa, mono e poliinsaturados, na composição da gordura do leite,
pois estes AG possibilitam redução da incidência de doenças coronarianas, com o
aumento do colesterol de alta densidade, o HDL (Demeyer & Doreau, 1999).
Os valores obtidos para as concentrações dos ácidos graxos saturados,
insaturados, índice de aterogenecidade (IA) e relação insaturados / saturados (I/S) do
leite de acordo com os suplementos encontram-se na Tabela 5. Não houve diferença
entre os suplementos com relação à concentração de ácidos graxos saturados. Porém
a concentração total de ácidos graxos insaturados apresentou diferença (P<0,05)
entre os tratamentos experimentais, sendo observado que a concentração de ácidos
graxos insaturados aumentou quando os animais receberam suplementos com torta
de girassol como também com torta de dendê quando comparados aos animais que
receberam torta de amendoim na suplementação.
Portanto, nas condições deste experimento pode-se afirmar que a
suplementação concentrada com a participação de torta de girassol e torta de dendê
para vacas em lactação seria uma forma eficiente de melhorar as propriedades
nutricionais da gordura do leite, pois promoveu aumento na concentração de ácidos
graxos insaturados e contribuíram para que as relações entre os ácidos graxos
insaturados/saturados fossem mais favoráveis.
Tabela 5 –Totais de ácidos graxos saturados, insaturados, índice de aterogenecidade
(IA) relação ácido graxo insaturado/saturado (I/S) no leite de vacas em
função dos suplementos experimentais
Item
Saturados
Insaturados
IA
I/S
Sem torta
adicional
72,15
27,83 ab
4,39
0,39
Suplemento
Torta
Torta
amendoim
girassol
72,78
70,07
26,68 b
29,69 a
4,46
3,94
0,37
0,46
Torta dendê
70,68
29,18 a
4,13
0,42
CV (%)
4,01
9,19
28,57
12,76
IA= ((C12+4*C14+C16)/ (soma dos insaturados)).
Os valores médios obtidos neste estudo para o IA não apresentaram
diferenças (P>0,05) entre os tratamentos experimentais, observando desta forma que
a substituição total da proteína do farelo de soja por tortas oriundas da produção do
79
biodiesel nos suplementos para vacas em lactação possivelmente não altera o
potencial da gordura em gerar colesterol endógeno.
Os resultados encontrados neste trabalho diferem dos descritos por Santos et
al. (2011) avaliando níveis de substituição do feno de capim Tifton 85 pela casca de
mamona na dieta de cabras sobre a produção, composição química e perfil de ácidos
graxos do leite, onde estes encontraram menor índice de aterogenicidade (IA) com o
nível 100% de substituição indicando que, no que se refere ao potencial da gordura
em gerar colesterol endógeno, houve melhora na qualidade com o aumento dos
níveis.
Os custos com a suplementação por animal por dia como também a respectiva
análise econômica referente ao período experimental constam na Tabela 5. O preço
por kg dos suplementos, sem torta adicional, torta de amendoim, torta de girassol e
torta de dendê foram R$ 0,81; R$ 0,78; R$ 0,74 e R$ 0,64 respectivamente.
Tabela 6. Avaliação dos custos e receita em função da produção de leite e consumo
de suplementos oriundos da produção de biodiesel
Suplemento
Variável
Sem torta
Torta
Torta
Torta
adicional amendoim girassol dendê
Concentrado fornecido (kg/dia)
3,00
3,00
3,00
3,00
Consumo de concentrado (kg/dia)
2,86
2,88
2,91
1,95
Custo suplemento concentrado (kg)
0,81
0,78
0,74
0,64
Custo com suplementação/animal/dia (R$)
2,32
2,24
2,16
1,25
Dias suplementação
60,00
60,00
60,00
60,00
Custo com alimentação total (R$)
139,19
134,68
129,40
74,79
Produção média de leite diária (kg)
8,00
8,33
8,04
7,73
480,00
499,80
482,40
463,80
0,65
0,65
0,65
0,65
Renda bruta (R$)
312,00
324,87
313,56
301,47
Saldo (R$/animal)
172,81
190,19
184,16
226,68
Produção total (kg/animal)
Preço recebido por kg de leite (R$)
Os custos com alimentação/animal/dia e total (60 dias) apresentaram-se
inferiores para o suplemento concentrado que teve a participação da torta de dendê
em sua composição, em virtude do menor consumo, seguida daqueles com torta de
girassol, torta de amendoim e sem torta adicional (Tabela 5). Justifica-se que os
80
menores custos com a suplementação com co-produtos oriundos da produção de
biodiesel deve-se principalmente por estes serem alimentos ainda pouco explorados,
onde seus resíduos na maioria das vezes não possuem destinação adequada e,
principalmente, não competem com a alimentação humana a exemplo da soja. Por
outro lado, quando esses produtos são adquiridos no período da safra, podem-se
encontrar preços ainda mais competitivos. Ao considerar o preço do leite
comercializado, de R$ 0,65/L, observou-se que a maior margem bruta encontrada foi
obtida para as vacas que receberam suplementação com torta de dendê. Este
comportamento está relacionado ao menor consumo de suplemento concentrado
resultando em menor custo de alimentação/animal/dia além dos animais terem
apresentado médias de produção de leite semelhante aos demais tratamentos
experimentais. Estes resultados nos permite inferir que nas condições deste
experimento o tratamento experimental com torta de dendê apresentou-se
economicamente mais viável.
Os
co-produtos
oriundos
da
produção
de
biodiesel
não
foram
suficientemente pesquisados em dietas de vacas leiteiras, porém, o mais importante a
ser observado é que com a substituição do farelo de soja por estes co-produtos, os
custos com alimentação mantiveram-se semelhantes na produção de leite, tornandose economicamente vantajoso.
81
CONCLUSÃO
As tortas de amendoim, girassol e dendê oriundas da produção de biodiesel
podem substituir o farelo de soja em suplementos para vacas em lactação mantidas
em pastejo.
Entre as tortas estudadas, a que apresenta a melhor viabilidade econômica é
a torta de dendê.
A substituição total do farelo de soja pelas tortas de girassol e de dendê em
suplementos para vacas em lactação proporcionam menores concentrações de ácidos
graxos saturados e acréscimo na proporção de ácidos graxos insaturados.
Caso haja disponibilidade na região, recomenda-se como alternativa
alimentar a utilização das tortas de amendoim, de girassol e de dendê em substituição
ao farelo de soja na suplementação de vacas lactantes.
82
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