A cidade somos nós Artigo Completo Renato Castelo de Carvalho* Objetivo: The paper argues that technology parks should be structured from now incorporating the triple helix model the fact that the population of cities are increasingly empowered to increase the level of information exchange through technological objects available. The mobiles are certainly the largest machine of unprecedented communication and use especially in developing countries. Cities are just the skeletons of a dynamic network that improves every moment. This network can now also determine the future of political gains or losses of a country For better or for worse the Arab Spring, the lists of supporting votes, the campaigns for and against via internet are an example of this. The influence of Parks Digital has happened. What one finds in the world is a reflux of the innovations that put the public caused. Forma de Interconnectivity will be the main variable of cities abordagem/metodologia: The model of a Digital Park as a center of production must adapt the consistency of its own success. Already you can escape from the model "industrial" production line for a scientific model of transition. A new paradigm that will certainly be virtual because the Resultados alcançados: experience of intensive urbanization in cities already happening. The production model will incorporate economic, and cultural variables will be linked urban ecology. The focus will be from now on people and connection capacity. To paraphrase Keynes: we are all connected in the long run. Limitações práticas: Cultural asymmetry Impactos na sociedade: Increase the social capital Originalidade do trabalho: The future belong to people. tecnology comes after. 'Palavras chaves' : Cities, connectivity, *Assessor da Diretoria de Prospecção e Formatação de Novos Empreendimentos da Agencia de Desenvolvimento do Distrito Federal – TERRACAP. Membro do Grupo de Trabalho do Projeto Parque Tecnológico Capital Digital e da Torre de TV Digital de Brasília - SAM-Bloco - F - Edifício Sede - Cep 70620-000 - Fone (61) 3342 1124/(61) 92360193. 1 A CIDADE SOMOS NÓS Renato Castelo de Carvalho Se ficar perfeito, fica desumano. E se não for humano, não funciona. Washington Olivetto Se a obra da cidade é o refazimento ou a tradução do homem numa forma mais adequada do que aquela de seus ancestrais nômades realizaram, por que não poderia a tradução, ora em curso, de nossas vidas sob a forma de informação, resultar numa só consciência do globo inteiro e da família humana? Marshall Macluhan Ainda não é tempo de se acostumar com o mundo sendo interpretado a cada momento. Mesmo sendo a permanência uma ilusão. As crianças que deslizam seus dedos sobre qualquer superfície que se pareça com a tela de um celular procuram algum tipo de regularidade, não uma novidade. Mas já podem perceber que somente a mudança é real porque a cada instante um novo aplicativo, uma nova atualização se apresenta. Interpretam que existe uma consequência no gesto e que cada gesto é diferente mesmo sendo possível realizar uma tentativa semelhante em outras telas. Heráclito à parte é cada vez mais presente a necessidade de compreender, para se administrar, a influência que a velocidade das inovações tecnológicas vem provocando na vida das pessoas expostas, ou não, à estas mudanças. Um tablet é uma tela mágica em Bangladesh e um artefato descartável para uma criança de São Paulo. A civilização não participou de nenhum evento no passado desta natureza onde o presente e o futuro estão, simultaneamente, na ponta dos dedos. Ainda não vai ser o Twiter, nem o Instagram ou o Facebook que vão conseguir a proeza de interpretar o mundo a cada segundo, mas o ato da criança procurar a instantaneidade vai se transformando no querer do aqui e do agora. É preciso percorrer um caminho que não seja pavimentado com palavras e apenas palavras, para que se permita àquela criança de Bangladesh repetir o gesto infantil de se comunicar através de um dispositivo móvel. Este movimento é a primeira fase da inclusão digital: o reconhecer digital. O princípio é apenas um contato sem qualquer instrução preliminar, sem manuais. Rapidamente se adquire o poder de instrumentalizar a vontade. O poder da ubiquidade e, mais que isso, de estar aqui e ali sem se dar conta. E de mudar o mundo dando-se conta disto. Agora, que já se consegue incorporar a intuição do uso desta tecnologia ao DNA cultural, agora, que já se pode reconhecer isto como o meme do século transmitido pelos pais que passearam pelo boom da geração Y e mergulharam no acesso aos smartphones, tablets, iPAD’s, etc.., é bom lembrar o momento em que Thomas Friedman se referiu às tecnologias que usam a internet. Ele já previa no seu livro “O Mundo é Plano” que 2 “Usá-las não torna ninguém moderno, nem inteligente, moral, sábio, equânime ou decente. Simplesmente elas nos tornam capazes de nos comunicar, competir e colaborar mais longe e mais rapidamente. (...) cada uma dessas tecnologias se tornará mais barata, mais leve, menor e mais pessoal, mais móvel, mais digital e mais virtual um número cada vez maior de pessoas encontrará cada vez mais utilidades para elas”. O adolescente que nunca viu uma máquina de escrever se impressiona com a rapidez daquela geringonça que imprime simultaneamente as palavras que escreve. Para ele uma impressão instantânea. Mas é só isto: uma curiosidade egoísta que só escreve para si. O computador não. Um computador se desdobra na escrita, escolhe os tipos de letras, capricha na impressão que tem de ser corrigida, ilustrada, formatada, gravada e, afinal, pode ser democraticamente distribuída. Alguém do outro lado do mundo curte, compartilha, observa, acrescenta e a mensagem se torna eterna girando pelo mundo afora como um chip dentro da garrafa do náufrago. O adolescente não reconhece aquele antigo telefone negro, imenso, sem nada que brilhe, com um disco na barriga rodeado com os números de o a 9 e não saberia o que fazer com um se estivesse com ele à mão. Sabe, no entanto, apertar e espremer cada letra, cada número, cada tecla de seu celular. Anuncia, ri, participa de reuniões, troca informações, fotos, vídeos, recados com os seus pares como se estivessem cada um do outro lado do mundo. Mesmo estando na mesma mesa, na mesma festa, na mesma sala de aula. O mundo começa e termina com o computador, mas se completa cada vez mais com algo como um Smartphone Galaxy XYZ que é anunciado com um potencial de acesso a mais de 400 aplicativos. Se alguém criar uma música, instantaneamente um dos seus aplicativos, que custa R$ 0,99, ouve e gera uma partitura que será copiada sem dificuldade na lan house da esquina ou na impressora do líder da banda que foi visitar a China. Tudo isso tem um significado muito especial para o mundo da informação, das comunicações e do conhecimento. Há pouco menos de uma década o uso da tecnologia somente se dava com uma bula, um manual, uma ajuda técnica. Nada se consertava por si. Nada poderia ser reiniciado para estar novo de novo. Quanto menos descartável, mais confiável, mais durável, mais seguro. Não é como o dispositivo da vez. E tudo era alimentado por outro objeto fisicamente visível. A noção do tempo mudou e tudo mudou. O smartphone ainda está nas mãos, nos bolsos e bolsas. Um dia não estará mais. Um dia não teremos estas pilhas e estas baterias, nem tomadas, nem o que ligar, mas com certeza estaremos repetindo algum gesto das origens da evolução humana substituindo uma deficiência orgânica por um instrumento de ação. A mão pela pedra, a força pela alavanca, a velocidade de andar pela roda. A memória individual pelo HD. A memória coletiva pela nuvem e, agora, os mecanismos intermediários por um roteador portátil para que ninguém perca seu neurônio preferido. Amanhã você será conectado à sua roupa e seus sapatos que estarão conectados a um satélite que se comunica com o sol, a lua e as estrelas. Hoje já posso ver e conversar com uma imagem projetada no ar, à minha frente. Já dedilho um holograma e o GPS não vai somente dizer onde estou. Ele já pode guiar meu carro com segurança, pela melhor opção de trânsito, daquele momento até o destino escolhido. Enquanto converso com minha namorada recito uma poesia que vejo na lente direita dos meus óculos. A lente esquerda processa o endereço do restaurante mais próximo. Com isso, vamos deixando de aparecer nas estatísticas como pontos, linhas e gráficos de barras para surgir como nós de um imenso emaranhado de veias e tubos repletos de sinapses de comunicações instantâneas. Pulsos eletrônicos que acumulam e comparam o desempenho de qualquer atividade com 3 qualquer outra performance que você queira. Eu espiono a sua vida, mas sei que estou sendo observado e todos sabem que o grande irmão de Orwell nos observa. O mundo da informação e das comunicações está encolhendo. As pessoas se enredam cada vez mais. Grande parte da humanidade ainda sofre com fome? Mesmo esta população está conectada em mão única. Eles não falam comigo, mas uma sharing photo dessa fome percorreu o planeta. Talvez eles nunca precisem de qualquer dispositivo móvel, mas a possibilidade de melhora a vida de cada um é uma realidade. Estamos falando de inclusões, conexões, diversidades, de acessibilidade e de mobilidade. As pessoas são o espelho de um mundo envolto numa teia transparente. Só me é permitido alterar a realidade que conheço e compartilho e esta teia também é minha. O mundo não vai mudar pelo fato de 50% da população mundial viver, hoje, em cidades com menos de 500 mil habitantes. O mundo já mudou. O Banco Mundial registra que mais de 90% do crescimento urbano se dá no mundo em desenvolvimento com 70 milhões de habitantes novos por ano. A população da Ásia e da África subsaariana deve duplicar em 20 anos. Um bilhão de pessoas moram em favelas urbanas. Uma descrição do que nos espera foi dada por John Rossant presidente da New Cities Foundation durante a abertura do New Cities Summit 2012, em Paris: “Entramos no século das cidades: a escala e o ritmo da urbanização no século 21 são tão surpreendentes como sem precedentes. A população urbana global está crescendo a uma taxa de um milhão de pessoas a cada semana e atingirá cerca de sete bilhões até meados do século. Por volta de 2030 este novo desenvolvimento urbano vai cobrir uma área de terra equivalente a África do Sul ou o dobro do tamanho da França. Só na China, dezenas de novas cidades estão sendo construídos, enquanto em todo o mundo, cidades históricas antigas precisam ser adaptadas para permanecerem habitáveis e competitivas de forma a reduzir os impactos deste crescimento sobre o meio ambiente.” “Esta nova era urbana vem com uma série de desafios complexos: a pobreza, a exclusão social e degradação ambiental, entre outros. No entanto, as oportunidades de mudança positiva abundam: a urbanização tem potencial para correlacionar não só com a sustentabilidade, mas com a criação de riqueza, a tolerância social, a inclusão política e melhores condições de vida para todos.” Temos em mãos, agora, a necessidade de se dar mais racionalidade e importância ao uso dos espaços urbanos, a urgência do tempo em que isto precisa ser feito e temos também a possibilidade de usar as conexões que a tecnologia nos proporciona incorporando ao planejamento urbano, variáveis antes fora do alcance. Embora as redes se abasteçam e se renovem constantemente com informações sobre provedores e consumidor potenciais existe um débito nos sistemas econômicos das cidades desenvolvidas. O foco industrial está direcionado para agregar valores que possibilitem a inovação tecnológica, a criação de produtos, o desenvolvimento regional, a aplicação do conhecimento científico na prática de negócios e do entretenimento. Os artefatos tecnológicos disponíveis criam diferentes expectativas para uma mesma 4 função. Depende de onde você tiver. O melhor aplicativo para o dono do camelo é aquele que lhe encaminhe para um oásis. Em Brasília um taxi pode acomodar você num endereço do SQTQ Norte mesmo que o motorista tenha acabo de chegar de Lumumbashi. O mundo nunca foi assim. Aquela criança que desliza seus dedos sobre uma tela de safira industrial, vai crescer e morrer numa cidade que se transforma a cada instante. A sua casa vai ser a mesma. Os seus amigos serão estes vizinhos e aqueles das telas e das nuvens. A sua cidade, com certeza, está lhe oferecendo uma autossuficiência incomparável que seus pais não tinham. Em “A Alma na Era da Técnica” o filósofo Arnold Gehlen toca neste ponto com maestria: “O processo é irreversível; tem de se aumentar as quantidades de produtos para fazer face ao aumento populacional e ao aumento de exigências; mas, dever-se-ia prever o processo e calcular os custos espirituais e morais enquanto é possível. E, a propósito diremos: este sistema não se baseia apenas no direito a uma vida confortável, tende também a tornar impossível a posição contrária, isto é, o direito a renunciar á vida confortável e isto porque produz e automatiza as atividades de consumo”. Chegamos a um ponto irreversível em que não se pode renunciar à vida confortável nem permitir que o próximo se exima dela. Temos que dispor de sonhos e de coisas materiais para sobreviver. A tecnologia, no entanto, dá uma vida cada vez mais fugaz aos seus artefatos. É uma condição ardilosa para girar algo mais que um simples resultado econômico. É uma condição de dependência que aumenta o gap entre os primeiros e os últimos na fila da inclusão digital. Os Parques Digitais foram concebidos para gerar riquezas. Sob os auspícios da hélice estatal a academia, os empresários cuidam de injetar tecnologia na sociedade para ao bem estar de todos. No entanto os dados já foram lançados: é preciso entender que o rumo da nave tem de mudar sem parar a roda do destino. A tecnologia gerada nos laboratórios deste século criou uma força incomum de redes de comunicação que já demonstraram um poder de mobilização que só poderia ocorrer se à proximidade virtual correspondesse uma proximidade física. Esta proximidade só pode existir em ambientes urbanos. A metáfora da tríplice hélice incorpora o sentido da produção integrada onde a reunião da academia, das empresas e do governo provoca uma sinergia que alimenta a iteração do conhecimento a favor do crescimento econômico. O local onde as três forças se materializam não precisa ser necessariamente um local físico, mas é através da sinergia destas forças que temos como produto final um benefício econômico de preferência em escala crescente. Para as cidades um crescimento que tem de ser realimentado constantemente em ciclos de inovação, segundo o físico Geoffrey West, para evitar o colapso do sistema. O uso desta mesma tecnologia que assumimos como trivial e que cria os instrumentos para favorecer a manutenção da economia transformou o mundo. Assim como um músico se aperfeiçoa pela tenacidade em aprender a tocar um instrumento as pessoas estão se especializando cada vez mais na utilização do mais democrático de todos artefatos onde estão concentradas as mais inovadoras condições para a criação de redes de relacionamentos: os dispositivos móveis. A criança já nasce estabelecendo um contato viral com um produto eletrônico e, desde então, o mercado já disponibiliza para todos estes que bem nascem artefatos que sublimam a mãe como se fosse a chupeta eletrônica do momento. Ali se dependura um mobile que capta a imagem, o som e o movimento e quer superar a presença familiar com respostas adequadas. É uma exposição intensiva aos primeiros memes domésticos que invade os primeiros contatos com o mundo. É um contato real de uma pessoa com um artefato. 5 Não é para toda criança, mas para um número suficiente que está alterando paradigmas de todas as naturezas e criando outros como o de um poder que aprisiona ideias e ideais nas redes. Se você quiser enumerar três coisas que levaria para uma ilha deserta, uma delas vai ser um dispositivo móvel. Não se consegue mais viver sem as informações que eles transmitem. Não se consegue mais viver sozinho. Sorria, você está sendo filmado. As conexões academia>poder público>mercado criaram um refluxo causado pelo oceano de informações que os artefatos eletrônicos produziram. É preciso repensar o modelo. Não é acrescentar mais outra hélice ao conjunto, mas fazer as hélices girarem em outras direções. Em escala sem precedentes, as medidas mecânicas, os gráficos comuns não se prestam mais para analisar com segurança o que ocorre numa cidade. Ela se comporta como um organismo vivo. Não mais modelos lineares. Probabilidades, incertezas, algoritmos, modelos matemáticos, big data, pulsos eletrônicos, são as palavras da vez. Grande parte disto se deve à pesquisas e produções colaborativas geradas num Parque Digital. Escolha um nome: Parque de Pesquisas, Parque Científico, Parque Tecnológico, Tecnópolis, Centro de Ciências, Centro de Inovação de Negócios ou Centro de Tecnologia Avançada. Nos corredores e laboratórios dos Parques existe alguém anotando as últimas vantagens competitivas, os benefícios comerciais mútuos, a produção, a criatividade, o retorno dos investimentos. É preciso, agora abrir as janelas para perceber o que tudo isso provocou. É preciso colocar na mesa os dividendos do capital social que emergiu, naturalmente, positiva ou negativamente desta nova realidade que se acomoda onde as pessoas se acomodam: as cidades. Nos habitats de inovação a produção da pesquisa aplicada e o desenvolvimento de novos conceitos transformam ideias em produtos para o mercado. O mercado se corporifica nas cidades. As cidades se espraiam em novos subúrbios. Os subúrbios absorvem ininterruptamente novos moradores. As pessoas se tornam em números cumprindo a função de produzir e consumir. Esta concepção está envelhecendo junto com a palavra “inovação”, como a palavra “contemporânea”, como a palavra “modernidade”. As novas residências e novos comércios dos subúrbios não são mais alfinetes espetados num mapa de parede da prefeitura. Tudo agora são riscos luminosos interligados a todos os outros riscos luminosos de uma tela e a tela está conectada a todas as outras telas e seus problemas a todos os outros problemas. Com esta introdução colocamos em cima do berço de um recém-nascido um móbile. Acalentamos o seu sono com um suave som do coração materno através de outro móbile e atravessamos continentes nomeando os centros de produção destes artefatos, onde eles germinaram em agitados canteiros de inovação. Com qualquer um daqueles nomes serão sempre habitats de inovação. Os seus produtos refletem a riqueza da roda da fortuna sempre inovando o futuro, mas também refletem com seus artefatos a realidade assimétrica das pessoas nas cidades. Cuidemos agora da paisagem. Retiremos do cenário as casas, ruas, transportes, o comercio, jardins, teatros e bibliotecas e quem governa tudo isso. Sigam tramando comigo a visão intencionalmente parcial de uma cidade conectada. Didaticamente, pois, isolemos a ideia desta cidade como se isola uma bactéria para estudo. Toque a tela e 6 mude o presente. Gire os braços e a porta se abre. Grite e a geladeira congela. Fale que eu te escuto. Nos instantes seguintes eu não preciso de transportes, estradas, edifícios, lazer ou outras infraestruturas físicas. Estou virtualmente me transportando para uma nuvem de imagens. Agora. O futuro então é um presente instantâneo. Sem qualquer consideração de ordem filosófica, essa é a minha rede, estes são os meus nós. Toquemos neste ponto crucial para dar sentido às nossas considerações retirando por alguns momentos os urbanistas, e economistas da sala. Deletemos por alguns instantes as casas, as ruas, as praças e os arquitetos e falemos apenas das artérias e veias das cidades. Observemos as cidades e suas conexões. Esta de hoje, onde você mora, não vai desaparecer. Esta é um esqueleto. Sobre ela desce uma neblina, uma nuvem, uma rede de informações, do conhecimento, das comunicações e a manipulação das informações do conhecimento e das comunicações. As relações em rede é que fazem de um aglomerado de pessoas uma verdadeira cidade e a cidade somos nós. A cidade sabe o que se respira, o que nos alimenta, o que se bebe, e sabe o que se joga fora. O planeta é uma grande cidade que se pode ver, acendendo e apagando, de um satélite patrocinado pelo Google. Retiremos quase tudo de uma cidade para falar apenas de um aspecto deste presente. Tudo imaginado como um senhor do tempo que não precisa da qualidade da areia para ver o tempo passar em sua ampulheta. São redes de pessoas com pessoas, pessoas com artefatos, artefatos com objetos, objetos com pessoas, objetos com objetos e tudo isso às vezes comandado por um gesto de mágica que move alguma coisa à sua volta. Agite sua mão em frente a um smartfone de última geração e saberá do que eu falo. Esta rede tem funcionado para atender necessidades que surgem nos mercados que, apesar de todas as boas intenções ecológicas, humanistas e éticas, estão voltadas para o desenvolvimento econômico. Muitas destas necessidades são estudadas, a partir de pesquisas que se realizam em ambientes de academia, tomam forma em um Parque Tecnológico e são realizadas por empresas. Este é o nó górdio que precisa de nossas atenções. Os parques tecnológicos ajudaram a criar a maior rede de conexões de pessoas em toda a história da humanidade e agora já se deparam com a necessidade de se reinventarem do tangível para o intangível. II A evolução dos Parques Tecnológicos sedimentou o paradigma que se incorporou a todas as definições sobre o tema: O fato de serem planejados para agregar empresas, incrementar a riqueza, girando o conhecimento da academia para os negócios com o apoio das instituições governamentais ora no fomento destas atividades ora com o estabelecimento de políticas públicas de incentivos. Toda esta cooperação sempre em busca da geração, aperfeiçoamento ou inovação de um produto ou de processos. A revolução que a sinergia destas forças provocou está em curso sobre o mundo desde o momento em que nem se sabia que uma das hélices dos parques começava a girar nas garagens do Silicon Valley. O efeito borboleta do que se considera o embrião de todos os parques tecnológicos no Vale de Silício foi impossível de se prever em toda a sua extensão. Os parques, desde então tem uma produção tangível. É chegado o momento de melhor dimensionar os aspectos sociais e culturais que brotaram da convivência proporcionada 7 pela tecnologia e que provocaram o nascimento do sentimento de sustentabilidade das pessoas dentro dos sistemas. É célebre a frase do presidente da IBM Thomas Watson, quando verbalizou: “penso que há talvez no mundo um mercado para 5 computadores”. O próprio Bill Gates imaginou, em algum momento que 640 Kb era mais que suficiente para qualquer pessoa. A Atari e HP rejeitaram o projeto de computador pessoal dos dois Steves, o Jobs e o Wozniac’s. O quadro de avaliação de cada um dos personagens que não perceberam o futuro certamente não apresentava dados significativos para uma decisão propositiva. Mesmo hoje, os dados indicativos do crescimento assustador da população urbana não emocionam muitos daqueles que não acreditam em projetos de longo prazo. À longo prazo, dizia Keynes, todos estaremos mortos. O detalhe é que a passagem do tempo se sobrepõe a todas as nossas decisões. Hoje você encontra em tempo real informações sobre quase tudo. O longo prazo para a sociedade de conhecimento não é o mesmo. Nenhuma cidade pode esperar. Os Parques Tecnológicos são as borboletas de Lorentz batendo as asas sobre as cidades de hoje onde se catalisam as relações de caráter social, de mobilidade e diversidade. Os relacionamentos se medem como se fossem reflexos de organismos vivos, em ação. A tecnologia aplicada criou um novo ciclo de inovação em todos os sentidos, em todas as áreas onde a consciência do homem pode alcançar. Há uma diferença que precisa ser percebida entre o que fazia e ainda faz parte da sociedade industrial hoje e o que faz e vai fazer parte desta bio-sociedade, amanhã. O ciclo de convivência de um paradigma de crescimento econômico sem fim tende a esmaecer sob os passos de uma nova visão do mundo. O recente trabalho organizado por Roberta Lima Silva Bouchardet sob o título: – Parques Tecnológicos - Plataformas Para Articulação e Fomento ao Desenvolvimento Regional Sustentável destaca que na atuação sinérgica desta rede “encontra-se o cenário ideal para a geração de emprego e renda, criação de produtos e processos inovadores, desenvolvimento científico e tecnológico transformação econômica e social”. O livro retrata sete parques tecnológicos no Brasil e todos eles são apresentados como modelos que “atuam nas mais diversas regiões do país, contribuindo de forma decisiva para o desenvolvimento sustentável do país.” A razão da existência dos parques tecnológica se norteia dentro desta configuração, há sessenta anos, desde a experiência do Vale do Silício e vinculam o seu êxito ao desenvolvimento e crescimento da atividade econômica. Voltemos à metáfora da Tríplice Hélice. Este modelo está em equilíbrio? As forças estão sincronicamente distribuídas e os benefícios desta integração são equivalentes? A contribuição do governo requer apenas o resultado do desenvolvimento sustentável? É suficiente para a universidade a transferência de tecnologia e conhecimento para a produção econômica? Existe algum tipo de produção de tecnologia e conhecimento convergindo para aperfeiçoar a estrutura governamental? Estamos preparados para dar um salto de inovação neste processo transferindo o foco Universidade>Empresa para Universidade>Governo? Ou mais longe ainda da Universidade para a comunidade. Estes atores só estão disponíveis e integrados nas cadeias produtivas relacionados com os arranjos produtivos dos quais os Parques 8 Tecnológicos são apenas uma parte? Que ambiente espera o resultado desta produção de conhecimentos? Toda a estratégia é eminentemente quantitativa e voltada para o desenvolvimento econômico numa aliança virtuosa da academia com a indústria. O terceiro parceiro, de onde se retiram os benefícios públicos, o governo, é reconhecido implicitamente como autossuficiente. Um provedor de recursos. Os Governos se satisfazem em apreciar o produto final deste esforço de desenvolvimento e quantificam tudo dentro dos parâmetros do PIB. O PIB me diz o que as pessoas desejam ter. Chegou o momento de se compartilhar o que as pessoas desejam ser. Precisamos repensar não este modelo. O modelo da tríplice hélice deve prosseguir. Precisamos de outro modelo onde a sustentabilidade não se faça pela manutenção apenas do desenvolvimento e/ou do crescimento econômico. Não desligamos o rádio do século passado para dar exclusividade à televisão de hoje e não desligamos a televisão de alta definição para dar exclusividade aos benefícios da internet. Nas variáveis econômicas até agora nos envolvemos com escassez crescente. Na sociedade do conhecimento nos envolvemos, também, com outro tipo de preocupação. Tudo está em curso e nada é definitivo. O conhecimento, os relacionamentos, a reciprocidade devem começar a serem considerados como um tipo de capital social a ser compartilhado. Um capital que se multiplica se for bem distribuído. As consequências da competência em bem aplicar o modelo governo > universidade > empresa devem ir além dos resultados que envolvem um tipo de sustentabilidade que tem sua razão de ser exclusivamente nas relações econômicas e financeiras. As cidades são as pessoas em rede instantânea. E todos nós estamos conectados. Estas pessoas precisam sobreviver, precisam de bem estar e não podem mais, como afirmou Gehlen, renunciar à expectativa de uma vida confortável. As cidades mudaram porque mudaram as sinapses culturais e sociais. As cidades mudaram e vão mudar ainda mais assustadoramente porque já é possível ultrapassar todas as fronteiras físicas de seus limites. Esta configuração ainda não tem nome. Ainda chamamos de cidade estes locais que estão em nossas cabeças, pela tradição de aglomerar as pessoas sob a proteção de regras comuns em espaços delimitados. A noção de pertencimento ao berço, no entanto, tende a se deslocar do local para global. Do sussurro para o grito. É a tecnologia que está gerando estas condições. Os laços intangíveis das redes sociais. Lembrem-se de que estamos falando apenas das artérias e das veias da cidade. Apenas das redes. O físico Geoffrey West, na conferencia de cúpula Compass, em 2011, defendeu a importância de se estudar as cidades como se estudam os fatos da biologia. Segundo ele os sistemas desta natureza estão necessariamente destinados ao colapso como se fossem organismos vivos. Sempre estivemos salvos deste colapso porque ao nos aproximarmos do limite extremo da sobrevivência somos salvos por uma inovação. O problema para ele é que temos que aumentar a frequência dos ciclos de inovações numa correlação com o crescimento da população. Se a população cresce a frequência das inovações deve crescer também. Teremos que incorporar rapidamente a necessidade de criar inovações em usinas de tecnologia e o caminho não é somente a troca de bens, mas o compartilhamento do capital social disponível gerado pela produção e distribuição de conhecimento. Com uma política adequada poderemos diminuir a assimetria social entre os povos. A cidade começa a ser vista como organismo vivo porque são as pessoas que percorrem as ruas e fazem-na pulsar. 9 Não é uma simples metáfora o olhar sobre as cidades de um matemático, um físico, ou um biólogo. As variáveis são tão intrincadas e tão interdependentes que é permitido imaginar uma cidade doente e que existem curas disponíveis para a poluição, os transportes, a educação. Nada disso se fará, no entanto, sem um mínimo de tecnologia que interfira com o destino das pessoas. Estamos sob a ameaça do próximo colapso? As estatísticas são assustadoras e nos induzem a acreditar nisto. A Tríplice Hélice vai se comportar como uma biruta movimentada cada vez mais pela aragem do crescimento populacional até que uma tempestade tropical provocada pela respiração de um milhão de novos habitantes urbanos a cada semana, indique uma nova maneira de repartir os valores e as riquezas disponíveis. O mundo ainda vai ser uma só cidade conectada. A academia, o governo e as empresas não sobreviverão nos parques e usinas de tecnologia e inovação sem as pessoas. O produto das tecnologias produzidas em Parques Tecnológicos colocaram as pessoas nas redes e elas brilham em todas as conexões. Para o bem e para o mal. Em crise política, o Nepal tentou cortar as comunicações das redes sociais em 2005, Myanmar também em 2007, a China seleciona os canais de comunicação e promove a censura sempre que um mal estar social lhe acontece. O movimento popular das redes na Tunísia em 2010 e no Egito em 2011 comprovou a eficácia das redes. Para o “bem” quando une as pessoas sob um mesmo ideal democrático. Para o “mal” quando o mesmo mecanismo é usado para espionar e reprimir. O capital social tem esta dualidade: ele se organiza para o bem, mas tem o seu lado negativo. A presença das redes sociais nas decisões políticas é uma realidade para todos os regimes. A censura oficial também. The New York Times do dia 28 de janeiro de 2011 informou que o governo do Egito havia provocado a queda de 90% do tráfego de dados e todas as operadoras de telefonia celular foram orientadas a bloquear seus serviços em áreas selecionadas. Naqueles dias de fúria o Governo gastou cerca 18 milhões de dólares por dia para impedir as comunicações pelos celulares, pelas redes do Facebook e do Twiter e acendeu consequências inevitáveis e indesejáveis para ele. Bloqueios desta natureza não são completamente seletivos. Isto não é bom para os negócios do dia a dia de todos. Não é bom para os turistas. É péssimo para os bancos. É horrível para o governo. Foi mortal para o governante do dia. A proibição torna os ativistas mais criativos e trouxe uma inesperada solidariedade mundial à causa mesmo despertando a repressão de quem procura conter estes movimentos. O saldo destas manifestações ajudou a mudar o mundo das comunicações, tenham certeza disto. III Entre o ano 2000 e 2012 o número de telefones móveis cresceu de 1 bilhão para 6 bilhões. As previsões otimistas entendem que este numero chegará a 7 bilhões ao final de 2013. Uma verdadeira revolução que está ajudando a criar novos negócios e mudando a maneira de se comunicar em comunidades pobres da África e da Índia, por exemplo. A constatação está registrada no relatório “Maximizing Mobile” do Banco Mundial de 2012 – “Information and Comunication for Development”. Segundo o relatório a telefonia móvel já é a mais impressionante máquina jamais vista em comunidades de países em desenvolvimento para incrementar oportunidades numa escala sem precedentes, na agricultura, saúde, serviços financeiros e governamentais. Em 2011 foi registrada a movimentação de mais de 30 bilhões de downloads de aplicativos para dispositivos móveis o que indica o nascimento de um novo segmento 10 econômico em escala mundial com o desenvolvimento de usos para dispositivos móveis. De um simples equipamento de recepção e transmissão de voz o celular se transformou num ferramenta multimídia capaz de fazer downloads e uploads de textos, dados, vídeos e áudios. É um jornal, uma revista, um dicionário, um tradutor pode ser usado como carteira, bússola, televisor, despertador, calculadora, agenda, câmara e movimentar sua conta bancária, memorizar, vender e comprar coisas e não requer alfabetização convencional. Aperte e use. O relatório ressalta que a criatividade e incremento destas transformações tem origem em países em desenvolvimento e daí se espalha pelo mundo o que produz um efeito colateral inesperado. A expectativa é que estes países desenvolverão criatividade suficiente para adaptar o uso de dispositivos móveis às circunstâncias e necessidades locais o que demandará mais pesquisa. Em muitos desses países considerados “em desenvolvimento”, mas certamente com uma acentuada pobreza, os celulares são tão onipresentes que muitos têm acesso a um deles com mais facilidade que a uma conta bancária, a eletricidade ou mesmo à água limpa. Estes artefatos já são, nestas comunidades, instrumentos de sobrevivência e de trabalho e começam a transformar um móbile de objeto de desejo em objeto de primeira necessidade. Tomemos o exemplo do crescimento dos “mobiles” na América Latina: a estimativa é de 742 milhões de assinaturas móveis ativas até o final de 2013. Aqui, com informações da “Brasil Link” e de acordo com a empresa de consultoria “Frost & Sullivan”, 15,5 milhões de smartphones foram vendidos em 2012 e mais 21 milhões serão vendidos em 2013 com 35% a 40% de todas as vendas de celulares em 2013. A “Brasil Link” informa ainda que a Mobile Modes, pesquisa realizada pelo Yahoo! Insights! registrou que em 2013, 67 milhões de brasileiros acessarão a internet móvel com previsão de 110 milhões para o ano de 2015. O que fazer? As pessoas precisam estar bem conectadas. A banda larga deve ingressar nos planejamentos urbanos como uma infraestrutura essencial como a eletricidade e a água. No meio deste artigo nós retiramos os urbanistas, arquitetos e todo o grupo de governança de uma cidade, da sala. Pergunte a todos agora o que fazer com o crescimento populacional e com a expansão inevitável das cidades. Eles continuarão defendendo a idéia da necessidade de se aperfeiçoar a mobilidade urbana, controlar o crescimento dos subúrbios, ampliar as economias de escala, gerar empregos, reduzir as informalidades, racionalizar os serviços de transporte, melhorar o atendimento do sistema de saúde, a infraestrutura e uma enormidade de providências todas corretas e todas necessárias. É preciso que se diga, no entanto que o crescimento urbano é um problema muito sério para ser deixado exclusivamente sob a responsabilidade dos urbanistas, dos políticos e do Estado. O presidente da Hinduston Construction Group, Ajit Gulabchand é enfático se referindo à Índia: “levamos dois mil anos para ter a população atual e só vai levar mais 40 anos para termos a mesma quantidade de gente morando em cidades” “as cidades não 11 merecem a necessária atenção do governo, (...) no ritmo migratório atual, nos próximos 40 anos haverá a necessidade de se construir 500 cidades para abrigar a população mundial que está migrando para as áreas urbanas. Não dá para esperar o governo se mexer”. Já estamos numa nova era e nem percebemos. O ingresso de um milhão de pessoas nas cidades todas as semanas não vai acontecer. Está acontecendo. A inclusão digital pode não ser uma boa ideia para um país com regime de força. A inclusão digital leva à inclusão política, que leva a reivindicações sociais, econômicas e culturais que leva a reivindicações ambientais, que exige o incremento de medidas educacionais, que transformam necessidades locais, que fomenta a participação das pessoas e que assim não se consegue mais esconder nada que possa ser fotografado, gravado, relatado, compartilhado, descrito. Nem todos os governos conseguem esconder ou eliminar seus ativistas políticos ou ambientais. Devemos isso à tecnologia. Devemos isso, em grande parte ao trabalho desenvolvido em Parques Tecnológicos, aos habitats do mundo inteiro que incrementa o espirito de inovação voltados para produtos que transformaram o relacionamento entre as pessoas ampliando mercados com o desenvolvimento de incubadoras criando novas oportunidades e produtos nunca dantes imaginados com aplicativos que brotam de todos os lugares. O modelo que nos trouxe até aqui e que nasceu há sessenta anos deve prosseguir. Outro modelo deve ser construído para o nosso próprio bem. Não há como interromper o ciclo de crescimento das cidades a menos que catástrofes aconteçam. Aquela criança que já manipula o seu smartphone tocou a primeira e sonora nota visual de sua inclusão digital. No momento em que seus dedos roçam a tela está sendo gerado um emprego em algum lugar do mundo, certamente consequência de uma descoberta em algum Parque Tecnológico. Aos quinze anos ela poderá se comunicar com pessoas que estão morando em pelo menos uma das 27 cidades com mais de dez milhões de habitantes. Sem um controle tecnológico será incompreensível gerenciar as relações internas de cada uma destas cidades, entre elas e o resto do planeta. Se as estimativas se confirmarem 780 milhões de novos habitantes terão ingressado em ambientes urbanos, neste período. Muitos estarão em cidades tradicionais que fizeram a transição para cidades inteligentes. Muitas estarão em cidade novas, planejadas. Parte do conhecimento gerado virá de Parques Tecnológicos e será intangível. Não se poderá mais sintonizar o mundo apenas com o GPS da industrialização. Parafraseando Keynes, à longo prazo todos estaremos conectados. . 12