JOSÉ LUIZ GOMES DO AMARAL CONTROLE DA HIPERTERMIA MALIGNA NO BRASIL Monografia apresentada à Academia Nacional de Medicina como parte dos requisitos para concorrer à Cadeira de número 48, patronímica de Márcio Philaphiano Nery, Secção Medicina, em decorrência do falecimento do Ilustre Professor Doutor Rubem David Azulay. RIO DE JANEIRO – 2014 Sumário I. Introdução 3 II. Uma breve revisão 8 1. Bases do conhecimento em Hipertermia Malign 8 2. Publicações na Revista Brasileira de Anestesiologia 12 1970 - 1979 1980 - 1989 1990 - 1999 2000 - 2009 2010 – 3. Outras publicações 18 III. Hotline +55(11) 5575 9873 19 IV. Ações junto à Socidade Médica 21 Resoluções Diretrizes V. Ações junto à Sociedade Civil 24 Legislação Dantrolene VI. Teste de Contratura Muscular 28 VII. Perspectivas 38 VIII. Referências bibliográficas 40 IX. Anexos 54 2 I. Introdução O controle das doenças passa pelo seu reconhecimento e compreensão de seus mecanismos, pela definição da causa e de seus determinantes, acurácia do diagnóstico e disponibilização dos recursos terapêuticos. Será difícil precisar quando teriam surgido os primeiros casos de Hipertermia Maligna (HM), mas a exposição a agentes desencadeantes, como éter e clorofórmio, vem da metade do século XIX. Das primeiras descrições da síndrome, ainda imprecisas, aos relatos de Michael Denborough e Richard Lovell, em 1960 e 1964, foram passados cerca de sessenta anos. Menos de vinte anos foram necessários para definição dos agentes desencadeantes, da natureza genética da susceptibilidade, dos elementos de diagnóstico clínico e surgimento de alternativas terapêuticas. Do início dos anos 80 aos dias de hoje, consolidamse as bases moleculares da HM e a investigação genética estende os horizontes dos clínicos e cientistas, sorte a localizar melhor 3 esta síndrome em um conjunto de miopatias aparentadas, como a central core. Ao final da década de 70, a HM ainda era entidade nosológica imprecisa, vagamente mencionada nos “rodapés” dos textos de Anestesiologia. Eu participava pela primeira vez de um congresso de médico no Exterior: era o American Society of Anesthesiologists Annual Meeting, naquela ocasião em Chicago, nos Estados Unidos. Entre as muitas experiências que marcaram aquelesdias,guardo a lembrança da palestra de Henry Rosenberg sobre estasíndrome, na ocasião,situação aparentemente remota, mas que, ao longo de minha vida profissional, tem ocupado muito da minha atenção. Voltei à HM, como participante do Congresso Brasileiro de Anestesiologia, em Curitiba (PR), acompanhando as discussões de Luiz Xavier, Antonio Leite Oliva Filho e vários outros. Esta síndrome foi objeto de sessão daquele evento e já se tinha, no Brasil, publicado sobre ela, inclusive alguns relatos de casos. O primeiro relato brasileiro veio do grupo de João Batista Pereira, de Porto Alegre (RS)(PEREIRA et al., 1975). Em 1982, no Conselho Regional de Medicina de São Paulo, envolvi-me na discussão de um caso de HM que resultara em processo ético, civil e criminal de uma jovem colega que conduzira um caso fatal. Impressionou-me a impotência do médico face a um caso desta natureza e busquei reunir as informações então disponíveis. Meu primeiro encontro com a HM deu-se ao fim da década de 80: acompanhava a passagem de plantão na Terapia Intensiva, quando fui chamado ao Centro Cirúrgico... 4 Tratava-se de um adulto jovem, vítima de ferimentos por arma de fogo no abdome, submetido, em caráter de emergência à laparotomia para tratamento de múltiplas perfurações intestinais. Encontrei-o taquicárdico, discretamente hipertenso. Ao palpar-lhe o pulso, surpreendeu-me hipertermia acentuada. Medimos a temperatura axilar: acima dos 40 graus centígrados. Apesar do bloqueio neuromuscular, a rigidez muscular generalizada dificultava o acesso à cavidade abdominal. Tinha de ser “Hipertermia Maligna”! Interrompemos a administração de halotano, iniciamos hiperventilação e resfriamento de superfície e vesical. Dispunhamos de apenas um frasco de dantrolene sódico, emprestado de outro hospital de São Paulo. A deterioração hemodinâmica era acelerada: hipotensão arterial de difícil controle e extrassístoles frequentes; cianose nas extremidades. Os 20 mg de dantrolene foram, obviamente, insuficientes para deter a progressão do quadro clínico e, mal concluída a intervenção cirúrgica, encontrávamo-nos já na reanimação da segunda parada cardíaca; o sangramento abundante expressava coagulação intravascular disseminada. Transferimos nosso doente para a Unidade de Tratamento Intensivo, onde ele veio a falecer poucas horas depois. Entreguei várias cópias de um relatório detalhado a um dos irmãos do paciente, orientando-o a comunicar o ocorrido aos familiares, informando-lhe que todos corriam risco caso fossem submetidos à anestesia com halogenados. Era o que restava a fazer...naquele momento. Ao comentar o caso com os colegas da Faculdade e de outras instituições dei-me conta do desconhecimento quase 5 completo do assunto, da falta de recursos terapêuticos dada a impossibilidade de confirmar o diagnóstico. Vi naquele caso malsucedido razão bastante para dar início a uma caminhada que hoje passa de 25 anos. Tenho acompanhado vários pacientes e compartilhado, nos insucessos, a tristeza de suas famílias, mas também com elas, o entusiasmo e a satisfação de poder contribuir para uma prática médica mais segura. Ao final da década de 80 crescia entre anestesiologistas, cirurgiões e intensivistas sobretudo, justificada preocupação com a HM. Era imperioso elaborar um plano estratégico para o enfrentamento desta condição. Procurei estudar o que havia então disponível sobre o assunto, encontrando nos Estados Unidos e no Canadá um programa bem estruturado. A MHAUS (Malignant Hyperthermia Association of United States) mantinha um plantão de informações sobre esta matéria, publicava o The Communicator e apoiava os laboratórios de investigação e diagnóstico. Agendei visita ao Professor Henry Ronsemberg, Consultor Médico da MHAUS e responsável com J. Fletcher por um dos Centros de Diagnóstico de HM com mais intensa atividade naquele momento, no Hospital Hahnemann (Philadelphia, Pennsylvania). Do que havia lido e dele ouvido, pareceu-me claro que o primeiro passo era disponibilizar informações aos anestesiologistas, de sorte a permitir-lhes diagnosticar a HM e conduzir corretamente o tratamento. Depois, encontrar meios de garantir o tratamento e confirmar o diagnóstico. A presente monografia busca apresentar um resumo da evolução do conhecimento médico sobre HM, particularizando o 6 que se tem feito neste campo em nosso País e meu envolvimento nestas iniciativas. 7 II. Breve revisão 1. As bases do conhecimento em Hipertermia Maligna Atribui-se ao médico inglês John Snow (1813 – 1856), fundador da epidemiologia moderna e pioneiro da Anestesiologia, os primeiros relatos sobre elevação súbita e inesperada da temperatura durante anestesia. Não se tinha, à época, noção das causas deste problema (GOERIG e AGARWAL, 2000), muito provavelmente associado aoéter, clorofórmio ou outros anestésicos voláteis que precederam o halotano, introduzido na prática clínica quase 100 anos depois (HARDMAN, LIMBIRD, GOODMAN GILMAN, 2001). A partir de 1900, sucedem-se relatos sobre a hipertermia peri-operatória (GIBSON, et al., 1900; MOSCHCOWITZ, 1916; OMBRÉDANNE e ARMINGEAT, 1929) e, já em 1937, o tema passa a constar dos manuais de anestesia (JANTZEN eKAUFMANN-STEMP, 1991). 8 Denborough e Lovell (1960), em breve correspondência dirigida ao editor do Lancet descrevem com precisão a HM, associam-na ao halotano e definem seu caráter hereditário. Tratava-se do relato de paciente do gênero masculino, de 21 anos de idade submetido a correção de fratura de tíbia e fíbula. Entre seus antecedentes familiares constavam 10 óbitos associados a anestesia com éter. Anestesiaram-no com tiopental, meperidina, óxido nitroso e halotano, do que resultou hipotensão, taquicardia, palidez, cianose, hipertermia e sudorese. O quadro foi controlado com resfriamento transfusão e houve total recuperação. O relato deste caso foi, dois anos depois, detalhado em artigo completo publicado no British Journal of Anesthesiology (DENBOROUGH et al., 1962) e suscitou outras publicações sobre casos semelhantes (GIBSON e GARDINER, 1969). Em curto espaço de tempo, informacões adicionais ajudaram a compor o conjunto da fisiopatologia e etiologia desta síndrome. Os aspectos familiares e alterações nos níveis séricos de creatinofosfoquinase permitiram localizar o problema no músculo esquelético e definir sua natureza genética (ISSACS e BARLOW, 1970). A análise de 115 relatos de HM reunidos ao final da década de 60 caracterizou seu padrão autossômico dominante, com reduzida penetrância e expressividade variável (BRITT et al.,1969). Denborough et al. (1973) associam a miopatia tipo CCD (central core disease) à HM e apontavam como substrato da doença o aumento dos níveis intracelulares de cálcio, secundário a defeito n retículo sarcoplasmático da fibra muscular. Data de 1914 a primeira descrição de HM porcina. Nesse caso, porém, a transmissão genética é autossômica recessiva, tendo o quadro sido denominado, em 1953, Síndrome do Estresse 9 Porcino (SSP) (JANTZEN e KAUFMANN-STEMP, 1991). O modelo porcino para a HM, proposto por HALL et al., em 1966, trouxe grande avanço na compreensão dos mecanismos da doença e permitiu aprimoramento de métodos diagnósticos e da terapia específica. A SSP era provocada em porcos Landrace e se expressava por hipertermia, rigidez muscular, acidose, hipercalemia, hipernatremia, hipermagnesemia e hiperglicemia (HALL et al., 1966; BERMAN et al., 1969). A evolução da investigação da susceptibilidade à HM data dos trabalhos de Kalowet al. que, em 1970, constataram resposta contrátil anormal quando o músculo estriado esquelético de sobreviventes de crises de HM era exposto à cafeína. Comportamento semelhante foi observado por Elliset al. (1971) com relação ao halotano. Tais achados fundamentaram a pesquisa de susceptibilidade à HM por meio de testes de contratura muscular (ELLIS et al., 1986). Em 1964, foi realizado o primeiro simpósio de HM, em Toronto, no Canadá (GORDON, 1966). Ainda no Canadá, em 1971, teve lugar o “1o Simpósio Internacional de Hipertermia Maligna” e, em 1979, criou-se naquele País a primeira associação de pesquisadores e membros de famílias afetadas, a Malignant Hyperthermia Association - MHA -. Ao mesmo tempo, na Europa, surgiram outros centros de investigação (ELLIS et al., 1971) e, em 1983, criou-se Grupo Europeu de Hipertermia Maligna - European Malignant Hyperthermia Group (EMHG) (ELLIS et al., 1984). Em 1981, estruturou-se a associação norte-americana Malignant Hyperthermia Association of the United States (MHAUS), com o objetivo de divulgar informações sobre a HM e diminuir a morbi-mortalidade a ela associada. Essa associação 10 instituiu em 1983 o atendimento telefônico contínuo (HOTLINE) para orientação sobre crises de HM e passou a publicar regularmente um boletim de divulgação sobre HM chamado The Communicator. Em 1987, foi implantado o Registro de Pacientes com HM na América do Norte, tendo entre suas finalidades padronizar o teste de contratura muscular, pesquisar mutações associadas e realizar estudos epidemiológicos. O defeito subjacente à HM é liberação excessiva e contínua de cálcio do retículo endoplasmático para o citoplasma (OHNISHI et al., 1986), dando sequência a alterações metabólicas, hipertermia, acidose e rigidez muscular. Mickelsonet al. (1988) demonstraram que a liberação anormal de cálcio era causada por defeito no canal lento de cálcio (receptor rianodina) do retículo sarcoplasmático da fibra muscular esquelética. Mackenzieet al. (1990) localizaram o gene do receptor rianodina no braço longo do cromossomo 19, na região 19q13.1. Em 1991, Fujiiet al. encontraram em porcos suscetíveis à HM a mutação do gene que codifica o receptor rianodina e, no mesmo ano,Gillardet al. descreveram em humanos mutação análoga do receptor rianodina associada à suscetibilidade à HM. O derivado hidantoínico dantrolene, sintetizado em 1967, é um relaxante muscular que age no receptor da rianodina, interrompendo o acoplamento excitação-contração nas células musculares (SNYDER et al., 1967). Em 1975, Harrison descreve experimentos em porcos, onde foi possível, por meio da administração de dantrolene sódico, interromper a evolução de crises de HM induzidas por halotano e sugeriu a utilização deste agente no controle da síndrome humana. A eficácia do dantroleneno tratamento da HM em humanos foi demonstrada nas 11 décadas seguintes (KOLB, HORNE, MARTZ, 1982; STRAZIS, FOX, 1993). 2. Publicações na Revista Brasileira de Anestesiologia 1970-1979 Em 1971, na secção de resumos da Revista Brasileira de Anestesiologia, o Professor Álvaro Eugênio (da UNICAMP, Campinas – SP) discutiu com sua habitual propriedade o artigo de Digby Leiget al. (Anaesthesia & Analgesia 1971; 50:39-42), que considera o resfriamento como intervenção fundamental no tratamento de crises de HM (EUGÊNIO AC, 1971). Professores de Ann Arbor, Universidade de Michigan, observam elevação mantida da creatino-fosfoquinase em membros de família com vários óbitos associados a HM, tecendo considerações sobre possíveis mecanismos envolvidos na fisiopatologia da síndrome e sugerindo a determinação da creatino-fosfoquinase como ferramenta na identificação da susceptibilidade no pré-operatório (ZSIGMONDet al., 1971). Castaños (1971), da Faculdade de Medicina de La Paz, com foco em respostas anormais à succinilcolina, publicou entre nós extensa revisão, que inclui as diversas hipóteses sobre desarranjos na células musculares subjacentes à HM, propondo protocolo de tratamento das crises que, em vários aspectos, se aproxima do proposto na atualidade. Pereira, Castro e Luchesi (1975), de Porto Alegre, relatam caso de sucesso no controle de uma crise de HM, enfatizando aspectos do diagnóstico, controle e tratamento. Na conclusão, 12 argumentaram sobre a importância de estender a investigação sobre o tema. Gouveia e Massa (1977), do Serviço de Anestesia do Hospital de Santo Antonio dos Capuchos, Lisboa (Portugal), descrevem episódio de HM em criança de 7 anos submetida a cirurgia de estrabismo e anestesiada com halotano e succinilcolina. As manifestações clínicas listadas expressam quadro clínico exuberante, com rigidez de masseter, hipertermia acentuada e colúria. A recuperação foi completa eoito meses depois, ainda que houvesse exposição à mesma técnica anestésica aplicada anteriormente, não houve recorrência da crise. Silva e Conceição (1978), da Universidade Federal de Santa Catarina publicam extensa revisão sobre o tema, identificando na membrana da célula muscular o defeito determinante da HM. Fazem restrições ao uso da determinação de creatino- fosfoquinase como triagem pré-operatória, mas dão importância à avaliação da contratura muscular no diagnóstico de susceptibilidade. Incluem o dantrole como tratamento específico, lembrando do fato deste agente não estar disponível no Brasil. Carvaho (1978), do Hospital Getúlio Vargas, Rio de Janeiro (RJ), ao analisar os efeitos adversos da succinilcolina, trata com destaque da HM e aponta o dantrolene como alternativa promissora no tratamento desta complicação. 1980-1989 Nocite (1982), de Ribeirão Preto, SP, em comentário sobre artigo de Flewellen EH e Nelson TE. Masseter spasm induced by succinylcholine in children: contracture testing for malignant 13 hyperthermia. Report of six cases. CanAnaesthSoc J 1982;29:4249, associa rigidez de masseter à HM, propõe interrupção da anestesia em casos eletivos e investigação diagnóstica visando HM. Em 1982, no 29o Congresso Brasileiro de Anestesiologia, em Curitiba, o Doutor Luiz Xavier, médico de São Paulo, apresenta, nos Cursos de Atualização o tema “Hipertermia Maligna”. Dois anos depois este autor publica extensa revisão onde já inclui o dantrolene na orientação terapêutica e ressalta a orientação da famíliapara investigação de susceptibilidade (XAVIER, 1984). HM surge como questão no Concurso de 1985 para o Título Superior de Anestesiologia, que vem depois a ser comentada por SILVA et al., em 1986. Almeida Netoet al. (1985), de Curitiba, PR, apresentam relato de dois casos tratados com sucesso. Em um deles foi administrado dantrolene por via enteral. Em ambos foi realizado biópsia muscular e notado que tecido retirado se contraía acentuadamente quando exposto ao halotano. Tais experiências motivaram este grupo a adquirir dantrolene e, em carta publicada na Revista Brasileira de Anestesiologia, mantê-lo para uso próprio, mas também disponibilizá-lo aos colegas que dele necessitassem (ALMEIDA NETO, 1987). Grando (1986), de Porto Alegre, RS, em artigo de cunho educacional, novamente lembra HM como efeito adverso da succinilcolina, Alvarezet al., em 1987, de Santa Maria, RS, apresentam no 34o Congresso Brasileiro de Anestesiologia, crise de HM em criança de 9 anos, Ressaltam a importância da confirmação do 14 diagnóstico e lamentam a impossibilidade de realização de biópsia muscular e aplicação do teste de contratura muscular. Mendes, Vier e Moretti (1989), de Porto Alegre, RS, relatam episódio de HM em criança de 2 anos, portadora de Síndrome de Larsen (deformidades articulares secundárias a alterações do tecido conjuntivo) submetida a correção cirúrgica de pé torto congênito e anestesiada com halotano e succinilcolina. Os autores consideraramineficaz o tratamento com dantrolene oral, entendendo ser esta a explicação da demora para controle do quadro. Concluem enfatizando a necessidade de se ter, para o adequado tratamento desta eventualidade, imediatamente disponível dantrolene injetável. 1990 - 1999 Em carta ao Editor da Revista Brasileria de Anestesiologia, Almeida Neto (1992) divulga resultado de pesquisa (Hipertermia Maligna – Retrato Brasileiro) feita junto a mais de 4500 anestesiologistas brasileiros sobre HM. Dos 521 respondentes, constatou-se, até 1989, a ocorrência de 49 casos e 25 óbitos. Entre os sobreviventes, apenas 6 beneficiaram-se de biópsia muscular para confirmação diagnóstica e apenas 5 famílias haviam sido investigadas. Entre as observações que VIEIRA (1993), especialista brasileiro atuante no Cook County Hospital, em Chicago, IL, EUA, faz a respeito da carta de Almeida Neto, há menção à importância do diagnóstico precoce com a monitorização contínua da produção de gás carbônico e da temperatura durante a intervenção. Estes aspectos e vários outros relevantes são esmiuçados por Leitão e Cançado (1996), de São Paulo, SP, em detalhada revisão sobre HM. 15 Conceição (1998), de Florianópolis, SC, relatacondução bem sucedida de anestesia epidural contínua com ropivacaína e sufentanil em mulher de 27 anos, confirmada susceptível à HM e submetida a mamoplastia reconstrutora e abdominoplastia sob anestesia peridural. Hors e Garicochea (1999), de São Paulo, SP, publicam artigo focalizado nas alterações genéticas, substrato da HM, apontando as perspectivas que se abrem com a identificação das mutações associadas, hoje descritas em cerca de 50% das famílias afetadas. 2000 - 2009 Gomez, Silva e Peluso (2003), da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, descrevem anestesia intravenosa com propofol, fentanil, combinada com epidural lombar, em criança de 3 anos, com suspeita de susceptibilidade a HM (episódio de HM em anestesia anterior) e submetida a correção de luxação congênita de quadril. Foi possível conduzir o caso com segurança e a família foi orientada. Uchoa e Fernandes (2003), de Fortaleza, CE, relatam rabdomiólise fatal induzida pelo exercício. Ainda que não houvesse, nesse caso, antecedentes de HM, dada a associação encontrada em vários casos publicados na literatura médica, os autores consideram a possibilidade de investigar susceptibilidade à HM nos familiares do paciente afetado. Em 2003 foi conduzido iniciativa junto aos anestesiologistas brasileiros, que consistia em questionário com 20 questões sobre diagnóstico e tratamento da HM, acompanhada das respostas comentadas, visando orientar intervenções educacionais, avaliar o 16 nível de conhecimento dos médicos e, ao mesmo tempo, atualizálos sobre o problema (SIMÕES et al., 2003, de São Paulo, SP). 2010 – A fisiopatologia da HM é descrita em sua extensão por Correia, Silva e Silva(2012), de João Pessoa, PB. Os autores listam as substâncias exógenas e endógenas que interagem com os receptores de rianodina (RYRs) do retículo sarcoplasmático e descrevem as formas de interferência com o acoplamento excitação contração. Discutem ainda as mutações associadas à susceptibilidade e as perspectivas oferecidas pelos testes genéticos. O artigo se acompanha de esclarecimentos sobre o teste de contratura , nomeadamente sobre as diferenças entre os protocolos adotados pelos grupos norte-americano e europeu (Silva, Andrade e Amaral, 2013). Fernandeset al. (2013), de Fortaleza, CE,publicam crise de HM em lactente portador de síndrome de Moebius submetido a correção de pé torto congênito sob anestesia com sevoflurano e succinilcolina. Esta síndrome reúne paralisia facial unilateral ou bilateral, defeitos de movimentos extraoculares secundários à paralisia dos nervos facial e abducente. Outros nervos cranianos são eventualmente anormalidades também orofaciais, afetados. hipotonia Ocorrem também musculoesquelética e problemas ortopédicos. O episódio foi controlado inicialmente com dantrolene, que foi mantido na Unidade de Terapia intensiva, na posologia preconizada por 24 horas. Entretanto, dez horas após a interrupção do dantrolele, houve recrudescência da HM com ausência de resposta ao tratamento e o paciente evoluiu para óbito. 17 Entre as atividades do Hotline do Brasil em 2009, Silvaet al. (2013) acompanharam cinco crises de HM associadas a isoflurano e sevoflurano (em um dos casos associado a succinilcolina), apenas um deles tratado com dantrolene, mas com recuperação em todos. Em dois pacientes houve confirmação da susceptibilidade por meio de testes de contratura com halotano e cafeína. 3. Outras publicações A lista de artigos publicados na Revista Brasileira de Anestesiologia não encerra a produção científica nacional sobre o tema, mas reflete anestesiologistas a evolução brasileiros nesta do pensamento matéria. Ao lado dos das publicações em periódicos, acompanharam-nas vários capítulos publicados em livros textos de Anestesiologia e Medicina Intensiva. Em 2009, procuramos, as professoras Helga Cristina Almeida Slva, Ana Maria Crous Tsanaclis e eu reunir na obra “Hipertermia Maligna”, nossa experiência e a de vários colaboradores a experiência brasileira e internacional (SILVA, TSANACLIS e AMARAL, 2009). 18 III. HOTLINE + 55 (11) 5575 9873 Voltei da visita à MHAUS com a intenção de criar um HOTLINE no Brasil, de forma a poder acompanharem tempo real a condução dos episódios de HM e prestar assistência aos colegas nesse mister. Era ainda necessário dispor de recursos terapêuticos, visto que o dantrolene não era encontrado no País e sua importação, à época, era processo complexo e demorado. Do superintendente do Hospital São Paulo (EPM-UNIFESP), o Professor Hélio Egydio Nogueira, veio apoio para manter na Instituição estoque de dantrolene disponível a quem dele necessitasse e instalar uma linha telefônicadedicada a oferecer informações sobre HM. O HOTLINE +55(11)55759873 funciona 24 h por dia e ininterruptamente há 23 anos. Por meio desse serviço é possível receber imediatamente orientações para diagnóstico e tratamento de crises de HM, bem como encaminhar pacientes para a 19 investigação de susceptibilidade, conseguir empréstimo emergencial de dantrolene e obter informações para sua aquisição.Durante quase duas décadas, esse telefone ficava na Unidade de Terapia Intensiva da Disciplina, no Hospital São Paulo e eu respondia pessoalmente às ligações. Mais recentemente compartilho essa função com a Professora HelgaCristina Almeida da Silva e nossos Médicos Residentes de 3o ano,também treinados especialmente para este fim (SILVA et al., 2013). 20 IV. Ações junto à Sociedade Médica Durante mais de década pude trabalhar junto à SBA e suas Regionais a difusão das informações sobre HM entre os anestesiologistas brasileiros. A SBA abraçouimediatamente acausa. Aprovou em sua Assembléia de Representantes a inclusão em seus estatutos de cláusulas que incluem HM entre os pontos dos seus exames de qualificação, obrigam a discussão deste tema nos congressos da especialidade. Desde o início dos anos 2000 o tópico HM faz parte do conteúdo programático de todos os Programas de Ensino e Treinamento credenciados pela SBA. Em 2001, a Assembléia de Representantes da SBA, reunida no 48o Congresso Brasileiro de Anestesiologia, em Recife (PE), constituiu o primeiro Comitê Permanente de HM (2002-2004), com Maria Anita Spíndolla Bez Batti, Roberto Takashi Sudo e José Luiz Gomes do Amaral.Na gestão seguinte, Luiz Bomfim Pereira da Cunha sucedeu Roberto Takashi Sudo, mantendo-se os demais 21 membros. Desde então, até o momento, este Comitê é renovadoparcialmente a cada dois anos e presta assessoria Tecnico-Científica à SBA neste campo. Têm-no também constituído até 2014, Daniel Carlos Cagnolati, Cláudia Márquez Simões, Ana Karla Alves Arraes von Sohsten, Carlos Darcy Alves Bersot e Heber Moraes Penna. O resultado positivo desse esforço fez-se logo sentir, avaliados os resultados de dois levantamentos sobre HM feitos junto aos membros da SBA, em 1989 por Almeida Netoet al. (1992) e por nosso grupo, em 2003 (SIMÕES et al., 2003). Em ambos os estudos os profissionais receberam o questionário sobre HM e responderam livremente; a taxa de devolução foi, respectivamente, de 11,49% e 10,4%. O primeiro estudo pesquisou a ocorrência de crises de HM, encontrando 49 casos, dos quais 51,02% faleceram (nenhum deles recebeu dantrolene); seis dos 24 pacientes sobreviventes receberam dantrolene. A pesquisa revelou que este agente era disponível para apenas 4,79% (25) dos anestesiologistas respondedores. O primeiro estudo alertava para o desconhecimento sobre todos os aspectos da HM, resultando no encaminhamento de apenas seis dos 24 sobreviventes para investigação O segundo estudo avaliou o conhecimento sobre HM, obtendo mais de 90% das respostas corretas sobre diagnóstico e tratamento, mas aproximadamente 50% das respostas sobre indicação da biópsia muscular e farmacologia do dantrolene estavam erradas. Ainda restava longo caminho a percorrer. Resoluções 22 Em 1993 e 2006, integrei as Comissões Especiais Conjuntas que elaboraram, no Conselho Federal de Medicina, as Resoluções 1363/1993 e 1802/2006 que definiram, de 1993 a 2006 e, de 2006 até o presente, parâmetros de boas práticas clínicas em Anestesiologia. Tais Resoluções, a 1802/2006 particularmente, contemplam os processos e recursos necessários para prevenir, diagnosticar e tratar HM. Em 1993, a muitos ainda faltava informação sobre HM e a escassez de recursos de monitorização e tratamento não permitia ir além das determinações elencadas na Resolução 1363/93 (ANEXO 1). Entretanto, já naquela oportunidade o tema foi muito debatido e o uso da capnografia “quando tecnicamente indicada” visava, entre outras (nomeadamente intervenções com insuflação de CO2 em cavidades corporais, como na cirurgia laparoscópica), atender à condição de exposição a halogenados e succinilcolina. A consolidação da cultura da segurança do paciente cirúrgico, e a resistência dos gestores das instituições hospitalares em proverem tratamento específico e recursos suficientes de monitorização criou motivação para as determinações mais explícitas, como as constantes da Resolução 1802/2006 (ANEXO 2). Diretrizes Quando a Associação Médica Brasileira convidou as Especialidades Médicas brasileiras a participarem do Projeto Diretrizes, HM foi o primeiro tema sugerido pela SBA e tive o privilégio de coordenar aquela Diretriz em 2002 e sua revisão em 2009 (ANEXO 3). 23 24 V. Ações junto à Sociedade Civil Informar o público leigo é etapaigualmente importante do controle das doenças. Afinal, é o indivíduo que decide sobre sua saúde e conduz seu plano de tratamento; e será a sociedade que definirá sobre a alocação de recursos e as prioridades neste campo. Logo nos vimos próximos às famílias afetadas e, com eles, temos nos envolvido em várias iniciativas: da criação, em 1994, com Rogério Firme da Silva e Marisa Simons, da Associação “Sempre Viva”, que congrega famílias de portadores de HM,à elaboração, com vários parlamentares, de projetos de lei voltados ao controle desta condição. Na “Sempre Viva”, ao longo de 10 anos, participei, como Assessor Médico, da edição de boletins bimestrais anestesiologistas de e cunho ao educativo, público em distribuídos geral. aos Fizemos 25 diversaspalestras, demos entrevistas em jornais, rádio e televisão. Visitamos hospitais, gestores de Saúde e políticos. Legislação Em busca da segurança aos pacientes submetidos a anestesia buscamos sensibilizar parlamentares dos três níveis de governo, prestando-lhes apoio na elaboração de legislação que garanta a necessária proteção. Em Vitória (ES), com o vereador Luciano Rezende, foi elaborada a Lei (Municipal) 5343 de 8 de junho de 2001, estabelecendo a “Política de Prevenção, Diagnóstico e Tratamento da Hipertermia Maligna no Município de Vitória...” (ANEXO 4). Em São Paulo (SP), com o deputado estadual Paulo Teixeira, o apoio do então presidente da Assembléia Legislativa do Estado, Walter Feldman e vários outros parlamentares, aprovou-se legislação semelhante, a Lei 19781, de 9 de março de 2001 (ANEXO 5), complementada pelo Decreto 46 601 de 12 de março de 2002, pelo governador, médico e anestesiologista Geraldo Alkmin (ANEXO 6). Seguindo o determinado no Decreto, a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo publica a Resolução SS – 43, de 8 de abril de 2002, que constituiu o Grupo Técnico Permanente do Programa Estadual de Prevenção, Diagnóstico e Tratamento da Hipertermia do Estado de São Paulo, do qual faço parte (ANEXO 7). Do trabalho deste Grupo Técnico Permanente resulta a Resolução SS- 23, de 26 de fevereiro de 2004, Norma Técnica 26 que disciplina os vários aspectos contemplados na legislação apontada acima (ANEXO 8). Iniciativa semelhante teve lugar junto ao deputado federal e médico Eleuses Vieira de Paiva, que apresenta ao Congresso Nacional o projeto de lei PL 5842/2009 (ANEXO 9), com o objetivo de estender a todos os cidadãos do País, as garantias legais que hoje beneficiam aqueles assistidos em Vitória (ES) e no Estado de São Paulo. Dantrolene Ainda nos anos 90, Valentin Valério e Olgari Pacheco, respectivamente Diretor e Presidente do Laboratório Farmacêutico Cristália nos consultaram a respeito da percepção dos anestesiologistas brasileiros sobre dificuldades na prática clínica. Lembrei-lhes da preocupação que tínhamos face à impossibilidade de oferecer tratamento efetivo aos pacientes que eventualmente viessem a sofrer uma crise de HM. E se o Laboratório Farmacêutico Cristália, que produzia halogenados, disponibilizasse o tratamento aos anestesistas, por meio das Regionais da SBA? A proposta foi imediatamente aceita e a doação de 22 tratamentos foi agenda para o Congresso Brasileiro. Entretanto as tratativas para aquisição e importação do dantrolene da Proctor& Gamble americana, evoluíram para a decisão de fabricar dantrolene no Brasil e tornamo-nos o segundo País no mundo a produzí-lo. Foi um grande passo no controle da HM, visto garantir disponibilidade permanente de tratamento a custos muito menores. O interesse na pesquisa do dantrolene vem sendo recentemente ampliado face a sua potencial ação citoprotetora, 27 demonstrada no tecido nervoso (LEI et al., 1992; MITANI et al., 1993; WEI e PERRY, 1996; YANASE, MITANI e KATAOKA, 1996; WEI et al., 2000, KOCOGULLARI et al., 2008; INAN e WEI, 2010; OULÉS et al., 2012; PENG et al., 2012) e miocárdio (ZHANG et al., 2006). O Brasil hoje é dos poucos no mundo a fabricar dantrolene, a aperfeiçoá-lo, a estudar novas aplicações e, com o apoio da FINEP (Financiadora de Projetos e Pesquisas do Ministério da Ciência e Tecnologia do Brasil), desenvolver outros como o azumolene, que tem atividade semelhante, porém mais solúvel, é de mais fácil administração. 28 VI. Teste de Contratura Muscular No início da década de 90 conheci o Professor Roberto Takashi Sudo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O Professor Sudo voltava da Philadelphia, onde trabalhara em HM no laboratório do Professor Rosenberg. Ele e o Professor Luiz Bomfim Pereira da Cunha organizaram o primeiro Centro de Diagnóstico de HM no Brasil, na UFRJ. Convidei-o para uma reunião em nossa Disciplina na EPM-UNIFESP e, desde então, entretivemos com eles numerosos contatos, sobretudo na Sociedade Brasileira de Anestesiologia. Por intermédio dos amigos e destacados neurologistas dedicados a problemas neuromusculares, os doutores Acary de Souza Bule e Beny Schmidt, conheci Helga Cristina Almeida da Silva, também neurologista,que voltava da França onde se preparara na área do diagnóstico funcional da HM, dominando os 29 vários aspectos dos testes de contratura in vitro após exposição ao halotano e cafeína. A Professora Helga desenvolvera seu Doutorado, com a Professora Ana Tsanaclis na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo em testes de contratura e procurava consolidar o Centro de Diagnóstico de Hipertermia Maligna (CEDIHMA). Convidei-a juntar-se a nós e, há mais de década, temos regularmente trabalhado no diagnóstico e tratamento da HM. Hoje professora afiliada da Disciplina de Anestesiologia Dor e Medicina Intensiva da EPM-UNIFESP, Helga Silva dirige o laboratório de investigação em HM, mantém rede de colaboração com pesquisadores e geneticistas daUniversidade de São Paulo, abrindoassim amplas perspectivas no diagnóstico e investigação da HM. Como a HM é hereditária, todos os membros de uma família em que ocorreu a HM devem ser considerados susceptíveis até que se prove o contrário por meio da investigação com o teste de contratura muscular (AMARAL et al., 2002). Exposições anteriores a agentes desencadeantes sem complicações não significam ausência de susceptibilidade, visto que as crises podem surgir após múltiplas anestesias com halogenados. (SILVA, 1999). Assim, o teste de contratura muscular com halotano e cafeína está indicado na pesquisa de susceptibilidade a HM, seja na confirmação do diagnóstico clínico, seja na investigação de familiares suspeitos. Pacientes acometidos de doença muscular estrutural com cores (falhas), tipo central core (central core disease ou CCD) ou multiminicore, bem como portadores da síndrome de KingDenborough e seus familiares, são também, a princípio, 30 considerados susceptíveis, visto que, neles, o teste de contratura frequentemente resulta positivo (McPHERSON e TAYLOR, 1981). A HM também tem sido associada ocasionalmente a várias doenças neuromusculares, como distrofias musculares, miotonias, paralisias periódicas e doenças metabólicas, como glicogenoses e miopatias mitocondriais. Não é claro se estes pacientes são susceptíveis à HM ou padecem também de distúrbios na regulação da homeostase do cálcio intracelular, mas de natureza diversa (SILVA, 1999). São assim encaminhados para avaliação de susceptibilidade à HM aqueles indivíduos com antecedentes pessoais ou familiares sugestivos de HM, hipertonia de masseter, HM de esforço, síndrome neuroléptica maligna, miopatia tipo central core (central core disease ou CCD) ou multiminicore, rabdomiólise. Também são considerados os antecedentes de morte durante anestesia, morte durante exercício, doença osteo-articular e/ou malformações congênitas, intolerância ao esforço e/ou ao calor, morte súbita do berço, miopatia e neuropatia. Evita-se testar crianças abaixo dos 14 anos. Nessas situações deve-se investigar os pais (SILVA 1999). Nesta situação são examinados ambos os genitores, uma vez que tanto um como outro, podem ser susceptíveis e acometidos de mutações diferentes (MAURITZ et al., 1998). Na atualidade, o método padrão aplicado para diagnóstico de susceptibilidade à HM é o teste da contratura muscular in vitro após exposição a cafeína e halotano. Nos testes de contratura in vitro, fragmentos musculares são conectados a um transdutor que afere seu tônus e o grau de contração quando submetidos à estimulação elétrica. Estes 31 fragmentos são imersos em banho onde se acrescenta cafeína ou, por borbulhamento, halotano, em doses única ou crescentes (ELLIS et al., 1984, LARACH, 1989, ØRDING, 1988, ØRDING et al., 1988). O princípio desta técnica é mimetizar in vitro as condições fisiológicas do músculo e reproduzir a situação in vivo de exposição durante anestesia com halogenado Em indivíduos susceptíveis à HM, observa-se, no teste in vitro, contratura acentuada (rigidez) do músculo quando ao banho se acrescenta halotano (anestésico halogenado indutor de crises de HM) ou cafeína (substância habitualmente usada para produzir a contração muscular em experimentos laboratoriais). Esta resposta não é observada com a mesma intensidade no músculo de indivíduos normais. Em outras palavras, a diferença entre indivíduos normais e susceptíveis é o grau de contratura obtido face a exposição a diferentes concentrações de cafeína e halotano. Faz-se, portanto, necessário padronizar o método, sorte a definir a susceptibilidade à HM. Em 1983, a partir dos laboratórios de inventigação sobre HM na Europa, criou-se oGrupo Europeu de Hipertermia Maligna (EMHG - European Malignant Hyperthermia Group;www.emgh.org)(ELLIS et al., 1984) que, entre outras iniciativas, implementou a triagem familiar e a padronização do teste de contratura, denominado IVCT ou in vitro contracture test. O protocolo norte-americano foi uniformizado pelo Grupo NorteAmericano de MH (www.mhaus.org) em 1989 e é conhecido como CHCT ou caffeine halothane muscle contracture test) (LARACH, 1989). No Centro de Estudo, Diagnóstico e Investigação de Hipertermia Maligna (CEDHIMA) da Disciplina de Anestesiologia, 32 Dor e Medicina Intensiva Cirúrgica - Departamento de Cirurgia – EPM- UNIFESP, os testes de contratura muscular são realizados segundo o protocolo proposto pelo EMHG. Segundo esse protocolo, retira-se, para investigação in vitro, fragmentos de 15-25 mm de comprimento e 5 mm de espessura do músculo quadríceps femoral. Este procedimento é realizado sob anestesia geral, espinal ou bloqueio regional. Os fragmentos de músculo são mantidos em solução carboxigenada de KrebsRinger contendo NaCl 118,1 mMol/litro, KCl 3,4 mMol/litro, MgSO4 0,8 mMol.L-1, KH2PO4 1,2 mMol.L-1, glicose 11,1 mMol. L-1, NaHCO3 25,0 mMol.L-1, CaCl2.6H2O 2,5 mMol.L-1 e pH 7,4 e transportados para o laboratório em temperatura ambiente. Para garantir a viabilidade do material, não se permite ultrapassar 5 horas, da retirada do músculo à conclusão do teste. A concentração dos componentes da solução de preservação e aferida mensalmente e mantida dentro de limites ±10%. Sob lupa, os fragmentos de músculo são dissecados em outros mais finos (2 a 3 mm) e atados, em uma das extremidades, a um eletrodo de prata e, na outra, a um transdutor de força (Narco Bio Systems, International Biomedical, EUA). As cubas de teste são aquecidas a 37°C por água circulante controlada por termostato (Mecânica Castro Saraiva, Brasil) e preenchidas intermitentemente com solução de Krebs-Ringer continuamente oxigenada com carbogênio. A viabilidade do músculo durante o teste é demonstrada por meio de estimulação contínua com impulsos elétricos supra-máximos de 1-2 ms e frequência de 0,2 Hz (estimulador Boeck, Brasil). A intensidade de contração do músculo é transmitida a transdutor de força acoplado a amplificador/transformador analógico-digital e registrada em 33 tempo real em computador, utilizando-se programa de aquisição de dados biológicos AQDados (Links, Brasil). São realizados pelo menos quatro testes por paciente: dois estáticos com cafeína e dois estáticos com halotano. Ao final do teste de contratura, todos os gráficos de contração são impressos. Nos testes estáticos, a tensão no músculo é gradualmente elevada para produzir uma tensão de contração razoável, que é aproximadamente de 2 g de carga. Aguarda-se que a preparação se estabilize não menos que 10 minutos antes de iniciar o estímulo com os agentes provocadores. Para o teste estático cumulativo de cafeína e a medida do limiar para esta substância, sua concentração na solução do banho é aumentada gradualmente: 0,5; 1,0; 1,5; 2,0; 3,0; 4,0 e 32,0 mMol.L-1. Cada concentração sucessiva de cafeína é administrada tão logo o patamar de contração máxima seja alcançado ou, se não ocorrer contração após exposição a dada concentração de cafeína durante três minutos. O resultado do teste é referido como o limiar à cafeína, definido como a menor concentração de cafeína que produz um aumento mínimo de 0,2 g da tensão basal. Para o teste estático cumulativo de halotano e a medida do limiar para o halotano, a concentração nominal de halotano vaporizada na solução do banho, é aumentada gradualmente: 0,5; 1,0; 2,0 e 3,0 %. Cada concentração sucessiva de halotano é mantida por cinco minutos. O resultado do teste é referido como o limiar ao halotano, que é a menor concentração de halotano que produz um aumento mínimo de 0,2 g da tensão basal. Durante todo o teste, a concentração de halotano vaporizada é duplamente 34 controlada com vaporizador de halotano (Takaoka, Brasil) e monitor de agentes anestésicos (Ohmeda, EUA). Os resultados permitem classificar os pacientes em 3 Grupos “Susceptível” (MHS), “Não Susceptível” (MHN) e “Equívoco” (MHE) para MH. No MHS obtém-se o limiar à cafeína com concentração de cafeína igual ou menor que 2,0 mMol.L-1 e limiar ao halotano com concentrações até 2,0% deste agente. No MHN, o limiar à cafeína é obtido com concentração de cafeína a partir de 3,0 mMol.L-1 e o limiar ao halotano com concentrações a partir de 3,0%. Quando o limiar à cafeína é obtido com concentração de cafeína de 2,0 mMol ou menos e o limiar ao halotano com concentrações iguais ou superiores a 3,0%, os pacientes são classificados MHE. Da mesma forma, são classificados MHE aqueles em quem o limiar à cafeína é obtido com concentração 3,0 mMol de cafeína ou mais e o limiar ao halotano com 2,0% ou menos. Os pacientes MHE são tratados como susceptíveis. Aguarda-se que, no futuro, a investigação genética possa definir melhor sua condição. Para receber aval do Grupo Europeu de Hipertermia Maligna, o laboratório de diagnóstico de susceptibilidade à HM deve aplicar o IVCT, como acima descrito, em indivíduos controles (sem antecedentes pessoais ou familiares de HM) e obter neles resultados dentro dos limites normais (ELLIS et al., 1984). Além disso, deve-se obter resultados positivos em indivíduos que sobreviveram a um episódio que preencha os critérios clínicolaboratoriais de HM. Nesse sentido, desde 1997 o CEDHIMA é membro associado do Grupo Europeu de Hipertermia Maligna tendo sido Acreditado após vistoria do EGMH presidida por Albert Urwyler, em Maio de 2014 (ANEXO 10). 35 Entre as diferenças a assinalar entre os protocolos europeu e norte-americano tem-se os níveis de corte para contratura muscular, 0,2 g para halotano 2% ou cafeína 2 mM.L-1 no protocolo europeu, ≥ 0,7 g para halotano e ≥ 0,3 g para cafeína no americano; o número de fragmentos estudados, 4 fragmentos no protocolo europeu e 6 no americano; administração de halotano em dose única de 3% no protocolo americano e crescente, de 0,5 a 3%, no europeu (SILVA, ANDRADE, AMARAL, 2014). No protocolo americano não há MHE, visto que a positividade à exposição a pelo menos um dos agentes provocadores define o paciente como MHS. As diferenças entre os protocolos refletem-se na sensibilidade e especificidade dos resultados. Com o protocolo europeu, a sensibilidade é 90%, e a especificidade, 94%; com o norteamericano, a sensibilidade está entre 91 e 97%, e a especificidade, entre 53 e 100% (ALLEN et al., 1998, ELLIS et al., 1992, ISAACS; BADENHORST, 1993, LARACH et al., 1992a, LARACH et al., 1992b, LARACH, 1993, ØRDING et al., 1997, WEDEL et al., 1994). Seja qual for o protocolo adotado, tem-se a considerar os fatores que possam alterar a resposta do músculo e prejudicar o diagnóstico; diminuição da temperatura (atenuação da contração muscular), a perda da viabilidade do tecido ao longo do tempo (ausência de contração mínima de 1 g após estímulo elétrico indica inviabilidade do músculo testado), as dimensões do fragmento de músculo testado (a área transversa afeta a contratilidade), a idade (evita-se testar crianças abaixo de 14 anos; SILVA, 1999). Recomenda-se intervalo de, no mínimo, 3 meses entre um episódio de HM e o teste, sorte que a 36 recuperação do tecido muscular possibilite testá-lo. Da mesma forma, interrompe-se a administração de fármacos que possam influenciar os resultados dos testes de contratura, como bloqueadores de canais de cálcio e propranolol (ADNET et al., 1990; ORDING, 1989). Informações atualizadas sobre Centros de Investigação de Hipertermia Maligna podem ser encontradas nos https://emhg.org/mh-units/emgh-member-labs/ sites e http://www.mhaus.org/. Há hoje 36 Centros de Investigação de Hipertemia Maligna em atividade no mundo, 30 deles na Europa. O EGMH acredita hoje 16 destes centros, um deles o CEDHIMA da Disciplina de Anestesiologia, Dor e Medicina Intensiva – EPM/UNIFESP. De 2004a 2014 (julho), o CEDHIMA da Disciplina de Anestesiologia, Dor e Medicina Intensiva – EPM/UNIFESP realizou 134 IVCTs, sendo 34 MHS, 47 MHE e 53 MHN. A análise desses resultados ao longo do tempo mostra aumento do número dos casos negativos (HMN) de 37%, entre 2004 e 2010, para 50% nos últimos 18 meses. Isto também é observado em outros laboratórios. A frequência de indivíduos susceptíveis à HM nos vários centros de diagnóstico tende a ser mais elevada no início de seu funcionamento: Elliset al. (1986) referem 43%, Hacklet al. (1990), 62% e Mauritzet al. (1988), 61 famílias de 66 testadas. Isso sugere que apenas os pacientes com quadros clínicos mais graves estão sendo encaminhados para investigação. O resultados negativos são mais frequentes com o passar do tempo (ELLISet al., 1986). Tem-se buscado melhorar a especificidade e sensibilidade dos testes de contratura muscular com outros fármacos como 37 rianodina (alcalóide com ação direta sobre o receptor), clorocresol (aditivo da succinilcolina) e sevoflurano (BAURet al., 2000, REUTERet al., 2003, SNOECK et al., 2000), sem que ainda se haja demonstrado vantagens adicionais. Ao lado disso, procura-se melhor definição dos pacientes do grupo MHE e concordância entre teste de contratura e mutações específicas. 38 VII. Perspectivas Com os parágrafos que precederam este, pretendeusedelineara evolução do conhecimento acerca dos vários aspectos da HM e o desenvolvimento dos meios necessários para seu controle, no mundo e, em particular, em nosso País. Nestes pouco mais de cinquenta anos do relato de Denborough (1960) muito se progrediu neste campo, mas resta ainda considerável caminho a trilhar. Tem-se, sem dúvida, de consolidar entre anestesistas, cirurgiões, neurologistas e intensivistas o conhecimento sobre HM. Em âmbito nacional fazse necessário estendera todo território brasileiro a legislação que hoje protege apenas os assistidos no Estado de São Paulo e na cidade de Vitória; exigir a observância das Diretrizes e o cumprimento das resoluções e leis que regem esta matéria e assim garantir a segurança de todas as pessoas; facilitar o acesso ao diagnóstico e ampliar o registro de susceptíveis, nele incluindo 39 o cadastro genético; contribuir para o desenvolvimento da pesquisa em HM e sua associação com outras miopatias. Enfim, no contexto da HM, trazer segurança à prática clínica e ampliar os horizontes da Ciência Médica. 40 VIII. Referências bibliográficas ADNET PI, KRIVOSIC-HORBER RM, ADAMANTIDIS MM, HAUDECOEUR G, REYFORT GH, DUPUIS BA. Clinical concentration o verapamil affect the in vitro diagnosis of susceptibility to malignant hyperthermia. Br J Anaesth 1990: 64:64-66. ALLEN GC, LARACH MG, KUNSELMAN AR,The North Americam Malignant Hyperthermia Registry of MHAUS. 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