JOSÉ LUIZ LOPES VIEIRA
O PROCESSO DE ABANDONO DE TALENTOS DO ATLETISMO DO
ESADO DO PARANÁ: UM ESTUDO ORIENTADO PELA TEORIA DOS
SISTEMAS ECOLÓGICOS
TESE DE DOUTORADO
UFSM
Santa Maria, RS, BRASIL
1999
i
O PROCESSO DE ABANDONO DE TALENTOS DO ATLETISMO DO
ESTADO DO PARANÁ: UM ESTUDO ORIENTADO PELA TEORIA DOS
SISTEMAS ECOLÓGICOS
por
JOSÉ LUIZ LOPES VIEIRA
Tese apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Ciência do Movimento
Humano – área de concentração Desenvolvimento Humano, da Universidade
Federal de Santa Maria, como requisito parcial para obtenção do grau de
DOUTOR em EDUCAÇÃO FÍSICA.
Santa Maria, RS, Brasil
1999
ii
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DO MOVIMENTO HUMANO
A COMISSÃO EXAMINADORA, ABAIXO ASSINADA, APROVA A TESE
O PROCESSO DE ABANDONO DE TALENTOS DO ATLETISMO DO ESTADO
DO PARANÁ: UM ESTUDO ORIENTADO PELA TEORIA DOS SISTEMAS
ECOLÓGICOS
ELABORADA POR
JOSÉ LUIZ LOPES VIEIRA
COMO REQUISITO PARCIAL PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE
DOUTOR EM EDUCAÇÀO FÍSICA
COMISSÃO EXAMINADORA:
__________________________________________
Ruy Jornada Krebs - Orientador
__________________________________________
Juan José Mouriño Mosquera – PUC - RS
__________________________________________
Sebastião Iberes Lopes Melo – UDESC - SC
__________________________________________
Silvia Maria de Aguiar Isaia – UFSM - RS
__________________________________________
Vanildo Rodrigues Pereira – UEM - PR
Santa Maria, 29 de julho de 1999
iii
Aos meus amores,
Lenamar e Igor
iv
AGRADECIMENTOS
Agradeço:
A Universidade Estadual de Maringá, em especial ao departamento de
Educação Física, pela viabilização e suporte para que esta etapa de nossa formação
profissional fosse concluída.
A Pós Graduação em Ciência do Movimento Humano do Centro de Educação
Física e Desportos da Universidade Federal de Santa Maria, em especial, seu corpo
docente pelas contribuições a minha formação acadêmica e, aos funcionários pela
amizade.
Ao meu orientador e amigo Ruy Jornada Krebs, pela confiança profissional,
pela contribuição acadêmica e científica e, muito especialmente, pelo relacionamento
pessoal.
Ao professor e amigo David Gallahue, pela oportunidade de intercâmbio
profissional e científico durante nossa permanência junto a Universidade de Indiana EUA.
A professora e colega Maria da Conceição Silva, da Universidade Estadual de
Maringá, pela dedicação profissional e a competência com que desenvolve a
modalidade de atletismo na cidade de Maringá, seu amor pelo atletismo foi o nosso
passo inicial na realização dessa pesquisa.
v
A professora e amiga Yara Maria Kuster, que contribuiu significativamente
para realização deste estudo, mas, principalmente, pelo carinho.
Ao professor e amigo Jandir Carlos Martins, diretor do núcleo de divulgação
cientifica da UFSM, pela amizade e a alegria que nos proporcionou durante esta
trajetória.
Aos ex-atletas de atletismo, técnicos, familiares e dirigentes, que participaram
deste estudo pela amabilidade, sinceridade e confiança demonstrados nos
depoimentos, os quais nos possibilitaram conhecer e compreender a realidade da
modalidade de atletismo.
Em especial aos meus familiares, pela alegria que nos transmitem e pelo
encorajamento durante essa difícil jornada acadêmica.
Aos nossos amigos e colegas do laboratório de Desenvolvimento Humano da
Universidade Federal de Santa Maria, pois foram os companheiros do dia a dia na
construção de uma etapa que agora se encerra..
vi
RESUMO
O PROCESSO DE ABANDONO DE TALENTOS DO ATLETISMO DO ESTADO
DO PARANÁ: UM ESTUDO ORIENTADO PELA TEORIA DOS SISTEMAS
ECOLÓGICOS
Autor : José Luiz Lopes Vieira
Orientador : Ruy Jornada Krebs
O principal propósito deste estudo foi investigar quais fatores foram
determinantes para que talentos de atletismo tenham abandonado o contexto
esportivo no estado do paraná. Esta investigação teve como suporte teórico, a teoria
dos sistemas ecológicos de BRONFENBRENNER (1979, 1992, 1995), e a teoria de
especialização motora de KREBS (1992, 1993). Buscou-se investigar os atributos
pessoais dos talentos; analisar como ocorreu o processo de especialização motora;
identificar quais fatores foram determinantes; caracterizar os contextos e os períodos
do abandono. O modelo de estudo utilizado foi o paradigma bioecológico pessoa –
processo – contexto- tempo. Como instrumento de coleta dos dados utilizou-se:
entrevistas semi-estruturadas, diário de pesquisa e documentos. Foram sujeitos vinte
e nove pessoas sendo, dez talentos ex-atletas de atletismo do sexo masculino, dez
familiares, cinco técnicos de atletismo e quatro dirigentes esportivos. Para a
interpretação dos dados optou-se pela análise de conteúdo do tipo categorial, através
de recortes, enumeração e escolha prévia de categorias. Com base nos resultados
chegou-se as seguintes conclusões: as características antropométricas e físicomotoras, foram evidenciadas nas fases de estimulação e aprendizagem motora e, os
atributos sócio-emocionais, força de vontade, determinação e dedicação na fase de
especialização motora; na fase de estimulação motora foram vivenciadas atividades
variadas realizadas na vizinhança próxima a família, na fase de aprendizagem dos
vii
talentos ocorreu a iniciação em diversas modalidades de esportes, principalmente, na
escola através das nas aulas de educação física; na fase de prática intensificaram a
participação em diversas provas do atletismo e, na fase de especialização dedicaramse exclusivamente a prova na qual tinham os melhores resultados, as fases de prática
e especialização motora ocorreram nas equipes de atletismo. Os talentos deste estudo
obtiveram seus melhores resultados em média de cinco anos antes a idade esperada
caracterizando uma resultado esportivo precoce; os contextos onde ocorreram os
fatores determinantes do abandono foram: a família, o local de trabalho dos pais, a
equipe de atletismo, nas prefeituras municipais, na federação de atletismo, na
escola/universidade no local de trabalho dos talentos e no governo estadual; com
relação aos períodos, os fatores do abandono ocorreram entre o final da adolescência
e o início da vida adulta, caracterizando um abandono esportivo precoce
considerando as idades para os altos rendimentos; com relação aos fatores que
levaram ao abandono foram classificados em: determinantes e intervenientes, os
determinantes foram: oportunidade para trabalhar, casamento seguido de
paternidade, extinção da fundação de esportes, falta de valorização da modalidade,
discussão com o técnico e, “um conjunto de fatores”; os fatores intervenientes foram:
maturação precoce, ter de estudar, busca por outras atividades, ter que trabalhar,
lesões musculares, falecimento do pai, condição financeira da família, falta de
estrutura da equipe, pressões familiares, interferência do pai no treino, falta de
técnico, competir em categorias mais elevadas, desgaste psicológico, falta de
orientação pessoal, falta de patrocínio, dependência da prefeitura e falta de
valorização da modalidade. Diversos fatores intervieram ou determinaram mas, o
abandono dependeu da seqüência e ocorrência desses fatores durante a vida pessoal e
esportiva do talento, parecendo indicar que cada história de abandono é um processo
único.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DO MOVIMENTO HUMANO
Autor : José Luiz Lopes Vieira
Orientador : Ruy Jornada Krebs
Título : O processo de abandono de talentos do atletismo do estado do Paraná: Um
estudo orientado pela teoria dos sistemas ecológicos
Tese de Doutorado em Educação Física
viii
ABSTRACT
THE ABANDONMENT PROCESS OF ATHLETICS TALENTS OR PARANÁ
STATE: A STUDY GUIDED BY ECOLOGICAL SISTEMS THEORY
Author: José Luiz Lopes Vieira
Adviser: Ruy Jornada Krebs
The main purpose of this study were to investigate which factors were decisive so
that athletics talents have abandoned the sports context in the state of the Paraná.
This investigation had as theoretical support, the theory of the ecological systems of
BRONFENBRENNER (1979, 1992, 1995), and the theory of motor specialization of
KREBS (1992, 1993). It was looked for to investigate the personal attributes of the
talents; to analyze as it happened the process of motor specialization; to identify
which factors were decisive; to characterize the contexts and the periods of the
abandonment. The model of used study was the bioecological paradigm: person process - context - time. As instrument of collection of the data was used: semistructured interviews, research diary and documents. They were subject twenty-nine
persons, ten talents former-athletes of athletics of the masculine sex, ten relatives,
five athletics coachs and four sporting leaders. For the interpretation of the data
opted for the analysis of content, type categorial, through cuttings, enumeration and
previous choice of categories. Based in the results it was possible to get to following
conclusions: the physical-motors and body characteristics,were evidenced in the
stimulation and motor learning phases and, the psychological attributes, willpower,
determination and dedication in the motor specialization phase; in stimulation phase
they had varied activities accomplished in the close neighborhood the family, in the
phase of learning of the talents it happened the initiation in several sports, mainly, in
the school through the in the physical education classes; in the practice phase they
intensified the participation in several tests of the athletics and, in the specialization
phase they were devoted exclusively in which they had the best athletics results, the
ix
practice and mototor specialization phases they happened in the athletics teams. The
talents of this study obtained its best results on the average before of five years the
expected age characterizing a early for date sporting result; the contexts where
happened the decisive factors of the abandonment were: the family, the place of the
parents' work, the athletics team, in the city halls, in the athletics federation, in the
university/high school, in the place of work of the talents and in the state
government; with relationship to the periods, the factors of the abandonment
happened between the end of the adolescence and the beginning of the adult life,
characterizing a early for date sporting abandonment considering the ages for the
high revenues; with relationship to the factors that took abandoned were classified in:
decisive and intervening, the determinant were: opportunity to work, marriage
followed by paternity, extinction of the sports context, lack of valorization of the
modality, discussion with the coach and, "a group of factors "; the intervening factors
were: early for date maturation, to have to study, it looks for for other activities, to
have to work, muscular lesions, the father's death, financial condition of the family,
lacks of structure of the team, family pressures, the father's interference in the
training, lacks of coach, to compete in higher categories, wear away psychological,
lack of personal orientation, patronage lack, dependence of the city hall and lack of
valorization of the modality. Several factors intervened or they determined but, the
abandonment depended on the sequence and occurrence of those factors during the
personal and sporting life of the talent, seeming to indicate that each history of
abandonment is an only process.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DO MOVIMENTO HUMANO
Author : José Luiz Lopes Vieira
Adviser : Ruy Jornada Krebs
Title : The abandonment process of athletics talents of Paraná State: a study guided
by ecological sistems theory
Physical education doctoral thesis
x
SUMÁRIO
vi
RESUMO....................................................................................................................I
viii
ABSTRACT................................................................................................................
xii
LISTA DE QUADROS.............................................................................................iv
xiii
LISTA DE FIGURAS................................................................................................
xivv
LISTA DE ANEXOS.................................................................................................
1
1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................01
1
1.1 O problema e sua importância.......................................................................... 02
4
1.2 Objetivos............................................................................................................. 05
4
1.2.1 Objetivo geral ................................................................................................. 05
4
1.2.2 Objetivos específicos....................................................................................... 06
5
1.3 Delimitação do estudo........................................................................................ 06
5
1.4 Limitação do estudo........................................................................................... 07
6
1.5 Justificativas....................................................................................................... 07
6
1.6 Definição de termos............................................................................................ 07
7
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA...................................................................... 09
7
2.1 A teoria dos sistemas ecológicos........................................................................ 09
2.2 Atributos pessoais dos talentos esportivos em
uma abordagem ecológica................................................................................ 10
13
2.2.1 Os atributos bio-fisiológicos de talentos esportivos...................................10
14
2.2.2 Os atributos sócio-emocionais de talentos esportivos................................13
16
2.3 Parâmetros do contexto esportivo em uma perspectiva
desenvolvimentista............................................................................................. 17
20
2.3.1 Os microssistemas contexto esportivo e familiar de talentos esportivos... 19
22
2.3.2 O mesossistema e os exossistemas do contexto esportivo competitivo..... 23
27
2.3.3 O macrossistema do contexto esportivo competitivo.................................26
30
3 METODOLOGIA ................................................................................................28
33
3.1 O modelo do estudo............................................................................................28
33
xi
30
3.2 Contato com os informantes............................................................................. 36
3.3 Sujeitos do estudo............................................................................................... 31
36
32
3.4 Entrevista semi-estruturada............................................................................. 37
3.4.1 Transcrição das entrevistas......................................................................... 37
38
37
3.5 Estudo-piloto ..................................................................................................... 38
3.6 Análise documental............................................................................................ 38
42
3.7 Análise dos dados............................................................................................... 39
43
3.8 Validade interna e externa................................................................................ 41
44
42
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS.............................. 45
42
4.1 O processo de desenvolvimento dos talentos do atletismo.............................46
4.1.1 Fase de estimulação motora dos talentos do atletismo............................... 43
48
4.1.2 Fase de aprendizagem motora dos talentos do atletismo........................... 50
4.1.3 Fase de prática motora dos talentos do atletismo....................................... 59
51
4.1.4 Fase de especialização motora dos talentos do atletismo........................... 68
52
4.2 O abandono de talentos do atletismo em relação
ao contexto competitivo.................................................................................... 92
54
93
4.2.1 O timing vital e social............................................................................... 100
98
4.2.2 A interdependência................................................................................... 105
107
4.2.3 As trocas e continuidade.......................................................................... 110
116
5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES...................................................................... 120
6 REFERÊNCIAS BIBILIOGRÁFICAS............................................................ 120
123
ANEXOS................................................................................................................. 128
128
xii
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 – Características sócio demográficas das famílias dos
talentos do atletismo.......................................................................... 47
QUADRO 2 – Características sócio demográficas dos técnicos dos
talentos do atletismo......................................................................... 65
QUADRO 3 – Comparação entre as idades de início a prática,
especialização e rendimento no atletismo
talentos do atletismo......................................................................... 72
QUADRO 4 – Timing vital dos talentos do atletismo em relação
ao rendimento e abandono esportivo................................................ 93
QUADRO 5 – Fatores determinantes e intervenientes no abandono de
talentos do atletismo....................................................................... 112
xiii
LISTA DE FIGURAS
18
FIGURA 1 – Esquematização da estrutura da teoria dos sistemas ecológicos........21
FIGURA 2 – Fluxograma do modelo de pesquisa construído para o estudo ..........3035
FIGURA 3 – Fluxograma construído para a coleta de dados das
propriedades pessoais dos talentos do atletismo.................................3438
FIGURA 4 – Fluxograma construído para a coleta de dados dos
parâmetros do contexto dos talentos do atletismo..............................3639
FIGURA 5 – Fluxograma de análise dos dados construído para o estudo...............4040
FIGURA 6 – Fase de estimulação motora de talentos esportivos do atletismo.......4545
FIGURA 7 – Mapa ecológico dos talentos do atletismo na fase de
estimulação motora............................................................................5050
FIGURA 8 – Fase de aprendizagem motora de talentos esportivos do atletismo. 5455
FIGURA 9 – Mapa ecológico dos talentos do atletismo na fase de
aprendizagem motora.........................................................................5967
FIGURA 10 – A fase de prática motora de talentos esportivos do atletismo............6170
FIGURA 11 – Mapa ecológico dos talentos do atletismo na fase de
prática motora....................................................................................6889
FIGURA 12 – Modelo de especialização motora dos talentos
esportivos do atletismo.......................................................................7198
FIGURA 13 – Mapa ecológico dos talentos do atletismo que
abandonaram o esporte competitivo................................................. 90
100
xiv
LISTA DE ANEXOS
ANEXO I -
129
Ficha de identificação do atleta.................................................. 153
ANEXO II -
130
Roteiro da entrevista com o atleta.............................................. 154
ANEXO III -
132
Ficha de identificação dos pais do atleta.................................... 116
ANEXO IV-
Roteiro da entrevista com os pais do atleta................................. 133
157
ANEXO V-
Ficha de identificação do técnico do atleta...................................135
159
ANEXO VI -
Roteiro da entrevista com o técnico do atleta.............................. 136
160
137
ANEXO VII - Ficha de identificação do dirigente esportivo............................. 165
138
ANEXO VIII - Roteiro da entrevista com o dirigente esportivo......................... 167
ANEXO IX -
Normas para a transcrição de entrevistas.................................... 139
179
ANEXO X -
140
Matriz da entrevista semi-estruturada....................................... 187
ANEXO XI -
Matriz de análise dos dados sócio demográficos
141
dos familiares dos talentos de atletismo.................................... 198
ANEXO XII - Matriz de análise dos dados sócio demográficos
dos técnico de atletismo.............................................................. 142
107
ANEXO XIII - Matriz de análise dos dados sócio demográficos
143
dos talentos do atletismo............................................................ 112
ANEXO XIV - Matriz de análise do processo de especialização
144
motora dos talentos do atletismo............................................... 134
ANEXO XV - Matriz de análise dos atributos pessoais dos talentos
do atletismo................................................................................. 145
114
ANEXO XVI - Matriz de análise dos parâmetros do contexto
146
da modalidade de atletismo....................................................... 145
147
ANEXO XVII - Matriz de análise do abandono de talentos do atletismo............ 167
1 INTRODUÇÃO
1.1 O problema e sua importância
Uma das características básicas do ser humano é sua surpreendente
diversidade. A configuração genética de cada pessoa influencia a sua
proporcionalidade e composição corporal, inteligência e competência cognitiva ou
parâmetros psicológicos como a personalidade e a motivação. Dessa forma, algumas
pessoas poderão ser dotadas desde a infância com visualização espacial superior ou
com reflexos particularmente velozes, mas como esses dotes genéticos são
distribuídos permanece um mistério.
Devido a esses dotes genéticos, indivíduos tem sido categorizados como
prodígios, criativos, superdotados ou talentosos. Tais rótulos estão relacionados com
o fascínio que as pessoas possuidoras dessas capacidades especiais despertam
(WINNER, 1998). Nesse sentido, talentos desde a infância demonstram habilidades
superiores acima da média nos mais diversos campos do domínio humano, como as
artes, as ciências, a música e o esporte, entre outros. Por outro lado, quando
consideramos o ambiente como um fator determinante para o desenvolvimento, o
talento passa a ser considerado também como uma construção social, devirada de um
rótulo de aprovação que colocamos sobre traços de um indivíduo os quais possuem
uma valorização positiva em um contexto particular.
Dessa forma, tanto a herança genética quanto o ambiente atuam no processo
de desenvolvimento (CSIKSZENTMIHALYI et al. 1997). Para esse autor os traços
individuais são parcialmente inerentes e parcialmente desenvolvidos conforme a
pessoa cresce, o domínio cultural que se refere ao sistema de regras e crenças que
definem os limites de desempenho como tendo significado e valor, e o ambiente
social constituído pelas pessoas e as instituições que decidem se a tarefa ou o
desempenho serão considerados valorizados ou não, interagem no processo de
desenvolvimento do talento.
2
Embora o fenótipo diferencie o indivíduo em relação a média da população
em
determinados
domínios,
estudos
realizados
por
BLOOM
(1985)
e
CSIKSZENTMIHALYI et al. (1997), demonstraram a grande necessidade de
recursos e investimentos materiais e humanos, para promover crianças a serem
aceitas como talentos em um determinado campo ou área de atividade. Por exemplo,
os pais de uma criança com dote musical ou esportivo, precisarão dedicar muito do
seu tempo e dinheiro para encontrar tutores, professores ou técnicos, proporcionar
transporte e acompanhar seus filhos através das aulas práticas, ensaios, competições
e, acima de tudo encontrar os caminhos para sustentar o envolvimento e a disciplina,
sem gerar na criança uma pressão de alta expectativa.
Com esse entendimento, crianças são talentos em um sentido de potencial
futuro. Para completar esse potencial terão que aprender a desempenhar o padrão do
“estado da arte” no qual estão, em um nível de desempenho superior, e isso só
acontecerá com as oportunidades para usar o seu talento depois de suas habilidades
tiverem sido desenvolvidas. Assim, talento é melhor visto como sendo um processo
desenvolvimentista do que um fenômeno de auto-realização, é um desenvolvimento
que se desdobra por muitos anos, ou seja, ao longo do curso de vida.
Durante a trajetória de desenvolvimento, o desperdício de um talento em
potencial ou desistência no prosseguimento da realização em um determinado
domínio é uma possibilidade que ocorre, principalmente, na juventude. Muitas razões
tem sido empregadas para explicar esse fenômeno de desistência ou de falta de
motivação. Para CSIKSZENTMIHALY & ROBERTSON (1986), adolescentes
talentosos podem perder o interesse em sua área por não conseguirem manter a
maestria nas destrezas requeridas devido a mudanças neurofisiológicas durante a
puberdade. Outras explicações colocam a responsabilidade mais sobre a forma como
as escolas proporcionam a informação para seus alunos, STANLEY & BENBOW
(1986) alegam que a apatia, a frustração e os hábitos de grande falta de atenção, são
certamente, o resultado de como a álgebra é ensinada nas escolas e concluem que a
motivação para a matemática pode ser perdida. Também, BLOOM (1985),
demonstrou que as crianças necessitavam do suporte de um grande número de
indivíduos e instituições para desenvolver o seu talento. Sem a dedicação dos pais,
técnicos e mentores, boas escolas e oportunidades desafiadoras, é muito difícil para
adolescentes persistirem na disciplina que a cultivação do talento requer.
3
Especificamente com relação ao contexto esportivo, SINGER et al. (1993)
citam que a mais interessante estrutura teórica para estudo do fenômeno de abandono
dentro
de
uma
população
de
indivíduos
talentosos
foi
utilizada
por
CSIKZENTMIHALYI et al. (1997). Para esse autor o problema do abandono de
jovens pode ser analisado através do mapa de desenvolvimento psicossocial de
Erickson, que em sua teoria aponta as crises de identidade (adolescência), intimidade
(final da adolescência) e generatividade (jovem adulto) como inevitáveis interseções
onde os talentos esportivos podem decidir reestruturar seus objetivos e assim desistir
ou perder a motivação em seu campo de interesse.
Outras pesquisas objetivando identificar fatores responsáveis pelo abandono
do envolvimento com o esporte competitivo foram realizadas utilizando diferentes
categorias de sujeitos como: crianças, adolescentes, atletas ou não-atletas, quanto
com diferentes modalidades esportivas, programas de atividades físicas ou
programas com ênfase competitiva e foram sintetizadas por PETLICHKOFF (1996).
Nessa síntese a autora identificou uma variedade de razões para que esse fenômeno
ocorra, sendo que, a ênfase no vencer, atividade muito chata, muito tempo e
insatisfação com a prática, conflito de interesses, ter outras atividades e ter que
trabalhar, foram apontados como fatores primários que contribuem para a abandono
de programas de atividade física ou do contexto do esporte competitivo. Sendo
assim, os fatores que podem determinar o desperdício de um talento esportivo podem
estar relacionados tanto com as propriedades pessoais dos talentos quanto podem
estar situados no contexto esportivo competitivo.
Portanto, devido a ampla diversidade de fatores e a complexidade de suas
inter-relações, a teoria da ecologia do desenvolvimento humano proposta por
BRONFENBRENNER (1987), cuja concepção teórica inclui a pessoa, o ambiente, a
dinâmica das interações entre pessoa e ambiente e, como todo o processo, é afetado
pela sociedade no qual esses ambientes estão inseridos, pode ser utilizada como
referencial para estudo desse fenômeno. Nessa concepção teórica, os talentos são
considerados como pessoas em uma perspectiva ecológica e, o contexto esportivo,
como ambiente em uma abordagem desenvolvimentista, conforme pesquisa realizada
por VIEIRA et al. (1998) sobre o processo de desenvolvimento de um talento
esportivo. A partir dessa caracterização, pode-se estabelecer as conexões entre o
talento e o contexto, que são os elementos que interagem no complexo processo que
4
pode culminar com o sucesso ou o abandono do envolvimento, no contexto esportivo
competitivo.
Embora a temática do abandono do contexto esportivo competitivo tenha sido
objeto de pesquisa a nível internacional, principalmente na área da psicologia do
esporte, no Brasil uma das poucas referências disponíveis foi realizada por ABREU
(1993), tendo como sujeitos nadadores considerados drop-out com idade entre 12 e
15 anos. Com relação a talentos esportivos que abandonam o envolvimento com o
contexto competitivo, numa revisão preliminar na literatura em nosso país não
encontramos estudos disponíveis e, essa constatação fica mais evidente quando
utilizamos como referência o Estado do Paraná. Portanto, face às considerações
anteriores, o presente estudo pretende explorar a seguinte questão problema: Quais
fatores foram determinantes para que talentos do atletismo tenham abandonado o
contexto esportivo competitivo no Estado do Paraná?
1.2 Objetivos
1.2.1 Objetivo geral
Investigar os fatores determinantes para que talentos do atletismo tenham
abandonado o contexto esportivo competitivo.
1.2.2 Objetivos específicos
Identificar que atributos pessoais tinham os talentos do atletismo que
abandonaram o contexto esportivo competitivo;
Analisar como ocorreu o processo de especialização motora de talentos de
atletismo que abandonaram o contexto esportivo competitivo;
Caracterizar em que contextos ocorreram os fatores determinantes para que
talentos do atletismo tenham abandonado o contexto esportivo competitivo;
5
Identificar em que períodos ocorreram os fatores determinantes para que
talentos tenham abandonado o contexto esportivo competitivo.
Verificar quais fatores foram determinantes para que talentos do atletismo
tenham abandonado o contexto esportivo competitivo.
1.3 Delimitação do estudo
Este estudo foi delimitado aos talentos, ex-atletas de atletismo do sexo
masculino, que nasceram a partir de 01 de janeiro de 1970 e que abandonaram o
contexto competitivo entre de 01 de janeiro de 1990 e 31 de dezembro de 1998. Será
limitado ainda, a talentos que nasceram e viveram no estado do Paraná. O estado do
Paraná não se refere apenas ao aspecto demográfico, mas também, é caracterizado
como sendo uma cultura onde determinados valores, atitudes e crenças norteiam a
prática do esporte competitivo. Essa delimitação refere-se ao macrossistema e faz-se
necessária para que seja possível compreender o desenvolvimento em contexto
(BRONFENBRENNER, 1992).
1.4 Limitação do estudo
Tendo a teoria da ecologia do desenvolvimento humano como suporte
teórico, a pessoa em uma perspectiva ecológica tem como propriedades pessoais a
competência cognitiva e os atributos sócio-emocionais. Em função dos estudos
realizados na área do esporte identificarem, principalmente, as propriedades de
aptidão motora e os atributos sócio-emocionais, nosso estudo não abordará a
competência cognitiva.
6
1.5 Justificativas
Este estudo justificou-se por investigar uma área carente de publicação
científica que é a questão relacionada com a detecção e desenvolvimento de talentos
esportivos, tendo como objetivos identificar e compreender os fenômenos
relacionados com a abandono do esporte competitivo. Da mesma maneira, nas
colocações de PETLICHKOFF (1996), sobre a necessidade do uso de metodologias
de pesquisas qualitativas que possam examinar os fatores não quantificáveis por
avaliações quantitativas. A autora salienta, que o uso de entrevistas informais
aumenta a possibilidade de coleta de dados interativos e contextuais em relação aos
métodos tradicionais.
Justifica-se também por estar inserida nas linhas de pesquisa do laboratório de
desenvolvimento humano do programa de pós-graduação em ciência do movimento
humano da Universidade Federal de Santa Maria-RS. Através dessas linhas de
pesquisa, este estudo procurou utilizar um referencial teórico atualizado e um suporte
metodológico emergente na área de desenvolvimento humano. Finalmente, pela
contribuição científica que proporcionará a uma área de estudo relevante para
pesquisadores que investigam os processos do desenvolvimento humano e para os
profissionais que atuam na formação e treinamento do esporte competitivo.
1.6 Definição de termos
Talento – “Um alto nível não usual de demonstração de habilidade, realização
ou destreza em alguma área especial de estudo ou interesse” (BLOOM, 1985, p. 5).
Desenvolvimento – “Um conjunto de processos através dos quais as
propriedades da pessoa e do ambiente interagem para produzir constância e mudança
nas características da pessoa, ao longo da vida” (BRONFENBRENNER, 1992, p.
191).
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A partir de uma contextualização inicial da teoria dos sistemas ecológicos de
Bronfenbrenner, este capítulo, abordará as propriedades pessoais de talentos
esportivos em uma perspectiva ecológica com ênfase nos atributos bio-fisiológicos e
sócio-emocionais. E, posteriormente, se refere aos parâmetros do contexto esportivo
em uma perspectiva desenvolvimentista, considerando como microssistemas a
modalidade esportiva e o contexto familiar; como mesossistema as interações entre a
modalidade esportiva e o contexto familiar; como exossistemas os clubes, os
patrocinadores, as federações, as secretarias de esportes municipais e estadual; e, a
nível de macrosistema a cultura e ou subcultura na qual o talento e a modalidade
esportiva estão inseridos.
2.1 A teoria dos Sistemas Ecológicos
A teoria ecológica tem seus fundamentos na psicologia da Gestalt, que
evoluiu como um movimento na Alemanha durante as primeiras décadas do início do
século vinte. Para THOMAS (1995), essa concepção foi disseminada na América
durante os anos vinte e trinta através de autores como Kurt Koffka (1886-1941), Kurt
Lewin (1890-1947), Heinz Werner (1890- 1964) e Fritz Heider (1987-1988), que
imigraram para os Estados Unidos aceitando convites para trabalhar em
universidades. A psicologia ecológica deve parte de seu fundo evolutivo ao trabalho
de Lewin e seus colaboradores durante os anos trinta, principalmente, na
Universidade de Iowa. A palavra Gestalt reflete o ponto de vista da holística, ou da
teoria de campo e quando aplicada ao desenvolvimento, concebe-o como um todo
integrado. Nessa concepção, toda experiência nova significante pode alterar a relação
de muitos, ou do todo, dos elementos existentes que compuseram a personalidade até
esse ponto, assim, o padrão da individualidade inteira da pessoa é influenciado.
8
A partir dessa idéia básica os teóricos desenvolvimentistas propuseram uma
variedade de abordagens para o entendimento das influências ambientais na vida de
crianças.
Um
dos
enfoques
mais
proeminentes
foi
sistematizado
por
BRONFENBRENNER (1987). Na ecologia do desenvolvimento humano de
Bronfenbrenner o indivíduo vive em um processo contínuo de desenvolvimento,
desde o nascimento até a sua morte, entendendo o desenvolvimento como uma
mudança duradoura na maneira pela qual uma pessoa percebe e lida com o seu
ambiente (BRONFENBRENNER, 1996; KREBS et al. 1997)
Atualizando os conceitos, BRONFENBRENNER (1993), retratou a ecologia
do desenvolvimento humano como:
“O estudo científico da acomodação progressiva, mútua, ao longo do curso
de vida, entre um ativo, crescente, organismo biopsicológico altamente
complexo, caracterizado por um distinto e relacionado complexo de
capacidades, dinâmicas evoluindo em pensamento sentimento e ação e, as
propriedades variáveis dos ambientes imediatos nos quais a pessoa em
desenvolvimento vive, como esse processo é afetado pelas relações entre
estes ambiente e pelos contextos maiores nos quais os ambiente estão
embutidos” (p. 7).
BRONFENBRENNER (1995b), para referir-se de forma mais sucinta ao que
ele já havia colocado como ecologia do desenvolvimento humano, utiliza o termo
desenvolvimento em contexto. Inicia assim, a sistematização de novos paradigmas de
pesquisa para estudo do desenvolvimento. KREBS et al. (1997), em uma revisão dos
paradigmas de pesquisa situam como paradigma pioneiro os modelos de
endereçamento social, e consideram como paradigmas para o presente e futuro os
modelos pessoa-contexto, processo-contexto, processo-pessoa-contexto e do
cronossistema.
E,
recentemente,
BRONFENBRENNER
&
CECI
(1994),
apresentaram o modelo bioecológico, que é resultado da combinação dos modelos
processo-pessoa-contexto e cronossistema, sendo constituído por quatro elementos: a
pessoa, o processo, o contexto e o tempo (PPCT). Paralelo a elaboração dos modelos
de pesquisa, Bronfenbrenner citado por KREBS et al. (1997), elaborou um suporte
teórico com hipóteses e proposições que objetivaram fornecer direção para o estudo
sistemático da interação organismo-ambiente. Essas proposições constituem o
9
conjunto de princípios que explicam toda a abrangência da Teoria dos Sistemas
Ecológicos.
No modelo bioecológico, com relação ao primeiro elemento, as propriedades
da pessoa, em uma perspectiva ecológica incluem as características pessoais,
considerando tanto os atributos cognitivos quanto os sócio-emocionais. Embora esses
atributos sejam essenciais para o indivíduo, nem todas as características possuem
igual potencial para influenciar o desenvolvimento. Nesse sentido, certas qualidades
humanas são especialmente significativas para o seu desenvolvimento; no segundo
elemento, os parâmetros do contexto em uma perspectiva desenvolvimentista são
sistematizados em uma estrutura que inicia com o ambiente imediato denominado
microssistema, passando pelos mesossistemas, exossistemas até o ambiente mais
remoto caracterizado como macrossistema. Esses parâmetros do contexto possuem
forças transacionais que conduzem o processo de desenvolvimento de uma forma
dinâmica, colocando sempre em evidência a indissociabilidade entre as propriedades
da pessoa e do contexto; o terceiro elemento, o processo é uma função conjunta da
atuação das características do ambiente e da pessoa, é identificado por fenômenos
que produzem um efeito maior que a soma de seus efeitos individuais (sinergia)
através do qual o desenvolvimento emerge.
Para BRONFENBRENNER & CECI (1994), o processo é objeto da interação
dos efeitos moderadores tanto da pessoa quanto do contexto, que podem assumir
duas formas: uma positiva e uma negativa. O positivo aumenta a influencia do outro
efeito moderador ao mesmo tempo que protege possíveis influencias negativas. O
efeito negativo atua de forma a exacerbar os efeitos negativos e aniquilar possíveis
influencia positivas; e, finalmente, o quarto elemento caracterizado pelo tempo é um
constructo que considera duas dimensões: o tempo personológico do indivíduo e a
ordenação dos eventos em sua seqüência histórica e contextualizada. O tempo
determina a ordem e o período das influências de eventos normativos e nãonormativos no curso da vida de um indivíduo.
Finalizando, a partir dessa introdução a conceitos da ecologia do
desenvolvimento
humano
e
dos
elementos
do
modelo
bioecológico
de
Bronfenbrenner, os tópicos seguintes deste capítulo estão orientados de maneira a
considerar o talento como a pessoa em uma perspectiva ecológica e, o contexto
esportivo competitivo, em uma perspectiva desenvolvimentista. E a partir das inter-
10
relações que ocorrem entre o talento e o contexto esportivo, explorar a literatura
referente ao fenômeno de abandono ou desistência do envolvimento com o contexto
esportivo competitivo.
2.2 Atributos pessoais dos talentos esportivos em uma abordagem ecológica
Sob a perspectiva ecológica, as propriedades pessoais devem ser abordadas
dentro dos aspectos relevantes para o ambiente no qual o indivíduo está inserido.
Entre as propriedades evidenciadas por Bronfenbrenner, segundo KREBS et al.
(1997), estão a competência cognitiva, as características sócio-emocionais e
motivacionais. Dessa forma, as avaliações da inteligência, personalidade, estágio de
desenvolvimento cognitivo ou moral, são baseados em padrões de respostas
experimentais em situações de laboratório. Para Bronfenbrenner, essas medidas não
têm valorizado o status real dessas capacidades nas situações de vida cotidiana da
pessoa.
As investigações realizadas no contexto esportivo competitivo, apresentam
uma diversidade de propriedades individuais que tem sido consideradas de
fundamental importância para que indivíduos sejam categorizados como “talentos
esportivos”. Os estudos tem se referido, principalmente, a fatores biológicos,
morfológicos, fisiológicos, psicológicos, percepto-cognitivos, biomecânicos ou
pedagógicos. Essas propriedades individuais consideradas relevantes podem
determinar a continuidade ou descontinuidade do envolvimento do talento com o
contexto esportivo competitivo e serão abordadas em dois subtópicos: o primeiro,
refere-se aos atributos bio-fisiológicos e, o segundo, os atributos sócio-emocionais.
2.2.1 Os atributos bio-fisiológicos dos talentos esportivos
Com relação aos atributos pessoais cujo enfoque identifica as características
morfológicas, biomecânicas, biológicas ou fisiológicas, uma ampla diversidade de
estudos na área esportiva investigaram que traços particulares de crianças e
adolescentes seriam necessários para que esses fossem considerados talentos
esportivos. Para Jacquard citado por MATSUDO (1996), atletas talentosos
11
freqüentemente apresentam um traço excepcional que exigem uma combinação
genética extremamente rara. Assim, varáveis como altura, peso, adiposidade, força e
velocidade muscular, capacidade aeróbica e anaeróbica, parecem ser altamente
relacionados com o background genético.
Embora essas variáveis possam ser estudadas tanto isoladamente como de
forma combinada, a ênfase refere-se a identificação e seleção de talentos esportivos
utilizando baterias de testes para determinar perfis esportivos. Com esse intuito,
ACKLAN et al. (1990), em estudos com tenistas, apontam pontos de interesse para
valores limitados de parâmetros físicos e fisiológicos quando usados isoladamente
para identificar atletas talentosos, especialmente, durante a primeira adolescência.
MATSUDO (1996) desenvolveu o perfil “Z”, para identificar indivíduos
talentosos em relação a média da população normal, baseando-se em uma bateria de
testes que combina vários parâmetros ou capacidades motoras como peso, altura,
adiposidade, corridas e saltos. Dessa forma, uma grande variedade de propriedades
bio-fisiológicas são consideradas importantes para a identificação e seleção de
talentos que iniciam o desenvolvimento, ou participam em programas cuja ênfase
visa a competição.
Ainda, com relação à detecção de talentos no contexto esportivo, SOBRAL
(1988), comenta que esta é uma tarefa com ressonâncias magnética, sobrenatural,
implicando um dom tão pessoal e intransmissível, como o que se requer para detectar
uma corrente de água subterrânea. Para outros, evoca um intrincado aparato de
métodos e instrumentos que conferem ao treino desportivo um cenário próximo a
ficção científica. Os exemplos de Sobral são contemplados na classificação realizada
por RÉGNIER et. al. (1993), que categoriza a detecção de talentos, como sendo
realizada através de duas possibilidades: a primeira denominada de top-down (de
cima para baixo), nessa categoria a detecção é realizada com base em dados
científicos, com métodos pré-estabelcidos de investigação, acúmulo de resultados e,
contrastam com a segunda abordagem, denominada botton-up (de baixo para cima),
onde os elementos para a detecção são provenientes do contexto ou da sabedoria
coletiva, onde a informação necessária para a detecção é retirada dos expertes na
área, através da dedução intuitiva.
Apesar da variedade e controvertida temática sobre detecção de talentos,
dezenas de milhões de crianças e adolescentes em todo o mundo frequentemente se
12
engajam em alguma forma de esporte organizado competitivo (BRUSTAD, 1995). O
amplo envolvimentos de jovens em programas de esporte organizado tem sido,
geralmente, objeto de considerável especulação e controvérsia, devido às
conseqüências psicológicas da participação esportiva precoce. Até recentemente,
essas discussões tem sido alimentadas amplamente mais pela opinião do que por
pesquisas.
Por outro lado, durante a participação nesses programas essas características
pessoais físicas, motoras ou psicológicas, podem levar a uma limitação ou
eliminação da prática esportiva competitiva. Isso ocorre, em parte, devido ao
dramático aumento do índice de lesões entre os atletas. Essas lesões,
consequentemente, podem conduzir ao abandono do contexto competitivo de alto
rendimento. SINGER et al. (1993), em uma revisão de literatura sobre essa temática,
sugerem que as lesões podem resultar em sério stress manifestando depressão,
devido a substancial abuso, as quais podem gerar crises de identidade e de retirada
social ou medo e ansiedade. Também originam uma baixa auto-estima e, esses
autores, relatam que 24 % de membros de equipes nacionais tchecas e 15% de
tenistas profissionais foram forçados a abandonar suas carreiras devido a lesões.
MICHELE (1996), aponta os principais fatores causadores de lesões que são:
(a) erro de treinamento ou erro da técnica utilizada; (b) desequilíbrio entre tendão e
músculo; (c) mal alinhamento anatômico; (d) problemas com o calçado utilizado; (e)
superfície do local de treino ou jogo; (f) estado de doença associado; (g) fatores de
gênero; e (h) falta de condições culturais e crescimento. Para BACKX (1996), tem
aumentado consideravelmente a participação de crianças e adolescentes em esporte
de alta intensidade existindo, portanto, a necessidade do monitoramento da
incidência de lesões por excesso de uso ou repetição exagerada de movimentos,
sendo essa uma área de desafio para futuras pesquisas.
Para CASAL (1998), as sensações de fadiga, super valorização da atividade
física, o esforço demasiado e a dificuldade de experimentar emoções positivas e as
alterações de sono, afetam a personalidade do indivíduo a nível biológico, cognitivo
e comportamental. WEISS & CHAUMETON (1992), evidenciaram que as causas do
abandono do contexto esportivo competitivo podem ser múltiplas e evidenciam a
falta de habilidade, a pouca melhoria do desempenho e as experiências esportivas
negativas. Pesquisas enfocando a falta de aptidão motora ou a carência de parâmetros
13
fisiológicos e biomecânicos que determinam um baixo rendimento tem sido relatadas
como baixa percepção de competência atlética. Dessa maneira, as investigações
realizadas na área da psicologia do esporte tem explorado uma maior quantidade de
fatores motivadores para o abandono da atividade competitiva.
2.2.2 Os atributos sócio-emocionais de talentos esportivos
Os atributos sócio-emocionais, quanto considerados em relação ao contexto
esportivo, tem sido estudados pela área de psicologia esportiva. A personalidade, a
motivação, o stress e a ansiedade, entre outros, tem sido objetos de estudo e esses
mecanismos psicológicos são manifestados pela maneira consistente na qual a pessoa
se comporta em função da situação, do tempo e do ambiente.
Com relação à personalidade, as investigações realizadas caracterizam esse
atributo como traços de personalidade e, quando enfocam o contexto esportivo,
concluem que apesar da qualidade e quantidade dos esforços realizados permanece a
sensação que o esforço despendido não tem sido compensador em relação aos
resultados alcançados. Na realidade, a investigação tem negado a crença de uma
“personalidade atlética” com traços bem definidos, sendo que a diferença entre
atletas e não atletas, está mais presente quando os desportistas estudados possuem o
mais alto nível de rendimento, e estejam por muito tempo vinculados à prática
esportiva sistemática. Se essas diferenças são difíceis de ser encontradas entre atletas
de alto rendimento, é de se esperar que não sejam encontradas em atletas mais jovens
(CASAL, 1998). As teorias que abordam a personalidade, com raras excessões,
concebem a motivação como o aspecto central da regulação da conduta. Portanto, a
motivação contribui para a energia, direção e persistência em um dado
comportamento ou atividade.
Com relação aos motivos que levam adolescentes e jovens a participar de
atividades esportivas, os relatos de WEISS & CHAUMETON (1992), sintetizando
dados entre os anos de 1983 e 1990, identificaram como motivos principais o desejo
de aprender e se aperfeiçoar em esportes, a manutenção de uma forma física, a
afiliação, a competência e a diversão e, como motivos secundários, aparecem vários
desses motivos combinados, sendo que as repostas não parecem diferir em relação a
sexo, idade ou tipo ou experiência desportiva.
14
Para Rudik apud CASAL (1998), os motivos podem ser diretos ou indiretos.
Os diretos são os sentimentos de satisfação do desportista com sua prática, a
plasticidade derivada da beleza dos próprios movimentos, a aspiração em realizar
exercícios difíceis e perigosos, os elementos da competição e desejo de alcançar
recordes e resultados através de sua maestria no esporte. Os motivos indiretos são a
aspiração de ser forte, vigoroso, e o desejo de preparar-se para a atividade física e a
compreensão da importância social da atividade desportiva.
Segundo PUNI (1970), existe um processo motivacional, a qual descreve em
três fases: (a) a fase inicial, na qual divide-se a atração emocional para: o exercício
físico, para o cumprimento das obrigações e para a necessidade da atividade
condicionada como forma de vida; (b) a segunda fase é a da especialização no
esporte, que é caracterizada pelo surgimento e desenvolvimento do interesse em
certo esporte pelo desenvolvimento de aspirações, a saturação de emoções
experimentadas pelo êxito esportivo e a ampliação de conhecimentos especiais da
técnica; (c) a terceira fase é a da maestria esportiva cujos motivos fundamentais são:
a aspiração de manter a maestria adquirida e conseguir melhores resultados, a
aspiração de servir a pátria com êxito, conquistar novos recordes, a aspiração de
contribuir para o desenvolvimento do esporte escolhido e também o desejo de
transmitir a experiência a pessoa mais jovens.
Conhecer os motivos que impulsionam a prática e especialização desportiva
são importantes, mas faz-se necessário conhecer porque muitos adolescentes e jovens
abandonam a atividade atlética ou esportiva de alto rendimento. Segundo WEISS &
CHAUMETON (1992), as causas são múltiplas, e entre essas, aparecem os conflitos
de interesse com outras atividades, a pressão competitiva e o demasiado tempo
dedicado a prática esportiva.
Em um estudo realizado, ORLICK (1974), encontrou diferenças nas causas
de abandono do esporte em função da idade, as crianças com menos de dez anos
indicam a perda de tempo dedicando-se ao jogo e falta de experiência de êxito, sendo
que, os maiores indicam conflitos de interesse com sua atividade principal ou com
outros interesses extracurriculares. Já, GOULD et al. (1982), em pesquisa realizada
com cinqüenta ex-nadadores com idades variando entre dez e dezoito anos, o motivo
mais freqüente citado foram outras coisas para fazer, falta de alegria, querer
participar em outro esporte e não era tão bom como eu pensei ser. Na média, 84%
15
dos nadadores identificaram fatores relacionados com conflito de interesse como o
motivo mais importante para abandonar o envolvimento com a natação. KLINT &
WEISS (1986), analisando o abandono da contexto esportivo competitivo de trinta e
sete ex-ginastas, indicaram que uma das principais razões foram o desejo de
perseguir outros interesses.
Outros aspectos de ordem psicológica possuem efeitos negativos sobre o
indivíduo e, dessa forma, podem levar ao abandono da atividade física. Esses fatores
adversos estão ligados aos fenômenos denominadas de stress e ansiedade. Sobre
pressão competitiva, qualquer atividade pode gerar emoções negativas como a perda
do prazer e o desfrute da atividade. Isso pode acarretar a perda da motivação e
consequentemente ao abandono da atividade ou a sua realização de maneira
resignada, como quando é obrigatória a participação, por exemplo, no caso das aulas
de educação física.
Para SAMULSKI (1996), o stress aparece sempre quando se apresenta um
desequilíbrio entre a condição da ação individual e situacional. A reação a esse
desequilíbrio transcorre em três fases: a fase do alarme, que se caracteriza pela
mobilização das forças de defesa do organismo; a fase de resistência, se caracteriza
pela obtenção de um estado de adaptação ótimo, pelo organismo, as condições
ambientais e, a fase de esgotamento, ocorre devido a continuidade do fator
estressante após o consumo das energias de adaptação.
A criança e o adolescente, ao contrário do adulto, encontram-se sujeitos a um
grande número de transformações físicas, biológicas, psíquicas e sociais que exigem,
para a sua participação na prática desportiva, uma orientação com característIcas
próprias e que respeite essas particularidades. O treinamento e a competição dirigida
e orientada para alcançar com as crianças e jovens, em uma modalidade esportiva ,
um êxito imediato ou a curto prazo apresenta, normalmente, conseqüências negativas
(COELHO, 1988).
Nesse sentido, o esporte competitivo é um evento causador de stress devido
ao nível de exigência para o desempenho das habilidades esportivas. Para FEIJÓ
(1998), o atleta como qualquer outro indivíduo, ao enfrentar o volume de exigências
de seu meio social, cada qual de acordo com sua experiência, reage com maior ou
menor nível de stress, assim existem padrões pessoais de stress, que podem e devem
ser superados. Em níveis extremos o stress, pode ser um fator de abandono do
16
ambiente de competição, que também é verificado no caso de atletas de elite e são
denominados como os burnout.
Para PETLICHKOFF (1996), o fenômeno burnout, quando causado devido
ao stress da situação desportiva onde o ambiente é visto como altamente adverso e
pode ser considerado pela pessoa como insuportável, tornando-se um stress crônico.
Para OGILVIE & TAYLOR (1993), o êxito pode levar a sintomas de síndrome e
fobias, por um crescimento na solidão social e emocional, sentimentos de culpa em
relação a nova auto afirmação, o aumento das exigências externas, o medo
inconsciente dos costumes sociais e, o próprio peso emocional relacionado com o
êxito.
SCANLAN et al. (1989), usando dados de entrevista com ex-atletas de
patinação artística, identificaram fontes de stress durante a carreira competitiva, e
usando um modelo de análise de conteúdo, identificaram as cinco principais fontes
desse stress: (1) aspectos negativos da competição; (2) relacionamentos negativos
com outros significantes; (3) a relação custos\exigências; (4) esforço pessoal; (5)
experiências traumáticas. Portanto, uma das principais tarefas para professores e
técnicos é manter o interesse de alunos e atletas em aprender, ao invés de, fornecer
uma grande quantidade de informações nas quais eles não estão interessados.
Apesar da tendência geral para ignorar os fatores de motivação, personalidade
e stress, existe suficiente evidência que certos estados psicológicos interferem na
aprendizagem. Com essa perspectiva, tanto os atributos bio-fisiológicos quanto os
sócio-emocionais tem sido apontados como as propriedades mais relevantes para que
talentos esportivos tenham sucesso no ambiente esportivo competitivo. Mas, uma
análise considerando apenas esses atributos pessoais dos talentos esportivos não é
suficiente para a compreensão do processo que conduz ao sucesso ou ao fracasso,
assim, é indispensável considerarmos também os parâmetros do contexto esportivo
onde esses atributos são aprimorados ou inibidos, bem como, considerar as interrelações entre a pessoa e o contexto.
2.3 Parâmetros do contexto esportivo em uma perspectiva desenvolvimentista
17
Para BRONFENBRENNER (1993), os parâmetros do contexto estão
estruturados de forma a sistematizar a interação organismo-ambiente no processo de
desenvolvimento humano. O ambiente ecológico é visto como um conjunto de
estruturas seriadas denominadas de microssistema, mesossistema, exossistema e
macrossistema, sendo que cada uma está inserida dentro da seguinte.
No nível mais interno está a pessoa em desenvolvimento em seus ambientes
imediatos, a casa, a escola, os vizinhos e o clube caracterizados como
microssistemas. No ambiente seguinte, estão as relações que existem entre esses
ambientes,
casa-escola,
casa-clube,
essas
inter-ligações
são
denominadas
mesossistemas. As formas de inter-relações entre os microssistemas foram definidas
por Bronfenbrenner como as forças do existentes no mesossistema e são assim
denominadas:
participação
multiambiental,
laços
indiretos,
conhecimento
interamabiental e comunicação interambiental.
O terceiro nível do ambiente ecológico chamado de exossistema hipotetiza
que o desenvolvimento da pessoa é afetado por fatores que ocorrem em ambientes
nos quais a pessoa em desenvolvimento não participa, como o local de trabalho dos
pais e, por último o macrossistema, que é a cultura ou subcultura que contorna os três
níveis do ambiente ecológico, onde a pessoa em desenvolvimento está inserida. A
representação da estrutura dos sistemas ecológicos é apresentada na Figura 1.
18
MACROSSISTEMA
Atitudes e ideologias da cultura
Valores
EXOSSISTEMA
MESOSSISTEMA
Mídia
Costumes
Redes de apoio
MICROSSISTEMA
comunidade
Amigos
da
Família
igreja
Criança
família
escola
Local de Trabalho
do pai ou mãe
Leis
Serviços
comunitários
Atitudes
Cronossistema: Padronização de
eventos ambientais e
transições através do curso
da vida: condições sócio-históricas
FIGURA 1- Esquematização da estrutura da teoria dos sistemas ecológicos, com
base em KREBS (1995, p.45).
Considerando, portanto, a estrutura do esporte competitivo como contexto em
uma perspectiva desenvolvimentista, os subtópicos seguintes abordam como
parâmetros: (a) a nível de microssistema, tanto a modalidade esportiva quanto a
família, ou seja, os ambientes nos quais o talento esportivo vive; (b) a nível de
mesossistema, as relações modalidade esportiva-família; (c) a nível de exossistema,
as secretarias de esporte, federações, os patrocinadores e outras instituições que
estruturam a modalidade esportiva e (d) a nível de macrossistema, os valores e
crenças da cultura e subcultura na qual o talento está inserido e que de alguma forma
contribuem para a permanência ou o abandono do envolvimento com o esporte
competitivo de alto rendimento.
2.3.1 Os microssistemas contexto esportivo e familiar de talentos esportivos
19
O microssistema é a unidade básica do modelo de análise de
BRONFENBRENNER (1987), “sendo caracterizado por um padrão de atividades,
papéis e relações interpessoais experenciadas pela pessoa em desenvolvimento em
um determinado ambiente com particulares características físicas e materiais” (p.22).
O termo atividades se refere ao que as pessoas estão fazendo, papéis são as ações
esperadas das pessoas que defendem uma posição na sociedade como a posição do
pai, do irmão mais velho, do amigo, do treinador e outras, e as relações interpessoais
são os modos como as pessoas tratam um ao outro, como mostrado pelo que eles
dizem e fazem junto. Assim, as atividades, papéis e relações interpessoais para
Bronfenbrenner formam um gestalt que interagem em um campo de comportamento
(sistema) no qual uma mudança em um de seus componentes poderia afetar a
configuração inteira e poderia produzir um novo significado para a pessoa
(THOMAS, 1995).
Portanto, não só as características pessoais da criança instigam o seu
desenvolvimento, mas o ambiente inicia transações que promovem ou inibem o
desenvolvimento. A criança é afetada fortemente pelo que lhe é dito ou lhe feito na
presença dos pais, irmãos professores, treinadores, líderes de clubes ou outros
significantes. Bronfenbrenner continuou elaborando a sua teoria e refez definições
chaves, tornando-as mais complexas para acomodar recentes evoluções de seu
esquema como, por exemplo, a definição de microssistema, cuja versão original está
escrita abaixo em letras romanas e a porção em itálico é um adendo do ano de 1993,
que reflete as características instigativas do desenvolvimento :
“Um microssistema é um padrão de atividades, papéis e relações
interpessoais experenciados pela pessoa em desenvolvimento em um
determinado ambiente com particulares características físicas, sociais e
simbólicas que convidam, permitem ou inibem, o engajamento sustentado
em atividades progressivamente mais complexas em interação com o meio
ambiente imediato” (BRONFENBRENNER, 1993, p. 15)
A partir da definição de Bronfenbrenner, o contexto esportivo competitivo de
alto rendimento, por apresentar os elementos necessários, atividades, papéis e
20
relações interpessoais, pode ser categorizado como um microssistema, e assim,
analisado dentro dos parâmetros desse enfoque teórico, como foi demonstrado por
VIEIRA et al. (1998). Esse contexto para BRUSTAD (1995), é vivenciado por
dezenas de milhares de crianças e adolescentes ao redor do mundo que estão
envolvidos em alguma forma de esporte competitivo.
Esse extensivo envolvimento de jovens em programas de esporte estruturado,
tem gerado considerável especulação e controvérsia sobre a participação esportiva
precoce, qual a idade apropriada para crianças começarem a competir e quais os
motivos para participarem ou abandonarem o esporte. Entender as razões que
determinam o fim da participação é particularmente importante, pois provavelmente
este é causado por uma experiência psicológica indesejável ou desagradável para
jovens atletas (CASAL, 1998).
O contexto esportivo é claramente orientado para o desempenho onde o
indivíduo ou a equipe luta para realizar seus objetivos e atingir um padrão de
excelência. O indivíduo é responsável pelos seus comportamentos, os quais
conduzem ao resultado e, o processo, é avaliado por ele mesmo e por outros
presentes, que o avaliam em termos de sucesso ou fracasso. Esse é também um
ambiente onde crianças e adolescentes podem utilizar o processo de comparação
social para determinar seu posicionamento perante o grupo e determinar seu próprio
valor. EVANS & ROBERTS (1987), tem sugerido que o ambiente esportivo é
importante para que as crianças determinem seus padrões de amizade e relatam que
meninos e meninas preferem ser mais bem sucedidos no ambiente esportivo do que
no contexto de sala de aula.
Mas um paradoxo existe, além do esporte ser visto como um contexto
altamente desejável no qual as crianças, aparentemente, se realizam, por outro lado
muitas delas acabam perdendo a motivação e abandonam a experiência esportiva
competitiva. Para SEEFELDT et al. (1978), aos dezessete anos 80% dos
adolescentes, de seu estudo, abandonaram o contexto esportivo, e entre as causas
mais citadas para esse abandono, indicam a experiência esportiva negativa, muita
pressão por parte dos adultos, alta ênfase no vencer, além do conflito de interesse
como aspectos responsáveis pela alta taxa de abandono do esporte competitivo.
ORLICK (1973), entrevistando jovens entre 7-18 anos sobre suas intenções
futuras no esporte, encontrou indicativos que a maioria decidiu que não continuariam
21
sua participação no próximo ano, citando os aspectos negativos no envolvimento.
Esses aspectos incluem a falta de tempo para jogar, a ênfase competitiva do
programa e a ênfase no vencer. Tais estudos sugerem que a estrutura de esporte para
jovens estava inadequada em encontrar os motivos para a participação e era
responsável pelo seu comportamento de abandono.
A orientação para a competição ou a vitória tem sido apontado como um fator
motivacional dentro do esporte, afetando a persistência na prática da atividade
esportiva. Dados de Ewing citado PETLICHKOFF (1996), indicam que a orientação
para a superação possui um efeito de incrementar a persistência na atividade, sendo
que entre estudantes de 14-15 anos orientados em direção à vitória, tendiam a
abandonar o esporte. DUDA (1989), constatou que aqueles que se orientavam em
direção a auto-superação permaneceriam mais tempo praticando o esporte
selecionado.
No contexto esportivo, o sucesso é tipicamente definido por vitória na
competição e, nesse sentido vencer é algo claro e pouco ambíguo. Mas aderir a essa
crença e colocar a principal ênfase no resultado cria uma situação onde são dadas
poucas oportunidades para as crianças orientarem suas experiências para a maestria.
Se as crianças percebem que tem pouca chance de desenvolver as habilidades
necessárias para serem jogadoras, então, muito provavelmente abandonam ou
empregam uma estratégia de mal adaptação. Para WEISS & CHAUMETON (1992),
são múltiplas as causas para o abandono e devido a necessidade de alta persistência
na atividade esportiva gera conflitos de interesse com outras atividades ou mesmo
interferir
na
relação
interpessoal
técnico-talento,
ocasionando
um
mal
relacionamento com o treinador. Por outro lado, a família como outro microssistema
imediato, onde vive o talento esportivo, deve ser considerada de extrema importância
no processo de desenvolvimento. Na família o talento também vivencia atividades,
relações interpessoais e papéis, sendo portanto, de extrema relevância abordar essa
estrutura social.
Os familiares constituem umas das fontes de maior influência quando do
envolvimento do filho em atividades competitivas. Nesse sentido, a influencia dos
pais sobre o filho desportista será benéfica se treinadores promoverem o
envolvimento dos pais com a atividade esportiva do filho. GONZÁLEZ (1997), cita
algumas precauções dos treinadores em relação aos pais, visando otimizar a
22
participação desses na atividade esportiva dos filhos: informar aos pais os interesses
da equipe; convencer os pais, que a participação dos filhos, principalmente, durante a
fase juvenil, melhora a condição física, forma o caráter, promove habilidades sociais,
mantém a família unida e proporciona experiência positivas; levar ao conhecimento
dos pais que o treinador se preocupa com o bem estar de seus filhos; o treinador deve
convencer os pais que o êxito não é apenas ganhar, mas esforçar-se muito para
alcançar a vitória; mostrar aos familiares que os conhece e se preocupa em manter
uma boa relação com eles e, as funções do treinador e dos pais, perante os filhos,
devem estar muito bem delimitadas, onde os pais não devem interferir no trabalho do
treinador.
CSIKSZENTMIHALYI et al. (1997), são enfáticos em valorizar a
importância dos pais para o desenvolvimento do talento e quão suportativos eles são
emocionalmente em relação aos talentos quanto mais esses persistiram na
manutenção do interesse em sua área de maestria. Assim, o meio familiar é outro
elemento determinante crucial. O talento pode ser negligenciado se tem privação de
experiências ou conflitos com os pais. Dessa forma, a família é fundamental na
educação de traços desejáveis para o desenvolvimento de talentos. Esse autor coloca
três aspectos fundamentais da importância dos pais e do ambiente familiar: (a) o que
famílias oferecem a nível de informações na área de conhecimento do talento; (b) o
que família proporciona a nível de motivação, encorajamento e suporte; e, (c) o que a
família possibilita de disciplina e conjunto de hábitos que permitam a pessoa estudar
e concentrar sobre um domínio, o tempo suficiente para desenvolver as destrezas
exigidas para um desempenho superior.
Para BLOOM (1985), a motivação dos jovens é também profundamente
influenciada pelo ambiente social no qual o vivem. Quanto tempo e esforço eles
devotam para estudar e praticar depende em grande parte do material e do suporte
emocional que seus pais são capazes de dispor. Mesmo que muitos gênios tenham
tido a capacidade de se superar em circunstancias familiares precocemente
desastrosas, é provável que muitos mais teriam florescido se suas famílias tivessem
proporcionado um caminho mais seguro.
Atributos pessoais, hábitos, famílias e escolas não são suficientes para
entender a motivação de talentos para devotar grande parte do tempo estudando
química, música ou treinando em ginásios. Depende também da qualidade da
23
experiência que pode ser obtida no trabalho, no laboratório ou praticando a atividade
desejada. Sobre isso os indivíduos bem sucedidos em desenvolver seu talento
comentam que tem prazer na realização de sua atividade. Atletas, artistas, artesões e
cientistas tendem a descrever o uso de seu talento como altamente prazeroso.
Talentos parecem demonstrar que apreciam sua atividade e não são distraídos,
em questões externas se mantém realizando a tarefa com o passar do tempo e, irão
abordar isso mais criativamente, do que se a atividade fosse extrinsecamente
recompensada e não sob o seu controle pessoal. Mas, o desempenho de sua área de
interesse, certamente, está sujeita às influências de outras pessoas e ambientes e, uma
análise dessas estruturas, é essencial para a compreensão de fatores que promovem a
continuidade ou descontinuidade do processo de desenvolvimento.
2.3.2 O mesossistema e os exossistemas do contexto esportivo competitivo
O segundo nível da estrutura esquematizada por Bronfenbrenner é
denominada de mesossistema. Mesossistema não é caracterizado por um ambiente
específico, mas sim, pelas relações e interações que ocorrem entre ambientes nos
quais a pessoa em desenvolvimento participa ativamente. Na definição apresentada a
seguir, o segmento em tipo romano é a versão anterior e a porção itálica é a versão
elaborada mais recentemente por BRONFENBRENNER (1993):
“Um mesossistema inclui as interligações e processos que acontecem entre
dois ou mais ambientes que contêm a pessoa em desenvolvimento. É
enfocada atenção especial nos efeitos sinergéticos criados pela interação
instigativa do desenvolvimento ou características inibitórias e os
processos presentes em cada ambiente” (p.22).
Como se fossem passagens de mão dupla, o padrão de inter relacionamento
entre microssistemas pode influenciar as percepções da criança e comportamento
dentro de quaisquer dos ambientes nos quais a pessoa está no momento localizada.
Por exemplo, a experiência de crianças na sala de aula em qualquer dia é tipicamente
afetada pela impressões das atitudes dos seus pais e dos seus colegas significantes.
24
Da mesma forma, o que ocorre com o talento durante sua atividade no contexto
esportivo pode ser afetado por uma atividade que tenha que ser desempenhada no
seio familiar, assim, muito do que ocorre no contexto familiar é compartilhado pelo
contexto esportivo do talento e vice versa. Por exemplo, MIHOVILOVIC (1968),
cita que uma das causas para o término da carreira esportiva está relacionado com
razões familiares, principalmente, devido a uma exagerada interferência de pais na
atividade do filho.
O envolvimento dos pais no ambiente da equipe onde o filho pratica o esporte
competitivo pode ter influencia negativa. GONZÁLEZ (1997), ressalta algumas
influências negativas que envolvem pais e contexto esportivo competitivo dos filhos:
os pais podem tentar alcançar seus desejos servindo-se dos filhos como instrumento;
os pais podem sentir ciúmes da relação entre seus filhos e o treinador criando um
conflito e aumentando a ansiedade dos filhos; os problemas entre pais e filhos podem
ser passados para o ambiente esportivo e, os pais podem utilizar de maus resultados
esportivos dos filhos para retirá-los do ambiente competitivo.
A condição financeira da família, pode influenciar como um fator decisivo da
continuidade do envolvimento do filho com a atividade esportiva, SAPP &
HAUBENSTRICKERS
(1978),
referiram
que
aspectos
negativos,
foram
identificados com relação entre idade e abandono da atividade esportiva, onde 15%
do descontínuo no esporte corre por razões como, ter que trabalhar, freqüentemente
citadas por jovens mais velhos e, outras razões, por crianças mais jovens. Dessa
forma, as ligações entre atleta-técnico, pai-técnico, status sócio-econômico da
família-tempo de desempenho do treinamento, são variáveis que poderão levar ao
abandono do esporte competitivo.
Outras estruturas sociais podem determinar esse abandono, e são
sistematizadas a nível de exossistema. Na estrutura seguinte de Bronfenbrenner, o
exossistema é assim definido:
“O exossistema inclui as interligações e processos que acontecem entre
dois ou mais ambientes, pelo menos em um dos quais não contém a pessoa
em desenvolvimento, mas no qual eventos acontecem que indiretamente
influenciam o processo dentro do ambiente imediato no qual a pessoa em
desenvolvimento vive” ( BRONFENBRENNER, 1993, p. 22).
25
Essa definição de exossistema envolve as interligações entre possíveis
eventos que ocorrem, por exemplo, no ambiente familiar do técnico, na secretaria
municipal de esportes, no clube ou em qualquer esfera do esporte institucionalizado
e, que de alguma maneira, podem afetar o envolvimento do talento com a prática da
modalidade esportiva. Essa definição possibilita a abordagem do contexto esportivo
em uma perspectiva mais ampla, devido a estrutura das instituições que normatizam
ou regulamentam a atividade competitiva. Assim, a modalidade esportiva na qual
está inserido o talento está subordinada às decisões que ocorrem em ambientes mais
remotos como as secretarias de esportes, federações e confederações e
patrocinadores. Nesses ambientes o talento não participa ativamente mas ocorrem
eventos que podem conduzir ao abandono do envolvimento com o esporte
competitivo.
O esporte possui diversas dimensões, entre essas, a dimensão social. Para
TUBINO (1992), é socialmente importante, ao exigir uma organização complexa de
investimentos, nesse sentido, cada vez mais passa a ser uma responsabilidade social,
principalmente, da iniciativa privada. Devido aos seus objetivos, espetáculo e
rendimento, essa dimensão de esporte traz consigo os propósitos de novos êxitos e
vitórias conquistadas com regras pré establecidas pelos organismos internacionais de
cada modalidade. Para o autor há uma tendência natural que seja praticado pelos
talentos esportivos.
PETLICHKOFF (1996), cita como razões para o término da carreira esportiva
competitiva: os problemas com os técnicos, a estrutura organizacional do esporte e
dificuldades
financeiras.
Dessa
forma,
o
abandono
desportivo
não
está
necessariamente vinculado com o fracasso mas, também pode estar relacionado com
a vitoria. O êxito pode ser o fator mais importante do estresse, atletas de elite
parecem estar preparados para ganhar, mas não estão preparados para enfrentar os
estados afetivos posteriores à vitória. Nesse caso, aumentam as demandas e as
exigência posteriores como, a comunicação com pessoas, as aparições públicas, os
contratos com patrocinadores, publicidade, entre outros.
2.3.3 O macrossistema do contexto esportivo competitivo
26
A mais distante influência nas experiências imediatas da criança é a ordem de
atitudes, práticas e convicções compartilhadas ao longo da sociedade em sua forma
mais ampla. O macrossistema é composto pelo ambiente cultural onde estão
embutidos o micro, o meso e os exossistemas e caracteriza a delimitação mais ampla
do processo do desenvolvimento em contexto. Sua definição é:
“O macrossistema consiste de todo um padrão de micro, meso e
exossistemas característicos de uma determinada cultura ou outro contexto
social maior, com um particular referencial desenvolvimentista-instigativo
para o sistema de crenças, recursos, riscos, estilos de vida, estruturas,
oportunidades, opções de vida e padrões de intercâmbio social que estão
incluídos em cada um desses sistemas. O macrossistema pode ser visto
como a arquitetura societal de uma cultura particular, subcultura ou outro
contexto social maior” (BRONFENBRENNNER, 1992, p. 228).
Portanto, o macrossistema caracterizado como a cultura é o contexto mais
amplo que proporciona as oportunidades para o talento, que dispondo de uma
excepcional capacidade de desempenho, seja reconhecido em um determinado
campo de acordo com os critérios estabelecidos como relevante por esse domínio.
Para que esse talento se desenvolva, de acordo com CSIKZENTMIHALYI et al.
(1997) a cultura deve encorajá-lo através de três maneiras: (a) promovendo o
domínio - uma vez que o domínio é organizado em bases eficientes torna-se fácil
medir o desempenho e consequentemente reconhecer um talento promissor. É mais
fácil de se falar em talento para jogar xadrez do que em matemática, matemática do
que música, música do que arte e arte do que em excelência moral. Assim, xadrez é
um conjunto de regras claras, como domínio definido, claramente estruturado, é fácil
reconhecer quem desempenha melhor. Nesse enfoque, quanto mais organizados em
bases eficientes mais fácil de detectar, educar e dar suporte aos talentosos; (b)
fortalecendo os campos da atividade humana - a segunda abordagem para o
desenvolvimento do talento é aumentar a capacidade para estimular o campo,
reconhecendo e recompensando o desempenho em um dado domínio. Algumas áreas
oferecem mais recompensas intrínsecas do que outras e não necessitam de maior
suporte, por exemplo, música, literatura, dança e drama. Os talentos com
investimentos mínimos continuam a fazer porque são prazerosos e oferecem uma
27
significância pessoal
para
expressar
emoções
e
manusear
conflitos;
(c)
desenvolvendo destrezas individuais - o ponto em foco é que um talento em potencial
não pode ser realizado ao menos que esteja inserido em um domínio cultural que o
reconheça como contribuição no campo e, portanto, promova o seu desenvolvimento.
O talento em potencial raramente se desenvolve como o esperado e a
diferença entre o sucesso e o fracasso, pode estar relacionada, com os atributos
pessoais ou com os contextos onde ocorrem os eventos e as oportunidades que criam
as condições necessárias para a exposição e reconhecimento em um determinado
domínio da atividade humana. Portanto, a preocupação com a orientação e educação
de talentos é uma responsabilidade que envolve toda a sociedade, pois existem
benefícios para a coletividade em função do desenvolvimento de talentos.
3 METODOLOGIA
3.1 O modelo do estudo
Explorar os fenômenos que envolveram os fatores determinantes para que
talentos esportivos tenham abandonado o contexto competitivo, implicou na escolha
de um modelo de pesquisa que possibilitasse conhecer e analisar a inter-relação entre
o potencial individual da pessoa e as influências derivadas do ambiente no qual se
desenvolveu. Recentemente, BRONFENBRENNER (1995b) apresentou um modelo
para estudos de desenvolvimento em contexto, o qual foi denominado de modelo
bioecológico, e caracterizado por quatro elementos: a pessoa, o processo, o contexto
e o tempo (PPCT).
O modelo permite analisar as variações do processo e do produto do
desenvolvimento, como uma função conjunta das características da pessoa e do
ambiente em um determinado período. Dessa maneira, o modelo PPCT considera
quatro domínios inseparáveis: a) as características pessoais da pessoa presente no
contexto; b) o processo através do qual o desenvolvimento emerge; c) o contexto no
qual o desenvolvimento ocorre e d) a dimensão temporal ao longo da qual o
desenvolvimento acontece.
Com este entendimento, realizou-se a investigação dos fatores determinantes
do abandono de talentos do atletismo. Baseados no modelo bioecológico (PPCT)
onde cada elemento do modelo foi identificado em nosso estudo da seguinte forma:
Pessoa – Foram qualificados para participar como sujeitos do estudo exatletas, considerados talentos esportivos da modalidade atletismo do sexo masculino,
que atenderam aos seguintes critérios: (a) nasceram e viveram no estado do Paraná;
(b) abandonaram seu envolvimento com a modalidade de atletismo a nível
competitivo; e, (c) foram apontados por técnicos como tendo sido talentos na
modalidade de atletismo;
29
Processo – Dentro deste elemento foram exploradas as trajetórias de
desenvolvimento dos talentos do atletismo, anteriormente qualificados, nas diferentes
etapas do processo de desenvolvimento esportivo. Para orientar o processo de
desenvolvimento dos talentos adotou-se as fases da teoria de especialização motora
de KREBS (1992; 1993). Dessa forma, o processo foi caracterizado pelas fases de
estimulação motora, aprendizagem motora, prática motora, sendo que, os talentos do
atletismo abandonaram a modalidade esportiva competitiva durante a fase de
especialização motora.
Contexto – Com relação a esse elemento, foi utilizada como referência a
modalidade de atletismo (masculino). Segundo o relatório de atividades da
SECRETARIA ESPECIAL DO ESPORTE DO PARANÁ (1987-1991), o atletismo
foi a modalidade esportiva na qual o estado do Paraná atingiu resultados
significativos a nível de ranking brasileiro. A partir da modalidade de atletismo que é
o contexto primordial para o processo de especialização motora dos talentos do
atletismo, identificou-se outros contextos (microssistemas), iniciando pelo mais
imediato como a família do talento do atletismo, e outros contextos que compõem a
estrutura administrativa a qual a equipe de atletismo está vinculada, por exemplo, a
federação de atletismo e as prefeituras municipais (exossistemas), atingindo o
sistema mais remoto (macrossistema) caraterizado pela secretaria de estado do
esporte e turismo do estado do Paraná;
Tempo – Esta dimensão, buscou identificar o impacto de eventos que
ocorreram tanto em relação ao talento quanto à estrutura administrativa da
modalidade de atletismo, e que, devido a sua natureza, foram fatores determinantes
para que os talentos do atletismo tenham abandonado o contexto esportivo
competitivo. O elemento tempo, neste estudo, foi caracterizado em duas dimensões:
a dimensão temporal pessoal, significa que os talentos do atletismo, deveriam ter
nascido a partir de 01 de janeiro de 1970, e com relação ao contexto, os talentos que
abandonaram o atletismo competitivo entre 01 de janeiro de 1990 e 31 de dezembro
de 1998.
30
Com base nos critérios adotados em cada um dos elementos que formam o
modelo
bioecológico
proposto
por
Bronfenbrenner,
para
o
estudo
de
desenvolvimento em contexto, construiu-se o fluxograma apresentado na Figura 2,
que sintetiza o modelo adotado neste estudo.
Área Temática
“Abandono do esporte competitivo”
Questão Problema
Fatores que determinam o abandono do esporte competitivo
Modelo de Pesquisa
Bioecológico (BRONFENBRENNER, 1995)
Pessoa
Processo
Contexto
Tempo
Talentos paranaenses As
da fases
modalidade
de
de atletismo (masculino) queTalento
abandonaram
=
o esporte
A modalidade de atletismo
no estado
estimulação,
competitivo
nascidos
a do Paraná
(do micro
ao de
aprendizagem,
partir
macrossistema)
prática e
01/01/1970
especialização
Contexto =
motora
abandonaram
(KREBS,
o atletismo
1992;1993)
entre
....01/01/1990 e
31/12/1998
FIGURA 2 - Fluxograma do modelo de pesquisa construído para o estudo.
3.2 Contato com os informantes
Como ponto de partida, contatou-se o técnico da modalidade de atletismo na
cidade de Maringá-Paraná, que também exerce a função de Presidente da sub-sede da
federação paranaense de atletismo. A partir de um encontro pessoal com esse
técnico, obteve-se, além, de dados pessoais dos talentos do atletismo, do estado do
Paraná, que abandonaram o atletismo a nível competitivo, dados pessoais dos
técnicos de atletismo nas diversas cidades paranaenses onde o atletismo foi
desenvolvido a nível competitivo. Com essas informações contatou-se, via
telefônica, os técnicos da modalidade de atletismo nas cidades de Paranavai,
Londrina, Pato Branco, Ponta Grossa, Cascavel e Foz do Iguaçu. Esse primeiro
31
contato com os técnicos teve como objetivo, além de informar, sobre os objetivos do
estudo, extrair informações sobre os talentos que abandonaram o atletismo
competitivo.
Através dos contatos iniciais verificou-se que os talentos que abandonaram o
atletismo competitivo residiam nas seguintes cidades: Paranavai (02), São Pedro do
Ivaí (01), Pato Branco (01), Londrina (02), Ponta grossa (02), Maringá (03), Foz do
Iguaçu (01) e Marilândia do Sul (02). O contato com os técnicos de atletismo ocorreu
durante o mês de novembro de 1998. A partir dessa identificação foi realizado um
primeiro contato, sendo contato pessoal com seis talentos e contato via telefone com
oito talentos. Da mesma forma, foi informado aos talentos os objetivos do estudo e
solicitado a possibilidade de participação no estudo tanto dos próprios talentos
quanto de seus pais e técnicos.
3.3. Sujeitos do estudo
A partir dos contatos iniciais realizados com os técnicos de atletismo e,
posteriormente, com os talentos, verificou-se a extensão do universo dos sujeitos que
estariam qualificados, segundo os critérios do modelo do estudo, para participarem
como sujeitos do estudo. De um universo de quatorze (14) talentos, ex-atletas de
atletismo do sexo masculino apontados pelos técnicos, dois não foram localizados,
um não tinha disponibilidade de tempo em função de sua atividade profissional e,
ainda, um quarto talento não se dispôs a participar. Dessa forma, foram sujeitos deste
estudo dez (10) talentos, ex-atletas, do atletismo que preencheram aos critérios
delineados para o estudo. Esses talentos residiam nas cidades de Paranavai (02),
Londrina (02), Pato Branco (01), Ponta Grossa (01), São Pedro do Ivai (01) e
Maringá (03). A partir da participação desses talentos foram também entrevistados
dez familiares (um para cada talento), como os seguintes graus de parentesco: cinco
(05) mães, dois (02) pais, duas (02) avós e uma (01) tia. Além dos pais, participaram
como sujeitos do estudo cinco (05) técnicos de atletismo. No decorrer das entrevistas
percebeu-se a importância do macrossistema, secretaria estadual de esportes e
turismo, no processo de desenvolvimento desses talentos, com o intuito enriquecer o
estudo, entrevistou-se quatro (04) dirigentes esportivos que foram selecionados
32
através dos critérios de tempo e significância da prestação de atividade profissional
junto a estrutura administrativa do esporte no estado do Paraná. Com base nesses
critérios foram entrevistados, três (03) diretores de esporte e um (01) ex-secretário de
esportes do estado. O procedimento adotado para contato com os dirigentes
esportivos foi via telefone, sendo que houve uma imediata disposição para participar
do estudo. Os quatro (04) dirigentes esportivos residiam na cidade de Curitiba.
Desta forma, foram informantes neste estudo, dez (10) talentos do atletismo
que abandonaram o contexto competitivo; dez (10) familiares, sendo o familiar
indicado pelo próprio talento, como o de maior envolvimento no seu processo de
especialização motora; cinco (05) técnicos de atletismo, sendo que, um foi técnico de
dois (02) talentos, dois (02) técnicos foram técnicos de três talentos e, em dois (02)
casos cada técnico teve apenas um (01) talento que abandonou o contexto do
atletismo competitivo; e, quatro (04) dirigentes esportivos. No total foram
entrevistados 29 sujeitos.
3.4 Entrevista semi-estruturada
Para a coleta dos dados referentes aos fatores determinantes para talentos do
atletismo abandonarem o esporte competitivo, utilizou-se de fichas de identificação
(ANEXOS I, III, V e VII) e de entrevistas semi-estruturada (ANEXOS II, IV, VI e
VIII). Optou-se pela entrevista semi-estruturada, porque este tipo de entrevista
possibilita uma orientação sobre as questões de investigação, bem como, permite
tanto ao entrevistador como ao entrevistado um diálogo realizado com certa
liberdade (QUEIROZ, 1991). Durante o transcurso da entrevista o investigador
realizou adaptações de acordo com as necessidades e os objetivos formulados para a
investigação. As questões foram pré-formuladas estabelecendo-se uma prioridade e
seqüência de perguntas, mas principalmente, nas entrevistas realizadas com pais e
dirigentes esportivos permitiu-se uma preferência pela ordem de respostas.
Através de contato pessoal ou telefônico foi marcada data, local e horário
para a realização das entrevistas que ocorreram sempre de acordo com a
disponibilidade do entrevistado. Dessa forma, o pesquisador deslocou-se até a cidade
33
onde o talento, pais, técnicos e dirigentes esportivos residiam para a realização
efetivação da entrevista.
Com relação ao local, as entrevistas com os talentos foram realizadas: nas
suas residências, local de trabalho ou local pré determinado, por exemplo, biblioteca
pública, a receptividade dos talentos foi excelente e, em certos momentos, as
entrevistas foram realizadas sob forte envolvimento emocional. Com pais e técnicos
as entrevistas foram realizadas nas residências dos mesmos, em um clima muito
cordial. Um dirigente foi entrevistado em sua residência os outros três nas
dependências da Paraná Esporte.
Quanto a duração, as entrevistas tiveram uma variação de uma hora a duas
horas e meia para os talentos esportivos, de meia hora e uma hora para os pais e entre
uma hora e uma hora e meia para técnicos e dirigentes esportivos. Foi destinado um
tempo anterior a entrevista para uma familiarização entre entrevistados, conteúdo e
pesquisador. Considerando o tempo anterior, durante e posterior a entrevista a
duração situou-se entre duas e quatro horas por entrevistado.
As
entrevistas
foram
realizadas obedecendo-se
a
seguinte
ordem,
entrevistava-se o talento, depois um de seus pais e posteriormente o seu técnico. As
entrevistas com os dirigentes esportivos foram últimas que aconteceram. O
procedimento utilizado a realização das entrevistas com os talentos foi o seguinte:
primeiro, uma identificação dos objetivos do estudo, depois a leitura dos tópicos da
entrevistas visando facilitar a recordação e a organização dos relatos do entrevistado
e a seguir a entrevista. Este procedimento não pode ser utilizado com os pais dos
talentos, ao ocorrido na primeira entrevista com os pais percebeu-se que estes não
conseguiam esperar pela leitura dos tópicos da entrevista, já começavam a falar sobre
o filho, sendo assim, para evitar perda de informações optou-se pela imediata
gravação dos depoimentos.
Os instrumentos utilizados para o registro das entrevistas foram três microgravadores sendo um da marca SONY, modelo M-527V e, dois da marca
PANASONIC modelo VAS, bem como, foi utilizado um diário de pesquisa para
anotações complementares. Todas as entrevistas gravadas em micro fitas da marca
SONY MC-60 com duração de sessenta (60) minutos. Ao final foram utilizadas 32
(trinta e duas) micro fitas.
34
Os critérios utilizados para a formulação do roteiro da entrevista foram
baseados nos elementos do modelo do estudo. Na dimensão da pessoa caracterizada
pelo talento de atletismo foram consideradas as suas características ou atributos
pessoais instigativos para o desenvolvimento. Nesse sentido, entre outros atributos
pessoais apontados como importantes para o envolvimento com o atletismo
WEINECK (1991), destaca as características antropométricas (altura, proporção
corporal, biótipo) e as características físicas (velocidade, força estática e dinâmica,
entre outras). Da mesma maneira, WEINBERG & GOULD (1995), apontam como
variáveis psicológicas no esporte, a motivação, a liderança, agressividade e a
ansiedade, entre outras. Dessa forma, identificar os atributos pessoais dos talentos do
atletismo foi uma das categorias das entrevistas. Apresenta-se, na Figura 3, uma
breve síntese dos atributos pessoais.
Propriedades da Pessoa
Atributos pessoais
Características
pessoais
- Dimensões
antropométricas
ex. biotipo
Capacidades
físico-motoras
- Capacidades
físicas
ex. velocidade,
força,
coordenação
Capacidades psicológicas
- Variáveis psicológicas
ex. motivação, dedicação
Entrevista semi-estruturada (talentos, familiares e técnicos)
FIGURA 3 – Fluxograma construído para o coleta de dados das propriedades
pessoais dos talentos do atletismo
Na abordagem ecológica, o elemento contexto é caracterizado por um
conjunto de quatro sistemas em níveis sucessivos. Esses sistemas tem no nível
interno o microssistema (ambiente imediato) indo até o macrossistema (ambiente
mais remoto). A nível de microssistema, objetivou-se através do roteiro da
entrevista compreender, por exemplo, o ambiente da modalidade esportiva, da
família e da vizinhança do talento esportivo que abandonou o atletismo competitivo,
verificou-se as seguintes variáveis: (a) sócio-demográficas, por exemplo,: nível de
35
escolaridade, idade, sexo, estado civil, local de residência, participação na educação
e programas de treinamento; (b) as atividades: o envolvimento em atividades
esportivas; (c) os papéis, por exemplo, a organização familiar, as regras de casa e do
ambiente esportivo, as dificuldades encontradas, o grau de satisfação e o desejo de
melhorar; (d) as relações interpessoais: as dificuldades de relacionamento com
pais/técnico no decorrer do anos, o efeito da carreira esportiva do filho/atleta no
status de trabalho dos pais/técnico; e) a qualidade dos outros, exemplificadas através
das características pessoais dos familiares e técnicos, tipo de envolvimento com
esporte e sistema de crenças em relação ao esporte. Essas variáveis ambientais foram
extraídas
dos
estudos
realizados
por
BLOOM
(1985),
LERO
(1988),
BRONFENBRENNER (1995a) e CSIKSZENTMIHALYI et al. (1997).
A nível do mesossistema foram investigadas através das entrevistas as
ligações e processos que ocorrem entre dois ou mais ambientes onde o talento
esportivo que abandonou o contexto esportivo competitivo esteve inserido. Nessas
ligações foram identificados: (a) os laços primários, que são as pessoas que
participaram nos dois ambientes (ex: o talento esportivo); os laços secundários, que
são “outras pessoas” que participaram desses ambientes sem serem os sujeitos
principais (ex: os pais); os laços indiretos, que são pessoas que não participaram
diretamente em nenhum dos ambientes, mas tem influência sobre as pessoas daquele
ambiente (ex: o diretor do clube). E, também foram parâmetros as possíveis
comunicações entre os ambientes, exemplificados na forma de comunicação entre os
ambientes, bem como, o conhecimento interambiental que são caracterizadas pelas
informações ou experiências que existem em um ambiente, em relação ao outro.
A nível de exossistema, a investigação ampliou-se para as ligações e
processos que ocorrem em uma instância onde o talento do atletismo que abandonou
o contexto esportivo competitivo não participa ativamente, mas onde aconteceram
eventos que indiretamente influenciaram a modalidade de atletismo (por exemplo: as
secretarias de esportes do município, as empresas privadas patrocinadoras ou a
federações paranaense de atletismo). Os elementos que identificam os exossistemas
são os mesmos relatados anteriormente para o mesossistema.
A nível de macrossistema, o mais abrangente de todos os sistemas,
investigou-se os, recursos, riscos, estilos de vida, estrutura de oportunidades, opções
de vida, padrões de intercâmbio social oferecidos e criados para os talentos e a
36
divulgação do esporte. O macrossistema caracterizou-se, no presente estudo, pela
secretaria de estado do esporte e turismo, sendo a abrangência administrativa dessa
instituição a delimitação mais ampla até a qual foi realizado o processo do
desenvolvimento do talento de atletismo no contexto esportivo competitivo. Essa
perspectiva parte do princípio de que as características da pessoa dependem
significativamente do grau de oportunidades que são dadas a ela, em uma
determinada
cultura
e
em
um
determinado
momento
da
história
(BRONFENBRENNER, 1992; KREBS et al.,1997). Uma representação esquemática
do procedimento utilizado para a coleta das informações dos contextos dos talentos
do atletismo são apresentado na Figura 4.
Parâmetros do Contexto
Microssistema
- Sócio-Demográficos
- Atividades
Papéis
- Relações interpessoais
- Qualidade dos outros
Mesossistema e
Exossistema
-Laços primários
-Laços indiretos..
- Comunicação...
....interambiental
-Conhecimento...
....interambiental
Talentos, familiares e
Talentos, familiares e técnicos
técnicos
Macrossistema
Recursos, riscos,
estilos de vida, oportunidades
opções de vida, intercâmbio e divulgação
Talentos Técnicos, dirigentes esportivos
Entrevistas semi-estruturadas
FIGURA 4 – Fluxograma construído para a coleta de dados dos parâmetros do
contexto dos talentos do atletismo.
Tendo apresentado os critérios utilizados para o conteúdo e roteiro da
entrevista, a qual foi baseada na matriz da entrevista semi-estruturada (ANEXO X).
Em relação aos atributos dos talentos do atletismo e dos parâmetros do contexto,
utilizou-se a teoria de especialização motora de Krebs para orientar a retomada das
questões. Assim, em cada fase do processo de especialização motora, reformulou-se
37
as perguntas sobre os atributos pessoais e os parâmetros do contexto. Para o quarto e
último elemento do modelo, o tempo, procurou-se sempre que possível obter do
informante datas precisas dos eventos vivenciados durante o processo de
especialização motora e do abandono do contexto competitivo.
3.4.1 Transcrição das entrevistas
Tendo sido realizadas as entrevistas, todas as vinte e nove (29) entrevistas
foram transcritas pelo pesquisador. Foram transcritas um total de aproximadamente
vinte e quatro (24) horas de gravações, sendo que, para cada hora de fita gravada
demorou-se aproximadamente sete (07) horas para a transcrição. Ao final, as
transcrições foram impressas em folhas de papel sulfite, tamanho A4, espaço
simples, totalizando duzentos e oitenta (280) laudas de transcrição.
Foi estabelecido um critério para ordenar a seqüências das transcrições, que
foram feitas sempre em função das datas da sua realização, nesse sentido, as
entrevistas mais recentes eram as últimas da ordem pré estabelecida. Com esse
critério algumas entrevistas foram transcritas no dia seguinte a sua realização e
outras, em média , de um a três dias, sendo as que mais demoraram foram transcritas
seis dias após a sua realização. As normas sugeridas por OLIVIERA (1998) foram
adotadas para as transcrições (ANEXO IX).
Com a finalidade de manter o anonimato dos entrevistados adotou-se um
procedimento de codificação dos sujeitos realizada aleatoriamente. Desta maneira,
dez (10) talentos ex-atletas de atletismo receberam os códigos que se iniciam no T1 e
terminam no T10, da mesma forma, os familiares de F1 a F10, os técnicos de
atletismo de P1 a P5 e os dirigentes esportivos de D1 a D4.
3.5 Estudo Piloto
O estudo piloto caracteriza-se como uma continuidade de um conjunto de
estudos realizados pelo pesquisador (KREBS, et al., 1997; VIEIRA et. al., 1998).
Nesses estudos, anteriores, foram utilizadas a teoria de especialização motora de
KREBS (1992) para investigar a biografia de atletas de handebol e, a teoria dos
38
sistemas ecológicos (BRONFENBRENNER, 1979) para explorar a trajetória de
desenvolvimento de um talento esportivo da natação.
Dessa forma, utilizou-se o instrumento de coleta de dados dos estudos
anteriores adaptando-o as necessidades e exigências do presente estudo. Com esse
entendimento, após o levantamento e análise da literatura referente ao abandono do
esporte competitivo, das discussões com especialistas na área realizou-se um estudo
piloto. Essa verificação preliminar caracterizou-se como um ensaio para a avaliação
concreta do instrumento de coleta de dados. Para LAKATOS & MARCONI (1991),
o estudo piloto tem como função, testar o instrumento de coleta dos dados,
procurando evitar ambigüidades, fidedignidade e validade. Para verificar a
adequação do instrumento a amostra, o estudo piloto foi realizado com um ex-atleta,
talento esportivo paranaense de classe mundial, na modalidade de tênis de campo que
abandonou o contexto competitivo no ano de 1995. Entrevistou-se também um dos
familiares e o técnico do talento, conforme plano de coleta de dados estabelecido o
para o presente estudo.
Durante o estudo piloto, as entrevistas foram realizadas em um caráter
flexível, onde o pesquisador frente a relevância das informações ofereceu um espaço
para alterações no roteiro em função de elementos essenciais para o problema
(GOOD & HATT, 1979). Ao final, as entrevistas do estudo piloto foram transcritas e
analisadas. As análises realizadas forneceram as bases sobre as quais este estudo foi
realizado.
3.6 Análise documental
Como fontes de informações complementares as entrevistas realizada com
talentos, técnicos , familiares e dirigentes esportivos, além do diário de pesquisa,
utilizou-se dos seguintes documentos particulares: recortes de jornais e fotos dos
álbuns pessoais de talentos e técnicos, revistas e jornais e os relatórios de atividades
editados pela secretaria especial do esporte do Paraná, entre os anos de 1987 e 1991,
que para CERVO E BERVIAN (1983) são documentos em forma de periódicos e os
cadernos com as políticas de desenvolvimento do esporte no estado do Paraná.
39
3.7 Análise dos dados
Para análise dos dados utilizou-se a análise de conteúdo, que para BARDIN,
1977 p.31) é “um conjunto de técnicas de análise das comunicações”.
Especificamente optou-se pelo método das categorias, “espécie de gavetas ou
rubricas significativas que permitem a classificação dos elementos de significação
constitutivas, da mensagem” (p.37). Trata-se portanto de um método que procura
introduzir uma ordem seguindo certos critérios (ANEXOS XI ao XVII).
Dentre os critérios utilizados para manusear os dados brutos, a codificação
dos dados foi realizada seguindo os seguintes critérios: o recorte, enumeração e
agregação (escolha de categorias), permitindo atingir uma representação do
conteúdo. Para escolher as unidades, fazer os recortes, a unidade de registro visando
a categorização foi feita em cima do tema, buscando-se as unidades de significação
segundo certos critérios relativos a teoria que serviam de guia à leitura; e ainda, as
unidades de contexto que serviram de compreensão para codificar a unidade de
registro, cujas dimensões são essenciais para compreender o significado da unidade
de registro, valores e atitudes. Para fazer a enumeração, utilizou-se os tipos presença
ou ausência, funcionando nesse caso como um indicador; e direção podendo ser
favorável, desfavorável ou neutra. A escolha das categoria foi prévia, seguindo os
critérios de BARDIN (1977).
Atendendo a um dos critérios da escolha das categorias, a pertinência, na
interpretação dos dados foram utilizadas, como referência, as quatro categorias
propostas por ELDER (1995) que são as seguintes: informativa, interdependência,
“timing”, continuidade e trocas das características. Na categoria informativa, foram
apresentados os dados obtidos a partir das entrevistas, em relação aos elementos:
propriedades pessoais, parâmetros do contexto, suas relações e inter-conexões. A
partir da categoria informativa, foi possível descrever todo o processo de
especialização motora dos talentos do atletismo e a utilização das outras categorias
para discussão dos objetivos propostos pelo estudo.
Na categoria timing utilizou-se as duas formas propostas por ELDER (1995)
que são: o período vital e o período social. No período vital, os talentos esportivos
foram localizados no seu tempo histórico, em sincronia com a sua carreira esportiva
40
e a vida dos outros significantes. Nesse período o status da idade foi fundamental
para verificar o impacto e o efeito de cada transição no desenvolvimento da carreira
esportiva. O período social relaciona-se com as expectativas do talento em relação ao
esporte, seqüência de papéis, transições ou eventos ambientais.
Na categoria de interdependência, foram analisadas como a estrutura das
modalidades esportivas paranaenses influenciaram a ação pessoal dos talentos do
atletismo e, como os outros significantes (pais, técnicos e dirigentes), atuaram em
relação ao talento e vice-versa.
Na categoria de continuidade e trocas, foram analisadas as constâncias e
mudanças ocorridas tanto nos atributos pessoais quanto nos contextos onde ocorreu o
desenvolvimento dos talentos esportivos. A Figura 5, apresenta o fluxograma da
análise dos dados evidenciando as categorias utilizadas no estudo (ANEXO X).
Área Temática
Abandono do esporte competitivo
Questão Problema
Fatores do abandono no atletismo
Plano de Análise
Informativa
- Atributos pessoais, parâmetros dos contextos, inter-conexões
Timing
- Vital
(idade)
- Social
(expectativas)
Interdependência
Continuidade e T
- Relações interpessoais
- Constâncias e mudanças durante o proce
- Estrutura do atletismo no estado do Paraná
Fatores determinantes para que talentos do atletismo abandonem o contexto esportivo
FIGURA 5 - Fluxograma de análise dos dados construído para o estudo.
3.8 Validade interna e externa
41
Alguns procedimentos metodológicos foram tomados com a finalidade de
garantir a validade interna ou credibilidade dos dados recolhidos. BAUMGARTNER
& STRONG (1984) citam que para aumentar o grau de credibilidade o pesquisador
deve usar técnicas de triangulação que podem ser realizadas de três maneiras: entre
teorias, técnicas de pesquisa ou triangulação de dados. Desta forma, tendo-se como
sujeitos deste estudo talentos, pais e técnicos efetuou-se confrontação de informações
o que intensifica o potencial da validade interna dos dados, visto que para os autores
citados anteriormente, a validade interna perfeita é teoricamente impossível.
Com o objetivo de verificar se as transcrições refletiam o pensamento dos
entrevistados em relação ao tema abordado as entrevistas foram enviadas,
individualmente, via correio ou pessoalmente, pelo pesquisador aos entrevistados
para alterações ou complementações. Anexo as entrevistas, foi remetido um envelope
selado para posterior devolução das mesmas ao pesquisador.
Quanto a validade externa ou generalização, esta poderá ser feita por outro
pesquisador, que julgar que os sujeitos e os dados do presente estudo são
representativos podendo fazer transferências de acordo com o tipo de pessoas ou
unidades a serem examinadas.
4. APRESENTAÇÃO E DISCUSÃO DOS RESULTADOS
Com a finalidade de organização, estruturou-se este capítulo em duas partes
principais. Na primeira parte, apresenta-se os resultados do estudo que descrevem
como ocorreu o processo de desenvolvimento dos talentos do atletismo, tendo como
referência o modelo de especialização motora de KREBS (1992,1993). Utilizou-se,
também, a teoria dos sistemas ecológicos de BRONFENBRENNER (1979) para
discutir os resultados relativos aos contextos que influenciaram no processo de
especialização motora dos talentos do atletismo. Na segunda parte, serão
apresentados os fatores que foram determinantes para que os talentos do atletismo
tenham abandonado o contexto esportivo competitivo e, ainda, discute-se esses
fatores como base nas categorias de interpretação propostas para o estudo, que são: o
timing vital e social, a interdependência e as trocas e continuidade.
4.1 O processo de desenvolvimento dos talentos do atletismo
A finalidade desse tópico, é centrar-se no processo de desenvolvimento dos
talentos esportivos do atletismo. Para descrever esse processo utilizou-se a teoria de
especialização motora de KREBS (1992,1993). Esse autor considera que a
especialização motora é constituída por quatro fases, que são: a estimulação, a
aprendizagem, a prática e, finalmente, a especialização motora. Paralelamente,
apresenta-se também, os contextos que influenciaram no processo de especialização
motora, utilizou-se como referência a teoria dos sistemas ecológicos de
BRONFENBRENNER (1979). Tendo essas abordagens teóricas, como norteadoras
da apresentação dos resultados, descreve-se todo o processo de especialização de
talentos da modalidade de atletismo, em quatro sub-tópicos, que correspondem as
fases de estimulação, aprendizagem, prática e especialização, do modelo proposto
por Krebs.
43
4.1.1 Fase de estimulação motora dos talentos do atletismo
A fase de estimulação motora, caracteriza-se como a primeira de acordo com
o modelo proposto por KREBS (1992, 1993) para a especialização motora. Para o
autor o importante nessa fase é a vivência do movimento, sendo que, o padrão de
movimento executado deve ser tomado apenas como estímulo para que a criança
construa o seu plano motor. Portanto, com relação a participação em atividades
motoras na infância, os talentos do atletismo, referiram-se a algumas atividades
infantis caraterizando-as segundo: o tipo de atividade realizada e gosto pela prática.
Dessa maneira, quanto ao tipo das atividades vivenciadas na fase de estimulação
motora alguns relatos assim as descreveram:
“... de caçar brincava de super-herói essas coisas... brincava de salva cabo de
guerra tudo gente participava... até amarelinha tudo só não era chegado em
dançar né...” (T1)
“tive muita energia era mais brincadeira de corrida policia ladrão pega pega
essas eu preferia mais correr de saltar né onde tinha obstáculo eu saltava subia
na casa pulava minhas brincadeiras eram mais de correr e saltar” (T7)
“...de brincar assim vamos vê quem é que rela quero ver quem rela lá primeiro
e volta aqui ... o mestre mandou buscar eu saia assim zim na frente e vinha
brincando tirando sarro dos outros corria pra cima e pra baixo” (T4)
Nessa faixa etária segundo WEINECK (1991), as crianças demonstram um
alto ímpeto para movimentos e brincadeiras, e ocupam-se de um grande número de
jogos que se formam de maneira incrivelmente variada e múltipla. O gosto pela
atividade motora também foi demonstrado, pelos talentos do atletismo, em suas
entrevistas como pode ser verificado nos seguintes comentários:
“...toda criança gosta de solta pipa futebol estilingue aqueles revolvinho de
pau... as atividades de gente de bairro” (T2)
44
“...eu mais gostava de brincar era de esconde esconde... as brincadeiras eram
mais de betis tomar banho na água suja caixa” (T3)
“eu gostava de brincadeiras mais que envolvem força salto tipo aqueles lá
atravessa a rua três quatro saltos... aquele negócio de carregar os outros nas
costas eu sempre era escolhido” (T5)
Por outro lado, também ficou evidenciado que alguns talentos do atletismo
não demonstraram interesse na participação ou gosto por atividades motoras na
infância, não parecendo ser esse um fator que inibiu o potencial de desenvolvimento
do indivíduo. Essa afirmação encontra suporte na percepção de competência e da
auto imagem, enfatizada na seguinte afirmação:
“na minha infância não fui uma pessoa muito de atividades física não... eu
gostava muito de jogos de pensar xadrez essas coisas assim jogos que não
exigissem ... muito esforço físico pelo fato de ser um pouquinho .... era gordo
então já me excluía um pouquinho da brincadeira né... que eu fazia mais com
meus irmãos nos éramos em quatro irmãos...”( T8)
Percebe-se, que o caráter lúdico predominou nas atividades motoras
vivenciadas na infância. No entanto, através dessas atividades os talentos já
demonstravam uma pré disposição para o desempenho em certas valências físicas
como a velocidade, a impulsão e a força, bem como, nas atividades motoras cujos
movimentos básicos são os movimentos fundamentais de correr, saltar e arremessar,
conforme modelo GALLAHUE (1995). De certa forma, talentos e familiares,
parecem ter percebido, através de seus relatos, que existe uma relação entre as
qualidades físicas envolvidas nessas atividades motoras infantis e, o posterior,
rendimento atlético:
“de correr que ele sempre gostou de correr na rua e andava por aí... aquelas
brincadeiras de bater na lata aquilo precisa ser veloz pra brincar daí que eu
45
percebi que ele ganhava e ia sempre rápido... mas a gente nunca pensou que
ele ia fazer isso aí que ele fez né ...”(F1)
“brincava muito assim ... o pé na parede e brincava quem batia o pé mais alto
isso bem antes de imaginar que um dia eu ia fazer o salto com vara ...eu tinha
o dom e gostava achava emocionante de ter aquela altura e transpor” (T3)
Para KREBS (1992) essa fase de estimulação motora deve ser entendida
como um sistema totalmente aberto. Portanto, não há a execução errada, pois cada
forma diferente de movimento em relação ao modelo correto deve ser aceita como,
outra maneira, do indivíduo interpretar a destreza em questão. O autor estabelece
uma relação entre o seu modelo e o proposto por GALLAHUE (1995), sendo assim,
crianças na fase de estimulação, executam padrões de movimentos que correspondem
ao estágio “maduro”, da fase dos movimentos fundamentais e do estágio de
“transição”. Para caracterizar essa fase como a primeira do modelo proposto por
KREBS (1992), apresenta-se a Figura 6, a qual evidencia na base da especialização
motora a fase de estimulação com o envolvimento em atividades motoras.
Especialização Motora
Prática Motora
Aprendizagem Motora
Estimulação Motora
atividades variadas
Leis
FIGURA 6 – Fase de estimulação motora de talentos esportivos do atletismo.
46
Com relação aos contextos que foram importantes para o desenvolvimento do
talento durante a fase de estimulação motora, BRONFENBRENNER (1992) ressalta
que as competências das pessoas devem estar relacionadas com as necessidades
apresentadas pelo ambiente. Dessa forma, os relatos apresentados pelos talentos
salientam o status real das suas vivências motoras nas situações de vida cotidiana.
Essas experiências são de importância fundamental, pois evidenciam as
competências motoras que são relevantes para a compreensão das características da
pessoa no contexto no qual ela vive. Assim, faz-se necessário, apresentar as
características dos contextos nos quais essas atividades foram experenciadas.
Para BRONFENBRENNER (1996), o ambiente ecológico é concebido como
uma série de estruturas. O microssistema é a primeira estrutura dentro dessa
concepção e caracteriza-se como um ambiente onde as pessoas podem interagir face
a face com outras pessoas, por exemplo, a casa, a creche ou o playground. Os
elementos que constituem um microssistema são as atividades, as relações
interpessoais e os papéis. Os dois microssistemas evidenciados pelos talentos do
atletismo como sendo os ambientes ecológicos onde ocorreu a estimulação motora
foram a família e a vizinhança.
Nesse sentido, a família é o primário e mais imediato microssistema de
desenvolvimento do ser humano. Apesar de, tradicionalmente, constituída por pai,
mãe e filhos, vários fatores podem interferir no tipo, quantidade e qualidade das
situações experenciadas nesse contexto. Com a finalidade de informar algumas
características sócio demográficas das famílias dos talentos do atletismo, apresentase o Quadro 1, com dados referentes a data de nascimento do familiar entrevistado,
idade atual, estado civil (ano de falecimento do cônjuge em caso de viúva), nível de
escolaridade, profissão e envolvimento com o esporte.
47
QUADRO 1 – Característica sócio-demográficas das famílias dos talentos do
atletismo
Família
Mãe
Mãe
Pai
Mãe
Avó
Pai
Avó
Tia
Mãe
Mãe
Data de
Idade
nascimento
21.01.57
42
04.04.48
50
09.01.50
48
18.09.49
49
11.08.22
76
24.03.59
38
24.01.18
02.05.42
30.03.38
07.01.45
81
57
61
54
Estado
civil
Viúva-1994
Viúva-1987
casado
casada
Viúva-1974
casado
Escolaridade *
Profissão
2° série primária
3° série primária
nenhuma
Ensino superior
3° série primária
doméstica
diarista
garçom-comércio
Professora
do lar
topógrafo
Ensino médio
incompleto
Viúva-1992
4° série primária
solteira
casada
casada
Primário completo
2° série primário
3° série primária
Envolvimento
com o esporte
nenhum
nenhum
nenhum
nenhum
nenhum
Atleta futebol
amador
do lar
nenhum
aposentada
nenhum
do lar
nenhum
auxiliar de creche Gosta de assistir
* Para a época, ensino primário corresponde a atual educação infantil.
Entre os fatores sócio demográficos, relacionados com a família, que podem
ter afetado o desenvolvimento dos talentos do atletismo, alguns foram citados nos
depoimentos: a situação financeira reduzida, a separação e o divórcio. Com relação a
condição financeira familiar, pais e talentos esportivos retrataram as suas famílias da
seguinte forma:
“a minha família é de classe baixa então eu tinha ... pai mãe e irmãos nós
somos em três irmãos meus dois irmãos são mais velhos eu sou o caçula”
(T9)
“minha mãe era professora e meu pai era motorista de ônibus então a gente
não era assim... não era muito pobre mas tinha muita dificuldade... eu lembro
meu café da manhã era chá de vez em quando e um pãozinho...” (T4)
eu trabalhava dia e noite trabalhava em dois turnos na cidade... chegava em
casa lavava roupa fazia comida já tava no serviço de novo... tinha vez que
punhava eles pra dormir debaixo da mesa do restaurante levei esta vida muito
tempo com ele pequeno (F2)
Além da condição financeira familiar, alguns eventos que aconteceram nas
famílias, com relação a separação dos pais foram narrados, pelos talentos e,
principalmente, pelas mães dessa maneira:
48
“eu morava lá no aeroporto numa casa e ele brincava na rua ... a mãe
trabalhava fora e quem cuidava era eu sempre eu criei ele desde
pequenininho... eu fui mãe e fui pai e avó tudo junto...” (F3)
“não eu fui criado sozinho assim... eu tinha os pais separados mais eu fui
criado com os meus avos mas minha mãe sempre por perto” (T7)
“eu era separada do pai dele né... nós não convivia com o pai dele então ele
ficava comigo... tinha quintal pequeno porque sabe como é que é a gente
convivia de aluguel né... morava nos fundos da casa mas tinha espaço..” (F2)
Como pode-se perceber através do Quadro 1, dos relatos dos talentos e
familiares, a viuves ou separação dos cônjuges além da condição financeira eram as
preocupações mais evidentes. Para BÜHLER (1980) entre os problemas da dinâmica
da família é, especialmente atual, o papel ambivalente da mulher. A mulher, que
deve ser, boa dona de casa, encantadora, compreensiva encontra-se perante o dilema
diário de como desempenhar todos esses papéis, sobre tudo quando acrescenta-se a
assistência a filhos pequenos e/ou o exercício de uma profissão. Tendo os familiares
cuidadores, as responsabilidades de segurança e afiliação através da atividade
profissional, pouco tempo haveria para que, no contexto familiar, os talentos do
atletismo desenvolvessem as atividades motoras, com ou sem, a orientação dos pais.
Desta forma, a medida que o indivíduo se desenvolve ocorre uma busca por
outros contextos fora do ambiente primário, aqui definido como família, para a
vivência motora. A partir desse ambiente inicial ,o ambiente mais próximo passa a
ser a comunidade na qual a família está inserida. Na comunidade, outras atividades,
relações interpessoais e papéis começam a se incorporar ao plano motor e social da
criança. Com relação as atividades motoras realizadas na infância, o contexto
vizinhança, parece ter sido o ambiente onde as crianças tiveram a oportunidade para
a prática de atividades variadas. As atividades motoras, anteriormente descritas, são
agora contextualizadas, através da descrição do contexto vizinhança com as seguintes
verbalizações:
49
“sempre gostava de jogar uma bolinha com os colegas aqui da minha rua... a
rua é de chão de areião você colocava os chinelos os tijolinho pra fazer os
golzinho... brincava de bola soltava pipa... então aquelas brincadeiras de toda
criança que mora em bairro a rua os vizinhos” (T2)
“foi brincando com a garotada de pique esconde pega-pega... foi praticamente
na rua mesmo... você adquire todo esse negócio de motor logo cedo você
começa a brincar na rua armando os golzinho no meio da rua... e ali você
começa a pegar gosto e a praticar esporte” (T8)
“...nós da rua... toda a criançada os demais vizinhos né... ou era futebol na rua
ou na terra ou mãe-cola pega-esconde essas brincadeiras mais... que mexia
mais com corrida” (T10)
A estimulação ocasionada pela exploração do espaço exterior foi fundamental
na estruturação das primeiras fases do desenvolvimento da criança, e a experiência
do jogo e da atividade física é uma excelente forma de perceber as relações entre o
indivíduo e o ambiente (NETO, 1997). Embora esse autor, tenha preocupação atual
da disponibilidade de espaços livres para as crianças exercitarem seu direito aos
jogos e as atividades infantis, os talentos do atletismo relataram que viveram em
ambientes onde o espaço para experiências motoras sempre esteve disponível.
KREBS (1997) cita que Bronfenbrenner surpreende-se com a constatação de
que as propriedades da pessoa são definidas de maneira conceitual e operacional,
sem referir as questões do ambiente, ou sem considerar as questões culturais relativas
a cada pessoa. Com o objetivo de identificar os ambientes, apresentamos a Figura 7,
que ilustra os contextos de desenvolvimento dos talentos do atletismo na fase de
estimulação motora.
50
Macrossistema
Exossistema
Mesossistema
Microssistema
família
Microssistema
vizinhança
Cronossistema: Período vital e social dos talentos através das transições ecológicas do curso de vida.
FIGURA 7 – Mapa ecológico dos talentos esportivos na fase de estimulação motora.
A diversidade das atividades motoras realizadas através dos jogos e das
brincadeiras infantis, parece ter possibilitado aos talentos do atletismo uma ampla
variedade de experiências motoras. A atividade motora, nessa fase, parece ter sido
importante no sentido de proporcionar oportunidades para a ampliação do repertório
de movimentos estimulando a vivência e a experiência corporal. Nesse sentido, as
evidências caracterizaram o microssistema vizinhança como o ambiente primordial
para o desenvolvimento e a apreciação da atividade motora na infância.
4.1.2 Fase de aprendizagem motora dos talentos do atletismo
Sendo a estimulação motora a fase inicial do processo de especialização
motora de KREBS (1992), a fase seguinte foi denominada de aprendizagem motora.
Para esse autor, a iniciação esportiva caracteriza a passagem da fase estimulação para
a de aprendizagem motora. Alguns atributos pessoais relacionados, principalmente,
51
auto imagem e motivação foram importantes, no sentido, de impulsionar os talentos
do atletismo a aprendizagem de vários esportes. Outro fator motivador parece ser o
contexto escolar, em função das experiências proporcionadas nas aulas de educação
física.
Dessa forma, os talentos do atletismo descreveram quais foram as
características individuais importantes para o seu envolvimento com a aprendizagem
ou iniciação esportiva, nos seguinte comentários:
“...puxa meu biótipo era fraquíssimo e até hoje é... raquítico baixinho... só que
eu gostava me motivava então eu tinha vontade... gostava do que tava
fazendo...pra sair um pouco de casa também” (T2)
“acho que é o meu biofísico né como a altura e a minha resistência que eu
tinha na época..”.(T10)
“ia ter uns jogos lá em Guaíra né... aí ele começou a contar que a gente
viajava e quando você é criança você tem aquele sonho né... de conhecer você
quer ver como é que é outro local... aí eu falei que ia...”(T2)
Com esses depoimentos observa-se que o biótipo, a motivação para viagens
seguida pela conquista de medalhas, pareceram ser os atributos pessoais mais
evidenciados para a iniciação a aprendizagem de esportes. Para CRATTY (1984),
essa busca pelo envolvimento
com o esporte é devido
aos diversos tipos de
reforçadores sobre a motivação da criança, sejam pelo próprio valor que a criança
atribui ao esporte ou pelas recompensas externas inclusive, salienta, a importância da
percepção de competência atlética ou física. Para KREBS (1992, 1993), essa fase de
aprendizagem esportiva deve ser entendida como um sistema parcialmente aberto,
visto que, agora o movimento a ser executado requer um plano motor parcialmente
definido pelo instrutor. Segundo Krebs é importante que o aprendiz passe do estágio
de transição para o estágio de aplicação, da fase dos movimentos especializados do
modelo de Gallahue.
A iniciação esportiva requer, portanto, uma instrução ou um modelo referente
ao esporte culturamente determinado. Nesse sentido, uma orientação em termos de
52
pedagogia de esporte torna-se necessária para a aprendizagem de esportes. Com esse
entendimento, o professor de educação física ou técnico desportivo desempenham
um papel fundamental no processo de especialização motora. E, a criança enquanto
aprendiz procura em outros contextos, além do familiar e da vizinhança as
oportunidades, recursos humanos e materiais, para o seu engajamento na
aprendizagem de modalidades esportivos.
Assim, se na fase de estimulação apenas dois microssistemas foram
evidenciados, na fase de aprendizagem dois novos contextos são incorporados e
influenciaram o desenvolvimento dos talentos esportivos: a escola e a equipe de
atletismo. Outra ocorrência de importância significativa para o desenvolvimento são
as possíveis inter-conexões entre as pessoas presentes nesses ambientes, essas interrelações são denominadas de “mesossistemas” (BRONFENBRENNER, 1996).
O contexto escolar, parece ser o microssistema onde os talentos do atletismo,
encontraram as oportunidades e os recursos necessários para a aprendizagem ou a
iniciação esportiva. Nesse sentido, as evidências apresentadas nas entrevistas
proporcionaram informações sobre o enfoque e o conteúdo ministrados durante o
período escolar, e que, foram determinantes para a iniciação esportiva em uma ou
diversas modalidades de esporte. A importância do ambiente escolar para o
desenvolvimento dos talentos esportivos pode ser verificada dos seguintes
comentários:
“da quinta a oitava série eu aprendi... o basquete eu adorava o handebol...
quando eu tava aprendendo treinava três vezes por semana uma hora e meia”
(T1)
“...você entra na vida escolar depois da quinta série na aula de educação física
começa a aprender o básico que é o vôlei o futebol de salão e o meu professor
me chamou convidou pra fazer parte de um treinamento que havia na cidade
de atletismo...”(T2)
“fui conhecer o basquete quando fui para o ginásio... o atletismo eu comecei
foi em oitenta e quatro foi uma competição municipal... que o professor da
escola ele reuniu um pessoal...” (T7)
53
“olha eu aprendi vários esportes várias modalidades... o voleibol o basquete é
xadrez e aí tem vários... mas o que eu me identifiquei mais... foi o futebol de
salão fora o atletismo ...”(T10)
Portanto, se a vizinhança se caracterizou como o contexto mais evidenciado
onde as primeiras experiências motoras ocorreram durante a fase de estimulação
motora, a escola parece ter sido o contexto primordial para a aprendizagem de
modalidades esportivas, principalmente, quando os talentos do atletismo ingressaram
na quinta série do ensino fundamental. O esporte escolar ou o esporte na escola são
termos que geram polêmica dentre as linhas de educação física existentes no Brasil,
entretanto, é uma atividade formal que é desenvolvida no âmbito escolar, seja na aula
de educação física seja na escolinha em horário extracurricular, nos diferentes
momentos do processo de ensino-aprendizagem do ensino fundamental e médio
(GRECO & BENDA, 1998).
Na fase de estimulação, os talentos do atletismo vivenciaram atividades
variadas desenvolvendo, principalmente, o gosto pela prática de atividades físicas.
Já, na fase de aprendizagem motora o interesse pelas atividades físicas modifica-se
para uma iniciação esportiva. Na iniciação esportiva, os talentos do atletismo
destacaram a aprendizagem de diversas modalidades esportivas, entre essas
destacaram-se: o futsal, o futebol, o handebol, o basquetebol, o voleibol, bicicross e o
atletismo. Para KREBS (1992), a aprendizagem de diversas modalidades pode
assegurar uma gama de opções para a prática e a especialização motora. A
representação esquemática do modelo proposto por Krebs, incluindo as fases de
estimulação e aprendizagem motora já experenciadas pelos talentos do atletismo, é
apresentada na Figura 8.
54
Especialização Motora
Prática Motora
Aprendizagem Motora
atletismo
voleibol
futsal
Estimulação Motora
atividades variadas
handebol
futebol
basquetebol
Leis
FIGURA 8 – Fase de aprendizagem motora dos talentos esportivos do atletismo.
A escola, caracterizou-se como o contexto onde ocorreu a iniciação esportiva
através da aprendizagem de esportes nas aulas de educação física. Apesar do
atletismo estar contemplado como um conteúdo da grade curricular, devido aos
recursos materiais disponíveis, a oportunidade para a prática desse esporte não se
manifesta nesse contexto. Dessa maneira, através da participação em outros esportes
o professor de educação física, utilizando-se da observação diagnosticou
potencialidades em seus alunos e, assim, direcionou a uma aprendizagem do
atletismo, para um outro contexto, onde as condições pareciam ser mais adequadas,
especificamente, as equipes de atletismo.
Nesse novo contexto, os talentos que demonstraram potencialidade, devido a
seus atributos pessoais, foram apresentados a uma ampla variedade de movimentos
especializados ou desportivos, por exemplo, as corridas, os saltos e os arremessos.
Os talentos descreveram as atividades desempenhadas no contexto da equipe de
atletismo desta maneira:
“a gente brincava com o dardo e no mesmo dia ia pro salto em altura o salto
em distância corrida... pra ele era um trabalho sério porque era através dessas
55
brincadeiras dessas modalidades do atletismo que ele ficava observando e
vendo aquela que você tinha mais potencial ...” (T2)
“um dia jogaram uns colchões no salto em distância pegaram umas varas de
bambu ficaram brincando... aí eu pedi para o meu técnico deixar eu brincar
um pouco... e foi indo foi indo e ele falou assim é salto com vara... e comecei
a me dedicar ao salto com vara” (T3)
“na pista a organização era a seguinte... chegava lá e descobria a tua prova...
só que eu fui empurrado para o peso pelo meu corpo... o pessoal falava você
vai fazer lançamento...” (T8)
Os técnicos de atletismo comentaram as estratégias utilizadas na equipe de
atletismo para a iniciação esportiva de crianças e jovens a prática das provas dessa
modalidade esportiva:
“eu comecei desde o zero com ele... ensina o peso ensina o disco tentei o
martelo... e ele se acertou no disco... aqui a criança passa por tudo nós demos
barreira para eles... nem ensina vai passando... agora precisa saber se tem
velocidade... rechunchudinho vai para os arremessos... eu vou trabalhando
devagar então você vai descobrindo assim ele passa por tudo sabe e eu vou
observando” (P1)
“aquele olho clínico onde tem uma competição a gente observa o biótipo o
jeito daquela criança.... “epa esse leva jeito pra tal prova”... então aí nós
começamos a trabalhar mas nunca na prova específica... quem tem boa
coordenação observo muito a vontade da criança ...” (P2)
O contexto esportivo, caracterizado pela equipe de atletismo, foi de
fundamental importância tanto para a aprendizagem quanto para a introdução dos
talentos do atletismo ao ambiente competitivo. Para COELHO (1988), na
constelação de responsáveis pelo desenvolvimento de crianças e jovens, os
professores e treinadores assumem um papel fundamental porque devem orientar as
expectativas dos jovens praticantes, e interferir quando da necessária modificação da
atitude de pais e dirigentes em relação ao esporte. Portanto, a qualidade do
56
profissional e o papel que desempenha na orientação, parecem ser determinantes para
o processo de especialização motora dos talentos esportivos.
Com relação ao microssistema família, nas entrevistas buscou-se informações
sobre: o tipo e formas de envolvimento dos familiares com a atividade esportiva do
filho; eventos que podem ter modificado a relação entre pais e filhos e, as possíveis
relações entre a família e os outros microssistemas no qual o filho participa
ativamente, a escola, a vizinhança e a equipe de atletismo. Nas entrevistas tanto
familiares como talentos do atletismo, retrataram o papel da família da seguinte
forma:
“ele (o pai) chegou para mim e falou “olha enquanto eu tiver força e saúde
para trabalhar ... você vai fazer o que você quiser... na vida”... então aquilo foi
um incentivo muito grande para mim dar continuidade no esporte” (T1)
“conhecia o futebol que existia o basquete o handebol o salão mas não sabia a
regra conforme eu fui participando fui aprendendo fui passando um
pouquinho para eles” (T2)
“os meus pais são de uma religião que não permitia que você se envolvia com
o esporte foi meio dificultoso eu tinha uma dificuldade enorme de sair... mais
com o tempo eles foram entendendo e viram que eu adorava fazer aquilo e
também era um incentivo para eu não ficar na rua” (T9)
“não gostavam não... minha sorte eu acho foi porque quando eu comecei eu
tava no rastro do meu irmão... aí ela começou a me liberar mas nós não
tínhamos nenhum incentivo” (T8)
Através dos depoimentos dos familiares e talentos do atletismo, percebeu-se
que o envolvimento da família com a atividade esportiva, parece ter aumentado no
sentido em que os estabeleciam as conexões através da comunicação e conhecimento
das atividades de um ambiente em relação ao outro. Para CRATTY (1984), os
membros da família parecem ser os modelos mais importantes para a participação
esportiva e, o importante é a “qualidade” do envolvimento mais do que o “grau de
freqüência”, com que o progenitor e filho partilham a atividade.
57
Um evento não-normativo importante ocorreu nessa fase para a família de um
dos talentos. Esse evento referiu-se ao falecimento do pai e, foi assim lembrado:
“... porque eu perdi o meu pai antes do inicio de eu começar tudo isso eu perdi
o meu pai tinha onze anos.. aí com onze anos eu fui convidado pra ir lá e
começou toda a minha vida minha carreira..”(T2)
De uma forma geral, através do comentários, pode-se observar o tipo e a
qualidade do envolvimento dos familiares durante a fase de aprendizagem dos
esportes. A nível de eventos que podem influenciar na participação esportiva,
detectou-se, que o falecimento do pai associado a condição de filho primogênito
pode ter tido impacto no futuro envolvimento de um talento do atletismo. Pois de
acordo com BRONFENBRENNER (1996), as crianças vivendo em famílias de
progenitor único, chefiadas pela mãe, estão expostas a um risco maior de disrupção
no desenvolvimento cognitivo, emocional e social. Portando, esse evento nãonormativo merece ser considerado para a posterior análise dos eventos que
influenciam na continuidade ou no abandono do contexto esportivo competitivo.
Mas, ao participar de diversos contextos ou microssistema os talentos do
atletismo ampliaram a sua rede social e promoveram uma série de inter-relações
entre dois os mais ambientes, caracterizando de acordo com BRONFENBRENNER
(1992), os mesossistemas. A forma básica de mesossistema, ocorre quando a mesma
pessoa participa de atividades em mais de um ambiente criando, assim, uma rede
social direta ou de primeira ordem entre os ambientes dos quais participa. Outra
forma de mesossistema são as ligações indiretas, definidas quando a mesma pessoa
não participa ativamente de ambos os ambientes, mas ainda estabelece uma conexão
entre os dois ambientes através de uma terceira pessoa que serve como vínculo
intermediário criando assim uma rede social de segunda ordem. A existência das
inter-conexões entre os microssistemas foram evidenciadas pelos talentos nas
seguintes expressões:
58
“entrei na escola essa turminha... continuou porque éramos todos vizinhos e o
pessoal montava o time de futebol ou brincava na escola...” (T1)
“o atletismo eu comecei quando um primo meu e ele era campeão brasileiro
né... e o técnico tava procurando alguém pra fazer a equipe de arremessador
meu primo fez minha cabeça pra eu ir..” (T5)
“eu era espelhado no meu irmão mais velho... ele começou a fazer basquete e
nós jogava muito basquete no colégio...e aí ele começou a jogar vôlei e eu fui
jogar vôlei...” (T8)
A comunicação multiambiental foi outra forma de inter-conexão entre dois
microssistemas, as mensagens transmitidas de um ambiente para outro com a
intenção expressa de dar informações específicas para as pessoas do outro ambiente,
podendo ocorrer diretamente, através de interação face a face, conversas telefônicas
ou correspondências e indiretamente, através da rede social sendo unilateral ou em
ambas as direções (BRONFENBRENNER, 1996). Em um caso específico, o talento
do atletismo necessitou a permissão dos pais para realizar as atividades na equipe de
atletismo, portanto, uma comunicação multiambiental se estabeleceu, essa ocorrência
foi ressaltada dessa forma:
“na época sim... porque precisava da autorização né... porque eu tinha que
deslocar da residência até o colégio estadual... então o colégio comunicava
pedia autorização para os pais para participa” (T2)
Diferente da fase de estimulação, a fase de aprendizagem motora, incorporou
dois novos microssistemas e iniciou a criação de uma rede social entre esses
microssistemas. Essa rede social denominada mesossistema, ampliou o mapa
ecológico
dos
talentos
esportivos
através
da
participação,
comunicação,
conhecimento multiambiental e as ligações indiretas. A ampliação do mapa
ecológico dos talentos do atletismo é demonstrada na Figura 9.
59
Macrossistema
Exossistema
Mesossistema
Microssistema
Equipe Atletismo
Microssistema
Escola
Talento
Microssistema
Família
Microssistema
Vizinhança
Cronossistema: Período vital e Social dos talentos,
através das transições ecológicas do curso da vida.
FIGURA 9 – Mapa ecológico dos talentos do atletismo na fase de aprendizagem
motora.
Com a ampliação da rede social dos talentos, ocorreu um maior envolvimento
dos familiares nas atividades esportivas dos filhos, bem como, estabeleceram-se
vínculos entre escola e equipe de atletismo, escola e família, e equipe de atletismo e
escola. Os talentos, de uma maneira geral, devido a seus atributos pessoais, parecem
ter sido instigados a busca do rendimento esportivo, portanto, ocorreu a continuidade
do processo de especialização motora.
4.1.3 Fase da prática motora dos talentos do atletismo
Nessa fase do processo de especialização motora, os talentos buscaram o
envolvimento com a modalidade esportiva do atletismo. Nesse sentido, os atributos
pessoais parecem ser fundamentais para um aperfeiçoamento das capacidades
individuais, portanto, a idade e o biótipo, além da motivação, foram caraterísticas
determinantes para a opção pelo atletismo competitivo. Os atributos pessoais que
60
levaram os talentos a optarem, selecionarem ou serem selecionados para a prática do
atletismo foram, destacadas durante as entrevistas nas seguintes afirmações:
“ele (o técnico) gostou da minha aptidão... não sei se do meu biótipo... porque
eu sempre fui muito grande... eu pra você ter uma idéia com treze anos já
tinha um e oitenta e um porte físico mais elevado...” (T2)
“a gente olha na pessoa a estatura o biótipo da pessoa... o C era uma pessoa
forte então convidei ele para treinar” (P2)
O técnicos de atletismo, utilizaram a sua competência profissional como
instrumento de seleção dos talentos. SOBRAL (1988), reconhece que a seleção dos
atletas adolescentes é feita com base das dimensões corporais e da qualificação
técnica, portanto, a utilização de parâmetros morfológicos e fisiológicos são comuns.
Com o mesmo pensamento, WEINECK (1991), aponta que as condições
antropométricas, características físicas, além, dos fatores afetivos e sociais exercem
influência na detecção dos talentos esportivos.
Com relação aos atributos sócio-emocionais, a motivação para o
envolvimento com o esporte foi citada, ainda, com ênfase nas oportunidades para
viagem e pela possibilidade de conquista de medalhas. Esse atributo pessoal para a
prática do atletismo foi realçado pelos talentos nas seguintes afirmações:
“o que me motivava era um dia conseguir ir pra uma olimpíada... me
motivava também olhando os atletas de nível internacional para um dia eu
chegar ao nível deles...” (T6)
“que daí incentivava o pessoal a treinar... é viajar com os amigos né... e
motivava a gente a treinar porque senão fizesse um bom resultado não ia
viajar...” (T7)
“...a criança principalmente no atletismo ou em qualquer modalidade ele gosta
de viajar... então se você botar um dois ou três ônibus do município a cada
dois meses você leva essa garotada...” (P3)
61
Na fase de aprendizagem motora, a idade de iniciação aos diferentes esportes
ocorreu entre o décimo primeiro e décimo terceira ano de vida na fase de prática essa
idade variou em dois anos a mais, ou seja, quem aprendeu aos onze anos evidenciou
a prática motora entre os doze ou treze anos de vida. De maneira geral aos treze anos
todos os talentos já se encontravam em fase de prática motora com exceção do
talento dez. Apesar da aprendizagem em vários esportes nessa fase somente o talento
seis relata ter praticado outra modalidade esportiva, especificamente, o futebol.
Os outros talentos, citaram, que dentro da modalidade de atletismo
aprenderam diversas provas, por exemplo corridas, arremessos e saltos. Assim,
atletas de velocidade, aprenderam e praticaram as corridas curtas, de cem e duzentos
metros e o salto em distância; os arremessadores experenciaram os lançamentos de
disco e dardo e o arremesso do peso, e os corredores de longa distância, além de
provas de oitocentos e mil e quinhentos metros, as provas com barreiras. A
representação esquemática do processo de especialização motora, com ênfase até a
prática motora é apresentado na Figura 10.
Especialização Motora
Prática Motora
atletismo
Aprendizagem Motora
atletismo
voleibol
futsal
Estimulação Motora
atividades variadas
handebol
basquetebol
futebol
FIGURA 10 – Fase de prática motora dos talentos esportivos do atletismo.
62
Para KREBS (1992) uma mudança conceitual ocorre nesta fase. O sistema
totalmente aberto (estimulação) e parcialmente aberto (aprendizagem), passa a ser
entendido como um sistema parcialmente fechado (prática). Assim, o plano motor
que caracteriza o movimento a ser executado, bem como, as demais condições da
tarefa, já está, a priori, definido. Nessa fase, a ênfase do praticante deve ser no
aperfeiçoamento da resposta. O fenômeno mais importante que caracteriza esta fase é
a automatização do movimento, o que quer dizer que todas as aquisições que
aconteceram a nível consciente, podem ser agora executadas a nível subconsciente.
Na prática motora é importante a passagem do estágio de aplicação para o
estágio de utilização ao longo da vida, da fase dos movimentos especializados,
segundo o modelo de Gallahue (KREBS, 1992,1993). A partir da aprendizagem de
vários esportes a prática motora de uma atividade específica, no caso, o atletismo, já
requer dos indivíduos alguns atributos físicos e psicológicos, relacionados a demanda
das tarefas solicitadas por essa modalidade esportiva.
Realizada a identificação dos atributos pessoais dos talentos nessa fase,
buscou-se caracterizar os contextos que influenciaram a escolha pela prática do
atletismo. Com o desenvolvimento dos talentos e o maior interesse pela atividade
desportiva, ocorreu um aumento das ligações existentes entre os microssistemas.
Durante esse período de prática motora, a vizinhança passa a ser um microssistema
secundário, ou seja, os talentos já não experenciaram, nesse contexto, atividades
esportivas significantes. Dessa forma, a família, a escola e a equipe de atletismo
foram os três microssistemas que influenciam o desenvolvimento do talento. Sobre
esses microssistemas, passamos a discorrer enfatizando que o aumento da relação
entre a família e a equipe de atletismo (mesossistema).
A família, durante o processo de desenvolvimento do talento, apareceu como
uma fonte de suporte e motivação para a escolha e permanência do talento na
atividade esportiva. A sua localização demográfica, a estrutura financeira, a
constituição interna, bem como, as relações interpessoais que ocorreram nesse
contexto parecem ter sido de importância fundamental para a continuidade do talento
em sua área de maestria. Nas entrevistas os talentos, familiares e técnicos
descreveram como foi o incentivo, participação e a valorização em relação a
participação esportiva:
63
“...a principio eu sempre ia sozinho... minha mãe sempre apoiava... meu pai
num falava nada... depois que eu comecei a trazer medalha meu pai gostava...
mas minha mãe ficava eufórica...” (T4)
“meus pais gostavam que eu praticasse atletismo... mas era um esporte aquela
ideologia é saúde não vai pro crime não vai pensar em coisas ruins... eles me
incentivavam” (T7)
“eu nunca tive apoio por parte da família... porque meus pais são gente
bastante simples meu pai sempre foi garçom... de atletismo ele nunca ouviu
falar... mãe também do lar ela nunca se envolveu...” (T2)
O papel da família no envolvimento do filho com o esporte competitivo,
referiu-se ao acompanhamento e suporte nas atividades que o filho percebeu-se
competente. De forma geral, observou-se que a situação financeira das famílias de
talentos esportivos do atletismo, não estabeleciam muitas conexões com a equipe de
atletismo. Apesar disso, os pais identificaram o esporte como um ambiente favorável
para o desenvolvimento do filho. Com o objetivo de fortalecer as relações entre
família e equipe de atletismo (GONZÁLEZ, 1997), sugere reuniões entre treinador e
pais; transmitir mensagens sobre seus filhos e seu rendimento nos treinamentos e
competição; informar sobre os objetivos da equipe e, assim fomentar uma relação é
uma boa política para evitar protestos. Além do ambiente familiar, a escola também
foi um microssistema onde os talentos executaram atividades e despenderam um
período de tempo significativo.
Nesse sentido, a escola parece ser um ambiente aceito socialmente e,
particularmente, pelas famílias dos talentos do atletismo, como um caminho
necessário para a formação pessoal. Apesar de, nessa fase de prática motora, esse
ambiente não ter exercido o mesmo papel fundamental para o desenvolvimento do
talento como na fase de aprendizagem, esse ambiente aparece, ainda, como um
ambiente no qual todos os talentos estiveram inseridos durante seu processo de
escolarização. Nas entrevistas os talentos esportivos retratam o seu envolvimento
com o ambiente escolar da seguinte maneira:
64
“estudar sempre todo mundo tem que estudar eu estudava de manhã e fazia
esporte a tarde a tarde e noite” (T6)
“a única responsabilidade que eu tinha era de estudar já que meus pais
colocaram eu no senac e eu fiz de tudo tipo de curso pessoal almoxarifado fiz
vários cursos” (T10)
Embora, as famílias não tenham exercido um papel fundamental para o
envolvimento do talento com o esporte competitivo, percebeu-se a preocupação dos
pais para com a atividade escolar durante a aprendizagem de esportes. Além dessa
participação no contexto escolar, o local onde o talento de atletismo encontrava as
condições necessárias para a continuidade no seu processo de desenvolvimento
esportivo era a equipe de atletismo. Esse contexto, caracterizou-se por determinar
uma especificidade de atividades que deviam ser desempenhadas.
Dois critérios parecem ser evidentes para a promoção do processo de
especialização motora: o primeiro de significância pessoal, ou seja, os talentos
participaram dessa atividade por uma opção própria em função de seus atributos
pessoais ou de uma valorização pessoal em relação ao esporte competitivo; segundo,
por uma persistência temporal, quer dizer, deve existir uma participação sistemática
ou padronizada, onde de tempo em tempo a atividade volta a acontecer
(BRONFENBRENNER, 1996).
Na equipe de atletismo, a figura central do processo de desenvolvimento do
talento passou a ser o técnico. Para a identificação de algumas características desses
técnicos de atletismo apresenta-se o Quadro 2, com dados sócio demográficos dos
técnicos entrevistados referentes a data de nascimento, idade, estado civil,
escolaridade, profissão atual e os principais eventos seus atletas participaram.
65
QUADRO 2 – Características sócio demográficas dos técnicos de atletismo que
participaram do estudo.
Técnico
Idade
1
Data de
nascimento
14.04.43
56
Estado
civil
casado
2
27.07.60
38
casado
3
05.04.34
65
solteiro
4
20.10.65
34
casado
5
12.04.60
39
casado
Escolaridade
Profissão
Atletas em
eventos
Sul-americano
Mundial
Sul-americano
Superior em
Professor
Educação física Técnico Municipal
Superior em
Professor
Educação física Ex técnico municipal
Superior em
Professor
Sul-americano
Educação física Técnico Municipal
Superior em
Micro empresário
Sul-americano
Educação física Ex técnico municipal
Superior em
Professor
Sul-americano
Educação física Ex técnico municipal
Mundial
Sobre o Quadro 2, pode-se notar que todos os técnicos de atletismo eram
formados em educação física. Mas que, dos cinco técnicos entrevistados três já não
atuam na função de técnico de atletismo. Os motivos para essa desistência da
atividade de técnico de atletismo aconteceu, principalmente, pela falta de valorização
financeira dos municípios paranaenses nos quais exerciam sua atividade. Os outros
dois técnicos de atletismo, ainda persistem nesta atividade esportiva.
Retomando fase de prática motora, devido a essa atividade esportiva ter se
tornado regular, começaram a se estabelecer as interações com o técnico e os outros
atletas que participavam da equipe. Essas relações interpessoais são caracterizadas,
de acordo com a teoria dos sistemas ecológicos, pela reciprocidade, equilíbrio de
poder e relação afetiva positiva, bem como, esperava-se que o talento demonstrasse
um perfil relacionado ao papel que um atleta deve desempenhar. As atividades, os
relacionamentos e papéis desempenhados na equipe de atletismo pelos talentos
esportivos durante a prática motora foram assim descritos:
“...fazia as provas de velocidade revezamento e de salto... assim não gostava
muito ... a primeira prova que eu fiz foi o salto triplo ... só que não gostava...
sei lá achava esquisito estranho eu gostava eu queria correr” (T1)
“eu suportava (o técnico) porque era o caminho era o único caminho que tinha
pra viajar e competir... depois eu aprendi que era o jeito dele... e a
preocupação que tudo tem sua hora tem seu momento e apesar dele ser chato
e tudo mais eu confiava nele ...” (T8)
66
Para MACHADO (1997), em certos casos pode haver entre atletas e técnicos
com um nível de interação médio, nesse caso, o atleta tolera o técnico e vice-versa
em favor de um objetivo comum ou não, mas buscando manter um relacionamento
pessoal com tolerância aceitável e sem atritos. Nessa fase de prática motora, a equipe
de atletismo passou a ser o ambiente primordial, para o desenvolvimento de talentos
esportivos. Verificou-se que existe tanto um aumento no tempo despendido nessa
atividade que, geralmente, passa a ocorrer em uma persistência temporal de uma hora
a duas horas por dia, três vezes por semana. Verificou-se também nos comentários
que, com o passar do tempo, ocorreu um aumento na intensidade das relações
afetivas, em um sentido positivo, entre talento e técnico de atletismo. Sobre a relação
afetiva positiva FEIJÓ (1998), coloca que o treinador é a pessoa que mais convive
com o atleta sendo, um misto de pai, conselheiro, confessor, orientador e
administrador, quanto melhor o seu relacionamento com os atletas, melhor a
produtividade de todos.
Mesmo tendo que dividir seu tempo entre a escola e a equipe de atletismo,
alguns talentos, ainda, nessa fase de prática motora tiveram que trabalhar, sobre essa
situação discorre-se a seguir. Durante as entrevistas três talentos relataram que
tiveram ocupações profissionais que iniciaram-se na fase de prática motora. Em seus
relatos essa situação ocorreu, principalmente, para ajudar o orçamento da família,
visto que, em sua maioria eram famílias retratadas como humildes. Esses relatos são
descritos pelos talentos do atletismo da seguinte forma:
“trabalhava... estudava a noite... entregava jornal sete horas da manhã mas me
sobrava a tarde para treinar... o único problema era na época dos
campeonatos... tinha que contratar uma pessoa para entregar no meu lugar...”
(T1)
“eu comecei a trabalhar muito cedo... nós éramos humildes... então quando
nós precisávamos de uma certa renda então eu acompanhava meu pai em
inauguração de bancos eu abria garrafas e fazia a retaguarda de garçom... eu
sai de boates para lanchonete... onde eu fui chapeiro e com treze anos eu tava
no colégio e o banco do brasil lançou um projeto de menor aprendiz e a
diretora conseguiu este espaço pra mim e o gerente me deu uma
oportunidade...” (T3)
67
A participação em uma atividade profissional com vínculo empregatício,
conduziu a uma ampliação das relações que poderiam existir entre a família a equipe
de atletismo e também a escola, que eram os ambientes onde o talento estava
inserido. Essas inter-conexões foram retratadas pelos talentos técnicos de atletismo e
familiares, nos comentários:
“...foi lá em casa ai chegou a noite ... ai a minha mãe falou “você conseguiu
não era o que você queria”... queria começar a treinar alguma coisa... eu
guardava todas as medalhas que ele trazia era a felicidade pra nós.. eu era
aquela torcedora primeira de carteirinha...” (F1)
“quando eu tava na escola lá o pessoal falava “não vamos lá competir vamos
treinar vamos treinar lá” e eu falei “mas será” ... daí nos reunimos e
começamos a treinar aquele mesmo pessoal da escola fomos pra pista de
atletismo...” (T7)
Apesar da inserção de um novo microssistema (local de trabalho dos
talentos), e a passagem do microssistema vizinhança para um plano secundário, o
mapa ecológico dos talentos não se ampliou de forma significativa durante a fase de
prática motora. Na realidade, verificou-se uma maior intensidade nas inter-conexões
entre os ambientes. Com a chegada da adolescência, parece que a rede social dos
talentos ampliou-se. De maneira geral, essa fase de prática motora foi vivenciada até
os dezesseis anos de idade. A representação esquemática dos contextos e suas interconexões é apresentada na Figura 11.
68
Macrossistema
Exossistema
Mesossistema
Microssistema Equipe Atletismo
Microssistema Escola
Microssistema Família
Talento
Microssistema Local de trabalho
Cronossistema: Período vital e Social dos talentos,
através das transições ecológicas do curso da vida.
FIGURA 11 – Mapa ecológico dos talentos de atletismo na fase de prática motora
A fase de prática motora foi caracterizada pelo aperfeiçoamento das
capacidades motoras dos talentos em relação as provas do atletismo. Nesse sentido, e
acordo com seus atributos pessoais são direcionados pelos técnicos ou por motivação
própria a prática de provas relacionadas com a sua competência motora. Portanto, a
equipe de atletismo, parece ser durante a fase de prática motora o contexto
primordial para a desenvolvimento dos talentos. Com o decorrer da aprendizagem e
da prática motora, os talentos determinaram as suas especialidades dentro a
modalidade de atletismo, isso conduz a uma maior dedicação, o que conduz a fase
final do processo de especialização motora.
4.1.4 Fase de especialização motora dos talentos de atletismo
Essa fase de especialização motora foi caracterizada pela dedicação exclusiva
ao esporte escolhido. No caso dos talentos, entretanto, atletismo além da opção por
essa modalidade esportiva, o talento já passava a dedicar-se, exclusivamente, a prova
na qual percebeu-se competente. Nesse sentido, discute-se, primeiramente, os
69
atributos pessoais que levaram a escolha e dedicação a essa prova atlética e, em um
segundo momento, os contextos vivenciados pelos talentos esportivos durante a fase
de especialização motora.
Nessa fase de especialização motora, o talento após vivenciar as fases
anteriores e tendo conhecimento da prova dentro da modalidade de atletismo na qual
seu desempenho produziu os melhores resultados esportivos, passou a demonstrar
uma dedicação exclusiva a essa prova específica. BRONFENBRENNER (1992 ) cita
uma ampla variedade de fatores: idade, sexo, biótipo, motivação, e personalidade
como
características
com
grande
potencial
de
influência
no
curso
de
desenvolvimento futuro das pessoas. Com relação a idade de início a dedicação a
prova de atletismo escolhida, os talentos revelaram:
“...quando optei pelo disco basicamente para o treinamento do disco... já tinha
meus quatorze para quinze anos em mil mil novecentos e oitenta e nove...”
(T2)
“era mais ou menos oitenta e cinco é oitenta e cinco... quinze quinze quatorze
anos (optou pelo salto com vara) “(T3)
Os talentos do atletismo, com relação a caraterística física predominante,
entre as que foram citadas, destacamos:
“a estatura influência né... e o volume também que é a força força e
velocidade... eu creio que no atletismo a força e a velocidade que eu tenho é
forte como eu tenho uma velocidade boa e uma estatura boa” (T5)
“não sei porque eu fui desenvolver sempre magro magro magro... não tinha
nenhuma característica eu podia dizer de saltador de vara... a pessoa tem que
ter biótipo avantajado e a própria forca que é necessário pra modalidade...
velocidade não eu nunca tive velocidade... a não ser o salto em altura que eu
tinha o poder do impulso” (T3)
“com quinze anos eu emagreci e daí comecei a ter potência... e quando
comecei a emagrecer eu comecei a pegar uma velocidade tremenda a curta
distância... e isso era fundamental para o lançamento...” (T8)
70
Com relação aos aspectos sócio-emocionais que determinaram a chegada a
especialização esportiva, e ao rendimento no atletismo competitivo, os talentos,
familiares e técnicos, assim, descreveram esses atributos pessoais:
“talento não é só a qualidade física esse é um dos fatores a velocidade... uma
boa estatura outro fator a força a determinação... a determinação ajuda porque
só o talento treinar não chega... então o importante é a determinação” (P4)
“então quando ele bota na cabeça que ele vai fazer ele tem uma força de
vontade força de vontade incrível... como atleta sempre foi muito dedicado ...
eu acho que é dom tem que ser ...” (F9)
“...e eu entrava mais era pra me superar eu não tinha rivalidade com o
inimigo... meu inimigo era mesmo o relógio eu era muito muito
perfeccionista... e sempre gostava de analisar andava na pista pensando o que
ia fazer na corrida...” (T7)
Portanto, a idade aproximada de escolha da prova para a dedicação exclusiva
situou-se entre os quatorze e dezesseis anos de idade, com exceção para o talento 7
que foi aos dezoito anos e o talento 10 que ocorreu aos dezenove anos. As qualidades
físicas evidenciadas para a seleção aparecem estar relacionadas ao tipo de prova
executada, ou seja, para os talentos que demonstraram velocidade as provas de
corridas curtas, para os mais fortes as provas de arremessos e para os talentos com
boa resistência as provas de corridas de meio fundo e fundo e marcha atlética.
Quanto aos atributos sócio-emocionais ,os mais evidenciados foram a motivação para
viajar, para conhecer novos lugares e, principalmente a força de vontade, a
determinação e a dedicação.Com a dedicação exclusiva a prova de maestria do
talento esportivo no atletismo apresenta-se o modelo de especialização motora
baseado em KREBS (1992, 1993), que está representado na Figura 12.
71
Especialização Motora
atletismo
Prática Motora
atletismo
Aprendizagem Motora
atletismo
voleibol
futsal
Estimulação Motora
atividades variadas
handebol
futebol
basquetebol
FIGURA 12 – Modelo de especialização motora dos talentos do atletismo
Na fase final do modelo, KREBS (1992) enfatiza que ao chegar nessa fase o
especialista deverá buscar a perfeição, e é por isso que deve-se entender essa fase
como um modelo totalmente fechado. O autor conclui que as diferenças entre essa
fase e a anterior residem nos fatores socioculturais envolvidos no processo da
especialização motora, assim, essa deve ser uma opção de vida que além de exigir
uma dedicação exclusiva, parece estar reservada apenas para uma minoria.
Devido aos objetivos dessa fase estarem direcionados para o alto rendimento,
pode-se, comparar no Quadro 3, as idades para o início a prática, especialização e
alto rendimento (BOMPA, 1995), as zonas de idade para o primeiro sucesso
(Lempart, apud WEINECK, 1991) com as idades dos melhores resultados dos
talentos do atletismo deste estudo.
72
Quadro 3 – Comparação entre as idades para início a prática, especialização e
rendimento
Talento
Prova do
atletismo
T1
T3
T2
T5
T8
T4
T6
T7
T10
T9
Salto triplo
Saltos
Arremessos
Arremessos
Arremessos
Corridas curtas
Corridas curtas
Meia distância
Meia distância
Longa distância
Início a
Prática
Bompa
estudo
(1995)
12-14
13
12-14
13
14-15
13
14-15
13
14-15
12
10-12
11-12
10-12
13
13-14
12
13-14
17
14-16
14
Início a
especialização
Bompa
estudo
(1995)
17-19
16
16-18
16
17-19
14
17-17
14-15
17-19
15
14-16
16
14-16
14
16-17
18
16-17
19
17-19
15
Alto
rendimento
Bompa
(1995)
23-26
22-25
23-27
23-27
23-27
22-26
22-26
22-26
22-26
25-28
Zona de
primeiro sucesso
Lempart apud
Weineck (1991)
22-23
23-24
23-24
23-24
23-24
19-21
19-21
23-24
23-24
25-26
Melhores
resultados
estudo
17-18
18-19
21-22
18-20
16
17-18
18-20
23-26
16-20
Comparando as idades propostas por Bompa e as idades dos talentos do
estudo, verificou-se que com relação a idade para início a pratica houve uma
variação de um ano anterior ou posterior a idade recomendada, com exceção do
talento dez, que iniciou e especializou-se dois anos após a idade recomendada. Com
relação a idade de início a especialização, em média os talentos do estudo
especializaram-se na sua prova dentro do atletismo com uma antecedência de três
anos em relação a idade proposta por Bompa. Na comparação entre as idades do
primeiro sucesso e alto rendimento foram verificadas as diferenças mais
significativas. Nessa comparação, cinco talentos obtiveram os melhores resultados,
em média, cinco anos antes a idade recomendada; um talento na idade recomendada;
um talento dez anos anteriores a idade recomendada, e três talentos com variações
entre dois e três anos anteriores a idade recomendada.
A comparação entre as idades de alto rendimento, primeiros sucessos e as
idades de melhores rendimentos dos talentos de atletismo do estudo, permite inferir
que os talentos do estudos obtiveram um resultado esportivo precoce em relação as
idades recomendadas por BOMPA (1995) e Lempart apud WEINECK (1991).
Durante a fase de especialização motora, configurou-se a totalidade do mapa
ecológico, que influenciou na promoção ou na inibição do desenvolvimento dos
talentos esportivos. Nessa fase, além dos microssistemas família, escola, equipe de
atletismo incorporou-se, em alguns casos, o ambiente de trabalho dos talentos e a
modificação do ambiente ensino básico para o ensino superior. A nível de
mesossistema, intensificam-se as inter-conexões entre equipe de atletismo e a
família, equipe de atletismo e escola/universidade. Expandiu-se o mapa ecológico
dos talentos esportivos pelo acréscimo dos exossistemas, local de trabalho dos pais,
73
prefeituras municipais, a federação de atletismo, patrocinadores e a mídia esportiva.
E, finalmente, no nível mais amplo o macrossistema foi caracterizado, de um lado
pela valorização do esporte como uma área de desenvolvimento de talentos e, por
outro, lado a secretária do estado de esporte e turismo, como a instituição
responsável pelo gerenciamento do esporte e lazer no estado do Paraná.
Nesse sentido, o papel desempenhado pela família na promoção e
desenvolvimento do talento esportivo, durante a fase de especialização motora pode
ser decisivo na continuidade ou no abandono da atividade esportiva competitiva.
Apesar da equipe de atletismo, continuar sendo o microssistema primordial para o
processo de especialização esportiva do talento, o ambiente familiar ainda influencia
o seu desenvolvimento. As formas ou influências da família no sentido de dar
suporte positivo ao desenvolvimento esportivo foram citadas pelos talentos
esportivos nos seguintes comentários:
“era um relacionamento positivo eles me apoiavam falavam pra mim
vontade... tinha dia que eu ficava em casa batia aquela preguiça eles
falavam... vai treinar tem competição...”(T3)
“eu levantava cedo e falava pra ele vai treinar ... eu sempre incentivei sempre
acompanhando o que acontecia lá junto o que acontecia na aula dele eu
sempre segui os passos dele...” (F4)
“... não ter que ajudar em casa esse foi o grande incentivo dos meus pais... o
que você ganhar é pra você se manter... é que eles não podiam me ajudar
financeiramente no atletismo...” (T8)
Embora muitas famílias relatem que a participação do filho no contexto
esportivo competitivo era bem aceita, em muitos casos essa aceitação já não ocorreu,
e críticas começavam a se instalar nesse período. Talentos e familiares relataram a
sua percepção em relação ao envolvimento do filho com o esporte competitivo,
utilizando as seguintes expressões:
74
“como eu gostava do atletismo e abandonava um pouco o emprego foi aonde
eu recebi muitas criticas dos meus pais... porque na época eu até hoje fica
treinando vai vai saltar que vai dar futuro pra você...e não apoiava e quando
eu tava no auge começando a desenvolver a despontar no atletismo aonde eu
recebi uma carga de criticas...”(T2)
“eu já era um atleta de ponta tanto no Paraná como no Brasil... então ficou
meio assim mas eles falavam assim... “veja bem aonde é que isso vai te
levar”... a gente começa a pensar...” (T7)
“minha família apoiou muito até hoje eles me apoiam já com um pé atrás eles
falam... “oh já tá na hora de você procurar um rumo né é tá na hora mais tá
difícil também”... hoje em dia tá difícil né...” (T10)
Como pode-se observar nos relatos de talentos e familiares, o envolvimento
esportivo estava dependente da condição financeira da família, e com dezesseis anos
de idade, alguns pais já desejavam que os filhos procurassem uma atividade
profissional para ajudar na manutenção financeira da família, portanto, se nas fases
anteriores a participação em esportes não era tão questionada, nessa fase tornou-se
evidente. Para MACHADO (1997), os pais com seus poderes e autoridades, são os
torcedores mais ávidos, e devido a aproximação afetiva podem tornar-se pessoas que
cobram acima da média, por outro lado, a torcida familiar silenciosa pode ser tão
perigosa quanto a primeira e, ainda, podem oferecer um momento de reflexão aos
problemas pessoais dos atletas.
Nessa fase, ocorreu outro evento não-normativo, faleceu o pai do talento
esportivo 1, esse evento parece ter afetado a sua percepção e seu envolvimento com o
esporte competitivo e, foi descrito pelo talento:
“só ao atletismo porque como diria meu pai faleceu em noventa e quatro a
partir de noventa e quatro eu queria ser um campeão... tinha que ser como
meu pai sonhava e queria que eu fosse né... a vontade e a força também não
parecia fisicamente mas eu tinha muita força muita força” (T1)
75
A perda do pai é um momento marcante na vida de qualquer indivíduo. O
talento T1 descreveu esse fato demonstrando intensa emoção, salientando que esse
evento foi muito importante para a sua dedicação ao esporte. Da mesma maneira, o
talento relatou a identificação do papel do pai na figura do técnico de atletismo.
A escola parece não ter sido o ambiente primordial para o desenvolvimento
dos talento do atletismo em relação ao esporte competitivo, esse papel também
parece que não foi desempenhado pelas instituições de ensino superior. Apesar disso,
foram ambientes onde os talentos dedicaram um período de tempo para as atividades
de sua formação escolar e ou de sua formação profissional. Os talentos esportivos
caracterizaram seu envolvimento com essas instituições de ensino durante suas
entrevistas através destes comentários:
“eu sempre estudei estudei e treinei eu estudava pela manhã... em noventa e
dois eu tava terminando o colegial tava fazendo cursinho eu fiz pra entrar na
universidade você estuda bastante e esquece um pouco o esporte” (T5)
“...eu já era meio atrazadinho na escola eu já passei pra estudar a noite... eu
estudava a noite e comecei a treinar em dois períodos a semana inteira... oito
horas em média por dia” (T7)
“empolgou demais e não é que ele se esqueceu dos estudos... é porque o
colégio não repunha as matérias pra ele muitas vezes ele teve dificuldades... e
hoje com vinte anos não terminou o segundo grau” (F6)
A escola ou a universidade foram os contextos além do ambiente familiar
onde, principalmente, os pais se preocupavam com as atividades desenvolvidas por
seus filhos. Quando da necessidade de participação dos talentos em treinamentos e
competições que ocorreram na fase de especialização, algumas dificuldades
começaram a aparecer em função das exigências e demandas de cada ambiente.
Sendo assim, aumentaram consideravelmente as exigências dos talentos em termos
do aproveitamento acadêmico e, no mesmo sentido aumentavam as demandas das
tarefas, que ele deveria executar para atingir melhorar resultados no esporte
competitivo.
76
Nessa fase de especialização motora, a equipe de atletismo, foi o contexto
onde talentos executavam as tarefas específicas da sua prova de rendimento
esportivo. Tendo optado pela dedicação ao atletismo, discute-se a seguir como
ocorreu a seleção para essa prova no atletismo, o tempo despendido para as
atividades de treinamento, a qualidade dos técnicos e as relações interpessoais que
ocorreram com a intensificação do envolvimento na atividade esportiva competitiva.
Com relação a prova e dedicação, talentos descreveram assim como foram
selecionadas:
“fui descoberto jogando futebol ele (o técnico) me viu e me convidou pra
correr nos escolares... eu fui lá e ganhei deles foi a minha primeira corrida... o
atletismo eu treinava era todos os dias da uma as seis horas da tarde ..”(T6)
“...eu fui pros jogos abertos daí chegando lá faltava atleta pro quatrocentos
com barreira... ah vai você mesmo é pra marcar ponto... quando chegou a
sétima eu chutei a barreira e fui desclassificado e voltei e meu técnico falou...
mas você até que tem um estilo bom pra competir nos quatrocentos com
barreira... e eu comecei a treinar...” (T7)
“numa corrida contra as drogas que vinha de Curitiba pra Maringá... o técnico
me colocou eu pra fazer uns cinqüenta metros de marcha e aí ele viu que eu
tinha potencial pra marchar e eu comecei a marchar em 1991 eu tava com
quinze anos... logo de cara fui pra o juventude e fiquei em primeiro lugar e
peguei gosto pela coisa e logo comecei a me destacar” (T9)
Embora autores como WEINECK (1991); BOMPA (1995); REGNIER et al.
(1993), apontem as preocupações, as dificuldades as críticas, a difícil missão da
descoberta de talentos esportivos, verificou-se que os técnicos de atletismo parecem
utilizar da própria experiência para a seleção de “talentos no contexto”. Com relação
a persistência temporal nas atividades de treinamento os talentos assim quantificaram
seu tempo de dedicação aos treinamentos:
77
“... no inicio três vezes por semana... quando eu fui melhorando participando
de competição tendo resultado melhor aí ficou a semana inteira... em torno de
duas a três horas” (T2)
“eu treinava aí já era integral dia um período assim.... vamos supor das duas
as seis quatro horas em media por dia eu treinava e trabalhava” (T3)
Com relação ao tipo de trabalho que os técnicos desenvolviam para selecionar
os talentos ou verificar em quais provas eles melhor se adaptavam. Esse
procedimento caracteriza-se como uma qualidade dos técnicos e foram assim
descritos:
“ele (o técnico) falava não adianta querer te matar aqui no treinamento... dá
resultado agora não quero resultados agora... quero mais pra frente... se a
gente tiver resultado agora melhor ainda” (T1)
“muitas vezes aquela ansiedade de querer que o atleta consiga um resultado e
você dá uma sobrecarga num atleta e você machuca e deixa ele inútil pro
esporte pro resto da vida então muitas vezes aquela ansiedade” (P2)
“eu me especializei na Rússia eu gosto muito de barreiristas e do fundo
estudei com grandes técnicos nessa duas áreas” (P4)
Independente da qualidade dos técnicos, a relação interpessoal com o passar
do tempo tornou-se intensa e evidente, principalmente, quando o talento começou a
obter um excelente resultado no esporte competitivo. Assim, o técnico dedicou
também mais tempo e preocupação com as necessidades do talento. A relação afetiva
positiva e crescente entre talento e técnico foi descrita por ambos desta forma:
“ele era muito disciplinador... ensina a ver os próprios erros... um espetáculo
de pessoa como se fosse um pai... nessa fase nosso relacionamento continuou
o mesmo até melhorando... houve a cumplicidade também a gente começou a
debater mais” (T1)
78
“toda a minha vida eu treinei com ele... o que eu posso considerar ele um pai
que muitas vezes eu não tive o pai que muitas vezes eu não tive em casa... era
uma pessoa dedicada... ele não era só um técnico era um amigo...” (T3)
No entanto, com a chegada de competições e o conhecimento de novos
ambientes os talentos relacionaram-se com outras pessoas e, vivenciaram outros
ambientes. Essas experiências podem afetar o ambiente primordial onde o talento se
desenvolvia. Dessa maneira o talento retratou sua relação pessoal com o técnico e
como esta foi modificando-se:
“no inicio quando você começa a treinar tudo o que o técnico tudo é novo
você não conhece você faz aquilo... porque você acha que é o melhor pra
você.... e realmente é... com o passar do tempo você começa a viajar e tomar
conhecimento você vê que tem coisas que o técnico ó não é a maioria fala
assim mas tem algumas coisas que você vê que tá errado isso é assim assim
assim .... então de vez em quando tem aquelas divergências não batia as idéias
e tal e chamava o professor porque não é assim eu fui em tal competição e
aprendi eu vi o cara fazendo assim... não ele falava assim.... então começava
aquele atrito e no começo foi aquele atrito meio leve meio superficial .... fora
isso nosso dialogo era bom...”(T2)
Conforme exposto neste tópico, o contexto equipe de atletismo passou a ser o
mais importante para o processo de especialização motora. A forma de seleção de
talentos, parece ser realizada em função das experiências do técnico, com o contexto
esportivo. As evidências mostram que o biótipo e a característica física, são fatores
de grande influência da escolha da prova do atletismo. Já, a determinação e a
dedicação parecem ser os aspectos psicológicos ou sócio-emocionais mais
importantes nessa fase de especialização motora. A qualidade dos técnicos, bem
como, sua relação com os atletas aumentavam proporcionalmente ao nível de
desempenho atlético. Mas, além dos microssistemas já caracterizados, evidenciou-se
ainda, o local de trabalho vivenciados por alguns talentos.
Durante sua trajetória de desenvolvimento, com a chegada da adolescência e
início a vida adulta, alguns talentos experenciaram uma nova atividade, a atividade
profissional. Esse ambiente solicitava uma persistência temporal que pode, em
79
alguns casos, diminuir ou limitar a dedicação do talentos, para com o esporte
competitivo. Os talentos que por opção ou por necessidade, tiveram que trabalhar
durante fase de especialização motora relataram assim essa experiência:
“eu tinha que trabalhar oito horas... eu não trabalhava oito horas eles me
liberavam para treinar as quatro horas da tarde... eu ia viajar não era
descontado nada era como se eu estivesse trabalhando... era uma
camaradagem” (T1)
“os meus treinamentos já complicou na uel eu tinha que dar treinamentos e a
minha carreira de atleta já tava indo pro espaço... nesse ultimo ano de juvenil
foi assim a minha decepção...” (T4)
“ele não ganhava e tinha que trabalhar pra ganhar... foi esse o caso né porque
senão ele continuava... ele começou a trabalhar nós nunca cobramos dele isso
foi uma decisão dele... ele tem a cabeça muito no lugar” (F9)
Como demonstrado, a necessidade de trabalhar, pareceu estar diretamente
relacionada com a condição financeira da família. Portanto, a inter-conexão entre
talento, equipe de atletismo, local de trabalho e universidade pareceu aumentar
gradativamente e de certa maneira exerceu uma pressão sobre a participação,
continuidade ou na qualidade do processo de desenvolvimento esportivo dos talentos.
Essas questões podem ser melhor esclarecidas quando passa-se a identificar as interconexões entre esses contextos.
Com esse pensamento, parece ser no contexto familiar que se encontram os
elos mais fortes da estrutura social. Apesar do talento esportivo buscar o
desenvolvimento de suas qualidades no ambiente esportivo, os laços afetivos que os
uniam a seus familiares, principalmente aos pais, eram suficientemente fortes para
afetar a sua participação em esportes competitivos. Dessa forma, existiu tanto na fase
de prática motora quanto na fase de especialização motora, uma evidente conexão
entre esses dois microssistemas. A maneira como essa conexão ocorreu foi descrita
pelos familiares e técnicos em seus depoimentos desta maneira:
80
eu tinha comunicação até demais... acho que das mães a que tinha mais
comunicação era eu ... ai gora ele mais o professor depois eles começou um
atrito eles já discutia muito... não se dava muito não (F4)
“um relacionamento de estar sempre junto as vezes ele vinha aqui em casa
mas só ficava no portão... ele não era muito de ficar aqui em casa mas ele era
um senhor cem por cento...” (F3)
“eu o conheço tanto que até sou padrinho de casamento dele e sou padrinho
do filho dele então a gente está sempre fazendo pescaria e tudo mais” (P3)
“eu ia pra casa dele com todos os meus atletas eu tinha um relacionamento
familiar com todos os atletas eu tinha um relacionamento familiar muito
forte” (P4)
Apenas uma situação ocorreu durante a fase de especialização motora onde o
relacionamento entre técnico e família, não ocorreu de forma positiva. Essa
ocorrência foi narrada pelo técnico:
“não sei mas pra mim é influencia dos pais os pais tem muita influencia na
vida dele... então as vezes ele não tem um pensamento próprio ele quer fazer
alguma coisa e o pai fala que não... isso abala e ele não tem poder de decisão
nenhuma.../... é exatamente por causa da influência que os pais dele tem
encima dele começou por aí porque o pai dele achou-se no direito de dar
treinamento pra ele porque achou que o filho não tava tendo grande
rendimento mas pô se o cara é campeão sul-americano menores e não tem
rendimento imagine o que é rendimento então...” (P5)
O vínculo primário entre a família e a equipe de atletismo foi necessariamente
o talento esportivo. Foi através do filho, que os pais tomaram conhecimento sobre as
atividades que são desenvolvidas da equipe de atletismo. Mas, na fase de
especialização motora, o técnico, passou a ser um vínculo secundário importante para
o fortalecimento desse mesossistema. Por outro lado, os pais também demonstravam
interesse nos resultados obtidos e participaram mais ativamente das atividades ou
treinamentos dos filhos. Em determinadas situações essa participação do pai, no
81
contexto da equipe de atletismo, foi tão intensa que pode ter inibido o
desenvolvimento do filho. Mas, além das influências dos pais, escola e local de
trabalho a equipe de atletismo, nessa fase, esteve suceptível a influências de
ambientes onde os talentos, e as vezes o técnico, não participavam ativamente mas
onde ocorreram eventos, que afetaram o desenvolvimento do talento ou da equipe de
atletismo, ou seja os exossistemas.
A equipe de atletismo, passava a ser o microssistema primordial para o
desenvolvimento do talento esportivo, durante a fase de especialização motora.
Sendo assim, seria necessário que recursos materiais e financeiros estivessem
disponíveis para a promoção do desenvolvimento; visto que a equipe de atletismo,
principalmente, a nível competitivo observou-se que no estado do Paraná, está
vinculada as prefeituras municipais que atuaram como entidades mantenedoras desse
microssistema e, por outro lado, dependentes da federação estadual, que gerencia
essa modalidade no estado. Essas duas instituições, passaram a influenciar,
indiretamente, no processo de desenvolvimento dos talentos esportivos. Verifica-se,
portanto, que as prefeituras municipais, a federação de atletismo, os patrocinadores e
a mídia esportiva, foram ambientes que apesar de não envolver o talento em
desenvolvimento, como um participante ativo, influenciavam os processos dentro da
equipe de atletismo.
Na estrutura esportiva do estado do Paraná, verificou-se que as prefeitura
municipais, são as instituições administrativas que dão sustentação ao esporte
amador. A finalidade principal das secretarias de esportes dos municípios
paranaenses, parece ser a participação nos jogos da juventude e jogos abertos,
promovidos pela secretaria de estado do esporte e turismo. Com relação ao suporte, a
nível de recursos materiais, humanos e financeiros, para as equipes de atletismo no
estado do Paraná, talentos, técnicos e familiares fizeram os seguintes comentários:
“a prefeitura patrocinava viagem alimentação ônibus essas coisas... a
prefeitura... eu recebi só da prefeitura dois salários mínimos para treinar e dar
aula na escolinha...” (T2)
82
“da prefeitura é aquele sistema é nos jogos abertos três meses antes começa a
vir atrás liga em casa.... então era sempre assim procuravam três meses
antes... não tem jeito nós tamos sem verba...” (T5)
“eu nunca vi um prefeito chegar pra ele dar um incentivo pra ele sempre quem
lutou foi o técnico... patrocínio mesmo sempre quem dava era eu pro meu
filho pra ele viajar...” (F6)
“hoje em dia a participação é menor devido a condição financeira dos
municípios que estão piores... começou a decadência... daí nesses últimos dois
anos a administração cortou todo o investimento...” (P3)
Com relação aos comentários dos talentos, pais e técnicos percebeu-se que o
suporte a equipe de atletismo, bem como, ao esporte amador municipal de maneira
geral foi efetuado nas seguintes condições: a prefeitura era um dos locais de trabalho
do técnico da equipe, que além de professor de educação física, exercia a função de
técnico de atletismo; o suporte financeiro aos talentos, ocorreu em função da
disponibilidade orçamentária da prefeitura; os técnicos foram interlocutores entre os
talentos, equipe de atletismo e a prefeitura municipal; e o maior ou menor suporte
financeiro esteve vinculado a qualidade do prefeito ou do secretário de esportes que
viabilizaram os recursos financeiros. Assim sendo, a visão administrativa do político
em relação ao esporte foi fator determinante para a continuidade ou descontinuidade
do suporte às equipes de atletismo. Finalmente, um evento normativo que foram as
eleições municipais, parecem ter tido efeito decisivo na promoção do esporte amador
dentro dos municípios paranaenses.
As prefeituras municipais, através das secretarias de esportes caracterizaramse como os exossistemas principais de suporte aos talentos e as equipes de atletismo.
Considerando que as prefeituras municipais possuem diversas prioridades por
exemplo, saúde, educação e segurança púbica, o esporte competitivo muitas vezes foi
relegado ao um plano secundário. Dessa forma, os recursos para a manutenção de
talentos e equipes esportivas, poderiam estar disponíveis em outros ambientes. Esses
outros ambientes, geralmente, são as instituições, empresas ou industrias privadas.
Nesses ambientes, busca-se recursos para a manutenção do esporte competitivo e
83
foram denominados neste estudo de patrocinadores. A forma e o tipo de patrocínio
recebido foram manifestadas nos seguintes dizeres:
“eu chegava pra pedir patrocínio nas empresas no restaurante eu peguei
patrocínio porque o meu tio foi falar com o dono do restaurante... e ele falou...
“é você que quer comer aqui... eu abaixei a cabeça e fiquei quieto... e muitas
vezes eu ia procurar outras empresas mas... ah não temos condições” (T1)
“... eu consegui um patrocínio eu corri muito atrás de patrocínio ... aqui do
restaurante o Q... eu almoçava lá... e do pessoal de uma loja de esportes a M.
esportes que ele me dava tênis e mochila”(T2)
“tinha uma estrutura de uma empresa que no inicio era a Q. tinha acadêmicos
para trabalhar com o atletismo o que hoje em dia acabou...” (P3)
De uma maneira geral, observou-se através dos depoimentos de talentos,
familiares, técnicos a dificuldade de se obter patrocínio para as equipes de atletismo.
Os patrocínios que existiram foram conseguidos através dos próprios talentos, bem
como, através do técnico da modalidade. Existem evidencias de que as empresas, não
valorizaram o esporte no estado do Paraná, como instrumento de veiculação ou
divulgação de produtos, além do que, existiam dificuldades de articulação entre
equipe de atletismo e prefeitura municipal para a elaboração de projetos para a
promoção do esporte nas cidades. Com esse pensamento, a federação de atletismo,
passou a desempenhar um papel fundamental na promoção da organização,
normatização e divulgação da modalidade.
Dessa forma, todas as decisões que foram tomadas na federação de atletismo
refletiram-se em estímulo ou desencorajamento da prática dessa modalidade. A
percepção da importância da federação de atletismo, para o desenvolvimento desse
esporte foi assim descrita por talentos, técnicos e dirigentes esportivos:
“nos anos oitenta algumas competições... o Paraná não tinha um calendário...
após oitenta e cinco um grande impulso quando o M. assumiu a função de
84
presidente... daí após dele pra confederação o Paraná aproveitou ainda uma
fase boa e hoje ... um calendário mediano ainda não de todo ruim ...” (P3)
“com a saída do M. federação ficou mal administrada porque antigamente...
você competia duas três vezes em média duas vezes por mês e depois foi
diminuindo diminuindo...” (T6)
“hoje nós temos a federação simplesmente par organizar a competição e não
para fazer desenvolver o atletismo no Paraná” (P2)
As federações, como as prefeituras e o próprio governo estadual passaram por
transições normativas que são as eleições. Com relação a federação de atletismo do
estado do Paraná, talentos, técnicos e dirigentes foram unânimes em apontar o efeito
negativo a saída do então presidente da federação no desenvolvimento da modalidade
no estado. Assim, o substituto não correspondeu as expectativas ou ao papel que
esperava-se dele. Nesse sentido, o calendário ficou reduzido, as disponibilidades de
orçamento para participação em eventos foram diminuindo, e esse efeito, tomou
direção, em forma de declínio e decadência da modalidade. Essa decadência, também
pode estar relacionada com a falta de veiculação da modalidade de atletismo a nível
de mídia esportiva e essa questão será discutida no próximo tópico.
Outro fator que teve grande influência, foi a falta de veiculação da
modalidade de atletismo na mídia. Com relação a imprensa esportiva, o esporte
tornou-se nas últimas décadas um negócio muito rentável e um instrumento muito
utilizado para a divulgação de produtos comerciais. Esse fato ocorreu, por um lado,
pelo aumento de horas dedicadas ao esporte nos meios de comunicação seja televisão
ou rádio. Por outro lado, a nível de mídia escrita, diversas modalidades esportivas
conseguiram ampliar o seu espaço de divulgação. Dessa maneira, a imprensa
esportiva assumiu um papel importante, como um elo de ligação entre o talento que
desenvolve sua potencialidade nos esportes, e o público em geral que são os
espectadores do espetáculo esportivo. A forma e o papel da imprensa esportiva foi
ressaltado, principalmente pelos dirigentes esportivos com estes pontos de vista:
“olha a mídia naquela época ou o professor ia lá e conseguia um espaço na
marra dentro do jornal ou tinha ele um programa que era o caso de um
85
professor de Irati ... então ele fazia a própria mídia ... não havia interesse em
cima do esporte individual ...” (D1)
Segundo BETTI (1994), o desenvolvimento das funções políticas e
econômicas do esporte são intensificadas pela reportagem esportiva. Com a evolução
do esporte como um fenômeno cultural, a imprensa esportiva, também parece ter
percebido da sua importância para a divulgação e manutenção do status adquirido
pelo esporte competitivo. Nesse sentido, verificou-se através dos depoimentos dos
dirigentes, uma certa incongruência entre os objetivos da imprensa esportiva que é de
veiculação do espetáculo esportivo e de outro lado do patrocinador, cujo interesse
predominante é a projeção da sua logomarca ou de seu produto. Essa crescente
ênfase na importância da mídia, parece também ter sido fator limitante na promoção
dos talentos, que eram afetados pelas dificuldades devido a carência de
patrocinadores, de recursos disponibilizados pelas prefeituras municipais, e pela
estrutura da federação de atletismo.
A estrutura mais ampla, o macrossistema, refere-se a consistência observada
dentro de uma dada cultura ou subcultura na forma e conteúdo de seus micros-,
mesos- e exossistemas constituintes, assim como qualquer sistema de crença ou
ideologia subjacente a essas consistências (BROFENBRENNER, 1996). Portanto,
espera-se que nessa cultura ou subcultura, seja relativamente homogênea em relação
aos tipos de ambientes em que as pessoas entram durante os sucessivos estágios de
suas vidas e a natureza das conexões existentes entre os ambientes. Além disso, esses
padrões de organização e comportamentos encontram apoio em valores geralmente
mantidos pelos membros da cultura ou subcultura. O macrossistema, neste estudo
caracterizou-se pela secretaria de estado de esporte e turismo, que gerência no nível
mais amplo o esporte no estado. E, por outro lado, a valorização do esporte e dos
talentos esportivos, uma área de desenvolvimento humano dentro da cultura do
Paraná. De acordo com os entrevistados, apresenta-se um breve histórico de sua
evolução ao longo dos anos e sua influência sobre o desenvolvimento do atletismo no
estado do Paraná.
86
“na época (mil novecentos e oitenta e dois) pediram pra gente montar um
projeto que desenvolvesse essas modalidades individuais... foram
aproveitados todos os técnicos que estavam trabalhando com o atletismo na
época... com o projeto polos esportivos eles tinham que trabalhar quarenta
horas voltados para essa modalidade...” (D1)
“de oitenta e três a oitenta e sete não existia uma política de esporte no estado
do paraná existia na época uma coordenadoria de esportes atrelada a secretaria
da cultura do estado né então em oitenta e sete ... então com a mudança de
governo entrou a oposição na época era o pmdb entrou o secretário G. e dois
diretores o diretor P. e o J. nessa época começou-se um estudo realmente da
política... e na época como a comunidade esportiva não tinha esse exercício de
discutir política de esportes as contribuições foram muito poucas... essa
política norteou os trabalhos de toda aquela gestão do G. oitenta e sete a
noventa e mais dois anos até noventa e dois...” (D2)
“... eu acho que realmente o passo dado de tentativa de articulação em todos
os segmentos acho que foi dado em noventa e cinco onde nós tivemos a
oficina de planejamento ... o secretário na época era o S. e foi justamente
iniciativa dele essa oficina de planejamento onde se definiu novamente uma
política que está colocada aí no governo J. de noventa e cinco até noventa e
oito” (D2)
Com relação aos projetos e programas desenvolvidas pela secretaria de estado
do esporte para o desenvolvimento de talentos esportivos, os principais foram assim
denominados por talentos pais e técnicos e dirigentes esportivos:
“do governo estadual ... quatro meses no frutos da terra foi no ultimo ano
acabou o projeto eu tava interessando naquela época no paraná olímpico
pagava mais mais muito mais” (T1)
“eu cheguei a participar do frutos da terra na época foi um grande incentivo ...
era meio salário então pra mim manter os meus estudos... hoje a visão do
estado é só quando chega perto do campeonato brasileiro eles vão lá e catam
um atleta de cada cidade...” (T8)
“... depois lamentavelmente o banco acabou com o Paraná olímpico o frutos
da terra era bancado pela loteria do estado não sei como é que é hoje e caiu no
vazio e ninguém reclamou e ficou por isso mesmo e isso enfraquece...” (D4)
87
Percebeu-se que a promoção de talentos esportivos no estado do Paraná teve
seu auge no período de mil novecentos e oitenta e sete a mil novecentos e noventa e
dois, que engloba as gestões do governador Álvaro Dias e os dois primeiros anos do
governador Roberto Requião. Dessa forma, o governo estadual também esteve
sujeito a eventos normativos, que são as eleições para governador. E, com as
eleições, novos governadores e novos secretários de esporte. Assim, essas mudanças
no governo, afetaram o desenvolvimento do esporte e consequentemente os talentos
esportivos do atletismo. Esses eventos, foram retratados por talentos, técnicos e
dirigentes esportivos nos seguintes depoimentos:
“... infelizmente o governo J. acabou com essa ajuda nós tivemos... esses
projetos funcionando no governo Á. e até certo ponto R.” (P2)
“de setenta e nove pra cá mesmo mudando o governo mesmo mudando os
secretários o processo continuou e as vezes ele ficava meio complicado...
você tinha que se moldar a nova filosofia a questão financeira que o estado
tinha... o projeto polo começou com três polos de atletismo... nós chegamos a
doze em cada em oitenta e dois” (D1)
Portanto, muitas das realizações efetuadas durante um período de governo
estadual, esteve relacionada com a qualidade das pessoas que ocupam os cargos
administrativos a nível de estado. Com relação a essa situação administrativa, os
dirigentes teceram os seguintes comentários:
“olha ainda é por indicação política eu acho que em toda essa minha trajetória
no governo nós tivemos como secretários de esportes nenhum formado em
educação física como secretário não como diretor geral nós tivemos dois ou
três que eu me lembre todos os outros dirigentes eram de outras áreas e são
indicados politicamente para ocupar cargo obviamente dentre essas pessoas
pessoas muito boas que se assessoraram em pessoas muito competentes... mas
outras pessoas que além de não conhecer não se assessoraram bem então
houve aquela queda na implantação e implementação de políticas e de
projetos ...” (D2)
88
“...de mostrar pro professor de educação física eu quando ia fazer uma
palestra... dizendo o seguinte que o secretário de transportes é engenheiro que
o secretário da saúde é médico o secretário da justiça é advogado e o
secretário de esportes é dentista e sabe porque por incompetência do professor
de educação física porque vocês até hoje não conseguiram se organizar
politicamente...” (D4)
“não tenho receio nenhum de colocar isso eu acho que a gente tem caminhos
mas ainda a máquina do governo a máquina burocrática impede muitas coisas
a gente fica amarrado acertas coisas... não está atendendo as minhas
expectativas eu gostaria que essa estrutura aqui fosse muito mais ágil tivesse
com os projetos frutos da terra paraná olímpico e paraná nacional que tivesse
agilidade na busca de patrocínios que as articulações fossem bem melhores e
as vezes essas questões políticas para se falar com um patrocinador potencial
tem que passar as vezes pelo patrocinador porque o presidente não se dá com
o técnico entendeu então são essas coisas que eu acho que atrapalham
bastante o desenvolvimento do esporte ... estou dizendo todos os segmentos
que compõem o sistema eu acho que ela (a secretaria) tem que contribuir na
articulação desses segmentos essa é a função fundamental do estado...” (D2)
A nível de macrossistema, além dos eventos normativos que são as eleições
estaduais, as mudanças que ocorreram no comando da secretaria de estado, podem
estar relacionadas com algum evento não-normativo. Nesse sentido, o falecimento do
secretário de esporte e turismo do estado ocorrido, no mês de setembro de 1998,
caracterizou-se como um evento que influenciou o desenvolvimento, principalmente,
da modalidade de atletismo no estado do Paraná. Está perda e sua influência foi
assim relatada:
“... o projeto (Joaquim Cruz) era para ser lançado tava certo o lançamento e o
patrocinador pediu para esperar porque tinha a copa do mundo e a mídia tava
toda centrada na copa e pediu para esperar mais um pouco e aí veio a morte
do O . (secretário de esportes e turismo do estado na época) em setembro e aí
depois que o O . morreu o patrocinador pulou fora e nós perdendo um grande
projeto...” ( D2)
O projeto “Joaquim Cruz” tinha como objetivo dar sustentação a nível de
recursos humanos, materiais e financeiros a modalidade de atletismo no estado do
89
Paraná. Devido ao falecimento do então secretário de esportes e turismo do estado,
esse projeto continua a espera de um patrocinador. Descrita uma breve história da
evolução da secretaria de esporte do estado, desde a sua implantação como
coordenadoria de esporte até sua consolidação como secretaria estadual de esporte e
turismo, os principais projetos desenvolvidos durante esta última década, as
modificações e eventos ocorridos, bem como, a qualidade das pessoas que ocuparam
esta função. Como os talentos se sentiram valorizados pela sua comunidade ou de
que forma essa valorização aconteceu foram relatadas nos próximos comentários:
“fui valorizado bastante em termos de conhecimento pessoal ficava conhecido
saía em jornal o pessoal te dava parabéns...” (T2)
“ser valorizado não... porque paranavai a cultura é a memória do povo
brasileiro é muito pequena... então eles não dão valor e se dão é muito
pequeno valor mesmo... eu senti foi o valor próprio a intenção de um atleta
que representa o brasil... então eu posso dizer assim foi uma lição de vida pra
mim...” (T3)
“eu era muito conhecido que eu saía na televisão no jornal tinha outdoor na
cidade... mas depois no meu campo profissional não... tive que procurar
emprego em outro lugar...” (T7)
“se você for um campeão sul-americano de vôlei é hiper diferente de você ser
um campeão sul-americano de atletismo eu acho que pelas pessoas não pelos
amigos sim próximos da família sim eles valorizavam...” (T8)
Se os talentos se sentiram valorizados dentro de sua comunidade, também os
pais perceberam seus filhos e os valorizaram enfatizando:
“orgulhoso maravilhoso porque o meu filho é dez quer dizer eu sou pai eu
fico emocionado... tenho um filho bom trabalhador eu acho ele maravilhoso”
(F8)
90
“porque infelizmente o esporte é o futebol o atletismo é um esporte que não
vê retorno nenhum não é só para as empresas é pra a imprensa também” (P2)
A valorização dos atletas, pais e técnicos, parece estar atrelado ao grupo de
pessoas mais próximas que conheceram e conviveram com os talentos, ou seja, a
vizinhança ou a comunidade. Essa valorização, de maneira geral, caracterizou-se pela
oportunidade de ser divulgada a imagem pessoal do talento, através dos veículos de
comunicação, como a televisão e a imprensa escrita. Em termos de melhoria das
condições dos recursos materiais disponíveis para o aprimoramento dos talentos ou
mesmo da sua situação a nível de patrocínio; ou outro tipo de recursos financeiro
estes não sentiram-se valorizados. Nessa fase, de especialização motora, na qual os
talentos esportivos abandonaram o contexto do esporte competitivo é que fecha-se o
mapa ecológico. O espectro do mapa ecológico dos talentos esportivos está
representado na Figura 13.
Macrossistema
Secretaria estadual de esporte e turismo
Exossistema
Mesossistema
Federação
Patrocinador
Microssistema
Equipe Atletismo
Microssistema
Escola ou Universidade
Talento
Microssistema
Família
Leis
Microssistema Local Trabalho
Mídia
Valores
Local de
trabalho
dospais/
técnico
Prefeitura Municipal
Cronossistema : Período vital e social dos talentos através das transições ecológicoas do curso de vida.
FIGURA 13 – Mapa ecológico dos talentos do atletismo que abandonaram o esporte
competitivo
91
Finalizando, utilizou-se o modelo de especialização motora de KREBS (1992,
1993), para descrever o processo de desenvolvimento dos talentos esportivos, desde a
estimulação até a especialização motora. Paralelamente, a utilização do modelo de
Krebs, a teoria dos sistemas ecológicos serviu como moldura para caracterizar os
atributos pessoais dos talentos esportivos, e demonstrar os ambientes, contextos que
direta ou indiretamente influenciaram no processo de desenvolvimento.
Caracterizado todo o processo de especialização motora dos talentos do
atletismo e os contextos que influenciaram no seu desenvolvimento, pode-se elaborar
uma síntese desse processo caracterizando-se o timing vital esportivo desses talentos.
Com relação aos atributos físicos, motores, sócio-emocionais e motivacionais,
verificou-se que durante a fase de estimulação a principal característica encontrada
foi a de participação em atividades infantis variadas e o gosto pela vivência motora,
sendo essas atividades desempenhadas na comunidade ou vizinhança próxima ao
ambiente familiar. Na fase, de aprendizagem motora os talentos parecem se
interessar pela aprendizagem de atividades esportivas que são iniciadas,
principalmente, no ambiente escolar. Dessa maneira, ocorreu a iniciação em
diferentes modalidades esportivas nas quais o indivíduo sente-se competente
enfatizando que as valências físicas de velocidade, força e impulsão foram as mais
comentadas pelos talentos. A iniciação nas diversas modalidades esportivas como o
voleibol, o handebol o basquetebol e o futebol, ocorreu, primordialmente, no
ambiente escolar durante as aulas de educação física. Particularmente, o atletismo foi
aprendido no ambiente da equipe de atletismo, onde as crianças devido ao biótipo e a
sua qualidade física, participam da aprendizagem das variadas provas que constituem
a modalidade esportiva.
A fase de prática motora, também ocorreu no ambiente da equipe de
atletismo. Nesse período, o atleta identificou-se com algumas provas, assim sendo, os
arremessadores praticaram diferentes formas de arremesso: o arremesso do peso e os
lançamentos do disco e do dardo; os atletas de velocidade praticaram os cem e
duzentos metros além, do salto em distância; os saltadores, os saltos em distância,
triplo, altura e com vara e, finalmente, os corredores de meia e longa distância as
provas de oitocentos e mil e quinhentos metros, além, dos dez mil metros e a marcha
92
atlética. Ao final, na fase de especialização motora, os atributos pessoais marcantes
para o rendimento esportivo parecem ser a determinação, a força de vontade e a
dedicação aos treinamentos. Nesse sentido, o talento já dedicava-se exclusivamente
ao aprimoramento e ao rendimento competitivo na prova na qual se especializou.
Nesta fase, final do processo, ampliou o mapa ecológico que influenciou a promoção
ou inibição do desenvolvimento dos talentos do atletismo. Portanto, nessa fase de
especialização motora, existiu uma grande dependência das estruturas que
administram o esporte competitivo, sejam elas as prefeituras municipais, a federação
de atletismo, os patrocinadores, a mídia e o governo do estado, representado,
atualmente, pela secretaria de estado do esporte e turismo.
Mas, mesmo obtendo rendimento esportivo a nível de campeonatos sulamericanos, pan-americanos e mundiais, os talentos esportivos do atletismo deste
estudo, devido a uma grande diversidade de fatores abandonaram o contexto
esportivo competitivo. Esses fatores que conduziram ao abandono do esporte a nível
competitivo foram interpretados no próximo tópico.
4.2 O abandono de talentos do atletismo em relação ao contexto competitivo
Após descrever o processo de especialização motora dos talentos do atletismo
que participaram deste estudo, buscou-se neste tópico, ressaltar os fatores que
levaram ao abandono do contexto esportivo competitivo. Aborda-se os fatores
determinantes para o abandono do contexto competitivo em relação as categorias de
análise propostas para o estudo. Desta forma, em um primeiro momento, o timing
vital, (exemplo, idade dos talentos) e o timing social (exemplo, mudança de governo
em 1987), posteriormente a categoria interdependência que refere-se as relações
entre os talento e os contextos e entre os contextos e, finalmente, a categoria
continuidade e trocas que considerou a constância e as mudanças, bem como, os
eventos que ocasionaram, intervieram e foram determinantes para o abandono de
talentos do atletismo em relação ao contexto esportivo competitivo.
93
4.2.1 O timing vital e social dos talentos do atletismo que abandonaram o
contexto competitivo
No contexto esportivo competitivo, vários requisitos são necessários para que
indivíduos alcancem alto nível de rendimento em modalidades esportivas. Portanto, a
carência desses requisitos pode ser decisiva na continuidade do envolvimento com o
esporte competitivo. Dessa forma, discutiu-se sobre as idades adequadas para o
envolvimento, a iniciação e a especialização esportiva, posteriormente, sobre as
valências físicas que determinaram o envolvimento com o esporte competitivo e, ao
final, os atributos sócio-emocionais e motivacionais dos talentos do atletismo.
Com o objetivo de estabelecer comparações entre as idades consideradas
adequadas e as verificadas neste estudo, apresenta-se o Quadro 4, que contém os
períodos etários nos quais os talentos do atletismo vivenciaram a fase de
especialização motora (KREBS 1992; 1993). Utilizou-se para comparação da idade
de alto rendimento propostas por BOMPA (1995), as idades de desempenho ótimo e
de estabilização do desempenho (Lempart apud WEINECK, 1991). Acrescenta-se ao
Quadro 4, a idade na qual os talentos deste estudo conseguiram o melhores
resultados, incluindo-se também, a idade do abandono do contexto esportivo
competitivo.
Quadro 4 – Timing vital dos talentos dos atletismo em relação ao rendimento
esportivo
talento
Prova do atletismo
T1
T3
T2
T8
T5
T4
T6
T7
T10
T9
Salto triplo
Salto c/ vara
Lançamento disco
Lançamento disco
Arremesso Peso
100, 200 metros
100, 200 metros
400m barreira
800 metros
Marcha atlética
Alto
rendimento
Bompa (1995)
23-26
22-25
23-27
23-27
23-27
22-26
22-26
22-26
22-26
25-28
Desempenho ótimo
Lempart apud
Weineck (1991)
24-27
25-28
26-27
26-27
24-25
22-24
22-24
24-26
25-26
27-29
Estabilização
Lempart apud
Weineck (1991)
28-29
29-30
28-29
28-29
26-27
25-26
25-26
27-28
27-28
30-32
Idade Melhores
resultados
estudo
17-18
18-19
18-20
21-22
16
17-18
18-20
23-26
16-19
Idade do
abandono
estudo
18
27
21
21
23
20
19
26
26
22
Através do Quadro 4, comparou-se as idades colocadas por BOMPA (1995),
para o alto rendimento esportivo, por Lempart apud WEINECK (1991), para o
desempenho ótimo e a idade de abandono dos talentos do atletismo do estudo. Nesse
sentido, apesar de todos os talentos terem obtido um resultado esportivo precoce, os
talentos T1, T2, T4, T6, T8 e T9, dentro das expectativas para a idade, poderiam ter
94
melhorado seu resultado competitivo, caso não tivessem abandonado o contexto
esportivo. Com esse entendimento, as evidências mostram que para esses talentos do
atletismo ocorreu um abandono precoce do contexto esportivo competitivo. Essa
constatação, fundamenta-se tendo como referência a idade para altos rendimentos
proposta por BOMPA (1995). Este autor, situa a idade, entre vinte e dois e vinte e
seis anos para corredores de curta e meia distância, vinte e três e vinte e seis para
saltadores, vinte e três e vinte e sete para arremessadores e vinte cinco e vinte oito
anos de idade, onde o alto rendimento é alcançado, Os talentos do atletismo, deste
estudo, abandonaram o contexto competitivo com idade variando entre dezoito e
vinte e dois anos (seis casos), sendo que nos outros quatro casos, os talentos não
conseguiram manter o mesmo nível de rendimento esportivo que tinham em idades
anteriores. Para esses seis talentos do atletismo pode-se supor que poderiam ainda ter
atingido um melhor resultado, caracterizando, portanto, o abandono precoce do
contexto competitivo.
Outra discussão importante, baseada no Quadro 4, refere-se ao resultado
esportivo precoce. O resultado esportivo precoce, foi um dos fatores apontados pelos
talentos (4 e 9), como ocasionando conseqüências que influenciaram no abandono do
contexto competitivo. Sobre essa questão os entrevistados comentaram:
“eu já era maturado né... mais cedo... a minha maturação tinha sido mais
rápida então perto dos outros meninos com onze anos eu já era grande... meu
professor falava... você não cresceu nada quando eu te vi naquela época eu
pensei esse ai vai ficar enorme...”(T4)
“motivo pra não gostar de atletismo não querer fazer por causa do
crescimento dele da estatura dele... ele deu muito trabalho por causa disso fez
exame com pediatra... foi difícil pra ele aceitar... que todos os outros do
atletismo são altos são fortes e altos... e quando ele ia competir a turma ficava
falando não sei o que... que ele não ia crescer e ele esperava crescer mais e ele
esticava aquele corpo fazia exercícios...” (F1)
Esse talento do atletismo, primeiramente, atribuiu o seu abandono a lesão
muscular, mas depois avaliou o seu envolvimento com o esporte competitivo e
concluiu que um dos fatores responsáveis pelo abandono foi a maturação precoce. O
95
talento obteve os melhores resultados em sua carreira esportiva aos dezesseis anos de
idade, e mesmo tendo permanecido no contexto competitivo, até os vinte anos de
idade, não conseguiu demonstrar o mesmo desempenhado na idade adulta. Sobre
essa temática, a maturação precoce ou acelerado para WEINECK (1989), tem uma
correlação altamente significante com a altura e o peso corporais, e a forma como são
organizados as competições, consideradas pelo autor como pouco racionais, de
acordo com a idade, as chances de vitória e boa classificação, pertencem, nesse caso,
exclusivamente aos precoces (acelerados), como por exemplo no atletismo. Para
SOBRAL (1988) o jovem de sucesso no seu escalão etário ao ascender ao escalão
superior não cumpre as expectativas depositadas nele, é o caso de quem retira as
vantagens de uma maturação avançada, mas depois, passadas essas diferenças,
demonstra não possuir afinal o talento para prosseguir na carreira a um nível elevado.
Quanto aos outros talentos do atletismo, devido ao seu abandono precoce, ou seja,
um período de tempo muito curto entre a idade dos melhores resultados e a idade do
abandono, torna-se difícil estabelecer conexão ou entre maturação e potencial de
desenvolvimento atlético.
Com relação aos atributos pessoais, as características relacionadas ao biótipo
e as valências físicas, também são fundamentais para a obtenção do rendimento
esportivo. Dessa forma, a modalidade de atletismo requer, em função das provas que
a constituem, alguns requisitos em termos atributos físicos. WEINECK (1990), por
exemplo, cita que para as provas de corridas curtas a velocidade a potência de
membros inferiores; para as provas de arremessos, a potência e a força de membros
superiores e; para as provas de meia e longa distância a resistência aeróbia. Dessa
forma, as valências físicas, parecem ter sido os indicadores mais utilizados pelos
técnico de atletismo deste estudo. Esses atributos pessoais, parecem ser os
indicadores que foram utilizados pelos técnicos para a detecção de talentos no
atletismo, essa forma de detecção é caracterizada como de baixo para cima
(RÉGNIER et al., 1993). Através dessas técnicas de percepção subjetivas técnicos de
atletismo selecionam talentos a partir de seus atributos físicos, capacidades motoras e
capacidades físicas. Esses atributos, foram os mais citados pelos talentos e técnicos
como os atributos pessoais mais importantes nas fases iniciais do processo de
especialização motora.
96
Mas, com o decorrer do processo e a chegada à fase de especialização motora,
os atributos físicos passam a ser desenvolvidos no contexto da equipe de atletismo,
através dos treinamentos. Nesse sentido, parece ocorrer uma modificação em relação
ao tipo de atributo mais importante na fase do processo de especialização da
modalidade de atletismo. Assim sendo, os atributos sócio-emocionais (psicológicos),
mais evidenciados, de acordo com os talentos, familiares e técnicos, foram: a força
de vontade, a determinação e a dedicação, que parecem ser indispensáveis para o alto
rendimento competitivo. Mas, a dedicação exclusiva a sua prova, pode gerar no
talento uma sensação de perda de identidade ou das atividades de lazer ou diversão
características dessa fase da vida. Esse questionamento sobre a identidade pessoal
apareceu nessas afirmações dos talentos:
“nessa época quando você é atleta você começa a se identificar você perde
aquela época de ir pra uma discoteca... porque o meu era treinar e ir para
escola e nada de sair dificilmente eu ia no cinema... em oitenta e nove eu
comecei a sair... e daí eu fui pouco me desgostando também com o
atletismo...”(T7)
“em baile ele não ia porque ele não tinha tempo ele ficava muito cansado e
treinava e vinha pra casa... ia deitar ia dormir viajava todo fim de semana
vinha exausto... então ele foi um menino que não aproveitou a juventude dele
depois já com vinte e um anos casou... e foi a primeira namorada...” (F9)
Segundo WEINECK (1989), interesse pelo esporte decresce bruscamente
com a chegada da puberdade, na idade escolar esta atividade esportiva era
simplesmente vital, mas agora sofre uma forte pressão competitiva de outras
atividades como relação heterossexuais, ocupação e lazer, profissão e recua na escala
de valores dos jovens. Nessa época de adolescência início a vida adulta na qual os
talentos estavam (entre 16-23 anos). Para ERICKSON (1968), nessa fase da vida
ocorre uma crise de identidade, é um momento na vida no qual um adolescente deve
determinar seu próprio sentido do self (identidade), incluindo o papel que ele
desempenhará na sociedade. Portanto, os talentos do atletismo devido as demandas
do ambiente competitivo vivenciaram essa crise de identidade, e esse parece ser um
momento de reavaliação de seu papel e das expectativas da equipe de atletismo em
97
relação ao papel que o atleta deve desempenhar, principalmente com relação
dedicação exclusiva ao desenvolvimento de seu talento em esportes.
Em relação aos atributos sócio-emocionais, um talento do atletismo avaliou o
seu processo de especialização motora, e foi enfático ao afirmar:
“...as vezes aquele que chega mais longe não é aquele que tem mais potencial
é aquele que é mais... persistente.. que joga com a própria sorte é aquele que
consegue... tem uns que levam sorte porque são persistentes e não param
outros param porque é mais seguro” (T7)
A persistência entendida como um atributo sócio emocional, evidencia-se
como uma qualidade fundamental para instigar o indivíduo para a realização de seu
potencial esportivo. Sobre esse atributo pessoal, DUQUIN (1980), definiu
persistência como um contínuo e consistente envolvimento na participação atlética
que parece ser, tradicionalmente, visto como uma característica inerente da
personalidade em atletas de sucesso. Embora a persistência na atividade seja uma das
características determinantes para a continuidade da busca pelo alto rendimento,
nenhum dos ex-atletas manifestou este traço nos seus atributos pessoais. Essa
qualidade sócio emocional, portanto, independente dos fatores que levaram ao
abandono, de modo geral, as evidências mostraram que os talentos avaliaram a sua
situação atual e não foram persistentes na busca da auto-realização esportiva.
Com relação ao timing vital e os eventos não-normativos, para os talentos T3,
T4 e T7 esses eventos se manifestaram em forma de casamento. Devido ao seu
timing vital, o casamento para o talento T4, ocorreu após seu abandono do contexto
competitivo. Mas, para os talentos T3 e T7, esse evento pode ter sido decisivo para
inibição de seu potencial de desenvolvimento, visto que, ocorreu durante a fase de
especialização motora. Em todos os casos o casamento veio acompanhado de
paternidade. Esta relação afetiva com a esposa pode exercer uma grande influencia
sobre o desportista, podendo ser uma fonte de incentivo ou de conflito na prática do
esporte (GONZÁLES (1997). Com relação a constituição da nova família e os papéis
que os talentos tiveram que assumir, o talento T3 citou o casamento com o fator
98
determinante para o seu abandono e o talento T7 apontou esse evento como um fator
que contribuiu para o abandono do esporte competitivo.
Estabelecendo outra relação entre o timing dos talentos do atletismo e os
eventos não-normativos, retoma-se os depoimentos, dos talentos T1 e T2 com
relação ao falecimento de seus pais. Embora esse evento tenha ocorrido durante o
processo de especialização motora, somente em um período posterior pode-se
perceber o seu efeito na vida dos talentos. Embora nenhum dos talentos tenha
determinado ao falecimento do pai sua opção por abandonar o esporte, com a
chegada da idade de jovem adulto, as dificuldades financeiras, a falta de estrutura da
equipe de atletismo, os talentos atribuíram em parte seu abandono a necessidade de
ajudar a família, onde exerciam o papel de filho primogênito e assumiam as
responsabilidades deixadas pelos pais.
A utilização da categoria timing vital e social (expectativa, atributos pessoais,
eventos não-normativos), permitiu identificar fatores que direta ou indiretamente
contribuíram para o abandono esportivo precoce de talentos do atletismo. Com a
finalidade de revelar outros fatores, além daqueles centrados na pessoa, que
concorreram para que esse fenômeno ocorresse utilizou-se da categoria
interdependência.
4.2.2 A interdependência entre talentos do atletismo e a estrutura do esporte
como fatores do abandono do contexto competitivo
O desenvolvimento dos talentos nas diferentes áreas do conhecimento
humano parece ser uma tarefa complexa. A ampla diversidade das relações que se
estabelecem entre indivíduos e contextos, demonstram a complexidade dos fatores
que promovem ou inibem o potencial de desenvolvimento de uma pessoa. Nesse
sentido, os talentos do atletismo durante seu processo de especialização motora,
elaboraram expectativas pessoais em relação a equipe de atletismo e,
consequentemente às estruturas administrativas que as gerenciam. Em relação às
expectativas depositadas no técnico da equipe, durante a fase de especialização
motora, os talentos revelaram:
99
“quanto a patrocínio e financeiro quem mais coordenava isso era ele (técnico)
até por outros motivos eu quase nem chegava a falar com o secretário...
depois de uma época fiquei pensando... se eu tivesse ido falar com o
secretário poderia ter pedido mais coisas... poderia ter sido melhor para
mim.... deixava tudo nas mãos dele foi um negócio que eu fiz errado” (T7)
“...faltou uma pessoa que me direcionasse e falasse vai nesse lugar que você
vai bem... acho que tem que ter essa pessoa porque eu tinha tudo para dar
certo... mais o estímulo que veio do meio não foi bom” (T8)
Com esses comentários, os talentos do atletismo perceberam em outras
pessoas ou contextos alguns elementos ou fatores que interferiram na busca pelo
sucesso no esporte competitivo. Em uma de sua hipóteses BRONFENBRENER
(1996) ressalta:
Quanto maior o grau de poder socialmente sancionado para um dado papel,
maior a tendência do ocupante do papel exercer e explorar o poder e dos que
estão numa posição subordinada a responder com maior submissão,
dependência e falta de iniciativa (p. 74).
Com base na hipótese, acima, formulada por Bronfenbrenner, pode-se
perceber a importância do papel do técnico em termos de busca dos recursos
materiais e financeiros que oferecem suporte ao desenvolvimento dos talentos. Nesse
sentido, o técnico de atletismo é o elemento de ligação entre as expectativas dos
talentos na equipe e as estruturas que dão sustentação a essa atividade,
principalmente as prefeituras municipais. Os talentos apontaram, a falta de estrutura
material, a dependência em relação a prefeitura municipal, a falta de recursos
financeiros, a desvalorização municipal em relação a sua atividade como fatores que
influenciaram suas decisões pelo abandono do contexto competitivo. Nesse sentido,
o papel do técnico amplia-se além das funções desempenhadas no contexto da equipe
de atletismo incorporando o papel de interlocutor entre os talentos e as entidades
mantenedoras da equipe de atletismo.
Dentro do contexto da equipe de atletismo, os relacionamentos interpessoais
entre técnico e atleta, intensificaram-se em função de um maior envolvimento na
100
busca pelo rendimento esportivo. Esses relacionamentos também foram fatores de
abandono esportivo,
“aconteceu com o técnico daqui é que na reunião ele falou pra gente que
quando a pessoa passava de juvenil pra adulto não interessava né... que se
quisesse ir embora podia ir embora e tal... isso começou a desanimar... eu
recebia duzentos e vinte e quatro reais aí quando foi um certo dia o professor
chegou e falou que a prefeitura... o prefeito falou que não ia ter mais como
pagar isso pro pessoal ai ele pegou e abaixou o meu salário pra oitenta e nove
reais... aí foi a gota d’água... aí eu tive uma discussão com ele... e aí eu tive
que trabalhar também eu não tinha condições minha porque a família é é
simples... tive que parar pra mim começar a ajudar minha família... um fator
que me levou a parar mesmo foi esse motivo de eu ter que ajudar ela que eu
só tenho minha mãe e meu irmão e eles dependiam de mim” (T2)
“é uma pessoa assim muito nervoso... e eu observava ele muito dependente da
mãe dele o carlos perdeu o pai muito novo quando tinha onze doze anos ...
então ele ficou muito dependente da mãe... coruja muito possessiva então isso
fez que muito da personalidade que ele tem hoje foi uma das causas” (P2)
A interdependência dos fatores que levam ao abandono do contexto
competitivo, durante a fase de especialização motora ficou evidenciada,
principalmente, na definição de exossistema. BRONFENBRENNER (1993), define
exossistema:
O exossistema inclui as interligações e processos que acontecem entre dois ou
mais ambientes, pelo menos um não contém a pessoa em desenvolvimento,
mas no qual acontecem eventos que indiretamente influenciam o processo
dentro do ambiente imediato (p. 22)
Interpretando essa definição em relação ao contexto do talento do atletismo,
percebeu-se que um fato ocorrido na administração pública municipal, que foi o corte
do recurso financeiro da equipe de atletismo, levou o técnico da modalidade a
diminuir o salário do talento, com isso desencadeou uma indisposição pessoal entre
ambos, cujo resultado, foi o abandono do contexto esportivo. Apesar do fator
101
determinante do abandono, ser a discussão entre o técnico e o talento do atletismo,
outros fatores atuaram como intervenientes. Esses fatores, segundo os interlocutores,
estiveram associados ao vínculo mãe (viúva)-atleta, a condição financeira da família
do talento, aos atributos pessoais do talento e do técnico.
Além do relacionamento entre técnico e atleta, a qualidade e os objetivos do
técnico de atletismo, tem importância fundamental no processo de especialização
motora. Esse processo, precisa ser desenvolvido de maneira a proporcionar ao talento
as condições necessárias para a sua auto-realização esportiva. Nesse sentido, a
qualidade dos treinamentos visando promover o talento pode ocasionar um efeito
contrário e negativo e, assim, conduzir ao abandono do contexto competitivo. Para
ilustrar a importância da qualidade do técnico, um talento que abandonou o esporte
competitivo narrou assim sua experiência:
“é a grande desvantagem de você se destacar logo cedo mas o desgaste que
você tem com o treinamento logo cedo... que o técnico insiste que você tem
que treinar de segunda a sábado todo o dia... eu era infantil fui para o jogos da
juventude e primeiro lugar e aí na visão dele é que eu deveria competir no
juvenil e não na minha categoria no infantil... a prova era três quilômetros e
eu fazia dez quilômetros... com dezesseis fui para o sul-americano e aí sobe
na cabeça com dezessete eu já competia vinte quilômetros... mas eu não culpo
ele mas foi um falta de não ter pensado para o futuro” (T9)
Para FILIN & VOLKOV (1998), os períodos para alcançar os diversos níveis
nas categorias, devem constar no planejamento da preparação dos atletas, Para
programar o treinamento é necessário conhecer as faixas etárias e respectivas idades
em que se alcançam resultados máximos. Esta idade deve ser o período de
desenvolvimento máximo do organismo, somente nesse caso são possíveis a
longevidade no desporto e a estabilidade de resultados durante vários anos. A
preparação “forçada” do atleta quando jovem, e a ascensão prematura às categorias
superiores, geralmente conduzem ao esgotamento físico e nervoso e ao abandono
também prematuro.
Portanto, a qualificação profissional foi um atributo pessoal dos técnicos de
atletismo, que deveria proporcionar as condições necessárias para o desenvolvimento
das funções dentro do contexto da equipe. Além dessas funções, o técnico, parece ser
102
o elo de ligação entre o talento e os outros ambientes nos quais o talento não
participa ativamente, por exemplo a prefeitura, a federação de atletismo e os
patrocinadores. Com esse pensamento, eventos que ocorreram nesses ambientes ou
contextos podem ter tido influencia no abandono do contexto esportivo competitivo.
“... então eu decidi abandonar no ano passado... eu falei vou deixar de vez não
tem como você fica esperando melhorar sempre piora né... como atleta já
decepcionei já na realidade não tô querendo mais.... tem os estudos né a falta
de apoio financeiro é tudo uma coisa vai juntando com a outra e vai te tirando
to esporte né ...” (T5)
“foi um conjunto de fatores... eu tava fazendo engenharia química o curso
exigia uma dedicação como em qualquer outro só que o meu curso eu tive que
estudar um pouquinho mais... depois dessa época eu tive oportunidade de
fazer uma prova em uma empresa nessa empresa que eu fui pra fora (estados
unidos) e falei sabe de uma coisa vou parar de vez....”(T8)
“a razão penso que seja a falta de estrutura... não tinha técnico específico para
a prova... mas deve ter um conjunto de fatores... tem que trabalhar você vê ele
pintando pintando carro arrumando caminhões então tem o fator financeiro
somado ao fator estrutura que é péssimo” (P4)
Os talentos T4, T5, T7, T8, T10 apontam, em seus relatos, que não houve um
fator determinante, mas, um conjunto de fatores que intervieram e levaram ao
abandono. A falta de estrutura da equipe, a necessidade de continuidade nos estudos,
as oportunidades para o trabalho, as cobranças da família exemplificam os fatores
apontados pelo talentos. Nesse sentido, as evidências demonstraram que paralelo ao
processo de especialização motora, ocorreu um processo que conduziu ao abandono
do contexto esportivo. Esse processo iniciou na estrutura e condição da família,
continuou na falta de estrutura da equipe de atletismo, nas decisões a nível de
prefeitura municipal e, finalizou na opção pelo abandono do contexto competitivo.
Portanto, para conhecer e compreender o processo que determinou o abandono do
contexto competitivo, parece ser necessário uma análise que considere todos os
103
elementos envolvidos, pessoas, relacionamentos, contextos e a dinâmica das interconexões entre eles.
Com relação a esse conjunto de fatores, Havighurst citado por KREBS
(1995), desenvolveu um modelo teórico baseado em uma série tarefas evolutivas que
devem ser desempenhadas entre a adolescência e a idade de jovem adulto:
preparação da carreira econômica, preparação para o casamento, assumir
responsabilidades cívicas, entre outras. Portanto, nessa fase do desenvolvimento dos
talentos do atletismo, existe uma ampla variedade de papéis e funções que o tornam
responsável perante pessoas significantes, como por exemplo, os familiares e a
sociedade. O conjunto de fatores, pode ser interpretado com base no modelo das
necessidades humanas de Maslow apud KREBS (1995). Para este autor, as
necessidades são apresentados em forma de uma pirâmide ou de uma escada na
seguinte ordem hierárquica: necessidades fisiológicas, de segurança, de afiliação (de
amor e pertença), de estima e, de auto-realização. Assim sendo, os talentos do
atletismo, desistiram da busca pela auto-realização de suas capacidades e
potencialidades esportivas, em função de satisfazer necessidade de segurança e
afiliação.
Especificamente o talento 1, parece ter vivenciado esse dilema entre a busca
pela auto-realização e o abandono do esporte competitivo, devido a oportunidade de
desempenhar uma atividade profissional mais rentável e estável. O talento
emocionado, descreveu seu opção pelo abandono, dessa maneira:
“fiquei sabendo que eu ia parar no dia vinte e quatro de dezembro.... de
noventa e sete quando a orientadora do colégio da fundação B. me chamou...
me dizendo que tinha aberto a vaga no banco em S. e eu ia ter que ir
imediatamente.... pensei bem fui pra casa depois fui lá falar para ela olha eu
vou pro banco”(T1)
“essa pessoa J. de família humilde dá o emprego pra ele e condições de treinar
seria o ideal... mas muitas vezes a firma ela mata o atleta precocemente
porque ela dá o emprego mas não dá condições para ele ir treinar... então é
que mata mais ainda”(P2)
104
Embora o abandono do esporte tenha ocorrido em função de uma
oportunidade oriunda em um exossistema (direção da escola e gerência
administrativa de um banco particular), o talento demonstrou atributos pessoais, que
promoveram o seu enquadramento entre as qualidades solicitadas por essa instituição
privado. Assim, o abandono parece significar uma perda em relação ao contexto
competitivo mas, pode significar também uma oportunidade para a vida. Em seu
depoimento pessoal,o talento associou essa oportunidade aos valores e atributos que
demonstrava quando de sua participação no contexto esportivo.
De acordo, com os resultados do estudo, parece que o exossistema que mais
influenciou na estrutura interna da equipe de atletismo, foi a prefeitura municipal. As
eleições municipais e os secretários de esportes, foram fatores determinantes para
que talentos do atletismo tenham abandonado o contexto esportivo. Essa afirmação
está baseada nas seguintes colocações:
“no ano noventa e dois a prefeitura... infelizmente tudo tá ligado a política
troca a política acaba tudo... porque a política não tem uma seqüência eles não
vêem uma continuidade eles não vêem um trabalho sério...” (P4)
“olha foi em noventa e sete porque assumiu teve uma eleição e assumiu a
outra administração e o prefeito falou o esporte em primeiro lugar e ele
acabou com o esporte” (F6)
“ele P. parou inclusive por causa da administração anterior porque eu tinha
uma briga com essa administração e ele sentiu a pressão ele ainda ganhava um
pouco aqui mas ele já tava mais preocupado em estudar e tudo mais” (P3)
As mudanças de secretários e prefeitos municipais, foi apontada por um dos
talentos como o fator determinante para seu abandono. Os talentos associaram a falta
de patrocínio, a falta de estrutura da cidade, a desvalorização, às mudanças ocorridas
nos cargos eletivos a nível municipal. Desta forma, indiretamente, a prefeitura
municipal contribui significativa para o abandono de talentos esportivos do atletismo.
Essas mudanças, podem ocorrer em relação aos indivíduos, seus relacionamentos
interpessoais ou nos contextos nos quais o talento participa. As trocas e mudanças
105
ocorridas durante o processo de especialização motora e que influenciaram no
abandono dos talentos são apresentadas na próxima categoria.
Outros dois contextos participam da estrutura administrativa a qual esteve
vinculada a equipe de atletismo dos talentos, são: os patrocinadores e a secretaria de
estado do esporte e turismo. Sobre os patrocinadores os entrevistados relataram o
seguinte:
“...é no Paraná não tem nenhuma empresa que patrocina nenhuma equipe de
atletismo... a estrutura eu vejo muito fraca... foi feito uma lei de incentivo
muito parecida com aquela dei de incentivo de Maringá ... só que não deu
certo o prefeito não sancionou esta lei... não tem empresas fortes não tem eles
não tem interesse eles acham que pra eles não divulga nada” (P2)
“a gente esbarrava sabe aonde na agência de propaganda porque a agência é
muito mais tranqüilo ela pega a verba faz um filme e põe na televisão do que
tomar conta de um evento esportivo...” (D4)
Com relação a atividade esportiva, o patrocinador utiliza-se de estratégias de
marqueting, visando a sua promoção própria, de sua logomarca ou de seu produto,
através do esporte. Portanto, o marqueting esportivo é classificado por GRACIOSO
(1995), como o patrocínio a equipes, atletas ou eventos esportivos. Se por um lado, o
marqueting pode representar oportunidades concretas para a promoção de atletas
(MULLIN, 1995); de outro lado, é o consumidor que determina se essa ação
mercadológica persistirá. Portanto, o patrocínio da modalidade de atletismo parece
estar dependente da valorização dessa atividade esportiva competitiva pela cultura ou
pelo público que atinge.
O macrosistema esse foi representado, neste estudo, de maneira objetiva, pela
secretaria estadual do esporte e turismo, cuja função foi de gerenciar o
desenvolvimento do esporte a nível de estado. Sobre a estrutura da secretaria de
esportes e turismo no estado do Paraná e suas políticas para promover o
desenvolvimento de talentos esportivos no esporte no estado, os dirigentes
afirmaram:
106
“será que o problema mais sério não está nos próprios técnicos essa é que é a
questão o que está acontecendo com o atletismo... já é uma modalidade difícil
não tem mídia não tem estrutura não tem isso não tem aquilo o que temos só é
professor e técnico reclamando... nós temos excelentes técnicos... só que eles
tinham que se organizar essa é minha opinião... é o mesmo problema a mesma
coisa que aconteceu em setenta e nove está se repetindo hoje em noventa e
nove então tem que se fazer alguma coisa e quem tem que fazer é o
profissional se unam se organizem procurem os centros regionais...” (D1)
“acho que um fator negativo é a falta de continuidade da implantação e
implementação das políticas colocadas entra um dirigente quer mudar tudo
muda nome de projeto muda projeto extingue projeto cria outros que são
semelhantes... outra é a questão dos dirigentes esportivos municipais não são
da educação física eles são colocados politicamente não tem a mínima visão
de desenvolvimento de esporte... acho que cinqüenta e três não são da área de
educação física é um dado alarmante pelo menos para mim... a falta de
recursos é outro fator... outro fator é a falta de articulação dos segmentos
esportivos isso é algo assim há dualidade de ligações tem lá o estado fazendo
o mesmo trabalho que a Paraná esporte tá fazendo tem outro que tá fazendo e
nós não temos a capacidade de nos articularmos e fazermos algo em conjunto
e utilizar recursos a gente pulveriza recursos no estado quer dizer é uma falta
de oportunidade então essa falta de articulação dos segmentos esportivos que
compõem o sistema estadual tem que ser motivo de estudo” (D2)
Os dirigentes esportivos em seus depoimentos retratam de um lado, a falta de
envolvimento político do técnico desportivo e a incapacidade de formular projetos
que viabilizem o desenvolvimento dos talentos do atletismo. Por outro lado, os
dirigentes reconhecem as deficiências administrativas a nível de secretaria de estado.
Sob a ótica da teoria dos sistemas ecológicos, as dificuldades que ocorrem a nível de
macrossistema parecem ter origem na falta de participação e conhecimento
multiambiental, carência de laços indiretos e empobrecimento das comunicações
entre os ambientes. Nesse sentido, técnicos não participam do desenvolvimento das
políticas de esporte do estado e dirigentes não conhecem a realidade das equipes
esportivas, especificamente do atletismo.
107
4.2.3 As trocas e continuidade durante a especialização motora dos talentos
do atletismo
O desenvolvimento do talento na área esportiva, parece ter sido um processo
dinâmico que envolveu períodos de trocas e de continuidade. Com a relação ao
contexto familiar e sua percepção sobre a participação do filho na equipe de
atletismo a nível competitivo, pode-se observar que os pais não demonstraram
envolvimento durante as fases de estimulação e aprendizagem motora. Na fase de
prática motora, esse envolvimento tornou-se mais intenso caracterizando-se pela
aprovação. Na fase de especialização, com a obtenção dos resultados esportivos os
pais intensificaram esse envolvimento na forma de valorização do rendimento. Mas,
devido ao abandono do filho em relação ao contexto competitivo, percebe-se uma
alteração nessa valorização. Essa troca pode ser percebida nas próxima descrições:
“eu tenho até trauma quando passa programa de esporte na televisão eu não
aprecio como eu apreciava... até hoje eu luto contra ele ir pra o esporte pra
mim não vale nada... porque a pessoa brilha tanto antes quando chega numa
idade tem que tirar tudo tudo de uma vez pra que isso e fiquei desiludida”
(F4)
“nós como pai não temos mais interesse que ele volte o atletismo... porque
não tem futuro tem que ter incentivo e se o município não da incentivo pro
atleta acho que não vale a pena o pai estar investindo estar incentivando...
hoje tá empregado se sustentando sozinho entendeu... não preciso estar mais
me preocupando em roupa pra ele em tênis e se ele voltar pro atletismo eu sei
que ele não vai ter recompensa só o momento...” (F6)
“parece que ele se tornou um menino que o sonho dele foi quebrado ele se
decepcionou ...todo aquele plano dele todo o sonho foram podados ai veio o
casamento .... sabe se ele tivesse tido oportunidade tanto ele quanto outros”
(F1)
Portanto, verifica-se que os pais trocaram sua percepção em relação ao
envolvimento do filho, principalmente, após os filhos terem abandonado o contexto
competitivo. Durante o seu processo de especialização motora os talentos do
108
atletismo não procuraram trocas ou transições que promovessem o seu
desenvolvimento esportivo. Nesse sentido, permaneceram durante todo o processo de
especialização motora com o mesmo técnico e na mesma equipe de atletismo, esta
continuidade foi percebida nas seguintes declarações:
“tive proposta de ir pra Franca e Presidente Prudente só que o meu técnico me
incentivou um monte pra eu ficar aqui e eu não quis abandonar ele né e uma
que eu não queira abandonar a cidade...” (T6)
“se o atleta tem condições e eu não tenho condições de dar qualidade de
treinamento pra ele... mais um suporte financeiro ele vou ter que deixar o
atleta ir embora..”(P5)
Os talentos do atletismo, deste estudo, vivenciaram as fases de aprendizagem,
prática e especialização motora sob a orientação do mesmo técnico de atletismo e na
mesma cidade. O comentário feito pelo técnico P5, reflete a sua preocupação com o
desenvolvimento do talento, quando percebe a falta de condições dentro de seu
contexto, procurando facilitar a transição para um contexto que proporcione
melhores condições materiais ou financeiras. Segundo um estudo realizado por
VIEIRA et al. (1998), as trocas ambientais ou ecológicas devem ser efetuadas no
sentido selecionar ambientes que ofereçam condições materiais e humanas que sejam
instigativas ao desenvolvimento.
Com relação ao ambiente escolar, ao concluir o final do ensino médio ocorre
uma transição para o ensino superior. Dos talentos do atletismo, do estudo,
atualmente, um ainda continua no ensino médio, dois completaram o ensino médio,
três estão cursando o ensino superior e quatro completaram o ensino superior.
Embora, o ensino superior seja uma continuidade da formação acadêmica, as
universidades parecem não proporcionar recursos e condições para que os talentos
continuem desenvolvendo seu potencial esportivo. Sobre as universidades talentos e
dirigentes esportivos relataram que:
109
“... e era uma crítica que a gente fazia muito por exemplo lá... tinha uma
piscina olímpica tinha ginásio de esportes tinha professores e aquilo é um
outra vida não é da comunidade a comunidade não participava de nada... eles
podiam pegar os atletas da cidade levar para lá... aquilo era uma coisa que
ninguém podia mexer e além o professor de ciclismo era brigado com o de
atletismo e era brigado com o outro então a comunidade nunca usufruiu da
universidade...” (D4)
“todo ano a gente faz um gerenciamento de esportes e de lazer aqui em
Curitiba... agora com relação as universidades algumas vem outras não não
sei porque...” (D3)
O ambiente universitário que seria a continuação acadêmica normal para o
adolescência, poderia também ter caracterizado-se como um ambiente que
promovesse o desenvolvimento de talentos esportivos. CSIKSZENTMILAHYI et al.
(1997) comenta que a promoção de talentos nas diferentes áreas da competência
humana deve ser uma preocupação de todos os segmentos da sociedade. Nesse
sentido, as universidades estaduais do Paraná, que possuem os recursos humanos e
materiais para a promoção de talentos na modalidade de atletismo, parecem não
desenvolver projetos com esse objetivo. Especificamente, apenas um dos técnicos
entrevistados utilizou do espaço da universidade, em sua cidade, para atuar como
técnico de atletismo, nas outras instituições universitárias, não se promoveu a prática
do atletismo a nível competitivo.
A nível de federação de atletismo, ocorreram trocas ou transições esportivas,
que produzem efeitos no desenvolvimento dos talentos na equipe de atletismo. Essas
trocas, referem-se aos eventos normativos eletivos para os cargos de presidente da
federação, e além desse evento ocorreu a categorização para a participação
competitiva. Sendo essa categorização realizada de acordo com a idade: até dezesseis
anos o talento participa da categoria “menores”, de dezesseis a dezenove anos da
categoria “juvenil” e, acima de dezenove anos da categoria adulta. Essas trocas ou
transições de categorias foram vivenciadas pelos talentos da seguinte maneira:
“quando eu era menores... treinamos o ano todo pra essa competição em Natal
mas chegou uma semana antes da competição... a federação ligou nós não
110
temos verbas não vamos levar ninguém... aí foi só esse comunicado... nessa
época desmotivou... eu tinha uns dezesseis dezessete anos” (T5)
“.. nós temos no brasil hoje uma geração de veteranos com doze ou treze anos
são pessoas que odeiam o esporte porque puseram o moleque muito cedo e ao
invés de brincar vinha praticar esporte” (D4)
Como pode-se perceber nos relatos de técnicos, talentos e dirigentes
esportivos essas duas transições dentro da modalidade de atletismo parecem
influenciar na percepção de rendimento dos atletas. Visto que, os talentos do estudo
obtiveram um rendimento esportivo, principalmente, nas categorias menores e
juvenil; a transição para a categoria adulta, parece ter sito um fator que concorreu
para uma baixa percepção do rendimento atlético. Nesse sentido, é importante a
avaliação desse processo de categorização, visto que, essa troca de categoria é uma
avaliação muito significativa para a continuidade ou desistência à dedicação ao
esporte competitivo.
Apenas dois talentos deste estudo, abandonaram o atletismo competitivo
antes de adentrar a categoria adulta, cinco abandonaram entre um e três anos de
experiências na categoria adulta e, três com mais de seis anos na categoria adulta.
Mesmo tendo obtido resultados a nível internacional, em categorias menores,
nenhum dos talentos do atletismo demonstrou o mesmo nível de rendimento na
categoria adulta. Este nível de rendimento na categoria adulta pode não ter sido
alcançado em virtude do abandono precoce dos talentos do estudo, considerando as
expectativas de resultados pra a idade.
Além dessa categorização, a administração da federação, parece ter
influenciado o processo de especialização motora dos talentos. Com esse
pensamento, a pessoa que administrava a federação de atletismo, tinha funções
específicas cujo papel primordial era o desenvolvimento e a promoção do atletismo
nível de estado. Dirigentes esportivos opinaram sobre o papel da federação de
atletismo da seguinte forma:
“quanto ao esportes elas (as federações) fazem parte da política estão
contempladas no apoio do governo estadual... geralmente tem um campeonato
111
brasileiro que vai acontecer em algum lugar chegam aqui duas semanas antes
da competição pedem passagem pedem um auxílio... então não existe um
critério de apoio as federações tipo assim os títulos conquistados o trabalho
que a federação está fazendo...” (D4)
“...outra coisa que precisa melhorar são as federações nós temos aí federações
que é o mesmo presidente desde que fundou alguns são bons mas tem
presidente aí que você nunca nada de falar da modalidade dele... e se você
pegar o passaporte dele tem mais de não sei quantos carimbos e naquela época
um cara muito bom que nós perdemos foi o martinho do atletismo...” (D4)
Com relação a continuidade e trocas que ocorrem a cada eleição normativa
para governador onde os secretários de estado são trocados em função de indicação
partidária os dirigentes foram enfáticos:
“não continuou eu responsabilizo primeiro eu acho os professores de
educação física e as faculdades de educação física porque não cobraram isso
do governo nunca cobraram nada... todos sossegaram de um jeito e as
federações também são responsáveis muito por causa disso... e em terceiro
lugar o governo porque o governo nunca vai ter dinheiro para fazer tudo ele
faz diretamente proporcional ao resultado então se você tá quieto e não tá
reclamando para ele tá bom...”(D4)
Em seu depoimento, o dirigente, atribuiu às pessoas e as instituições que
administravam o esporte no estado do Paraná, a responsabilidade pela falta de
envolvimento na promoção de talentos no estado do Paraná. Portanto, os fatores que
determinam o abandono do contexto esportivo parecem estar associados á diversas
instituições sociais, desde a família, os clubes organizados, a administração pública
municipal, as empresas patrocinadoras, a secretaria de estado do esporte e turismo,
enfim a toda uma estrutura social.
A interpretação dos fatores que conduzem ao abandono do esporte
competitivo, especificamente no atletismo, deve ser rigorosamente elaborada, pois
através dos resultados deste estudo verificou-se a complexidade e a diversidade dos
fatores que conduzem a decisão definitiva pelo abandono. O quadro 5 apresenta os
fatores determinantes e intervenientes no abandono de talentos do atletismo.
112
Quadro 5 – Fatores determinantes e intervenientes no abandono de talentos do
atletismo
Talento
Fator determinante
Fatores intervenientes
T1
Oportunidade de trabalhar
condição financeira da família / falecimento do pai
dependência equipe-prefeitura
Discussão com o técnico
teve que trabalhar / falecimento do pai/
teve que estudar /
Casamento e paternidade
falta de estrutura da cidade /
teve que trabalhar
Conjunto de fatores
Maturação precoce / teve que trabalhar
lesão muscular / teve que estudar
Conjunto de fatores
Lesão / teve que estudar / falta de estrutura na cidade /
falta de técnico especializado/ teve que trabalhar
Prefeito extinguiu a secretaria de desvalorização pessoal e da equipe / lesão muscular
esportes
interferência familiar no treino/ teve que trabalhar /
Conjunto de fatores
teve que estudar / pressões familiares / busca de
atividades de lazer / falta de patrocínio / casamento
Conjunto de fatores
Estudo no ensino superior / oportunidade de emprego /
falta de orientação pessoal
Falta de valorização de sua
teve que estudar / teve que trabalhar / desgaste
prova no atletismo
psicológico / competir em categorias elevadas
Conjunto de fatores
pressões familiares / situação financeira pessoal e da
equipe / ter que estudar
T2
T3
T4
T5
T6
T7
T8
T9
T10
Com base no Quadro 5, verificou-se que para cinco talentos ocorreu um fator
que determinou o abandono do atletismo, embora tenham relatado outros fatores que
intervieram nessa decisão. Para os outros cinco talentos não ocorreu um fator
determinante mas, um conjunto de fatores. Nesse sentido, o fator determinante
específica, claramente, o motivo e o momento exato do abandono.
Nos depoimentos pessoais o talento T1, caracteriza a oportunidade de
trabalho como o fator decisivo. O talento salientou outros fatores que contribuíram
para essa decisão, a estrutura e condição financeira de sua família (humilde e mãe
viúva), e a estrutura da equipe de atletismo (baixa remuneração financeira). Para o
talento T2, o fator determinante foi, a discussão com o técnico. O motivo da
discussão foi a redução de seu auxílio financeiro, em função da diminuição recursos
proporcionados pela secretaria de esportes do município. Devido a sua condição
familiar (humilde e mãe viúva) após a discussão com o técnico, o talento engajou-se
em uma atividade profissional., portanto outros fatores intervieram no processo de
abandono.
Com relação ao talento T3, o casamento seguido de paternidade, foram os
fatores que embora determinantes. O talento citou que a cidade não oferecia mais
113
condições para melhoria do rendimento, ter que trabalhar e estudar, o levaram a
decisão de abandonar o atletismo. Para o talento T6, o prefeito municipal extinguiu
da fundação de esportes do município e, consequentemente, o talento foi buscar um
emprego. Para o técnico desse talento, o pai interferia no treinamento do filho, além
dessa ocorrência, o baixo rendimento escolar e, a falta de valorização do esporte
foram fatores que conduziram ao abandono.
O fator determinante para o talento T9 abandonar o atletismo foi a falta
valorização da sua prova, a marcha atlética. Esse talento obteve os seus melhores
resultados a nível internacional em uma idade inferior a idade esperada para
rendimentos ótimos. O talento associou a intensidade e o volume do treinamento
durante seu processo de especialização ao seu abandono. Salientou que conseguiu um
emprego devido a sua espontaneidade e, comentou que essa espontaneidade foi
adquirida no ambiente esportivo.
Com relação aos outros cinco talentos não existiu, para esses talentos, um
fator determinante que estabelecesse o momento exato do abandono. Os talentos
descrevem o seu abandono citando um conjunto de fatores que foram se associando
e, ao final, determinaram o abandono. Entre os fatores, denominados intervenientes,
ter que estudar foi um fator citado pelos cinco talentos, todos engajados em
atividades discentes em instituições de ensino superior, quatro com o objetivo de
terminar o curso de educação física e, um o curso de engenharia química.
Entre os dez talentos do estudo, seis relataram como fator interveniente de seu
abandono as pressões familiares, que eram realizadas devido a baixa remuneração
em relação ao tempo dedicado na equipe de atletismo. Através das pressões, os
familiares demonstravam a sua preocupação com a falta de valorização do atletismo
ao longo do tempo em termos de retorno financeiro e profissional para o filho.
As lesões musculares foram citadas por três talentos como fatores
intervenientes. Para o talento T4, cujos melhores resultados foram obtidos aos
dezesseis anos de idade, a lesão foi apontada fundamental para seu abandono. Esse
talento na categoria adulta não conseguiu o mesmo sucesso das categorias menores.
Dessa forma, realizou testes com o objetivo de verificar sua idade biológica e
maturacional e, chegou a conclusão de que ocorreu uma maturação precoce. Para o
talento T6, a lesão foi motivo de abandono devido a falta de suporte financeiro a
114
nível da prefeitura municipal. O talento T5 cita a lesão como um fator interveniente
mas, não salientou o efeito desse evento no seu abandono.
Outros fatores intervenientes citados pelos talentos do atletismo foram: a
busca de atividades pessoais, o falecimento do pai, a falta de um técnico especialista
na cidade e a falta de uma pessoa na orientação de sua carreira esportiva. Apesar
do contexto esportivo competitivo ser caracterizado como um ambiente onde as
atividades requerem alto nível de solicitação física e psicológica, apenas o talento T9
salientou que o desgaste psicológico e competir em categorias mais elevadas foram
fatores intervenientes para o abandono.
Após apresentar os fatores intervenientes e determinantes do abandono de
talentos do atletismo, as evidências demonstram que parece existir uma diversidade
de fatores que contribuem, isoladamente ou em conjunto, para o abandono do
contexto competitivo. Alguns fatores parecem ser indicadores do provável abandono
precoce e, estiveram relacionados com os contextos onde o talento se desenvolveu.
Nesse sentido a estrutura interna (ausência de um dos cônjuges) e a condição
financeira da família parece ser um indicativo do abandono precoce. Parece ser na
fase de especialização motora que se amplia o rol de fatores que podem intervir no
processo que conduz ao abandono, entre esses fatores foram citados, atributos
pessoais dos talentos, pessoas que gerenciam os contextos primordiais para o
desenvolvimento, principalmente, o pai, mãe ou outro familiar e o técnico de
atletismo e, dos contextos que indiretamente influenciam no desenvolvimento do
talento, o presidente da federação de atletismo, o secretario de esportes do município
e, a nível de macrossistema, o secretario estadual do esporte e turismo.
O término da carreira esportiva é um fato, que independente do talento ou dos
contexto, ocorre. Para sete talentos do atletismo a decisão pelo abandono ocorreu
com idade anterior às esperadas para o rendimento esportivo, portanto,
caracterizaram-se como abandono esportivo precoce. Desses sete talentos, cinco
decidiram abandonar devido às oportunidades para trabalhar. Nesse sentido, a
estrutura administrativa a qual a equipe de atletismo esteve vinculada parece não
proporcionar um ambiente de desenvolvimento para indivíduos adultos. Os outros
três talentos que persistiram até as idades de vinte e três e vinte e seis anos, o fizeram
devido às oportunidades de conciliar as exigências dentro da equipe com as
demandas das tarefas profissionais e acadêmicas. Embora tenham persistido em
115
atividades competitivas, devido as atividades concorrentes (estudo e trabalho), sua
dedicação passou a não ser exclusiva e esse foi um fator apontado como responsável
falta de desempenho na categoria adulta.
Embora o abandono esportivo seja associado a um sentimento de perda, três
talentos relataram que as oportunidades de emprego ocorreram em função de seus
atributos pessoais (espontaneidade, dedicação) ou participação(aprender a viver sob
pressão) no contexto esportivo. Cinco talentos avaliaram seu envolvimento com o
esporte competitivo e, sintetizaram esse período como uma positiva lição de vida.
Com relação a sua condição acadêmica quatro talentos comentaram que buscaram o
ensino superior em educação física devido à sua experiência no contexto esportivo
competitivo. Nesse sentido, o sentimento de perda em relação ao esporte pode ter
significado uma oportunidade para a vida em termos de ascenção pessoal e social dos
ex-atletas considerados talentos esportivos.
Os diversos fatores apresentados podem ser categorizados na forma de
atributos, atividades, relacionamentos ou em contextos. Apesar da ocorrência dos
fatores determinantes e devido a diversidade de fatores intervenientes, as evidências
mostraram que o abandono depende de como esses fatores se interconectam nos
diferentes momentos da história da vida pessoal e esportiva dos talentos do atletismo.
5. CONCLUSÕES E SUGESTÕES
Ao término deste estudo cujo objetivo principal foi investigar os fatores
determinantes para que talentos do atletismo do Paraná tenham abandonado o
contexto do esporte competitivo e, tendo por base os procedimentos de análise
adotados, procuramos, neste momento, responder aos objetivos propostos no início
de nossa pesquisa.
As características antropométricas (biótipo) e as capacidades físico e motoras
(ex. força e coordenação), foram as mais evidenciadas nas fases iniciais,
estimulação, aprendizagem e prática motora. O gosto por atividades variadas na fase
de estimulação e a motivação para aprender esportes e viajar foram os atributos
sócio-emocionais mais evidenciados nas fases de aprendizagem e prática motora. Na
fase final, do processo de especialização motora, os atributos sócio-emocionais
parecem prevalecer em relação as características antropométricas, e físicas. Os
atributos sócio-emocionais mais evidenciados na fase de especialização motora
foram: a força de vontade, a determinação e a dedicação ao esporte.
Com relação ao processo de especialização motora dos talentos que
abandonaram o contexto competitivo; na fase de estimulação motora foram
vivenciadas as brincadeiras infantis, pequenos jogos de corridas e saltos e jogos préesportivos, essas atividades variadas foram realizadas no contexto da vizinhança ou
da comunidade. Na fase de aprendizagem motora, ocorreu a iniciação esportiva em
vários esportes, voleibol, handebol, futebol, futsal, basquetebol e atletismo, esses
esportes foram aprendidos no contexto escolar, especificamente, nas aulas de
educação física, as evidências mostraram que o atletismo foi aprendido tanto na
escola quanto no contexto da equipe de atletismo. Na fase de prática motora, os
talentos praticaram as diferentes provas da modalidades de atletismo relacionadas a
sua competência pessoal, por exemplo, os mais velozes praticavam os cem, duzentos
metros e salto em distância, os mais fortes, os arremessos de peso, dardo e disco, essa
fase do processo ocorreu no contexto da equipe de atletismo. Na fase de
117
especialização motora, os talentos se dedicaram a prova do atletismo na qual
obtiveram os melhores resultados, essa fase final do processo de especialização
motora, também, ocorreu na equipe de atletismo, com o mesmo técnico das fases
anteriores, aprendizagem e prática. motora. Os talentos do atletismo iniciaram a
prática e a especialização esportiva dentro das idades esperadas para a idade, no
entanto, seus melhores resultados foram conseguidos em média cinco anos antes das
idades esperadas para o alto rendimento, caracterizando, dessa forma, um resultado
esportivo precoce.
As evidências encontradas parecem indicar que os contextos onde ocorreram
os fatores que determinaram o abandono foram: a família devido a sua estrutura e
condição financeira; ao local de trabalho dos pais, cuja renda não parecia ser
suficiente para a manutenção da família; a equipe de atletismo, na intensidade e
volume das atividades realizadas durante a fase de especialização motora e nos
relacionamentos interpessoais entre técnico e atleta; nas prefeituras municipais,
enquanto entidades mantenedoras não geraram recursos suficientes para promover o
desenvolvimento dos talentos; na federação de atletismo, que normatizam as
categorias etárias nas quais o atleta compete, na escola/universidade e no local de
trabalho dos talentos, onde as exigências acadêmicas e profissionais parecem ter
concorrido com a dedicação ao esporte e, finalmente, foram atribuídos fatores
relacionados o governo estadual e sua política de desenvolvimento do esporte que
não valorizou a modalidade de atletismo.
Para caracterizar os períodos em que ocorreram os abandonos adota-se o
tempo em relação ao talento e aos contextos a partir da modalidade de atletismo. Em
relação ao talento, o período de abandono foi situado entre os anos de mil novecentos
e noventa e seis e mil novecentos e noventa sete, apenas um talento abandonou no
ano de mil novecentos e noventa e três. Nessa época os talentos tinham idades entre
dezoito e vinte e seis anos, com prevalência de idade entre dezenove e vinte e dois
anos, essa idade caracteriza-se entre o final da adolescência e o início a vida adulta.
Essas idades em relação as esperadas para o rendimento esportivo parecem sugerir
que ocorreu um abandono esportivo precoce. Em relação a modalidade de atletismo
as idades de abandono situa-se na transição da categoria juvenil para a adulta
(dezenove anos), portanto essa passagem parece ter sido um momento decisivo na
trajetória dos atletas; as evidências mostraram que as equipes de atletismo no estado
118
do Paraná eram mantidas pelas prefeituras municipais, com o objetivo de
participação em jogos abertos e jogos da juventude promovidos pela secretaria
estadual de esporte e turismo. Sendo a prefeitura a entidade mantenedora, as eleições
de mil novecentos e noventa e seis, determinaram trocas nas secretarias e fundações
de esporte municipais. Essa transição na estrutura administrativa parece ter afetado
negativamente a valorização da equipe de atletismo, quanto à estrutura, recursos
materiais e financeiros, desta forma, o abandono dependeu dos eventos e períodos
históricos dos contextos que promovem ou inibem o desenvolvimento nas diversas
estruturas sociais.
Com relação ao abandono, os fatores determinantes evidenciados foram:
oportunidade para trabalhar, casamento seguido de paternidade, extinção da
fundação de esportes municipal, falta de valorização do atletismo, discussão com o
técnico e, um conjunto de fatores. Nesse conjunto de fatores foram apontados:
maturação precoce, ter que estudar, busca por outras atividades, ter que trabalhar,
lesões musculares, falecimento do pai, condição financeira da família, falta de
estrutura na cidade, pressões familiares, interferência do pai no treinamento, falta
de técnico especializado, competir em categorias mais elevadas, desgaste
psicológico, falta de orientação pessoal, falta de patrocínio, dependência equipeprefeitura e falta de valorização da modalidade. Diversos fatores foram
determinantes ou intervieram mas, o abandono dependeu da seqüência e ocorrência
desses fatores durante a vida pessoal e esportiva do talento, indicando que cada
história de abandono parece ser um processo único. Portanto, as evidências
demonstraram que uma diversidade de fatores contribuíram para o abandono e,
compreender como esses fatores se inter-conectaram reflete a complexidade do
estudo do desenvolvimento humano em contexto e, em especial, do fenômeno do
abandono do contexto esportivo competitivo.
A partir das conclusões desta investigação sugere-se outros estudos que
procurem investigar as seguintes temáticas:
Sugere-se estudos que repliquem o presente estudo em diferentes sujeitos e
contextos, para que se possa identificar e compreender as diferenças e semelhanças
dos fatores que levam ao abandono do contexto esportivo competitivo.
119
Devido a influências das prefeituras municipais e do governo estadual no
desenvolvimento do esporte no estado do Paraná, sugerimos a realização de estudos
que analisem e avaliem as políticas de desenvolvimento do esporte tanto em
municípios quando nos estados;
Da mesma forma, na estrutura administrativa das instituições que gerenciam o
esporte, percebeu-se que a função de secretario de esportes a nível municipal e
estadual foi questionada. Nesse sentido, sugerimos estudos sobre a qualificação
profissional das pessoas que ocupam essas funções administrativas.
Em função dos resultados obtidos neste estudo sugere-se também estudos
cujo objetivo seja verificar a possibilidade de correlação entre resultado esportivo
precoce e abandono esportivo precoce.
Ao final, sugerimos estudos multi disciplinares onde profissionais de diversas
áreas do conhecimento, como fisiologia, biomecânica, psicologia, sociologia,
pedagogia, admininistração, comunicação e marqueting, ciências sociais e políticas,
entre outras poderiam analisar, sob diferentes perspectivas, o fenômeno que é o
esporte e sua importância para o desenvolvimento do ser humano.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ANEXOS
129
ANEXO I – Seção 3.4
FICHA DE IDENTIFICAÇÃO DO TALENTO
Nome = ___________________________________________________
Local e data de nascimento = _____________________ ____/___/____
Idade = ____________________ Estado civil_____________________
Escolaridade = _____________________________________________
Descendência = ___________________ Profissão =________________
Endereço = _________________________________________________
Cidade = __________________________________________________
C. E. P. = _______________________ Telefone = _________________
Modalidade = ______________________________________________
Nome dos Pais = _____________________ e _____________________
Endereço dos Pais = _________________________________________
Cidade= ___________________________ Telefone = ______________
Período aproximado do abandono = _____________________________
Idade quando do abandono = __________________________________
Resultados
Evento
data =
_____________
_________________________________ ____/____
_____________
_________________________________ ____/____
_____________
_________________________________ ____/____
_____________
_________________________________ ____/____
_____________
_________________________________ ____/____
_____________
_________________________________ ____/____
_____________
_________________________________ ____/____
_____________
_________________________________ ____/____
130
ANEXO II – seção 3.4
ROTEIRO DA ENTREVISTA COM O TALENTO
Estimulação Motora (Experiências iniciais com a atividade motora)
a) Comente sobre suas atividades motoras na infância.
Roteiro – Quais? Onde? Com quem? Com que idade?
Aprendizagem Motora ( aprendizagem das modalidades esportivas)
a) Comente sobre os esportes que você aprendeu.
Roteiro – Quais? Onde? Com quem? Com que idade?
Como a tua família participava do teu envolvimento com esses esportes?
O que te motivou a aprender esses esportes?
Prática Motora ( as aprendizagem a automatização )
a) Dentre os esportes que aprendeu com quais se envolveu.
Roteiro – Quais? Onde? Com quem? Por que?
Alguma característica pessoal tua foi importante para praticar esse esporte?
Quanto tempo por semana, horas por dia?
Comente sobre o teu técnico
Que outras atividades tinha além de treinar essas modalidades/
Como tua família participava do teu envolvimento com esses esportes?
O que recorda de positivo ou negativo desta época.
Especialização motora ( dedicação exclusiva ao esporte escolhido )
a) qual o esporte escolhido.
Roteiro – Qual foi o esporte que escolheu para dedicar-se?
Em que ano ou época isso aconteceu/
Quantos anos tinha naquela época.
Quais foram os fatores que te levaram a optar por essa modalidade?
Quantos horas e dias de treinos por semana?
Como era o teu relacionamento com o teu técnico
Que outras atividades tinha que fazer além de se dedicar aos treinamentos?
131
Como era o teu relacionamento com tua família
Teve algum tipo de suporte financeiro... da família..... de patrocinadores.... do
governo municipal... estadual ... ?
Considera que por ter sido atleta foi valorizado dentro da comunidade que
vivia?
Quando decidiu abandonar o esporte competitivo?
Comente sobre o fator (es) que determinou (ram) o abandono.
Como? Quando? Onde? Porque? Quais?
Comente sobre os aspectos positivos e negativos de ter sido um talento que
abandonou o esporte competitivo.
132
ANEXO III – Seção 3.4
FICHA DE IDENTIFICAÇÃO DO PAI DO TALENTO
Nome = __________________________________________________
Nome do filho = ____________________________________________
Local de nascimento = ______________________________________
Data do nascimento = ________________________________________
Idade = ___________________________________________________
Estado civil = _______________________________________________
Escolaridade = _____________________________________________
Descendência = ____________________________________________
Endereço = ________________________________________________
Telefone = ________________________________________________
Cidade = __________________________________________________
C. E. P. = __________________________________________________
Modalidade do filho = _______________________________________
Período em que o filho abandonou o esporte competitivo = __________
Idade aproximada do filho quando do abandono = __________________
Profissão = ________________________________________________
Tipo de envolvimento com o esporte = __________________________
133
ANEXO IV – Seção 3.4
ROTEIRO DA ENTREVISTA COM O PAI DO TALENTO
Estimulação Motora ( Experiências iniciais com a atividade motora)
a) Comente sobre as atividades motoras do seu filho na infância.
Roteiro – Quais? Onde? Com quem? Com que idade?
Aprendizagem Motora ( aprendizagem das modalidades esportivas)
a) Que esportes seu filho aprendeu.
Roteiro – Quais? Onde? Com quem? Com que idade?
Quais eram as qualidades físicas/motoras/psicológicas de seu filho?
Como a família participava do envolvimento do filho com esportes?
Prática Motora ( as aprendizagem a automatização )
a) Que esportes seu filho mais se identificou/treinou.
Roteiro – Quais? Onde? Por que?
Alguma característica pessoal do filho foi importante para praticar esses
esportes?
Quanto tempo por semana, horas por dia seu filho treinava?
Comente sobre os técnicos do teu filho
Que outras atividades o filho tinha além de treinar essas modalidades/
Como a família participava do envolvimento do filho com esses esportes?
O que você recorda de positivo ou negativo desta época.
Especialização motora ( dedicação exclusiva ao espore escolhido )
a) Que esporte o filho se dedicou.
Roteiro – Qual o esporte o filho escolheu para dedicar-se?
Em que ano ou época isso aconteceu/
Quantos anos ele tinha naquela época.
Quais foram os fatores que o levaram a optar por essa modalidade?
Quantos horas e dias de treinos por semana
Como era o teu relacionamento com o teu técnico?
134
Que outras atividades o filho tinha que fazer além de se dedicar aos
treinamentos?
Como era o relacionamento do filho com a família
O filho teve algum tipo de suporte financeiro... da família..... de
patrocinadores.... do governo municipal... estadual ...
Você considera que por ter sido atleta seu filho foi valorizado dentro da
comunidade que vivia?
Quando o filho decidiu abandonar o esporte competitivo?
Comente sobre o fator (es) que determinou (ram) o abandono.
Como? Quando? Onde? Porque? Quais?
Comente sobre os aspectos positivos e negativos de ser pai de um talento que
abandonou o esporte.
135
ANEXO V – Seção 3.4
FICHA DE IDENTIFICAÇÃO DO TÉCNICO DO TALENTO
1. Ficha do Técnico do Atleta = _______________________________
Nome = ___________________________________________________
Local de nascimento = ________________________________________
Data do nascimento = ________________________________________
Idade = ___________________________________________________
Estado civil = _______________________________________________
Escolaridade = _____________________________________________
Descendência = _____________________________________________
Endereço = ________________________________________________
Telefone = _________________________________________________
Cidade = _________________________________________________
C.E.P. = ___________________________________________________
Modalidade = _______________________________________________
Período em que atleta abandonou o esporte competitivo = ___________
Idade aproximada quando do abandono = _________________________
Profissão = _________________________________________________
Tipo de envolvimento com o esporte = ___________________________
Principais competições representando cidade/estado/país, resultados e data
_____________________ ______ ___________________
____/___
_____________________ ______ ___________________
____/___
_____________________ ______ ___________________
____/___
_____________________ ______ ___________________
____/___
136
ANEXO VI – Seção 3.4
ROTEIRO DA ENTREVISTACOM O TÉCNICO DO TALENTO
Especialização motora ( dedicação exclusiva ao espore escolhido )
a) Como foi que você o conheceu.
b) Qual a idade dele naquela época... qual a sua idade? Quando você o conheceu/
c) Quais os qualidades físicas/psicológicas tinha o atleta____________________
d) Quantos horas e dias de treinos por semana
e) Como era o teu relacionamento com o atleta. ?
e) Como era o teu relacionamento com a família do atleta (
)?
f) O atleta e você tiveram algum tipo de suporte financeiro... da família..... de
patrocinadores.... do governo municipal... estadual ... ?
g) Você considera que por ter sido técnico do atleta (
) foi valorizado dentro da
comunidade que vivia em função do sucesso do atleta
h) Quando o atleta decidiu abandonar o esporte competitivo?
Comente sobre o fator (es) que determinou (ram) o abandono.
Como? Quando? Onde? Porque? Quais?
i) Comente sobre os aspectos positivos e negativos de ter sido técnico de um talento
esportivo que abandonou o esporte.
137
ANEXO VII – Seção 3.4
FICHA DE IDENTIFICAÇÃO DOS DIRIGENTES ESPORTIVOS
Nome = ____________________________________________________________
Local e data de Nascimento =___________________________________________
Idade = ___________________
Escolaridade = ____________________________
Profissão = ____________________________
Tempo de serviço na secretaria
Período = de ____________________________ à ________________________
Endereço =__________________________________________________________
Telefone = ___________________________ Cidade = _______________________
C.EP = _______________________________
Principais Projetos da Secretaria
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
138
ANEXO VIII – Seção 3.4
ROTEIRO DA ENTREVISTA COM O DIRIGENTE ESPORTIVO
-
Como foi estruturada a política de esporte no estado do Paraná desde os anos
oitenta? Quais os governos? Quais os secretários?
-
Como eram determinados aos secretários os objetivos e as metas.
-
Como são obtidos e destinados os recursos financeiros para o esporte
-
Quais as principais promoções da secretaria a nível do esporte para o estado
-
Como as prefeituras, as federações, as universidades e outras instituições
participam da estrutura do esporte a nível de estado
-
Quais os principais projetos desenvolvidos para dar apoio financeiro/ material/
educacional aos talentos esportivos do estado
-
Quais os principais projetos desenvolvidos para dar apoio/ aperfeiçoamento
/atualização aos técnicos dos talentos esportivos do estado (inicio- fim
conseqüências motivos)
-
Quais as influencias ou estruturas a qual a secretarias estiveram subordinadas e
promoveram ou prejudicaram o desenvolvimento de talentos esportivos no estado
-
Quais as dificuldades (mídia/ orçamentos/ comunicação com federação,
prefeituras técnicos atletas que podem ser observadas na estrutura do esporte no
estado
-
Como é a valorização do esporte enquanto fenômeno cultural no estado no
paraná
-
Aspectos positivos e negativos do desenvolvimento do esporte paranaense desde
os anos oitenta
139
ANEXO IX - Seção 3.4.1
Normas gerais de transcrição (OLIVEIRA, 1998)
•
pausa (exceto a que recebe outra marcação): ...
•
quebra do fluxo textual: /
•
comentário paralelo: - -
•
alongamento silábico: ::
•
entonação enfática: MAIÚSCULA
•
interrogação:
•
fragmento incompreensível: (
•
suposição de audição: (palavra)
•
comentário do transcritor, com indicação de tosse, riso, voz etc: ((
•
turno assaltado ou interrompido: (.....)
•
citação de fala de outro ou estrangeirismos: “
•
sobreposição de fala:
•
entoação, admitindo-se combinações: ↑↓→
•
siglas e inicial de nomes próprios: MAIÚSCULA
?
)
))
“
palavra
Restam, ainda, as seguintes observações
•
repetições em análise encontram-se negritadas;
•
números são transcritos por extenso;
•
não se usam o ponto final, o de exclamação, os dois pontos, o ponto e vírgula e a
vírgula, já marcados genericamente pela pausa ....;
•
não se marca o ritmo da frase;
•
formas ouvidas como né e pra foram assim mantidas;
•
omite-se a identidade dos informantes como o uso da inicial de cada um deles: P.
distinguem-se os pontuadores discursivos: eh (fático), e (aditivo) e é
(continuativo);
•
os marcadores conversacionais transcrevem-se em posição central.
140
ANEXO X - Seção 3.4
MATRIZ DA ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA
Categorias
Indicadores
Elementos
Características
Fatores sócio- físicas e
demográficos demográficas
Informativa
Atributos
pessoais
Timing
Período
vital
Período
social
Microssistema
Interdependência
Mesossistema
Exossistema
Macrossistema
Estimulação
motora
Processo
Aprendizagem
motora
Prática motora
Especialização
motora
Informações
Idade, sexo, estado civil, etnia, nível
de escolaridade, local de residência,
profissão e tipo de envolvimento
com o esporte
Características
Encorajam o envolvimento com o
pessoais
esporte
Características
Valências físicas e
físicas
antropométricas
Características
Motivação,
sócio-emocionais
Traços de personalidade
Tempo histórico
Sincronia com a carreira esportiva
pessoal (idade)
transições em relação a idade
Expectativas
Seqüência de transições expectativas
e crenças relacionada com a idade
Atividades,
Envolvimento na atividade,
relações
dificuldades encontradas e grau de
interpessoais e
satisfação em relação aos papéis,
papéis
desejo de melhorar, relacionamento
entre pessoas no decorrer dos anos
Laços primários,
Pessoas que participam em dois
secundários,
ambientes, outras pessoas que
indiretos,
participam desses ambientes,
comunicação entre pessoas que não participam
ambientes
diretamente dos ambientes, formas
de comunicação
Ligações ,
Eventos que interferiam na carreira
processos
do atleta em ambientes onde ele não
participa,
Tipos de projetos desenvolvidos pelo
Riscos, crenças,
recursos,
estado, valorização do esporte,
oportunidades,
influencias das trocas de governo no
divulgação do
esporte, intercâmbios
esporte
Detalhes dos tipos de envolvimento
Tipos de vivências com atividades, tipos de
motora
relacionamentos, ambientes de
desenvolvimento das atividades
Modalidades
Tipos de modalidades esportivas
esportivas
aprendidas, ambientes de
desenvolvimento destas atividades,
tipos de relacionamentos
Escolha de
Preferência por modalidades
modalidades
esportivas
Opção pelo esporte Motivos, tipos de suporte, ambiente
Fatores do
de desenvolvimento, pessoas,
abandono
atividades, atributos, períodos
Questões
Que?
Qual?
Onde?
Quando
Que?
Qual?
Qual?
Quais?
Quais?
Qual?
Quando?
Que?
Quais?
Quando?
Quais?
Que?
Como
era?
Quem?
Com
quem?
Quando?
Quando
Qual?
Quais?
Como?
Porque?
Com
quem?
Onde?
141
ANEXO XI – SEÇÃO 3.7
MATRIZ DE ANÁLISE DOS DADOS SÓCIO DEMOGRÁIFOCS DOS
FAMILIARES DOS TALENTOS DO ATLETISMO
Familiar
F1
F2
F3
F4
F5
F6
F7
F8
F9
F10
Data de
Idade Escolaridade Estado
nascimento Atual
Civil
Profissão
Envolvimento
com o Esporte
142
ANEXO XII – SEÇÃO 3.7
MATRIZ DE ANÁLISE DOS DADOS SÓCIO DEMOGRÁFICOS DOS
TÉCNICOS DE ATLETISMO
Técnico
Data de
Idade
Nascimento Atual
P1
P2
P3
P4
P5
Escolaridade
Profissão
Estado
Eventos
Civil
importantes
143
ANEXO XIII – SEÇÃO 3.7
MATRIZ DE ANÁLISE DOS DADOS SÓCIO DEMOGRÁFICOS DOS
TALENTOS DO ATLETISMO
Informações
Data de
nascimento
Estado
civil
Data do
abandono
Idade quando
do abandono
Idade
atual
Escolaridade
Profissão
Projetos
Melhores
resultados
Idade dos
melhores
resultados
T1
T2
T3
.....
T10
144
ANEXO XIV – SEÇÃO 3.7
MATRIZ DE ANÁLISE DO PROCESSO DE ESPECIALIZAÇÃO
MOTORA DOS TALENTOS DO ATLETISMO
Talento Informações Estimulação Aprendizagem
Motora
Motora
T1
T2
T3
....
T10
Prática
Motora
Especialização
Motora
Local
Idade
Atividades/
esportes
horas e dias
por semana
Local
Idade
Atividades/
esportes
horas e dias
por semana
Local
Idade
Atividades/
esportes
horas e dias
por semana
Local
Idade
Atividades/
esportes
horas e dias
por semana
Local
Idade
Atividades/
esportes
horas e dias
por semana
A matriz de análise categorial está exemplificada com os talentos, entretanto,
a mesma matriz foi utilizada para técnicos e familiares
145
ANEXO XV – SEÇÃO 3.7
MATRIZ DE ANÁLISE DOS ATRIBUTOS PESSOAIS DOS
TALENTOS DO ATLETISMO
Talento
Atributos pessoais
Atividades
Processo
Estimulação motora
Aprendizagem motora
T1
Prática motora
Especialização motora
Estimulação motora
Aprendizagem motora
T2
Prática motora
Especialização motora
Estimulação motora
Aprendizagem motora
T3
Prática motora
Especialização motora
Estimulação motora
Aprendizagem motora
...
Prática motora
Especialização motora
Estimulação motora
Aprendizagem motora
T10
Prática motora
Especialização motora
A matriz de análise categorial está exemplificada com os talentos, entretanto,
a mesma matriz foi utilizada para técnicos e familiares
146
ANEXO XVI – SEÇÃO 3.7
MATRIZ DE ANÁLISE DOS PARÂMETROS DO CONTEXTO DA
MODALIDADE DE ATLETIMO
Talento
Microssistemas
Dados
demográficos/atividades
papéis/relações
interpessoais
Meso e exossistemas
Participação/ comunicação e
Conhecimento
multiambiental
Laços indiretos
Macrossistema
Crenças/recursos/ estilo de
vida/ oportunidades/
divulgação
T1
T2
T3
...
T5
A matriz de análise categorial está exemplificada com os talentos, entretanto,
a mesma matriz foi utilizada para técnicos e dirigentes esportivos
147
ANEXO XVII – SEÇÃO 3.7
MATRIZ DE ANÁLISE DOS FATORES DO ABANDONO DE
TALENTOS DO ATLETISMO
Talento
Fator determinante do abandono
Fatores intervenientes no abandono
T1
T2
T3
T4
T5
T6
T7
T8
T9
T10
A matriz de análise categorial está exemplificada com os talentos, entretanto,
a mesma matriz foi utilizada para técnicos e familiares
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JOSÉ LUIZ LOPES VIEIRA O PROCESSO DE ABANDONO