1 Discurso de sua Excia. o Primeiro-Ministro, José Maria Neves, por ocasião da cerimónia de abertura do Fórum Internacional “Protecção Social para Crescimento Inclusivo: Opções e Perspectivas” É com enorme satisfação que, perante esta audiência, presido à abertura da Conferência Internacional «Protecção Social para Crescimento Inclusivo: Opções e Perspectivas», que reúne parceiros e interessados no fruto maior do Desenvolvimento Humano, que é a inclusão social e o bem-estar dos cidadãos. Felicito os promotores e os organizadores desta Conferência Internacional pela reflexão e debate que propõem e pelas questões prévias que levantam, antevendo eu que saiamos daqui mais ricos e, sobretudo, mais empenhados em buscar caminhos correctos e precisos em prol da problemática que aqui nos reúne. Como homem público e com responsabilidade governativa, confesso-vos que o crescimento inclusivo faz parte das minhas principais preocupações, senão mesmo obsessões. Um pequeno estado insular, frágil e vulnerável como Cabo Verde, não pode, nem deve se coibir da prioridade de incrementar políticas activas e gradativas de protecção social para que o crescimento seja inclusivo e se traduza em desenvolvimento humano. Temos debatido, numa base quotidiana, em torno desta problemática e, não sendo fácil resolver os muitos problemas sociais, alguns por sinal muito recorrentes e a depender de pressupostos exógenos, é nossa firme responsabilidade e missão de que não abrimos mão construir um Cabo Verde próspero, com coesão social e qualidade ambiental. Temos debatido, a cada dia, a dinâmica de um país, desprovido de recursos naturais, que hoje, apesar de tudo, cresce a 4% do PIB, mas que precisa crescer mais num contexto mundial extraordinariamente difícil; que hoje apresenta um IDH 0,586 e que ambiciona tê-lo a 0,740, no horizonte de 2030; e que hoje tem um PIB per capita nos 3.609 dólares e precisa tê-lo nos 12.000 dólares – como um País Desenvolvido, já em 2030. Desde 2001, depois da segunda alternância democrática, que projectámos a mudança de paradigma socioeconómico em Cabo Verde, a partir de uma agenda de transformação e da inclusão social como factor essencial ao Desenvolvimento. 2 Desta altura a esta parte, a acção governativa orienta-se por políticas e programas de protecção social e transferência de rendimento; estratégias de desenvolvimento rural e sustentável; inovações para a geração de emprego, uso dos recursos naturais e prestação de serviços de saúde, educação e capacitação do capital humano. Constitui nossa visão que a pobreza é excludente. A pobreza desnivela e ostraciza. De modo que a condição sine qua non para o crescimento inclusivo reside na riqueza. Só a riqueza, quando gerida a partida da perspectiva social e humanista, pode ser socialmente inclusiva e ambientalmente responsável. Por conseguinte, apenas o crescimento acelerado e seguro da nossa economia pode resolver, de modo sustentado, o problema do desemprego e da pobreza. A produção e a justa distribuição da riqueza podem reduzir as desigualdades e contribuir para que tenhamos um bom coeficiente da igualdade e da distribuição social do rendimento. O impacto do crescimento económico é tanto virtuoso quanto mais beneficia os vulneráveis. Entrementes, o crescimento económico consolida-se e dinamiza-se de forma segura quanto mais inclusivo for e quanto mais pessoas, directa e/ou indirectamente, a ele tiverem acesso. Deste modo, a centralidade da política governativa está no crescimento económico acelerado, mas plenamente indexado à protecção social e à satisfação dos fundamentais aos cidadãos. Para que atinjamos tal desiderato, temos de estar cientes dos desafios económicos, fiscais e financeiros que o país enfrenta em face a um contexto económico mundial extremamente exigente e imprevisível. Temos de estar atentos às opções e às perspectivas, bem como às estratégias, para densificarmos as políticas de protecção social e assegurarmos, nos limites das nossas capacidades, a sua sustentabilidade. Para que o atinjamos, dizia, temos de construir uma ampla rede de parceiros públicos e privados, nacionais e estrangeiros, e montar uma plataforma para a promoção do conhecimento e a partilha de informação sobre a protecção social e crescimento inclusivo. Neste momento, a prioridade da nossa acção governativa incide na criação de emprego. Temos consciência que a taxa de 16.8% do desemprego, com forte incidência nos jovens, tem um forte impacto social, não só pelas retracções individuais, familiares e sociais que cria, mas também pelo condicionante negativo sobre o crescimento económico. Continuamos a cumprir a agenda de transformação e a dinamizar sectores geradores de emprego e de rendimentos como agro-negócios, tecnologias 3 informacionais, energias renováveis e economias criativas; a desenvolver o capital humano; e a fomentar a densificação do sector privado, máxime das micro e pequenas empresas. Sem fugirmos à realidade, nem estarmos com os pés fora do chão, assumimos a ambição clara e inequívoca em prol do desenvolvimento. Não nos contentamos com o cumprimento dos Objectivos do Desenvolvimento do Milénio, em 2015. Nem baixaremos os braços por havermos entrado na esfera dos Países de Desenvolvimento Médio. A nossa legítima ambição é de um Cabo Verde Próspero, no horizonte de 2030, com o prospecto de desenvolvimento inclusivo no centro das nossas preocupações para que todos os cabo-verdianos possam compartilhar os benefícios do processo transformacional. A nossa legítima ambição é de um crescimento inteligente (educação, conhecimento e inovação), de um crescimento sustentável (uma economia mais eficaz em termos de recursos, mais ecológica e mais competitiva) e de um crescimento inclusivo (uma economia com um elevado nível de emprego e coesão económica, social e territorial). Um país que cresce, gera riqueza e garante a sua justa distribuição. Cabo Verde Próspero, no horizonte de 2030, terá de se sustentar numa estratégia multidimensional de promoção do crescimento sustentável e do emprego nos próximos anos, que tem por objectivo fortalecer o país diante da pior crise económica mundial desde os anos 30. A cada dia, vamos implementando melhores acções, com impactos universais e transversais, em prol desta estratégia multidimensional. Em verdade, a cada dia, vamos implementando melhores políticas do crescimento inclusivo e de protecção social. De entre os factores relevantes para implementarmos esta estratégia multidimensional, que nos poderá levar à transformação sustentável e ao desenvolvimento inclusivo, destacaria a convergência das forças políticas, económicas e sociais. A competitividade e estabilidade só se conseguem através de um Pacto Nacional Alargado, bem mais alargado do que a já notável e importante Concertação Social Estratégica. A tarefa de implementarmos esta estratégia é de todos e de cada um. É tarefa colectiva e partilhada. É essencial que compreendamos a necessidade de consensos nestes tempos tão exigentes e de grandes desafios, em que crescer como precisamos vai no contra ciclo da economia mundial. Há 37 anos, Cabo Verde mostrou que não aceitava o fatalismo de ser um país improvável. Agora, depois de uma trajectória de que nos orgulhámos e de que 4 os nossos parceiros reconhecem positiva, devemos contribuir para a consolidação de uma protecção social e de um crescimento mais inclusivo em prol do bem-estar e da qualidade de vida de todos os cabo-verdianos.