Universidade e Parques Científicos e Tecnológicos
Prof. Dr. Jorge Luis Nicolas Audy
A aceleração dos avanços científicos e tecnológicos, a partir de meados do século XX,
provocou a exaustão da Sociedade Industrial, iniciada pelo Iluminismo e pela
Revolução Industrial, e a sua substituição, em âmbito mundial, por uma era
radicalmente diferente, a Sociedade do Conhecimento. Os parques científicos e
tecnológicos se constituem em uma das respostas que algumas Universidades, em
âmbito internacional, estão dando aos novos desafios trazidos pela Sociedade do
Conhecimento, que delineia um novo papel para a Universidade, ampliando sua missão
para além das áreas de ensino e da pesquisa, atuando também como um vetor de
desenvolvimento econômico e social nas regiões onde atuam. Segundo a Association of
University Research Park – AURP, um Parque Universitário de Pesquisa (University
Research Park) é um empreendimento destinado a: § promover o relacionamento
entre a universidade (a que está vinculado) e o setor empresarial e industrial;
§ estimular o processo de inovação; § facilitar a transferência de tecnologia e
habilidades empresariais entre a academia e o setor industrial; e § promover o
desenvolvimento sustentado da região em que se situa. Para tanto, o empreendimento
deve: § possuir ou dispor de terrenos ou construções destinadas prioritariamente a
atividades de pesquisa científica e desenvolvimento tecnológico (P&D) por parte de
centros de P&D e de empresas intensivas em conhecimento, bem como a serviços de
suporte a essas atividades; § promover atividades de P&D da universidade em
parceria com a indústria, oferecendo assistência ao desenvolvimento de
empreendimentos que possam emergir dessa interação. Por outro lado, com uma visão
mais voltada para Projetos de Parques Científicos e Tecnológicos geridos pelo poder
público, tendo as Universidades como um dos parceiros, a International Association
of Science Parks – IASP define um Parque Científico e Tecnológico como uma
organização, gerida por profissionais especializados, cujo objetivo fundamental é
aumentar a riqueza da comunidade em que se insere mediante a promoção da cultura
da inovação e da competitividade das empresas e instituições intensivas em
conhecimento associadas à organização. Para tal fim, o Parque Científico e
Tecnológico deve: § estimular e gerenciar o fluxo de conhecimento e tecnologia entre
universidades, instituições de pesquisa e desenvolvimento, empresas e mercados;
§ estimular a criação e o crescimento de empresas fundamentadas na inovação
mediante mecanismos de incubação e desdobramentos de empreendimentos (spinoff); e § prover espaço e instalações de qualidade e outros serviços de valor
agregado. No Brasil, a Associação Nacional de Entidades Promotoras de
Tecnologias Avançadas – ANPROTEC, define um Parque Tecnológico como sendo:
(a) Um complexo industrial de base científico-tecnológica planejado, de caráter
formal, concentrado e cooperativo, que agrega empresas cuja produção se baseia em
pesquisa tecnológica desenvolvida nos centros de P&D vinculados ao parque. (b) Um
empreendimento promotor da cultura da inovação, da competitividade e do aumento
da capacitação empresarial fundamentado na transferência do conhecimento e
tecnologia, com o objetivo de incrementar a produção de riqueza. Os parques
científicos e tecnológicos têm origem na Universidade de Stanford, instituição privada
fundada por um mecenas, no final do século XIX, ao sul de São Francisco, na
Califórnia, Estados Unidos. A principal riqueza da região, na época, era a agricultura,
mas a nova universidade decidiu transcender as vocações locais e apostar no futuro,
focando as Engenharias e Ciências Exatas. Durante os primeiros quarenta anos, os
seus graduados encontraram dificuldade em obter empregos na região e eram
obrigados a buscá-los em paragens economicamente mais dinâmicas. Na década de
1930, o Professor Frederick Terman percebeu as oportunidades abertas pela
aceleração dos avanços da ciência e tecnologia para estancar a fuga de cérebros e
promover o desenvolvimento regional. A universidade passou, então, a oferecer bolsa
de estudos, acesso a laboratórios e orientação a graduados que desejassem criar
empresas para transformar as suas idéias e conhecimentos em produtos, iniciando o
que se tornou conhecido como incubação de empresas. A partir da experiência de
sucesso da Universidade de Stanford, diversos outros projetos de Parques Científicos e
Tecnológicos foram desenvolvidos em todas as regiões do mundo. Em muitos casos
estes ambientes de pesquisa e inovação tornaram-se ponto focal de processos de
mudança e transformação de antigas regiões industriais ou bases militares, gerando
novos ciclos de desenvolvimento econômico e social em diferentes regiões, onde
destacam-se os Sistemas Nacionais de Parques Científicos e Tecnológicos de países
como Espanha, Inglaterra, Estados Unidos, Índia, Malásia e China. Mais recentemente,
diversos países da América Latina têm focado seus esforços no sentido de criar e
desenvolver estes ambientes de inovação e pesquisa. É o caso do Brasil, com diversos
projetos de grande envergadura, sejam ligados a importantes Universidade de
pesquisa, como UFRJ (Parque do Rio) e PUCRS (TECNOPUC), sejam projetos com forte
apoio governamental, como os Sistemas Mineiro e Paulista de Parques Tecnológicos e
os projetos envolvendo forte intervenção urbana, como o do Porto Digital em Recife.
Os Parques Científicos e Tecnológicos são, do ponto de vista das Universidades,
importantes mecanismos institucionais que permitem a implementação de políticas
universitárias, que buscam expandir as visões tradicionais de ação da Universidade
focada nas atividades de ensino e pesquisa, avançando para uma visão mais moderna,
permitindo que a Universidade atue como um vetor direto do processo de
desenvolvimento econômico e social da sociedade onde está inserida. Na nova
Sociedade do Conhecimento, os Parques Científicos e Tecnológicos é dos exemplos de
mecanismos e ambientes de inovação que as Universidades devem desenvolver para
atender as novas e desafiadoras demandas da sociedade. Outros exemplos destes
ambientes e mecanismos são as Incubadoras de Empresas, Agencias de Gestão
Tecnológica, Núcleos de Inovação Tecnológica, Escritórios de Transferência de
Tecnologia e Núcleos de fomento ao Empreendedorismo.
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