1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES – NITERÓI PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO “A VEZ DO MESTRE” MOTIVAÇÃO E QUALIDADE DE VIDA DO TRABALHADOR Objetivo Geral: Desenvolver pesquisas bibliográficas sobre os aspectos mais relevantes da relação empregado-empresa e da motivação humana, qualidade de vida no trabalho, especialmente a relevância das necessidades humanas. Almeja-se, por meio dos objetivos específicos: identificar o que é motivação humana e qualidade de vida para o ser humano dentro e fora do trabalho; mostrar algumas das teorias das relações humanas dentro de um processo administrativo; diagnosticar ações dentro da empresa que visem a uma melhor qualidade de vida do trabalhador. 2 AGRADECIMENTOS "Ao morrer, você não leva consigo o dinheiro que economizou durante a Vida, mas leva o dinheiro que doou. Você não leva a comida que estocou, mas leva a que dividiu com os outros. O que você deu para ajudar os outros, Você leva. O que manteve consigo, Fica para trás." (Reverendo Dr. Charles L. Heuseer) Este trabalho tem sido obra de muitos desafios, e percebo que realmente é uma grande caminhada, durante a qual nos deparamos com diversas situações. Diante da alegria, tristeza, ódio, ciúme, e tantas outras coisas, há sempre uma força interior, uma voz suave que nos diz que precisamos ser bons e vencer. E que para isso só há uma maneira, contar com nossa fé, motivação, entusiasmo e com a solidariedade de nossos semelhantes. Não há ninguém que possa fazer algo nesta vida sem receber a parceria e a colaboração dos outros. A Deus, que me auxilia nos momentos mais difíceis de minha vida; a meu pai e meu irmão, fontes de minha inspiração, que com trabalho, persistência e dedicação em tudo que fazem tornaram-se um exemplo de vida digna e edificante; aos meus amigos queridos, ao trabalhador digno, que com o suor de seu rosto, em condições muitas vezes precárias, consegue sorrir e se orgulhar, de tudo que realiza, com empenho e satisfação. O meu carinho e agradecimento. 3 DEDICATÓRIA Dedico esta monografia a memória de minha mãe Cléa Leite Pinto de Andrade, que tantas alegrias e ensinamentos trouxe a mim e meus irmãos durante sua trajetória de vida. Incansável em nos proporcionar tudo que podia para que nossa infância e adolescência transcorressem da melhor possível, através de sua dedicação e superação de todos os obstáculos que a vida lhe impôs, muitas vezes esquecendo-se de si para nos auxiliar no que estava a seu alcance. Aos meus irmãos Rafael, Fernanda, Ana Carolina e Fernando. Além de meu Pai e minha Tia Lídia que sempre me apoiaram nos momentos mais difíceis da minha vida. 4 RESUMO O período histórico pelo qual estamos passando é marcado por inúmeras transformações, em conseqüência da era da globalização que emerge em um espaço onde não existem limites geográficos. Uma nova geografia está sendo desenhada pelos fluxos globais de mercadorias, capitais e informações. Os avanços tecnológicos são características marcantes, pois através deles a humanidade entrou na era da comunicação universal, abolindo distâncias e viabilizando a produção de conhecimentos em tempo real. A motivação é um conceito que se invoca com freqüência para explicar as variações de determinados comportamentos e, sem dúvida, apresenta uma grande importância para a compreensão do comportamento humano, um estado interno resultante de uma necessidade que desperta certo comportamento. Os usos que uma pessoa der às suas capacidades humanas dependem da sua motivação, seus desejos, suas carências, ambições, apetites, amores, ódios e medos. As diferentes motivações e cognições de uma pessoa explicam a diferença de cada uma. Alguns psicólogos afirmam que motivação é o desejo consciente de se obter algo, sendo, assim, uma determinante da forma como o indivíduo se comporta. As organizações tentaram, através do modelo mecanicista, impor que o trabalhador separe a realidade da vida profissional. Mera ilusão. A pessoa é um todo, em que convivem razão e emoção, vida pessoal e profissional. A grande luta será preparar indivíduos para gerenciar de forma mais afetiva as questões pessoais e profissionais. METODOLOGIA A Metodologia empregada foi a de pesquisa bibliográfica junto a biblioteca desta faculdade, da Biblioteca Estadual do Rio de Janeiro e da Universidade Federal Fluminense. Por minha pessoa ser ex-aluno desta última tive acesso a este recurso, além da Internet e de livros próprios. 5 SUMÁRIO Introdução ........................................................................................................ 7 Capítulo I ......................................................................................................... 15 Trabalho e Prosperidade .............................................................................. 15 Capítulo II ........................................................................................................ 28 Trabalho e Desenvolvimento Humano..................................................... 28 Capítulo III ...................................................................................................... 32 Qualidade de Vida no Trabalho ................................................................. 32 Capítulo IV ...................................................................................................... 47 Determinantes da Qualidade de Vida no Trabalho ............................... 47 Capítulo V ........................................................................................................ 54 Os Aspectos que Afetam o Ambiente de Trabalho ............................... 54 Capítulo VI ...................................................................................................... 66 Lidando com Mudanças ............................................................................... 66 6 Capítulo VII...................................................................................................... 94 Motivação......................................................................................................... 94 Capítulo VIII.................................................................................................... 101 Os Aspectos que Afetam o Desempenho no Trabalho......................... 101 Capítulo IX...................................................................................................... 102 Viver Com Qualidade, Como Enfrentar Esse Desafio.......................... 102 Conclusões e Considerações Finais............................................................ 109 Referências Bibliográficas.......................................................................... 115 ÍNDICE............................................................................................................ 121 ANEXOS......................................................................................................... 125 7 Introdução "O ponto fundamental é como administrar uma organização de maneira a permitir que os empregados sejam, ao mesmo tempo, felizes e produtivos. Uma situação na qual tanto os empregados quanto os empregadores acham-se satisfeitos com os resultados". BARRY (1986). "Segurança e saúde não é somente a garantia de estabilidade no emprego, bom salário e outros benefícios que concorrem para a satisfação do trabalhador, mas é também a humanização do trabalho, a segurança, o desenvolvimento de suas aptidões, a estratificação e mobilidade que pode aspirar. Certo é que o homem é mais consciente de si mesmo e do universo que o cerca, se o trabalho está harmonizado com sua dignidade". VIEIRA (1995). Há 3500 anos atrás o povo de uma nação trabalhava sob o poder da dinastia dos Faraós do Egito. Todas as pessoas eram forçadas ao trabalho para que as pirâmides, os templos e as construções magníficas fossem erguidos com toda velocidade. O povo tinha em troca alimento e lugar para dormir, e assim as famílias cresciam neste sistema. A produção era a palavra-chave para os fiscais e os guardas do governo; ninguém devia vacilar. Para crianças e jovens tudo parecia normal, uma vez que não conheciam outro modelo. De repente surgiu um homem chamado Moisés, e disse para aquele povo hebreu que gritassem pela sua liberdade. Parecia algo absurdo, parecia que nem a palavra de liberdade tinha sentido. Mas um dia ele libertou o povo das garras dos Faraós 8 e levou-o para terras férteis, para que as crianças pudessem correr, os adultos plantar e os jovens se desenvolver. Hoje, 3500 anos depois daquele evento histórico, será que a palavras de liberdade têm sentido? Embora as pessoas sejam livres para sair de suas casas, livres para casar com quem gostem, livres para morar onde desejem, no entanto, com tudo isso parece que há fatores que indicam que existem limites para esta liberdade. Há imposições, regras e determinações para as pessoas se desenvolverem e progredirem, não tão visíveis como na época de Moisés, mas como algo muito mais inteligente do que os Faraós faziam. Por exemplo, um número grande dos habitantes da Terra é destinado a conviver com doenças alérgicas, infecciosas, respiratórias e até malignas, por que todas as pessoas devem consumir os produtos industrializados produzidos por empresas gigantescas em toda parte da terra. Parece que todas são escravas da indústria farmacêutica que transformaram o remédio em uma mercadoria lucrativa. Outro exemplo é o planejamento constante de guerras; embora a quase totalidade dos povos não aprove mais as guerras, muitos governos são obrigados a se envolver em guerras internas e externas para poder manter a industria bélica. Esta está produzindo a todo vapor, promovendo as guerras como o meio para consumo de seus produtos. E assim, existem muitos outros sistemas que praticamente determinam os passos de todos os habitantes da terra. Há uma pequena margem de reclamação para as coisas secundárias, destinadas a anestesiar a consciência daqueles que se consideram conscientes. A desinformação faz com que a grande maioria ache normal e natural o que está se passando. No último século, houve muito avanço na tecnologia e como conseqüência, na expansão da industrialização. O mundo deu grande salto na mecanização dos processos de produção. O progresso conquistado desta forma foi visto e batizado como desenvolvimento e o conceito de desenvolvimento tornou-se sinônimo de industrialização. Frederick Winslow Taylor (1856 – 1915) foi iniciador da eficiência industrial, o “Pai da Organização Científica do Trabalho”. Contribuiu de forma eficaz para o desenvolvimento industrial do século XX.Basicamente, ele coloca que o objetivo mais importante de ambos, trabalhador e administração, deve ser a formação e aperfeiçoamento do pessoal da empresa, de modo que os homens possam executar em 9 ritmo mais rápido e com maior eficiência os tipos mais elevados de trabalhos, de acordo com suas aptidões naturais.Estes princípios foram responsáveis por um crescimento rápido das empresas, especialmente das indústrias. Mas também geraram uma mudança radical no conceito de trabalho e de desenvolvimento. O desenvolvimento das nações se relaciona com o crescimento econômico das empresas e da indústria. Quanto mais as indústrias podem produzir, mais prosperidade econômica possuem, e assim a nação é considerada mais desenvolvida. Desta maneira, o desenvolvimento das empresas se concentrou no sentido de elevar os lucros, portanto a produção se tornou a questão mais importante. Assim para mostrar que uma empresa está bem sucedida o parâmetro apresentado é o valor da sua receita. Por exemplo, na introdução do livro“Crescer para Lucrar Sempre”, GERTZ e BATISTA (1998, p. 14), apresentam as empresas mais sucedidas no momento e como exemplo citam o seguinte: “A Gillette aumentou sua receita de us$3,6 bilhões para us$5,4 bilhões em apenas cinco anos, tendo o seu sucesso se baseado em notáveis habilidades no desenvolvimento de produtos”. Mas não há indícios de que este aumento de receita proporcionou um desenvolvimento interno para próprios funcionários. Cabe um levantamento interno para verificar como os funcionários foram beneficiados com este aumento de receita, especialmente é interessante estudar a situação dos funcionários terceirizados que são responsáveis pelo aumento da produção desta grande empresa. CAIDEN(1988, p. 24), na sua análise de reconsideração do conceito de desenvolvimento, mostra o lado triste e real do resultado de uma devastadora corrida, na busca de captação de lucros em nome de progresso. Ele faz a seguinte abordagem: “O desenvolvimento ocidental preocupou-se mais com o crescimento do que com a distribuição, entendendo que quanto mais houvesse, mais haveria para ser distribuído. Mesmo que os privilegiados tivessem uma parcela desproporcional, os nãoprivilegiados indiretamente também se beneficiariam, recebendo o que sobrasse. Talvez isso pudesse ser verdadeiro 10 no caso dos países ricos; não o era no dos pobres, onde pouca coisa parecia sobrar de uma elite privilegiada, que cuidava de monopolizar a riqueza disponível.” Nessa abordagem, CAIDEN coloca em dúvida a legitimidade do processo de industrialização; declara claramente as inviabilidades dos modelos ocidentais e tenta traçar os aspectos ocultos e não divulgados do mesmo. SACHS(1986, p. 96) contesta os resultados do processo de industrialização atual no sentido da relação entre o trabalho e a sociedade: “Sem pôr, de modo algum, em dúvida a difusão do conforto material trazido pela civilização industrial, temos, no entanto, o direito de nos perguntar se o avanço espetacular dessa civilização não significa desperdício demasiado de recursos e homens; quais os seus limites e o seu sentido profundo; sobretudo, a que tipo de relações de trabalho e de sociedade nos leva. Toda uma corrente de pensamento acha que o industrialismo e a divisão de trabalho por ele subentendida provocam inevitavelmente a alienação e a negação de qualquer espécie de autonomia para os trabalhadores e os indivíduos.” SACHS, nas suas palavras, quando se refere à “negação de qualquer espécie de autonomia para os indivíduos”, claramente está dizendo que o sistema em curso não oferece grandes chances para o desenvolvimento individual. Ele deve estar se referindo a forma que o trabalho é determinada para os operários como seres humanos com capacidades e potencialidades inerentes. Isso é, as atividades diárias deles são limitadas às tarefas repetitivas, sem necessidades de estimular as suas iniciativas criativas. Não somente os operários e sim a grande parte dos funcionários da empresa foram norteados pelos princípios de administração de TAYLOR(1978, p. 51) que estabelece a idéia de “tarefa no regime de administração científica”: “O mais importante elemento na administração científica é a idéia da tarefa. O trabalho de cada operário é completamente 11 planejado pela direção. Na tarefa é especificado o que deve ser feito e também como fazê-la, além do tempo exato concebido para a execução. E quando trabalhador consegue realizar a tarefa determinada, dentro do tempo limite especificado, recebe aumento. Estas tarefas são cuidadosamente planejadas de modo que sua execução seja boa e correta.” Ele ainda frisa que: “A tarefa é sempre regulada, de sorte que o homem, adaptado a ela, seja capaz de trabalhar durante muitos anos, feliz e próspero sem sentir os prejuízos da fadiga”. Na verdade o cientista TAYLOR não pôde viver suficiente para ver resultado e as conseqüências do modelo de trabalho implantado por ele mesmo. Na prática não deu certo e depois de muitos anos se constata que a grande maioria dos operários não obterá a satisfação nem o desenvolvimento intelectual ao longo de anos de realização de suas atividades. É quase impossível um operário que é obrigado a executar as metas de produção dentro de tempos limitados (sob pressão dos superiores), sentir-se feliz ou próspero. O mais certo é que depois de anos de trabalho surjam a fadiga, desânimo e falta de motivação no trabalho. Este modelo de trabalho não possibilita as condições de desenvolvimento da criatividade e vocação dos funcionários ou operários. Pelo contrário, de acordo com a indagação de SACHS, é caminho certo para alienação. A prova disso é que a medicina do trabalho foi surgindo exatamente ao longo dos anos de crescimento das indústrias. Os regulamentos da medicina do trabalho estão ficando a cada vez mais complexos, devido ao surgimento de lesões, fadiga e problemas de ordem física e psíquica. Num dos trabalhos mais completos sobre a “Medicina Básica do Trabalho”, VIEIRA (1995, p. 444) coloca o seguinte: “Segurança e saúde não é somente a garantia de estabilidade no emprego, bom salário e outros benefícios que concorrem para a satisfação do trabalhador, mas é também a humanização do trabalho, a segurança, o desenvolvimento de suas aptidões, a estratificação e mobilidade que pode aspirar. Certo é que o homem é mais consciente de si mesmo e do 12 universo que o cerca, se o trabalho está harmonizado com sua dignidade.” Nos dias de hoje, estamos sendo testemunhas de muitos problemas de relacionamento nas empresas, os quais causam grandes impactos sobre o ambiente de trabalho. Estes problemas concentram-se principalmente na maneira como as empresas estão se posicionando frente aos seus funcionários. Embora haja um reconhecimento dos funcionários como valiosos e indispensáveis parceiros das empresas, por outro lado os clientes são também reconhecidos como extremamente importantes para o sucesso dos negócios. Os empresários estão dispostos a qualquer mudança necessária para estabelecer um padrão excelente de produção, atendendo assim da melhor forma possível os clientes. Por outro lado os funcionários são as ferramentas principais neste processo, e o seu estado e bem estar também deve ser de interesse dos empresários. No entanto, nem sempre as coisas acontecem de forma correta, e as experiências mostram que freqüentemente, os interesses comerciais e econômicos sobrepujam as questões relacionadas com os trabalhadores. Até os programas de melhoria da qualidade e outras ações de renovação tendem a apresentar maiores resultados nos números comerciais e não tanto nas necessidades dos funcionários no ambiente de trabalho. Com o interesse demasiado das empresas no desempenho dos funcionários, no aumento de produção e lucro, especialmente com o processo de industrialização, e ainda com o surgimento de mega-empresas, surgiram vários fatores preocupantes. Em geral, o rumo e o ritmo das organizações conduziram o ambiente de trabalho para a pouca criatividade; a falta de controle sobre a intensidade e duração da jornada; relações pessoais fragmentadas; relacionamento interno demasiadamente competitivo e repentinas mudanças no comportamento dos dirigentes. E por isso, está se criando uma preocupação silenciosa e constante sobre várias questões. Por exemplo, sobre o “conceito de trabalho”, a pergunta é a seguinte: este interesse direcionado dos empresários poderá transformar o propósito principal do trabalho em mero atendimento das metas das empresas? Outra questão preocupante em relação ao comportamento do trabalhador é: este interesse direcionado dos empresários poderá afastar os trabalhadores da sua personalidade serena, tranqüila e dedicada, para uma outra, carregada de 13 problemas, intranqüila e confusa? Estas preocupações ocultas, não são reconhecidas oficialmente, e normalmente são discutidas somente entre os funcionários. Na verdade, fazem parte de uma discussão de muitas entidades que analisam os direitos humanos, o modelo de desenvolvimento, os resultados de consumismo, os propósitos de capitalismo, as conseqüências da industrialização, os frutos de exploração da mão-deobra, e outras questões desta ordem. Por mais simplista que possa ser, o ambiente em que as pessoas estão inseridas relaciona-se diretamente com o grau de motivação de uma equipe.As pessoas de uma organização devem ter motivos para colocar suas potencialidades nos campos da saúde espiritual, social, psíquica e biológica a serviço de sua vida e da empresa. Quanto maior for a carga de motivos que os seres humanos tiverem para ação, maior será o conjunto de capacitações transformadas em ação prática. Qualquer unidade empresarial pode ter uma consistente e lucrativa ação na construção de motivos, que levam pessoas a aumentar o padrão, a qualidade e a quantidade de suas ações. Hoje já há uma grande preocupação em criar um clima empresarial em que as pessoas tenham ambiente de respeito, valorização e motivação. O que anteriormente era um instrumento da área de recursos humanos, passa a integrar cada vez mais a estratégia superior das empresas. De acordo com VIANNA(1999): "quanto maior a taxa de humanização de uma empresa, maior será o lucro, o qual compartilhamos muitas vezes cegamente, pouco importando o nome que a ela se dê: capital intelectual, inteligência emocional, capital humano, era do conhecimento". Para VIANNA(1999), motivar significa colocar o combustível mais poderoso dentro do cérebro dos seres humanos que fazem parte dessa equipe. Motivar significa colocar Deus dentro das pessoas. Introduzir entusiasmo pode representar uma mudança no ritmo físico e muito mais na cadeia emocional Estar motivado é estar com os neurônios a plena carga, com endorfina correndo pelo corpo. Uma pessoa motivada tem brilhos nos olhos, tem o amor à flor da pele. Este é o papel do líder: colocar Deus na vida das pessoas.É possível alguém motivar alguém? MOREIRA(2001) declara em seus estudos que teoricamente não, e há evidências mostrando convergência para essa unanimidade: 14 "Ninguém motiva ninguém!. Quando um profissional é submetido a um ambiente de alta motivação, seus lábios voltam a sorrir, seus olhos brilham e a serotonina corre-lhe o corpo.” As pessoas têm muitas necessidades ao mesmo tempo. Algumas dessas necessidades são biológicas como: sede, fome e desconforto. Outras necessidades são psicológicas, decorrentes de estados de tensão, tais como necessidades de reconhecimento, estima ou realização. Muitas dessas realizações acabam por levar o indivíduo a se motivar para atendê-las. A motivação humana é decorrente de necessidades a serem satisfeitas, do tipo "eu procuro trabalhar bem para ser reconhecido", ou "busco a realização como forma de ser aceito e respeitado". Segundo KOSTESKI(1999), quando os valores prioritários são os valores ou bens materiais, como ocorre em amplos setores da sociedade moderna, ou quando valores se confundem com os desejos ou as apetências de um ser humano, como também acontece, a descoberta de verdadeiros valores tem uma grande importância para a motivação da vontade humana. Porque a motivação humana remete sempre a valores verdadeiros, materiais e espirituais. Em meio a essas mudanças organizacionais, é comum encontrar, em todos os escalões das empresas ou instituições, profissionais que passam a exigir de si mesmos um índice cada vez maior de produtividade, sacrificando descanso e lazer. E também aqueles que passam a competir com sua própria sombra, temendo um rebaixamento ou demissão. Entretanto, a produtividade e competitividade em determinadas organizações parecem estar cada vez mais associadas; não ao trabalho estafante e individual, mas a habilidade de relacionamento interpessoal, onde este passa a ter tanto ou mais peso quanto a competência técnica do trabalhador. Até que ponto este posicionamento é satisfatório para a organização e para o trabalhador verdadeiramente competente e esforçado? Esta questão se torna relevante no sentido de adequação e motivação do trabalhador ao ambiente organizacional em que se encontra, no decorrer de tempo em que permaneça atuante em suas tarefas. 15 Hipótese A partir dos avanços tecnológicos, as empresas passam a analisar os aspectos mais relevantes da relação empregado-empresa e da motivação humana, especialmente das teorias de necessidades humanas, que prevêem mecanismos não manipuladores de motivação e envolvimento dos empregados com os objetivos primordiais das empresas, levando-as a repensar suas ações de desenvolvimento. Capítulo I Trabalho e Prosperidade O que se constata é que, as empresas quando discutem o crescimento, normalmente, os seus interesses são direcionados às questões de crescimento econômico, isto é visando o maior lucro. Esta visão, quase dominante no último século, praticamente afasta outros ideais sobre a questão do trabalho. A colocação de MCGREGOR (1992, p. 15), mostra esta verdade: “O progresso, em qualquer profissão, está associado à capacidade de prever e controlar, isso vale também para a administração industrial. Uma das principais tarefas da administração é a de organizar o esforço humano a serviço dos objetivos econômicos da empresa.” Na verdade TAYLOR(1978, p. 29) coloca que o principal objetivo de administração cientifica é garantir a prosperidade para ambos os lados: “A expressão máxima de prosperidade é usada em sentido amplo, compreendendo não só grandes dividendos para a 16 companhia ou empregador, como também desenvolvimento, no mais alto grau, de todos os ramos de negócio, a fim de que a prosperidade seja permanente. Igualmente, máxima prosperidade para empregado significa, além de salários mais altos do que os recebidos habitualmente pelos obreiros de sua classe, este fato de maior importância ainda, que é o aproveitamento dos homens de modo mais eficiente, habilitando-os a desempenhar os tipos de trabalho mais elevados para os quais tenham aptidões naturais e atribuindolhes, sempre que possível esses gêneros de trabalho.” Ele coloca ainda que: “Parece tão evidente por si mesmo o princípio de que a máxima prosperidade para o patrão acompanhada da máxima prosperidade para o empregado deve ser objetivo principal da administração, e seria desnecessário demonstrá-lo.” Realmente, parece muito evidente por si mesmo este princípio, mas, é uma evidencia que na prática não se concretizou. Especialmente para todos os funcionários ou operários abaixo dos executivos. Um documento oficial intitulado “A Prosperidade da Humanidade”, publicado em janeiro de (1995, p. 13) pela “UNIVERSAL HOUSE OF JUSTICE” sediada em Haifa, Israel, questiona o atual conceito de trabalho, assim ele argumenta: “Na maior parte do pensamento contemporâneo, o conceito de trabalho costuma ser reduzido à idéia de um emprego remunerado que proporcione ao indivíduo os meios para consumir os bens disponíveis. O sistema é circular poder de compra e consumo resultam na manutenção e expansão da produção de bens e, em conseqüência, sustentam o emprego remunerado. Tomadas individualmente, todas essas atividades são essências para o bem-estar da sociedade. No entanto, a inadequação do conceito geral pode ser comprovada tanto na 17 apatia que os cientistas sociais discernem entre as imensas massas assalariadas de todos os país, quanto na desmoralização dos crescentes exércitos de desempregados.” O documento, ainda afirma que a prosperidade do homem não é uma questão material e define um conjunto de fatores como pré-requisito que poderão tornar uma pessoa próspera: “Esta prosperidade não se restringe em conquistas de bens, e sim, em condições necessárias para descoberta das potencialidades individuais. Esta última exige uma imensa expansão do acesso ao conhecimento numa atmosfera de liberdade, onde se oriunda a criatividade que é a fonte de todos os avanços humanos”. Este mesmo panorama se reflete na filosofia e até na ergonomia do trabalho. As condições da grande maioria das pessoas no ambiente de trabalho, a princípio, não proporcionam o desenvolvimento para seus protagonistas, e naturalmente não geram prosperidade para os mesmos. MCGREGOR(1992, p. 53) coloca que: “Nas condições da vida industrial moderna, as potencialidades intelectuais do ser humano comum estão sendo parcialmente usadas". Lembrando que um das ferramentas para o desenvolvimento humano é o trabalho, esse autor identifica que as empresas não proporcionam oportunidades para que ele possa desenvolver as suas potencialidades. A questão é, quais são fatores que não colaboram para que o trabalho seja um meio para o desenvolvimento e prosperidade dos trabalhadores? 18 1.1 – Conceito de Produtividade na Ótica do Empresário No contexto atual o crescimento das empresas, de acordo GERTZ e BATISTA(1998, p. 37) e com as teorias mais sucedidas no mercado, em principio devem seguir três estratégias básicas que são: “Gerenciamento de franquia ao cliente, Estratégia de desenvolvimento de novos produtos ou serviços, e gerenciamento dos canais de distribuição”. Estratégias essas que parecem ser seguidas por grande número de empresas de modo a atingir a crescimento lucrativo em meio a dificuldades. Neste contexto, pode-se perceber que nestas três estratégias, os fatores mais importantes, que devem concentrar a atenção dos empresários, são: cliente, produto, e canais de distribuição. Isso é, o trabalhador é um elemento importante dentro do processo e é responsável pelo alcance de todas as metas, mas ele não representa a questão mais importante. Todo processo é movido para um objetivo que é o lucro maior.” Para a grande maioria dos empresários a questão do lucro se tornou tão importante que os indivíduos e seus sentimentos perderam totalmente o seu valor. Este ponto de vista é muito transparente nas abordagens de FOURNIES (1992, p. 45): “As pessoas são empregadas na empresas apenas porque ainda não temos uma máquina que possa fazer tudo. Talvez o trabalho feito por essas pessoas pudesse ser feito por máquinas, mas tais máquinas ainda não estão disponíveis. Para que uma máquina se torne economicamente viável, os resultados do que ela produz devem exceder o custo de sua manutenção e operação. Isso também é verdadeiro no caso de um trabalhador. Qualquer recurso de trabalho deve dar à empresa uma contribuição maior que o custo de sua 19 manutenção. O ponto no qual um trabalhador recebe exatamente o que produz é aquele em que já não dá mais nenhuma contribuição para o lucro da empresa. Quando os custos de manutenção de um empregado igualam o valor da contribuição que ele dá ao negócio, essa relação se transforma em uma obra de caridade.” Os conceitos de "lucro" e "maior lucro" passaram a ser os indicadores de mérito e de eficiência para qualquer empresa. Foi criada ainda uma corrida sem precedentes atrás de tudo que possa ser traduzido como ganho. Um dos exemplos mais flagrantes de distorção nos rumos da empresas, em busca de ganhos imediatos, é quando estas sacrificam os recursos naturais que pertencem a inúmeras gerações do futuro; mesmo assim agem muitas vezes contra a sua própria geração, como por exemplo, na fabricação e no comércio de produtos tóxicos e armas. Outra desvantagem, conseqüência desta situação de competições e lutas para maior lucro, é o desperdício de grande quantidade de energia simplesmente para cancelar e neutralizar os esforços uns dos outros. Mais ainda, os mais poderosos conseguem invadir e dominar o mercado, monopolizando cada vez mais o comércio de produtos. Desta forma, empurram para a falência a grande maioria do micro e pequeno negócio e de empreendimentos que eram o meio de sustentação de muitas pessoas. Este modelo de trabalho, além de causar um grande desequilíbrio social, por suas agitações e conflitos é desgastante; e pode afastar o homem facilmente da sua natureza espiritual, dificultando assim, o desenvolvimento individual e coletivo. 1.2- Do Escravismo ao Modelo Atual de Trabalho O escravismo de forma coletiva acabou depois que Moisés libertou o povo hebreu das mãos dos Faraós. Os dados da história mostram que depois da utilização dos escravos na época de Faraós, esta prática ficou cada vez mais isolada. Entretanto, apesar de que no oriente não existia mais o tráfico de escravos, esta surgiu no continente da 20 América de forma mais agressiva como nos países colonizados por Portugal, Espanha e Inglaterra. Isto é, utilização dos escravos de forma sistemática e o mercado de venda foi um processo inédito e devastador. A prática de venda de escravos no oriente durante muito tempo se limitou apenas às vendas dos prisioneiros das guerras. Mesmo assim, esta prática dentro de um processo de evolução da humanidade e diante dos conceitos espirituais estava diminuindo. Por exemplo, na região da Índia os princípios do Hinduismo não permitiam a utilização dos homens como escravos. Os princípios de Zoroastro na pérsia também estabeleceram regras que não encorajavam a exploração do trabalho dos homens como escravos. Com o surgimento do Islam, devido a lei do Livro Sagrado de Alcorão, os escravos tornaramse criados e se beneficiaram de direitos humanos. Eles ganharam respeito, amor e confiança de seus criadores, acompanhavam o seu senhor nas compras e nas festas e ajudavam nas atividades agrícolas e nos demais trabalhos. E na verdade os países muçulmanos foram pioneiros na abolição do tráfico de escravos. Em fins da Idade Média, quando o oriente rumava no sentido da abolição, preparava-se o advento de uma época de escravidão intensa nas colônias européias da América. O tráfico de escravos atingiu, proporções extraordinárias, iniciando-se um capítulo da história da instituição em que se destacaram os Estados ibéricos, a partir das explorações portuguesas do litoral africano. No continente americano, os clonos exploravam o indígena como mão-de-obra servil, mas os índios se mostravam indóceis. Com apoio dos missionários enfrentavam os exploradores, ou fugiam para as florestas. A solução, para os colonizadores, foi o escravo negro, ligando-se ao surto da economia açucareira o enorme desenvolvimento que a escravidão fundamentada no tráfico negreiro oriundo da África assumiu nas Caraíbas, e depois em todo o continente americano. O modelo ocidental de escravismo é singular e assustador. Os escravos eram seqüestrados nos seus paises de origem, transportados e vendidos nas colônias. Esta parte da história realmente é triste e não tem nenhuma relação com os conceitos de trabalho estabelecidos em nações civilizados da época como Pérsia, Índia, China, e Arábia. O processo de abolição iniciou-se apenas no século XIX: no Reino Unido, em 1833, foram libertados todos os escravos das colônias britânicas; em 1848 houve a 21 proclamação da abolição nas colônias francesas, e proibição aos franceses de possuir escravos, mesmo em país estrangeiro; abolição adotada no México em 1829, Portugal em 1858 e no EUA em 1865 de acordo com a 13ª emenda à constituição, depois do fim da a guerra de secessão do Sul e da guerra civil, provocada pelas repercussões do movimento abolicionista no país. No Brasil, diferentes medidas legais de cunho abolicionista foram sendo adotadas entre1871/1888. É importante frisar que durante o período de escravismo no ocidente, não há registro de que os países da Ásia ou da África tenham praticado o mesmo. Nestes continentes não havia o tráfico de escravos. Os povos da África foram escravizados e levados para fora, mas no continente da África não havia escravos. Esta visão de utilização do ser humano como escravo e a exploração de mão-de-obra no continente americano surgiu paralelamente ao surgimento dos Estados Unidos. Portanto, a visão do trabalho na forma em que foi criado na América é algo muito particular desta nação. Ainda que a escravidão tenha sido abolida, provavelmente, a exploração da mão-de-obra, de uma forma ou de outra, permaneceu enraizada nas definições de trabalho desta nação. Embora com princípios criados por TAYLOR surgiu um novo modelo de trabalho, mas, até certo ponto, nele é visível a influência de muitos anos de exploração de mão-de-obra. Isto é, as regras da época do escravismo de uma forma muito sutil permaneceram nos princípios de administração cientifica de TAYLOR, de maneira que há grande possibilidade de que as pessoas se tornem escravas das suas indústrias. Muitos depoimentos daquela época mostram que realmente o espírito do escravismo de várias formas continua nos ritmos de trabalhos até hoje. ÀBDU’L-BAHÁ, numa palestra nos Estados Unidos, em 1912, disse as seguintes frases proféticas: “Entre 1860 e 1865 fizestes uma coisa admirável: abolistes a escravidão; mas hoje deveis fazer uma coisa muito mais admirável: deveis abolir a escravidão industrial!” E ele explica que a escravidão industrial é contrária à lei da natureza humana. Ainda afirma que: 22 “No futuro será impossível que os homens acumulem grandes fortunas pelo labor dos outros. Os ricos por sua própria vontade dividirão os seus bens com os pobres. Chegarão a isso aos poucos, natural e espontaneamente.” (STAR OF THE WEST, vol. VII, p. 147) 1.3-O Conceito Original de Trabalho “O homem pode atingir a perfeição através de seu próprio trabalho. Ninguém deve imitar o dever alheio. Um homem deve por natureza se sentir atraído à espécie de trabalho próprio. Dessa maneira, todos devem trabalhar segundo seu próprio dom". (KRISHNA 3000 a.C. – BHAGAVAD-GITA) Como foi visto, devido ao estilo de trabalho e as suas distorções, começaram a manifestar-se inúmeros problemas para os trabalhadores e conseqüentemente para as empresas. Assim surgiram vários ramos de discussão, como: Qualidade de vida do trabalhador, Medicina do Trabalho, Ergonomia do Trabalho, Engenharia de Segurança do Trabalho, Produtividade e Qualidade, Necessidades e Motivação no Trabalho e muitos outros assuntos. Portanto, nesse meio, a essência e o conceito original de trabalho foram esquecidos. É curioso que desde o surgimento da humanidade, o homem aprendeu a trabalhar, por isso esta questão não é nova, e interessante lembrar que os problemas que hoje a sociedade enfrenta em relação ao trabalho são inéditos. Por esta razão, seria mais correto estudar a forma que durante milhares de anos os homens trabalharam e descobrir os métodos e segredos dos mesmos. Talvez na sabedoria antiga possamos achar como era a tranqüilidade e o sossego de um trabalhador próspero e bem sucedido. 23 1.4-As Civilizações Antigas e Organização de Trabalho Os primeiros habitantes da América do Sul entram neste território há mais de 20.000 anos. Os dados confirmam a existência de uma civilização que se estendia em toda América, com características especificas e diferentes em cada região. Chibchas e os Incas eram duas nações que alcançaram elevado nível de cultural. Mas infelizmente, com a invasão espanhola na América do Sul, tudo foi destruído por Francisco Pizarro e Diego Almagro (1524). Em alguns lugares ainda há sinais de muito progresso e desenvolvimento social e econômico destes povos, especialmente no Peru, Bolívia e Equador. Os especialistas no assunto relatam que estes povos tinham governo, que conseguiram organizar um complexo sistema de administração. Haviam excelentes organizações de trabalho de tal forma que a nação era próspera. Os incas eram excelentes tecelões de algodão, lã e fibra. Seus tecidos decorados com penas conservaram-se por muito tempo. Na metalurgia, estes povos não só fundiam os metais, como também faziam inúmeras ligas, inclusive o bronze. Na arte e arquitetura, apresentaram notável progresso. Com a construção de edifícios públicos, palácios, templos, armazéns e fortalezas mantinham um volume grande de trabalhadores empregados. Ainda construíram uma magnífica rede de estradas, tinham um modelo exemplar de sistema de distribuição de alimentos, irrigação e correios. Então, estes povos indígenas tinham uma civilização e eles possuíam conhecimentos, que hoje não temos acesso e não sabemos como eles, durante milhares de anos, progrediram com seu trabalho valioso e organizado. Provavelmente seus conceitos sobre trabalho estavam longe do escravismo e da dominação. Uma nação com tantas qualidades e méritos com certeza tem muito a ensinar para futuras gerações com relação à questão do trabalho, organização, administração, estratégias de planejamento e outros assuntos do gênero. Na Índia, existia outra nação que em todos aspectos progrediu. Na medicina, na matemática, na fabricação dos produtos de seus usos, na arquitetura, culinária, farmacêutica, fitoterapia, homeopatia, e milhares de outras atividades como tapeçaria, tecelagem, música, arte e diversos ofícios. Este povo ainda preserva algumas das suas literaturas que melhor representam o seu passado. Por exemplo, para conhecer o sentido mais original do trabalho, pode-se consultar o Livro BHAGAVAD-GITA do povo 24 hindu, com mais de 5000 anos de existência. Nesta obra antiga e grandiosa encontramse várias partes explicando sobre o objetivo real do trabalho: “O homem pode atingir a perfeição através de seu próprio trabalho. Ninguém deve imitar o dever alheio. Um homem deve por natureza se sentir atraído à espécie de trabalho próprio. Dessa maneira, todos devem trabalhar segundo seu próprio Dom. Deve-se trabalhar para a satisfação de Deus. Nada deve ser executado para o gozo dos sentidos, mas tudo deve ser feito para a satisfação de Deus. Esta prática não só nos salvará da reação do trabalho, mas também nos elevará pouco a pouco ao transcendental serviço amoroso ao senhor, o único meio que pode promover-nos ao reino de Deus" (KRISHNA 3000 a.C. – BHAGAVAD-GITA, p. 166) Estas frases embora muito antigas, carregam consigo três conceitos muito sábios. O trabalho deve proporcionar a perfeição humana, não deve imitar o trabalho do outro, e deve escolher a profissão de acordo com as potencialidades. Sabe-se que milhares de gerações foram beneficiados com este modelo estabelecido por KRISHNA. Então, a pergunta é a seguinte: como um homem pode atingir a sua perfeição através de seu próprio trabalho? Na verdade, nestas palavras sábias pode estar entesourado o conceito original de trabalho. Conceito este que nas abordagens atuais não se vê mais. Alias, ao observar os ambientes de trabalho das empresas, é muito difícil que se encontre uma atmosfera que possa direcionar os funcionários para algo parecido com as palavras ditas na antiga literatura. Em relação à ética do consumo, FARUQUI(1992, p. 172) apresenta a seguinte abordagem: “Sob orientação dos princípios do Islam, a pessoa tende a consumir de acordo com a sua necessidade. O resto de seu rendimento ou abasto deverá ser gasto em caridade, na causa de Deus, ou reinvestido em algum negócio que irá gerar mais riqueza, bem como emprego e renda para outros. Quando foi 25 perguntado ao Profeta que quantia da renda ou riqueza deveriam os muçulmanos gastar na causa de Deus, a resposta dada no ALCORÃO (2, 219): Dize-lhes: Gastai o que estiver além das vossas necessidades. Assim Deus vos elucida os Seus versículos, a fim de que mediteis.” Sobre o capital, Faruqui (1992, p. 175) esclarece seguinte: “O Islam, como princípio primeiro da ordem econômica, criou o Estado em que o bem-estar dos cidadãos é conseguido pelos esforços organizados do governo e não pelas organizações privadas, e o Islam institucionalizou esse primeiro movimento ‘socialista’. O Islam têm feito bem tanto para a justiça social, bem como para a reabilitação da humanidade. Além do precedente estabeleceu o princípio de que o Estado Islâmico deverá ser livre de monopólio e de acumulação. Esses são absolutamente condenados e no ALCORÃO(9, 34) afirma: Quando àqueles que acumulam riquezas e entesouram o ouro e a prata, e não os empregam na causa de Deus, anuncia-lhes (Ó Mohammad) um doloroso castigo.” Estes conceitos foram alicerces de toda a cultura e civilização islâmica, que realmente durante séculos funcionou e proporcionou a prosperidade para as nações conhecedoras dos mesmos. As regiões mais ricas em cultura, arte e arquitetura contemporânea, em literatura, poesia, música e filosofia humana, geralmente são aquelas que os árabes tinham alcançado e tinham governado por algum tempo. Como por exemplo, o norte da África (Egito), a Turquia, a Espanha e os países árabes. A contribuição da civilização muçulmana para a civilização e a cultura do mundo ocidental com certeza foi grande. Talvez, posteriormente a história avalie este fato de forma mais real. A ciência desenvolvida por muçulmanos impulsionou o mundo, e em todos os aspectos causou progresso. E claro que estas nações discriminadas, nas suas 26 bibliotecas entesouram o conhecimento que pode esclarecer o rumo do progresso da humanidade. Este tipo de análise e pesquisa pode ser feita em toda parte de mundo, com outras nações, e depois questionar por que todas as bibliografias disponíveis no mercado atual para acadêmicos sobre a questão do trabalho, organização, desenvolvimento, receita e lucro, economia, produção e produtividade são do último século, e a maioria reflete as teorias do capitalismo e pertence aos autores contemporâneos? Será que os povos da Rússia, da Turquia, do Egito, da Índia, da China, do Irã, da África, da Argentina, da Chile, da Bolívia, dos países Árabe, e de milhares outros lugares não tinham política de trabalho? E por que todos foram obrigados a esquecer das suas próprias culturas e conhecimentos e assumir uma postura única e seguir a as regras do mercado capitalista? 1.5-Que Influência Tinha o Trabalho na Vida das Pessoas Pesquisando com muita persistência nas histórias não contadas de cada nação, observa-se que em todas as regiões e países, antes da invasão do ocidente no mercado (depois da primeira guerra mundial – 1911) existiam mecanismos de criação de culturas e educações de trabalho e profissões que beneficiavam todos os povos. O que aconteceu foi que os livros de histórias e de conhecimento geral pouco a pouco cortaram os dados e registros do passado dos povos, das nações, e das civilizações. Por exemplo, nos livros acadêmicos sobre a história do Brasil ou do Peru não constam os dados sobre o passado destes povos e apenas contam os fatos praticamente dos últimos cem anos, e deixaram um buraco enorme no passado. O modelo de trabalho até o século passado era o artesanal. As pessoas naturalmente apreendiam algo e depois escolhiam a atividade, como sua profissão. Geralmente, surgia a necessidade de seguir os negócios da própria família. E assim todas as pessoas se ocupavam com a profissão certa. O mercado e a economia desenvolviam-se conforme as atividades das pessoas da mesma região. Uns costuravam, outros faziam pão, outros faziam queijo, alguns criavam galinhas, bois ou carneiros, alguns eram professores e outros comerciantes. Assim todas as pessoas tinham a sua profissão, a questão do desemprego não existia. A diversidade de culturas dava beleza e variedade para os artesanatos. Cada nação se destacava por certas 27 mercadorias e assim o trânsito de viajantes ficava mais animado, os turistas agiam como aquecedores do mercado e ajudavam ainda mais no crescimento de cada região. Um fator muito importante a ser frisado é que no estilo de trabalho do passado as pessoas apenas compravam os produtos que precisavam e não existia marketing forçando as pessoas para serem consumidores. O uso do marketing como principal ferramenta do atual sistema é algo a se discutir, para se avaliar os seus benefícios e prejuízos. Tudo indica que até o século passado o comércio funcionava sem uso exagerado de marketing, existia mais harmonia e equilíbrio nos negócios. 1.6– Quem se Beneficiava com a Produtividade Os beneficiados de um mercado abrangente de trabalho com certeza eram a grande maioria do povo. O povo vivia de maneira próspera, e tinha condição de ter uma vida digna sem que esta prosperidade fosse confundida com acúmulo de riqueza. A pobreza, fome e a miséria são resultados do século vinte, quando os mecanismos de mercado dominante, modificaram as culturas de cada país e criaram a dominação da mão-deobra. Desta forma o resultado do trabalho de milhares de pessoas se tornou lucro para poucas pessoas e o trabalhador deveria se contentar com um ordenado pequeno, que muitas vezes não sustenta a sua família. No modelo de trabalho original quem se beneficiava com a produtividade era o próprio trabalhador, mas no modelo atual quem se beneficia com produtividade do trabalhador é o empresário. Por exemplo, uma família produzia queijo para seu bairro, quando se aproximavam as festas esta família trabalhava e produzia mais queijo. E em compensação ganhava mais, isso gerava um certo conforto para família. E até esta família investia mais na sua pequena fábrica. Entretanto, no sistema atual, um trabalhador mesmo trabalhando muito numa fábrica ganha apenas algumas horas extras além de seu pequeno salário, por isso a sua vida nunca se aproxima da prosperidade. 28 Capítulo II Trabalho e o Desenvolvimento Humano “O papel mais importante que os esforços econômicos devem desempenhar no desenvolvimento, consiste em proporcionar aos povos e às instituições meios através dos quis possam alcançar o real propósito do desenvolvimento: lançar os alicerces para uma nova ordem social capaz de cultivar as potencialidades latentes na consciência humana.” (UNIVERSAL HOUSE OF JUSTICE,1995) 2.1– Conceito Atual de Produtividade Como foi apresentado, o conceito original de trabalho consistia na prática de atividades que aperfeiçoassem as habilidades humanas e conseqüentemente produzissem as coisas que atendiam às suas necessidades. Entretanto, este conceito pouco a pouco tem sido mudado. Por exemplo, no modelo atualmente estabelecido, as empresas fabricam até produtos fantasiosos, para que um grande número de pessoas compre, meramente com objetivo de obter lucro. O que se observa é que muitos destes produtos não têm utilidade importante, ou até podem ser prejudiciais, a exemplo de certos produtos alimentícios. Os fabricantes tentam vender tais produtos através da força de propaganda. E então contratam pessoas para o planejamento destas organizações ou para operacionalização dos produtos. Enfim, o mecanismo de trabalho tem como eixo principal, objetivos que estão longe do conceito original de trabalho. A produtividade se tornou algo mais importante do que todos os outros parâmetros que o conceito de trabalho englobava. Isto é, todo o mecanismo de desenvolvimento de recursos humanos se concentrou numa preocupação: “o aumento da produtividade”. Desta forma muitos trabalhos científicos foram produzidos, justamente visando os meios que proporcionem o aumento da produtividade. HERSEY e 29 BLANCHARD(1986, p. 240) colocam o seguinte em relação ao comportamento dos gerentes: “Na verdade, os gerentes deveriam ser recompensados por ajudar seu pessoal a desenvolver-se e tornar-se capaz de assumir responsabilidades cada vez maiores. Assim, por exemplo, em algumas companhias mais avançadas em que trabalhamos conseguimos introduzir uma nova política, que diz basicamente o seguinte: nesta organização nenhum gerente será promovido se não tiver cumprido pelo menos duas exigências. Primeiro, deve ter apresentado um bom trabalho, conseguindo bons resultados econômicos (produtividade); em segundo lugar, deve ter um substituto preparado que possa assumir seu cargo de um dia para outro.” Isso quer dizer que os gerentes devem trabalhar com alta probabilidade de sucesso, deverão conseguir bons resultados de produtividade, e ainda garantir a estabilidade da empresa. Isto é, no caso de qualquer eventualidade alguém poderá assumir seu cargo. Mas em contrapartida, a empresa não está garantindo a estabilidade de ninguém, nem dos operários nem dos gerentes. Pode-se imaginar como seriam os ambientes de trabalho com estes parâmetros estabelecidos. Os subordinados devem se sentir sempre ameaçados. Eles devem trabalhar e fornecer de si um desempenho perfeito e excelente, devem gerar para empresa riqueza e lucros. Mas sem que esta dedicação proporcione estabilidade e tranqüilidade para os mesmos. Por conseguinte, este modelo de trabalho não é justo. De um lado um grupo deve trabalhar de forma a dar toda sua capacidade, e sofrer pressão e medo. De outro lado o empresário através deste mecanismo obtém lucro e benefícios diversos. Portanto, o desenvolvimento das potencialidades dos indivíduos neste ambiente de medo e preocupação seria improvável. Assim aborda Medicina Básica do Trabalho, de VIEIRA (1995, p. 442): “Quando o medo atinge um nível muito alto e perdura por tempo prolongado, sem que o trabalhador consiga detectar sua 30 fonte, ocorre uma evolução no sistema e há um envolvimento maior onde o organismo, como um todo, reage, manifestando um quadro de angústia, extrema, irritabilidade e depressão. A tensão interna aumenta tanto que o indivíduo necessita manifestar seu descontentamento e descompasso.” 2.2- As Abordagens dos Atuais Avaliadores da Questão de Trabalho Na verdade, o problema mais grave do modelo atual de trabalho é a falta de conceitos que determine os objetivos do trabalho como nas eras passadas. Isto é, no decorrer do tempo e no fervor da busca de lucro foi perdido algo muito valioso que era o nobre objetivo do trabalho. Devido à perda desse conceito, as tentativas de resolver os problemas, de modo geral, não ajudaram muito na melhoria do processo desgastante do trabalho. Existem inúmeros estudos que analisam as questões do ambiente de trabalho e oferecem sugestões para novos métodos que possam superar as dificuldades que atualmente surgiram em muitas empresas. Na verdade, o que está acontecendo nestas abordagens é que, a princípio solucionam problemas isolados dos funcionários, e não detectam as raízes dos mesmos. Nesse contexto surgiram muitos livros sobre “motivação”, “participação nas decisões”, “enriquecimento das tarefas”, “motivação para competição”, “medicina de trabalho”, “reengenharia”, “valorização do ambiente de trabalho” e outros assuntos parecidos. Mas geralmente essas abordagens não conseguem livrar os funcionários dos seus problemas, porque eles analisam os problemas isoladamente e na maioria das vezes visando o interesse dos próprios empresários. Por isso, quando os especialistas detectam falhas nas estruturas da organização de trabalho, não sabem como eliminá-las, uma vez que elas se relacionam com toda a conjuntura de trabalho, e acabam não dando a devida importância ao fato. Por exemplo, MCGREGOR (1992, p. 53) coloca que: 31 “Nas condições da vida industrial moderna, as potencialidades intelectuais do ser humano comum estão sendo parcialmente usadas". Lembrando que uma das ferramentas para o desenvolvimento humano é o trabalho, Mcgregor identifica que as empresas não proporcionam oportunidades para que o trabalhador possa desenvolver as suas potencialidades. Infelizmente, este fato, mesmo detectado, não chama muita a atenção dos empresários, embora seja um fato que prejudica o trabalhador. Na questão do comportamento humano no trabalho, DAVIS e NEWSTROM(1991, p. 9) colocam que: “Todavia as organizações devem ter pessoas, e pessoas trabalham no sentido dos objetivos que a organização deve ter; dessa forma é desejável tratar os dois como uma unidade integrada, assim como o comportamento organizacional o faz". Para isso, eles apresentam seis conceitos fundamentais de comportamento organizacional que em conjunto oferecem uma visão holística e abrangente sobre o assunto. Os quatros primeiros são relacionados à natureza das pessoas: “diferenças individuais, a pessoa como um todo, o comportamento motivado, e o valor da pessoa”, e dois últimos relacionados à natureza da organização: "sistemas sociais e o interesse mútuo". Quando o autor fala do ‘valor da pessoa' não insiste na apresentação de alternativas de mudança. Apesar da riqueza e importância da análise, não traz soluções para melhorar a questão do ‘valor da pessoa’ que é algo esquecido, especialmente quando um operário deve agir como uma máquina. Também, fala de “Interesse Mútuo”, e considera que as organizações precisam de trabalhadores e os trabalhadores precisam das organizações. Seria muito bom se existisse um interesse mútuo entre patrão e o trabalhador além da questão financeira. Mas de fato, as empresas oferecem trabalho, e as pessoas devido às 32 suas necessidades primárias de sobrevivência aceitam. A pergunta é a seguinte: quais as necessidades de um empregado são atendidas através do seu trabalho? Capítulo III Qualidade de Vida no Trabalho O que chama a atenção é que qualquer uma das estratégias adotadas por organizadores das empresas, para motivação dos funcionários, não persiste e, assim não conduz a um resultado mais duradouro. Desta forma, a satisfação íntima do empregado não proporciona uma produtividade maior, sem desgaste e sem cansaço. Na verdade, nas últimas décadas, os gerentes se perguntam por que suas políticas salariais e de benefícios não aumentam a motivação dos seus empregados. Por isso, a teoria de Herzberg tentou ajudar a responder às suas perguntas. Mesmo assim, o modelo reduz, de forma aguda, o impacto motivacional aparente do salário, status e relacionamento com as pessoas, uma vez que esses sejam identificados como fatores de manutenção. De qualquer forma o modelo fornece uma distinção útil entre os fatores de manutenção que são necessários, mas não suficientes, e os fatores de motivação que têm o potencial de aumentar o esforço do empregado. De acordo com o trabalho de Herzberg, a motivação é uma injeção que deve surgir do dirigente da organização para indivíduo. Isto é, os dirigentes devem estar atentos em todas as variáveis possíveis, e manter todos os parâmetros em melhor condição para que o funcionário não perca o seu ânimo. A maior dificuldade com os modelos de motivação reside no fato de que as necessidades das pessoas não podem ser diretamente observadas pelos administradores. DAVIS e NEWSTROM (1989, p.58) afirmam que: “É difícil, por exemplo, medir as necessidades de estima do empregado ou saber como elas mudam com o passar do tempo. Ainda mais, simplesmente conhecer as necessidades do empregado não indica de forma direta aos administradores aquilo que deveriam fazer com essas informações.” 33 Esta análise mostra que os modelos indicados não conseguem criar um ambiente de trabalho de satisfação e de constante evolução. De acordo com BERGAMINI (1982, p. 110), a motivação humana, como fenômeno psicológico, caracteriza-se por um conjunto de fatores dinâmicos existentes na personalidade, que determina a conduta de cada um. Tais fatores dinâmicos, ao entrarem em ação, envolvem a personalidade como um todo. Ou seja, acionam a inteligência, as emoções, os instintos, as experiências passadas, os dados já incorporados ao psiquismo e os determinantes morfológicos e fisiológicos de conduta. Assim, no fenômeno da motivação, o indivíduo recorre aos três níveis topográficos de sua personalidade: o consciente, o pré-consciente e o inconsciente. Ainda, para o autor, a motivação sempre foi e continuará sendo sintoma de vida psíquica que se move em busca de algo, e isto é inerente ao ser humano. Bergamini ressalta que não se consegue motivar quem quer que seja. As pessoas podem até ser condicionadas. No entanto, a motivação é algo que nasce no interior de cada um. O que se pode fazer para que as pessoas permaneçam motivadas, é conhecer suas necessidades e oferecer fatores de satisfação para as mesmas. Não conhecendo estas, poderá levar a uma situação oposta, ou seja, à desmotivação das pessoas. Neste caso, são já esperados problemas como aumento dos índices de fadiga, stress, acidentes, absenteísmo, etc. Assim, para que se possa chegar a um bom termo, com relação à motivação dentro das organizações, há que se estar atento ao seu diagnóstico e a seu planejamento. Precisam ser apontadas as medidas que possam ir ao encontro das necessidades de quem trabalha, tanto as que se referem às aspirações psicológicas, quanto as que contemplam os aspectos físicos. O trabalhador, ao realizar sua tarefa, é motivado pelo conteúdo significativo da mesma. Maior será sua auto-estima e menor seu desgaste físico e emocional, na proporção em que a satisfação e a intensidade social do trabalho assumam uma integração. VIEIRA (1994, p. 434) coloca o seguinte: “Traçando um paralelo entre o trabalho artesanal e o trabalho taylorizado, podemos observar que a principal fonte de sofrimento do trabalhador é a sua impossibilidade de participar da organização do próprio trabalho. O operário da linha de produção realiza uma tarefa monótona e repetitiva, 34 sentindo-se desqualificado, sem oportunidade de desenvolver sua criatividade, sua potencialidade, sem condição de alterar a organização e sua estrutura. Sente-se indigno, inútil, envergonhado, por ter que fazer um trabalho tão elementar que pode ser feito por uma máquina, vendo-se robotizado, como sendo uma peça substituível no conjunto.“ Pode-se concluir, então, que a compreensão mais realista daquilo que foi conceituado como motivação só é conseguida à medida que seja levada em conta a dimensão intrínseca das necessidades humanas. Para isso é preciso conhecer a realidade humana, fora do contexto das características animais. As teorias sobre satisfação que não se aprofundam nestas questões o conhecimento das qualidades que distinguem o ser humano dos animais . ofereceram apenas uma idéia distorcida e superficial das necessidades humanas, e não se sustentam por muito tempo. São os mesmos que causaram problemas graves ao longo do tempo. "Todo homem busca uma meta: sucesso ou felicidade. O único caminho para se alcançar o verdadeiro sucesso é colocar a si próprio completamente a serviço da sociedade. Primeiro, ter um ideal definido, claro e prático, uma meta, um objetivo. Segundo, ter os meios necessários para alcançar seus propósitos, sabedoria, dinheiro, materiais e métodos. Terceiro, ajustar seus meios a seus propósitos". (Aristóteles) A qualidade de vida no trabalho tem sido uma preocupação do homem desde o início de sua existência. Com outros títulos, em outros contextos, mas sempre voltada para satisfação e bem-estar ao trabalhador na execução de sua tarefa. Não podemos desprezar, por exemplo, os ensinamentos de Euclides da Alexandria sobre princípios da geometria (300 a.C.), e que foram aplicados para melhorar o método de trabalho dos agricultores à margem do Nilo, ou a "Lei das Alavancas", de Arquimedes, que, em 287 a.C., veio diminuir o esforço físico de muitos trabalhadores. Estes são alguns fatos 35 históricos que vieram alterar a forma de execução da tarefa, trazendo intrinsecamente uma melhoria nas condições de trabalho e bem-estar do trabalhador. Como estes, seria possível identificar centenas de outros exemplos. Mas o importante é explicitar que já nas primeiras civilizações as preocupações com a forma de execução das tarefas existiam e que vários foram os métodos ou teorias que, aplicados, minimizariam o malestar ou esforço físico do trabalhador. 3.1- Teoria Comportamental da Administração Surgiu para dar uma nova direção e um novo enfoque dentro da teoria administrativa: a abordagem da ciência do comportamento, estudando a motivação humana (suas necessidades), definindo estilos de administração, caracterizando as organizações como sistemas sociais cooperativos e como sistemas de decisões. O administrador precisa conhecer as necessidades humanas para compreender o comportamento humano e utilizar a motivação humana como poderoso meio para melhorar a qualidade de vida nas organizações. As teorias da motivação tratam das forças propulsoras do indivíduo para o trabalho e estão normalmente associadas à produtividade e ao desempenho, despertando o interesse dos dirigentes. Pode-se separar as teorias em grande correntes, que se diferenciam quanto à visão do que seria a força propulsora para o trabalho. Essas correntes seriam: os etologistas, que sugerem ser a conduta instintiva de cada espécie de animal e a busca por adaptação ao meio a maior motivação para a ação, inclusive dos homens;os behavioristas, os quais acreditam que a força propulsora são estímulos externos através do processo de aprendizagem; os cognitivistas, que acreditam que a motivação depende da representação que os indivíduos possuem do meio, que inclui um conjunto complexo de fatores como percepção, pensamento, valores, expectativas e aprendizagem; a psicanálise, que enfatiza as motivações inconscientes derivadas de pulsões biológicas e experiências passadas, principalmente durante a infância, e um grupo de teóricos que procuram compreender o ser humano na sua vivência concreta. 36 3.2- Teoria Behaviorista Para RODRIGUES (1994), tanto os behavioristas quanto os cognitivistas desenvolveram uma teoria na qual a motivação fundamenta-se no princípio do hedonismo, o qual afirma que os indivíduos buscam o prazer e afastam-se do sofrimento, acreditam que as pessoas se comportam de forma a maximizar certos tipos de resultados de suas ações, ou seja, dão ênfase à aprendizagem. Sua abordagem é histórica porque aquilo que motiva o comportamento são as conseqüências dos efeitos produzidos pelo comportamento passado dos indivíduos. O pressuposto fundamental dos behavioristas, que os diferencia dos cognitivistas, é que a força condutora do comportamento motivado está fora da pessoa, nasce de fatores extrínsecos que são soberanos à sua vontade. Dessa forma existe uma ligação necessária entre o externo e a resposta comportamental. Trata-se de uma acomodação do organismo vivo às modificações operadas pelo ambiente. Para NOVAES (1999), essa teoria pode representar um perigo, ao chegar indevidamente à percepção de que o homem está verdadeiramente motivado, quando na verdade está apenas alterando seu comportamento, reagindo ao meio exterior e se movimentando. Assim, a crença de que se pode dirigir o comportamento das pessoas a partir de uma programação controlada independe de suas vontades, ameaça o sentido da identidade pessoal definido ao longo de toda a vida. 3.3- Cognitivistas e a Motivação Segundo MOTTA(1986), ao contrário dos behavioristas, os cognitivistas acreditam que os indivíduos possuem valores, opiniões e expectativas em relação ao mundo que os cerca e que assim também são direcionados em seus comportamentos, só que desta vez baseados nas representações internas. Isto é, os indivíduos possuem representações internalizadas do seu ambiente, que envolvem os processos de percepção, pensamento e aprendizagem. De acordo com essas representações, os indivíduos formam objetivos e lutam para atingi-los. Conforme indica AGUIAR(1992), em oposição aos behavioristas, 37 que acreditavam que é possível e necessário aprender a motivar os outros, os cognitivistas acreditam que ninguém jamais motiva quem quer que seja, uma vez que as ações humanas são espontâneas e gratuitas, tendo como origem suas impulsões interiores. 3.4- Teoria Psicanalítica A administração busca em Freud contribuições para a teoria das motivações, uma vez que se baseia de uma forma dinâmica em forças internas que direcionam o comportamento. Essas forças seriam os instintos que fornecem uma fonte fixa e contínua de estímulos, sendo algumas vezes conscientes e outras inconscientes. As pessoas em alguns momentos estão conscientes das motivações de suas ações, só que muitas vezes são comandadas pela necessidade da liberação e satisfação de seus instintos. Segundo AGUIAR(1992), a principal contribuição dessa teoria está na ênfase que Freud dá à dependência que o comportamento adulto mantém em relação às experiências da infância. A principal contribuição de Freud encontra-se no fato de considerar o homem prisioneiro de sua hereditariedade, de seu passado e de seu meio. 3.5- Teoria de Herzberg Divide as necessidades como sendo de satisfação no trabalho e de motivação. A satisfação no trabalho está relacionada com as condições em que o trabalho é realizado, supervisão, relações interpessoais, condições físicas, salários, benefícios etc. Essas condições podem ser chamadas de fatores higiênicos, pois são relacionadas com a necessidade de se afastarem de condições desagradáveis. Já as necessidades e motivação no trabalho estão diretamente relacionadas com a tarefa e o trabalho e tratam das necessidades de desenvolvimento do potencial humano e da realização de aspirações 38 individuais, liberdade, criatividade e inovação. AGUIAR(1992) chega à conclusão de que Herzberg transforma o indivíduo num meio para se atingir os fins da organização. Segundo HERZBERG, o enriquecimento de tarefas traz efeitos altamente desejáveis, como o aumento da motivação, aumento de produtividade, redução de absenteísmo (falta e atrasos ao serviço) e redução da rotatividade de pessoal. 3.6- Teoria de Maslow As Necessidades Humanas: MASLOW(1954), desenvolveu um esquema para explicar a intensidade de certas necessidades. DAVIS e NEWSTROM(1991, p. 51) mostram o modelo da hierarquia das necessidades de MASLOW, que propõe o seguinte: 1º- Necessidade físicas básicas 2º- Proteção e segurança 3º- Pertencer ao grupo e necessidade sociais 4º-Auto-estima e reconhecimento 5º-Auto-realização e satisfação Depois se dividem em dois níveis; os dois primeiros, como Nível Baixo e os restantes como Nível Alto. Ele coloca que as pessoas precisam trabalhar para satisfazer suas necessidades fisiológicas, mas tão logo que estas necessidades estejam dentro de algum grau de satisfação, irão querer satisfazer outras necessidades. O próximo nível que tende a dominar é o do bem-estar e segurança. As coisas se passam mais ou menos da maneira como se segue. Tendo satisfeito hoje suas necessidades físicas básicas, as pessoas querem alguma garantia de que estas necessidades também serão satisfeitas amanhã e assim por diante. Querem segurança econômica, tanta quanto física. A segurança essencialmente garante que as necessidades primárias sejam satisfeitas 39 amanhã e sempre que for preciso no futuro. Na verdade, as necessidades do segundo nível se acham relacionadas com aquelas do primeiro nível. De acordo com Maslow, existem três níveis de necessidade de alto nível. As necessidades de terceiro nível dizem respeito ao amor, à participação e envolvimento social. Uma vez que as pessoas passam uma grande parte de suas horas do dia no trabalho e no ambiente social, algumas das suas necessidades sociais podem estar atendidas em tais circunstâncias. As necessidades de quarto nível incluem aquelas que abrangem a auto-estima e o reconhecimento do valor pessoal. Os empregados têm necessidades de sentir que tem valor e acreditar que os outros pensem que eles valem alguma coisa (o que lhes dá status). As necessidades de quinto nível são constituídas pela auto-realização, o que significa vir a ser tudo aquilo de que a possas é capaz, servindo-se das próprias habilidades com plenitude e ampliando talentos ao máximo possível. A hierarquia de necessidades de Maslow teve um forte impacto na administração contemporânea e oferece algumas idéias úteis para ajudar os administradores a pensar a respeito da motivação dos seus empregados. Eles estão mais aptos a identificar as necessidades dos empregados, reconhecendo que eles podem ser diferentes de uma pessoa para outra, oferecendo satisfação para as necessidades particulares, bem como, reconhecer que dando maior qualidade, isto pode diminuir o impacto sobre a motivação. Realmente, essas são contribuições muito significativas. Apesar desses benefícios, segundo DAVIS e NEWSTROM(1991, p. 53), o modelo de Maslow tem muitas limitações, e por isso foi seriamente criticado. Como um esquema filosófico, tem sido difícil estudá-lo e não tem sido confirmado inteiramente. As pesquisas não confirmam a presença de todos os cincos níveis como sendo verdadeiros, nem tampouco a progressão do nível mais baixo para o nível mais alto tem sido comprovada. CHIAVENATO(1993, p. 542) formulou a chamada teoria dos fatores para melhor explicar o comportamento das pessoas em situação de trabalho. Ele escreve sobre “O Modelo dos Dois Fatores de Herzberg”. Para Herzberg existem dois fatores que orientam o comportamento das pessoas. Ele desfaz a visão tradicional, afirmando que certos fatores de trabalho têm o poder principal de insatisfação dos empregados, quando certas condições se acham ausentes. Todavia, a sua presença geralmente traz aos empregados somente um sentimento neutro. Esses fatores não podem ser considerados 40 como fortemente motivadores. Esses fatores poderosos em criar insatisfação são chamados fatores de higiene, ou fatores de manutenção, porque eles são necessários para manter um razoável nível de motivação entre os empregados. Fatores higiênicos, pois são essencialmente profiláticos e preventivos: eles apenas evitam a insatisfação, mas não provocam a satisfação. Seu efeito é similar ao de certos remédios higiênicos: evitam a infecção ou combatem a dor de cabeça, mas não melhoram a saúde. Pelo fato de estarem mais relacionados com a insatisfação, Herzberg também os chama de fatores insatisfacientes. Fatores motivacionais ou fatores intrínsecos, pois estão relacionados com o conteúdo do cargo e com a natureza das tarefas que o indivíduo executa. Assim sendo, os fatores motivacionais estão sob o controle do indivíduo, pois estão relacionados com aquilo que faz e desempenha. Os fatores motivacionais envolvem os sentimentos de crescimento individual, de reconhecimento profissional e as necessidades de auto-realização, e dependem das tarefas que o indivíduo realiza no seu trabalho. Segundo o Herzberg o enriquecimento de tarefas traz efeitos altamente desejáveis, como aumento da motivação, aumento da produtividade, redução do absenteísmo e da rotatividade. Contudo, alguns críticos desse sistema apontam uma série de efeitos indesejáveis, com o aumento da ansiedade pelo constante defrontamento com tarefas novas e diferentes, principalmente quando não são bem sucedidas nas primeiras experiências. DAVIS E NEWSTROM(1991, p. 55) colocam que, há um aumento do conflito entre as expectativas pessoais e os resultados de seu trabalho nas novas tarefas enriquecidas e sentimentos de exploração quando a empresa não acompanha o enriquecimento de tarefas com o enriquecimento da remuneração. 3.7- Psicologia Social O desenvolvimento tecnológico, associado com a globalização da economia, tem sido um fator de grande relevância na economia das nações. A partir do modelo de gestão conhecido por Qualidade Total, tornou-se paradigma internacional da administração, implicando a disseminação de seus pressupostos em várias organizações 41 em todo o mundo. Somente quando um nível inferior de necessidades está satisfeito ou adequadamente atendido é que o nível imediatamente mais elevado surge no comportamento. Contudo, quando a necessidade de nível mais baixo deixa de ser satisfeita, ela volta a predominar no comportamento, enquanto gerar tensão no organismo. Cada pessoa possui sempre mais de uma motivação. Toda necessidade está intimamente ligada com o estado de satisfação ou insatisfação de outras necessidades. Seu efeito sobre o organismo é sempre global e nunca isolado. Qualquer comportamento motivado é um canal pelo qual muitas necessidades fundamentais podem ser expressas ou satisfeitas conjuntamente. Qualquer frustração ou possibilidade de frustração de certas necessidades passa a ser considerada ameaça psicológica. Essa ameaça é que produz as reações gerais de emergência no comportamento humano. De acordo com SAMPAIO(1999), esse modelo sustenta-se por uma tríade, qualidade do produto ou serviço, produtividade e competitividade. Como se trata de uma orientação em grandes linhas, não é incomum que as recomendações sejam interpretadas de forma tendenciosa, em função daquilo que é interesse da direção das organizações, substituindo, por exemplo, a preocupação com o bem-estar do funcionário por simplesmente o bem fazer do trabalhador, Assim, questões como a insegurança quanto à empregabilidade, o temor ao erro e a obediência e fidelidade aos padrões estabelecidos em esferas superiores da organização à revelia do contingente operário podem não ser consideradas, como observa MACHADO(1993): "Apesar deste forte apelo de mútuo compromisso, verifica-se, contudo, a tentativa de desideoligizar a noção de qualidade, sobre a qual não se emite nenhum julgamento de valor, pois esse conceito deve resumir-se no aperfeiçoamento de métodos de gerenciamento de qualidade, já que o que interessa é a satisfação do cliente". Ou utilizando os princípios para manipular a cognição do trabalhador, como acusa CARMO(1992, p.61): 42 “a empresa, fazendo crer que seus interesses são coincidentes com os dos empregados, gera nestes o sentimento de participar dos objetivos da companhia, a qual, por sua vez, deve merecer seus esforços, contribuindo, assim, para o seu sucesso econômico... numa sutil estratégia para envolver os empregados numa ideologia manipulatória, levando-os a acreditar que, de fato, estão fazendo algo que vem ao encontro de sua vontade”. Diante disso, não se trata de questionar o modelo da qualidade total, mas a forma como tem sido interpretado e implementado e os impactos dessa implementação sobre os indivíduos; em síntese, rever a pedagogia utilizada pelas organizações para envolvimento do indivíduo no modelo de gestão e o impacto dessa pedagogia sobre a saúde mental do trabalhador. O processo de introdução de um novo modelo de gestão é geralmente seguido de ações que visam à sua sustentação. No Brasil, pode-se observar, a partir de uma perspectiva histórica, o desenvolvimento das unidades de treinamento. Até a década de 50, a preparação do indivíduo para o trabalho dava-se predominantemente na própria empresa, com os próprios colegas mais experientes, mas desde a década de 30 as idéias do taylorismo já estavam presentes em instituições criadas para adequação à administração científica, de acordo com BRUNO(1986). Hoje, o trabalhador passa a lidar com a pressão do controle da performance do seu colega e do seu trabalho, compartilhar seu conhecimento com a equipe, tomar decisões sobre o processo, conviver com a possibilidade de sua função tornar-se desnecessária ao processo de produção e responsabilizar-se pelos resultados, sem, contudo, poder almejar o crescimento na hierarquia, uma vez que a redução do quadro funcional se faz tanto no sentido horizontal (redução dos níveis decisórios) como vertical (multifuncionalidade). O cargo passa a ter um sentido de permanência maior e a sua satisfação com a função torna-se alternativa para suportar a lida diária. Isso não significa ausência de conflitos, mas altera significativamente a forma como o trabalhador passa a lidar com eles. Para BACCARO(1986, p.67), seria ingenuidade analítica abandonar pessoas nas organizações à sua própria sorte. O autor, então, aponta vários métodos de influências 43 sobre o trabalhador com diferentes graus de motivação: método da força, da pressão sobre trabalhadores, atuando na redução da satisfação das suas necessidades; . método da barganha, através da negociação, em que a necessidade e objetivos de empregados e a alta administração serão satisfeitas a partir de concessões mútuas;. método da integração, em que os conflitos deveriam ser resolvidos a partir de uma terceira alternativa de solução, fruto de uma ação integrada entre alta administração e empregados, numa aliança entre as partes. Para SAMPAIO(1999), os modelos de gestão constituem uma idealização atrelada a necessidades do sistema vigente numa sociedade. A globalização impõe valores comuns aos diversos países industrializados ou em processo de industrialização associados à competitividade e que se sobrepõem a questões sociais. Tendo uma doutrina, conceitos e orientações de cunho ideológico e uma metodologia, esses modelos ganham adaptações para o ajuste de sua implantação, uma vez que não existe uma equalização dos contextos. Entretanto, essas adaptações são efetuadas pelos seus gestores, que raramente incluem elementos da classe operária e freqüentemente estão comprometidos com as questões capitalistas (competitividade, produtividade, lucratividade, etc.), enquanto fatores como qualidade de vida, empregabilidade, participação e outros que visam à socialização de meios e processos são relegados a um plano inferior e às vezes nem mesmo são considerados. Diante da complexidade do contexto em análise e das injunções psicossociais a ele inerentes, não se trata de apenas combater a realidade atual ou as tendências que se impõem. Antes, faz-se necessário sustentá-la em novos parâmetros, adotando medidas que valorizem e estimulem pesquisas e conquistas no campo social que acompanham as mudanças. Uma vez que as consideramos irreversíveis, não há porque considerá-las implacáveis quanto a seus efeitos sobre o ser humano. Daí a importância de investir na formação de cientistas e profissionais no campo da educação tecnológica e na dimensão psicossocial que integra, visando caminhar passo a passo com o desenvolvimento da tecnologia para sustentação e condução de novos sistemas de trabalho. 44 3.8- Saúde do Trabalhador Programas de promoção de saúde e qualidade de vida vêm sendo cada vez mais adotados pelas organizações, mobilizando os profissionais de recursos humanos a tornar o ambiente de trabalho mais produtivo e saudável. Num ambiente atual de alta competição, dirigentes das empresas preocupam-se cada vez mais com os maus hábitos de alguns profissionais, tais como fumo, álcool, dietas inadequadas, entre outros. Na hora de contratação de um funcionário, aspectos ligados à qualidade de vida estão sendo cada vez mais considerados. Um número cada vez maior de companhias demonstra sua preocupação quanto ao comportamento e aos hábitos de saúde do profissional a ser contratado. A maioria das empresas adota política explícitas contra o tabagismo e outras drogas, dizendo claramente às pessoas o quanto são rígidas com relação a esse comportamento. Além disso, dão ênfase especial aos seus programas de qualidade de vida. Em uma entrevista, Robert Karch afirma que muitas pessoas hoje, principalmente aquelas que trabalham nas áreas de tecnologia da informação, estão envolvidas por um mundo que se transforma muito rapidamente. Há profissionais muito jovens fazendo fortunas de forma veloz. Mas o desgaste é grande. Por isso, hoje, mais do que nunca, as pessoas estão começando a entender que, como indivíduos, temos a capacidade de trabalhar para sustentar nossas famílias e nós mesmos. E nossa capacidade de trabalho é medida por nosso estado de saúde. Se olharmos essa questão da perspectiva profissional, veremos que é possível trabalhar por muitos e muitos anos. Quanto mais saudável e em boa forma estivermos, mais chance teremos de aumentar nossa idade produtiva e desenvolver uma carreira profissional melhor. Segundo LAURELL(1985), as condições de trabalho e suas patologias estão estreitamente relacionadas à organização do trabalho e ambas dependem das relações de trabalho vigentes naquele espaço social definido, refletindo valores e regras da sociedade. A ergonomia procura conhecer o trabalho concreto e sua adequação ao homem no que se refere a saúde e desempenho. Pode-se defini-la como: 45 "conjunto de estudos que visam à organização metódica do trabalho em função do fim proposto e das relações entre o homem e a máquina". (AURÉLIO, 1986). Numa definição mais operacional, o ergonomista analisa a atividade real desenvolvida, ou seja, o que se faz, para que se faz e como se faz. A partir dessa análise, descobre pontos críticos, inadequações e propõe modificações na situação de trabalho. FERREIRA(1994) classificam os problemas mais comumente encontrados em: problemas posturais e de movimentações; problemas relacionados ao custo energético do trabalho; problemas biomecânicos (forças musculares exigidas); problemas decorrentes de condições ambientais; problemas relacionados às novas tecnologias e exigências mentais elevadas; problemas relacionados a aspectos mentais, não cognitivos. saúde na coletividade. A partir da reunião dos dados sobre o processo de saúde-doença das coletividades humanas e da análise comparativa das evidências, são elaboradas as conclusões. Primeiro ao objeto de estudo que são os grupos e não somente os indivíduos. Segundo, os elementos eleitos para as comparações devem ser capazes de permitir estabelecer conexões entre aspectos da vida social e problemas de saúde da população. A epidemiologia estuda a distribuição e os determinantes dos problemas de Observam-se neste campo de estudos algumas preocupações importantes. A população humana, porém, é heterogênea, tendo diferenciações quanto a aspectos físicos, culturais, sociais, econômicos, entre outros. O somatório "coletividade" difere das partes que o compõem. Torna-se necessário, então, categorizar os aspectos a serem comparados e analisados. Especificamente em relação a condições de trabalho, uma categorização que sobressai refere-se à carga de trabalho, desenvolvida nas pesquisas realizadas por LAURELL (1985). As cargas psíquicas podem ser reunidas em dois grupos. Ao primeiro deles correspondem aquelas que abarcam tudo que provoca uma sobrecarga psíquica, ou seja, situações de tensão prolongada; ao segundo, as que se referem à subcarga, ou seja, à impossibilidade de desenvolver e fazer uso da capacidade psíquica. Entre as principais destacam-se: atenção constante requerida, supervisão constante requerida, supervisão 46 compressão por produtividade e consciência de periculosidade. Ressalta ainda que as "cargas psíquicas são essencialmente produzidas, não podendo ser entendidas como riscos isolados, ou abstraídas das condições que as geram". São expressões particulares da forma específica de produzir, características das bases técnicas, dos instrumentos utilizados, mas também da organização e divisão do trabalho. Considera-se carga de trabalho "atributo de um processo de trabalho determinado, cuja presença no ambiente de trabalho pode aumentar a probabilidade e um grupo de trabalhadores ‘expostos’ experimenta uma deterioração psicobiológica, comparada com aqueles que não estiveram expostos ou que tiveram uma exposição diferenciam a tal atributo". (FACCHINI, 1994). Empregados constituem uma das principais bases parar a preservação da força de trabalho adequada. CHIAVENATO (1995) situa as condições de trabalho no subsistema de manutenção de recursos humanos. Para este autor, práticas administrativas, tais como o higiene do trabalho ou higiene industrial, "têm caráter eminentemente preventivo, pois objetivam a saúde e o conforto do trabalhador evitando que adoeça ou se ausente provisoriamente ou definitivamente do trabalho". Frederick Winslow Taylor analisou a realização do trabalho e propôs alterações no processo administrativo. Não considerou, porém, as condições de trabalho. Em seu Princípios da Administração Científica, publicado em 1911, exclui os fatores fisiológicos e psicológicos humanos referentes à vida social e desconsidera o acúmulo de fadiga e a própria fadiga nervosa. Somente considerou a fadiga muscular. Numa abordagem tradicional da administração, a saúde e a segurança dos Historicamente, destacam-se o Taylorismo/Fordismo e os estudos da Escola Elton Mayo, utilizando técnicas psicológicas, conseguiu uma ‘motivação’ maior no trabalho e conseqüente aumento de desempenho. Embora acentuasse aspectos físicos do ambiente de trabalho e aspectos subjetivos dos empregados, fazia-o em função do aumento de produtividade. Segundo SELIGMANN SILVA (1994), enquanto o Taylorismo traça o caminho da disciplinação planejada, a psicossociologia, que se apóia nas idéias de Mayo e de seus seguidores, procura garantir a suavização e a disssimulação das coerções embutidas nas formas de gerenciar e estruturar a organização do trabalho tanto em suas estruturas hierárquicas quanto nas estruturas de tempo, nas divisões das tarefas e nos critérios de promoção. Desse modo, a penosidade de certos tipos de trabalho pode ser atenuada e torna suportável, pelo menos de modo a garantir o rendimento máximo de um 47 determinado número de assalariados, dentro do planejamento estabelecido pela empresa para determinados prazos. Historicamente a administração mediou as relações empregados/empregador e propôs alterações nas condições de trabalho, visando aumentos de produtividade. Entretanto, outros enfoques de análise têm sobressaído. Capítulo IV Determinantes da Qualidade de Vida no Trabalho "A vida é aquilo que acontece enquanto fazemos planos". (Jonhn Lennon) Para SACHS(1986) as pessoas que valem a pena vão atrás de seus sonhos e aprendem a arriscar. Não deixam que o medo domine sua força interior e sua capacidade de transformação. Aceitam o jogo da vida, encaram os desafios. Principalmente sabem que a vida só tem sentido porque se sentem capazes de transformar não apenas a si mesmas mas também aqueles que amam. BOM SUCESSO(1998:29) afirma que a escolha da profissão, as características da cultura organizacional configurada pelos valores e práticas predominantes na empresa, a infraestrutura familiar constituem fatores para qualidade de vida no trabalho. Além disso, as relações interpessoais, os conflitos e em especial a maneira como a pessoa se relaciona na equipe afetam a satisfação no trabalho, a autoestima e a forma como se sente em relação a si mesma. A história de vida e os fatores relativos às variáveis organizacionais resultam atitudes dificultadoras e facilitadoras nas relações de trabalho, intensificando a preocupação e a responsabilidade pela promoção da qualidade de vida. Qualidade de vida trata da experiência emocional da pessoa com seu trabalho, no momento em que tantas mudanças sociais e tecnológicas se instalam de forma intensa e acelerada. Aborda o efeitos desta realidade no bem-estar da pessoa do ponto de vista emocional e profissional, enfocando as conseqüências do trabalho sobre a pessoa e seus efeitos nos resultados da organização. 48 4.1- Cultura Organizacional Para RODRIGUES(1994), os valores, as crenças predominantes na cultura organizacional configuram cenários que determinam em grande parte a qualidade de vida. A formalidade ou a informalidade no tratamento, a altura das divisórias, os bloqueios no acesso à diretoria, a diferença na decoração constituem os primeiros sinais do que é valorizado na empresa. São muitos os argumentos utilizados para a definição dos privilégios, desde admitir que a empresa é hierarquizada, que determinadas funções requerem benefícios específicos e estão habituadas a um padrão de vida mais elevado, até mascarar a situação através de tentativa de manter em sigilo alguns benefícios. Podese afirmar que tudo aquilo que a empresa tenta manter em sigilo todos já sabem. O tratamento diferenciado gera nos que têm privilégios a sensação de prestígio, contribuindo para aumentar a auto-estima; para aqueles que aspiram a posições mais elevadas, há uma angustiosa expectativa de promoção; já para os que não acreditam nessa possibilidade resta o pesado sentimento de discriminação e injustiça. Outros valores da cultura organizacional afetam a qualidade de vida: o atendimento prestado ao cliente externo, a importância real a ele atribuída, a forma como suas reclamações são analisadas e encaminhadas, o tratamento aos fornecedores, as relações com a comunidade. Tudo isso configura a imagem da empresa e faz com que as pessoas se orgulhem ou não de a ela pertencerem. Somam-se aos problemas decorrentes dos valores predominantes na cultura organizacional os fatores de natureza interpessoal. Mesmo pessoas que gostam do que fazem podem experimentar insatisfação em decorrência do estilo gerencial ou das relações interpessoais no trabalho. Postura autoritária, desconsideração, gestão centralizadora e ausência de delegação são algumas das posturas gerenciais apontadas como geradoras de conflitos entre chefes e subordinados. Entre colegas, observa-se a disputa de prestígios e poder, a inveja, o ciúme, capazes de gerar insatisfação e conflitos e, num segundo momento, fazem com que os agraciados se sintam excluídos, perseguidos, infelizes, sem motivação para o trabalho. 49 4.2- Infra-Estrutura Familiar Nas décadas de 50 e 60, no Brasil, a mulher era presença permanente no lar, estruturando os serviços domésticos, orientando e disciplinando os filhos nos deveres escolares ou, no mínimo, assegurando que fossem feitos. Esse quadro alterou-se de forma significativa a partir das duas últimas décadas. Os filhos eram criados pela mãe, que supria o lar e dava total suporte ao marido. A participação do homem se restringia ao dinheiro e às “broncas nos filhos", por problemas que a mãe não conseguia resolver. Para LOPES(1979), o cenário familiar foi alterado de forma drástica com a entrada quase total da mulher no mercado de trabalho. As tarefas domésticas continuam sendo demandadas e nem sempre têm sido equacionadas via divisão das tarefas entre os membros da família. As refeições fora de casa e a automação de serviços domésticos são acessíveis apenas às camadas sociais que contam com salários mais altos. Grande contingente da população vive outra realidade. A mulher cumpre oito horas de trabalho fora de casa e após o expediente assume outra jornada. Associa-se a isso a impossibilidade de manter empregadas domésticas em horário integral, o que agrava mais o cenário. De acordo com MOREIRA (2001), o custo emocional e os conflitos decorrentes precisam ser contabilizados. Resultam em insatisfação, mal-estar e desajustamentos, nem sempre aparecem diretamente mas afetam a produtividade, o humor, o envolvimento. Muitos dos conflitos entre chefes e subordinados decorrem de desencontros na família, levando vários autores a considerar que é preciso encontrar equilíbrio entre trabalho e família, especialmente nas empresas que alimentam o conflito, passando mensagens como: "se você quer progredir na empresa, precisa estar disposto a fazer sacrifícios". A escola não se adaptou a essa realidade e vem atuando como no cenário anterior. Mantém as mesmas estratégias de horário parcial, extensas tarefas para serem feitas em casa, sem que a criança conte com alguém que a supervisione ou oriente, além de ter que resistir ao apelo da televisão e do videogame. Investe pouco na seleção e capacitação de professores quando em muitos casos os filhos têm em casa bibliotecas mais ricas do que as da escola ou computadores de última geração. Pais com nível cultural igual ou muito superior ao dos professores criticam os conteúdos e a qualidade do ensino. 50 4.3- Relações Interpessoais As relações interpessoais constituem o outro lado da questão. A raiva e o medo são emoções que fazem parte do cenário da vida no trabalho. São sentimentos freqüentemente experimentados em todos os seus disfarces e máscaras e resultam do desacerto como erros tratados, da desatenção às perguntas e pedidos de esclarecimento, do tratamento áspero e competitivo entre colegas, da falta de sinceridade nas relações e do abuso do poder por parte das lideranças, formais e informais. É freqüente observar-se que chefes são tratados com diferença e cortesia, enquanto os demais são tratados com indiferença e até descaso. Contribuições dadas por ocupantes de funções elementares são recusadas, mas a mesma sugestão vinda de cima é acatada e elogiada. Mantém-se ainda o vício de adular os de cima, competir com os colegas de mesmo nível hierárquico, pisar nos de baixo. Qualidade de vida não decorre apenas de salário acima do mercado e de invejável plano de benefícios. Para VIANNA (1999), resulta do tratamento humano, da gentileza, da leveza nas relações, da possibilidade de expressão de pontos de vista divergentes, do relacionamento sincero, do respeito aos ausentes e do orgulho pelo que se faz. Atenção, elogios e consideração constituem ingredientes indispensáveis quando se busca lealdade, qualidade e produtividade. 4.4- Fatores Intrapessoais No ambiente de trabalho, tudo gira em cenário de atitudes, emoções e sentimentos de enorme diversidade, representando a forma particular de cada indivíduo lidar com toda essa realidade, criando nas relações do dia-a-dia uma atmosfera singular de cada organização ou mesmo de cada departamento. Cada setor vive um clima diferente, refletindo a forma de tratamento particular entre membros, uma maneira própria de discutir seus problemas, a forma como os líderes conduzem o trabalho e as pessoas. Para KOSTESKI (1999), grande parte desta forma de reação é determinada pela história de vida, que configura a maneira como pessoas lidam com emoções que permeiam as relações interpessoais e afetam a qualidade de vida. Os valores 51 característicos da cultura familiar provocam tanto o desenvolvimento da gente empreendedora, estimulada pela novidade e pelo risco, assumindo a coragem de propor e ousar, quanto a mentalidade de pouca iniciativa ou temor de arriscar, sentimentos de insegurança diante do novo, adultos temerosos de lidar com situações novas e imprevisíveis. De acordo VIANNA (1999), nem sempre as posturas individuais facilitadoras predominam nas organizações. Os líderes defrontam-se permanentemente com as resistências que resultam muitas vezes de experiências anteriores negativas, tornando o clima marcado pela desconfiança e pela precaução. Numa grande parceiros, disputam prestígio, estima e competem por interesse. O autoconhecimento e o conhecimento do outro são componentes essenciais na compreensão de como a pessoa atua no trabalho, dificultando ou facilitando as relações. Dentre as dificuldades mais observadas, destacam-se: falta de objetivos pessoais, dificuldades em priorizar e dificuldade em ouvir. 4.5- Qualidade de Vida Dentro e Fora do Trabalho Algumas pesquisas explicitam a importância deste tema. Hoje, como afirma HANDY(1978), o trabalho organizacional é vital e pode ser visto como parte inseparável da vida humana. E a qualidade de vida influencia ou é influenciada por vários aspectos da vida fora do trabalho. Logo se faz necessária uma análise da vida do trabalhador fora do meio organizacional, para que possa ser medida a importância e interligação. Muito se fala sobre qualidade de vida, mas a satisfação no trabalho não pode estar isolada da vida do indivíduo como um todo. SAYLES e STRAUS(1969) afirmam que os empregados que possuem uma vida familiar insatisfatória têm o trabalho como único ou maior meio para obter a satisfação de muitas necessidades, principalmente as sociais. Logo este empregado está menos receptivo e será menos exigente nos seus critérios para receber a satisfação. Para HANDY(1978, p.237) o trabalho assume proporções enormes na vida do homem de hoje. Diz o autor que "talvez as organizações sejam atualmente o meio principal para o homem adquirir sua 52 identidade, buscar seu ego ideal". VRENDENBRGH e SHERIDAM (1979, p.1023) dizem que "que a qualidade da estrutura da vida inclui vários indicadores sociais e percepções individuais de insatisfação com domínios diferentes de nossa experiência de vida e municipalidade, lazer, moradia, condições financeiras". Nas pesquisas sobre a satisfação com a vida, têm sido freqüentemente tomados como variáveis o sexo, raça, idade, educação, renda familiar, classe socioeconômica, ocupação e estado civil. VRENDENBRGH e SHERIDAM(1979, p.1032, 1036), em análise secundária de dados obtidos pelo Centro Nacional de Pesquisa (EUA), concluem que "os dados explicitam a importância da satisfação com o trabalho para a satisfação com a vida". A pesquisa forneceu subsídios para afirmar que "atitudes gerais das pessoas em relação à vida e ao seu trabalho estão embaraçosamente ligadas". A satisfação com o estado civil foi relacionada positivamente com a satisfação com a vida. Essa conclusão, segundo os autores, "sugere que o nosso contentamento com a vida é uma construção do conceito sobre a satisfação com os domínios específicos da vida, tais como experiência no trabalho e a família". A qualidade de vida é um ponto vital, não só para a realização do homem no trabalho mas também em toda a sua existência. KAHN(1984, p.6) realizou um estudo sobre a importância do trabalho para o ser humano e sua relação com outros domínios da vida. atendimento de suas expectativas no primeiro emprego e os velhos insatisfeitos com suas aposentadorias. a realidade na distribuição de trabalho". Quanto aos aposentados, 41% se sentiam mal por terem se aposentado. Dois aspectos são inicialmente analisados: os jovens insatisfeitos pelo não Quanto aos jovens, o autor diz haver uma grande "lacuna entre a preferência e é importante ressaltar que os autores identificaram a família ou a vida fora do trabalho como o primeiro dos maiores motivos para a qualidade de vida. O trabalho aparece em segundo plano, ou seja, atividade fora trabalho, em 1.ª posição; vida familiar, em 2.ª; padrão de vida (que depende do trabalho),em 3.ª; e trabalho em 4.º lugar. Mais de 50% dessa mesma amostra concordam que a maioria das coisas que acontecem em suas vidas envolvem direta ou indiretamente seus empregos. 53 As atividades fora do trabalho remunerado não podem ser todas consideradas lazer. KAHN(1984) alerta para o fato de que o lazer não são simples resíduos de tempo que resta além do trabalho remunerado. Para nos aproximar da definição de lazer como tempo livre, devemos subtrair, do tempo que o indivíduo não está trabalhando remunerado, o tempo gasto no trabalho doméstico, nas compras, nas atividades de manutenção da casa, no cuidado com as crianças e necessidades pessoais. KAHN(1984, p.20) vê que, diante dos resultados de todas as pesquisas realizadas, há uma necessidade de repensar a atividade produtiva adaptando-a às necessidades e expectativas do indivíduo. Diz o autor que: "usar nas atividades produtivas um tipo não apropriado às nossas capacidades e preferências é prejudicial ao indivíduo e a longo prazo arriscado para a sociedade". Esse mesmo autor conclui que: "uma crescente quantidade de atenção tem sido dada às necessidades de renda das pessoas, cuidados médicos e outros serviços. Entretanto a qualidade de vida é definida não só pelo que é feito parar as pessoas, mas também pelo que elas fazem por si próprias e pelos outros". As relações são inseparáveis entre qualidade de vida no trabalho e a qualidade de vida global. Em análise do autor fica patente a expectativa e angústia do trabalhador quanto à interferência cada vez maior do trabalho em seu espaço de vida. SHAMIR e SALOMON(1985, p.455) afirmam que "as inovações tecnológicas aumentam as possibilidades de se trabalhar em casa". Os autores usam a expressão qualidade de vida referindo-se a um bem-estar relacionado ao emprego do indivíduo e à extensão em que sua experiência de trabalho é compensadora, satisfatória e despojada de estresse e outras conseqüências negativas. A literatura tem trazido várias contribuições, explicitando o conflito entre o papel ocupacional e o da família, acreditando que o trabalho em casa reduziria este nível de conflito, principalmente para 54 as mulheres. Já SHAMIR e SALOMON(1985, 460) vêem essa posição com desconfiança. Os autores acham que o oposto pode ocorrer e dizem que com o trabalho em casa "é provável que as mulheres, em particular aquelas cujas famílias agem de acordo com uma divisão relativamente tradicional de trabalho, sejam as mais afetadas, mas não é provável que os homens sejam imunes a este tipo de stress, particularmente em famílias que não têm divisão de trabalho." Capítulo V Os Aspectos que Afetam o Ambiente do Trabalho Uma vez perguntaram a CONFÚCIO: "O que mais o surpreende na humanidade?" E ele respondeu: "Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro e depois perdem o dinheiro para recupera-la. Por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem o presente, de tal forma que acabam por nem viver no presente nem no futuro. Vivem como se nunca fossem morrer e morrem como se não tivessem vivido..." A organização do trabalho nas últimas décadas passou por grandes mudanças, e esta dinâmica continuamente modificou os conceitos de trabalho. Em questão de 100 anos, houve uma mudança até certo ponto drástica. Quase sumiram os pequenos produtores, as mercearias e surgiram os grandes produtores, os supermercados, grandes fábricas, indústrias e ainda podemos testemunhar o surgimento de empresas gigantescas com receitas bilionárias. No início do século XX os fundamentos da administração científica de Taylor e Ford surgiram e antes disso um grupo de pensadores ingleses como Adam Smith, Thomas Robert Malthus, Daivid Ricardo e Sturt Mill fizeram a marca do 55 capitalismo. O que sustentou a ideologia do capitalismo: de que o indivíduo que age movido por um fim unicamente egoísta, obtém com isso um maior ganho para a comunidade. As obras dos autores que surgiram depois, na maioria foi influenciada pelo modelo capitalista e pelos fundamentos de Taylor. Na verdade, no mundo ocidental, no último século, surgiram muitos cientistas, pesquisadores e estudiosos que escreveram sobre estratégias e organizações de trabalho, planejamento institucional e gerencial, procedimentos operacionais e administrativos, e outros assuntos. Mas, normalmente as suas abordagens se restringiram a análise dos detalhes do sistema existente e ou sobre os resíduos do modelo atual. 5.1- A Evolução da Organização do Trabalho A evolução da organização do trabalho contemporâneo pode ser caracterizada sumariamente, da seguinte forma: No início do século XX os fundamentos da administração científica revolucionaram a idéia de trabalho até então e surgiram princípios de eficiência e engenharia industrial. Na década 20 começou a tendência do movimento das relações humanas promovido por Elton Mayo e depois nos anos 30 a 40 os conceitos de motivação sugeridos por Abraham Maslow tentaram dar nova vida e um aspecto mais humano aos ambientes de trabalho. Nos anos 50, os modelos matemáticos de otimização da pesquisa operacional estimularam o desenvolvimento de computadores mais potentes e da automação dos processos. O surgimento da teoria de sistemas nos anos 60 e 70 ajudou ainda mais o processo de produção, de uma forma mais inteligente. Maior produção em menos tempo e menos despesa com recursos humanos. Anos 80, as empresas apelam pelo uso do chamado modelo de “Controle de Qualidade Total” sugerido por ISHIKAWA(1993), tentando estabelecer controle e qualidade na produção e planejamento. Objetivando menos erros, mais competitividade no mercado. Anos 90, o mercado de trabalho já saturado pela linha de produção mecanizada, começou a sofrer o desemprego em massa. De outro lado, indústrias bastante tensas devido à competitividade acelerada dos concorrentes, 56 mudaram o perfil de seus executivos tradicionais para pessoas que podiam ser cada vez mais ágeis na aquisição de informação e conhecimento, melhorando o desenvolvimento da tecnologia e produção, assim se iniciou a era do conhecimento. Nos últimos anos do século passado e nos próximos anos do novo século, embora as organizações aparentemente estejam na busca do conhecimento, na verdade, seu objetivo maior é o domínio deste. O que se pode observar nestas etapas do progresso da organização do trabalho, é que certos fatores sempre permaneceram como metas principais. Primeiro, o modelo de administração de Taylor não foi abolido, e continua a ser utilizado como melhor forma de manter uma industria com produção alta através de mão-de-obra barata e ingênua. Segundo fator é o lucro, que sempre no modelo capitalismo foi considerado o principal objetivo. E o terceiro objetivo que agora esta ficando mais claro é o domínio do mercado e do conhecimento. 5.2– Manifestações dos Problemas A prática deste modelo de trabalho proporcionou um quadro não esperado em relação ao comportamento dos funcionários e trabalhadores. Começaram a surgir os problemas complicados e nada familiares até então. As empresas começaram a se dar conta de doenças físicas, mentais e psíquicas que estavam atingindo os funcionários. “A Folha de São Paulo”, datada de 27 de junho de 1993 mostra um artigo muito chocante sobre estado de saúde de funcionários, as manchetes do artigo eram seguintes: • Levantamento da ONU indica que perdas por estresse chegam a US$ 200 bilhões ao ano somente nos USA. • Nos Reino Unido, calcula-se que o estresse compromete cerca de 10% dos PNB do país, mais de US$ 100 bilhões. Em relação às profissões de risco que mais apresentaram problemas de estresse o artigo mostra seguintes atividades: 57 Operários – a repetitividade, o barulho e a vibração estão entre as principais causas. Polícia – o constante risco e a sensação de casos como alcoolismo provocam estresse. Trabalhadores de correios – a velocidade do trabalho, local inadequado, o barulho e a poeira são os principais problemas. Os carteiros ainda sofrem de estafa física. Professores – dores de cabeça, depressão e ansiedade são os problemas mais comuns, além de excesso de trabalho e baixos salários. Garçons – pessoas que se relacionam com grande público e tem iniciativa ou controle sobre o ambiente parecem expostas ao estresse. Colesterol e pressão sangüínea alta e baixa nível de testosterona são outros problemas. Enfermeiras – têm muitas tarefas desagradáveis e fisicamente difíceis, e lidam de perto com pessoas com deficiências psíquicas e físicas. Operadores de terminais de computadores – funções que são passíveis de controle eletrônico imediato pelo patrão. Motoristas de ônibus – Têm maior índice de absenteísmo, doenças e morte que os trabalhadores em geral. Estão em alerta contínuo, sob pressão de tempo, sempre na mesma posição e sob a tensão do trânsito. Esta é uma amostra da realidade dos trabalhadores que sofrem no ambiente de trabalho. Por outro lado, os especialistas do assunto cada vez mais estão se evolvendo com os processos complexos das empresas e tentando aprofundar nos inúmeros problemas que estão aparecendo, trazendo novas idéias dos aspectos organizacionais, estratégicos e de gerenciamento para amenizar o quadro. Técnicas de relaxamento, exercícios físicos, dietas balanceadas, iniciativas no trabalho, autonomia, horário de trabalho flexível e outras medidas foram sugeridos para diminuir o volume de pessoas afetadas devido o seu trabalho. É evidente que os problemas e as dificuldades sempre existem para serem solucionados, porém, muitos dos problemas complicados que estão aparecendo no ambiente de trabalho são conseqüências de um sistema errado e por isso mesmo a sua abordagem também se torna complicada. Por esta razão a maioria das tentativas das empresas para controlar o stress ou diminuir as suas conseqüências ao longo destes anos foram tentativas provisórias e logo em seguida todos os problemas ressurgiam. 58 5.3– Ambiente de Trabalho e Fatores de Pressão Alertam LIMONGI e RODRIGUES(1997, p. 69) que muitas das organizações do trabalho têm características alienantes, e isso é outro fator que modifica o ambiente do trabalho num ambiente coercitivo; pouca criatividade; sem controle sobre ritmo, intensidade e duração; tarefas aborrecidas e relações pessoais fragmentadas e competitivas. O autor confirma que estas condições geram sensação de falta de autonomia; frustração constante; e insatisfação com o modo de vida e stress. Diante deste quadro, podemos imaginar como seria a situação de um funcionário, especialmente nas empresas privadas com linhas de produção. Os operários estão sujeitos a atividades repetitivas, fisicamente desgastantes e mentalmente desanimadoras. Por outro lado os funcionários de médio escalão devem apresentar dupla personalidade, uma hora tem que agir como um operário ingênuo e obedecer às regras e outra hora são responsáveis e devem se comportar com rapidez e inteligência para modificar, melhorar e acelerar um processo. Essa dualidade de ação os tornará psiquicamente doentes, mesmo se permanecerem no emprego, sempre terão medo de receber críticas ou reclamações. Por último, os executivos terão verdadeiro pesadelo no desempenho das suas tarefas. Eles recebem salários altos e desta forma são cobrados direta e indiretamente. Devem ter um desempenho muito bom aos olhares dos dirigentes da empresa. Lembrando que as falhas deles representam custos altos para empresa e assim eles trabalham sob pressão. Estes ambientes de trabalho existem em organizações que tem como objetivo final o “lucro maior”, ou seja, um sistema estabelecido com princípios capitalistas. O que o capitalismo determina? Segundo HUNT(1981, p. 25), o capitalismo é um sistema econômico baseado na legitimidade dos bens privados e na irrestrita liberdade de comércio e indústria, declara como princípio básico o poder exclusivo do capital; o objetivo de sua atividade econômica reside pois, na aquisição ilimitada de lucro. É fácil compreender que o raciocínio econômico que segue tais princípios defenderia necessariamente o máximo de liberdade de ação para os indivíduos e o mínimo de interferência pelo Estado. No campo internacional, o capitalismo industrial projetou-se sob a forma do imperialismo econômico, a exploração das regiões economicamente atrasadas na sua evolução, a fim 59 de assegurar às potências industrializadas os mercados consumidores e fornecedores de matérias primas e alimentos, sob o controle de barreiras protecionistas. Com os fundamentos do capitalismo estabelecidos como base do mercado atual, pode-se imaginar os fatores que determinam relação do trabalhador com patrão. Fica muito clara a posição do trabalhador, ele é respondível pela produção, cobrado por falhas, é demitido se não for eficiente. É explorado se for eficiente e é perseguido se for inteligente. Enfim o trabalhador trabalha em situações totalmente contraditórias. Nas colocações de LIMONGI e RODRIGUES(1997, p. 69) é muito claro o sinal de distorção nos ambientes de trabalho. Segunda a autora na atual sociedade industrial, são fortemente estimuladas e reforçadas às seguintes características pessoas: grande competitividade, necessidade de mostrar-se sempre cada vez maior de coisas em tempo restrito, e tendências em reprimir intensamente os sentimentos de frustração, hostilidade e insegurança. Destaca-se ainda que, neste ambientes de trabalho, estimula-se: - forte competição entre os colegas, que concorrem entre si na busca de maiores gratificações e promoções; - grandes esforços para se produzir mais e melhor, dentro de prazos rigorosos; - aumento de horas extras de trabalho e da tendência em se levar trabalho para casa. Este espírito de pressão nas empresas é algo muito transparente até oficialmente estimulado. Nas colocações de STALK e EVANS(1992, p. 62) pode perceber a seriedade da “guerra“ pela posição: “Quando a economia era relativamente estática, a estratégia podia se dar ao luxo de ser estática. Em um mundo caracterizado por produtos duráveis, necessidades estáveis do consumidor, mercados nacionais e regionais bem-definidos e concorrentes claramente identificados, a competição era uma ‘guerra pela posição’ na qual as empresas ocupavam espaço competitivo como as casas de um tabuleiro de xadrez. Hoje, a competição é uma ‘guerra de movimentos’ na qual o sucesso depende da previsão das tendências do mercado e da resposta rápida às mudanças nas necessidades dos clientes. Os concorrentes bem-sucedidos entram e saem rapidamente de 60 produtos, mercados às vezes até de negócios inteiros . um processo que se assemelha mais a um videogame interativo do que a um jogo de xadrez. Nesse ambiente, a essência da estratégia não é a estrutura dos produtos e mercados de uma empresa, mas sim a dinâmica de seu comportamento.” Visualizando estes ambientes torna evidente que, o funcionário trabalhando com a pressão das exigências em cada momento, com as cobranças, com o peso das responsabilidades, certamente sofrerá grandes pressões mentais. Assim é inevitável o surgimento das doenças físicas e psíquicas. Surge a seguinte pergunta: Como é possível que o emprego numa empresa dessas, possa oferecer oportunidades para que o funcionário consiga trabalhar com criatividade e com motivação e sua tarefa seja motivo de desenvolvimento da suas aptidões? 5.3.1– As Conseqüências do Stress Não é difícil prever os resultados destes modelos de trabalho. LIMONGI e RODRIGUES(1997, p. 72) afirmam que nas organizações em que os funcionários trabalham com as características citadas anteriormente, resulta em stress intenso e prolongado e assim proporcionam para seus funcionários maior risco a doenças coronarianas e conduzem os mesmos na diminuição do controle sobre suas vidas; redução do controle sobre processo de trabalho; e desatenção e diminuição do controle sobre resultados. E finalmente tudo isso em geral conduz a uma avaliação negativa e baixa de si mesmo e diminuição da realização e produtividade profissional. No livro “Longevidade de Cérebro”, Dr. KHALSA(1997, p. 287) afirma o seguinte, não é só o corpo que sofre com o stress, o cérebro também: “O estresse crônico provoca uma hipersercreção de cortisol. E o cortisol, como mencionamos anteriormente, promove um 61 “ataque em três frentes” ao seu cérebro: ele o priva de sua única fonte de energia, a glicose, interfere na função dos neurotransmissores e causa a morte das células cerebrais. Ele alerta, se você sente um nível de estresse alto e prolongado, diariamente, ele prejudicará sua saúde física, emocional e intelectual. Ele fala de síndrome de adaptação geral “queima o cérebro” , ele afirma que essa síndrome pode “cozinhar seu cérebro”. E acrescenta que: “Uma função cognitiva perfeita requer um estado mental relaxado. Atualmente, a maioria das ameaças não é física e sim psicológica. Os fatores estressantes de hoje, normalmente, consistem de fatores como pressão de superiores, pendências de prazo”. De acordo com KHALSA(1997, p. 286), outro efeito mental indesejável do stress crônico é sua influência sobre as ondas cerebrais. “Uma pessoa que está experimentando stress tem uma predominância de ondas beta ‘nervosas’, em lugar das ondas alfa e teta ‘calmas’. As ondas beta também são menos favoráveis ao aprendizado e à concentração do que as ondas alfa ou teta. Se a, fase da exaustão do stress crônico está em atividade, a capacidade de aprendizado e a concentração submergem.” 62 5.4- Liderança Inadequada – Fator Agravante Os departamentos de recursos humanos de todas as empresas determinam uma política de camaradagem e bom relacionamento entre os funcionários e a chefia. As teorias de administração de recursos humanos no campo de gerenciamento evoluíram bastante. A aplicação da Liderança Situacional apresentada por HERSEY e BLANCHARD(1986, p. 185) coloca o seguinte: “Os gerentes devem ser capazes de identificar a realidade do seu ambiente. Mas, mesmo tendo boa habilidade de diagnóstico, os líderes não serão eficazes se não souberem adaptar seu estilo de liderança às exigências do ambiente. O líder deve ter a flexibilidade pessoal e a gama de habilidade necessária para variar seu comportamento. Se as necessidades e motivos dos seus subordinados forem diferentes, devem ser tratadas de modo diferente”. É fácil dizer aos gerentes que devem aplicar a teoria, o difícil é colocar isso em prática. Na verdade no ambiente de trabalho as realidades são outras. A força do mercado e a corrida em busca de maior produtividade no dia-a-dia do trabalho praticamente abalam qualquer teoria de administração. O panorama da economia mundial não favorece o ambiente do trabalho. Num mundo competitivo, não há como fugir da pressão, das metas, da busca por melhores resultados. Por isso, muitas vezes, os gerentes preocupados pela sua carga e posição reagem de forma desequilibrada. Muitas pesquisas apresentam dados que mostram a realidade dos relacionamentos dos chefes com seus subordinados. Uma das pesquisas da Universidade Católica de São Paulo analisa efeitos do que chama de “uma rotina humilhante” sobre os funcionários. Para esse trabalho, ouviram cerca de 2000 trabalhadores de 97 grandes indústrias de São Paulo. Muitos relataram que sofreram humilhações constantes e simultaneamente, apresentaram sintomas já amplamente associados a situações de stress. Os relatos são espantosamente parecidos. 63 “Quem precisa do emprego tem de calar-se e agüentar. Aí você sente tudo, vêm as dores, a raiva, a revolta”. (Veja, 31/10/2001) O psiquiatra João Ferreira, diretor do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro, cita uma pesquisa na qual foram entrevistados 1800 funcionários do Banco do Brasil sobre suas condição de trabalho. A queixa principal, surpreendentemente, não foi a de excesso de serviço ou de salário baixo, “A esmagadora maioria das reclamações referiu-se à falta de reconhecimento de trabalho pelas chefias. ”Ainda foi constatado, que os chefes também são vítimas da pressão no trabalho. Eles ficam espremidos entre a cobrança cada vez mais implacável de metas por parte da direção da empresa e o medo de que seus subordinados não sejam capazes de atingir os objetivos. Estas pesquisas fornecem uma amostra de atitudes de lideranças inadequadas para perseguir o subordinado: parar de cumprimentar, ignorar presença, menosprezar ou ironizar o trabalho em público, deixar sem ocupação, transferir de setor com intenção deliberada de isolar, retirar os instrumentos de trabalho. Estas atitudes não fazem parte da política de recursos humanos de nenhuma empresa, ainda assim, esses castigos são comuns no dia-a-dia do relacionamento entre chefes e subordinados. Estes estudos mostram que a perseguição feita pelo mau chefe não afeta apenas a produtividade da empresas, também faz mal à saúde dos funcionários. “O que não se sabia . ou não se levava na devida conta . é que a má chefia não abala apenas a saúde das companhias. Ao contribuir para a degradação do ambiente de trabalho, ela traz danos concretos à saúde de seus subordinados.” Ainda, na organização moderna das empresas houve uma pulverização do poder. Há mais chefias hoje que na estrutura piramidal que vigorava até pouco tempo atrás. Portanto, existe também uma competição horizontal, fazendo com que a posição da chefia seja a mais ameaçada. E este fato agrava mais as situações delicadas nos relacionamentos. 64 Através dos resultados dos dados, pode perceber que as conseqüências de liderança inadequada são dramáticas, as pessoas sofrem sob o comando de tiranos ou incompetentes. A dor, exibida com espalhafato ou sofrida em silêncio, pode ser imensa quando as pessoas são perseguidas devido à reengenharia incompetente ou se esgotam sob a pressão de ter de sustentar resultados indesejáveis. E certamente devido a estes graves resultados que a questão de “saúde mental” nas empresas atualmente é uma das maiores preocupações da Organização Internacional do Trabalho. 5.5– As Cargas Não Identificadas Não há duvida que estamos diante uma abordagem na qual a causa não é identificada, ou melhor, não é mensurável, mas, apenas os sintomas são manifestos. Isso é, estamos diante de fatores que causam danos, porem, não são tangíveis como posição da cadeira que facilmente um ergonomista pode detectar e solucionar. Uma das manifestações das conseqüências dos fatores desintegrantes são manifestações de diversas formas de sofrimento. WISNER(1994, p. 11) coloca o seguinte: “Os sinais de sofrimento psíquico (expressão verbal, comportamento neurótico, enfermidades psicossomáticas) podem ser vinculados aos aspectos específicos de certos grupos de tarefas. Esses aspectos caracterizam mais particularmente modalidades perigosas de organização. Dentro elas, podem citar o trabalho sob exigência de tempo, mas também as situações de conflito, o uso de códigos múltiplos, as tarefas freqüentemente interrompidas, as atividades que induzem a uma auto-aceleração mental”. Segundo DEJOURS(1949, p. 49) contrariamente ao que se poderia imaginar, a exploração do trabalho pela organização não cria sobrecargas mentais ou sofrimentos. O 65 O mesmo afirma que há várias formas de sofrimento e enfatiza, por exemplo: “O sentimento de inutilidade” remete, primeiramente, à falta de qualificação e de finalidade do trabalho. O operário da linha de produção como o escriturário de um serviço de contabilidade muitas vezes não conhece a própria significação de seu trabalho em relação ao conjunto da atividade da empresa. Mas, mais do que isso, sua tarefa não tem significação humana. Este tipo de situação, por exemplo, é gerador de forças desintegrantes de força de trabalho não tangíveis, e causa prejuízos para empresa e funcionários. Nesse contexto “as situações de conflito“, “trabalho sob exigência de tempo” ou “sentimento de inutilidade” são situações que podem causar inúmeras complicações para o trabalhador, sejam físicas, cognitivas ou psíquicas. Pois, uma situação conflitante pode gerar carga de trabalho invisível. GRECO(1996) assegura o seguinte: “As cargas de trabalho são definidas como exigências ou demandas psicobiológicas do processo de trabalho, gerando ao longo do tempo as particularidades do desgaste do trabalhador. Em outras palavras, as cargas são mediações entre o processo de trabalho e o desgaste psicobiológico”. Nos olhares de psicologia de trabalho segundo WISNER(1994, p. 13): “Toda atividade, inclusive o trabalho, têm pelo menos três aspectos: físico, cognitivo e psíquico. Cada um deles pode determinar uma sobrecarga. Eles estão inter-relacionados e são bastante freqüentes, embora não seja necessário que uma forte sobrecarga de um dos aspectos seja acompanhada de uma carga bastante alta nos dois outros domínios”. O que está em discussão é a identificação dos fatores não tangíveis no ambiente de trabalho. Como foi apresentado, da mesma forma que há relação entre as cargas das atividades sejam físicas, cognitivas ou psíquicas ainda há interferência de 66 relacionamento entre os funcionários e a gerência. Desta forma, entende-se que existe uma rede gigantesca com infinitas interferências. A pergunta é esta: quais são as circunstâncias que estas interferências originariam para o estado físico, mental e espiritual do trabalhador? A resposta, certamente não seria algo conhecido por manuais de medicina de trabalho. Uma das ferramentas de psicologia de trabalho é valorizar a interligação dos elementos no ambiente de trabalho e considerar o conjunto como um sistema. Da mesma forma que as empresas com o desenvolvimento tecnológico, organizacional e as técnicas utilizadas para melhorar os processos tiveram avanços extraordinários, também se faz necessária diante este quadro uma séria ação das empresas para neutralizar estas forças desintegrantes. Para isso as instituições devem investir na identificação das forças desintegrantes (sutis, discretas, não declaradas, atitudes inconscientes) oriundas dos funcionários, as quais causam prejuízos diretos e indiretos para a força de trabalho e empresas, e dimensionar os danos decorrentes, tendo em vista como propósito, evitar o desperdício material, emocional e intelectual nas empresas, e revertê-los em benefícios para a empresa e seus funcionários. Capítulo VI Motivação É um estado interno resultante de uma necessidade que desperta certo comportamento, com o objetivo de suprir essa necessidade. Os usos que uma pessoa der às suas capacidades humanas dependem da sua motivação, seus desejos, carências, ambições, apetites, amores, ódios e medos. As diferentes motivações e cognições de uma pessoa explicam a diferença do desempenho de cada uma. Para HELLER(1999), motivação é a força que nos estimula a agir. No passado, acreditava-se que essa força precisava ser injetada nas pessoas. Hoje, sabe-se que cada um de nós tem motivações próprias, geradas por fatores distintos. Pode-se notar a motivação de diversos modos. Sempre vale a pena observar se a equipe revela-se otimista, voluntária ou apta para novas oportunidades. Um grupo no qual cada integrante se preocupa com os interesses 67 dos outros costuma ser uma fonte de motivação; outro fator é a atitude das pessoas em relação ao trabalho. VIANNA(1999) considera que estamos caminhando, ainda que a passos tímidos. Parece que começa a existir um princípio de reviravolta no paradigma da realidade das empresas. O conjunto positivo de clima, ambiente, motivação e felicidade dos empregados é um fator de sucesso para quem deseja implementar uma trajetória de desenvolvimento estratégico de longo prazo em sua organização. Pelo menos é assim que deveria ser analisado e, felizmente, é nisso que acredita uma pequena, mas representativa parcela dos empresários e executivos brasileiros. Para KONDO(1991), podemos descobrir diversos caminhos para tratar da motivação humana se prestarmos atenção não apenas às diferenças de personalidade, que são evidentes nas pessoas, mas também aos traços humanos comuns que existem debaixo dessas diferenças, ou seja, a natureza humana. Autores argumentam que é pretensão pensar que um ser humano possa motivar seus semelhantes. Embora seja preciso reconhecer a existência de tal restrição, todos nós estamos cientes da necessidade e da importância da motivação. Existem especialistas e técnicas voltados especificamente à motivação e que quando usam essas técnicas fazem com que os funcionários trabalhem melhor sem nenhum benefício próprio. 6.1- O Ser Humano Feliz A felicidade dos seres humanos está intimamente ligada ao desenvolvimento e à capacidade de chamar para si a responsabilidade sobre sua própria vida. Com isso devemos refletir a respeito da dor e do prazer, dois conceitos sem dúvida envolvidos no processo de desenvolvimento humano. Shakespeare concluiu, séculos atrás, que nós, seres humanos, nos motivamos mediante dois grandes estímulos: a perspectiva de uma grande dor e a perspectiva de um grande prazer. Para que uma organização triunfe, para que possa colher excelentes resultados nos anos vindouros, terá que criar seres humanos diferentes, motivados, pessoas que acordem de manhã e sintam prazer em ir trabalhar.De acordo com KONDO(1991), o empresário que tem a oportunidade de melhorar o mundo de acordo com suas possibilidades deve caminhar no sentido de criar 68 uma utopia humanista nas organizações, dentro de um pacto de resultados. Grande paradoxo tecnológico, o ser humano será o verdadeiro diferencial competitivo dentro das empresas. Quanto mais se desenvolve a tecnologia, mais o diferencial se evidenciará a partir de um atendimento de qualidade superior, com serviços, que, sem dúvida alguma, resultarão de ações de responsabilidade direta dos seres humanos. CLARET(1999) afirma que um fator importantíssimo é o ambiente de grupo; este será o fator crítico de sucesso nas organizações. Não adianta investir nos melhores talentos se, efetivamente, eles não promoverem entre si o conceito da sinergia, que lhes permita multiplicar suas capacitações individuais. Uma empresa tem que ser competitiva e feliz, nunca competitiva e neurótica, e muito menos feliz e falida. Para tanto deverá existir entre a empresa e seus colaboradores um pacto pelo desenvolvimento, em que ambas as partes exponham suas expectativas em relação aos seus parceiros. De acordo com VIANNA(1999), o quadro abaixo demonstra que é possível estabelecer um nível de relação entre o capital e o trabalho, de modo que todos se unam para criar uma organização com boas possibilidades de alcançar êxitos em sua trajetória. Empregador: Qualidade Total Mais produtividade Aumento do nível dos empreendedores Tecnologias novas Empresa modelo Fazer do Brasil um grande país Preservação ambiental total Empregado: Melhor qualidade de vida Melhor salário Crescimento profissional Treinamento Ser o melhor Preservação ambiental total 69 VIANNA(1999) sugere o que seria seu sonho na relação capital-trabalho do século XXI, o que o profissional comprometido espera de sua empresa: - Valorização e reconhecimento - Política de premiação realista/participação nos lucros - Recursos compatíveis com o grau de responsabilidade - Treinamentos constantes para atualização da função - Crescimento e desenvolvimento profissional - Freqüentes desafios - Participação na tomada de decisões - Ser ouvido - Integração total com a comunidade - Preocupação com a imagem da empresa - Suporte, cumplicidade, justiça e respeito - Qualidade de vida O que o empresário espera de seus colaboradores: - Comprometimentos com metas e objetivos - Colaboração para o aumento da produtividade - Foco no cliente com excelência no atendimento - Empreendedores que enfrentam desafios - Flexibilidade para mudanças - Bom negociador com espírito de liderança e equipe - Alinhamento com os objetivos da empresa - Criatividade e inovação na solução de problemas - Comportamento ético - Atitudes positivas - Busca permanente de novas capacitações 70 Para KOSTESKI(1999), ninguém quer trabalhar o mês inteiro apenas para ganhar dinheiro. É preciso que a pessoa goste do que faz, seja feliz e realizada para obter e atingir seus objetivos. Os funcionários, na grande maioria, consideram que para fazer algo bem-feito é preciso gostar da função. Pessoas que não vêem sentido ou não gostam do que fazem, apenas "entregam" suas tarefas. Utilizam cerca de 10% de sua capacidade de produção, mesmo que todos os focos de motivação sejam cumpridos. MOREIRA(2001) enfoca que a manifestação de qualidade de vida pode ser associada a diversas situações, como: o acréscimo básico de experiências relevantes depois que as necessidades básicas estão satisfeitas, a oportunidade de praticar atividades físicas regulares visando à saúde e ao combate ao estresse, o estabelecimento de conhecimentos necessários ao consumo de produtos e serviços culturais, ou mesmo pela construção de um estilo de vida, em que vivências interiores significativas constituemse fator de satisfação e felicidade. 6.2- Bases Motivacionais no Trabalho Os fatores facilitadores do bom relacionamento organizacional são: cooperação, proteção, inovação, auto-aperfeiçoamento e atitudes favoráveis dentro da empresa. De acordo com VIANNA(1999), a motivação é uma variável interveniente porque não pode ser vista, ouvida ou tocada, somente pode ser inferida por meio do comportamento. Em outras palavras, somente podemos julgar quão motivada está uma pessoa mediante a observação do seu comportamento. Precisamos primeiro definir operacionalmente a motivação, pois somente podemos medir seus presumidos indicadores. Se um aluno tira notas melhores que seus colegas com a mesma inteligência que os demais, dizemos que este aluno tem alta motivação, somente tendo como indicador a observação. Alguns autores afirmam que as pessoas se comportam em conseqüência de certas motivações. O administrador torna-se eficaz à medida que é capaz de compreender as razões determinantes do comportamento. RODRIGUES(1999) cita três dessas razões que são fundamentais: percepção, atitudes e mecanismos de defesa. 71 a) Percepção: é a maneira de uma pessoa experimentar ou sentir o universo. É o processo mediante o qual o indivíduo interpreta as experiências à sua volta. Sensações e estímulos de todas as espécies existem em torno de nós, mas apenas absorvemos ou vemos alguns elementos em qualquer situação. b) Atitudes: o conceito de atitude apresenta íntima relação com o de opiniões e valores; podem ser percebidas como forma de conjunto mental. Não é possível afirmar que as atitudes são necessariamente a causa direta do comportamento, outros fatores também interferem. c) Mecanismos de defesa: é um processo de comportamento adicional; mantêm o equilíbrio e a constância, relativamente ao autoconceito do indivíduo(repressão, agressão, interiorizarão, compensação, fantasia, racionalização e outros). Os fatores comportamentais no trabalho requerem algumas respostas, como: 1. Que tipos de comportamento são requeridos para o funcionamento eficaz da motivação? Segundo VIANNA(1999), todas as organizações exigirão não apenas um, mas vários padrões de comportamentos da maioria de seus membros humanos. Por outro lado, as bases motivacionais dessas várias exigências comportamentais poderão diferir. 2. Que padrões motivacionais estão sendo usados ou poderão ser usados nas organizações? Quais são as diferentes conseqüências dos vários tipos de padrões motivacionais, relativos às exigências comportamentais essenciais ao funcionamento da organização? VIANNA (1999) cita que um padrão motivacional poderá ser eficaz na produção de um comportamento necessário e completamente ineficaz para conduzir a outro tipo. 3. Quais as condições para provocar um dado padrão motivacional na organização? Para VIANNA(1999), podemos ser capazes de identificar o tipo de motivação que julgamos mais adequado para produzir um dado resultado comportamental, mas ainda 72 assim necessitaremos saber como esse motivo poderá ser estimulado ou produzido na organização. "Nós aprendemos a voar como os pássaros, a nadar como os peixes, mas não aprendemos a conviver como irmãos". (Martin Luther King) Um salário elevado não elicitaria um trabalho eficiente da parte daqueles que se sentem parias ou escravos, nem o salário baixo o impediria, em se tratando dos que se sentem parte integral de uma comunidade de homens livres. Dessa forma, a melhoria deste elemento de oferta de trabalho é uma tarefa infinitamente mais complexa e árdua do que se dependesse apenas do salário. D.H. Robertson, Economic Lucratives (1921) É possível, naturalmente, levar as pessoas a fazer alguma coisa. É isso que as recompensas, punições e outros instrumentos de controle estão preparados à fazer. Mas o desejo para realizar alguma coisa e, muito menos para realizá-la bem, simplesmente não pode ser imposto; nesse sentido, é um erro falar-se sobre motivar outras pessoas. Tudo o que se pode fazer é arranjar algumas condições que irão maximizar a probabilidade para que se desenvolvam um interesse por aquilo que fazem e renovar as condições que funcionam como coerção. Este capítulo oferece uma breve revisão daquelas condições, um sumário do que a pesquisa e a experiência sugerem como formas úteis de criar-se um meio para a motivação no trabalho. 6.3- Primeiro Passo: abolir os incentivos Desafiar a abordagem pagamento pelo desempenho, é provocar a questão: Afinal, então, como deveriam ser pagas as pessoas? O que deve ressaltar imediatamente é que 73 esta questão, embora razoável, não é nem de perto tão importante quanto a maioria dos administradores parece acreditar. Embora algum esquema alternativo para compensação tenha que ser arquitetado; nada que se proponha vai concorrer para que as pessoas fiquem motivadas. W. Edwards Dening captou o valor de meio século de experiência, observando e assessorando organizações, como segue: “O pagamento não é motivador”. Frederick Herzberg ratificou esta declaração lembrando que o dinheiro pode, não obstante, ser um desmotivador. Isto significa que os sistemas de compensação, freqüentemente atuam como barreiras para levar ao êxito da produtividade, qualidade e motivação intrínseca, mas não fazem – eles não conseguem – ajudar as pessoas a alcançar esses objetivos, isso implica que os livros que enfatizam a importância de pagar “corretamente” desviam as pessoas dos temas que interessam de fato, e os consultores, ao oferecer elaborados esquemas de compensação, estão vendendo uma relação de prêmios. Seguem-se aqui os princípios básicos que serão propostos aos responsáveis pela montagem dos planos de ação: Pague generosa e equivalentemente aos indivíduos. Faça o possível para garantir que não se sintam explorados. Então, faça tudo o que puder para ajudá-los a esquecer o dinheiro. O problema com os incentivos financeiros não é oferecer dinheiro demais para os indivíduos, ganhar um polpudo salário não é incompatível com um bom desempenho. Mais precisamente, o problema é tornar o dinheiro saliente demais. É impossível ignorar seu apelo. Além do mais, é apresentado de maneira contingente – isto é, de acordo com o princípio. “Faça isso, que obterá aquilo”. Acabar com essa prática é dar o primeiro passo – mas apenas o primeiro – para por em ordem o que está errado nas organizações. Além de pagar-se bem e com justiça, como os indivíduos poderiam ser pagos? Organizações diversas têm experimentado diferentes esquemas. Os mais ambiciosos tentam compensar os empregados na base da necessidade, ou, de outra maneira, paga-se a mesma coisa a todos. Uma abordagem menos drástica é levar em conta certos fatores, como o tempo de serviço na organização, que treinamento especial e habilidades eles tem, e o tempo que o trabalho leva para ser feito, ou quão complexo é. Se a companhia teve um ano rendoso não há motivo para não repartir esses ganhos com os empregados; afinal, foi com o trabalho deles que houve lucro. Tais recomendações concordam, em princípio, com as de Deming e, parece, com a prática da maior parte das companhias no 74 Japão e em outros lugares. Algumas das principais corporações dos EUA – uma minoria sem dúvida – estão começando a mudar nesta direção, devido a influência de Deming, ou porque há uma conscientização gradual de que o pagamento pelo desempenho é um conceito inerentemente imperfeito. 6.4- Segundo passo: reavaliar a avaliação Depois de abolir o pagamento pelo mérito, é necessário que se olhe, com rigor, para o seu primo irmão, a avaliação de desempenho. Trata-se de um extenuante ritual anual pelo que os empregados são classificados, valorizados, ou julgados de outra forma – uma tradição que deveria ter sido retirada há muito tempo, considerando-se quão enganadores são seus resultados, e como se pode predizer o ressentimento que gera e que impede a cooperação. Assim, o que fazer em vez disso? Em vez de ficar apenas procurando por alguma técnica nova, seria melhor começar a perguntar por que as pessoas estão avaliadas. Freqüentemente, as mudanças em procedimentos implementados não têm um impacto duradouro, porque nunca se pára a fim de refletir sobre a questão dos objetivos e motivos. Neste caso, alguns críticos sugeriram que seja mantida a avaliação de desempenho, dado que é “um instrumento eficaz para controlar os empregados”. Outros argumentam que seu valor consiste em permitir aos superiores substituir a responsabilidade pela solução de problemas para seu subordinado. Qualquer que seja a exatidão desses encargos, as avaliações de desempenho são, na maioria dos casos, comumente defendidas com o pretexto de que são necessárias para: 1- determinar quanto cada empregado ganha, ou quem receberá vários prêmios e incentivos; 2- fazer com que os empregados tenham um desempenho melhor, por medo de receber uma avaliação negativa ou na esperança de obter uma positiva; 3- classificar os empregados na base da qualidade do trabalho que estão fazendo, para que se escolha quem promover; ou 75 4- proporcionar uma retrospectiva, discutir problemas e identificar necessidades para auxiliar cada um dos empregados a terem um melhor desempenho. Já foi discutido, até certo ponto, que a primeira e a segunda justificativas não têm sentido, dado que os planos de pagamento pelo desempenho, são contraproducentes. O terceiro motivo levanta uma quantidade de questões complexas, sendo satisfatórios, aqui, apenas dois parágrafos sobre o assunto. Com respeito à promoção, admite-se que uma organização deve ser construída como uma pirâmide, com muita gente clamando por bem poucos, muito poucos empregos desejáveis e lucrativos no topo, como se tal estrutura tivesse sido decretada por Deus. De fato, tanto a quantidade de tais posições que são utilizáveis, como o número de pessoas que as querem são o resultado de decisões inconstitucionais. É criado um clima que leva os empregados a sentirem-se fracassados se não forem promovidos, além de que a maioria das ocupações são planejadas de tal forma que aqueles que as executam recebem pouco dinheiro e pouca responsabilidade. Se fosse para mudar tal situação, a luta competitiva por promoções poderia ser facilitada, e haveria a obrigação de repensar todo o problema sobre quem faz o que numa organização. Mesmo dentro dos critérios da estrutura hierárquica, o uso dos elogios pelo desempenho para decisão das promoções é baseado em três suposições dúbias: primeira, que a realização de um indivíduo em seu trabalho de praxe é um indicador confiável de seu desempenho em outra posição bem diferente; 6.5- Terceiro passo: Criar as Condições Para a Motivação Autêntica Alan S. Blinder, economista da Universidade de Princeton, editou recentemente uma antologia de pesquisas intitulada Pagando-se pela produtividade: um olhar para a evidência.Ele resumiu suas descobertas como segue: 76 “A mudança da maneira de se tratar os trabalhadores pode fomentar mais a produtividade do que a notificação da forma de serem pagos” Isto faz sentido porque, tratando-se adequadamente os trabalhadores, dá lugar a que fiquem motivados; e a motivação, por sua vez, impulsiona a produtividade. Se a motivação e a produtividade são, em resumo, supridas nos locais de trabalho, é porque deve existir algo a ver com a forma dos trabalhadores serem ali tratados. Quando se pede aos empregados para descreverem quais as condições de que necessitam, ou quando se pede a administradores sensatos e experientes que descrevam as condições que tentam criar, surgem variadas sugestões. Mas há uma substancial coincidência entre as idéias, um consenso de que aqueles que ocupam cargos administrativos deveriam falar sobre os seguintes pontos: Vigiar: Não mantenha os empregados sob vigilância; procure problemas que necessitem ser resolvidos e ajude as pessoas a resolvê-los. Ouvir: Dê toda a atenção com seriedade e respeito para os interesses dos trabalhadores, e tente imaginar como situações variadas podem dar ponto de vista dos mesmos. Falar: Forneça bastante retrospectiva informativa. As pessoas precisam de uma oportunidade para refletir sobre aquilo que estão fazendo corretamente, para aprender o que é necessário para melhorar e para discutir como melhorar e para discutir como mudar. Pensar: Se o estilo administrativo usual de alguém consiste em utilizar motivadores extrínsecos, controlar o comportamento das pessoas, ou simplesmente exortá-las a trabalhar diligentemente e a ficarem motivadas, vale a pena pensar cuidadosamente sobre o impacto, a longo prazo, dessas estratégias.Também vale a pena perguntar de onde elas provêm.A preferência para se usar o poder nas relações interpessoais, ou uma relação para ser controlado pelos seus próprios superiores, levanta temas que exigem atenção. 77 Acima de tudo, o administrador empenhado em assegurar que as pessoas sejam capazes e queriam fazer o melhor que puderem, precisam prestar atenção a três fatores fundamentais que poderiam ser chamados de os “três Cs” da motivação, a saber: a colaboração, que define o contexto do trabalho, o conteúdo das tarefas e a extensão em que as pessoas têm alguma escolha (choice) sobre o que fazem e o que fazem. 6.6- Conteúdo Mesmo no ambiente de trabalho com as mais esclarecidas práticas imagináveis de administração, incluindo uma ênfase na cooperação, os empregados não ficarão motivados se o que estão fazendo todos os dias não tenha interesse para eles. “Preguiça, indiferença e irresponsabilidade são respostas saudáveis a um trabalho absurdo”, disse HERZBERG. Em outra parte qualquer publicou este desafio para os executivos: “se você quer pessoas motivadas, dê-lhes um bom trabalho para fazer”. Esse ácido aforismo aponta o caminho para se fazer um progresso revolucionário nas vidas de trabalho das pessoas. O que é um bom trabalho? Partindo-se de aspirações mais altas: seu lado positivo é oferecer uma oportunidade de envolvimento com um trabalho significativo. O senso de se fazer algo que se interessa, não é o mesmo que sentir uma motivação intrínseca. Não se trata exatamente de que o processo de trabalhar proporcione alegria mais que o produto resultante (ou o serviço fornecido) parece valer a pena e é até importante, talvez porque constitua uma contribuição a uma comunidade mais ampla. Mihaly Csikszentmihalyi, que despendeu muito de sua carreira descrevendo o puro prazer de suas experiências que “fluem”, sugere que além de tal alegria, “deve-se, ainda, perguntar: “Quais são os resultados dessa atividade específica? ”A questão não é exatamente “Ainda estamos nos divertindo?”, mas sim “Importa o que estamos fazendo?”. Se todas as ocupações que não alcançaram este padrão fossem eliminadas, uma incrível quantidade de empregados seria despedida. Segundo o A., estas suas propostas servem para uma ampla reflexão, uma luz a indicar o caminho para se pensar sobre o 78 real valor do que se faz. Há trabalhos cuja falta de significado tem implicações morais óbvias, mas isso também diz respeito, em última análise, ao problema da motivação; a maioria das pessoas que tem a oportunidade de envolver-se num trabalho significativo para elas, fica profundamente empenhada em fazê-lo. (...) mesmo consiste – o conteúdo, não meramente no contexto. A motivação é tipicamente mais elevada quando o trabalho oferece uma oportunidade para o indivíduo aprender novas habilidades, para experimentar alguma variação nas tarefas e para adquirir competência. Indivíduos diferentes, não é preciso dizer, preferem diferentes níveis de desafio e uma proporção variável entre a previsibilidade e a inovação. Mas os pontos básicos são basicamente universais. HERZBERG, de novo, explica bem isso: “Os administradores não motivam os empregados dandolhes salários mais altos, mais benefícios ou novos símbolos de status. Os empregados, ao contrário, estão motivados pelas suas próprias necessidades intrínsecas para serem bemsucedidas numa tarefa difícil. O trabalho do administrador, então, não é motivar as pessoas a alcançarem um objetivo; em vez disso, ele deveria criar oportunidades para que elas realizassem, de maneira a ficarem motivadas.” Como é possível proporcionar tais oportunidades? São vários os meios para se atingir esse objetivo desde fazer ajustes relativamente pequenos em dada organização, num dos pólos de um continuum, e no outro, trabalhar por uma revisão do sistema econômico. A mudança mais fácil para o administrador é, sempre possível, deixar as pessoas trabalharem nas tarefas que, mais provavelmente, achem interessantes. Por isso, se entende que se devem contratar os empregados (e recontratá-los) não apenas segundo as informações de seus currículos sobre aquilo em que são mais qualificados, mas também na base do que eles gostam de fazer. Terão, assim, uma oportunidade de experimentar vários trabalhos numa organização, até que se encontre um mais adequado, permitindo-lhes transferir-se periodicamente para manter seus interesses em alerta. Conforme observaram os teóricos em administração Richard HACKMAN e Greg OLDHAM: 79 “Quando as pessoas combinam com seus trabalhos, raramente é preciso forçar, coagir, subornar ou utilizar ardis para que os desempenhem bem. Isso porque, sendo assim, procuram ter um bom desempenho, que lhes é recompensador e satisfatório agir assim.” Um passo mais difícil, mas também mais significativo, é reestruturar as tarefas de modo a ficarem mais interessantes para as pessoas. (Poucos empregados, afinal de contas, desejariam ser indicado para tarefas enfadonhas , nada estimulantes.) “A motivação freqüentemente pode ser intensificada aumentando-se os níveis de responsabilidade, de significado e da retrospectiva, que se revelam nos trabalhos” Segundo afirmam Hackmam e Oldham. A receita para tanto inclui garantir que o trabalhador tenha algum conhecimento dos resultados do que está fazendo, que sinta responsabilidade por tais resultados e veja o trabalho como tendo valor (pelo menos no sentido de oferecer a chance de utilizar várias habilidades). Fazer tais mudanças no conteúdo do trabalho é decisivo, afirmam esses autores, porque “a motivação em jogo pode realmente ter mais a ver com a maneira das tarefas serem planejadas e administradas, do que com as disposições pessoais daqueles que as desempenham” – ponto de vista esse que entra diretamente em conflito com a tendência de acusar os indivíduos quando algo vai mal. Mas essas mudanças, bem-vindas como poderiam ser, ainda deixam empregados com ocupações que, por sua própria natureza, parecem ser desprovidas por interesse. O que pose ser feito com um trabalho intrinsecamente tedioso? Uma resposta oferecida irrestritamente por alguns reformadores sociais é aceitar o conteúdo dessas tarefas como uma oferta, e insistir em que as pessoas que as realizem recebam um ganho maior. Isso, para “A” , é insatisfatório, dado que seu interesse em que os empregados sejam 80 adequadamente pagos não deve diluir o problema de como sua qualidade de vida no dia-a-dia possa ser melhorada. Isto chama a atenção para o conteúdo do trabalho, o qual pode ser novamente atacado em dois níveis - mudar o esquema de trabalho, a fim de minimizar a monotonia, e efetuar uma transformação social em larga escala. Uma resposta comedida é distribuir os serviços mais ou menos como eles são, e tentar fazê-los o mais agradável. Há ainda a estratégia para alcançar tal fim, a qual inclui o reconhecimento, com toda a franqueza , de que a tarefa pode não ter graça, de que se pode oferecer um significado racional para fazê-la seja como for (em termos de seus efeitos indiretos, por exemplo) e de se proporcionar o maior número possível de escolhas sobre como desempenhá-la. Outra pesquisa, da psicóloga Carol Sansone, descreveu como as pessoas “regulam suas motivações para desempenhar suas atividades necessárias através do tempo,” aumentando artificialmente o nível de dificuldade para mantê-las interessantes, acrescentando a variação sempre que possível, e atentar á informação eventual sobre a tarefa. (Aqui, é claro, a obrigação recai sobre aquele que faz a tarefa para fazê-la parecer mais atraente na realidade.) Um sociólogo, estudando um grupo de coletores de lixo em São Francisco descobriu que a maioria deles estava bastante satisfeita com seu trabalho graças à maneira que o mesmo – e a companhia – era organizado. As relações entre os homens eram ressaltadas, as tarefas e os itinerários eram “suficientemente variados para quebrar a monotonia da rotina do trabalho” e a companhia ra montada como uma cooperativa, o que significa que cada trabalhador possuía uma cota do negócio e sentia um “orgulho pelo título de proprietário”. Naturalmente, é prematuro presumir que certas categorias de trabalho são inerentemente pouco atraentes e serão prosseguidas apenas por razões extrínsecas. A resposta radical a este problema, em primeiro lugar, é a necessidade de levar as pessoas a fazer um trabalho detestável. Parecia que algumas tarefas que são ainda mais desagradáveis que a coleta de lixo, simplesmente não podem ser evitadas. Mas o que interessa aqui são os trabalhos que não têm que ser feitos para que a sociedade funcione, aqueles cuja existência reflete a premissa do sistema econômico, no qual, se alguma coisa vende, tem valor por definição, e deveria ser produzida. Os alimentos de conveniência ou aparelhos de luxo deveriam ser produzidos para o consumo, se os custos humanos de seu preparo ou da montagem são árduos? A resposta pode ser sim, 81 mas a pergunta tem que ser feita. Se o assunto é raramente ventilado, é, em parte, porque muitas pessoas são forçadas a escolher entre tais serviços ou não trabalhar. Uma escolha enquadrada não pela “vida”, mas pelo sistema econômico vigente. Essas pessoas têm que ser gratas por encontrarem algum emprego, não importa o prejuízo físico ou psíquico acarretado por tais tarefas. Evidencia-se aqui o seguinte: quem usufrui o trabalho que entorpece a mente de quem o faz – são os que descongelam elaborados pratos, sem cogitar na vida daqueles seres invisíveis que labutam oito horas exaustivas e repetitivas por dia para fazê-los – é porque alguém tem que fazê-los. A aguda discrepância entre os que têm e os que não têm reflete-se aqui; para estes, cabe o trabalho desinteressante. Sob outra perspectiva, poder-se-ia dizer que os ganhos que coletivamente cabem aos consumidores perdem-se quanto aos produtores: os primeiros têm suas prateleiras repletas de coisas boas, enquanto os outros levam suas vidas vazias de trabalho significativo. O ponto central, porém, em qualquer discussão séria sobre a motivação intrínseca, e especialmente sobre o papel do conteúdo das tarefas, com certeza é lembrado o contexto social. Se o trabalho tem que ser melhorado, é preciso, em primeiro lugar, que se torne suportável para aqueles que agüentam sofrimento em seus corpos, mentes e espíritos, em favor da conveniência dos outros. A noção de motivação é utilizada pelos psicólogos, mas também o é por engenheiros, administradores de empresas, organizadores e psicossociólogos. E é às vezes reservada à psicologia dos indivíduos, às vezes estendida à psicologia dos grupos, das coletividades ou das massas. Mas o que reúne, porém, os diferentes usos do termo é a orientação implícita numa tentativa: a preocupação com a generalização da objetivação, ou mesmo a quantificação. A noção de desejo foi escolhida precisamente como contraste. Sua conotação literária, que lembra a psicologia amorosa do século XIX, a repugnância que ela causa aos homens de ciência, experimentalistas e sociólogos, designam muito naturalmente o desejo como um instrumento de um desafio ou de uma provocação. Além do que pode haver de anedótico nesta contradição, a noção de Desejo é geralmente utilizada numa tentativa que dá absolutamente as costas à generalização para privilegiar o ponto de vista subjetivo, entendendo-se com isto o ponto de vista do Sujeito com S maiúsculo. 82 Dever-se-ia, então, renunciar a opor Motivação e Desejo e procurar antes estabelecer pontes entre as duas noções, ou talvez entre os dois conceitos? Numerosos autores, inegavelmente, quiseram responder a esta questão pela afirmativa. Quer se trate de ecletismo, de tolerância ou de tentativa científica, implicitamente, extrai-se sempre dessa opção a idéia de uma relação de inclusão: o Desejo seria um subconjunto da Motivação. A Motivação poderia ser uma produção do Desejo, ou o Desejo seria o cerne da Motivação, ou ainda mesmo, o Desejo seria a parte inconsciente e oculta da Motivação, “a parte imersa do iceberg”. 6.7- A Motivação Seria inábil da parte de um clínico querer definir a Motivação ou debruçar sobre o conteúdo deste conceito, ainda mais que uma síntese exaustiva seria embaraçosa. É apenas sobrealguns pontos que se faz insistir para introduzir a discussão. O conceito de Motivação não é admitido por todas as teorias behavioristas e neobehavioristas, que não têm necessidade deste conceito para explicar comportamentos, sua extinção ou seu reforço. Da mesma forma, supondo que pudesse considerar a psicanálise como fazendo parte da psicologia, é preciso admitir que a motivação não é um conceito psicanalítico, porque ela é estranha tanto para a teoria quanto para a clínica. A motivação tem sido alvo de muitas discussões. No campo clínico, quando se estudam as doenças como a depressão e o Transtorno Afetivo Bipolar (oscilação entre a depressão e a euforia). Na educação, voltada para os processos de aprendizagem. Na vida religiosa, quando se tenta compreender o que motiva alguém a ter fé numa determinada crença. E, nas organizações, buscando obter um maior rendimento dos profissionais que formam o quadro de uma corporação. Algumas explicações relativas à motivação apresentam-se sob reflexões filosóficas, como a concentração de nossa existência no momento presente, desprendendo-se, grosso modo, das idéias passadas e do porvir, que roubam as energias, além de causar frustração mediante a sensação de baixa realização na vida. Com base em outras proposições é possível compreender a 83 motivação como resultado da busca pela satisfação das necessidades e desejos naturais do ser humano. Tal fato mobiliza a pessoa a agir, com determinado empenho, na busca de atingir os objetivos pessoais. Sob outra ótica, o ser humano carrega consigo variadas potencialidades, que, em contato com o meio adequado, desencadeiam o desejo em realizar ou empreender. A motivação é acionada através desta combinação entre a predisposição e a adequação do meio em que se vive. Deve-se, ainda, lembrar o fato de a motivação estar associada a fatores orgânicos, em cuja fisiologia, a função química determina os resultados. E, também, os aspectos de ordem psíquica e social, que podem causar efeitos motivacionais ou não. Ou ainda, o equilíbrio entre ambas as esferas. Estudos sobre a motivação definiram algumas teorias e estabeleceram métodos para o campo da aprendizagem. O Comportamentalismo dá ênfase no controle educacional, referindo-se ao tipo de reforço que se dá para uma pessoa. Oferecer algo interessante como resposta a um comportamento adequado é capaz de motivar, mantendo inclusive, a freqüência deste mesmo comportamento. De outro lado, há contestação sobre o Comportamentalismo, definindo-o como um método limitador, tendo em vista uma resposta comportamental que ocorre apenas mediante uma proposta de reforço. Portanto, defende-se a idéia de estimular o ser humano de forma intrínseca, ou seja, de dentro para fora. Desta forma, não se cria a limitação imposta por reforços externos. Em breve reflexão pode-se perceber a importância de todos os pontos de vista, uma vez que a motivação deve ser espontânea. Por outro lado, o ser humano, de um modo geral, necessita de um estímulo externo para sentir-se motivado. O equilíbrio entre a motivação interna e externa deve ser a base na educação infantil e na reeducação do adulto. Em suma, a complexidade existente na motivação, encontrada na realização do viver com maior intensidade no momento presente, a satisfação das necessidades e desejos naturais, a adequação ao meio em que se vive, as condições orgânicas, a educação e os fatores psíquicos, determina a quantidade e a qualidade em se empreender qualquer tipo de tarefa pelo ser humano. Portanto, ao considerar a motivação, faz-se necessária uma profunda reflexão acerca de suas bases, e não são poucas, e, ainda são, em sua maioria, estruturas potentes e enraizadas. A motivação determina o fazer, tornando-se o elemento chave para os resultados de várias propostas de vida, e, em particular, a obtenção da qualidade nos programas de 84 excelência que muitas organizações objetivam introduzir, e, ainda mais difícil, conseguir a sua manutenção. As técnicas de um programa de Qualidade Total são claras, e, teoricamente, são estimulantes, prometendo melhorias de várias ordens. Contudo, na prática, funcionam a partir do comprometimento das pessoas, ou seja, da motivação que deve permear o programa. Comprometer-se com a qualidade nos processos produtivos depende do grau de motivação que está presente ao se praticar, de dentro para fora, intrinsecamente. O que leva o ser humano a se motivar, voltando o seu foco para a busca da qualidade? De que maneira o comprometimento ocorre nas pessoas? Se as organizações considerarem apenas a obrigação e a obediência de seus colaboradores, as técnicas e procedimentos da norma ISO 9001:2000 e seus termos internos, ainda que haja boa vontade por parte da direção, poderá ocorrer enorme dificuldade em fazer funcionar a implementação ou a manutenção de um programa de Qualidade Total. Faltará o essencial, pertinente ao recurso humano: a motivação. Ela não consegue ser acionada apenas pelo vislumbramento das possibilidades futuras, ainda que algumas ocorram em curto prazo. Cada vez mais, percebe-se o surgimento de uma nova necessidade na vida organizacional: levar-se em conta os aspectos sutis do capital humano. O lado sutil dos colaboradores. A sua singularidade, sem perder de vista o comunitário. As suas emoções, aliadas à inteligência racional. A sua forma de aprender, em parceria com os demais de convivência. A integração que gera sinergia e motivação. Os novos tempos demandam mudanças na gestão das pessoas. Novos conceitos como a visão holística, deve fazer parte da cultura organizacional, e não apenas como um instrumento a serviço de necessidades específicas. O ser humano precisa encontrar o seu verdadeiro espaço na dimensão profissional. Ele deve sentir a sensação de pertencimento no todo, e não uma peça que compõem a máquina. Para tanto, a liderança deve se preparar para servir, e não apenas ser servida. Os líderes e não somente chefes, localizados estrategicamente, são fundamentais neste processo. Eles atuam como facilitadores, que percebem as individualidades de seus seguidores, canalizando-as em prol da equipe, que por sua vez, dirige a sua energia partilhada para o todo da organização. Nesta perspectiva, as pessoas percebem-se ouvidas e compreendidas, alargando o canal de comunicação, fator resultante do respeito e da motivação que se instala naturalmente neste tipo de relação 85 humana. A forma de aprender e assimilar as mudanças, incluindo-se os programas de qualidade, torna-se parte da cultura da organização, a qual, sofre as transformações necessárias, com menor dificuldade, além de gerar possibilidades de maior êxito. Estimula-se o desenvolvimento motivacional contando com a força intrínseca e extrínseca. Percebe-se o corpo e a alma das pessoas. A sua totalidade é bem vinda na vida profissional. Nota-se que os aspectos sutis, sendo observados e respeitados, são a base para uma nova compreensão acerca de si mesmo e sobre o todo. A qualidade de vida desenvolvida nas questões mais simples, e de baixíssimo custo financeiro podem formar a estrutura que se tornará o terreno fértil para a geração de um programa de Qualidade Total. Será, então, um processo natural, que faz parte do jeito de se sentir internamente de cada colaborador. Encontra-se a coerência: qualidade interna, motivadora da qualidade externa. De um modo geral, expressamos externamente o que somos por dentro, na essência. Podemos até disfarçar em alguns casos. Todavia, acabamos por demonstrar o que sentimos e pensamos. Nos influenciamos pela vida interior e a representamos externamente. E, também, nos “alimentamos” do mundo externo, o qual também exerce ascendência no mundo interno. Por todos estas razões, oferece-se ao ser humano o que o termo motivação tem de essência: motivos ou causas; determinação para a conduta de um indivíduo. Tais elementos, se considerados no todo de cada pessoa, torna-se um hábito, que servirá de modelo para todos os projetos que venham a se apresentar no cotidiano. Um paradigma mais adequado. Motivação, ainda que complexa, é inerente ao ser humano, devendo ser cultivada por uma compreensão profunda a respeito das características naturais de existência. O seu desenvolvimento é básico para que as mudanças encontrem abrigo consciente e legítimo. A qualidade é desejada a medida em que a motivação, decorrente dos resultados combinados em sua base, venha de dentro para fora e se harmonize com qualquer regra ou conduta externa, que servirá, apenas como orientadora para algum processo, nada mais do que isso. São a mente e o coração que determinam a vontade de realizar algo, e, não, pelo menos na essência, a norma escrita e a imposição que o fazem. Motivar para a qualidade, portanto, está na base do ser humano, na sua essência. Naturalmente, e em combinação com objetivos comuns, é possível haver espaço para novos projetos, além de assegurar eficácia nos resultados. A motivação para o 86 comprometimento das pessoas a um programa de Qualidade Total encontra-se mais no fundo do que na forma. Ela é viva e não apenas palavra morta. Segundo BURKARD SIEVERS(1984) os chamados dados científicos e conhecimentos acumulados nos últimos vinte e cinco anos sobre os temas motivação e liderança nas organizações tornam-se cada vez mais preocupantes. Tais teorias, não confirmam sua observação prática e experiência de trabalho adquirida com pessoas em organizações. O mesmo não consegue esconder seu desapontamento, depressão e insatisfação diante dos enfoques teóricos dados particularmente à motivação além de estar também convencido de que não pode superar suas próprias frustrações ao tentar melhorar tais enfoques, por mais sofisticados que sejam. As principais ressalvas que BURKARD SIEVERS(1984) faz quanto às teorias motivacionais no contexto atual de trabalho em empresas podem ser resumidas am cinco pontos básicos, a saber: a) O contexto da motivação é limitado a uma microperspectiva e favorece explicações causais. Tanto em conceituações genéricas como em uso científico, os conceitos de motivo e motivação parecem apoiar-se em aspectos psíquicos ou biológicos. Dessa forma, os motivos não são apenas parte do mundo interior de um ser humano, mas em seu mundo exterior estão somente relacionados com parte da totalidade do indivíduo, ou seja, seu comportamento. Assim sendo, a motivação pode ser colocada como a tentativa científica de se estabelecer uma relação causal entre motivos e comportamento, na medida em que este último é determinado pelos primeiros. Embora durante as últimas décadas o conceito de motivo tenha mudado de “instinto” para “necessidades” ou “realizações”, os teóricos da motivação ainda parecem estar muito mais preocupados com a busca de explicações científicas do que levar adiante imagens, analogias ou metáforas que permitiriam uma melhor co0nceituação e entendimento das pessoas e de suas ações(MINER E DACHLER,1973). As teorias sobre motivação parecem apoiar uma certa “esquizofrenia” por se basearem exclusivamente na metáfora de uma vida sem metáforas(JOHNS,1982). 87 b) A motivação como tópico deixou de ser um conceito científico para ajudar a entender o homem e sua constituição individual e transformou-se em um instrumento pragmático para influenciar o comportamento humano. No caso particular de Freud, muitas vezes visto como o primeiro psicólogo a referirse a motivação, parece evidente que suas tentativas científicas de explicar o ser humano foram direcionadas especificamente para um entendimento mais consciente das pessoas, principalmente daquelas que se submetiam à psicanálise. Considerando-se esta crescente auto-explicação, podemos afirmar que, dentro do contexto administrativo e teórico-organizacional, a motivação foi convertida em um instrumento de invasão, manipulação e controle, através do qual dirigentes ou aqueles que foram por eles legitimados podem provocar determinado tipo de comportamento em seus subordinados. Uma melhor compreensão da motivação dos empregados tornaria então possível aos dirigentes conseguir se seus subordinados determinado tipo de comportamento. Como tal, a motivação, encarada como uma aparente atividade científica, tem sido usada em larga escala como substituto don poder e da coação e que eram anteriormente os meios predominantes de influenciação. Da mesma forma, uma vez que a motivação é vista como um dos (senão for o único) elementos essenciais da abordagem administrativa, os teóricos em motivação estão reforçando a convicção de que as pessoas podem apenas motivar a si mesmas e que as outras, somente de forma muito indireta e limitada, são capazes de permitir tal automotivação via administração de tarefas, fatores periféricos e outros recursos usados pela empresa, parece ser totalmente insustentável. c) As teorias motivacionais perderam o caráter mais abrangente de preocupação com as pessoas e as organizações devido às tendências comportamentalistas dominantes. A busca de objetividade e racionalidade sobre a qual as tentativas dos teóricos da motivação estão primordialmente baseadas não só caminha de mãos dadas com um reducionismo psíquico e organizacional mas também acentua ainda mais a redução do 88 relacionamento entre as pessoas e trabalho nas organizações a preocupação exclusiva de como o balanceamento entre indivíduos e organizações pode ser otimizado d) As teorias motivacionais reduzem a complexidade da realidade social à preocupação única de satisfação e eficácia. O supracitado reducionismo psíquico e organizacional é reforçado pela suposição básica de que o alvo principal e predominante de nossas organizações de trabalho contemporâneas consiste no aumento crescente da eficácia no trabalho. Tal tipo de objetivo pode ser mais facilmente alcançado quando os indivíduos com alto nível de desempenho estejam recebendo um máximo de satisfação por suas contribuições. A pressuposição da eficácia organizacional reduz o papel do indivíduo na empresa a um fator concreto do processo econômico e trabalhista que pode ser facilmente classificado como “ recurso humano” e, como tal, pode ser tratado em manual administrativo (ODIORNE, 1984). O conceito de satisfação individual parece negligenciar os interesses daquilo que, por exemplo, MASLOW (1954) certa vez classificou de “metapatologia”: uma patologia gerada por um tipo de satisfação desprovida de quaisquer valores, significado e plenitude de vida. Em lugar de relacionar a imagem do homem às suas próprias fontes, os enfoques científicos aparentemente dominantes relacionam o homem à máquina. Ele chega a se ver como uma de suas mais sofisticadas produções, explicando-se a si próprio como uma máquina e um produto. Como WISNER (1994) afirma: “As pessoas produzem bens e, dessa forma, se transformam em produtos. As pessoas vêm existindo de forma diretamente relacionada ao sistema de produção à troca de bens de consumo”. Estou convencido de que a noção de motivação é uma invenção e que a realidade social e a imagem do homem que sublinham as teorias motivacionais predominantes acham-se baseadas na ficção. Elas não são aparentemente latentes, mas também continuamente perpetuadas nas teorias organizacionais contemporâneas e nas suas 89 aplicações em empresas. Não pretendo apresentar um tratado filosófico sobre o sentido, mas parece, no entanto, inevitável que se enxergue além das falhas e atalhos mais evidentes da explicação científica predominante de nossa realidade social contemporânea a fim de que seja alcançada uma maior compreensão sobre o trabalho e seu respectivo sentido para os indivíduos. A meu ver, a imagem do homem motivado é somente uma versão concretizada do consumidor como um dos papéis do homem em nossa sociedade e dentro, de uma colocação simplista e não científica, reforça o processo de fragmentação de nossa sociedade contemporânea. Esta fragmentação baseia-se na dicotomia dos indivíduos e instituições, processo pelo qual tanto um quanto outro são destruídos e dispersos em pequenos fragmentos sem mais qualquer relação entre si. A fragmentação do mundo é multiforme. No que se refere o indivíduo, a realidade mão vem sendo apenas fragmentada em áreas sócias, políticas ou privadas. Estamos acostumados a participar de uma ficção em que nossos pensamentos, ações, experiências e emoções não podem mais ser inter-relacionados e conectados, não sendo mais inerentes ao indivíduo. Nossas instituições estão fragmentadas e, de várias maneiras, estão também fragmentando nossas experiências. Em nossas sociedades ocidentais somos tentados a confirmar a ficção de que nossa vida privada nada tem a ver com nossa vida social ou política, o que limita o indivíduo a uma visão que ele não usufrui na prática diária, conseqüentemente entrando em conflito com seu mundo interior. A maioria de nossas organizações , não se caracteriza apenas pela constante separação entre administradores, gerentes e trabalhadores, mas existe também, ao mesmo tempo, uma divisão fundamental de autoridade, responsabilidade, habilidade, conhecimento e até de atividades. Apesar do mito político de que todos os homens são iguais, alguns parecem mais iguais que os outros. De todos os membros de uma organização, apenas alguns devem ter autoridade, ser responsáveis e ter necessárias habilidades e conhecimentos, sendo, portanto, tidos como ativamente comprometidos com os objetivos da organização. Na realidade, essa dissociação pode ir muito mais longe e no sentido de que os membros de uma organização parecem comportar-se de acordo com a crença implícita de que somente alguns têm tudo e que a maioria não tem nada. Do ponto de vista psicanalítico, acredita-se que aqueles que estão no topo sejam 90 tidos como oniscientes e onipotentes e, por conseguinte, todos os demais sejam ignorantes e impotentes. Essa divisão fundamental de nossas organizações não é uma característica exclusiva do sistema social. Ao mesmo tempo, está inter-relacionada, legitimizada e perpetuada por um processo psíquico e bastante complexo de introjeções e projeções do mundo interior de todos os membros da organização. Os do topo olham para os da base e pensam que estes não são suficientemente potentes, ou ainda que são muito passivos para se autogerirem. Isto leva a uma realidade de ordem psíquica na qual os que estão no topo lidam com suas próprias inadequações, fraquezas, interdependência, passividade e impotência, Projetando-as nos outros. Ao mesmo tempo, essa projeção por parte daqueles que estão no topo está relacionada ás suas próprias introjeções de força, potência, singularidade e atividade que são por eles atribuídas. A confusão disto decorrente também afeta os chamados empregados ou trabalhadores. Através da projeção parecem perder a própria força da qual se utilizam em larga escala em seus outros relacionamentos fora da organização e, ao mesmo tempo, introjetam todos os aspectos negativos da organização. Por fim, perdem a auto-estima e o respeito próprio. Diante da contínua fragmentação do trabalho em nossas organizações contemporâneas, as atividades humanas dos trabalhadores são cada vez mais e mais reduzidas ao mínimo componente, percebendo que a própria noção do trabalho em si foi também convertida em cargos e o desempenho nestes. As fontes financeiras que permitem viver, assumindo-se, assim, o papel de consumidor. Freqüentemente, parece que a principal vantagem que o emprego traz é evitar o desaparecimento total dos papeis desempenhados por cada um, garantindo o inter-relacionamento de papel pela confrontação com o vazio que domina a experiência do desemprego (NOVAK, 1970). Não há duvida de que em oposição às teorias motivacionais, encorajadas por suas limitações e simplificações, existem crescentes tentativas e preocupações em a desvalorização do trabalho nas organizações industriais. Cada vez mais a questão da qualidade do trabalho está sendo ampliada e dirigida para a busca da qualidade devida no trabalho, com dupla intenção por parte das organizações: 91 1)a de oferecer um trabalho qualificado ao invés de um cargo e; 2)a de relacionar, uma vez mais, o trabalho ao indivíduo e sua vida e não somente às 38 ou mais horas semanais durante as quais se acha empregado. O que não parece ainda fazer sentido, apesar de todas essas buscas tão ambiciosas, é o fato de que o trabalho e a vida no trabalho não são fins em si mesmos, mas aspectos de uma entidade muito mais ampla, ou seja, a própria vida de um indivíduo. e) A Psicodinâmica da vida organizacional Como o sentido foi perdido e com ele a capacidade ou qualidade do significado como fonte coordenadora e integradora das ações e de suas respectivas interações com os outros, o tema “motivação” teve que ser inventado. Através da motivação, a falta de motivo de trabalho é substituída ou traduzida pela seguinte questão: “Como é possível conseguir-se que as pessoas atuem e produzam sobre as condições na qual elas normalmente não estariam motivadas a trabalhar?. O problema não diz a respeito à degradação do homem ou da mulher, mas sim as dificuldades geradas pelas reações conscientes ou inconscientes diante da degradação”. (BRAVERMAN, 1974). Com a perda do sentido do trabalho o mundo interior do trabalhador também se fragmenta, ou então acaba sendo visto como fragmentado por ele mesmo, por seus colegas e superiores. Como os indivíduos não são mais capazes de reunir os pequenos fragmentos de seus próprios mundos e não tampouco aqueles do mundo exterior, do seu posto de trabalho e da organização, torna-se necessário desenvolver e utilizar modelos mecanicistas para suplantar esta fragmentação e o caos ameaçador que vem a ser a conseqüência final. A motivação transforma-se na estrutura do caos, a partir desta situação, projeta-se automaticamente nos trabalhadores. 92 A busca de novos conceitos que ofereçam espaços suficientes para as nossas percepções, pensamentos e experiências inclui a noção de que o significado tem que ser necessariamente descoberto. Uma compreensão do sentido como uma graça de Deus ou como a essência da existência tem que ser aceita e, obviamente ainda, compartilhada pela maioria de nossa sociedade contemporânea. Não há dúvida de que entre os significados oferecidos por inúmeros produtores e mercadores a bons e maus frutos ou, na terminologia, existem significados de várias qualidades, assim como existem diferentes sucedâneos. Voltando-se novamente ao tema principal e que diz respeito ao significado, torna-se claro que para o entendimento do papel do trabalho é preciso levantar a questão fundamental da natureza de uma vida útil. Essa questão vai muito além do tema com que se preocupam os teóricos da motivação e administradores que a isto especialmente se dedicam. Quando responde à pergunta de como o trabalho pode ser considerado útil, estão se preocupando sobretudo com o supérfluo e com a aparência do trabalho, em lugar da utilidade psicológica do trabalho em si mesmo: As explicações e modelos que as teorias de motivação apresentaram até agora não mudaram a relação entre o trabalho e a vida e nem contribuíram para melhor compreensão da relação entre os dois. Como já afirmei antes, minha preocupação neste ensaio é compreender e elucidar as contínuas tentativas de construir e destruir o significado em nossas organizações de trabalho contemporâneas. Identificar aqueles cientistas sociais e administradores que inventaram e preservaram o conceito da motivação e as teorias motivacionais como sendo os principais agentes destruidores seria como acusar os fabricantes de armas do imenso horror da guerra. Uma vez que não admitimos que aquilo que é descrito como o processo de fragmentação e divisão fundamental em nosso mundo exterior, em nossas empresas e sociedade esteja também sendo continuadamente apoiado e perpetuado pelos mecanismos do nosso mundo interior, pelas nossas tendências individuais de discriminar aqueles da base, departamentalização de nossas próprias tendências individuais de discriminar aqueles do topo e aqueles da base, pela departamentalização de nossas próprias atividades em pequenos pedaços não relacionados entre si e pela negação da finitude de nossas existências, não podemos esperar realmente algum 93 avanço no sentido da reconstrução do significado. Quanto às chances de se superar essas fragmentações e a necessidade de mudança. C.G.JUNG(1977) deixa bastante claro que: “é o indivíduo de per si que a experimentará e a promoverá; a mudança deve começar com o indivíduo e este indivíduo poderá ser qualquer um de nós”. Não é uma aventura fácil. Isso implica conhecimento da relação do mundo interior de uma pessoa, seus sonhos, esperanças e ansiedades em termos da realidade exterior e da sua estrutura social. Isto também significa reconhecer mais e mais a nossa própria dependência com relação ao que está sendo proposto como verdadeiro e significativo e que é sempre confirmado pela nossa aquiescência. Parte dessa dependência também será descoberta em nossa própria impotência e no vazio que nos impede de enxergar como mentira aquilo que é comumente assumido como verdade. O verdadeiro fascínio exercido pelo fenômeno da motivação humana fez com que esse termo passasse a ser utilizado com os mais diferentes significados e nisso reside o primeiro e mais decisivo passo para o estabelecimento de uma confusão generalizada a respeito do assunto. Da mesma forma que alguns afirmam que é preciso aprender a motivar pessoas, outros mostram acreditar firmemente que ninguém tem o condão de motivar ninguém. Como se pode depreender dessas colocações, o conceito de motivação é nesse sentido utilizado a partir de posições contraditórias e, por que não?, antagônicas. Esse tipo de discussão tem feito com que opiniões se radicalizem, chegando mesmo a fazer com que aqueles que queiram conhecer mais sobre o assunto acabem por se sentir complemente perdidos. A grande dificuldade encontrada quando se está estudando qualquer aspecto do comportamento humano reside sobretudo no tipo de dados com os quais se está trabalhando. Quando esses dados são de natureza objetiva, torna-se mais se mais fácil observá-los de forma direta, isto é, imediata e, nesse caso, menores são as possibilidades de interpretá-los subjetivamente. Quando, no entanto, as conclusões a que se pretende chegar baseiam-se na observação indireta, isto é, dependem daquilo que se pode concluir a partir de um comportamento expresso pelos indivíduos, as interpretações que daí surgem não satisfazem plenamente quanto à segurança que 94 oferecem. Fica, portanto, a dúvida sobre não ter conseguido levar em conta alguma variável. Essa é a razão de se contar com uma confusão bastante evidente ao se considerar o fenômeno do movimento e da motivação; eles não são a mesma coisa, mas muitas pessoas utilizam essas duas palavras como se fossem sinônimos, o que tem determinado sérios problemas quanto à verdadeira compreensão das características humanas. Capítulo VII Lidando com Mudanças O sucesso somente é importante quando se tem a sensação do amor dentro de si. O sucesso só tem sentido quando se lhe dá esse aspecto e se percebe realizando uma missão. Como cita VIANNA (1999), “não somos apenas solucionadores de problemas, somos catadores de problemas. Se não temos um problema à mão, inventamos”. A maioria dos jogos são problemas inventados. Fomos talhados para a escalada, não para ficarmos à toa, seja no vale ou no topo da montanha. Das pessoas que até agora vinham discutindo a motivação sob abrigo do grande guarda-chuva que são as empresas, devemos requerer mais independência (autonomia). Será preciso que elas se conscientizem de que são agentes envolvidos, que devem assumir toda a responsabilidade por elas mesmas. Será preciso ter independência, não importando se essas pessoas permanecerão na empresa onde trabalham, assumindo coordenação de novos negócios, ou se irão sair dela para buscar novas experiências. Para KONDO(1989), diante dessas mudanças estruturais de setor industrial, as empresas também estão mudando em busca de alternativas para sua própria sobrevivência. Durante esse processo de mudanças, as empresas esperam que seus funcionários (elementos da organização) tenham a capacidade de corresponder às mudanças. Em tempos de grandes mudanças, tornam-se mais importantes as pessoas que, apesar da instabilidade, são flexíveis o suficiente para encontrar seu próprio equilíbrio, em detrimento das pessoas que almejam a estabilidade. 95 7.1- Novas Necessidades O empregado pode buscar, além de salário, estabilidade, desafio, possibilidades de crescimento e de aprendizagem. Por sua vez a empresa procura manter aqueles que, além de assíduos e pontuais, mostrem lealdade, empenho na redução de custos, capacidade produtiva e compromissos com seus objetivos. Para tanto, faz-se necessário conhecermos algumas necessidades inovadoras. Impulsos básicos: Estimulam comportamentos que visam satisfazer necessidades básicas, baseadas na fisiologia. Exemplo: ar, água, sexo, evitar a dor e equilíbrio biológico interno. Podem ser influenciados pela cultura. Motivos sociais: Surgem para satisfazer as necessidades de sentir-se amado. Está intimamente ligado ao contato com outros seres humanos, o que é decisivo para o sucesso em ajustamento. Motivos para estimulação sensorial: As pessoas e outros animais precisam desta estimulação, que pode ser um estímulo externo ou interno, autoestimulação, como cantar de boca fechada, por exemplo. Sem esses estímulos, que são experiências sensoriais, os indivíduos alucinam, no intuito de gerar essa auto-estimulação. Motivos de crescimento: São os que levam os indivíduos ao aperfeiçoamento pessoal, sem se importarem com o reconhecimento. Acham-se intimamente ligados aos motivos de estimulação, exploração e manipulação sensoriais. O motivo de realização muitas vezes é considerado um motivo de crescimento. Idéias como motivo: As idéias podem ser intensamente motivadoras, proporcionando comportamentos motivados por sugestões, que podem até mesmo comprometer a integridade física do indivíduo. Essas idéias podem gerar conflitos, quando ocorre a dissonância cognitiva, mas geralmente as pessoas são motivadas a manterem suas cognições coerentes. A base para a motivação é o reconhecimento e o exercício dos fatores humanos relacionados com o conteúdo do trabalho, particularmente a criatividade e a sociabilidade. Isso provavelmente não mudará enquanto o ser humano existir sobre a face da Terra, independentemente de raça ou região. Entretanto, as prioridades para as 96 quais a motivação deve se voltar irão mudar conforme as tendências da nossa sociedade, que passa por grandes transformações. De acordo com KONDO(1989), as empresas estão: - Promovendo internacionalização - Desenvolvendo novos negócios - Destinando recursos para pesquisas e desenvolvimento - Valorizando as atividades de marketing e de vendas Com isso querem que seus funcionários tenham capacidade de corresponder às mudanças. O problema passa, agora, a como corresponder a essas necessidades das empresas e, ao mesmo tempo, corresponder às necessidade individuais. Para certos autores, a Motivação teria sua origem na excitação fisiológica e nos estímulos endócrino-metabólicos. Para outros é preciso renunciar a esta explicação assim como a toda poderosa homeostasia de Cannon como diversidade das motivações. É assim que, se for mesmo necessário admitir as diferenças entre as motivações, construir-se-á classificações que, em última análise, conduzirão às noções e temperamento, constituição, predisposição, ou mesmo de caráter, isto é, poder-se-ia dizer, a categorias ou a classes de personalidades e de comportamentos reagrupados “transversalmente”. Este reagrupamento conserva um caráter abstrato na medida em que se dá em detrimento dos encadeamentos concretos, organizados “longitudinalmente” seguindo a ordem temporal dos acontecimentos que se articulam sucessivamente uns com os outros. Esta seqüência temporal é a cada vez única, a ponto de formar uma história: a história específica de um indivíduo que faz com que dois indivíduos não sejam jamais idênticos, história que constitui o que em psicanálise se chama Sujeito, com um grande S. 97 7.2- O Desejo O termo Desejo, que foi retomado pela Psicanálise, é indissociável de sua ligação com o inconsciente. Ele é uma intenção de reencontrar os signos das primeiras experiências de satisfação da infância, ele reenvia a um passado e a uma nova história individual. O objetivo de desejo, enfim, não é um objeto real. Não se trata de discutir aqui os fundamentos destas considerações teóricas, mas de fazer sobressair o que distingue a noção de Motivação. O Desejo se inscreve em primeiro lugar no passado e naquilo que não é atual, em segundo lugar, no fictício, no ilusório e no fantasmático; em terceiro lugar, no individual e no subjetivo. Isto deveria ser suficiente para desagradar a todos aqueles que gostariam de fazer a síntese conceitual entre o Desejo e Motivação. O Desejo articula-se com as noções de realização do Desejo e de satisfação alucinatória de Desejo. Se o mesmo está muito longe da realidade e se esta última está implícita nos comportamentos, ele não adquire sentido a não ser através de um conjunto de signos. Em outros termos, a realidade é como uma máscara que esconde – ou como uma trama que sustenta – um processo que lhe escapa. O Desejo é invocado em outras formações além dos comportamentos, outro ponto essencial da concepção psicanalítica. Ele está presente no fantasma, no sonho, nos sintomas psiconeuróticos, e esta ubiqüidade são fundamentais na medida em que ela significa uma recusa radical de separar a esfera Comportamental do resto do funcionamento psíquico. O comportamento deve ser relacionado às outras emanações do Desejo e pede interpretação. O comportamento em si é pouca coisa para o psicanalista. Ele é, na maior parte dos casos, o instrumento acessório do jogo DesejoPrazer. A Motivação coloca a questão dos mecanismos do comportamento, o Desejo coloca a questão de quem está por trás deste comportamento. Da mesma forma que a Psicologia e Psicanálise cobrem dois campos diferentes, a Motivação igualmente pertence a um registro diferente do Desejo, e é preciso de qualquer forma renunciar a situar o Desejo no coração da Motivação. No trabalho contemporâneo, qual o lugar do desejo, e qual o lugar do Sujeito? 98 “O destino dos homens e de seus desejos no trabalho pode justificar uma reflexão específica. Quanto a um debate que partiria desta questão, penso que está efetivamente no fundamento mesmo de uma clínica do Homem no trabalho, clínica a qual demos o nome de Psicopatologia do Trabalho.” (DEJOURS,1980) 7.3- O Destino do Desejo no Trabalho Esta é uma questão que interessa em primeiro lugar aos indivíduos altamente colocados na hierarquia das categorias profissionais, nas pirâmides das posições sociais e na ordem econômica. Quanto mais se sobe na hierarquia das empresas, mais há lugar para o Desejo e para o Sujeito. Que a obtenção dessa posição seja a expressão mesma de um Desejo ou que o Sujeito disponha de espaço e de autonomia suficientes para exercer o Desejo no dia-a-dia, tanto em um caso, quanto em outro, a questão do Desejo e de sua satisfação faz parte integrante do trabalho. Ela é constantemente colocada em termos que evoluem e se renovam ao longo da vida. Nestas condições, quando a situação se modifica ou se bloqueia, a tal ponto que o Desejo não encontra mais seu lugar na vida de Trabalho, não é raro e não é impossível, visualizar a realização de outro futuro em outro lugar. Inversamente, na base da hierarquia, a questão do Sujeito não se coloca. Vemos com dificuldade, como o trabalho em migalhas poderia oferecer a ocasião de uma sublimação. Vemos com mais dificuldade ainda, como se poderia tolerar a questão do Desejo. Enfim, o Desejo, se ele surgisse, não começaria por indicar outros gestos, por sugerir a evasão, por entrar em conflito com o próprio Trabalho? Ao ponto que no final de contas não somente o Desejo do Trabalhador não é visualizado por aqueles que denominamos de “decisores”, mas é mesmo necessário fazer mais do que renunciar à sua satisfação. É preciso fazê-lo calar, é preciso “reprimir” o Desejo, por medo que ele venha incomodar esse “comportamento” que constitui o modo cotidiano de operação. Insistamos aqui sobre dois pontos: sobre a oposição que aparece entre o 99 Comportamento e o Desejo, figura insólita na verdade, se olhada de perto; sobre o termo reprimir em seguida, pois é o próprio trabalhador desqualificado que deve lutar contra seu desejo, para prosseguir em sua tarefa. Trata-se bem de uma Repressão do Desejo, não é de um recalcamento, sendo a diferença entre os dois repleta de conseqüências no plano psicossomático, na medida em que a referência ao conceito psicanalítico de Repressão está associada ao risco de uma doença somática (MARTY,1976). É suficiente lembrar que o Desejo está precisamente situado entre a Necessidade (no sentido fisiológico do termo) e a Demanda (no sentido da demanda de amor) para que se compreenda que se atacando o Desejo, se ameaça o regulador natural do equilíbrio psíquico e somático. Se se retoma agora a questão do Desejo e da Motivação, vê-se que se pode motivar o “comportamento” produtivo de um operário semiqualificado pelo salário ou prêmios, por exemplo. Mas esse preço é de fato pago em troca de repressão do Desejo e do eclipsamento do sujeito. De sorte que nos encontrarmos aqui numa situação onde a Motivação está exatamente em oposição ao Desejo, contra o qual ela é mesmo dirigida. Vê-se que é insustentável a afirmação segundo o qual o Desejo residiria no coração da Motivação. Esta característica do Trabalho contemporâneo coloca pois em posições inversas aos administradores e os operários (ou os empregados) em face da investigação em psicopatologia do Trabalho. Para esquematizar, poder-se-ia dizer que na base da hierarquia da empresa não há (ou há pouco) lugar para o Sujeito e que no alto, há muito. Ou, ainda, que a subjetivação do Trabalho vai crescendo a medida que se sobe a hierarquia. 7.4- A Psicopatologia do Trabalho É a partir da posição do Desejo que se pode construir uma clínica da relação psíquica do Sujeito do Trabalho. A Psicopatologia do Trabalho é assim levada a pesquisar em primeiro lugar o que, no Trabalho, está dialeticamente oposto ao Desejo. 100 É assim que o papel de parceiro do Desejo do Trabalho foi atribuído pela psicopatologia do trabalho à Organização do Trabalho. A exemplo do corpo, designado como alvo privilegiado das condições de trabalho, o aparelho psíquico e o Desejo do Sujeito foram revelados como alvo específico da Organização do Trabalho. Admitir-seá sem dificuldade que esta última se decifra como a vontade de um outro, de um grupo de outros ou de uma instituição, que se opõe ou mesmo se impõe ao trabalhador. Ao considerarmos, por exemplo, a Organização do Trabalho, sabe-se que era a preocupação de TAYLOR, sistematizada no primeiro dos quatro princípios da OCT, proceder a observação, ao recenseamento e a triagem de todos os modos operatórios espontaneamente utilizados pelos trabalhadores, para escolher um único que devia ser em seguida generalizado ao todos os trabalhadores e realizado por todos sem discussão. E se a multiplicidade dos modos operatórios escondesse principalmente a multiplicidade dos Sujeitos? E se cada modo operatório não fosse um comportamento mudo, mas o compromisso personalizado entre Desejo e Realidade, elaborado individualmente por cada trabalhador? Seriamos então levados a nos perguntar o que um modo operário padronizado e generalizado por TAYLOR ou por seus sucessores ocasionaria a cada Sujeito na economia de seu Desejo. A resposta é, sob certos aspectos, trágica. É o sofrimento, alienação e, no final, o risco de uma descompensação psiquiátrica (quer se trate de neurose de depressão ou de psicose), ou a entrada num processo de somatização (agudo e reversível no melhor dos casos, crônico e irreversível, de outra forma). É que o corpo somático (e não o aparelho psíquico sozinho) parece incapaz de funcionar duravelmente e de resistir por muito tempo à repressão do Desejo. A organização do trabalho aparece na clínica psicopatológica como a expressão característica da violência que pode implicar uma generalização na ordem da técnica e não mais da teoria, como era o caso anteriormente, quando ela se abate sobre os trabalhadores que não podem ser sujeitos de seu comportamento.(CLARET,1999). 101 Capítulo VIII Estudo dos Aspectos que Afetam o Desempenho no Trabalho “Há um tempo para se admirar o encanto e o poder persuasivo de uma idéia influente, como há um tempo para se temer que ela nos sufoque. O tempo para nos preocupar ocorre quando a idéia se expandiu a tal ponto que nem sequer notamos e tão profundas se tornaram suas raízes que nada mais representa do que o senso comum. Quando as objeções não são mais respondidas, pois nunca mais foram levantadas, perdemos o seu controle: não sabemos como ela nos pegou.” KOHN(1993) Após o surgimento da medicina do trabalho, cada vez mais foram regulamentadas as legislações referentes a esta medicina, no sentido de preservar a saúde dos trabalhadores. Nas últimas décadas, este serviço vem se ampliando, estabelecendo-se normas de segurança de trabalho. Sendo assim, a medicina do trabalho, através do conhecimento da engenharia e do comportamento humano procura determinar os procedimentos para o trabalho seguro. Graças a este campo de conhecimento hoje praticamente sabe-se dos fatores que prejudicam a saúde física dos trabalhadores. Ainda os regulamentos da medicina do trabalho face à legislação trabalhista reconhecem todas as patologias, e as empresas têm incorporado o serviço de medicina do trabalho, protegendo assim os funcionários dos danos físicos. Imagina-se que no ambiente de trabalho, há muitos outros fatores que prejudicam os funcionários, e podem causar danos psíquicos sem parâmetros para mensurar a sua gravidade. Contudo, não existem ainda estudos e regulamentos para esta categoria de lesões, não identificadas pelas normas de saúde de trabalho. Com o surgimento de inúmeras complicações relativas à degradação do funcionamento mental e do equilíbrio psico-afetivo dos funcionários, se fez necessária a investigação dos motivos geradores destes problemas. Quando o trabalhador manifesta angústia, ansiedade, medo e preocupação, estes são sinais de existência de fatores indesejáveis no ambiente de trabalho. Portanto, este estudo pretende investigar melhor 102 os fatores invisíveis que afetam emocionalmente os funcionários e assim podem desequilibrar o seu comportamento. A melhor maneira para isso é entrevistar os próprios funcionários e descobrir os motivos reais destes problemas. E assim contribuir para a discussão deste assunto com dados mais próximos da realidade. A princípio vários fatores podem contribuir para este quadro, mas alguns fatores causam maiores efeitos negativos do que outros. Para aprofundar mais esta questão, é necessário relacionar vários fatores que podem eventualmente ser responsáveis pelo desequilíbrio emocional e depois realizar o estudo em algumas empresas, tentando assim destacar aqueles aspectos que interferem na qualidade de serviço dos empregados de forma direta ou indireta. Capítulo IX Viver Com Qualidade, Como Enfrentar Esse Desafio "Para triunfar, a pessoa deve saber gostar do que faz e deve acreditar no que faz". (Will Rogers) De acordo com MOREIRA (2001), no mundo das idéias de hoje, está disseminado o trato com a chamada "qualidade de vida", em todas as áreas do saber, parecendo ser essa a nova panacéia para os males da humanidade. Vemos textos sobre o assunto em propostas para: uma "filosofia de vida alternativa"; um "novo tratamento ou novo recurso terapêutico"; "formas emergentes de atividades físicas" ou mesmo de "exercícios mentais e de relaxamento"; facilitar o "contato com energias místicas"; ajudar-se com "novos manuais de auto ajuda", dentre outros, sempre para melhorar a vida do cidadão neste planeta, assumindo-o como um lugar inóspito, naturalmente complicado para a vida em comunicação e em comunhão social. A maioria dessas propostas, visando à busca da qualidade de vida, parte do princípio de que, alterando-se as estratégias daquilo que é feito ou alterando-se alguns critérios que balizam ações no dia-a-dia, será possível reverter o quadro da 103 desqualificação da vida atual e, como num passe de mágica ou de posse de um poder revelador, estaremos desfrutando de vida qualificada. Assim parece-nos, numa primeira análise, que essas propostas são portadoras dos idealismos positivistas históricos, tentando mais uma vez afirmar que os meios podem alterar ou até mesmo transformar os fins (atitudes incorporadas ao longo do tempo). Isso tudo sem nos esquecermos de que muitas dessas propostas têm um suporte: a "qualidade em educação, a qualidade da eficiência do e no trabalho, a qualidade dos serviços" prestados ao consumidor, apontando claramente para o valor mercantil das propostas. A idéia de qualidade de vida parece ser um acontecimento novo no final do século XX, mas já há muito tempo existe uma grande preocupação com o tema e se percebe que, se soubermos fazer bom uso da vida, ela será longa o suficiente. Nas propostas de qualidade de vida da atualidade, o sentido de prolongar a vida é um valor por si só, descartando-se as preocupações sobre como usamos essa vida. Prolongar a vida é um valor biologicamente desejável, posto como um valor cultural. Para RODRIGUES (1994), diante disso devemos olhar para o passado como sinal de alerta a fim de aprendermos. O tema qualidade de vida é presente, e pensá-lo para o futuro, com base nas perspectivas do presente, é necessário para as prospectivas futuras. Assim, "o jogo de devir é uma prodigiosa complexidade". (MORIN, 1986, p.312). O século XX foi considerado do desenvolvimento, de grandes descobertas, mas, ao mesmo tempo, foi de convulsões, de horrores, de holocausto, de guerras. Para MOREIRA (2001), o desenvolvimento trouxe o subdesenvolvimento: o progresso foi experimentado e, com ele, as regressões. Vivenciou-se, nesse período, o verdadeiro significado de crise, quando os perigos conviveram com as oportunidades de mudanças. Qualidade de vida significa vivenciar tudo isso ao mesmo tempo, motivo suficiente para realizarmos propostas, em qualquer área do conhecimento humano, que levem em consideração a interdependência de ver, perceber, conceber e pensar. Isso só é possível por meio do conhecimento complexo, pois este reconhece os limites do próprio ato de conhecer, segundo MOREIRA (2001). Se o conceito de qualidade de vida não for entendido em sua complexidade, talvez esteja doente, valorizando apenas a quantidade de anos a mais, mesmo que isso possa significar indiferença, mais exacerbação de competitividade. Portanto, é necessário saber ver, saber perceber, saber conceber e saber pensar. 104 Para MORIN (1986, p.88), "um antigo real, que acreditávamos seguro, verificável, racional, está agonizando. De fato, ele continha sonho, era alucinatório e histérico. (...) Precisamos começar descobrindo que a idéia está doente, que o pensamento está doente, que o real está doente. Precisamos não perder a idéia, e o real, mas perder a ilusão da lucidez e da saúde. E saber, desde já, que precisamos esclarecer aquilo sobre o que estamos cegos e que nos cega; compreender que nossos problemas vitais agem na infraconsciência, no invisível e no inconcebível. Podemos, portanto, dessa primeira conscientização e começar a caminhada sem medo de tudo reconsiderar a fundo. Tentar caminhar em propostas que visem à qualidade de vida exige de nossa parte grande abertura, abertura essa possível se conseguirmos despojar-nos de nossos arcabouços atuais de pensamentos. De nossa premissas inquestionáveis, de nossa forma de ver a realidade, há de se ter disposição de considerar uma outra forma de entender o mundo e a própria vida. O desafio maior está em caminharmos na direção de mudar a nossas maneira de pensar, de agir e sentir”. 9.1- Lazer e Qualidade de Vida Ao se abordar a questão da qualidade de vida relacionada ao lazer, além da colocação de uma hierarquia de necessidades, que não raro aparece, enfoca-se a questão de uma perspectiva "terapêutica", que é preferível classificar como "funcionalista", ou seja, como se o lazer fosse uma válvula de escape da falta da qualidade de vida, ou da baixa qualidade de vida, de uma sociedade injusta. Raramente se aborda a questão da possibilidade da vivência de valores diferenciados no lazer, que permitam alicerçar uma qualidade de vida não apenas num final de semana, mas no cotidiano de nossas vidas, 105 mediante consideração de valores que questionem a própria ordem estabelecida. É importante ressaltar que o entendimento do lazer não pode ser efetuado "em si mesmo", mas como uma das esferas de ação humana historicamente situada. Outras opções implicariam apenas parcial e abstratamente as questões relativas ao lazer. É impossível abordar, por exemplo, as questões do lazer isoladas do trabalho e educação. Para VIANNA (1999), a observação da prática do lazer na sociedade moderna é marcada por fortes componentes de produtividade. Valorizam-se a performance e o produto, e não o processo de vivência que lhe dá origem; estimula-se a prática compulsória de atividades denotadoras de moda ou status. Além disso, o caráter social requerido pela produtividade confina e adia o prazer para depois do expediente, nos fins de semana, períodos de férias ou, mais drasticamente, para a aposentadoria. Conforme BOM SUCESSO (1998), entender o lazer como um campo específico de atividade, em estreita relação com as demais áreas de atuação do homem, não significa deixar de considerar os processos de alienação que ocorrem em quaisquer dessas áreas. Entender o lazer como espaço privilegiado para manifestação do lúdico na nossa sociedade não significa absolutizá-lo ou, menos ainda, considerá-lo como único, tudo isso parece ser uma postura que contribui para abrir possibilidades de alteração do quadro atual da vida social, tendo em vista a realização humana, com base em mudanças no plano cultural. Quando se pergunta às pessoas qual a importância do lazer nas suas vidas, para alguns autores a resposta fica em 7º lugar numa escala de prioridades. Para MOREIRA (2001), isso se deve à pouca "ressonância social do lazer", ainda não visto como um direito social, também pertencente à hierarquia de necessidades. Mas quando se vive com pessoas, pode-se ver claramente a importância do lazer como busca do significado para suas vidas. Além disso, muitas pessoas fazem lazer sem saber que estão fazendo. Porque, via de regra, o que se chama de lazer é o que é veiculado pela mídia como sendo lazer. Para SAMPAIO (1999), muito se fala da péssima qualidade de vida que há nas grandes metrópoles. A mudança na percepção da importância do lazer na vida das pessoas poderia trazer mudanças nesse aspecto. Seria uma mudança de valores. Falar numa política de lazer significa falar não só de uma política de atividades, que na maioria das vezes acabam por se constituir em eventos isolados, e não em política de animação como processo, como cita ROBRIGUES (1994). Significa falar em redução de jornada de trabalho, sem reduções de salários, e 106 portanto numa política de reordenação do tempo, numa política de formação de quadros, profissionais e voluntários, para trabalharem de forma eficiente e atualizada. O lazer tem sua especificidade inclusive como política pública, mas não pode ser tratado de forma isolada de outras questões sociais. E o lazer é valorizado pela população ainda que ela não diga por uma série de motivos. O lazer e a segurança precisam ser tratados não como mero esforço de entretenimento, que pode camuflar uma situação de violência, melhor dizendo (porque somos violentados, de várias formas, no nosso cotidiano, e não apenas num assalto, num seqüestro ou num assassinato, casos extremos de violência). A busca do convívio social e da felicidade não precisa de justificativas. Para KOSTESKI (1999), a qualidade de vida das pessoas não precisa ser justificada por critérios de produtividade, numa perspectiva meramente "utilitarista" da questão. É uma questão de "valoração", crítica e mudança de valores e, para isso, a vivência do lazer, que supere os padrões do "consumismo", pode contribuir. Qualidade de vida deve ser entendida como um direito de todos os cidadãos, direito esse que deve ser conquistado com um somatório de ações individuais positivas em favor do ambiente no qual estamos inseridos. Em relação à abrangência, MORIN (2000) afirma que os fatos avançam não de modo frontal, como um rio, mas por desvios. Desvios estes fruto de inovações ou criações interiores, de acontecimentos ou mesmo de acidentes exteriores. Nessa proposta, o termo qualidade se altera e se molda ao longo da história, canaliza-se na atualidade, na relação entre qualidade e vida, ou seja, o princípio presente é conceber, discutir, avaliar, buscar e ter "qualidade de vida". A manifestação da qualidade de vida pode ser associada a diversos enfoques como: o acréscimo de experiências relevantes depois que as necessidades básicas estão satisfeitas; a oportunidade de praticar atividades físicas regulares visando à saúde e ao combate ao estresse; o estabelecimento de conhecimentos necessários ao consumo de produtos e serviços culturais; ou pelo menos a construção de um novo estilo de vida, em vivências interiores significativas, constituem-se fator de satisfação e felicidade. Para refletir a respeito, tomem-se os versos de Jorge Luiz Borges no poema "Instantes", que diz: "Se eu pudesse viver novamente a minha vida (...) teria mais problemas reais e menos problemas imaginários". 107 MOREIRA (1994, p.55), confrontando o fenômeno corporeidade do corpo pensado e do corpo vivido, realça: Estranha constatação da opção pelo corpo pensado. Ele é prisioneiro do tempo, do trabalho, do tornar tudo ágil, limpo, sem problemas. Esse corpo é concretamente ingênuo e, por essa razão, prisioneiro de ideologias opressoras. O corpo pensado tem uma vida produtiva, ganha títulos, diplomas de honra ao mérito e até diplomas de operário padrão; é reconhecido socialmente, atinge a plenitude de poder ou é atingido pelos tapinhas nas costas da chefia imediata. Corpo pensado que sempre pensa no futuro mas no presente, no hoje, no aqui consigo mesmo, com os outros e com as coisas. Com o progresso tecnológico-científico, representado pelo desenvolvimento da informática, das redes de comunicação, do avanço das pesquisas científicas, pelo aumento da expectativa de vida, pela possibilidade da manipulação genética capaz de modificar a condição humana, pelas preocupações com o meio ambiente, surgem algumas indagações sobre a qualidade de vida. Será que qualidade de vida pode ser associada apenas à aquisição de dinheiro ou bens materiais? A aquisição de qualidade de vida é restrita àqueles que têm prestígio social e intelectual? A qualidade de vida do ser humano pode ser tratada de forma semelhante à vida de uma máquina? Para MOREIRA (2001), visualizar qualidade de vida apenas mediante o enfoque de acúmulos de riquezas materiais é desconsiderar as ações humanas e o meio no qual estamos inseridos. Condicionar oportunidades de conhecer e escolher um repertório de valores pertencentes à sociedade em que o indivíduo está presente é um outro dado que restringe a proposta. As sociedades domesticam os indivíduos por meio de mitos e idéias, que, por sua vez, domesticam as sociedades e os indivíduos, mas os indivíduos poderiam, reciprocamente, domesticar as idéias, ao mesmo tempo controlar a sociedade que as controla (...) As idéias existem pelo homem e para o ele, mas o homem existe também pelas idéias e para elas. Somente podemos utilizá-las apropriadamente se soubermos também servi-las. (MORIM, 2000, p.29) melhores condições de trabalho, aperfeiçoamento da moradia, boa alimentação, uma educação satisfatória, liberdade política, proteção contra a violência, usufruir as horas de lazer, participar de atividades motoras e esportivas, necessidades de conviver com o outro ou então almejar uma vida longa, saudável e satisfatória. Considerar a conservação da vitalidade e da diversidade do planeta Terra, como também se concentrar na melhoria das condições de vida das 108 pessoas, com base na construção de valores, economias, sociedades, diferentes da maioria existente no mundo hoje. Neste início de milênio, fala-se de qualidade de vida aliada à obtenção de saúde, Para RODRIGUES (1994), qualidade de vida humana é ao mesmo tempo Viver de forma sustentável depende da aceitação do dever da busca de harmonia com as outras pessoas e com a natureza. As regras básicas são de que as pessoas devem compartilhar e cuidar do planeta Terra. A humanidade não deve tomar da natureza mais do que a natureza pode repor. Isso, por sua vez, significa a adoção de estilos de vida e caminhos para o desenvolvimento que respeitem e funcionem dentro dos limites da natureza. (MUNRO, 1991, p. 8) Há um senso comum, em nossa sociedade, que associa qualidade de vida com o fato de possuir recursos financeiros. Para muitas pessoas, viver bem, ser feliz, ter qualidade de vida necessariamente passa por ser rico, ganhar na loteria, ser posssuidor de muitos bens, como carros, iates, casas, fazendas, ou seja, tudo que tem relação direta com a aquisição de bens materiais. Para VIANNA (1999), experiências filtradas e administradas pelo próprio indivíduo convertem-se em padrões significativos e significantes para a vida, sejam eles construídos de prazer ou desafios, de acontecimentos grandes ou pequenos. “É proporcionar o início de uma caminhada, o ponto de partida, não o ponto de chegada, independentemente das pedras que o mundo produtivo e rentável coloca, é ir em busca dos encontros, dos incentivos, dos desafios, dos projetos, das incertezas, dos desejos e, sem dúvida, dos sonhos.” (Aristóteles) 109 Conclusões e Considerações Finais "Um problema só surge quando estão presentes todas as condições para solucioná-lo.". (Karl Marx) A escola de relações humanas foi a primeira a se ocupar mais sistematicamente dos aspectos humanos da organização, até então negligenciados. Foi a primeira a dar ênfase à satisfação do empregado, a se ocupar de suas questões afetivas e pessoais, a falar do crescimento pessoal e motivação, abrindo um caminho trilhado até hoje. Desde então, a teoria da administração e as grandes organizações têm realizado estudos e procurado desenvolver técnicas a fim de fazer com que os interesses pessoais dos homens coincidam ou sejam compatíveis com os interesses das organizações. Apesar de ainda não estar bem definida, devido à diversificação de opiniões, a motivação é, sem dúvida, o que leva o ser humano a se comportar de maneiras específicas e diretamente ligadas às suas necessidades, sejam estas em nível fisiológico e/ou cognitivo, o que torna o motivo um tanto complexo, subjetivo e diretamente ligado às experiências anteriores e personalidade de cada indivíduo. Seja qual for a definição dada à motivação, não podemos deixar de estudar sua aplicabilidade nos comportamentos humanos, principalmente em termos sociais e trabalhistas. O potencial de cada trabalhador dentro de uma empresa depende em grande parte da motivação que ele tem. Funcionários que trabalham apenas por pressão ou insatisfeitos com seus empregos estão condenados a realizar um baixo potencial, ao contrário do que trabalha em busca de seu constante aperfeiçoamento. A motivação é algo que cada indivíduo possui por si mesmo, através de um ambiente ou atmosfera propícios a esse desenvolvimento. A pirâmide de Maslow é um exemplo nítido da classificação das necessidades de um ser humano, desde as necessidades fisiológicas até as de auto-realização. Ele deve ser constantemente estimulado a fazer ou não algo, através do qual cada vez mais se sinta impulsionado a atingir níveis superiores de suas necessidades. Os funcionários são motivados com base no conteúdo de seus empregos e no que fazem. A motivação é um tema atual e constante não só na psicologia como também na administração, pois ambas trabalham juntas no sentido de ajudar o ser humano a subir 110 cada vez mais em seus níveis de necessidade, proporcionando a este um possível estado de satisfação, sendo que, quando estas estão satisfeitas, novas necessidades surgem, contribuindo para uma constante e incessante busca, motivando e impulsionando cada indivíduo em sua jornada da vida. Visando essas necessidades, o mercado literário lança a cada dia uma infinidade de livros de auto-ajuda relacionados à motivação, com o principal objetivo de que o ser humano atinja o estado de bem-estar, o qual tanto busca. Assegurar trabalho digno deve ser tomado com o desafio central, uma vez que o ambiente organizacional competitivo ou selecionador pode ser transformado. Esforço físico excessivo pode ser equacionado, relações negociadas podem substituir a excessiva falta de entrosamento nos departamentos. Não existe, porém, alternativa para a qualidade de vida no desemprego. A motivação é a única saída, o alicerce da qualidade de vida. No cenário idealizado de pleno emprego, mesmo de ótimas condições financeiras, conforto e segurança, alguns trabalhadores ainda estarão tomados pelo sofrimento emocional. Viver com qualidade é, acima de tudo, aprender a desfrutar do que se tem, valorizar conquistas, empenhar-se no autoconhecimento, desenvolver posturas facilitadoras, cuidar da saúde física e emocional, ter lazer, desenvolver-se emocionalmente. Para CARMO (1992), os desafios e as metas da qualidade dependem da mobilização das pessoas para o desenvolvimento das ações de programas. Por outro lado, o que se observa é que, apesar de as empresas estarem investindo em tecnologia, verifica-se desequilíbrio, descuidam-se em relação às estratégias de envolvimento do pessoal em direção à qualidade. Entretanto, esse fator, que pode ser considerado o mais importante para o estabelecimento das metas das organizações, é despertado por programas participativos, desde que se atente para a qualidade de vida no trabalho. Tendo como central a idéia de que é necessário medir para melhorar, assim como nos programas de qualidade, o mesmo deve ser adotado para os programas de qualidade de vida no trabalho. Entretanto, poucas empresas se preocupam em avaliar de forma sistemática a satisfação dos seus empregados. Nesse processo de autoconhecimento, as sondagens de opinião interna são uma importante ferramenta para detectar a percepção dos funcionários sobre os fatores intervenientes na qualidade de vida e na organização do trabalho. Muitas estratégias 111 inadequadas de implantação do conceito qualidade de vida no trabalho geralmente são oportunistas e imediatistas, e não passam de modismo freqüentemente experimentado. O público interno é considerado a parte mais importante da empresa, especialmente na implantação dos programas. Mas a negligência de alguns administradores e empresários tem subestimando a necessidade de uma estratégia orientada pelo monitoramento de itens de controle de gestão de RH. Dessa postura decorre o gerenciamento improvisado com ações e medida sem base quantificável, com conseqüências diretas não só sobre o desempenho da organização, mas também no nível de satisfação dos trabalhadores. Para o trabalho a insatisfação e a desmotivação são desastrosos tanto para a organizações quanto para o trabalhador. As organizações se constroem ou se destroem pelo desempenho das pessoas que nelas trabalham. O ser humano, no contexto organizacional, é o diferenciador que impulsiona e, às vezes, até desestabiliza o desenvolvimento da organização. Nesta sociedade altamente competitiva, a qualidade dos produtos e serviços oferecidos será preponderante para a sobrevivência da organização. A qualidade de vida no trabalho busca humanizar as relações de trabalho, no sentido de conciliar os interesses dos trabalhadores e da organização. Muito mais do que linha de pesquisa, traduz-se na maneira como as pessoas vivenciam o seu dia-a-dia no trabalho. Por ter sido esta pesquisa somente bibliográfica, ocorreram muitas limitações, mas ela foi bastante produtiva e significativa particularmente e também acabou desencadeando várias idéias. Sugerem-se alguns temas para futuros estudos: Qualidade de vida: como enfrentar esse grande desafio; Influência da saúde: social, espiritual, física e biológica no trabalho; Como proporcionar um ambiente de trabalho satisfatório; Priorizar o viver com qualidade e ter consciência da rapidez com que a vida passa são atitudes que nos estimulam a buscar, a cada dia, mecanismos para a melhor convivência no trabalho, estabelecimento de novas relações de poder, centradas não apenas na hierarquia, mas no poder pessoal de criar, contribuir, somar, compartilhar e cooperar. 112 Mensagem Final "Ö dia em que a terra virou ouro" (Fábula indiana, adaptada do livro SHAKTI, da Sociedade SRI Aurobindo do Brasil.) Era uma vez um rei famoso por sua caridade. As pessoas diziam: "Ao faminto ele dá alimento, aos sábios dá recompensa, ao nobre ele dá títulos e honrarias. De fato, ele nunca está cansado de dar!" Mas ele, na verdade, estava cansado de dar. Então pensou: "Durante toda a minha vida tenho distribuído esmolas e recompensas. Quando terminará isso? Será que essa gente tem realmente necessidades ou continua a vir simplesmente por minha generosidade? Não são os mesmos rostos que eu vejo usando sempre a mesma máscara de gratidão?" Pensou muito e decidiu parar este hábito. "Se devo dar, deveria ser apenas para aqueles que estão mesmo necessitados. Já é hora de saber quem está realmente precisando de alguma coisa e, para começar, devo descobrir quem é o homem mais pobre de meu reino", ele decidiu. Assim pensando, mandou seus ministros procurarem o homem mais pobre do reino. Uma semana mais tarde, o ministro retornou e anunciou num tom de explorador bem-sucedido: "Meu senhor, não longe daqui, dentro de uma floresta, há uma pequena colina. No topo dela está sentado o homem mais pobre de nossa terra, um mendigo. Ele não tem teto e usa sobre o corpo apenas uns farrapos, vive de qualquer fruto que algum cortador de lenha se lembra de deixar a seu lado quando vai da floresta para casa." "Existe realmente alguém assim em meu reino? Preciso vê-lo", disse o rei. Montou a cavalo, partiu para a floresta e, subindo a colina, achou um mendigo sentado, quieto, com os olhos fechados. O rei teve de esperar um longo tempo. Quando o mendigo abriu os olhos, o rei disse: "Eu sou o rei desta terra. Entristece-me ver as condições miseráveis em que você está vivendo. Quero que se vista bem; diga-me, que espécie de roupa prefere?" O mendigo sorriu, mas se conservou calado. O rei disse outra vez: "Gostaria de construir uma casa para você. Diga-me que espécie de casa desejaria possuir." 113 O mendigo sorriu outra vez, contudo não falou. Um pouco mais tarde, o rei disse outra vez: "Providenciarei para que lhe tragam alguma comida todos os dias. O que gostaria de comer?" O mendigo sorriu, mas se conservou completamente mudo. O rei começou a perder a paciência e gritou "Estou falando com você, responda!" Bem devagar, mas docemente, o mendigo disse: "Meu querido rei, você está errado. Eu não sou o homem mais pobre deste reino. Existe alguém mais pobre do que eu. Quanto a mim, apesar de parecê-lo, sou muito rico porque posso transformar a terra em ouro." O rei ficou boquiaberto durante algum tempo e depois perguntou: "Quem é o homem mais pobre que você? Por favor, poderia me revelar o segredo de transformar a terra em ouro?" O mendigo disse: "Para conhecer tais coisas você deve ter muita dedicação e seguir uma certa disciplina." "Segui-la-ei", disse o rei, entusiasmado. "Durante um ano inteiro, todos os dias, você deve vir aqui antes de o sol nascer e outra vez antes do pôr-do-sol e passar algum tempo comigo", disse o mendigo. "Assim farei", disse o rei, cheio de alegria, inclinando-se diante do mendigo. E veio duas vezes por dia sem faltar. O mendigo raramente proferia alguma palavra, mas seu sorriso encantador sempre falava de sua afeição pelo rei. Ele fazia o rei sentar e meditar algum tempo. Para o rei a disciplina era um pouco embaraçosa nas primeiras semanas. Mas logo verificou que era uma mudança bem-vinda das horas duras ou ansiosas da corte, onde estava sempre cercado de diplomatas, aduladores e gente descontente. Depois de alguns meses, ele começou a gostar tanto de suas visitas ao mendigo que esperava ansiosamente pelo raiar da aurora e pelo entardecer. O silêncio das montanhas, o sol nascente e poente que coloria a paisagem, a brisa que o abraçava com uma mensagem de liberdade, o canto dos pássaros nas florestas, e acima de tudo, a presença tranqüila e irresistível do mendigo, aos poucos fez do rei um homem diferente. O pouco que ele passava lá todos dias exercia grande influência no resto de seu tempo e rotina. O rei não percebeu quando um ano se passou. Nem mesmo quando vários anos se passaram. No fim do terceiro ano, um dia, o mendigo de repente disse ao rei: "Bem, parece que nos esquecemos das duas coisas que você queria saber, sobre o homem mais pobre que eu e a respeito do segredo de transformar a terra em ouro. Você não gostaria de saber?" O rei sorriu e replicou: "Mas eu já sei. Eu era o homem mais pobre do reino! Estava ansioso para ficar cada vez mais rico e queria a todo custo saber transformar a terra em 114 ouro. Mas agora acho que aprendi o segredo,. quando me sento aqui ao alvorecer do dia e ao sol poente e me maravilho com os esplendores da natureza, tudo que o Criador realizou me parece mais maravilhoso do que qualquer riqueza.” Vontade, motivação e perseverança estas são as chaves do autodesenvolvimento. Decidi concluir este trabalho com essa fábula, pois, assim como o rei, descobri que uma das maiores certezas que temos nesta vida é o fato de estarmos sempre em constante aperfeiçoamento. Energizar é buscar o autodesenvolvimento com muita força de vontade, motivação e perseverança. A valorização das pessoas tornará as empresas mais humanizadas e fornecerá condições para uma melhor qualidade de vida de seus funcionários. Através do aperfeiçoamento constante, compreendendo mais o outro e com um trabalho em equipe sadio, o ser humano conquistará sua realização profissional e pessoal como indivíduo atuante da sociedade contemporânea. 115 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ÀBDU’L-BAHÁ,2000.” O Esplendor da Verdade. 4o Edição”. Mogi Mirim-SP: Editora Bahá’. ÀBDU’L-BAHÁ,1979.” As Palestras de Àbdu’l-Bahá em Paris.” Rio de Janeiro: Editora Bahá’. ANELLO, ELOY E HERNA’NDEZ, JUANITA,1993. “Liderazgo Moral”. Bolívia: Universidade Núr. BACCARO, A.,1986.” Introdução geral á administração”. Petrópolis: Vozes. BALLESTERROS, R. F,1996.”Qualidade de vida conceito e acesso”. Vídeo Montreal. BARRY M. STAW,1986.“Orgaizational Psychology and the Pursuit of the Happy/productive Worker”. 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Brasília: FUNDACENTRO (Ministério do Trabalho). 121 ÍNDICE INTRODUÇÃO 7 HIPÓTESE 15 CAPÍTULO I 15 TRABALHO E PROSPERIDADE 15 1.1 Conceito de Produtividade na Ótica do Empresário 18 1.2 Do Escravismo ao Modelo Atual de Trabalho 19 1.3 O Conceito Original do Trabalho 22 1.4 As Civilizações Antigas e a Organização do Trabalho 23 1.5 Que Influência Tinha o Trabalho na Vida das Pessoas 26 1.6 Quem se Beneficia com a Produtividade 27 CAPÍTULO II 28 TRABALHO E DESENVOLVIMENTO HUMANO 28 2.1 Conceito Atual de Produtividade 28 2.2 Abordagens dos Atuais Avaliadores da Questão Trabalho 30 CAPÍTULO III 32 QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO 32 3.1 Teoria Comportamental da Administração 35 3.2 Teoria Behaviorista 36 3.3 Cognitivistas e a Motivação 36 3.4 Teoria Psicanalítica 37 3.5 Teoria de Herzberg 37 3.6 Teoria de Maslow 38 3.7 Psicologia Social 40 3.8 Saúde do Trababalhador 44 122 CAPÍTULO IV 47 DETERMINANTES DA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO 47 4.1 Cultura Organizacional 48 4.2 Infra-estrutura Familiar 49 4.3 Relações Interpessoais 50 4.4 Fatores Intrapessoais 50 4.5 Qualidade de Vida Dentro e Fora do Ambiente de Trabalho 51 CAPÍTULO V 54 OS ASPECTOS QUE AFETAM O AMBIENTE DE TRABALHO 54 5.1 A Evolução da Organização do Trabalho 55 5.2 Manifestações dos Problemas 56 5.3 O Ambiente de Trabalho e Fatores de Pressão 58 5.3.1 As Conseqüências do Stress 60 5.4 Liderança Inadequada – Fator Agravante 62 5.5 As Cargas Não Identificadas 64 CAPÍTULO VI 66 MOTIVAÇÃO 66 6.1 O Ser Humano Feliz 67 6.2 Bases Motivacionais no Trabalho 70 6.3 Primeiro Passo: Abolir os Incentivos 72 6.4 Segundo Passo: Reavaliar a Avaliação 74 6.5 Terceiro Passo: Criar Condições para a Motivação Autêntica 75 6.6 Conteúdo 77 6.7 A Motivação 82 CAPÍTULO VII 94 LIDANDO COM MUDANÇAS 94 7.1 Novas Necessidades 95 7.2 O Desejo 97 123 7.3 O Destino do Desejo no Trabalho 98 7.4 A Psicopatologia do Trabalho 99 CAPÍTULO VIII 101 ESTUDO DOS ASPECTOS QUE AFETAM O DESEMPENHO NO TRABALHO 101 CAPÍTULO IX 102 VIVER COM QUALIDADE, COMO ENFRENTAR ESSE DESAFIO 102 9.1- Lazer e Qualidade de Vida 104 CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS 109 MENSAGEM FINAL 112 BIBLIOGRAFIA 115 ÍNDICE 121 ANEXOS 125 124 FOLHA DE AVALIAÇÃO Universidade Candido Mendes - Niterói Gestão Estratégica e da Qualidade Pós-Graduação “Lato Sensu” Projeto “A Vez do Mestre” Motivação e Qualidade de Vida do Trabalhador Marcelo Leite Pinto de Andrade 26 de Janeiro de 2005 Avaliado por: Aleksandra Sliwowska Bartsch Conceito: ___ 125 Anexos