1 DISCURSO DE SUA EXCELÊNCIA O SENHOR PRIMEIRO-MINISTRO DE CABO VERDE, DR. JOSÉ MARIA NEVES, DURANTE A SESSÃO DA ABERTURA DAS JORNADAS EUROPEIAS DE DESENVOLVIMENTO, SOBRE O TEMA «UMA VISÃO DA AGENDA PÓS 2015» Sinto-me honrado em participar nestas Jornadas Europeias de Desenvolvimento e agradeço o privilégio do convite para estar neste painel, dialogando não apenas sobre a visão de uma agenda pós 2015, mas também partilhando convosco a experiência de Cabo Verde. A África está a reerguer-se com os olhos postos no desenvolvimento. Devemos assumir que o verdadeiro desenvolvimento é resultante de um processo de transformação socioeconómica estribado numa visão do futuro. Uma visão que considere a consolidação do Estado de Direito Democrático, o bom funcionamento das instituições, a transparência, a prestação de contas e a boa governação, mas também a inovação, a eficiência, o crescimento e a competitividade. Temos de criar e de acrescentar valor a tudo o que fazemos em África. A África tem de construir um consenso muito alargado sobre Uma Agenda de Desenvolvimento no Horizonte de 2030. Temos de consolidar o dinamismo económico que já se aflora e garantir um ambiente de mais estabilidade política, de segurança, de previsibilidade jurídica e de estímulo ao investimento e à densificação do sector privado, à criação de oportunidades de negócios, à conquista de novos mercados. Em África, muitos dos nossos países lutam ainda para cumprir os Objectivos do Desenvolvimento do Milénio, em 2015. Entretanto, importa-nos olhar o futuro para além do calendário da materialização das oito metas e formular uma visão que vá para além dos ciclos delineados pelas Nações Unidas em 2000. Uma visão que nos mobilize em torno de uma nova agenda pós-2015. A responsabilidade pelo desenvolvimento de África é, antes de mais, dos africanos e dos seus líderes. É evidente que a África precisa para esse desenvolvimento de fortes parcerias. Parcerias que devem ancorar-se em estratégias orientadas para a governabilidade e a boa governação, o crescimento e a competitividade, a geração de empregos, a melhoria da qualidade de vida e do bem-estar das africanas e dos africanos. Temos de escrever uma Agenda de Desenvolvimento que vise a construção de uma África Moderna, Próspera e Justa, com Qualidade de Vida e Qualidade Ambiental, onde todos vivem em liberdade e com dignidade. Desde a «descoberta», em meados do século XV, que as Ilhas de Cabo Verde constituem um hub natural nas comunicações transatlânticas. Apesar das muitas vicissitudes e intempéries tão históricas, quão traumáticas, queremos hoje ser uma ponte entre a África, a Europa e as Américas, integrando assim o país na cadeia de valores de bens e serviços do comércio regional e internacional. Cabo Verde, um pequeno estado insular – 09 Ilhas, desprovido de recursos naturais tradicionais, com uma localização geoestratégica invejável no meio do Atlântico, com estabilidade, um clima ameno, grande diversidade e beleza paisagística, um espaço de tolerância e de encontro de culturas e de civilizações, um Estado de Direito Democrático, uma referência em África em termos de liberdades, democracia e boa 2 governação -, tem a ambição de se tornar num país desenvolvido no horizonte 2030. Anunciámo-lo em 2011. Estamos empenhados em construir uma economia dinâmica, competitiva e inclusiva, com oportunidades partilhadas por todos. Neste contexto, atribuímos grande importância ao consenso em torno de uma Agenda de desenvolvimento global pós 2015. Acreditamos que estamos no bom caminho. A graduação a País de Rendimento Médio, ocorrida em 2008, é uma primeira etapa nessa caminhada. Ela foi o resultado de um forte comprometimento ético das elites políticas cabo-verdianas, desde a Independência em 1975, com o bem comum, o progresso e o bem-estar das pessoas, e um grande envolvimento dos cidadãos e da sociedade civil no exercício e controlo do poder. Nesta linha, Cabo Verde tem tido, desde a hora zero da República, bons governos e boa governação, esta um recurso estratégico para o desenvolvimento. O desenvolvimento tem-se estribado em alguns pilares importantes. a) Uma visão partilhada de desenvolvimento e a mobilização de toda a Nação Global – as ilhas e a diáspora - para a sua realização; b) A edificação de um Estado de Direito Democrático, assente numa Constituição moderna, no que tange ao funcionamento do sistema político e das suas instituições, à separação de poderes e à independência da Justiça, à realização de eleições universais, livres e regulares que têm permitido a alternância política, e numa oposição democrática, num poder local democrático e na ampla participação democrática dos cidadãos; c) A governança macroeconómica estribada no equilíbrio dos fundamentais da economia, nas liberdades económicas e numa gestão sã e prudente das finanças públicas, para servir o bem comum. d) A estabilidade política e social enraizada nas boas práticas democráticas de acesso dos cidadãos aos direitos, liberdades e garantias, bem como aos bens públicos essenciais; e) Um forte investimento no desenvolvimento humano, desde o acesso universal à educação, à formação profissional e ao ensino superior, à realização dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio, designadamente nos domínios da saúde, do combate à pobreza e da igualdade e equidade de género. Estamos, desde 2003, a implementar uma Agenda de Transformação de Cabo Verde num centro internacional de prestação de serviços e base de apoio logístico à região oeste africana. Elegemos o turismo como motor do crescimento e estamos a investir fortemente em todas as valências do híper cluster do mar – transportes marítimos, pescas, indústrias, energia, água, transbordo, reparação naval, bunkering, investigação oceanográfica, 3 desportos náuticos -, nas tecnologias informacionais, no aero-negócios, nas economias criativas, no agro-negócios e nas energias renováveis. Estamos a realizar profundas reformas económicas, legais e institucionais para criar um ambiente de negócios favorecedor de investimentos privados. A densificação do sector privado, o fomento do empreendedorismo, da inovação, da produtividade e da competitividade e a internacionalização das empresas estão no centro da nossa agenda de governação. Conseguimos desde a Independência ganhos extraordinários. Transformamos Cabo Verde de um país improvável num país possível. Gerimos bem a ajuda pública internacional. Agora, ambicionamos o desenvolvimento avançado no horizonte de 2030. Como financiar esse desenvolvimento, tendo em atenção a vulnerabilidade económica de Cabo Verde? Temos de continuar a fazer o nosso trabalho de casa. A responsabilidade pelo desenvolvimento de Cabo Verde é antes de mais das cabo-verdianas e dos caboverdianos. Mas precisamos de parcerias da comunidade internacional, designadamente da Europa, com ganhos comuns, para continuarmos a realizar reformas, a modernizar as infraestruturas, a qualificar as pessoas, a densificar o sector empresarial privado, a inovar, a acrescentar valor, e a construir fatores de competitividade, fazendo das vantagens comparativas, a que me referi acima, em fontes de vantagens competitivas. Só deste modo podemos criar as nossas próprias riquezas. Cabo Verde e a África precisam de parcerias da comunidade internacional, desde logo da Europa, com ganhos recíprocos, na base de uma Agenda de Desenvolvimento, com uma visão, estratégias, metas e indicadores de desempenho, com compromissos e responsabilidades das partes. Uma Agenda orientada para a criação de oportunidades, para o crescimento económico, para a geração de empregos, para o combate à pobreza e às desigualdades sociais, num ambiente de liberdade, de democracia e de respeito pelos direitos humanos. Muito Obrigado.