JOSÉ LUIZ LOPES VIEIRA O PROCESSO DE ABANDONO DE TALENTOS DO ATLETISMO DO ESADO DO PARANÁ: UM ESTUDO ORIENTADO PELA TEORIA DOS SISTEMAS ECOLÓGICOS TESE DE DOUTORADO UFSM Santa Maria, RS, BRASIL 1999 i O PROCESSO DE ABANDONO DE TALENTOS DO ATLETISMO DO ESTADO DO PARANÁ: UM ESTUDO ORIENTADO PELA TEORIA DOS SISTEMAS ECOLÓGICOS por JOSÉ LUIZ LOPES VIEIRA Tese apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Ciência do Movimento Humano – área de concentração Desenvolvimento Humano, da Universidade Federal de Santa Maria, como requisito parcial para obtenção do grau de DOUTOR em EDUCAÇÃO FÍSICA. Santa Maria, RS, Brasil 1999 ii UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DO MOVIMENTO HUMANO A COMISSÃO EXAMINADORA, ABAIXO ASSINADA, APROVA A TESE O PROCESSO DE ABANDONO DE TALENTOS DO ATLETISMO DO ESTADO DO PARANÁ: UM ESTUDO ORIENTADO PELA TEORIA DOS SISTEMAS ECOLÓGICOS ELABORADA POR JOSÉ LUIZ LOPES VIEIRA COMO REQUISITO PARCIAL PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTOR EM EDUCAÇÀO FÍSICA COMISSÃO EXAMINADORA: __________________________________________ Ruy Jornada Krebs - Orientador __________________________________________ Juan José Mouriño Mosquera – PUC - RS __________________________________________ Sebastião Iberes Lopes Melo – UDESC - SC __________________________________________ Silvia Maria de Aguiar Isaia – UFSM - RS __________________________________________ Vanildo Rodrigues Pereira – UEM - PR Santa Maria, 29 de julho de 1999 iii Aos meus amores, Lenamar e Igor iv AGRADECIMENTOS Agradeço: A Universidade Estadual de Maringá, em especial ao departamento de Educação Física, pela viabilização e suporte para que esta etapa de nossa formação profissional fosse concluída. A Pós Graduação em Ciência do Movimento Humano do Centro de Educação Física e Desportos da Universidade Federal de Santa Maria, em especial, seu corpo docente pelas contribuições a minha formação acadêmica e, aos funcionários pela amizade. Ao meu orientador e amigo Ruy Jornada Krebs, pela confiança profissional, pela contribuição acadêmica e científica e, muito especialmente, pelo relacionamento pessoal. Ao professor e amigo David Gallahue, pela oportunidade de intercâmbio profissional e científico durante nossa permanência junto a Universidade de Indiana EUA. A professora e colega Maria da Conceição Silva, da Universidade Estadual de Maringá, pela dedicação profissional e a competência com que desenvolve a modalidade de atletismo na cidade de Maringá, seu amor pelo atletismo foi o nosso passo inicial na realização dessa pesquisa. v A professora e amiga Yara Maria Kuster, que contribuiu significativamente para realização deste estudo, mas, principalmente, pelo carinho. Ao professor e amigo Jandir Carlos Martins, diretor do núcleo de divulgação cientifica da UFSM, pela amizade e a alegria que nos proporcionou durante esta trajetória. Aos ex-atletas de atletismo, técnicos, familiares e dirigentes, que participaram deste estudo pela amabilidade, sinceridade e confiança demonstrados nos depoimentos, os quais nos possibilitaram conhecer e compreender a realidade da modalidade de atletismo. Em especial aos meus familiares, pela alegria que nos transmitem e pelo encorajamento durante essa difícil jornada acadêmica. Aos nossos amigos e colegas do laboratório de Desenvolvimento Humano da Universidade Federal de Santa Maria, pois foram os companheiros do dia a dia na construção de uma etapa que agora se encerra.. vi RESUMO O PROCESSO DE ABANDONO DE TALENTOS DO ATLETISMO DO ESTADO DO PARANÁ: UM ESTUDO ORIENTADO PELA TEORIA DOS SISTEMAS ECOLÓGICOS Autor : José Luiz Lopes Vieira Orientador : Ruy Jornada Krebs O principal propósito deste estudo foi investigar quais fatores foram determinantes para que talentos de atletismo tenham abandonado o contexto esportivo no estado do paraná. Esta investigação teve como suporte teórico, a teoria dos sistemas ecológicos de BRONFENBRENNER (1979, 1992, 1995), e a teoria de especialização motora de KREBS (1992, 1993). Buscou-se investigar os atributos pessoais dos talentos; analisar como ocorreu o processo de especialização motora; identificar quais fatores foram determinantes; caracterizar os contextos e os períodos do abandono. O modelo de estudo utilizado foi o paradigma bioecológico pessoa – processo – contexto- tempo. Como instrumento de coleta dos dados utilizou-se: entrevistas semi-estruturadas, diário de pesquisa e documentos. Foram sujeitos vinte e nove pessoas sendo, dez talentos ex-atletas de atletismo do sexo masculino, dez familiares, cinco técnicos de atletismo e quatro dirigentes esportivos. Para a interpretação dos dados optou-se pela análise de conteúdo do tipo categorial, através de recortes, enumeração e escolha prévia de categorias. Com base nos resultados chegou-se as seguintes conclusões: as características antropométricas e físicomotoras, foram evidenciadas nas fases de estimulação e aprendizagem motora e, os atributos sócio-emocionais, força de vontade, determinação e dedicação na fase de especialização motora; na fase de estimulação motora foram vivenciadas atividades variadas realizadas na vizinhança próxima a família, na fase de aprendizagem dos vii talentos ocorreu a iniciação em diversas modalidades de esportes, principalmente, na escola através das nas aulas de educação física; na fase de prática intensificaram a participação em diversas provas do atletismo e, na fase de especialização dedicaramse exclusivamente a prova na qual tinham os melhores resultados, as fases de prática e especialização motora ocorreram nas equipes de atletismo. Os talentos deste estudo obtiveram seus melhores resultados em média de cinco anos antes a idade esperada caracterizando uma resultado esportivo precoce; os contextos onde ocorreram os fatores determinantes do abandono foram: a família, o local de trabalho dos pais, a equipe de atletismo, nas prefeituras municipais, na federação de atletismo, na escola/universidade no local de trabalho dos talentos e no governo estadual; com relação aos períodos, os fatores do abandono ocorreram entre o final da adolescência e o início da vida adulta, caracterizando um abandono esportivo precoce considerando as idades para os altos rendimentos; com relação aos fatores que levaram ao abandono foram classificados em: determinantes e intervenientes, os determinantes foram: oportunidade para trabalhar, casamento seguido de paternidade, extinção da fundação de esportes, falta de valorização da modalidade, discussão com o técnico e, “um conjunto de fatores”; os fatores intervenientes foram: maturação precoce, ter de estudar, busca por outras atividades, ter que trabalhar, lesões musculares, falecimento do pai, condição financeira da família, falta de estrutura da equipe, pressões familiares, interferência do pai no treino, falta de técnico, competir em categorias mais elevadas, desgaste psicológico, falta de orientação pessoal, falta de patrocínio, dependência da prefeitura e falta de valorização da modalidade. Diversos fatores intervieram ou determinaram mas, o abandono dependeu da seqüência e ocorrência desses fatores durante a vida pessoal e esportiva do talento, parecendo indicar que cada história de abandono é um processo único. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DO MOVIMENTO HUMANO Autor : José Luiz Lopes Vieira Orientador : Ruy Jornada Krebs Título : O processo de abandono de talentos do atletismo do estado do Paraná: Um estudo orientado pela teoria dos sistemas ecológicos Tese de Doutorado em Educação Física viii ABSTRACT THE ABANDONMENT PROCESS OF ATHLETICS TALENTS OR PARANÁ STATE: A STUDY GUIDED BY ECOLOGICAL SISTEMS THEORY Author: José Luiz Lopes Vieira Adviser: Ruy Jornada Krebs The main purpose of this study were to investigate which factors were decisive so that athletics talents have abandoned the sports context in the state of the Paraná. This investigation had as theoretical support, the theory of the ecological systems of BRONFENBRENNER (1979, 1992, 1995), and the theory of motor specialization of KREBS (1992, 1993). It was looked for to investigate the personal attributes of the talents; to analyze as it happened the process of motor specialization; to identify which factors were decisive; to characterize the contexts and the periods of the abandonment. The model of used study was the bioecological paradigm: person process - context - time. As instrument of collection of the data was used: semistructured interviews, research diary and documents. They were subject twenty-nine persons, ten talents former-athletes of athletics of the masculine sex, ten relatives, five athletics coachs and four sporting leaders. For the interpretation of the data opted for the analysis of content, type categorial, through cuttings, enumeration and previous choice of categories. Based in the results it was possible to get to following conclusions: the physical-motors and body characteristics,were evidenced in the stimulation and motor learning phases and, the psychological attributes, willpower, determination and dedication in the motor specialization phase; in stimulation phase they had varied activities accomplished in the close neighborhood the family, in the phase of learning of the talents it happened the initiation in several sports, mainly, in the school through the in the physical education classes; in the practice phase they intensified the participation in several tests of the athletics and, in the specialization phase they were devoted exclusively in which they had the best athletics results, the ix practice and mototor specialization phases they happened in the athletics teams. The talents of this study obtained its best results on the average before of five years the expected age characterizing a early for date sporting result; the contexts where happened the decisive factors of the abandonment were: the family, the place of the parents' work, the athletics team, in the city halls, in the athletics federation, in the university/high school, in the place of work of the talents and in the state government; with relationship to the periods, the factors of the abandonment happened between the end of the adolescence and the beginning of the adult life, characterizing a early for date sporting abandonment considering the ages for the high revenues; with relationship to the factors that took abandoned were classified in: decisive and intervening, the determinant were: opportunity to work, marriage followed by paternity, extinction of the sports context, lack of valorization of the modality, discussion with the coach and, "a group of factors "; the intervening factors were: early for date maturation, to have to study, it looks for for other activities, to have to work, muscular lesions, the father's death, financial condition of the family, lacks of structure of the team, family pressures, the father's interference in the training, lacks of coach, to compete in higher categories, wear away psychological, lack of personal orientation, patronage lack, dependence of the city hall and lack of valorization of the modality. Several factors intervened or they determined but, the abandonment depended on the sequence and occurrence of those factors during the personal and sporting life of the talent, seeming to indicate that each history of abandonment is an only process. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DO MOVIMENTO HUMANO Author : José Luiz Lopes Vieira Adviser : Ruy Jornada Krebs Title : The abandonment process of athletics talents of Paraná State: a study guided by ecological sistems theory Physical education doctoral thesis x SUMÁRIO vi RESUMO....................................................................................................................I viii ABSTRACT................................................................................................................ xii LISTA DE QUADROS.............................................................................................iv xiii LISTA DE FIGURAS................................................................................................ xivv LISTA DE ANEXOS................................................................................................. 1 1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................01 1 1.1 O problema e sua importância.......................................................................... 02 4 1.2 Objetivos............................................................................................................. 05 4 1.2.1 Objetivo geral ................................................................................................. 05 4 1.2.2 Objetivos específicos....................................................................................... 06 5 1.3 Delimitação do estudo........................................................................................ 06 5 1.4 Limitação do estudo........................................................................................... 07 6 1.5 Justificativas....................................................................................................... 07 6 1.6 Definição de termos............................................................................................ 07 7 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA...................................................................... 09 7 2.1 A teoria dos sistemas ecológicos........................................................................ 09 2.2 Atributos pessoais dos talentos esportivos em uma abordagem ecológica................................................................................ 10 13 2.2.1 Os atributos bio-fisiológicos de talentos esportivos...................................10 14 2.2.2 Os atributos sócio-emocionais de talentos esportivos................................13 16 2.3 Parâmetros do contexto esportivo em uma perspectiva desenvolvimentista............................................................................................. 17 20 2.3.1 Os microssistemas contexto esportivo e familiar de talentos esportivos... 19 22 2.3.2 O mesossistema e os exossistemas do contexto esportivo competitivo..... 23 27 2.3.3 O macrossistema do contexto esportivo competitivo.................................26 30 3 METODOLOGIA ................................................................................................28 33 3.1 O modelo do estudo............................................................................................28 33 xi 30 3.2 Contato com os informantes............................................................................. 36 3.3 Sujeitos do estudo............................................................................................... 31 36 32 3.4 Entrevista semi-estruturada............................................................................. 37 3.4.1 Transcrição das entrevistas......................................................................... 37 38 37 3.5 Estudo-piloto ..................................................................................................... 38 3.6 Análise documental............................................................................................ 38 42 3.7 Análise dos dados............................................................................................... 39 43 3.8 Validade interna e externa................................................................................ 41 44 42 4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS.............................. 45 42 4.1 O processo de desenvolvimento dos talentos do atletismo.............................46 4.1.1 Fase de estimulação motora dos talentos do atletismo............................... 43 48 4.1.2 Fase de aprendizagem motora dos talentos do atletismo........................... 50 4.1.3 Fase de prática motora dos talentos do atletismo....................................... 59 51 4.1.4 Fase de especialização motora dos talentos do atletismo........................... 68 52 4.2 O abandono de talentos do atletismo em relação ao contexto competitivo.................................................................................... 92 54 93 4.2.1 O timing vital e social............................................................................... 100 98 4.2.2 A interdependência................................................................................... 105 107 4.2.3 As trocas e continuidade.......................................................................... 110 116 5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES...................................................................... 120 6 REFERÊNCIAS BIBILIOGRÁFICAS............................................................ 120 123 ANEXOS................................................................................................................. 128 128 xii LISTA DE QUADROS QUADRO 1 – Características sócio demográficas das famílias dos talentos do atletismo.......................................................................... 47 QUADRO 2 – Características sócio demográficas dos técnicos dos talentos do atletismo......................................................................... 65 QUADRO 3 – Comparação entre as idades de início a prática, especialização e rendimento no atletismo talentos do atletismo......................................................................... 72 QUADRO 4 – Timing vital dos talentos do atletismo em relação ao rendimento e abandono esportivo................................................ 93 QUADRO 5 – Fatores determinantes e intervenientes no abandono de talentos do atletismo....................................................................... 112 xiii LISTA DE FIGURAS 18 FIGURA 1 – Esquematização da estrutura da teoria dos sistemas ecológicos........21 FIGURA 2 – Fluxograma do modelo de pesquisa construído para o estudo ..........3035 FIGURA 3 – Fluxograma construído para a coleta de dados das propriedades pessoais dos talentos do atletismo.................................3438 FIGURA 4 – Fluxograma construído para a coleta de dados dos parâmetros do contexto dos talentos do atletismo..............................3639 FIGURA 5 – Fluxograma de análise dos dados construído para o estudo...............4040 FIGURA 6 – Fase de estimulação motora de talentos esportivos do atletismo.......4545 FIGURA 7 – Mapa ecológico dos talentos do atletismo na fase de estimulação motora............................................................................5050 FIGURA 8 – Fase de aprendizagem motora de talentos esportivos do atletismo. 5455 FIGURA 9 – Mapa ecológico dos talentos do atletismo na fase de aprendizagem motora.........................................................................5967 FIGURA 10 – A fase de prática motora de talentos esportivos do atletismo............6170 FIGURA 11 – Mapa ecológico dos talentos do atletismo na fase de prática motora....................................................................................6889 FIGURA 12 – Modelo de especialização motora dos talentos esportivos do atletismo.......................................................................7198 FIGURA 13 – Mapa ecológico dos talentos do atletismo que abandonaram o esporte competitivo................................................. 90 100 xiv LISTA DE ANEXOS ANEXO I - 129 Ficha de identificação do atleta.................................................. 153 ANEXO II - 130 Roteiro da entrevista com o atleta.............................................. 154 ANEXO III - 132 Ficha de identificação dos pais do atleta.................................... 116 ANEXO IV- Roteiro da entrevista com os pais do atleta................................. 133 157 ANEXO V- Ficha de identificação do técnico do atleta...................................135 159 ANEXO VI - Roteiro da entrevista com o técnico do atleta.............................. 136 160 137 ANEXO VII - Ficha de identificação do dirigente esportivo............................. 165 138 ANEXO VIII - Roteiro da entrevista com o dirigente esportivo......................... 167 ANEXO IX - Normas para a transcrição de entrevistas.................................... 139 179 ANEXO X - 140 Matriz da entrevista semi-estruturada....................................... 187 ANEXO XI - Matriz de análise dos dados sócio demográficos 141 dos familiares dos talentos de atletismo.................................... 198 ANEXO XII - Matriz de análise dos dados sócio demográficos dos técnico de atletismo.............................................................. 142 107 ANEXO XIII - Matriz de análise dos dados sócio demográficos 143 dos talentos do atletismo............................................................ 112 ANEXO XIV - Matriz de análise do processo de especialização 144 motora dos talentos do atletismo............................................... 134 ANEXO XV - Matriz de análise dos atributos pessoais dos talentos do atletismo................................................................................. 145 114 ANEXO XVI - Matriz de análise dos parâmetros do contexto 146 da modalidade de atletismo....................................................... 145 147 ANEXO XVII - Matriz de análise do abandono de talentos do atletismo............ 167 1 INTRODUÇÃO 1.1 O problema e sua importância Uma das características básicas do ser humano é sua surpreendente diversidade. A configuração genética de cada pessoa influencia a sua proporcionalidade e composição corporal, inteligência e competência cognitiva ou parâmetros psicológicos como a personalidade e a motivação. Dessa forma, algumas pessoas poderão ser dotadas desde a infância com visualização espacial superior ou com reflexos particularmente velozes, mas como esses dotes genéticos são distribuídos permanece um mistério. Devido a esses dotes genéticos, indivíduos tem sido categorizados como prodígios, criativos, superdotados ou talentosos. Tais rótulos estão relacionados com o fascínio que as pessoas possuidoras dessas capacidades especiais despertam (WINNER, 1998). Nesse sentido, talentos desde a infância demonstram habilidades superiores acima da média nos mais diversos campos do domínio humano, como as artes, as ciências, a música e o esporte, entre outros. Por outro lado, quando consideramos o ambiente como um fator determinante para o desenvolvimento, o talento passa a ser considerado também como uma construção social, devirada de um rótulo de aprovação que colocamos sobre traços de um indivíduo os quais possuem uma valorização positiva em um contexto particular. Dessa forma, tanto a herança genética quanto o ambiente atuam no processo de desenvolvimento (CSIKSZENTMIHALYI et al. 1997). Para esse autor os traços individuais são parcialmente inerentes e parcialmente desenvolvidos conforme a pessoa cresce, o domínio cultural que se refere ao sistema de regras e crenças que definem os limites de desempenho como tendo significado e valor, e o ambiente social constituído pelas pessoas e as instituições que decidem se a tarefa ou o desempenho serão considerados valorizados ou não, interagem no processo de desenvolvimento do talento. 2 Embora o fenótipo diferencie o indivíduo em relação a média da população em determinados domínios, estudos realizados por BLOOM (1985) e CSIKSZENTMIHALYI et al. (1997), demonstraram a grande necessidade de recursos e investimentos materiais e humanos, para promover crianças a serem aceitas como talentos em um determinado campo ou área de atividade. Por exemplo, os pais de uma criança com dote musical ou esportivo, precisarão dedicar muito do seu tempo e dinheiro para encontrar tutores, professores ou técnicos, proporcionar transporte e acompanhar seus filhos através das aulas práticas, ensaios, competições e, acima de tudo encontrar os caminhos para sustentar o envolvimento e a disciplina, sem gerar na criança uma pressão de alta expectativa. Com esse entendimento, crianças são talentos em um sentido de potencial futuro. Para completar esse potencial terão que aprender a desempenhar o padrão do “estado da arte” no qual estão, em um nível de desempenho superior, e isso só acontecerá com as oportunidades para usar o seu talento depois de suas habilidades tiverem sido desenvolvidas. Assim, talento é melhor visto como sendo um processo desenvolvimentista do que um fenômeno de auto-realização, é um desenvolvimento que se desdobra por muitos anos, ou seja, ao longo do curso de vida. Durante a trajetória de desenvolvimento, o desperdício de um talento em potencial ou desistência no prosseguimento da realização em um determinado domínio é uma possibilidade que ocorre, principalmente, na juventude. Muitas razões tem sido empregadas para explicar esse fenômeno de desistência ou de falta de motivação. Para CSIKSZENTMIHALY & ROBERTSON (1986), adolescentes talentosos podem perder o interesse em sua área por não conseguirem manter a maestria nas destrezas requeridas devido a mudanças neurofisiológicas durante a puberdade. Outras explicações colocam a responsabilidade mais sobre a forma como as escolas proporcionam a informação para seus alunos, STANLEY & BENBOW (1986) alegam que a apatia, a frustração e os hábitos de grande falta de atenção, são certamente, o resultado de como a álgebra é ensinada nas escolas e concluem que a motivação para a matemática pode ser perdida. Também, BLOOM (1985), demonstrou que as crianças necessitavam do suporte de um grande número de indivíduos e instituições para desenvolver o seu talento. Sem a dedicação dos pais, técnicos e mentores, boas escolas e oportunidades desafiadoras, é muito difícil para adolescentes persistirem na disciplina que a cultivação do talento requer. 3 Especificamente com relação ao contexto esportivo, SINGER et al. (1993) citam que a mais interessante estrutura teórica para estudo do fenômeno de abandono dentro de uma população de indivíduos talentosos foi utilizada por CSIKZENTMIHALYI et al. (1997). Para esse autor o problema do abandono de jovens pode ser analisado através do mapa de desenvolvimento psicossocial de Erickson, que em sua teoria aponta as crises de identidade (adolescência), intimidade (final da adolescência) e generatividade (jovem adulto) como inevitáveis interseções onde os talentos esportivos podem decidir reestruturar seus objetivos e assim desistir ou perder a motivação em seu campo de interesse. Outras pesquisas objetivando identificar fatores responsáveis pelo abandono do envolvimento com o esporte competitivo foram realizadas utilizando diferentes categorias de sujeitos como: crianças, adolescentes, atletas ou não-atletas, quanto com diferentes modalidades esportivas, programas de atividades físicas ou programas com ênfase competitiva e foram sintetizadas por PETLICHKOFF (1996). Nessa síntese a autora identificou uma variedade de razões para que esse fenômeno ocorra, sendo que, a ênfase no vencer, atividade muito chata, muito tempo e insatisfação com a prática, conflito de interesses, ter outras atividades e ter que trabalhar, foram apontados como fatores primários que contribuem para a abandono de programas de atividade física ou do contexto do esporte competitivo. Sendo assim, os fatores que podem determinar o desperdício de um talento esportivo podem estar relacionados tanto com as propriedades pessoais dos talentos quanto podem estar situados no contexto esportivo competitivo. Portanto, devido a ampla diversidade de fatores e a complexidade de suas inter-relações, a teoria da ecologia do desenvolvimento humano proposta por BRONFENBRENNER (1987), cuja concepção teórica inclui a pessoa, o ambiente, a dinâmica das interações entre pessoa e ambiente e, como todo o processo, é afetado pela sociedade no qual esses ambientes estão inseridos, pode ser utilizada como referencial para estudo desse fenômeno. Nessa concepção teórica, os talentos são considerados como pessoas em uma perspectiva ecológica e, o contexto esportivo, como ambiente em uma abordagem desenvolvimentista, conforme pesquisa realizada por VIEIRA et al. (1998) sobre o processo de desenvolvimento de um talento esportivo. A partir dessa caracterização, pode-se estabelecer as conexões entre o talento e o contexto, que são os elementos que interagem no complexo processo que 4 pode culminar com o sucesso ou o abandono do envolvimento, no contexto esportivo competitivo. Embora a temática do abandono do contexto esportivo competitivo tenha sido objeto de pesquisa a nível internacional, principalmente na área da psicologia do esporte, no Brasil uma das poucas referências disponíveis foi realizada por ABREU (1993), tendo como sujeitos nadadores considerados drop-out com idade entre 12 e 15 anos. Com relação a talentos esportivos que abandonam o envolvimento com o contexto competitivo, numa revisão preliminar na literatura em nosso país não encontramos estudos disponíveis e, essa constatação fica mais evidente quando utilizamos como referência o Estado do Paraná. Portanto, face às considerações anteriores, o presente estudo pretende explorar a seguinte questão problema: Quais fatores foram determinantes para que talentos do atletismo tenham abandonado o contexto esportivo competitivo no Estado do Paraná? 1.2 Objetivos 1.2.1 Objetivo geral Investigar os fatores determinantes para que talentos do atletismo tenham abandonado o contexto esportivo competitivo. 1.2.2 Objetivos específicos Identificar que atributos pessoais tinham os talentos do atletismo que abandonaram o contexto esportivo competitivo; Analisar como ocorreu o processo de especialização motora de talentos de atletismo que abandonaram o contexto esportivo competitivo; Caracterizar em que contextos ocorreram os fatores determinantes para que talentos do atletismo tenham abandonado o contexto esportivo competitivo; 5 Identificar em que períodos ocorreram os fatores determinantes para que talentos tenham abandonado o contexto esportivo competitivo. Verificar quais fatores foram determinantes para que talentos do atletismo tenham abandonado o contexto esportivo competitivo. 1.3 Delimitação do estudo Este estudo foi delimitado aos talentos, ex-atletas de atletismo do sexo masculino, que nasceram a partir de 01 de janeiro de 1970 e que abandonaram o contexto competitivo entre de 01 de janeiro de 1990 e 31 de dezembro de 1998. Será limitado ainda, a talentos que nasceram e viveram no estado do Paraná. O estado do Paraná não se refere apenas ao aspecto demográfico, mas também, é caracterizado como sendo uma cultura onde determinados valores, atitudes e crenças norteiam a prática do esporte competitivo. Essa delimitação refere-se ao macrossistema e faz-se necessária para que seja possível compreender o desenvolvimento em contexto (BRONFENBRENNER, 1992). 1.4 Limitação do estudo Tendo a teoria da ecologia do desenvolvimento humano como suporte teórico, a pessoa em uma perspectiva ecológica tem como propriedades pessoais a competência cognitiva e os atributos sócio-emocionais. Em função dos estudos realizados na área do esporte identificarem, principalmente, as propriedades de aptidão motora e os atributos sócio-emocionais, nosso estudo não abordará a competência cognitiva. 6 1.5 Justificativas Este estudo justificou-se por investigar uma área carente de publicação científica que é a questão relacionada com a detecção e desenvolvimento de talentos esportivos, tendo como objetivos identificar e compreender os fenômenos relacionados com a abandono do esporte competitivo. Da mesma maneira, nas colocações de PETLICHKOFF (1996), sobre a necessidade do uso de metodologias de pesquisas qualitativas que possam examinar os fatores não quantificáveis por avaliações quantitativas. A autora salienta, que o uso de entrevistas informais aumenta a possibilidade de coleta de dados interativos e contextuais em relação aos métodos tradicionais. Justifica-se também por estar inserida nas linhas de pesquisa do laboratório de desenvolvimento humano do programa de pós-graduação em ciência do movimento humano da Universidade Federal de Santa Maria-RS. Através dessas linhas de pesquisa, este estudo procurou utilizar um referencial teórico atualizado e um suporte metodológico emergente na área de desenvolvimento humano. Finalmente, pela contribuição científica que proporcionará a uma área de estudo relevante para pesquisadores que investigam os processos do desenvolvimento humano e para os profissionais que atuam na formação e treinamento do esporte competitivo. 1.6 Definição de termos Talento – “Um alto nível não usual de demonstração de habilidade, realização ou destreza em alguma área especial de estudo ou interesse” (BLOOM, 1985, p. 5). Desenvolvimento – “Um conjunto de processos através dos quais as propriedades da pessoa e do ambiente interagem para produzir constância e mudança nas características da pessoa, ao longo da vida” (BRONFENBRENNER, 1992, p. 191). 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A partir de uma contextualização inicial da teoria dos sistemas ecológicos de Bronfenbrenner, este capítulo, abordará as propriedades pessoais de talentos esportivos em uma perspectiva ecológica com ênfase nos atributos bio-fisiológicos e sócio-emocionais. E, posteriormente, se refere aos parâmetros do contexto esportivo em uma perspectiva desenvolvimentista, considerando como microssistemas a modalidade esportiva e o contexto familiar; como mesossistema as interações entre a modalidade esportiva e o contexto familiar; como exossistemas os clubes, os patrocinadores, as federações, as secretarias de esportes municipais e estadual; e, a nível de macrosistema a cultura e ou subcultura na qual o talento e a modalidade esportiva estão inseridos. 2.1 A teoria dos Sistemas Ecológicos A teoria ecológica tem seus fundamentos na psicologia da Gestalt, que evoluiu como um movimento na Alemanha durante as primeiras décadas do início do século vinte. Para THOMAS (1995), essa concepção foi disseminada na América durante os anos vinte e trinta através de autores como Kurt Koffka (1886-1941), Kurt Lewin (1890-1947), Heinz Werner (1890- 1964) e Fritz Heider (1987-1988), que imigraram para os Estados Unidos aceitando convites para trabalhar em universidades. A psicologia ecológica deve parte de seu fundo evolutivo ao trabalho de Lewin e seus colaboradores durante os anos trinta, principalmente, na Universidade de Iowa. A palavra Gestalt reflete o ponto de vista da holística, ou da teoria de campo e quando aplicada ao desenvolvimento, concebe-o como um todo integrado. Nessa concepção, toda experiência nova significante pode alterar a relação de muitos, ou do todo, dos elementos existentes que compuseram a personalidade até esse ponto, assim, o padrão da individualidade inteira da pessoa é influenciado. 8 A partir dessa idéia básica os teóricos desenvolvimentistas propuseram uma variedade de abordagens para o entendimento das influências ambientais na vida de crianças. Um dos enfoques mais proeminentes foi sistematizado por BRONFENBRENNER (1987). Na ecologia do desenvolvimento humano de Bronfenbrenner o indivíduo vive em um processo contínuo de desenvolvimento, desde o nascimento até a sua morte, entendendo o desenvolvimento como uma mudança duradoura na maneira pela qual uma pessoa percebe e lida com o seu ambiente (BRONFENBRENNER, 1996; KREBS et al. 1997) Atualizando os conceitos, BRONFENBRENNER (1993), retratou a ecologia do desenvolvimento humano como: “O estudo científico da acomodação progressiva, mútua, ao longo do curso de vida, entre um ativo, crescente, organismo biopsicológico altamente complexo, caracterizado por um distinto e relacionado complexo de capacidades, dinâmicas evoluindo em pensamento sentimento e ação e, as propriedades variáveis dos ambientes imediatos nos quais a pessoa em desenvolvimento vive, como esse processo é afetado pelas relações entre estes ambiente e pelos contextos maiores nos quais os ambiente estão embutidos” (p. 7). BRONFENBRENNER (1995b), para referir-se de forma mais sucinta ao que ele já havia colocado como ecologia do desenvolvimento humano, utiliza o termo desenvolvimento em contexto. Inicia assim, a sistematização de novos paradigmas de pesquisa para estudo do desenvolvimento. KREBS et al. (1997), em uma revisão dos paradigmas de pesquisa situam como paradigma pioneiro os modelos de endereçamento social, e consideram como paradigmas para o presente e futuro os modelos pessoa-contexto, processo-contexto, processo-pessoa-contexto e do cronossistema. E, recentemente, BRONFENBRENNER & CECI (1994), apresentaram o modelo bioecológico, que é resultado da combinação dos modelos processo-pessoa-contexto e cronossistema, sendo constituído por quatro elementos: a pessoa, o processo, o contexto e o tempo (PPCT). Paralelo a elaboração dos modelos de pesquisa, Bronfenbrenner citado por KREBS et al. (1997), elaborou um suporte teórico com hipóteses e proposições que objetivaram fornecer direção para o estudo sistemático da interação organismo-ambiente. Essas proposições constituem o 9 conjunto de princípios que explicam toda a abrangência da Teoria dos Sistemas Ecológicos. No modelo bioecológico, com relação ao primeiro elemento, as propriedades da pessoa, em uma perspectiva ecológica incluem as características pessoais, considerando tanto os atributos cognitivos quanto os sócio-emocionais. Embora esses atributos sejam essenciais para o indivíduo, nem todas as características possuem igual potencial para influenciar o desenvolvimento. Nesse sentido, certas qualidades humanas são especialmente significativas para o seu desenvolvimento; no segundo elemento, os parâmetros do contexto em uma perspectiva desenvolvimentista são sistematizados em uma estrutura que inicia com o ambiente imediato denominado microssistema, passando pelos mesossistemas, exossistemas até o ambiente mais remoto caracterizado como macrossistema. Esses parâmetros do contexto possuem forças transacionais que conduzem o processo de desenvolvimento de uma forma dinâmica, colocando sempre em evidência a indissociabilidade entre as propriedades da pessoa e do contexto; o terceiro elemento, o processo é uma função conjunta da atuação das características do ambiente e da pessoa, é identificado por fenômenos que produzem um efeito maior que a soma de seus efeitos individuais (sinergia) através do qual o desenvolvimento emerge. Para BRONFENBRENNER & CECI (1994), o processo é objeto da interação dos efeitos moderadores tanto da pessoa quanto do contexto, que podem assumir duas formas: uma positiva e uma negativa. O positivo aumenta a influencia do outro efeito moderador ao mesmo tempo que protege possíveis influencias negativas. O efeito negativo atua de forma a exacerbar os efeitos negativos e aniquilar possíveis influencia positivas; e, finalmente, o quarto elemento caracterizado pelo tempo é um constructo que considera duas dimensões: o tempo personológico do indivíduo e a ordenação dos eventos em sua seqüência histórica e contextualizada. O tempo determina a ordem e o período das influências de eventos normativos e nãonormativos no curso da vida de um indivíduo. Finalizando, a partir dessa introdução a conceitos da ecologia do desenvolvimento humano e dos elementos do modelo bioecológico de Bronfenbrenner, os tópicos seguintes deste capítulo estão orientados de maneira a considerar o talento como a pessoa em uma perspectiva ecológica e, o contexto esportivo competitivo, em uma perspectiva desenvolvimentista. E a partir das inter- 10 relações que ocorrem entre o talento e o contexto esportivo, explorar a literatura referente ao fenômeno de abandono ou desistência do envolvimento com o contexto esportivo competitivo. 2.2 Atributos pessoais dos talentos esportivos em uma abordagem ecológica Sob a perspectiva ecológica, as propriedades pessoais devem ser abordadas dentro dos aspectos relevantes para o ambiente no qual o indivíduo está inserido. Entre as propriedades evidenciadas por Bronfenbrenner, segundo KREBS et al. (1997), estão a competência cognitiva, as características sócio-emocionais e motivacionais. Dessa forma, as avaliações da inteligência, personalidade, estágio de desenvolvimento cognitivo ou moral, são baseados em padrões de respostas experimentais em situações de laboratório. Para Bronfenbrenner, essas medidas não têm valorizado o status real dessas capacidades nas situações de vida cotidiana da pessoa. As investigações realizadas no contexto esportivo competitivo, apresentam uma diversidade de propriedades individuais que tem sido consideradas de fundamental importância para que indivíduos sejam categorizados como “talentos esportivos”. Os estudos tem se referido, principalmente, a fatores biológicos, morfológicos, fisiológicos, psicológicos, percepto-cognitivos, biomecânicos ou pedagógicos. Essas propriedades individuais consideradas relevantes podem determinar a continuidade ou descontinuidade do envolvimento do talento com o contexto esportivo competitivo e serão abordadas em dois subtópicos: o primeiro, refere-se aos atributos bio-fisiológicos e, o segundo, os atributos sócio-emocionais. 2.2.1 Os atributos bio-fisiológicos dos talentos esportivos Com relação aos atributos pessoais cujo enfoque identifica as características morfológicas, biomecânicas, biológicas ou fisiológicas, uma ampla diversidade de estudos na área esportiva investigaram que traços particulares de crianças e adolescentes seriam necessários para que esses fossem considerados talentos esportivos. Para Jacquard citado por MATSUDO (1996), atletas talentosos 11 freqüentemente apresentam um traço excepcional que exigem uma combinação genética extremamente rara. Assim, varáveis como altura, peso, adiposidade, força e velocidade muscular, capacidade aeróbica e anaeróbica, parecem ser altamente relacionados com o background genético. Embora essas variáveis possam ser estudadas tanto isoladamente como de forma combinada, a ênfase refere-se a identificação e seleção de talentos esportivos utilizando baterias de testes para determinar perfis esportivos. Com esse intuito, ACKLAN et al. (1990), em estudos com tenistas, apontam pontos de interesse para valores limitados de parâmetros físicos e fisiológicos quando usados isoladamente para identificar atletas talentosos, especialmente, durante a primeira adolescência. MATSUDO (1996) desenvolveu o perfil “Z”, para identificar indivíduos talentosos em relação a média da população normal, baseando-se em uma bateria de testes que combina vários parâmetros ou capacidades motoras como peso, altura, adiposidade, corridas e saltos. Dessa forma, uma grande variedade de propriedades bio-fisiológicas são consideradas importantes para a identificação e seleção de talentos que iniciam o desenvolvimento, ou participam em programas cuja ênfase visa a competição. Ainda, com relação à detecção de talentos no contexto esportivo, SOBRAL (1988), comenta que esta é uma tarefa com ressonâncias magnética, sobrenatural, implicando um dom tão pessoal e intransmissível, como o que se requer para detectar uma corrente de água subterrânea. Para outros, evoca um intrincado aparato de métodos e instrumentos que conferem ao treino desportivo um cenário próximo a ficção científica. Os exemplos de Sobral são contemplados na classificação realizada por RÉGNIER et. al. (1993), que categoriza a detecção de talentos, como sendo realizada através de duas possibilidades: a primeira denominada de top-down (de cima para baixo), nessa categoria a detecção é realizada com base em dados científicos, com métodos pré-estabelcidos de investigação, acúmulo de resultados e, contrastam com a segunda abordagem, denominada botton-up (de baixo para cima), onde os elementos para a detecção são provenientes do contexto ou da sabedoria coletiva, onde a informação necessária para a detecção é retirada dos expertes na área, através da dedução intuitiva. Apesar da variedade e controvertida temática sobre detecção de talentos, dezenas de milhões de crianças e adolescentes em todo o mundo frequentemente se 12 engajam em alguma forma de esporte organizado competitivo (BRUSTAD, 1995). O amplo envolvimentos de jovens em programas de esporte organizado tem sido, geralmente, objeto de considerável especulação e controvérsia, devido às conseqüências psicológicas da participação esportiva precoce. Até recentemente, essas discussões tem sido alimentadas amplamente mais pela opinião do que por pesquisas. Por outro lado, durante a participação nesses programas essas características pessoais físicas, motoras ou psicológicas, podem levar a uma limitação ou eliminação da prática esportiva competitiva. Isso ocorre, em parte, devido ao dramático aumento do índice de lesões entre os atletas. Essas lesões, consequentemente, podem conduzir ao abandono do contexto competitivo de alto rendimento. SINGER et al. (1993), em uma revisão de literatura sobre essa temática, sugerem que as lesões podem resultar em sério stress manifestando depressão, devido a substancial abuso, as quais podem gerar crises de identidade e de retirada social ou medo e ansiedade. Também originam uma baixa auto-estima e, esses autores, relatam que 24 % de membros de equipes nacionais tchecas e 15% de tenistas profissionais foram forçados a abandonar suas carreiras devido a lesões. MICHELE (1996), aponta os principais fatores causadores de lesões que são: (a) erro de treinamento ou erro da técnica utilizada; (b) desequilíbrio entre tendão e músculo; (c) mal alinhamento anatômico; (d) problemas com o calçado utilizado; (e) superfície do local de treino ou jogo; (f) estado de doença associado; (g) fatores de gênero; e (h) falta de condições culturais e crescimento. Para BACKX (1996), tem aumentado consideravelmente a participação de crianças e adolescentes em esporte de alta intensidade existindo, portanto, a necessidade do monitoramento da incidência de lesões por excesso de uso ou repetição exagerada de movimentos, sendo essa uma área de desafio para futuras pesquisas. Para CASAL (1998), as sensações de fadiga, super valorização da atividade física, o esforço demasiado e a dificuldade de experimentar emoções positivas e as alterações de sono, afetam a personalidade do indivíduo a nível biológico, cognitivo e comportamental. WEISS & CHAUMETON (1992), evidenciaram que as causas do abandono do contexto esportivo competitivo podem ser múltiplas e evidenciam a falta de habilidade, a pouca melhoria do desempenho e as experiências esportivas negativas. Pesquisas enfocando a falta de aptidão motora ou a carência de parâmetros 13 fisiológicos e biomecânicos que determinam um baixo rendimento tem sido relatadas como baixa percepção de competência atlética. Dessa maneira, as investigações realizadas na área da psicologia do esporte tem explorado uma maior quantidade de fatores motivadores para o abandono da atividade competitiva. 2.2.2 Os atributos sócio-emocionais de talentos esportivos Os atributos sócio-emocionais, quanto considerados em relação ao contexto esportivo, tem sido estudados pela área de psicologia esportiva. A personalidade, a motivação, o stress e a ansiedade, entre outros, tem sido objetos de estudo e esses mecanismos psicológicos são manifestados pela maneira consistente na qual a pessoa se comporta em função da situação, do tempo e do ambiente. Com relação à personalidade, as investigações realizadas caracterizam esse atributo como traços de personalidade e, quando enfocam o contexto esportivo, concluem que apesar da qualidade e quantidade dos esforços realizados permanece a sensação que o esforço despendido não tem sido compensador em relação aos resultados alcançados. Na realidade, a investigação tem negado a crença de uma “personalidade atlética” com traços bem definidos, sendo que a diferença entre atletas e não atletas, está mais presente quando os desportistas estudados possuem o mais alto nível de rendimento, e estejam por muito tempo vinculados à prática esportiva sistemática. Se essas diferenças são difíceis de ser encontradas entre atletas de alto rendimento, é de se esperar que não sejam encontradas em atletas mais jovens (CASAL, 1998). As teorias que abordam a personalidade, com raras excessões, concebem a motivação como o aspecto central da regulação da conduta. Portanto, a motivação contribui para a energia, direção e persistência em um dado comportamento ou atividade. Com relação aos motivos que levam adolescentes e jovens a participar de atividades esportivas, os relatos de WEISS & CHAUMETON (1992), sintetizando dados entre os anos de 1983 e 1990, identificaram como motivos principais o desejo de aprender e se aperfeiçoar em esportes, a manutenção de uma forma física, a afiliação, a competência e a diversão e, como motivos secundários, aparecem vários desses motivos combinados, sendo que as repostas não parecem diferir em relação a sexo, idade ou tipo ou experiência desportiva. 14 Para Rudik apud CASAL (1998), os motivos podem ser diretos ou indiretos. Os diretos são os sentimentos de satisfação do desportista com sua prática, a plasticidade derivada da beleza dos próprios movimentos, a aspiração em realizar exercícios difíceis e perigosos, os elementos da competição e desejo de alcançar recordes e resultados através de sua maestria no esporte. Os motivos indiretos são a aspiração de ser forte, vigoroso, e o desejo de preparar-se para a atividade física e a compreensão da importância social da atividade desportiva. Segundo PUNI (1970), existe um processo motivacional, a qual descreve em três fases: (a) a fase inicial, na qual divide-se a atração emocional para: o exercício físico, para o cumprimento das obrigações e para a necessidade da atividade condicionada como forma de vida; (b) a segunda fase é a da especialização no esporte, que é caracterizada pelo surgimento e desenvolvimento do interesse em certo esporte pelo desenvolvimento de aspirações, a saturação de emoções experimentadas pelo êxito esportivo e a ampliação de conhecimentos especiais da técnica; (c) a terceira fase é a da maestria esportiva cujos motivos fundamentais são: a aspiração de manter a maestria adquirida e conseguir melhores resultados, a aspiração de servir a pátria com êxito, conquistar novos recordes, a aspiração de contribuir para o desenvolvimento do esporte escolhido e também o desejo de transmitir a experiência a pessoa mais jovens. Conhecer os motivos que impulsionam a prática e especialização desportiva são importantes, mas faz-se necessário conhecer porque muitos adolescentes e jovens abandonam a atividade atlética ou esportiva de alto rendimento. Segundo WEISS & CHAUMETON (1992), as causas são múltiplas, e entre essas, aparecem os conflitos de interesse com outras atividades, a pressão competitiva e o demasiado tempo dedicado a prática esportiva. Em um estudo realizado, ORLICK (1974), encontrou diferenças nas causas de abandono do esporte em função da idade, as crianças com menos de dez anos indicam a perda de tempo dedicando-se ao jogo e falta de experiência de êxito, sendo que, os maiores indicam conflitos de interesse com sua atividade principal ou com outros interesses extracurriculares. Já, GOULD et al. (1982), em pesquisa realizada com cinqüenta ex-nadadores com idades variando entre dez e dezoito anos, o motivo mais freqüente citado foram outras coisas para fazer, falta de alegria, querer participar em outro esporte e não era tão bom como eu pensei ser. Na média, 84% 15 dos nadadores identificaram fatores relacionados com conflito de interesse como o motivo mais importante para abandonar o envolvimento com a natação. KLINT & WEISS (1986), analisando o abandono da contexto esportivo competitivo de trinta e sete ex-ginastas, indicaram que uma das principais razões foram o desejo de perseguir outros interesses. Outros aspectos de ordem psicológica possuem efeitos negativos sobre o indivíduo e, dessa forma, podem levar ao abandono da atividade física. Esses fatores adversos estão ligados aos fenômenos denominadas de stress e ansiedade. Sobre pressão competitiva, qualquer atividade pode gerar emoções negativas como a perda do prazer e o desfrute da atividade. Isso pode acarretar a perda da motivação e consequentemente ao abandono da atividade ou a sua realização de maneira resignada, como quando é obrigatória a participação, por exemplo, no caso das aulas de educação física. Para SAMULSKI (1996), o stress aparece sempre quando se apresenta um desequilíbrio entre a condição da ação individual e situacional. A reação a esse desequilíbrio transcorre em três fases: a fase do alarme, que se caracteriza pela mobilização das forças de defesa do organismo; a fase de resistência, se caracteriza pela obtenção de um estado de adaptação ótimo, pelo organismo, as condições ambientais e, a fase de esgotamento, ocorre devido a continuidade do fator estressante após o consumo das energias de adaptação. A criança e o adolescente, ao contrário do adulto, encontram-se sujeitos a um grande número de transformações físicas, biológicas, psíquicas e sociais que exigem, para a sua participação na prática desportiva, uma orientação com característIcas próprias e que respeite essas particularidades. O treinamento e a competição dirigida e orientada para alcançar com as crianças e jovens, em uma modalidade esportiva , um êxito imediato ou a curto prazo apresenta, normalmente, conseqüências negativas (COELHO, 1988). Nesse sentido, o esporte competitivo é um evento causador de stress devido ao nível de exigência para o desempenho das habilidades esportivas. Para FEIJÓ (1998), o atleta como qualquer outro indivíduo, ao enfrentar o volume de exigências de seu meio social, cada qual de acordo com sua experiência, reage com maior ou menor nível de stress, assim existem padrões pessoais de stress, que podem e devem ser superados. Em níveis extremos o stress, pode ser um fator de abandono do 16 ambiente de competição, que também é verificado no caso de atletas de elite e são denominados como os burnout. Para PETLICHKOFF (1996), o fenômeno burnout, quando causado devido ao stress da situação desportiva onde o ambiente é visto como altamente adverso e pode ser considerado pela pessoa como insuportável, tornando-se um stress crônico. Para OGILVIE & TAYLOR (1993), o êxito pode levar a sintomas de síndrome e fobias, por um crescimento na solidão social e emocional, sentimentos de culpa em relação a nova auto afirmação, o aumento das exigências externas, o medo inconsciente dos costumes sociais e, o próprio peso emocional relacionado com o êxito. SCANLAN et al. (1989), usando dados de entrevista com ex-atletas de patinação artística, identificaram fontes de stress durante a carreira competitiva, e usando um modelo de análise de conteúdo, identificaram as cinco principais fontes desse stress: (1) aspectos negativos da competição; (2) relacionamentos negativos com outros significantes; (3) a relação custos\exigências; (4) esforço pessoal; (5) experiências traumáticas. Portanto, uma das principais tarefas para professores e técnicos é manter o interesse de alunos e atletas em aprender, ao invés de, fornecer uma grande quantidade de informações nas quais eles não estão interessados. Apesar da tendência geral para ignorar os fatores de motivação, personalidade e stress, existe suficiente evidência que certos estados psicológicos interferem na aprendizagem. Com essa perspectiva, tanto os atributos bio-fisiológicos quanto os sócio-emocionais tem sido apontados como as propriedades mais relevantes para que talentos esportivos tenham sucesso no ambiente esportivo competitivo. Mas, uma análise considerando apenas esses atributos pessoais dos talentos esportivos não é suficiente para a compreensão do processo que conduz ao sucesso ou ao fracasso, assim, é indispensável considerarmos também os parâmetros do contexto esportivo onde esses atributos são aprimorados ou inibidos, bem como, considerar as interrelações entre a pessoa e o contexto. 2.3 Parâmetros do contexto esportivo em uma perspectiva desenvolvimentista 17 Para BRONFENBRENNER (1993), os parâmetros do contexto estão estruturados de forma a sistematizar a interação organismo-ambiente no processo de desenvolvimento humano. O ambiente ecológico é visto como um conjunto de estruturas seriadas denominadas de microssistema, mesossistema, exossistema e macrossistema, sendo que cada uma está inserida dentro da seguinte. No nível mais interno está a pessoa em desenvolvimento em seus ambientes imediatos, a casa, a escola, os vizinhos e o clube caracterizados como microssistemas. No ambiente seguinte, estão as relações que existem entre esses ambientes, casa-escola, casa-clube, essas inter-ligações são denominadas mesossistemas. As formas de inter-relações entre os microssistemas foram definidas por Bronfenbrenner como as forças do existentes no mesossistema e são assim denominadas: participação multiambiental, laços indiretos, conhecimento interamabiental e comunicação interambiental. O terceiro nível do ambiente ecológico chamado de exossistema hipotetiza que o desenvolvimento da pessoa é afetado por fatores que ocorrem em ambientes nos quais a pessoa em desenvolvimento não participa, como o local de trabalho dos pais e, por último o macrossistema, que é a cultura ou subcultura que contorna os três níveis do ambiente ecológico, onde a pessoa em desenvolvimento está inserida. A representação da estrutura dos sistemas ecológicos é apresentada na Figura 1. 18 MACROSSISTEMA Atitudes e ideologias da cultura Valores EXOSSISTEMA MESOSSISTEMA Mídia Costumes Redes de apoio MICROSSISTEMA comunidade Amigos da Família igreja Criança família escola Local de Trabalho do pai ou mãe Leis Serviços comunitários Atitudes Cronossistema: Padronização de eventos ambientais e transições através do curso da vida: condições sócio-históricas FIGURA 1- Esquematização da estrutura da teoria dos sistemas ecológicos, com base em KREBS (1995, p.45). Considerando, portanto, a estrutura do esporte competitivo como contexto em uma perspectiva desenvolvimentista, os subtópicos seguintes abordam como parâmetros: (a) a nível de microssistema, tanto a modalidade esportiva quanto a família, ou seja, os ambientes nos quais o talento esportivo vive; (b) a nível de mesossistema, as relações modalidade esportiva-família; (c) a nível de exossistema, as secretarias de esporte, federações, os patrocinadores e outras instituições que estruturam a modalidade esportiva e (d) a nível de macrossistema, os valores e crenças da cultura e subcultura na qual o talento está inserido e que de alguma forma contribuem para a permanência ou o abandono do envolvimento com o esporte competitivo de alto rendimento. 2.3.1 Os microssistemas contexto esportivo e familiar de talentos esportivos 19 O microssistema é a unidade básica do modelo de análise de BRONFENBRENNER (1987), “sendo caracterizado por um padrão de atividades, papéis e relações interpessoais experenciadas pela pessoa em desenvolvimento em um determinado ambiente com particulares características físicas e materiais” (p.22). O termo atividades se refere ao que as pessoas estão fazendo, papéis são as ações esperadas das pessoas que defendem uma posição na sociedade como a posição do pai, do irmão mais velho, do amigo, do treinador e outras, e as relações interpessoais são os modos como as pessoas tratam um ao outro, como mostrado pelo que eles dizem e fazem junto. Assim, as atividades, papéis e relações interpessoais para Bronfenbrenner formam um gestalt que interagem em um campo de comportamento (sistema) no qual uma mudança em um de seus componentes poderia afetar a configuração inteira e poderia produzir um novo significado para a pessoa (THOMAS, 1995). Portanto, não só as características pessoais da criança instigam o seu desenvolvimento, mas o ambiente inicia transações que promovem ou inibem o desenvolvimento. A criança é afetada fortemente pelo que lhe é dito ou lhe feito na presença dos pais, irmãos professores, treinadores, líderes de clubes ou outros significantes. Bronfenbrenner continuou elaborando a sua teoria e refez definições chaves, tornando-as mais complexas para acomodar recentes evoluções de seu esquema como, por exemplo, a definição de microssistema, cuja versão original está escrita abaixo em letras romanas e a porção em itálico é um adendo do ano de 1993, que reflete as características instigativas do desenvolvimento : “Um microssistema é um padrão de atividades, papéis e relações interpessoais experenciados pela pessoa em desenvolvimento em um determinado ambiente com particulares características físicas, sociais e simbólicas que convidam, permitem ou inibem, o engajamento sustentado em atividades progressivamente mais complexas em interação com o meio ambiente imediato” (BRONFENBRENNER, 1993, p. 15) A partir da definição de Bronfenbrenner, o contexto esportivo competitivo de alto rendimento, por apresentar os elementos necessários, atividades, papéis e 20 relações interpessoais, pode ser categorizado como um microssistema, e assim, analisado dentro dos parâmetros desse enfoque teórico, como foi demonstrado por VIEIRA et al. (1998). Esse contexto para BRUSTAD (1995), é vivenciado por dezenas de milhares de crianças e adolescentes ao redor do mundo que estão envolvidos em alguma forma de esporte competitivo. Esse extensivo envolvimento de jovens em programas de esporte estruturado, tem gerado considerável especulação e controvérsia sobre a participação esportiva precoce, qual a idade apropriada para crianças começarem a competir e quais os motivos para participarem ou abandonarem o esporte. Entender as razões que determinam o fim da participação é particularmente importante, pois provavelmente este é causado por uma experiência psicológica indesejável ou desagradável para jovens atletas (CASAL, 1998). O contexto esportivo é claramente orientado para o desempenho onde o indivíduo ou a equipe luta para realizar seus objetivos e atingir um padrão de excelência. O indivíduo é responsável pelos seus comportamentos, os quais conduzem ao resultado e, o processo, é avaliado por ele mesmo e por outros presentes, que o avaliam em termos de sucesso ou fracasso. Esse é também um ambiente onde crianças e adolescentes podem utilizar o processo de comparação social para determinar seu posicionamento perante o grupo e determinar seu próprio valor. EVANS & ROBERTS (1987), tem sugerido que o ambiente esportivo é importante para que as crianças determinem seus padrões de amizade e relatam que meninos e meninas preferem ser mais bem sucedidos no ambiente esportivo do que no contexto de sala de aula. Mas um paradoxo existe, além do esporte ser visto como um contexto altamente desejável no qual as crianças, aparentemente, se realizam, por outro lado muitas delas acabam perdendo a motivação e abandonam a experiência esportiva competitiva. Para SEEFELDT et al. (1978), aos dezessete anos 80% dos adolescentes, de seu estudo, abandonaram o contexto esportivo, e entre as causas mais citadas para esse abandono, indicam a experiência esportiva negativa, muita pressão por parte dos adultos, alta ênfase no vencer, além do conflito de interesse como aspectos responsáveis pela alta taxa de abandono do esporte competitivo. ORLICK (1973), entrevistando jovens entre 7-18 anos sobre suas intenções futuras no esporte, encontrou indicativos que a maioria decidiu que não continuariam 21 sua participação no próximo ano, citando os aspectos negativos no envolvimento. Esses aspectos incluem a falta de tempo para jogar, a ênfase competitiva do programa e a ênfase no vencer. Tais estudos sugerem que a estrutura de esporte para jovens estava inadequada em encontrar os motivos para a participação e era responsável pelo seu comportamento de abandono. A orientação para a competição ou a vitória tem sido apontado como um fator motivacional dentro do esporte, afetando a persistência na prática da atividade esportiva. Dados de Ewing citado PETLICHKOFF (1996), indicam que a orientação para a superação possui um efeito de incrementar a persistência na atividade, sendo que entre estudantes de 14-15 anos orientados em direção à vitória, tendiam a abandonar o esporte. DUDA (1989), constatou que aqueles que se orientavam em direção a auto-superação permaneceriam mais tempo praticando o esporte selecionado. No contexto esportivo, o sucesso é tipicamente definido por vitória na competição e, nesse sentido vencer é algo claro e pouco ambíguo. Mas aderir a essa crença e colocar a principal ênfase no resultado cria uma situação onde são dadas poucas oportunidades para as crianças orientarem suas experiências para a maestria. Se as crianças percebem que tem pouca chance de desenvolver as habilidades necessárias para serem jogadoras, então, muito provavelmente abandonam ou empregam uma estratégia de mal adaptação. Para WEISS & CHAUMETON (1992), são múltiplas as causas para o abandono e devido a necessidade de alta persistência na atividade esportiva gera conflitos de interesse com outras atividades ou mesmo interferir na relação interpessoal técnico-talento, ocasionando um mal relacionamento com o treinador. Por outro lado, a família como outro microssistema imediato, onde vive o talento esportivo, deve ser considerada de extrema importância no processo de desenvolvimento. Na família o talento também vivencia atividades, relações interpessoais e papéis, sendo portanto, de extrema relevância abordar essa estrutura social. Os familiares constituem umas das fontes de maior influência quando do envolvimento do filho em atividades competitivas. Nesse sentido, a influencia dos pais sobre o filho desportista será benéfica se treinadores promoverem o envolvimento dos pais com a atividade esportiva do filho. GONZÁLEZ (1997), cita algumas precauções dos treinadores em relação aos pais, visando otimizar a 22 participação desses na atividade esportiva dos filhos: informar aos pais os interesses da equipe; convencer os pais, que a participação dos filhos, principalmente, durante a fase juvenil, melhora a condição física, forma o caráter, promove habilidades sociais, mantém a família unida e proporciona experiência positivas; levar ao conhecimento dos pais que o treinador se preocupa com o bem estar de seus filhos; o treinador deve convencer os pais que o êxito não é apenas ganhar, mas esforçar-se muito para alcançar a vitória; mostrar aos familiares que os conhece e se preocupa em manter uma boa relação com eles e, as funções do treinador e dos pais, perante os filhos, devem estar muito bem delimitadas, onde os pais não devem interferir no trabalho do treinador. CSIKSZENTMIHALYI et al. (1997), são enfáticos em valorizar a importância dos pais para o desenvolvimento do talento e quão suportativos eles são emocionalmente em relação aos talentos quanto mais esses persistiram na manutenção do interesse em sua área de maestria. Assim, o meio familiar é outro elemento determinante crucial. O talento pode ser negligenciado se tem privação de experiências ou conflitos com os pais. Dessa forma, a família é fundamental na educação de traços desejáveis para o desenvolvimento de talentos. Esse autor coloca três aspectos fundamentais da importância dos pais e do ambiente familiar: (a) o que famílias oferecem a nível de informações na área de conhecimento do talento; (b) o que família proporciona a nível de motivação, encorajamento e suporte; e, (c) o que a família possibilita de disciplina e conjunto de hábitos que permitam a pessoa estudar e concentrar sobre um domínio, o tempo suficiente para desenvolver as destrezas exigidas para um desempenho superior. Para BLOOM (1985), a motivação dos jovens é também profundamente influenciada pelo ambiente social no qual o vivem. Quanto tempo e esforço eles devotam para estudar e praticar depende em grande parte do material e do suporte emocional que seus pais são capazes de dispor. Mesmo que muitos gênios tenham tido a capacidade de se superar em circunstancias familiares precocemente desastrosas, é provável que muitos mais teriam florescido se suas famílias tivessem proporcionado um caminho mais seguro. Atributos pessoais, hábitos, famílias e escolas não são suficientes para entender a motivação de talentos para devotar grande parte do tempo estudando química, música ou treinando em ginásios. Depende também da qualidade da 23 experiência que pode ser obtida no trabalho, no laboratório ou praticando a atividade desejada. Sobre isso os indivíduos bem sucedidos em desenvolver seu talento comentam que tem prazer na realização de sua atividade. Atletas, artistas, artesões e cientistas tendem a descrever o uso de seu talento como altamente prazeroso. Talentos parecem demonstrar que apreciam sua atividade e não são distraídos, em questões externas se mantém realizando a tarefa com o passar do tempo e, irão abordar isso mais criativamente, do que se a atividade fosse extrinsecamente recompensada e não sob o seu controle pessoal. Mas, o desempenho de sua área de interesse, certamente, está sujeita às influências de outras pessoas e ambientes e, uma análise dessas estruturas, é essencial para a compreensão de fatores que promovem a continuidade ou descontinuidade do processo de desenvolvimento. 2.3.2 O mesossistema e os exossistemas do contexto esportivo competitivo O segundo nível da estrutura esquematizada por Bronfenbrenner é denominada de mesossistema. Mesossistema não é caracterizado por um ambiente específico, mas sim, pelas relações e interações que ocorrem entre ambientes nos quais a pessoa em desenvolvimento participa ativamente. Na definição apresentada a seguir, o segmento em tipo romano é a versão anterior e a porção itálica é a versão elaborada mais recentemente por BRONFENBRENNER (1993): “Um mesossistema inclui as interligações e processos que acontecem entre dois ou mais ambientes que contêm a pessoa em desenvolvimento. É enfocada atenção especial nos efeitos sinergéticos criados pela interação instigativa do desenvolvimento ou características inibitórias e os processos presentes em cada ambiente” (p.22). Como se fossem passagens de mão dupla, o padrão de inter relacionamento entre microssistemas pode influenciar as percepções da criança e comportamento dentro de quaisquer dos ambientes nos quais a pessoa está no momento localizada. Por exemplo, a experiência de crianças na sala de aula em qualquer dia é tipicamente afetada pela impressões das atitudes dos seus pais e dos seus colegas significantes. 24 Da mesma forma, o que ocorre com o talento durante sua atividade no contexto esportivo pode ser afetado por uma atividade que tenha que ser desempenhada no seio familiar, assim, muito do que ocorre no contexto familiar é compartilhado pelo contexto esportivo do talento e vice versa. Por exemplo, MIHOVILOVIC (1968), cita que uma das causas para o término da carreira esportiva está relacionado com razões familiares, principalmente, devido a uma exagerada interferência de pais na atividade do filho. O envolvimento dos pais no ambiente da equipe onde o filho pratica o esporte competitivo pode ter influencia negativa. GONZÁLEZ (1997), ressalta algumas influências negativas que envolvem pais e contexto esportivo competitivo dos filhos: os pais podem tentar alcançar seus desejos servindo-se dos filhos como instrumento; os pais podem sentir ciúmes da relação entre seus filhos e o treinador criando um conflito e aumentando a ansiedade dos filhos; os problemas entre pais e filhos podem ser passados para o ambiente esportivo e, os pais podem utilizar de maus resultados esportivos dos filhos para retirá-los do ambiente competitivo. A condição financeira da família, pode influenciar como um fator decisivo da continuidade do envolvimento do filho com a atividade esportiva, SAPP & HAUBENSTRICKERS (1978), referiram que aspectos negativos, foram identificados com relação entre idade e abandono da atividade esportiva, onde 15% do descontínuo no esporte corre por razões como, ter que trabalhar, freqüentemente citadas por jovens mais velhos e, outras razões, por crianças mais jovens. Dessa forma, as ligações entre atleta-técnico, pai-técnico, status sócio-econômico da família-tempo de desempenho do treinamento, são variáveis que poderão levar ao abandono do esporte competitivo. Outras estruturas sociais podem determinar esse abandono, e são sistematizadas a nível de exossistema. Na estrutura seguinte de Bronfenbrenner, o exossistema é assim definido: “O exossistema inclui as interligações e processos que acontecem entre dois ou mais ambientes, pelo menos em um dos quais não contém a pessoa em desenvolvimento, mas no qual eventos acontecem que indiretamente influenciam o processo dentro do ambiente imediato no qual a pessoa em desenvolvimento vive” ( BRONFENBRENNER, 1993, p. 22). 25 Essa definição de exossistema envolve as interligações entre possíveis eventos que ocorrem, por exemplo, no ambiente familiar do técnico, na secretaria municipal de esportes, no clube ou em qualquer esfera do esporte institucionalizado e, que de alguma maneira, podem afetar o envolvimento do talento com a prática da modalidade esportiva. Essa definição possibilita a abordagem do contexto esportivo em uma perspectiva mais ampla, devido a estrutura das instituições que normatizam ou regulamentam a atividade competitiva. Assim, a modalidade esportiva na qual está inserido o talento está subordinada às decisões que ocorrem em ambientes mais remotos como as secretarias de esportes, federações e confederações e patrocinadores. Nesses ambientes o talento não participa ativamente mas ocorrem eventos que podem conduzir ao abandono do envolvimento com o esporte competitivo. O esporte possui diversas dimensões, entre essas, a dimensão social. Para TUBINO (1992), é socialmente importante, ao exigir uma organização complexa de investimentos, nesse sentido, cada vez mais passa a ser uma responsabilidade social, principalmente, da iniciativa privada. Devido aos seus objetivos, espetáculo e rendimento, essa dimensão de esporte traz consigo os propósitos de novos êxitos e vitórias conquistadas com regras pré establecidas pelos organismos internacionais de cada modalidade. Para o autor há uma tendência natural que seja praticado pelos talentos esportivos. PETLICHKOFF (1996), cita como razões para o término da carreira esportiva competitiva: os problemas com os técnicos, a estrutura organizacional do esporte e dificuldades financeiras. Dessa forma, o abandono desportivo não está necessariamente vinculado com o fracasso mas, também pode estar relacionado com a vitoria. O êxito pode ser o fator mais importante do estresse, atletas de elite parecem estar preparados para ganhar, mas não estão preparados para enfrentar os estados afetivos posteriores à vitória. Nesse caso, aumentam as demandas e as exigência posteriores como, a comunicação com pessoas, as aparições públicas, os contratos com patrocinadores, publicidade, entre outros. 2.3.3 O macrossistema do contexto esportivo competitivo 26 A mais distante influência nas experiências imediatas da criança é a ordem de atitudes, práticas e convicções compartilhadas ao longo da sociedade em sua forma mais ampla. O macrossistema é composto pelo ambiente cultural onde estão embutidos o micro, o meso e os exossistemas e caracteriza a delimitação mais ampla do processo do desenvolvimento em contexto. Sua definição é: “O macrossistema consiste de todo um padrão de micro, meso e exossistemas característicos de uma determinada cultura ou outro contexto social maior, com um particular referencial desenvolvimentista-instigativo para o sistema de crenças, recursos, riscos, estilos de vida, estruturas, oportunidades, opções de vida e padrões de intercâmbio social que estão incluídos em cada um desses sistemas. O macrossistema pode ser visto como a arquitetura societal de uma cultura particular, subcultura ou outro contexto social maior” (BRONFENBRENNNER, 1992, p. 228). Portanto, o macrossistema caracterizado como a cultura é o contexto mais amplo que proporciona as oportunidades para o talento, que dispondo de uma excepcional capacidade de desempenho, seja reconhecido em um determinado campo de acordo com os critérios estabelecidos como relevante por esse domínio. Para que esse talento se desenvolva, de acordo com CSIKZENTMIHALYI et al. (1997) a cultura deve encorajá-lo através de três maneiras: (a) promovendo o domínio - uma vez que o domínio é organizado em bases eficientes torna-se fácil medir o desempenho e consequentemente reconhecer um talento promissor. É mais fácil de se falar em talento para jogar xadrez do que em matemática, matemática do que música, música do que arte e arte do que em excelência moral. Assim, xadrez é um conjunto de regras claras, como domínio definido, claramente estruturado, é fácil reconhecer quem desempenha melhor. Nesse enfoque, quanto mais organizados em bases eficientes mais fácil de detectar, educar e dar suporte aos talentosos; (b) fortalecendo os campos da atividade humana - a segunda abordagem para o desenvolvimento do talento é aumentar a capacidade para estimular o campo, reconhecendo e recompensando o desempenho em um dado domínio. Algumas áreas oferecem mais recompensas intrínsecas do que outras e não necessitam de maior suporte, por exemplo, música, literatura, dança e drama. Os talentos com investimentos mínimos continuam a fazer porque são prazerosos e oferecem uma 27 significância pessoal para expressar emoções e manusear conflitos; (c) desenvolvendo destrezas individuais - o ponto em foco é que um talento em potencial não pode ser realizado ao menos que esteja inserido em um domínio cultural que o reconheça como contribuição no campo e, portanto, promova o seu desenvolvimento. O talento em potencial raramente se desenvolve como o esperado e a diferença entre o sucesso e o fracasso, pode estar relacionada, com os atributos pessoais ou com os contextos onde ocorrem os eventos e as oportunidades que criam as condições necessárias para a exposição e reconhecimento em um determinado domínio da atividade humana. Portanto, a preocupação com a orientação e educação de talentos é uma responsabilidade que envolve toda a sociedade, pois existem benefícios para a coletividade em função do desenvolvimento de talentos. 3 METODOLOGIA 3.1 O modelo do estudo Explorar os fenômenos que envolveram os fatores determinantes para que talentos esportivos tenham abandonado o contexto competitivo, implicou na escolha de um modelo de pesquisa que possibilitasse conhecer e analisar a inter-relação entre o potencial individual da pessoa e as influências derivadas do ambiente no qual se desenvolveu. Recentemente, BRONFENBRENNER (1995b) apresentou um modelo para estudos de desenvolvimento em contexto, o qual foi denominado de modelo bioecológico, e caracterizado por quatro elementos: a pessoa, o processo, o contexto e o tempo (PPCT). O modelo permite analisar as variações do processo e do produto do desenvolvimento, como uma função conjunta das características da pessoa e do ambiente em um determinado período. Dessa maneira, o modelo PPCT considera quatro domínios inseparáveis: a) as características pessoais da pessoa presente no contexto; b) o processo através do qual o desenvolvimento emerge; c) o contexto no qual o desenvolvimento ocorre e d) a dimensão temporal ao longo da qual o desenvolvimento acontece. Com este entendimento, realizou-se a investigação dos fatores determinantes do abandono de talentos do atletismo. Baseados no modelo bioecológico (PPCT) onde cada elemento do modelo foi identificado em nosso estudo da seguinte forma: Pessoa – Foram qualificados para participar como sujeitos do estudo exatletas, considerados talentos esportivos da modalidade atletismo do sexo masculino, que atenderam aos seguintes critérios: (a) nasceram e viveram no estado do Paraná; (b) abandonaram seu envolvimento com a modalidade de atletismo a nível competitivo; e, (c) foram apontados por técnicos como tendo sido talentos na modalidade de atletismo; 29 Processo – Dentro deste elemento foram exploradas as trajetórias de desenvolvimento dos talentos do atletismo, anteriormente qualificados, nas diferentes etapas do processo de desenvolvimento esportivo. Para orientar o processo de desenvolvimento dos talentos adotou-se as fases da teoria de especialização motora de KREBS (1992; 1993). Dessa forma, o processo foi caracterizado pelas fases de estimulação motora, aprendizagem motora, prática motora, sendo que, os talentos do atletismo abandonaram a modalidade esportiva competitiva durante a fase de especialização motora. Contexto – Com relação a esse elemento, foi utilizada como referência a modalidade de atletismo (masculino). Segundo o relatório de atividades da SECRETARIA ESPECIAL DO ESPORTE DO PARANÁ (1987-1991), o atletismo foi a modalidade esportiva na qual o estado do Paraná atingiu resultados significativos a nível de ranking brasileiro. A partir da modalidade de atletismo que é o contexto primordial para o processo de especialização motora dos talentos do atletismo, identificou-se outros contextos (microssistemas), iniciando pelo mais imediato como a família do talento do atletismo, e outros contextos que compõem a estrutura administrativa a qual a equipe de atletismo está vinculada, por exemplo, a federação de atletismo e as prefeituras municipais (exossistemas), atingindo o sistema mais remoto (macrossistema) caraterizado pela secretaria de estado do esporte e turismo do estado do Paraná; Tempo – Esta dimensão, buscou identificar o impacto de eventos que ocorreram tanto em relação ao talento quanto à estrutura administrativa da modalidade de atletismo, e que, devido a sua natureza, foram fatores determinantes para que os talentos do atletismo tenham abandonado o contexto esportivo competitivo. O elemento tempo, neste estudo, foi caracterizado em duas dimensões: a dimensão temporal pessoal, significa que os talentos do atletismo, deveriam ter nascido a partir de 01 de janeiro de 1970, e com relação ao contexto, os talentos que abandonaram o atletismo competitivo entre 01 de janeiro de 1990 e 31 de dezembro de 1998. 30 Com base nos critérios adotados em cada um dos elementos que formam o modelo bioecológico proposto por Bronfenbrenner, para o estudo de desenvolvimento em contexto, construiu-se o fluxograma apresentado na Figura 2, que sintetiza o modelo adotado neste estudo. Área Temática “Abandono do esporte competitivo” Questão Problema Fatores que determinam o abandono do esporte competitivo Modelo de Pesquisa Bioecológico (BRONFENBRENNER, 1995) Pessoa Processo Contexto Tempo Talentos paranaenses As da fases modalidade de de atletismo (masculino) queTalento abandonaram = o esporte A modalidade de atletismo no estado estimulação, competitivo nascidos a do Paraná (do micro ao de aprendizagem, partir macrossistema) prática e 01/01/1970 especialização Contexto = motora abandonaram (KREBS, o atletismo 1992;1993) entre ....01/01/1990 e 31/12/1998 FIGURA 2 - Fluxograma do modelo de pesquisa construído para o estudo. 3.2 Contato com os informantes Como ponto de partida, contatou-se o técnico da modalidade de atletismo na cidade de Maringá-Paraná, que também exerce a função de Presidente da sub-sede da federação paranaense de atletismo. A partir de um encontro pessoal com esse técnico, obteve-se, além, de dados pessoais dos talentos do atletismo, do estado do Paraná, que abandonaram o atletismo a nível competitivo, dados pessoais dos técnicos de atletismo nas diversas cidades paranaenses onde o atletismo foi desenvolvido a nível competitivo. Com essas informações contatou-se, via telefônica, os técnicos da modalidade de atletismo nas cidades de Paranavai, Londrina, Pato Branco, Ponta Grossa, Cascavel e Foz do Iguaçu. Esse primeiro 31 contato com os técnicos teve como objetivo, além de informar, sobre os objetivos do estudo, extrair informações sobre os talentos que abandonaram o atletismo competitivo. Através dos contatos iniciais verificou-se que os talentos que abandonaram o atletismo competitivo residiam nas seguintes cidades: Paranavai (02), São Pedro do Ivaí (01), Pato Branco (01), Londrina (02), Ponta grossa (02), Maringá (03), Foz do Iguaçu (01) e Marilândia do Sul (02). O contato com os técnicos de atletismo ocorreu durante o mês de novembro de 1998. A partir dessa identificação foi realizado um primeiro contato, sendo contato pessoal com seis talentos e contato via telefone com oito talentos. Da mesma forma, foi informado aos talentos os objetivos do estudo e solicitado a possibilidade de participação no estudo tanto dos próprios talentos quanto de seus pais e técnicos. 3.3. Sujeitos do estudo A partir dos contatos iniciais realizados com os técnicos de atletismo e, posteriormente, com os talentos, verificou-se a extensão do universo dos sujeitos que estariam qualificados, segundo os critérios do modelo do estudo, para participarem como sujeitos do estudo. De um universo de quatorze (14) talentos, ex-atletas de atletismo do sexo masculino apontados pelos técnicos, dois não foram localizados, um não tinha disponibilidade de tempo em função de sua atividade profissional e, ainda, um quarto talento não se dispôs a participar. Dessa forma, foram sujeitos deste estudo dez (10) talentos, ex-atletas, do atletismo que preencheram aos critérios delineados para o estudo. Esses talentos residiam nas cidades de Paranavai (02), Londrina (02), Pato Branco (01), Ponta Grossa (01), São Pedro do Ivai (01) e Maringá (03). A partir da participação desses talentos foram também entrevistados dez familiares (um para cada talento), como os seguintes graus de parentesco: cinco (05) mães, dois (02) pais, duas (02) avós e uma (01) tia. Além dos pais, participaram como sujeitos do estudo cinco (05) técnicos de atletismo. No decorrer das entrevistas percebeu-se a importância do macrossistema, secretaria estadual de esportes e turismo, no processo de desenvolvimento desses talentos, com o intuito enriquecer o estudo, entrevistou-se quatro (04) dirigentes esportivos que foram selecionados 32 através dos critérios de tempo e significância da prestação de atividade profissional junto a estrutura administrativa do esporte no estado do Paraná. Com base nesses critérios foram entrevistados, três (03) diretores de esporte e um (01) ex-secretário de esportes do estado. O procedimento adotado para contato com os dirigentes esportivos foi via telefone, sendo que houve uma imediata disposição para participar do estudo. Os quatro (04) dirigentes esportivos residiam na cidade de Curitiba. Desta forma, foram informantes neste estudo, dez (10) talentos do atletismo que abandonaram o contexto competitivo; dez (10) familiares, sendo o familiar indicado pelo próprio talento, como o de maior envolvimento no seu processo de especialização motora; cinco (05) técnicos de atletismo, sendo que, um foi técnico de dois (02) talentos, dois (02) técnicos foram técnicos de três talentos e, em dois (02) casos cada técnico teve apenas um (01) talento que abandonou o contexto do atletismo competitivo; e, quatro (04) dirigentes esportivos. No total foram entrevistados 29 sujeitos. 3.4 Entrevista semi-estruturada Para a coleta dos dados referentes aos fatores determinantes para talentos do atletismo abandonarem o esporte competitivo, utilizou-se de fichas de identificação (ANEXOS I, III, V e VII) e de entrevistas semi-estruturada (ANEXOS II, IV, VI e VIII). Optou-se pela entrevista semi-estruturada, porque este tipo de entrevista possibilita uma orientação sobre as questões de investigação, bem como, permite tanto ao entrevistador como ao entrevistado um diálogo realizado com certa liberdade (QUEIROZ, 1991). Durante o transcurso da entrevista o investigador realizou adaptações de acordo com as necessidades e os objetivos formulados para a investigação. As questões foram pré-formuladas estabelecendo-se uma prioridade e seqüência de perguntas, mas principalmente, nas entrevistas realizadas com pais e dirigentes esportivos permitiu-se uma preferência pela ordem de respostas. Através de contato pessoal ou telefônico foi marcada data, local e horário para a realização das entrevistas que ocorreram sempre de acordo com a disponibilidade do entrevistado. Dessa forma, o pesquisador deslocou-se até a cidade 33 onde o talento, pais, técnicos e dirigentes esportivos residiam para a realização efetivação da entrevista. Com relação ao local, as entrevistas com os talentos foram realizadas: nas suas residências, local de trabalho ou local pré determinado, por exemplo, biblioteca pública, a receptividade dos talentos foi excelente e, em certos momentos, as entrevistas foram realizadas sob forte envolvimento emocional. Com pais e técnicos as entrevistas foram realizadas nas residências dos mesmos, em um clima muito cordial. Um dirigente foi entrevistado em sua residência os outros três nas dependências da Paraná Esporte. Quanto a duração, as entrevistas tiveram uma variação de uma hora a duas horas e meia para os talentos esportivos, de meia hora e uma hora para os pais e entre uma hora e uma hora e meia para técnicos e dirigentes esportivos. Foi destinado um tempo anterior a entrevista para uma familiarização entre entrevistados, conteúdo e pesquisador. Considerando o tempo anterior, durante e posterior a entrevista a duração situou-se entre duas e quatro horas por entrevistado. As entrevistas foram realizadas obedecendo-se a seguinte ordem, entrevistava-se o talento, depois um de seus pais e posteriormente o seu técnico. As entrevistas com os dirigentes esportivos foram últimas que aconteceram. O procedimento utilizado a realização das entrevistas com os talentos foi o seguinte: primeiro, uma identificação dos objetivos do estudo, depois a leitura dos tópicos da entrevistas visando facilitar a recordação e a organização dos relatos do entrevistado e a seguir a entrevista. Este procedimento não pode ser utilizado com os pais dos talentos, ao ocorrido na primeira entrevista com os pais percebeu-se que estes não conseguiam esperar pela leitura dos tópicos da entrevista, já começavam a falar sobre o filho, sendo assim, para evitar perda de informações optou-se pela imediata gravação dos depoimentos. Os instrumentos utilizados para o registro das entrevistas foram três microgravadores sendo um da marca SONY, modelo M-527V e, dois da marca PANASONIC modelo VAS, bem como, foi utilizado um diário de pesquisa para anotações complementares. Todas as entrevistas gravadas em micro fitas da marca SONY MC-60 com duração de sessenta (60) minutos. Ao final foram utilizadas 32 (trinta e duas) micro fitas. 34 Os critérios utilizados para a formulação do roteiro da entrevista foram baseados nos elementos do modelo do estudo. Na dimensão da pessoa caracterizada pelo talento de atletismo foram consideradas as suas características ou atributos pessoais instigativos para o desenvolvimento. Nesse sentido, entre outros atributos pessoais apontados como importantes para o envolvimento com o atletismo WEINECK (1991), destaca as características antropométricas (altura, proporção corporal, biótipo) e as características físicas (velocidade, força estática e dinâmica, entre outras). Da mesma maneira, WEINBERG & GOULD (1995), apontam como variáveis psicológicas no esporte, a motivação, a liderança, agressividade e a ansiedade, entre outras. Dessa forma, identificar os atributos pessoais dos talentos do atletismo foi uma das categorias das entrevistas. Apresenta-se, na Figura 3, uma breve síntese dos atributos pessoais. Propriedades da Pessoa Atributos pessoais Características pessoais - Dimensões antropométricas ex. biotipo Capacidades físico-motoras - Capacidades físicas ex. velocidade, força, coordenação Capacidades psicológicas - Variáveis psicológicas ex. motivação, dedicação Entrevista semi-estruturada (talentos, familiares e técnicos) FIGURA 3 – Fluxograma construído para o coleta de dados das propriedades pessoais dos talentos do atletismo Na abordagem ecológica, o elemento contexto é caracterizado por um conjunto de quatro sistemas em níveis sucessivos. Esses sistemas tem no nível interno o microssistema (ambiente imediato) indo até o macrossistema (ambiente mais remoto). A nível de microssistema, objetivou-se através do roteiro da entrevista compreender, por exemplo, o ambiente da modalidade esportiva, da família e da vizinhança do talento esportivo que abandonou o atletismo competitivo, verificou-se as seguintes variáveis: (a) sócio-demográficas, por exemplo,: nível de 35 escolaridade, idade, sexo, estado civil, local de residência, participação na educação e programas de treinamento; (b) as atividades: o envolvimento em atividades esportivas; (c) os papéis, por exemplo, a organização familiar, as regras de casa e do ambiente esportivo, as dificuldades encontradas, o grau de satisfação e o desejo de melhorar; (d) as relações interpessoais: as dificuldades de relacionamento com pais/técnico no decorrer do anos, o efeito da carreira esportiva do filho/atleta no status de trabalho dos pais/técnico; e) a qualidade dos outros, exemplificadas através das características pessoais dos familiares e técnicos, tipo de envolvimento com esporte e sistema de crenças em relação ao esporte. Essas variáveis ambientais foram extraídas dos estudos realizados por BLOOM (1985), LERO (1988), BRONFENBRENNER (1995a) e CSIKSZENTMIHALYI et al. (1997). A nível do mesossistema foram investigadas através das entrevistas as ligações e processos que ocorrem entre dois ou mais ambientes onde o talento esportivo que abandonou o contexto esportivo competitivo esteve inserido. Nessas ligações foram identificados: (a) os laços primários, que são as pessoas que participaram nos dois ambientes (ex: o talento esportivo); os laços secundários, que são “outras pessoas” que participaram desses ambientes sem serem os sujeitos principais (ex: os pais); os laços indiretos, que são pessoas que não participaram diretamente em nenhum dos ambientes, mas tem influência sobre as pessoas daquele ambiente (ex: o diretor do clube). E, também foram parâmetros as possíveis comunicações entre os ambientes, exemplificados na forma de comunicação entre os ambientes, bem como, o conhecimento interambiental que são caracterizadas pelas informações ou experiências que existem em um ambiente, em relação ao outro. A nível de exossistema, a investigação ampliou-se para as ligações e processos que ocorrem em uma instância onde o talento do atletismo que abandonou o contexto esportivo competitivo não participa ativamente, mas onde aconteceram eventos que indiretamente influenciaram a modalidade de atletismo (por exemplo: as secretarias de esportes do município, as empresas privadas patrocinadoras ou a federações paranaense de atletismo). Os elementos que identificam os exossistemas são os mesmos relatados anteriormente para o mesossistema. A nível de macrossistema, o mais abrangente de todos os sistemas, investigou-se os, recursos, riscos, estilos de vida, estrutura de oportunidades, opções de vida, padrões de intercâmbio social oferecidos e criados para os talentos e a 36 divulgação do esporte. O macrossistema caracterizou-se, no presente estudo, pela secretaria de estado do esporte e turismo, sendo a abrangência administrativa dessa instituição a delimitação mais ampla até a qual foi realizado o processo do desenvolvimento do talento de atletismo no contexto esportivo competitivo. Essa perspectiva parte do princípio de que as características da pessoa dependem significativamente do grau de oportunidades que são dadas a ela, em uma determinada cultura e em um determinado momento da história (BRONFENBRENNER, 1992; KREBS et al.,1997). Uma representação esquemática do procedimento utilizado para a coleta das informações dos contextos dos talentos do atletismo são apresentado na Figura 4. Parâmetros do Contexto Microssistema - Sócio-Demográficos - Atividades Papéis - Relações interpessoais - Qualidade dos outros Mesossistema e Exossistema -Laços primários -Laços indiretos.. - Comunicação... ....interambiental -Conhecimento... ....interambiental Talentos, familiares e Talentos, familiares e técnicos técnicos Macrossistema Recursos, riscos, estilos de vida, oportunidades opções de vida, intercâmbio e divulgação Talentos Técnicos, dirigentes esportivos Entrevistas semi-estruturadas FIGURA 4 – Fluxograma construído para a coleta de dados dos parâmetros do contexto dos talentos do atletismo. Tendo apresentado os critérios utilizados para o conteúdo e roteiro da entrevista, a qual foi baseada na matriz da entrevista semi-estruturada (ANEXO X). Em relação aos atributos dos talentos do atletismo e dos parâmetros do contexto, utilizou-se a teoria de especialização motora de Krebs para orientar a retomada das questões. Assim, em cada fase do processo de especialização motora, reformulou-se 37 as perguntas sobre os atributos pessoais e os parâmetros do contexto. Para o quarto e último elemento do modelo, o tempo, procurou-se sempre que possível obter do informante datas precisas dos eventos vivenciados durante o processo de especialização motora e do abandono do contexto competitivo. 3.4.1 Transcrição das entrevistas Tendo sido realizadas as entrevistas, todas as vinte e nove (29) entrevistas foram transcritas pelo pesquisador. Foram transcritas um total de aproximadamente vinte e quatro (24) horas de gravações, sendo que, para cada hora de fita gravada demorou-se aproximadamente sete (07) horas para a transcrição. Ao final, as transcrições foram impressas em folhas de papel sulfite, tamanho A4, espaço simples, totalizando duzentos e oitenta (280) laudas de transcrição. Foi estabelecido um critério para ordenar a seqüências das transcrições, que foram feitas sempre em função das datas da sua realização, nesse sentido, as entrevistas mais recentes eram as últimas da ordem pré estabelecida. Com esse critério algumas entrevistas foram transcritas no dia seguinte a sua realização e outras, em média , de um a três dias, sendo as que mais demoraram foram transcritas seis dias após a sua realização. As normas sugeridas por OLIVIERA (1998) foram adotadas para as transcrições (ANEXO IX). Com a finalidade de manter o anonimato dos entrevistados adotou-se um procedimento de codificação dos sujeitos realizada aleatoriamente. Desta maneira, dez (10) talentos ex-atletas de atletismo receberam os códigos que se iniciam no T1 e terminam no T10, da mesma forma, os familiares de F1 a F10, os técnicos de atletismo de P1 a P5 e os dirigentes esportivos de D1 a D4. 3.5 Estudo Piloto O estudo piloto caracteriza-se como uma continuidade de um conjunto de estudos realizados pelo pesquisador (KREBS, et al., 1997; VIEIRA et. al., 1998). Nesses estudos, anteriores, foram utilizadas a teoria de especialização motora de KREBS (1992) para investigar a biografia de atletas de handebol e, a teoria dos 38 sistemas ecológicos (BRONFENBRENNER, 1979) para explorar a trajetória de desenvolvimento de um talento esportivo da natação. Dessa forma, utilizou-se o instrumento de coleta de dados dos estudos anteriores adaptando-o as necessidades e exigências do presente estudo. Com esse entendimento, após o levantamento e análise da literatura referente ao abandono do esporte competitivo, das discussões com especialistas na área realizou-se um estudo piloto. Essa verificação preliminar caracterizou-se como um ensaio para a avaliação concreta do instrumento de coleta de dados. Para LAKATOS & MARCONI (1991), o estudo piloto tem como função, testar o instrumento de coleta dos dados, procurando evitar ambigüidades, fidedignidade e validade. Para verificar a adequação do instrumento a amostra, o estudo piloto foi realizado com um ex-atleta, talento esportivo paranaense de classe mundial, na modalidade de tênis de campo que abandonou o contexto competitivo no ano de 1995. Entrevistou-se também um dos familiares e o técnico do talento, conforme plano de coleta de dados estabelecido o para o presente estudo. Durante o estudo piloto, as entrevistas foram realizadas em um caráter flexível, onde o pesquisador frente a relevância das informações ofereceu um espaço para alterações no roteiro em função de elementos essenciais para o problema (GOOD & HATT, 1979). Ao final, as entrevistas do estudo piloto foram transcritas e analisadas. As análises realizadas forneceram as bases sobre as quais este estudo foi realizado. 3.6 Análise documental Como fontes de informações complementares as entrevistas realizada com talentos, técnicos , familiares e dirigentes esportivos, além do diário de pesquisa, utilizou-se dos seguintes documentos particulares: recortes de jornais e fotos dos álbuns pessoais de talentos e técnicos, revistas e jornais e os relatórios de atividades editados pela secretaria especial do esporte do Paraná, entre os anos de 1987 e 1991, que para CERVO E BERVIAN (1983) são documentos em forma de periódicos e os cadernos com as políticas de desenvolvimento do esporte no estado do Paraná. 39 3.7 Análise dos dados Para análise dos dados utilizou-se a análise de conteúdo, que para BARDIN, 1977 p.31) é “um conjunto de técnicas de análise das comunicações”. Especificamente optou-se pelo método das categorias, “espécie de gavetas ou rubricas significativas que permitem a classificação dos elementos de significação constitutivas, da mensagem” (p.37). Trata-se portanto de um método que procura introduzir uma ordem seguindo certos critérios (ANEXOS XI ao XVII). Dentre os critérios utilizados para manusear os dados brutos, a codificação dos dados foi realizada seguindo os seguintes critérios: o recorte, enumeração e agregação (escolha de categorias), permitindo atingir uma representação do conteúdo. Para escolher as unidades, fazer os recortes, a unidade de registro visando a categorização foi feita em cima do tema, buscando-se as unidades de significação segundo certos critérios relativos a teoria que serviam de guia à leitura; e ainda, as unidades de contexto que serviram de compreensão para codificar a unidade de registro, cujas dimensões são essenciais para compreender o significado da unidade de registro, valores e atitudes. Para fazer a enumeração, utilizou-se os tipos presença ou ausência, funcionando nesse caso como um indicador; e direção podendo ser favorável, desfavorável ou neutra. A escolha das categoria foi prévia, seguindo os critérios de BARDIN (1977). Atendendo a um dos critérios da escolha das categorias, a pertinência, na interpretação dos dados foram utilizadas, como referência, as quatro categorias propostas por ELDER (1995) que são as seguintes: informativa, interdependência, “timing”, continuidade e trocas das características. Na categoria informativa, foram apresentados os dados obtidos a partir das entrevistas, em relação aos elementos: propriedades pessoais, parâmetros do contexto, suas relações e inter-conexões. A partir da categoria informativa, foi possível descrever todo o processo de especialização motora dos talentos do atletismo e a utilização das outras categorias para discussão dos objetivos propostos pelo estudo. Na categoria timing utilizou-se as duas formas propostas por ELDER (1995) que são: o período vital e o período social. No período vital, os talentos esportivos foram localizados no seu tempo histórico, em sincronia com a sua carreira esportiva 40 e a vida dos outros significantes. Nesse período o status da idade foi fundamental para verificar o impacto e o efeito de cada transição no desenvolvimento da carreira esportiva. O período social relaciona-se com as expectativas do talento em relação ao esporte, seqüência de papéis, transições ou eventos ambientais. Na categoria de interdependência, foram analisadas como a estrutura das modalidades esportivas paranaenses influenciaram a ação pessoal dos talentos do atletismo e, como os outros significantes (pais, técnicos e dirigentes), atuaram em relação ao talento e vice-versa. Na categoria de continuidade e trocas, foram analisadas as constâncias e mudanças ocorridas tanto nos atributos pessoais quanto nos contextos onde ocorreu o desenvolvimento dos talentos esportivos. A Figura 5, apresenta o fluxograma da análise dos dados evidenciando as categorias utilizadas no estudo (ANEXO X). Área Temática Abandono do esporte competitivo Questão Problema Fatores do abandono no atletismo Plano de Análise Informativa - Atributos pessoais, parâmetros dos contextos, inter-conexões Timing - Vital (idade) - Social (expectativas) Interdependência Continuidade e T - Relações interpessoais - Constâncias e mudanças durante o proce - Estrutura do atletismo no estado do Paraná Fatores determinantes para que talentos do atletismo abandonem o contexto esportivo FIGURA 5 - Fluxograma de análise dos dados construído para o estudo. 3.8 Validade interna e externa 41 Alguns procedimentos metodológicos foram tomados com a finalidade de garantir a validade interna ou credibilidade dos dados recolhidos. BAUMGARTNER & STRONG (1984) citam que para aumentar o grau de credibilidade o pesquisador deve usar técnicas de triangulação que podem ser realizadas de três maneiras: entre teorias, técnicas de pesquisa ou triangulação de dados. Desta forma, tendo-se como sujeitos deste estudo talentos, pais e técnicos efetuou-se confrontação de informações o que intensifica o potencial da validade interna dos dados, visto que para os autores citados anteriormente, a validade interna perfeita é teoricamente impossível. Com o objetivo de verificar se as transcrições refletiam o pensamento dos entrevistados em relação ao tema abordado as entrevistas foram enviadas, individualmente, via correio ou pessoalmente, pelo pesquisador aos entrevistados para alterações ou complementações. Anexo as entrevistas, foi remetido um envelope selado para posterior devolução das mesmas ao pesquisador. Quanto a validade externa ou generalização, esta poderá ser feita por outro pesquisador, que julgar que os sujeitos e os dados do presente estudo são representativos podendo fazer transferências de acordo com o tipo de pessoas ou unidades a serem examinadas. 4. APRESENTAÇÃO E DISCUSÃO DOS RESULTADOS Com a finalidade de organização, estruturou-se este capítulo em duas partes principais. Na primeira parte, apresenta-se os resultados do estudo que descrevem como ocorreu o processo de desenvolvimento dos talentos do atletismo, tendo como referência o modelo de especialização motora de KREBS (1992,1993). Utilizou-se, também, a teoria dos sistemas ecológicos de BRONFENBRENNER (1979) para discutir os resultados relativos aos contextos que influenciaram no processo de especialização motora dos talentos do atletismo. Na segunda parte, serão apresentados os fatores que foram determinantes para que os talentos do atletismo tenham abandonado o contexto esportivo competitivo e, ainda, discute-se esses fatores como base nas categorias de interpretação propostas para o estudo, que são: o timing vital e social, a interdependência e as trocas e continuidade. 4.1 O processo de desenvolvimento dos talentos do atletismo A finalidade desse tópico, é centrar-se no processo de desenvolvimento dos talentos esportivos do atletismo. Para descrever esse processo utilizou-se a teoria de especialização motora de KREBS (1992,1993). Esse autor considera que a especialização motora é constituída por quatro fases, que são: a estimulação, a aprendizagem, a prática e, finalmente, a especialização motora. Paralelamente, apresenta-se também, os contextos que influenciaram no processo de especialização motora, utilizou-se como referência a teoria dos sistemas ecológicos de BRONFENBRENNER (1979). Tendo essas abordagens teóricas, como norteadoras da apresentação dos resultados, descreve-se todo o processo de especialização de talentos da modalidade de atletismo, em quatro sub-tópicos, que correspondem as fases de estimulação, aprendizagem, prática e especialização, do modelo proposto por Krebs. 43 4.1.1 Fase de estimulação motora dos talentos do atletismo A fase de estimulação motora, caracteriza-se como a primeira de acordo com o modelo proposto por KREBS (1992, 1993) para a especialização motora. Para o autor o importante nessa fase é a vivência do movimento, sendo que, o padrão de movimento executado deve ser tomado apenas como estímulo para que a criança construa o seu plano motor. Portanto, com relação a participação em atividades motoras na infância, os talentos do atletismo, referiram-se a algumas atividades infantis caraterizando-as segundo: o tipo de atividade realizada e gosto pela prática. Dessa maneira, quanto ao tipo das atividades vivenciadas na fase de estimulação motora alguns relatos assim as descreveram: “... de caçar brincava de super-herói essas coisas... brincava de salva cabo de guerra tudo gente participava... até amarelinha tudo só não era chegado em dançar né...” (T1) “tive muita energia era mais brincadeira de corrida policia ladrão pega pega essas eu preferia mais correr de saltar né onde tinha obstáculo eu saltava subia na casa pulava minhas brincadeiras eram mais de correr e saltar” (T7) “...de brincar assim vamos vê quem é que rela quero ver quem rela lá primeiro e volta aqui ... o mestre mandou buscar eu saia assim zim na frente e vinha brincando tirando sarro dos outros corria pra cima e pra baixo” (T4) Nessa faixa etária segundo WEINECK (1991), as crianças demonstram um alto ímpeto para movimentos e brincadeiras, e ocupam-se de um grande número de jogos que se formam de maneira incrivelmente variada e múltipla. O gosto pela atividade motora também foi demonstrado, pelos talentos do atletismo, em suas entrevistas como pode ser verificado nos seguintes comentários: “...toda criança gosta de solta pipa futebol estilingue aqueles revolvinho de pau... as atividades de gente de bairro” (T2) 44 “...eu mais gostava de brincar era de esconde esconde... as brincadeiras eram mais de betis tomar banho na água suja caixa” (T3) “eu gostava de brincadeiras mais que envolvem força salto tipo aqueles lá atravessa a rua três quatro saltos... aquele negócio de carregar os outros nas costas eu sempre era escolhido” (T5) Por outro lado, também ficou evidenciado que alguns talentos do atletismo não demonstraram interesse na participação ou gosto por atividades motoras na infância, não parecendo ser esse um fator que inibiu o potencial de desenvolvimento do indivíduo. Essa afirmação encontra suporte na percepção de competência e da auto imagem, enfatizada na seguinte afirmação: “na minha infância não fui uma pessoa muito de atividades física não... eu gostava muito de jogos de pensar xadrez essas coisas assim jogos que não exigissem ... muito esforço físico pelo fato de ser um pouquinho .... era gordo então já me excluía um pouquinho da brincadeira né... que eu fazia mais com meus irmãos nos éramos em quatro irmãos...”( T8) Percebe-se, que o caráter lúdico predominou nas atividades motoras vivenciadas na infância. No entanto, através dessas atividades os talentos já demonstravam uma pré disposição para o desempenho em certas valências físicas como a velocidade, a impulsão e a força, bem como, nas atividades motoras cujos movimentos básicos são os movimentos fundamentais de correr, saltar e arremessar, conforme modelo GALLAHUE (1995). De certa forma, talentos e familiares, parecem ter percebido, através de seus relatos, que existe uma relação entre as qualidades físicas envolvidas nessas atividades motoras infantis e, o posterior, rendimento atlético: “de correr que ele sempre gostou de correr na rua e andava por aí... aquelas brincadeiras de bater na lata aquilo precisa ser veloz pra brincar daí que eu 45 percebi que ele ganhava e ia sempre rápido... mas a gente nunca pensou que ele ia fazer isso aí que ele fez né ...”(F1) “brincava muito assim ... o pé na parede e brincava quem batia o pé mais alto isso bem antes de imaginar que um dia eu ia fazer o salto com vara ...eu tinha o dom e gostava achava emocionante de ter aquela altura e transpor” (T3) Para KREBS (1992) essa fase de estimulação motora deve ser entendida como um sistema totalmente aberto. Portanto, não há a execução errada, pois cada forma diferente de movimento em relação ao modelo correto deve ser aceita como, outra maneira, do indivíduo interpretar a destreza em questão. O autor estabelece uma relação entre o seu modelo e o proposto por GALLAHUE (1995), sendo assim, crianças na fase de estimulação, executam padrões de movimentos que correspondem ao estágio “maduro”, da fase dos movimentos fundamentais e do estágio de “transição”. Para caracterizar essa fase como a primeira do modelo proposto por KREBS (1992), apresenta-se a Figura 6, a qual evidencia na base da especialização motora a fase de estimulação com o envolvimento em atividades motoras. Especialização Motora Prática Motora Aprendizagem Motora Estimulação Motora atividades variadas Leis FIGURA 6 – Fase de estimulação motora de talentos esportivos do atletismo. 46 Com relação aos contextos que foram importantes para o desenvolvimento do talento durante a fase de estimulação motora, BRONFENBRENNER (1992) ressalta que as competências das pessoas devem estar relacionadas com as necessidades apresentadas pelo ambiente. Dessa forma, os relatos apresentados pelos talentos salientam o status real das suas vivências motoras nas situações de vida cotidiana. Essas experiências são de importância fundamental, pois evidenciam as competências motoras que são relevantes para a compreensão das características da pessoa no contexto no qual ela vive. Assim, faz-se necessário, apresentar as características dos contextos nos quais essas atividades foram experenciadas. Para BRONFENBRENNER (1996), o ambiente ecológico é concebido como uma série de estruturas. O microssistema é a primeira estrutura dentro dessa concepção e caracteriza-se como um ambiente onde as pessoas podem interagir face a face com outras pessoas, por exemplo, a casa, a creche ou o playground. Os elementos que constituem um microssistema são as atividades, as relações interpessoais e os papéis. Os dois microssistemas evidenciados pelos talentos do atletismo como sendo os ambientes ecológicos onde ocorreu a estimulação motora foram a família e a vizinhança. Nesse sentido, a família é o primário e mais imediato microssistema de desenvolvimento do ser humano. Apesar de, tradicionalmente, constituída por pai, mãe e filhos, vários fatores podem interferir no tipo, quantidade e qualidade das situações experenciadas nesse contexto. Com a finalidade de informar algumas características sócio demográficas das famílias dos talentos do atletismo, apresentase o Quadro 1, com dados referentes a data de nascimento do familiar entrevistado, idade atual, estado civil (ano de falecimento do cônjuge em caso de viúva), nível de escolaridade, profissão e envolvimento com o esporte. 47 QUADRO 1 – Característica sócio-demográficas das famílias dos talentos do atletismo Família Mãe Mãe Pai Mãe Avó Pai Avó Tia Mãe Mãe Data de Idade nascimento 21.01.57 42 04.04.48 50 09.01.50 48 18.09.49 49 11.08.22 76 24.03.59 38 24.01.18 02.05.42 30.03.38 07.01.45 81 57 61 54 Estado civil Viúva-1994 Viúva-1987 casado casada Viúva-1974 casado Escolaridade * Profissão 2° série primária 3° série primária nenhuma Ensino superior 3° série primária doméstica diarista garçom-comércio Professora do lar topógrafo Ensino médio incompleto Viúva-1992 4° série primária solteira casada casada Primário completo 2° série primário 3° série primária Envolvimento com o esporte nenhum nenhum nenhum nenhum nenhum Atleta futebol amador do lar nenhum aposentada nenhum do lar nenhum auxiliar de creche Gosta de assistir * Para a época, ensino primário corresponde a atual educação infantil. Entre os fatores sócio demográficos, relacionados com a família, que podem ter afetado o desenvolvimento dos talentos do atletismo, alguns foram citados nos depoimentos: a situação financeira reduzida, a separação e o divórcio. Com relação a condição financeira familiar, pais e talentos esportivos retrataram as suas famílias da seguinte forma: “a minha família é de classe baixa então eu tinha ... pai mãe e irmãos nós somos em três irmãos meus dois irmãos são mais velhos eu sou o caçula” (T9) “minha mãe era professora e meu pai era motorista de ônibus então a gente não era assim... não era muito pobre mas tinha muita dificuldade... eu lembro meu café da manhã era chá de vez em quando e um pãozinho...” (T4) eu trabalhava dia e noite trabalhava em dois turnos na cidade... chegava em casa lavava roupa fazia comida já tava no serviço de novo... tinha vez que punhava eles pra dormir debaixo da mesa do restaurante levei esta vida muito tempo com ele pequeno (F2) Além da condição financeira familiar, alguns eventos que aconteceram nas famílias, com relação a separação dos pais foram narrados, pelos talentos e, principalmente, pelas mães dessa maneira: 48 “eu morava lá no aeroporto numa casa e ele brincava na rua ... a mãe trabalhava fora e quem cuidava era eu sempre eu criei ele desde pequenininho... eu fui mãe e fui pai e avó tudo junto...” (F3) “não eu fui criado sozinho assim... eu tinha os pais separados mais eu fui criado com os meus avos mas minha mãe sempre por perto” (T7) “eu era separada do pai dele né... nós não convivia com o pai dele então ele ficava comigo... tinha quintal pequeno porque sabe como é que é a gente convivia de aluguel né... morava nos fundos da casa mas tinha espaço..” (F2) Como pode-se perceber através do Quadro 1, dos relatos dos talentos e familiares, a viuves ou separação dos cônjuges além da condição financeira eram as preocupações mais evidentes. Para BÜHLER (1980) entre os problemas da dinâmica da família é, especialmente atual, o papel ambivalente da mulher. A mulher, que deve ser, boa dona de casa, encantadora, compreensiva encontra-se perante o dilema diário de como desempenhar todos esses papéis, sobre tudo quando acrescenta-se a assistência a filhos pequenos e/ou o exercício de uma profissão. Tendo os familiares cuidadores, as responsabilidades de segurança e afiliação através da atividade profissional, pouco tempo haveria para que, no contexto familiar, os talentos do atletismo desenvolvessem as atividades motoras, com ou sem, a orientação dos pais. Desta forma, a medida que o indivíduo se desenvolve ocorre uma busca por outros contextos fora do ambiente primário, aqui definido como família, para a vivência motora. A partir desse ambiente inicial ,o ambiente mais próximo passa a ser a comunidade na qual a família está inserida. Na comunidade, outras atividades, relações interpessoais e papéis começam a se incorporar ao plano motor e social da criança. Com relação as atividades motoras realizadas na infância, o contexto vizinhança, parece ter sido o ambiente onde as crianças tiveram a oportunidade para a prática de atividades variadas. As atividades motoras, anteriormente descritas, são agora contextualizadas, através da descrição do contexto vizinhança com as seguintes verbalizações: 49 “sempre gostava de jogar uma bolinha com os colegas aqui da minha rua... a rua é de chão de areião você colocava os chinelos os tijolinho pra fazer os golzinho... brincava de bola soltava pipa... então aquelas brincadeiras de toda criança que mora em bairro a rua os vizinhos” (T2) “foi brincando com a garotada de pique esconde pega-pega... foi praticamente na rua mesmo... você adquire todo esse negócio de motor logo cedo você começa a brincar na rua armando os golzinho no meio da rua... e ali você começa a pegar gosto e a praticar esporte” (T8) “...nós da rua... toda a criançada os demais vizinhos né... ou era futebol na rua ou na terra ou mãe-cola pega-esconde essas brincadeiras mais... que mexia mais com corrida” (T10) A estimulação ocasionada pela exploração do espaço exterior foi fundamental na estruturação das primeiras fases do desenvolvimento da criança, e a experiência do jogo e da atividade física é uma excelente forma de perceber as relações entre o indivíduo e o ambiente (NETO, 1997). Embora esse autor, tenha preocupação atual da disponibilidade de espaços livres para as crianças exercitarem seu direito aos jogos e as atividades infantis, os talentos do atletismo relataram que viveram em ambientes onde o espaço para experiências motoras sempre esteve disponível. KREBS (1997) cita que Bronfenbrenner surpreende-se com a constatação de que as propriedades da pessoa são definidas de maneira conceitual e operacional, sem referir as questões do ambiente, ou sem considerar as questões culturais relativas a cada pessoa. Com o objetivo de identificar os ambientes, apresentamos a Figura 7, que ilustra os contextos de desenvolvimento dos talentos do atletismo na fase de estimulação motora. 50 Macrossistema Exossistema Mesossistema Microssistema família Microssistema vizinhança Cronossistema: Período vital e social dos talentos através das transições ecológicas do curso de vida. FIGURA 7 – Mapa ecológico dos talentos esportivos na fase de estimulação motora. A diversidade das atividades motoras realizadas através dos jogos e das brincadeiras infantis, parece ter possibilitado aos talentos do atletismo uma ampla variedade de experiências motoras. A atividade motora, nessa fase, parece ter sido importante no sentido de proporcionar oportunidades para a ampliação do repertório de movimentos estimulando a vivência e a experiência corporal. Nesse sentido, as evidências caracterizaram o microssistema vizinhança como o ambiente primordial para o desenvolvimento e a apreciação da atividade motora na infância. 4.1.2 Fase de aprendizagem motora dos talentos do atletismo Sendo a estimulação motora a fase inicial do processo de especialização motora de KREBS (1992), a fase seguinte foi denominada de aprendizagem motora. Para esse autor, a iniciação esportiva caracteriza a passagem da fase estimulação para a de aprendizagem motora. Alguns atributos pessoais relacionados, principalmente, 51 auto imagem e motivação foram importantes, no sentido, de impulsionar os talentos do atletismo a aprendizagem de vários esportes. Outro fator motivador parece ser o contexto escolar, em função das experiências proporcionadas nas aulas de educação física. Dessa forma, os talentos do atletismo descreveram quais foram as características individuais importantes para o seu envolvimento com a aprendizagem ou iniciação esportiva, nos seguinte comentários: “...puxa meu biótipo era fraquíssimo e até hoje é... raquítico baixinho... só que eu gostava me motivava então eu tinha vontade... gostava do que tava fazendo...pra sair um pouco de casa também” (T2) “acho que é o meu biofísico né como a altura e a minha resistência que eu tinha na época..”.(T10) “ia ter uns jogos lá em Guaíra né... aí ele começou a contar que a gente viajava e quando você é criança você tem aquele sonho né... de conhecer você quer ver como é que é outro local... aí eu falei que ia...”(T2) Com esses depoimentos observa-se que o biótipo, a motivação para viagens seguida pela conquista de medalhas, pareceram ser os atributos pessoais mais evidenciados para a iniciação a aprendizagem de esportes. Para CRATTY (1984), essa busca pelo envolvimento com o esporte é devido aos diversos tipos de reforçadores sobre a motivação da criança, sejam pelo próprio valor que a criança atribui ao esporte ou pelas recompensas externas inclusive, salienta, a importância da percepção de competência atlética ou física. Para KREBS (1992, 1993), essa fase de aprendizagem esportiva deve ser entendida como um sistema parcialmente aberto, visto que, agora o movimento a ser executado requer um plano motor parcialmente definido pelo instrutor. Segundo Krebs é importante que o aprendiz passe do estágio de transição para o estágio de aplicação, da fase dos movimentos especializados do modelo de Gallahue. A iniciação esportiva requer, portanto, uma instrução ou um modelo referente ao esporte culturamente determinado. Nesse sentido, uma orientação em termos de 52 pedagogia de esporte torna-se necessária para a aprendizagem de esportes. Com esse entendimento, o professor de educação física ou técnico desportivo desempenham um papel fundamental no processo de especialização motora. E, a criança enquanto aprendiz procura em outros contextos, além do familiar e da vizinhança as oportunidades, recursos humanos e materiais, para o seu engajamento na aprendizagem de modalidades esportivos. Assim, se na fase de estimulação apenas dois microssistemas foram evidenciados, na fase de aprendizagem dois novos contextos são incorporados e influenciaram o desenvolvimento dos talentos esportivos: a escola e a equipe de atletismo. Outra ocorrência de importância significativa para o desenvolvimento são as possíveis inter-conexões entre as pessoas presentes nesses ambientes, essas interrelações são denominadas de “mesossistemas” (BRONFENBRENNER, 1996). O contexto escolar, parece ser o microssistema onde os talentos do atletismo, encontraram as oportunidades e os recursos necessários para a aprendizagem ou a iniciação esportiva. Nesse sentido, as evidências apresentadas nas entrevistas proporcionaram informações sobre o enfoque e o conteúdo ministrados durante o período escolar, e que, foram determinantes para a iniciação esportiva em uma ou diversas modalidades de esporte. A importância do ambiente escolar para o desenvolvimento dos talentos esportivos pode ser verificada dos seguintes comentários: “da quinta a oitava série eu aprendi... o basquete eu adorava o handebol... quando eu tava aprendendo treinava três vezes por semana uma hora e meia” (T1) “...você entra na vida escolar depois da quinta série na aula de educação física começa a aprender o básico que é o vôlei o futebol de salão e o meu professor me chamou convidou pra fazer parte de um treinamento que havia na cidade de atletismo...”(T2) “fui conhecer o basquete quando fui para o ginásio... o atletismo eu comecei foi em oitenta e quatro foi uma competição municipal... que o professor da escola ele reuniu um pessoal...” (T7) 53 “olha eu aprendi vários esportes várias modalidades... o voleibol o basquete é xadrez e aí tem vários... mas o que eu me identifiquei mais... foi o futebol de salão fora o atletismo ...”(T10) Portanto, se a vizinhança se caracterizou como o contexto mais evidenciado onde as primeiras experiências motoras ocorreram durante a fase de estimulação motora, a escola parece ter sido o contexto primordial para a aprendizagem de modalidades esportivas, principalmente, quando os talentos do atletismo ingressaram na quinta série do ensino fundamental. O esporte escolar ou o esporte na escola são termos que geram polêmica dentre as linhas de educação física existentes no Brasil, entretanto, é uma atividade formal que é desenvolvida no âmbito escolar, seja na aula de educação física seja na escolinha em horário extracurricular, nos diferentes momentos do processo de ensino-aprendizagem do ensino fundamental e médio (GRECO & BENDA, 1998). Na fase de estimulação, os talentos do atletismo vivenciaram atividades variadas desenvolvendo, principalmente, o gosto pela prática de atividades físicas. Já, na fase de aprendizagem motora o interesse pelas atividades físicas modifica-se para uma iniciação esportiva. Na iniciação esportiva, os talentos do atletismo destacaram a aprendizagem de diversas modalidades esportivas, entre essas destacaram-se: o futsal, o futebol, o handebol, o basquetebol, o voleibol, bicicross e o atletismo. Para KREBS (1992), a aprendizagem de diversas modalidades pode assegurar uma gama de opções para a prática e a especialização motora. A representação esquemática do modelo proposto por Krebs, incluindo as fases de estimulação e aprendizagem motora já experenciadas pelos talentos do atletismo, é apresentada na Figura 8. 54 Especialização Motora Prática Motora Aprendizagem Motora atletismo voleibol futsal Estimulação Motora atividades variadas handebol futebol basquetebol Leis FIGURA 8 – Fase de aprendizagem motora dos talentos esportivos do atletismo. A escola, caracterizou-se como o contexto onde ocorreu a iniciação esportiva através da aprendizagem de esportes nas aulas de educação física. Apesar do atletismo estar contemplado como um conteúdo da grade curricular, devido aos recursos materiais disponíveis, a oportunidade para a prática desse esporte não se manifesta nesse contexto. Dessa maneira, através da participação em outros esportes o professor de educação física, utilizando-se da observação diagnosticou potencialidades em seus alunos e, assim, direcionou a uma aprendizagem do atletismo, para um outro contexto, onde as condições pareciam ser mais adequadas, especificamente, as equipes de atletismo. Nesse novo contexto, os talentos que demonstraram potencialidade, devido a seus atributos pessoais, foram apresentados a uma ampla variedade de movimentos especializados ou desportivos, por exemplo, as corridas, os saltos e os arremessos. Os talentos descreveram as atividades desempenhadas no contexto da equipe de atletismo desta maneira: “a gente brincava com o dardo e no mesmo dia ia pro salto em altura o salto em distância corrida... pra ele era um trabalho sério porque era através dessas 55 brincadeiras dessas modalidades do atletismo que ele ficava observando e vendo aquela que você tinha mais potencial ...” (T2) “um dia jogaram uns colchões no salto em distância pegaram umas varas de bambu ficaram brincando... aí eu pedi para o meu técnico deixar eu brincar um pouco... e foi indo foi indo e ele falou assim é salto com vara... e comecei a me dedicar ao salto com vara” (T3) “na pista a organização era a seguinte... chegava lá e descobria a tua prova... só que eu fui empurrado para o peso pelo meu corpo... o pessoal falava você vai fazer lançamento...” (T8) Os técnicos de atletismo comentaram as estratégias utilizadas na equipe de atletismo para a iniciação esportiva de crianças e jovens a prática das provas dessa modalidade esportiva: “eu comecei desde o zero com ele... ensina o peso ensina o disco tentei o martelo... e ele se acertou no disco... aqui a criança passa por tudo nós demos barreira para eles... nem ensina vai passando... agora precisa saber se tem velocidade... rechunchudinho vai para os arremessos... eu vou trabalhando devagar então você vai descobrindo assim ele passa por tudo sabe e eu vou observando” (P1) “aquele olho clínico onde tem uma competição a gente observa o biótipo o jeito daquela criança.... “epa esse leva jeito pra tal prova”... então aí nós começamos a trabalhar mas nunca na prova específica... quem tem boa coordenação observo muito a vontade da criança ...” (P2) O contexto esportivo, caracterizado pela equipe de atletismo, foi de fundamental importância tanto para a aprendizagem quanto para a introdução dos talentos do atletismo ao ambiente competitivo. Para COELHO (1988), na constelação de responsáveis pelo desenvolvimento de crianças e jovens, os professores e treinadores assumem um papel fundamental porque devem orientar as expectativas dos jovens praticantes, e interferir quando da necessária modificação da atitude de pais e dirigentes em relação ao esporte. Portanto, a qualidade do 56 profissional e o papel que desempenha na orientação, parecem ser determinantes para o processo de especialização motora dos talentos esportivos. Com relação ao microssistema família, nas entrevistas buscou-se informações sobre: o tipo e formas de envolvimento dos familiares com a atividade esportiva do filho; eventos que podem ter modificado a relação entre pais e filhos e, as possíveis relações entre a família e os outros microssistemas no qual o filho participa ativamente, a escola, a vizinhança e a equipe de atletismo. Nas entrevistas tanto familiares como talentos do atletismo, retrataram o papel da família da seguinte forma: “ele (o pai) chegou para mim e falou “olha enquanto eu tiver força e saúde para trabalhar ... você vai fazer o que você quiser... na vida”... então aquilo foi um incentivo muito grande para mim dar continuidade no esporte” (T1) “conhecia o futebol que existia o basquete o handebol o salão mas não sabia a regra conforme eu fui participando fui aprendendo fui passando um pouquinho para eles” (T2) “os meus pais são de uma religião que não permitia que você se envolvia com o esporte foi meio dificultoso eu tinha uma dificuldade enorme de sair... mais com o tempo eles foram entendendo e viram que eu adorava fazer aquilo e também era um incentivo para eu não ficar na rua” (T9) “não gostavam não... minha sorte eu acho foi porque quando eu comecei eu tava no rastro do meu irmão... aí ela começou a me liberar mas nós não tínhamos nenhum incentivo” (T8) Através dos depoimentos dos familiares e talentos do atletismo, percebeu-se que o envolvimento da família com a atividade esportiva, parece ter aumentado no sentido em que os estabeleciam as conexões através da comunicação e conhecimento das atividades de um ambiente em relação ao outro. Para CRATTY (1984), os membros da família parecem ser os modelos mais importantes para a participação esportiva e, o importante é a “qualidade” do envolvimento mais do que o “grau de freqüência”, com que o progenitor e filho partilham a atividade. 57 Um evento não-normativo importante ocorreu nessa fase para a família de um dos talentos. Esse evento referiu-se ao falecimento do pai e, foi assim lembrado: “... porque eu perdi o meu pai antes do inicio de eu começar tudo isso eu perdi o meu pai tinha onze anos.. aí com onze anos eu fui convidado pra ir lá e começou toda a minha vida minha carreira..”(T2) De uma forma geral, através do comentários, pode-se observar o tipo e a qualidade do envolvimento dos familiares durante a fase de aprendizagem dos esportes. A nível de eventos que podem influenciar na participação esportiva, detectou-se, que o falecimento do pai associado a condição de filho primogênito pode ter tido impacto no futuro envolvimento de um talento do atletismo. Pois de acordo com BRONFENBRENNER (1996), as crianças vivendo em famílias de progenitor único, chefiadas pela mãe, estão expostas a um risco maior de disrupção no desenvolvimento cognitivo, emocional e social. Portando, esse evento nãonormativo merece ser considerado para a posterior análise dos eventos que influenciam na continuidade ou no abandono do contexto esportivo competitivo. Mas, ao participar de diversos contextos ou microssistema os talentos do atletismo ampliaram a sua rede social e promoveram uma série de inter-relações entre dois os mais ambientes, caracterizando de acordo com BRONFENBRENNER (1992), os mesossistemas. A forma básica de mesossistema, ocorre quando a mesma pessoa participa de atividades em mais de um ambiente criando, assim, uma rede social direta ou de primeira ordem entre os ambientes dos quais participa. Outra forma de mesossistema são as ligações indiretas, definidas quando a mesma pessoa não participa ativamente de ambos os ambientes, mas ainda estabelece uma conexão entre os dois ambientes através de uma terceira pessoa que serve como vínculo intermediário criando assim uma rede social de segunda ordem. A existência das inter-conexões entre os microssistemas foram evidenciadas pelos talentos nas seguintes expressões: 58 “entrei na escola essa turminha... continuou porque éramos todos vizinhos e o pessoal montava o time de futebol ou brincava na escola...” (T1) “o atletismo eu comecei quando um primo meu e ele era campeão brasileiro né... e o técnico tava procurando alguém pra fazer a equipe de arremessador meu primo fez minha cabeça pra eu ir..” (T5) “eu era espelhado no meu irmão mais velho... ele começou a fazer basquete e nós jogava muito basquete no colégio...e aí ele começou a jogar vôlei e eu fui jogar vôlei...” (T8) A comunicação multiambiental foi outra forma de inter-conexão entre dois microssistemas, as mensagens transmitidas de um ambiente para outro com a intenção expressa de dar informações específicas para as pessoas do outro ambiente, podendo ocorrer diretamente, através de interação face a face, conversas telefônicas ou correspondências e indiretamente, através da rede social sendo unilateral ou em ambas as direções (BRONFENBRENNER, 1996). Em um caso específico, o talento do atletismo necessitou a permissão dos pais para realizar as atividades na equipe de atletismo, portanto, uma comunicação multiambiental se estabeleceu, essa ocorrência foi ressaltada dessa forma: “na época sim... porque precisava da autorização né... porque eu tinha que deslocar da residência até o colégio estadual... então o colégio comunicava pedia autorização para os pais para participa” (T2) Diferente da fase de estimulação, a fase de aprendizagem motora, incorporou dois novos microssistemas e iniciou a criação de uma rede social entre esses microssistemas. Essa rede social denominada mesossistema, ampliou o mapa ecológico dos talentos esportivos através da participação, comunicação, conhecimento multiambiental e as ligações indiretas. A ampliação do mapa ecológico dos talentos do atletismo é demonstrada na Figura 9. 59 Macrossistema Exossistema Mesossistema Microssistema Equipe Atletismo Microssistema Escola Talento Microssistema Família Microssistema Vizinhança Cronossistema: Período vital e Social dos talentos, através das transições ecológicas do curso da vida. FIGURA 9 – Mapa ecológico dos talentos do atletismo na fase de aprendizagem motora. Com a ampliação da rede social dos talentos, ocorreu um maior envolvimento dos familiares nas atividades esportivas dos filhos, bem como, estabeleceram-se vínculos entre escola e equipe de atletismo, escola e família, e equipe de atletismo e escola. Os talentos, de uma maneira geral, devido a seus atributos pessoais, parecem ter sido instigados a busca do rendimento esportivo, portanto, ocorreu a continuidade do processo de especialização motora. 4.1.3 Fase da prática motora dos talentos do atletismo Nessa fase do processo de especialização motora, os talentos buscaram o envolvimento com a modalidade esportiva do atletismo. Nesse sentido, os atributos pessoais parecem ser fundamentais para um aperfeiçoamento das capacidades individuais, portanto, a idade e o biótipo, além da motivação, foram caraterísticas determinantes para a opção pelo atletismo competitivo. Os atributos pessoais que 60 levaram os talentos a optarem, selecionarem ou serem selecionados para a prática do atletismo foram, destacadas durante as entrevistas nas seguintes afirmações: “ele (o técnico) gostou da minha aptidão... não sei se do meu biótipo... porque eu sempre fui muito grande... eu pra você ter uma idéia com treze anos já tinha um e oitenta e um porte físico mais elevado...” (T2) “a gente olha na pessoa a estatura o biótipo da pessoa... o C era uma pessoa forte então convidei ele para treinar” (P2) O técnicos de atletismo, utilizaram a sua competência profissional como instrumento de seleção dos talentos. SOBRAL (1988), reconhece que a seleção dos atletas adolescentes é feita com base das dimensões corporais e da qualificação técnica, portanto, a utilização de parâmetros morfológicos e fisiológicos são comuns. Com o mesmo pensamento, WEINECK (1991), aponta que as condições antropométricas, características físicas, além, dos fatores afetivos e sociais exercem influência na detecção dos talentos esportivos. Com relação aos atributos sócio-emocionais, a motivação para o envolvimento com o esporte foi citada, ainda, com ênfase nas oportunidades para viagem e pela possibilidade de conquista de medalhas. Esse atributo pessoal para a prática do atletismo foi realçado pelos talentos nas seguintes afirmações: “o que me motivava era um dia conseguir ir pra uma olimpíada... me motivava também olhando os atletas de nível internacional para um dia eu chegar ao nível deles...” (T6) “que daí incentivava o pessoal a treinar... é viajar com os amigos né... e motivava a gente a treinar porque senão fizesse um bom resultado não ia viajar...” (T7) “...a criança principalmente no atletismo ou em qualquer modalidade ele gosta de viajar... então se você botar um dois ou três ônibus do município a cada dois meses você leva essa garotada...” (P3) 61 Na fase de aprendizagem motora, a idade de iniciação aos diferentes esportes ocorreu entre o décimo primeiro e décimo terceira ano de vida na fase de prática essa idade variou em dois anos a mais, ou seja, quem aprendeu aos onze anos evidenciou a prática motora entre os doze ou treze anos de vida. De maneira geral aos treze anos todos os talentos já se encontravam em fase de prática motora com exceção do talento dez. Apesar da aprendizagem em vários esportes nessa fase somente o talento seis relata ter praticado outra modalidade esportiva, especificamente, o futebol. Os outros talentos, citaram, que dentro da modalidade de atletismo aprenderam diversas provas, por exemplo corridas, arremessos e saltos. Assim, atletas de velocidade, aprenderam e praticaram as corridas curtas, de cem e duzentos metros e o salto em distância; os arremessadores experenciaram os lançamentos de disco e dardo e o arremesso do peso, e os corredores de longa distância, além de provas de oitocentos e mil e quinhentos metros, as provas com barreiras. A representação esquemática do processo de especialização motora, com ênfase até a prática motora é apresentado na Figura 10. Especialização Motora Prática Motora atletismo Aprendizagem Motora atletismo voleibol futsal Estimulação Motora atividades variadas handebol basquetebol futebol FIGURA 10 – Fase de prática motora dos talentos esportivos do atletismo. 62 Para KREBS (1992) uma mudança conceitual ocorre nesta fase. O sistema totalmente aberto (estimulação) e parcialmente aberto (aprendizagem), passa a ser entendido como um sistema parcialmente fechado (prática). Assim, o plano motor que caracteriza o movimento a ser executado, bem como, as demais condições da tarefa, já está, a priori, definido. Nessa fase, a ênfase do praticante deve ser no aperfeiçoamento da resposta. O fenômeno mais importante que caracteriza esta fase é a automatização do movimento, o que quer dizer que todas as aquisições que aconteceram a nível consciente, podem ser agora executadas a nível subconsciente. Na prática motora é importante a passagem do estágio de aplicação para o estágio de utilização ao longo da vida, da fase dos movimentos especializados, segundo o modelo de Gallahue (KREBS, 1992,1993). A partir da aprendizagem de vários esportes a prática motora de uma atividade específica, no caso, o atletismo, já requer dos indivíduos alguns atributos físicos e psicológicos, relacionados a demanda das tarefas solicitadas por essa modalidade esportiva. Realizada a identificação dos atributos pessoais dos talentos nessa fase, buscou-se caracterizar os contextos que influenciaram a escolha pela prática do atletismo. Com o desenvolvimento dos talentos e o maior interesse pela atividade desportiva, ocorreu um aumento das ligações existentes entre os microssistemas. Durante esse período de prática motora, a vizinhança passa a ser um microssistema secundário, ou seja, os talentos já não experenciaram, nesse contexto, atividades esportivas significantes. Dessa forma, a família, a escola e a equipe de atletismo foram os três microssistemas que influenciam o desenvolvimento do talento. Sobre esses microssistemas, passamos a discorrer enfatizando que o aumento da relação entre a família e a equipe de atletismo (mesossistema). A família, durante o processo de desenvolvimento do talento, apareceu como uma fonte de suporte e motivação para a escolha e permanência do talento na atividade esportiva. A sua localização demográfica, a estrutura financeira, a constituição interna, bem como, as relações interpessoais que ocorreram nesse contexto parecem ter sido de importância fundamental para a continuidade do talento em sua área de maestria. Nas entrevistas os talentos, familiares e técnicos descreveram como foi o incentivo, participação e a valorização em relação a participação esportiva: 63 “...a principio eu sempre ia sozinho... minha mãe sempre apoiava... meu pai num falava nada... depois que eu comecei a trazer medalha meu pai gostava... mas minha mãe ficava eufórica...” (T4) “meus pais gostavam que eu praticasse atletismo... mas era um esporte aquela ideologia é saúde não vai pro crime não vai pensar em coisas ruins... eles me incentivavam” (T7) “eu nunca tive apoio por parte da família... porque meus pais são gente bastante simples meu pai sempre foi garçom... de atletismo ele nunca ouviu falar... mãe também do lar ela nunca se envolveu...” (T2) O papel da família no envolvimento do filho com o esporte competitivo, referiu-se ao acompanhamento e suporte nas atividades que o filho percebeu-se competente. De forma geral, observou-se que a situação financeira das famílias de talentos esportivos do atletismo, não estabeleciam muitas conexões com a equipe de atletismo. Apesar disso, os pais identificaram o esporte como um ambiente favorável para o desenvolvimento do filho. Com o objetivo de fortalecer as relações entre família e equipe de atletismo (GONZÁLEZ, 1997), sugere reuniões entre treinador e pais; transmitir mensagens sobre seus filhos e seu rendimento nos treinamentos e competição; informar sobre os objetivos da equipe e, assim fomentar uma relação é uma boa política para evitar protestos. Além do ambiente familiar, a escola também foi um microssistema onde os talentos executaram atividades e despenderam um período de tempo significativo. Nesse sentido, a escola parece ser um ambiente aceito socialmente e, particularmente, pelas famílias dos talentos do atletismo, como um caminho necessário para a formação pessoal. Apesar de, nessa fase de prática motora, esse ambiente não ter exercido o mesmo papel fundamental para o desenvolvimento do talento como na fase de aprendizagem, esse ambiente aparece, ainda, como um ambiente no qual todos os talentos estiveram inseridos durante seu processo de escolarização. Nas entrevistas os talentos esportivos retratam o seu envolvimento com o ambiente escolar da seguinte maneira: 64 “estudar sempre todo mundo tem que estudar eu estudava de manhã e fazia esporte a tarde a tarde e noite” (T6) “a única responsabilidade que eu tinha era de estudar já que meus pais colocaram eu no senac e eu fiz de tudo tipo de curso pessoal almoxarifado fiz vários cursos” (T10) Embora, as famílias não tenham exercido um papel fundamental para o envolvimento do talento com o esporte competitivo, percebeu-se a preocupação dos pais para com a atividade escolar durante a aprendizagem de esportes. Além dessa participação no contexto escolar, o local onde o talento de atletismo encontrava as condições necessárias para a continuidade no seu processo de desenvolvimento esportivo era a equipe de atletismo. Esse contexto, caracterizou-se por determinar uma especificidade de atividades que deviam ser desempenhadas. Dois critérios parecem ser evidentes para a promoção do processo de especialização motora: o primeiro de significância pessoal, ou seja, os talentos participaram dessa atividade por uma opção própria em função de seus atributos pessoais ou de uma valorização pessoal em relação ao esporte competitivo; segundo, por uma persistência temporal, quer dizer, deve existir uma participação sistemática ou padronizada, onde de tempo em tempo a atividade volta a acontecer (BRONFENBRENNER, 1996). Na equipe de atletismo, a figura central do processo de desenvolvimento do talento passou a ser o técnico. Para a identificação de algumas características desses técnicos de atletismo apresenta-se o Quadro 2, com dados sócio demográficos dos técnicos entrevistados referentes a data de nascimento, idade, estado civil, escolaridade, profissão atual e os principais eventos seus atletas participaram. 65 QUADRO 2 – Características sócio demográficas dos técnicos de atletismo que participaram do estudo. Técnico Idade 1 Data de nascimento 14.04.43 56 Estado civil casado 2 27.07.60 38 casado 3 05.04.34 65 solteiro 4 20.10.65 34 casado 5 12.04.60 39 casado Escolaridade Profissão Atletas em eventos Sul-americano Mundial Sul-americano Superior em Professor Educação física Técnico Municipal Superior em Professor Educação física Ex técnico municipal Superior em Professor Sul-americano Educação física Técnico Municipal Superior em Micro empresário Sul-americano Educação física Ex técnico municipal Superior em Professor Sul-americano Educação física Ex técnico municipal Mundial Sobre o Quadro 2, pode-se notar que todos os técnicos de atletismo eram formados em educação física. Mas que, dos cinco técnicos entrevistados três já não atuam na função de técnico de atletismo. Os motivos para essa desistência da atividade de técnico de atletismo aconteceu, principalmente, pela falta de valorização financeira dos municípios paranaenses nos quais exerciam sua atividade. Os outros dois técnicos de atletismo, ainda persistem nesta atividade esportiva. Retomando fase de prática motora, devido a essa atividade esportiva ter se tornado regular, começaram a se estabelecer as interações com o técnico e os outros atletas que participavam da equipe. Essas relações interpessoais são caracterizadas, de acordo com a teoria dos sistemas ecológicos, pela reciprocidade, equilíbrio de poder e relação afetiva positiva, bem como, esperava-se que o talento demonstrasse um perfil relacionado ao papel que um atleta deve desempenhar. As atividades, os relacionamentos e papéis desempenhados na equipe de atletismo pelos talentos esportivos durante a prática motora foram assim descritos: “...fazia as provas de velocidade revezamento e de salto... assim não gostava muito ... a primeira prova que eu fiz foi o salto triplo ... só que não gostava... sei lá achava esquisito estranho eu gostava eu queria correr” (T1) “eu suportava (o técnico) porque era o caminho era o único caminho que tinha pra viajar e competir... depois eu aprendi que era o jeito dele... e a preocupação que tudo tem sua hora tem seu momento e apesar dele ser chato e tudo mais eu confiava nele ...” (T8) 66 Para MACHADO (1997), em certos casos pode haver entre atletas e técnicos com um nível de interação médio, nesse caso, o atleta tolera o técnico e vice-versa em favor de um objetivo comum ou não, mas buscando manter um relacionamento pessoal com tolerância aceitável e sem atritos. Nessa fase de prática motora, a equipe de atletismo passou a ser o ambiente primordial, para o desenvolvimento de talentos esportivos. Verificou-se que existe tanto um aumento no tempo despendido nessa atividade que, geralmente, passa a ocorrer em uma persistência temporal de uma hora a duas horas por dia, três vezes por semana. Verificou-se também nos comentários que, com o passar do tempo, ocorreu um aumento na intensidade das relações afetivas, em um sentido positivo, entre talento e técnico de atletismo. Sobre a relação afetiva positiva FEIJÓ (1998), coloca que o treinador é a pessoa que mais convive com o atleta sendo, um misto de pai, conselheiro, confessor, orientador e administrador, quanto melhor o seu relacionamento com os atletas, melhor a produtividade de todos. Mesmo tendo que dividir seu tempo entre a escola e a equipe de atletismo, alguns talentos, ainda, nessa fase de prática motora tiveram que trabalhar, sobre essa situação discorre-se a seguir. Durante as entrevistas três talentos relataram que tiveram ocupações profissionais que iniciaram-se na fase de prática motora. Em seus relatos essa situação ocorreu, principalmente, para ajudar o orçamento da família, visto que, em sua maioria eram famílias retratadas como humildes. Esses relatos são descritos pelos talentos do atletismo da seguinte forma: “trabalhava... estudava a noite... entregava jornal sete horas da manhã mas me sobrava a tarde para treinar... o único problema era na época dos campeonatos... tinha que contratar uma pessoa para entregar no meu lugar...” (T1) “eu comecei a trabalhar muito cedo... nós éramos humildes... então quando nós precisávamos de uma certa renda então eu acompanhava meu pai em inauguração de bancos eu abria garrafas e fazia a retaguarda de garçom... eu sai de boates para lanchonete... onde eu fui chapeiro e com treze anos eu tava no colégio e o banco do brasil lançou um projeto de menor aprendiz e a diretora conseguiu este espaço pra mim e o gerente me deu uma oportunidade...” (T3) 67 A participação em uma atividade profissional com vínculo empregatício, conduziu a uma ampliação das relações que poderiam existir entre a família a equipe de atletismo e também a escola, que eram os ambientes onde o talento estava inserido. Essas inter-conexões foram retratadas pelos talentos técnicos de atletismo e familiares, nos comentários: “...foi lá em casa ai chegou a noite ... ai a minha mãe falou “você conseguiu não era o que você queria”... queria começar a treinar alguma coisa... eu guardava todas as medalhas que ele trazia era a felicidade pra nós.. eu era aquela torcedora primeira de carteirinha...” (F1) “quando eu tava na escola lá o pessoal falava “não vamos lá competir vamos treinar vamos treinar lá” e eu falei “mas será” ... daí nos reunimos e começamos a treinar aquele mesmo pessoal da escola fomos pra pista de atletismo...” (T7) Apesar da inserção de um novo microssistema (local de trabalho dos talentos), e a passagem do microssistema vizinhança para um plano secundário, o mapa ecológico dos talentos não se ampliou de forma significativa durante a fase de prática motora. Na realidade, verificou-se uma maior intensidade nas inter-conexões entre os ambientes. Com a chegada da adolescência, parece que a rede social dos talentos ampliou-se. De maneira geral, essa fase de prática motora foi vivenciada até os dezesseis anos de idade. A representação esquemática dos contextos e suas interconexões é apresentada na Figura 11. 68 Macrossistema Exossistema Mesossistema Microssistema Equipe Atletismo Microssistema Escola Microssistema Família Talento Microssistema Local de trabalho Cronossistema: Período vital e Social dos talentos, através das transições ecológicas do curso da vida. FIGURA 11 – Mapa ecológico dos talentos de atletismo na fase de prática motora A fase de prática motora foi caracterizada pelo aperfeiçoamento das capacidades motoras dos talentos em relação as provas do atletismo. Nesse sentido, e acordo com seus atributos pessoais são direcionados pelos técnicos ou por motivação própria a prática de provas relacionadas com a sua competência motora. Portanto, a equipe de atletismo, parece ser durante a fase de prática motora o contexto primordial para a desenvolvimento dos talentos. Com o decorrer da aprendizagem e da prática motora, os talentos determinaram as suas especialidades dentro a modalidade de atletismo, isso conduz a uma maior dedicação, o que conduz a fase final do processo de especialização motora. 4.1.4 Fase de especialização motora dos talentos de atletismo Essa fase de especialização motora foi caracterizada pela dedicação exclusiva ao esporte escolhido. No caso dos talentos, entretanto, atletismo além da opção por essa modalidade esportiva, o talento já passava a dedicar-se, exclusivamente, a prova na qual percebeu-se competente. Nesse sentido, discute-se, primeiramente, os 69 atributos pessoais que levaram a escolha e dedicação a essa prova atlética e, em um segundo momento, os contextos vivenciados pelos talentos esportivos durante a fase de especialização motora. Nessa fase de especialização motora, o talento após vivenciar as fases anteriores e tendo conhecimento da prova dentro da modalidade de atletismo na qual seu desempenho produziu os melhores resultados esportivos, passou a demonstrar uma dedicação exclusiva a essa prova específica. BRONFENBRENNER (1992 ) cita uma ampla variedade de fatores: idade, sexo, biótipo, motivação, e personalidade como características com grande potencial de influência no curso de desenvolvimento futuro das pessoas. Com relação a idade de início a dedicação a prova de atletismo escolhida, os talentos revelaram: “...quando optei pelo disco basicamente para o treinamento do disco... já tinha meus quatorze para quinze anos em mil mil novecentos e oitenta e nove...” (T2) “era mais ou menos oitenta e cinco é oitenta e cinco... quinze quinze quatorze anos (optou pelo salto com vara) “(T3) Os talentos do atletismo, com relação a caraterística física predominante, entre as que foram citadas, destacamos: “a estatura influência né... e o volume também que é a força força e velocidade... eu creio que no atletismo a força e a velocidade que eu tenho é forte como eu tenho uma velocidade boa e uma estatura boa” (T5) “não sei porque eu fui desenvolver sempre magro magro magro... não tinha nenhuma característica eu podia dizer de saltador de vara... a pessoa tem que ter biótipo avantajado e a própria forca que é necessário pra modalidade... velocidade não eu nunca tive velocidade... a não ser o salto em altura que eu tinha o poder do impulso” (T3) “com quinze anos eu emagreci e daí comecei a ter potência... e quando comecei a emagrecer eu comecei a pegar uma velocidade tremenda a curta distância... e isso era fundamental para o lançamento...” (T8) 70 Com relação aos aspectos sócio-emocionais que determinaram a chegada a especialização esportiva, e ao rendimento no atletismo competitivo, os talentos, familiares e técnicos, assim, descreveram esses atributos pessoais: “talento não é só a qualidade física esse é um dos fatores a velocidade... uma boa estatura outro fator a força a determinação... a determinação ajuda porque só o talento treinar não chega... então o importante é a determinação” (P4) “então quando ele bota na cabeça que ele vai fazer ele tem uma força de vontade força de vontade incrível... como atleta sempre foi muito dedicado ... eu acho que é dom tem que ser ...” (F9) “...e eu entrava mais era pra me superar eu não tinha rivalidade com o inimigo... meu inimigo era mesmo o relógio eu era muito muito perfeccionista... e sempre gostava de analisar andava na pista pensando o que ia fazer na corrida...” (T7) Portanto, a idade aproximada de escolha da prova para a dedicação exclusiva situou-se entre os quatorze e dezesseis anos de idade, com exceção para o talento 7 que foi aos dezoito anos e o talento 10 que ocorreu aos dezenove anos. As qualidades físicas evidenciadas para a seleção aparecem estar relacionadas ao tipo de prova executada, ou seja, para os talentos que demonstraram velocidade as provas de corridas curtas, para os mais fortes as provas de arremessos e para os talentos com boa resistência as provas de corridas de meio fundo e fundo e marcha atlética. Quanto aos atributos sócio-emocionais ,os mais evidenciados foram a motivação para viajar, para conhecer novos lugares e, principalmente a força de vontade, a determinação e a dedicação.Com a dedicação exclusiva a prova de maestria do talento esportivo no atletismo apresenta-se o modelo de especialização motora baseado em KREBS (1992, 1993), que está representado na Figura 12. 71 Especialização Motora atletismo Prática Motora atletismo Aprendizagem Motora atletismo voleibol futsal Estimulação Motora atividades variadas handebol futebol basquetebol FIGURA 12 – Modelo de especialização motora dos talentos do atletismo Na fase final do modelo, KREBS (1992) enfatiza que ao chegar nessa fase o especialista deverá buscar a perfeição, e é por isso que deve-se entender essa fase como um modelo totalmente fechado. O autor conclui que as diferenças entre essa fase e a anterior residem nos fatores socioculturais envolvidos no processo da especialização motora, assim, essa deve ser uma opção de vida que além de exigir uma dedicação exclusiva, parece estar reservada apenas para uma minoria. Devido aos objetivos dessa fase estarem direcionados para o alto rendimento, pode-se, comparar no Quadro 3, as idades para o início a prática, especialização e alto rendimento (BOMPA, 1995), as zonas de idade para o primeiro sucesso (Lempart, apud WEINECK, 1991) com as idades dos melhores resultados dos talentos do atletismo deste estudo. 72 Quadro 3 – Comparação entre as idades para início a prática, especialização e rendimento Talento Prova do atletismo T1 T3 T2 T5 T8 T4 T6 T7 T10 T9 Salto triplo Saltos Arremessos Arremessos Arremessos Corridas curtas Corridas curtas Meia distância Meia distância Longa distância Início a Prática Bompa estudo (1995) 12-14 13 12-14 13 14-15 13 14-15 13 14-15 12 10-12 11-12 10-12 13 13-14 12 13-14 17 14-16 14 Início a especialização Bompa estudo (1995) 17-19 16 16-18 16 17-19 14 17-17 14-15 17-19 15 14-16 16 14-16 14 16-17 18 16-17 19 17-19 15 Alto rendimento Bompa (1995) 23-26 22-25 23-27 23-27 23-27 22-26 22-26 22-26 22-26 25-28 Zona de primeiro sucesso Lempart apud Weineck (1991) 22-23 23-24 23-24 23-24 23-24 19-21 19-21 23-24 23-24 25-26 Melhores resultados estudo 17-18 18-19 21-22 18-20 16 17-18 18-20 23-26 16-20 Comparando as idades propostas por Bompa e as idades dos talentos do estudo, verificou-se que com relação a idade para início a pratica houve uma variação de um ano anterior ou posterior a idade recomendada, com exceção do talento dez, que iniciou e especializou-se dois anos após a idade recomendada. Com relação a idade de início a especialização, em média os talentos do estudo especializaram-se na sua prova dentro do atletismo com uma antecedência de três anos em relação a idade proposta por Bompa. Na comparação entre as idades do primeiro sucesso e alto rendimento foram verificadas as diferenças mais significativas. Nessa comparação, cinco talentos obtiveram os melhores resultados, em média, cinco anos antes a idade recomendada; um talento na idade recomendada; um talento dez anos anteriores a idade recomendada, e três talentos com variações entre dois e três anos anteriores a idade recomendada. A comparação entre as idades de alto rendimento, primeiros sucessos e as idades de melhores rendimentos dos talentos de atletismo do estudo, permite inferir que os talentos do estudos obtiveram um resultado esportivo precoce em relação as idades recomendadas por BOMPA (1995) e Lempart apud WEINECK (1991). Durante a fase de especialização motora, configurou-se a totalidade do mapa ecológico, que influenciou na promoção ou na inibição do desenvolvimento dos talentos esportivos. Nessa fase, além dos microssistemas família, escola, equipe de atletismo incorporou-se, em alguns casos, o ambiente de trabalho dos talentos e a modificação do ambiente ensino básico para o ensino superior. A nível de mesossistema, intensificam-se as inter-conexões entre equipe de atletismo e a família, equipe de atletismo e escola/universidade. Expandiu-se o mapa ecológico dos talentos esportivos pelo acréscimo dos exossistemas, local de trabalho dos pais, 73 prefeituras municipais, a federação de atletismo, patrocinadores e a mídia esportiva. E, finalmente, no nível mais amplo o macrossistema foi caracterizado, de um lado pela valorização do esporte como uma área de desenvolvimento de talentos e, por outro, lado a secretária do estado de esporte e turismo, como a instituição responsável pelo gerenciamento do esporte e lazer no estado do Paraná. Nesse sentido, o papel desempenhado pela família na promoção e desenvolvimento do talento esportivo, durante a fase de especialização motora pode ser decisivo na continuidade ou no abandono da atividade esportiva competitiva. Apesar da equipe de atletismo, continuar sendo o microssistema primordial para o processo de especialização esportiva do talento, o ambiente familiar ainda influencia o seu desenvolvimento. As formas ou influências da família no sentido de dar suporte positivo ao desenvolvimento esportivo foram citadas pelos talentos esportivos nos seguintes comentários: “era um relacionamento positivo eles me apoiavam falavam pra mim vontade... tinha dia que eu ficava em casa batia aquela preguiça eles falavam... vai treinar tem competição...”(T3) “eu levantava cedo e falava pra ele vai treinar ... eu sempre incentivei sempre acompanhando o que acontecia lá junto o que acontecia na aula dele eu sempre segui os passos dele...” (F4) “... não ter que ajudar em casa esse foi o grande incentivo dos meus pais... o que você ganhar é pra você se manter... é que eles não podiam me ajudar financeiramente no atletismo...” (T8) Embora muitas famílias relatem que a participação do filho no contexto esportivo competitivo era bem aceita, em muitos casos essa aceitação já não ocorreu, e críticas começavam a se instalar nesse período. Talentos e familiares relataram a sua percepção em relação ao envolvimento do filho com o esporte competitivo, utilizando as seguintes expressões: 74 “como eu gostava do atletismo e abandonava um pouco o emprego foi aonde eu recebi muitas criticas dos meus pais... porque na época eu até hoje fica treinando vai vai saltar que vai dar futuro pra você...e não apoiava e quando eu tava no auge começando a desenvolver a despontar no atletismo aonde eu recebi uma carga de criticas...”(T2) “eu já era um atleta de ponta tanto no Paraná como no Brasil... então ficou meio assim mas eles falavam assim... “veja bem aonde é que isso vai te levar”... a gente começa a pensar...” (T7) “minha família apoiou muito até hoje eles me apoiam já com um pé atrás eles falam... “oh já tá na hora de você procurar um rumo né é tá na hora mais tá difícil também”... hoje em dia tá difícil né...” (T10) Como pode-se observar nos relatos de talentos e familiares, o envolvimento esportivo estava dependente da condição financeira da família, e com dezesseis anos de idade, alguns pais já desejavam que os filhos procurassem uma atividade profissional para ajudar na manutenção financeira da família, portanto, se nas fases anteriores a participação em esportes não era tão questionada, nessa fase tornou-se evidente. Para MACHADO (1997), os pais com seus poderes e autoridades, são os torcedores mais ávidos, e devido a aproximação afetiva podem tornar-se pessoas que cobram acima da média, por outro lado, a torcida familiar silenciosa pode ser tão perigosa quanto a primeira e, ainda, podem oferecer um momento de reflexão aos problemas pessoais dos atletas. Nessa fase, ocorreu outro evento não-normativo, faleceu o pai do talento esportivo 1, esse evento parece ter afetado a sua percepção e seu envolvimento com o esporte competitivo e, foi descrito pelo talento: “só ao atletismo porque como diria meu pai faleceu em noventa e quatro a partir de noventa e quatro eu queria ser um campeão... tinha que ser como meu pai sonhava e queria que eu fosse né... a vontade e a força também não parecia fisicamente mas eu tinha muita força muita força” (T1) 75 A perda do pai é um momento marcante na vida de qualquer indivíduo. O talento T1 descreveu esse fato demonstrando intensa emoção, salientando que esse evento foi muito importante para a sua dedicação ao esporte. Da mesma maneira, o talento relatou a identificação do papel do pai na figura do técnico de atletismo. A escola parece não ter sido o ambiente primordial para o desenvolvimento dos talento do atletismo em relação ao esporte competitivo, esse papel também parece que não foi desempenhado pelas instituições de ensino superior. Apesar disso, foram ambientes onde os talentos dedicaram um período de tempo para as atividades de sua formação escolar e ou de sua formação profissional. Os talentos esportivos caracterizaram seu envolvimento com essas instituições de ensino durante suas entrevistas através destes comentários: “eu sempre estudei estudei e treinei eu estudava pela manhã... em noventa e dois eu tava terminando o colegial tava fazendo cursinho eu fiz pra entrar na universidade você estuda bastante e esquece um pouco o esporte” (T5) “...eu já era meio atrazadinho na escola eu já passei pra estudar a noite... eu estudava a noite e comecei a treinar em dois períodos a semana inteira... oito horas em média por dia” (T7) “empolgou demais e não é que ele se esqueceu dos estudos... é porque o colégio não repunha as matérias pra ele muitas vezes ele teve dificuldades... e hoje com vinte anos não terminou o segundo grau” (F6) A escola ou a universidade foram os contextos além do ambiente familiar onde, principalmente, os pais se preocupavam com as atividades desenvolvidas por seus filhos. Quando da necessidade de participação dos talentos em treinamentos e competições que ocorreram na fase de especialização, algumas dificuldades começaram a aparecer em função das exigências e demandas de cada ambiente. Sendo assim, aumentaram consideravelmente as exigências dos talentos em termos do aproveitamento acadêmico e, no mesmo sentido aumentavam as demandas das tarefas, que ele deveria executar para atingir melhorar resultados no esporte competitivo. 76 Nessa fase de especialização motora, a equipe de atletismo, foi o contexto onde talentos executavam as tarefas específicas da sua prova de rendimento esportivo. Tendo optado pela dedicação ao atletismo, discute-se a seguir como ocorreu a seleção para essa prova no atletismo, o tempo despendido para as atividades de treinamento, a qualidade dos técnicos e as relações interpessoais que ocorreram com a intensificação do envolvimento na atividade esportiva competitiva. Com relação a prova e dedicação, talentos descreveram assim como foram selecionadas: “fui descoberto jogando futebol ele (o técnico) me viu e me convidou pra correr nos escolares... eu fui lá e ganhei deles foi a minha primeira corrida... o atletismo eu treinava era todos os dias da uma as seis horas da tarde ..”(T6) “...eu fui pros jogos abertos daí chegando lá faltava atleta pro quatrocentos com barreira... ah vai você mesmo é pra marcar ponto... quando chegou a sétima eu chutei a barreira e fui desclassificado e voltei e meu técnico falou... mas você até que tem um estilo bom pra competir nos quatrocentos com barreira... e eu comecei a treinar...” (T7) “numa corrida contra as drogas que vinha de Curitiba pra Maringá... o técnico me colocou eu pra fazer uns cinqüenta metros de marcha e aí ele viu que eu tinha potencial pra marchar e eu comecei a marchar em 1991 eu tava com quinze anos... logo de cara fui pra o juventude e fiquei em primeiro lugar e peguei gosto pela coisa e logo comecei a me destacar” (T9) Embora autores como WEINECK (1991); BOMPA (1995); REGNIER et al. (1993), apontem as preocupações, as dificuldades as críticas, a difícil missão da descoberta de talentos esportivos, verificou-se que os técnicos de atletismo parecem utilizar da própria experiência para a seleção de “talentos no contexto”. Com relação a persistência temporal nas atividades de treinamento os talentos assim quantificaram seu tempo de dedicação aos treinamentos: 77 “... no inicio três vezes por semana... quando eu fui melhorando participando de competição tendo resultado melhor aí ficou a semana inteira... em torno de duas a três horas” (T2) “eu treinava aí já era integral dia um período assim.... vamos supor das duas as seis quatro horas em media por dia eu treinava e trabalhava” (T3) Com relação ao tipo de trabalho que os técnicos desenvolviam para selecionar os talentos ou verificar em quais provas eles melhor se adaptavam. Esse procedimento caracteriza-se como uma qualidade dos técnicos e foram assim descritos: “ele (o técnico) falava não adianta querer te matar aqui no treinamento... dá resultado agora não quero resultados agora... quero mais pra frente... se a gente tiver resultado agora melhor ainda” (T1) “muitas vezes aquela ansiedade de querer que o atleta consiga um resultado e você dá uma sobrecarga num atleta e você machuca e deixa ele inútil pro esporte pro resto da vida então muitas vezes aquela ansiedade” (P2) “eu me especializei na Rússia eu gosto muito de barreiristas e do fundo estudei com grandes técnicos nessa duas áreas” (P4) Independente da qualidade dos técnicos, a relação interpessoal com o passar do tempo tornou-se intensa e evidente, principalmente, quando o talento começou a obter um excelente resultado no esporte competitivo. Assim, o técnico dedicou também mais tempo e preocupação com as necessidades do talento. A relação afetiva positiva e crescente entre talento e técnico foi descrita por ambos desta forma: “ele era muito disciplinador... ensina a ver os próprios erros... um espetáculo de pessoa como se fosse um pai... nessa fase nosso relacionamento continuou o mesmo até melhorando... houve a cumplicidade também a gente começou a debater mais” (T1) 78 “toda a minha vida eu treinei com ele... o que eu posso considerar ele um pai que muitas vezes eu não tive o pai que muitas vezes eu não tive em casa... era uma pessoa dedicada... ele não era só um técnico era um amigo...” (T3) No entanto, com a chegada de competições e o conhecimento de novos ambientes os talentos relacionaram-se com outras pessoas e, vivenciaram outros ambientes. Essas experiências podem afetar o ambiente primordial onde o talento se desenvolvia. Dessa maneira o talento retratou sua relação pessoal com o técnico e como esta foi modificando-se: “no inicio quando você começa a treinar tudo o que o técnico tudo é novo você não conhece você faz aquilo... porque você acha que é o melhor pra você.... e realmente é... com o passar do tempo você começa a viajar e tomar conhecimento você vê que tem coisas que o técnico ó não é a maioria fala assim mas tem algumas coisas que você vê que tá errado isso é assim assim assim .... então de vez em quando tem aquelas divergências não batia as idéias e tal e chamava o professor porque não é assim eu fui em tal competição e aprendi eu vi o cara fazendo assim... não ele falava assim.... então começava aquele atrito e no começo foi aquele atrito meio leve meio superficial .... fora isso nosso dialogo era bom...”(T2) Conforme exposto neste tópico, o contexto equipe de atletismo passou a ser o mais importante para o processo de especialização motora. A forma de seleção de talentos, parece ser realizada em função das experiências do técnico, com o contexto esportivo. As evidências mostram que o biótipo e a característica física, são fatores de grande influência da escolha da prova do atletismo. Já, a determinação e a dedicação parecem ser os aspectos psicológicos ou sócio-emocionais mais importantes nessa fase de especialização motora. A qualidade dos técnicos, bem como, sua relação com os atletas aumentavam proporcionalmente ao nível de desempenho atlético. Mas, além dos microssistemas já caracterizados, evidenciou-se ainda, o local de trabalho vivenciados por alguns talentos. Durante sua trajetória de desenvolvimento, com a chegada da adolescência e início a vida adulta, alguns talentos experenciaram uma nova atividade, a atividade profissional. Esse ambiente solicitava uma persistência temporal que pode, em 79 alguns casos, diminuir ou limitar a dedicação do talentos, para com o esporte competitivo. Os talentos que por opção ou por necessidade, tiveram que trabalhar durante fase de especialização motora relataram assim essa experiência: “eu tinha que trabalhar oito horas... eu não trabalhava oito horas eles me liberavam para treinar as quatro horas da tarde... eu ia viajar não era descontado nada era como se eu estivesse trabalhando... era uma camaradagem” (T1) “os meus treinamentos já complicou na uel eu tinha que dar treinamentos e a minha carreira de atleta já tava indo pro espaço... nesse ultimo ano de juvenil foi assim a minha decepção...” (T4) “ele não ganhava e tinha que trabalhar pra ganhar... foi esse o caso né porque senão ele continuava... ele começou a trabalhar nós nunca cobramos dele isso foi uma decisão dele... ele tem a cabeça muito no lugar” (F9) Como demonstrado, a necessidade de trabalhar, pareceu estar diretamente relacionada com a condição financeira da família. Portanto, a inter-conexão entre talento, equipe de atletismo, local de trabalho e universidade pareceu aumentar gradativamente e de certa maneira exerceu uma pressão sobre a participação, continuidade ou na qualidade do processo de desenvolvimento esportivo dos talentos. Essas questões podem ser melhor esclarecidas quando passa-se a identificar as interconexões entre esses contextos. Com esse pensamento, parece ser no contexto familiar que se encontram os elos mais fortes da estrutura social. Apesar do talento esportivo buscar o desenvolvimento de suas qualidades no ambiente esportivo, os laços afetivos que os uniam a seus familiares, principalmente aos pais, eram suficientemente fortes para afetar a sua participação em esportes competitivos. Dessa forma, existiu tanto na fase de prática motora quanto na fase de especialização motora, uma evidente conexão entre esses dois microssistemas. A maneira como essa conexão ocorreu foi descrita pelos familiares e técnicos em seus depoimentos desta maneira: 80 eu tinha comunicação até demais... acho que das mães a que tinha mais comunicação era eu ... ai gora ele mais o professor depois eles começou um atrito eles já discutia muito... não se dava muito não (F4) “um relacionamento de estar sempre junto as vezes ele vinha aqui em casa mas só ficava no portão... ele não era muito de ficar aqui em casa mas ele era um senhor cem por cento...” (F3) “eu o conheço tanto que até sou padrinho de casamento dele e sou padrinho do filho dele então a gente está sempre fazendo pescaria e tudo mais” (P3) “eu ia pra casa dele com todos os meus atletas eu tinha um relacionamento familiar com todos os atletas eu tinha um relacionamento familiar muito forte” (P4) Apenas uma situação ocorreu durante a fase de especialização motora onde o relacionamento entre técnico e família, não ocorreu de forma positiva. Essa ocorrência foi narrada pelo técnico: “não sei mas pra mim é influencia dos pais os pais tem muita influencia na vida dele... então as vezes ele não tem um pensamento próprio ele quer fazer alguma coisa e o pai fala que não... isso abala e ele não tem poder de decisão nenhuma.../... é exatamente por causa da influência que os pais dele tem encima dele começou por aí porque o pai dele achou-se no direito de dar treinamento pra ele porque achou que o filho não tava tendo grande rendimento mas pô se o cara é campeão sul-americano menores e não tem rendimento imagine o que é rendimento então...” (P5) O vínculo primário entre a família e a equipe de atletismo foi necessariamente o talento esportivo. Foi através do filho, que os pais tomaram conhecimento sobre as atividades que são desenvolvidas da equipe de atletismo. Mas, na fase de especialização motora, o técnico, passou a ser um vínculo secundário importante para o fortalecimento desse mesossistema. Por outro lado, os pais também demonstravam interesse nos resultados obtidos e participaram mais ativamente das atividades ou treinamentos dos filhos. Em determinadas situações essa participação do pai, no 81 contexto da equipe de atletismo, foi tão intensa que pode ter inibido o desenvolvimento do filho. Mas, além das influências dos pais, escola e local de trabalho a equipe de atletismo, nessa fase, esteve suceptível a influências de ambientes onde os talentos, e as vezes o técnico, não participavam ativamente mas onde ocorreram eventos, que afetaram o desenvolvimento do talento ou da equipe de atletismo, ou seja os exossistemas. A equipe de atletismo, passava a ser o microssistema primordial para o desenvolvimento do talento esportivo, durante a fase de especialização motora. Sendo assim, seria necessário que recursos materiais e financeiros estivessem disponíveis para a promoção do desenvolvimento; visto que a equipe de atletismo, principalmente, a nível competitivo observou-se que no estado do Paraná, está vinculada as prefeituras municipais que atuaram como entidades mantenedoras desse microssistema e, por outro lado, dependentes da federação estadual, que gerencia essa modalidade no estado. Essas duas instituições, passaram a influenciar, indiretamente, no processo de desenvolvimento dos talentos esportivos. Verifica-se, portanto, que as prefeituras municipais, a federação de atletismo, os patrocinadores e a mídia esportiva, foram ambientes que apesar de não envolver o talento em desenvolvimento, como um participante ativo, influenciavam os processos dentro da equipe de atletismo. Na estrutura esportiva do estado do Paraná, verificou-se que as prefeitura municipais, são as instituições administrativas que dão sustentação ao esporte amador. A finalidade principal das secretarias de esportes dos municípios paranaenses, parece ser a participação nos jogos da juventude e jogos abertos, promovidos pela secretaria de estado do esporte e turismo. Com relação ao suporte, a nível de recursos materiais, humanos e financeiros, para as equipes de atletismo no estado do Paraná, talentos, técnicos e familiares fizeram os seguintes comentários: “a prefeitura patrocinava viagem alimentação ônibus essas coisas... a prefeitura... eu recebi só da prefeitura dois salários mínimos para treinar e dar aula na escolinha...” (T2) 82 “da prefeitura é aquele sistema é nos jogos abertos três meses antes começa a vir atrás liga em casa.... então era sempre assim procuravam três meses antes... não tem jeito nós tamos sem verba...” (T5) “eu nunca vi um prefeito chegar pra ele dar um incentivo pra ele sempre quem lutou foi o técnico... patrocínio mesmo sempre quem dava era eu pro meu filho pra ele viajar...” (F6) “hoje em dia a participação é menor devido a condição financeira dos municípios que estão piores... começou a decadência... daí nesses últimos dois anos a administração cortou todo o investimento...” (P3) Com relação aos comentários dos talentos, pais e técnicos percebeu-se que o suporte a equipe de atletismo, bem como, ao esporte amador municipal de maneira geral foi efetuado nas seguintes condições: a prefeitura era um dos locais de trabalho do técnico da equipe, que além de professor de educação física, exercia a função de técnico de atletismo; o suporte financeiro aos talentos, ocorreu em função da disponibilidade orçamentária da prefeitura; os técnicos foram interlocutores entre os talentos, equipe de atletismo e a prefeitura municipal; e o maior ou menor suporte financeiro esteve vinculado a qualidade do prefeito ou do secretário de esportes que viabilizaram os recursos financeiros. Assim sendo, a visão administrativa do político em relação ao esporte foi fator determinante para a continuidade ou descontinuidade do suporte às equipes de atletismo. Finalmente, um evento normativo que foram as eleições municipais, parecem ter tido efeito decisivo na promoção do esporte amador dentro dos municípios paranaenses. As prefeituras municipais, através das secretarias de esportes caracterizaramse como os exossistemas principais de suporte aos talentos e as equipes de atletismo. Considerando que as prefeituras municipais possuem diversas prioridades por exemplo, saúde, educação e segurança púbica, o esporte competitivo muitas vezes foi relegado ao um plano secundário. Dessa forma, os recursos para a manutenção de talentos e equipes esportivas, poderiam estar disponíveis em outros ambientes. Esses outros ambientes, geralmente, são as instituições, empresas ou industrias privadas. Nesses ambientes, busca-se recursos para a manutenção do esporte competitivo e 83 foram denominados neste estudo de patrocinadores. A forma e o tipo de patrocínio recebido foram manifestadas nos seguintes dizeres: “eu chegava pra pedir patrocínio nas empresas no restaurante eu peguei patrocínio porque o meu tio foi falar com o dono do restaurante... e ele falou... “é você que quer comer aqui... eu abaixei a cabeça e fiquei quieto... e muitas vezes eu ia procurar outras empresas mas... ah não temos condições” (T1) “... eu consegui um patrocínio eu corri muito atrás de patrocínio ... aqui do restaurante o Q... eu almoçava lá... e do pessoal de uma loja de esportes a M. esportes que ele me dava tênis e mochila”(T2) “tinha uma estrutura de uma empresa que no inicio era a Q. tinha acadêmicos para trabalhar com o atletismo o que hoje em dia acabou...” (P3) De uma maneira geral, observou-se através dos depoimentos de talentos, familiares, técnicos a dificuldade de se obter patrocínio para as equipes de atletismo. Os patrocínios que existiram foram conseguidos através dos próprios talentos, bem como, através do técnico da modalidade. Existem evidencias de que as empresas, não valorizaram o esporte no estado do Paraná, como instrumento de veiculação ou divulgação de produtos, além do que, existiam dificuldades de articulação entre equipe de atletismo e prefeitura municipal para a elaboração de projetos para a promoção do esporte nas cidades. Com esse pensamento, a federação de atletismo, passou a desempenhar um papel fundamental na promoção da organização, normatização e divulgação da modalidade. Dessa forma, todas as decisões que foram tomadas na federação de atletismo refletiram-se em estímulo ou desencorajamento da prática dessa modalidade. A percepção da importância da federação de atletismo, para o desenvolvimento desse esporte foi assim descrita por talentos, técnicos e dirigentes esportivos: “nos anos oitenta algumas competições... o Paraná não tinha um calendário... após oitenta e cinco um grande impulso quando o M. assumiu a função de 84 presidente... daí após dele pra confederação o Paraná aproveitou ainda uma fase boa e hoje ... um calendário mediano ainda não de todo ruim ...” (P3) “com a saída do M. federação ficou mal administrada porque antigamente... você competia duas três vezes em média duas vezes por mês e depois foi diminuindo diminuindo...” (T6) “hoje nós temos a federação simplesmente par organizar a competição e não para fazer desenvolver o atletismo no Paraná” (P2) As federações, como as prefeituras e o próprio governo estadual passaram por transições normativas que são as eleições. Com relação a federação de atletismo do estado do Paraná, talentos, técnicos e dirigentes foram unânimes em apontar o efeito negativo a saída do então presidente da federação no desenvolvimento da modalidade no estado. Assim, o substituto não correspondeu as expectativas ou ao papel que esperava-se dele. Nesse sentido, o calendário ficou reduzido, as disponibilidades de orçamento para participação em eventos foram diminuindo, e esse efeito, tomou direção, em forma de declínio e decadência da modalidade. Essa decadência, também pode estar relacionada com a falta de veiculação da modalidade de atletismo a nível de mídia esportiva e essa questão será discutida no próximo tópico. Outro fator que teve grande influência, foi a falta de veiculação da modalidade de atletismo na mídia. Com relação a imprensa esportiva, o esporte tornou-se nas últimas décadas um negócio muito rentável e um instrumento muito utilizado para a divulgação de produtos comerciais. Esse fato ocorreu, por um lado, pelo aumento de horas dedicadas ao esporte nos meios de comunicação seja televisão ou rádio. Por outro lado, a nível de mídia escrita, diversas modalidades esportivas conseguiram ampliar o seu espaço de divulgação. Dessa maneira, a imprensa esportiva assumiu um papel importante, como um elo de ligação entre o talento que desenvolve sua potencialidade nos esportes, e o público em geral que são os espectadores do espetáculo esportivo. A forma e o papel da imprensa esportiva foi ressaltado, principalmente pelos dirigentes esportivos com estes pontos de vista: “olha a mídia naquela época ou o professor ia lá e conseguia um espaço na marra dentro do jornal ou tinha ele um programa que era o caso de um 85 professor de Irati ... então ele fazia a própria mídia ... não havia interesse em cima do esporte individual ...” (D1) Segundo BETTI (1994), o desenvolvimento das funções políticas e econômicas do esporte são intensificadas pela reportagem esportiva. Com a evolução do esporte como um fenômeno cultural, a imprensa esportiva, também parece ter percebido da sua importância para a divulgação e manutenção do status adquirido pelo esporte competitivo. Nesse sentido, verificou-se através dos depoimentos dos dirigentes, uma certa incongruência entre os objetivos da imprensa esportiva que é de veiculação do espetáculo esportivo e de outro lado do patrocinador, cujo interesse predominante é a projeção da sua logomarca ou de seu produto. Essa crescente ênfase na importância da mídia, parece também ter sido fator limitante na promoção dos talentos, que eram afetados pelas dificuldades devido a carência de patrocinadores, de recursos disponibilizados pelas prefeituras municipais, e pela estrutura da federação de atletismo. A estrutura mais ampla, o macrossistema, refere-se a consistência observada dentro de uma dada cultura ou subcultura na forma e conteúdo de seus micros-, mesos- e exossistemas constituintes, assim como qualquer sistema de crença ou ideologia subjacente a essas consistências (BROFENBRENNER, 1996). Portanto, espera-se que nessa cultura ou subcultura, seja relativamente homogênea em relação aos tipos de ambientes em que as pessoas entram durante os sucessivos estágios de suas vidas e a natureza das conexões existentes entre os ambientes. Além disso, esses padrões de organização e comportamentos encontram apoio em valores geralmente mantidos pelos membros da cultura ou subcultura. O macrossistema, neste estudo caracterizou-se pela secretaria de estado de esporte e turismo, que gerência no nível mais amplo o esporte no estado. E, por outro lado, a valorização do esporte e dos talentos esportivos, uma área de desenvolvimento humano dentro da cultura do Paraná. De acordo com os entrevistados, apresenta-se um breve histórico de sua evolução ao longo dos anos e sua influência sobre o desenvolvimento do atletismo no estado do Paraná. 86 “na época (mil novecentos e oitenta e dois) pediram pra gente montar um projeto que desenvolvesse essas modalidades individuais... foram aproveitados todos os técnicos que estavam trabalhando com o atletismo na época... com o projeto polos esportivos eles tinham que trabalhar quarenta horas voltados para essa modalidade...” (D1) “de oitenta e três a oitenta e sete não existia uma política de esporte no estado do paraná existia na época uma coordenadoria de esportes atrelada a secretaria da cultura do estado né então em oitenta e sete ... então com a mudança de governo entrou a oposição na época era o pmdb entrou o secretário G. e dois diretores o diretor P. e o J. nessa época começou-se um estudo realmente da política... e na época como a comunidade esportiva não tinha esse exercício de discutir política de esportes as contribuições foram muito poucas... essa política norteou os trabalhos de toda aquela gestão do G. oitenta e sete a noventa e mais dois anos até noventa e dois...” (D2) “... eu acho que realmente o passo dado de tentativa de articulação em todos os segmentos acho que foi dado em noventa e cinco onde nós tivemos a oficina de planejamento ... o secretário na época era o S. e foi justamente iniciativa dele essa oficina de planejamento onde se definiu novamente uma política que está colocada aí no governo J. de noventa e cinco até noventa e oito” (D2) Com relação aos projetos e programas desenvolvidas pela secretaria de estado do esporte para o desenvolvimento de talentos esportivos, os principais foram assim denominados por talentos pais e técnicos e dirigentes esportivos: “do governo estadual ... quatro meses no frutos da terra foi no ultimo ano acabou o projeto eu tava interessando naquela época no paraná olímpico pagava mais mais muito mais” (T1) “eu cheguei a participar do frutos da terra na época foi um grande incentivo ... era meio salário então pra mim manter os meus estudos... hoje a visão do estado é só quando chega perto do campeonato brasileiro eles vão lá e catam um atleta de cada cidade...” (T8) “... depois lamentavelmente o banco acabou com o Paraná olímpico o frutos da terra era bancado pela loteria do estado não sei como é que é hoje e caiu no vazio e ninguém reclamou e ficou por isso mesmo e isso enfraquece...” (D4) 87 Percebeu-se que a promoção de talentos esportivos no estado do Paraná teve seu auge no período de mil novecentos e oitenta e sete a mil novecentos e noventa e dois, que engloba as gestões do governador Álvaro Dias e os dois primeiros anos do governador Roberto Requião. Dessa forma, o governo estadual também esteve sujeito a eventos normativos, que são as eleições para governador. E, com as eleições, novos governadores e novos secretários de esporte. Assim, essas mudanças no governo, afetaram o desenvolvimento do esporte e consequentemente os talentos esportivos do atletismo. Esses eventos, foram retratados por talentos, técnicos e dirigentes esportivos nos seguintes depoimentos: “... infelizmente o governo J. acabou com essa ajuda nós tivemos... esses projetos funcionando no governo Á. e até certo ponto R.” (P2) “de setenta e nove pra cá mesmo mudando o governo mesmo mudando os secretários o processo continuou e as vezes ele ficava meio complicado... você tinha que se moldar a nova filosofia a questão financeira que o estado tinha... o projeto polo começou com três polos de atletismo... nós chegamos a doze em cada em oitenta e dois” (D1) Portanto, muitas das realizações efetuadas durante um período de governo estadual, esteve relacionada com a qualidade das pessoas que ocupam os cargos administrativos a nível de estado. Com relação a essa situação administrativa, os dirigentes teceram os seguintes comentários: “olha ainda é por indicação política eu acho que em toda essa minha trajetória no governo nós tivemos como secretários de esportes nenhum formado em educação física como secretário não como diretor geral nós tivemos dois ou três que eu me lembre todos os outros dirigentes eram de outras áreas e são indicados politicamente para ocupar cargo obviamente dentre essas pessoas pessoas muito boas que se assessoraram em pessoas muito competentes... mas outras pessoas que além de não conhecer não se assessoraram bem então houve aquela queda na implantação e implementação de políticas e de projetos ...” (D2) 88 “...de mostrar pro professor de educação física eu quando ia fazer uma palestra... dizendo o seguinte que o secretário de transportes é engenheiro que o secretário da saúde é médico o secretário da justiça é advogado e o secretário de esportes é dentista e sabe porque por incompetência do professor de educação física porque vocês até hoje não conseguiram se organizar politicamente...” (D4) “não tenho receio nenhum de colocar isso eu acho que a gente tem caminhos mas ainda a máquina do governo a máquina burocrática impede muitas coisas a gente fica amarrado acertas coisas... não está atendendo as minhas expectativas eu gostaria que essa estrutura aqui fosse muito mais ágil tivesse com os projetos frutos da terra paraná olímpico e paraná nacional que tivesse agilidade na busca de patrocínios que as articulações fossem bem melhores e as vezes essas questões políticas para se falar com um patrocinador potencial tem que passar as vezes pelo patrocinador porque o presidente não se dá com o técnico entendeu então são essas coisas que eu acho que atrapalham bastante o desenvolvimento do esporte ... estou dizendo todos os segmentos que compõem o sistema eu acho que ela (a secretaria) tem que contribuir na articulação desses segmentos essa é a função fundamental do estado...” (D2) A nível de macrossistema, além dos eventos normativos que são as eleições estaduais, as mudanças que ocorreram no comando da secretaria de estado, podem estar relacionadas com algum evento não-normativo. Nesse sentido, o falecimento do secretário de esporte e turismo do estado ocorrido, no mês de setembro de 1998, caracterizou-se como um evento que influenciou o desenvolvimento, principalmente, da modalidade de atletismo no estado do Paraná. Está perda e sua influência foi assim relatada: “... o projeto (Joaquim Cruz) era para ser lançado tava certo o lançamento e o patrocinador pediu para esperar porque tinha a copa do mundo e a mídia tava toda centrada na copa e pediu para esperar mais um pouco e aí veio a morte do O . (secretário de esportes e turismo do estado na época) em setembro e aí depois que o O . morreu o patrocinador pulou fora e nós perdendo um grande projeto...” ( D2) O projeto “Joaquim Cruz” tinha como objetivo dar sustentação a nível de recursos humanos, materiais e financeiros a modalidade de atletismo no estado do 89 Paraná. Devido ao falecimento do então secretário de esportes e turismo do estado, esse projeto continua a espera de um patrocinador. Descrita uma breve história da evolução da secretaria de esporte do estado, desde a sua implantação como coordenadoria de esporte até sua consolidação como secretaria estadual de esporte e turismo, os principais projetos desenvolvidos durante esta última década, as modificações e eventos ocorridos, bem como, a qualidade das pessoas que ocuparam esta função. Como os talentos se sentiram valorizados pela sua comunidade ou de que forma essa valorização aconteceu foram relatadas nos próximos comentários: “fui valorizado bastante em termos de conhecimento pessoal ficava conhecido saía em jornal o pessoal te dava parabéns...” (T2) “ser valorizado não... porque paranavai a cultura é a memória do povo brasileiro é muito pequena... então eles não dão valor e se dão é muito pequeno valor mesmo... eu senti foi o valor próprio a intenção de um atleta que representa o brasil... então eu posso dizer assim foi uma lição de vida pra mim...” (T3) “eu era muito conhecido que eu saía na televisão no jornal tinha outdoor na cidade... mas depois no meu campo profissional não... tive que procurar emprego em outro lugar...” (T7) “se você for um campeão sul-americano de vôlei é hiper diferente de você ser um campeão sul-americano de atletismo eu acho que pelas pessoas não pelos amigos sim próximos da família sim eles valorizavam...” (T8) Se os talentos se sentiram valorizados dentro de sua comunidade, também os pais perceberam seus filhos e os valorizaram enfatizando: “orgulhoso maravilhoso porque o meu filho é dez quer dizer eu sou pai eu fico emocionado... tenho um filho bom trabalhador eu acho ele maravilhoso” (F8) 90 “porque infelizmente o esporte é o futebol o atletismo é um esporte que não vê retorno nenhum não é só para as empresas é pra a imprensa também” (P2) A valorização dos atletas, pais e técnicos, parece estar atrelado ao grupo de pessoas mais próximas que conheceram e conviveram com os talentos, ou seja, a vizinhança ou a comunidade. Essa valorização, de maneira geral, caracterizou-se pela oportunidade de ser divulgada a imagem pessoal do talento, através dos veículos de comunicação, como a televisão e a imprensa escrita. Em termos de melhoria das condições dos recursos materiais disponíveis para o aprimoramento dos talentos ou mesmo da sua situação a nível de patrocínio; ou outro tipo de recursos financeiro estes não sentiram-se valorizados. Nessa fase, de especialização motora, na qual os talentos esportivos abandonaram o contexto do esporte competitivo é que fecha-se o mapa ecológico. O espectro do mapa ecológico dos talentos esportivos está representado na Figura 13. Macrossistema Secretaria estadual de esporte e turismo Exossistema Mesossistema Federação Patrocinador Microssistema Equipe Atletismo Microssistema Escola ou Universidade Talento Microssistema Família Leis Microssistema Local Trabalho Mídia Valores Local de trabalho dospais/ técnico Prefeitura Municipal Cronossistema : Período vital e social dos talentos através das transições ecológicoas do curso de vida. FIGURA 13 – Mapa ecológico dos talentos do atletismo que abandonaram o esporte competitivo 91 Finalizando, utilizou-se o modelo de especialização motora de KREBS (1992, 1993), para descrever o processo de desenvolvimento dos talentos esportivos, desde a estimulação até a especialização motora. Paralelamente, a utilização do modelo de Krebs, a teoria dos sistemas ecológicos serviu como moldura para caracterizar os atributos pessoais dos talentos esportivos, e demonstrar os ambientes, contextos que direta ou indiretamente influenciaram no processo de desenvolvimento. Caracterizado todo o processo de especialização motora dos talentos do atletismo e os contextos que influenciaram no seu desenvolvimento, pode-se elaborar uma síntese desse processo caracterizando-se o timing vital esportivo desses talentos. Com relação aos atributos físicos, motores, sócio-emocionais e motivacionais, verificou-se que durante a fase de estimulação a principal característica encontrada foi a de participação em atividades infantis variadas e o gosto pela vivência motora, sendo essas atividades desempenhadas na comunidade ou vizinhança próxima ao ambiente familiar. Na fase, de aprendizagem motora os talentos parecem se interessar pela aprendizagem de atividades esportivas que são iniciadas, principalmente, no ambiente escolar. Dessa maneira, ocorreu a iniciação em diferentes modalidades esportivas nas quais o indivíduo sente-se competente enfatizando que as valências físicas de velocidade, força e impulsão foram as mais comentadas pelos talentos. A iniciação nas diversas modalidades esportivas como o voleibol, o handebol o basquetebol e o futebol, ocorreu, primordialmente, no ambiente escolar durante as aulas de educação física. Particularmente, o atletismo foi aprendido no ambiente da equipe de atletismo, onde as crianças devido ao biótipo e a sua qualidade física, participam da aprendizagem das variadas provas que constituem a modalidade esportiva. A fase de prática motora, também ocorreu no ambiente da equipe de atletismo. Nesse período, o atleta identificou-se com algumas provas, assim sendo, os arremessadores praticaram diferentes formas de arremesso: o arremesso do peso e os lançamentos do disco e do dardo; os atletas de velocidade praticaram os cem e duzentos metros além, do salto em distância; os saltadores, os saltos em distância, triplo, altura e com vara e, finalmente, os corredores de meia e longa distância as provas de oitocentos e mil e quinhentos metros, além, dos dez mil metros e a marcha 92 atlética. Ao final, na fase de especialização motora, os atributos pessoais marcantes para o rendimento esportivo parecem ser a determinação, a força de vontade e a dedicação aos treinamentos. Nesse sentido, o talento já dedicava-se exclusivamente ao aprimoramento e ao rendimento competitivo na prova na qual se especializou. Nesta fase, final do processo, ampliou o mapa ecológico que influenciou a promoção ou inibição do desenvolvimento dos talentos do atletismo. Portanto, nessa fase de especialização motora, existiu uma grande dependência das estruturas que administram o esporte competitivo, sejam elas as prefeituras municipais, a federação de atletismo, os patrocinadores, a mídia e o governo do estado, representado, atualmente, pela secretaria de estado do esporte e turismo. Mas, mesmo obtendo rendimento esportivo a nível de campeonatos sulamericanos, pan-americanos e mundiais, os talentos esportivos do atletismo deste estudo, devido a uma grande diversidade de fatores abandonaram o contexto esportivo competitivo. Esses fatores que conduziram ao abandono do esporte a nível competitivo foram interpretados no próximo tópico. 4.2 O abandono de talentos do atletismo em relação ao contexto competitivo Após descrever o processo de especialização motora dos talentos do atletismo que participaram deste estudo, buscou-se neste tópico, ressaltar os fatores que levaram ao abandono do contexto esportivo competitivo. Aborda-se os fatores determinantes para o abandono do contexto competitivo em relação as categorias de análise propostas para o estudo. Desta forma, em um primeiro momento, o timing vital, (exemplo, idade dos talentos) e o timing social (exemplo, mudança de governo em 1987), posteriormente a categoria interdependência que refere-se as relações entre os talento e os contextos e entre os contextos e, finalmente, a categoria continuidade e trocas que considerou a constância e as mudanças, bem como, os eventos que ocasionaram, intervieram e foram determinantes para o abandono de talentos do atletismo em relação ao contexto esportivo competitivo. 93 4.2.1 O timing vital e social dos talentos do atletismo que abandonaram o contexto competitivo No contexto esportivo competitivo, vários requisitos são necessários para que indivíduos alcancem alto nível de rendimento em modalidades esportivas. Portanto, a carência desses requisitos pode ser decisiva na continuidade do envolvimento com o esporte competitivo. Dessa forma, discutiu-se sobre as idades adequadas para o envolvimento, a iniciação e a especialização esportiva, posteriormente, sobre as valências físicas que determinaram o envolvimento com o esporte competitivo e, ao final, os atributos sócio-emocionais e motivacionais dos talentos do atletismo. Com o objetivo de estabelecer comparações entre as idades consideradas adequadas e as verificadas neste estudo, apresenta-se o Quadro 4, que contém os períodos etários nos quais os talentos do atletismo vivenciaram a fase de especialização motora (KREBS 1992; 1993). Utilizou-se para comparação da idade de alto rendimento propostas por BOMPA (1995), as idades de desempenho ótimo e de estabilização do desempenho (Lempart apud WEINECK, 1991). Acrescenta-se ao Quadro 4, a idade na qual os talentos deste estudo conseguiram o melhores resultados, incluindo-se também, a idade do abandono do contexto esportivo competitivo. Quadro 4 – Timing vital dos talentos dos atletismo em relação ao rendimento esportivo talento Prova do atletismo T1 T3 T2 T8 T5 T4 T6 T7 T10 T9 Salto triplo Salto c/ vara Lançamento disco Lançamento disco Arremesso Peso 100, 200 metros 100, 200 metros 400m barreira 800 metros Marcha atlética Alto rendimento Bompa (1995) 23-26 22-25 23-27 23-27 23-27 22-26 22-26 22-26 22-26 25-28 Desempenho ótimo Lempart apud Weineck (1991) 24-27 25-28 26-27 26-27 24-25 22-24 22-24 24-26 25-26 27-29 Estabilização Lempart apud Weineck (1991) 28-29 29-30 28-29 28-29 26-27 25-26 25-26 27-28 27-28 30-32 Idade Melhores resultados estudo 17-18 18-19 18-20 21-22 16 17-18 18-20 23-26 16-19 Idade do abandono estudo 18 27 21 21 23 20 19 26 26 22 Através do Quadro 4, comparou-se as idades colocadas por BOMPA (1995), para o alto rendimento esportivo, por Lempart apud WEINECK (1991), para o desempenho ótimo e a idade de abandono dos talentos do atletismo do estudo. Nesse sentido, apesar de todos os talentos terem obtido um resultado esportivo precoce, os talentos T1, T2, T4, T6, T8 e T9, dentro das expectativas para a idade, poderiam ter 94 melhorado seu resultado competitivo, caso não tivessem abandonado o contexto esportivo. Com esse entendimento, as evidências mostram que para esses talentos do atletismo ocorreu um abandono precoce do contexto esportivo competitivo. Essa constatação, fundamenta-se tendo como referência a idade para altos rendimentos proposta por BOMPA (1995). Este autor, situa a idade, entre vinte e dois e vinte e seis anos para corredores de curta e meia distância, vinte e três e vinte e seis para saltadores, vinte e três e vinte e sete para arremessadores e vinte cinco e vinte oito anos de idade, onde o alto rendimento é alcançado, Os talentos do atletismo, deste estudo, abandonaram o contexto competitivo com idade variando entre dezoito e vinte e dois anos (seis casos), sendo que nos outros quatro casos, os talentos não conseguiram manter o mesmo nível de rendimento esportivo que tinham em idades anteriores. Para esses seis talentos do atletismo pode-se supor que poderiam ainda ter atingido um melhor resultado, caracterizando, portanto, o abandono precoce do contexto competitivo. Outra discussão importante, baseada no Quadro 4, refere-se ao resultado esportivo precoce. O resultado esportivo precoce, foi um dos fatores apontados pelos talentos (4 e 9), como ocasionando conseqüências que influenciaram no abandono do contexto competitivo. Sobre essa questão os entrevistados comentaram: “eu já era maturado né... mais cedo... a minha maturação tinha sido mais rápida então perto dos outros meninos com onze anos eu já era grande... meu professor falava... você não cresceu nada quando eu te vi naquela época eu pensei esse ai vai ficar enorme...”(T4) “motivo pra não gostar de atletismo não querer fazer por causa do crescimento dele da estatura dele... ele deu muito trabalho por causa disso fez exame com pediatra... foi difícil pra ele aceitar... que todos os outros do atletismo são altos são fortes e altos... e quando ele ia competir a turma ficava falando não sei o que... que ele não ia crescer e ele esperava crescer mais e ele esticava aquele corpo fazia exercícios...” (F1) Esse talento do atletismo, primeiramente, atribuiu o seu abandono a lesão muscular, mas depois avaliou o seu envolvimento com o esporte competitivo e concluiu que um dos fatores responsáveis pelo abandono foi a maturação precoce. O 95 talento obteve os melhores resultados em sua carreira esportiva aos dezesseis anos de idade, e mesmo tendo permanecido no contexto competitivo, até os vinte anos de idade, não conseguiu demonstrar o mesmo desempenhado na idade adulta. Sobre essa temática, a maturação precoce ou acelerado para WEINECK (1989), tem uma correlação altamente significante com a altura e o peso corporais, e a forma como são organizados as competições, consideradas pelo autor como pouco racionais, de acordo com a idade, as chances de vitória e boa classificação, pertencem, nesse caso, exclusivamente aos precoces (acelerados), como por exemplo no atletismo. Para SOBRAL (1988) o jovem de sucesso no seu escalão etário ao ascender ao escalão superior não cumpre as expectativas depositadas nele, é o caso de quem retira as vantagens de uma maturação avançada, mas depois, passadas essas diferenças, demonstra não possuir afinal o talento para prosseguir na carreira a um nível elevado. Quanto aos outros talentos do atletismo, devido ao seu abandono precoce, ou seja, um período de tempo muito curto entre a idade dos melhores resultados e a idade do abandono, torna-se difícil estabelecer conexão ou entre maturação e potencial de desenvolvimento atlético. Com relação aos atributos pessoais, as características relacionadas ao biótipo e as valências físicas, também são fundamentais para a obtenção do rendimento esportivo. Dessa forma, a modalidade de atletismo requer, em função das provas que a constituem, alguns requisitos em termos atributos físicos. WEINECK (1990), por exemplo, cita que para as provas de corridas curtas a velocidade a potência de membros inferiores; para as provas de arremessos, a potência e a força de membros superiores e; para as provas de meia e longa distância a resistência aeróbia. Dessa forma, as valências físicas, parecem ter sido os indicadores mais utilizados pelos técnico de atletismo deste estudo. Esses atributos pessoais, parecem ser os indicadores que foram utilizados pelos técnicos para a detecção de talentos no atletismo, essa forma de detecção é caracterizada como de baixo para cima (RÉGNIER et al., 1993). Através dessas técnicas de percepção subjetivas técnicos de atletismo selecionam talentos a partir de seus atributos físicos, capacidades motoras e capacidades físicas. Esses atributos, foram os mais citados pelos talentos e técnicos como os atributos pessoais mais importantes nas fases iniciais do processo de especialização motora. 96 Mas, com o decorrer do processo e a chegada à fase de especialização motora, os atributos físicos passam a ser desenvolvidos no contexto da equipe de atletismo, através dos treinamentos. Nesse sentido, parece ocorrer uma modificação em relação ao tipo de atributo mais importante na fase do processo de especialização da modalidade de atletismo. Assim sendo, os atributos sócio-emocionais (psicológicos), mais evidenciados, de acordo com os talentos, familiares e técnicos, foram: a força de vontade, a determinação e a dedicação, que parecem ser indispensáveis para o alto rendimento competitivo. Mas, a dedicação exclusiva a sua prova, pode gerar no talento uma sensação de perda de identidade ou das atividades de lazer ou diversão características dessa fase da vida. Esse questionamento sobre a identidade pessoal apareceu nessas afirmações dos talentos: “nessa época quando você é atleta você começa a se identificar você perde aquela época de ir pra uma discoteca... porque o meu era treinar e ir para escola e nada de sair dificilmente eu ia no cinema... em oitenta e nove eu comecei a sair... e daí eu fui pouco me desgostando também com o atletismo...”(T7) “em baile ele não ia porque ele não tinha tempo ele ficava muito cansado e treinava e vinha pra casa... ia deitar ia dormir viajava todo fim de semana vinha exausto... então ele foi um menino que não aproveitou a juventude dele depois já com vinte e um anos casou... e foi a primeira namorada...” (F9) Segundo WEINECK (1989), interesse pelo esporte decresce bruscamente com a chegada da puberdade, na idade escolar esta atividade esportiva era simplesmente vital, mas agora sofre uma forte pressão competitiva de outras atividades como relação heterossexuais, ocupação e lazer, profissão e recua na escala de valores dos jovens. Nessa época de adolescência início a vida adulta na qual os talentos estavam (entre 16-23 anos). Para ERICKSON (1968), nessa fase da vida ocorre uma crise de identidade, é um momento na vida no qual um adolescente deve determinar seu próprio sentido do self (identidade), incluindo o papel que ele desempenhará na sociedade. Portanto, os talentos do atletismo devido as demandas do ambiente competitivo vivenciaram essa crise de identidade, e esse parece ser um momento de reavaliação de seu papel e das expectativas da equipe de atletismo em 97 relação ao papel que o atleta deve desempenhar, principalmente com relação dedicação exclusiva ao desenvolvimento de seu talento em esportes. Em relação aos atributos sócio-emocionais, um talento do atletismo avaliou o seu processo de especialização motora, e foi enfático ao afirmar: “...as vezes aquele que chega mais longe não é aquele que tem mais potencial é aquele que é mais... persistente.. que joga com a própria sorte é aquele que consegue... tem uns que levam sorte porque são persistentes e não param outros param porque é mais seguro” (T7) A persistência entendida como um atributo sócio emocional, evidencia-se como uma qualidade fundamental para instigar o indivíduo para a realização de seu potencial esportivo. Sobre esse atributo pessoal, DUQUIN (1980), definiu persistência como um contínuo e consistente envolvimento na participação atlética que parece ser, tradicionalmente, visto como uma característica inerente da personalidade em atletas de sucesso. Embora a persistência na atividade seja uma das características determinantes para a continuidade da busca pelo alto rendimento, nenhum dos ex-atletas manifestou este traço nos seus atributos pessoais. Essa qualidade sócio emocional, portanto, independente dos fatores que levaram ao abandono, de modo geral, as evidências mostraram que os talentos avaliaram a sua situação atual e não foram persistentes na busca da auto-realização esportiva. Com relação ao timing vital e os eventos não-normativos, para os talentos T3, T4 e T7 esses eventos se manifestaram em forma de casamento. Devido ao seu timing vital, o casamento para o talento T4, ocorreu após seu abandono do contexto competitivo. Mas, para os talentos T3 e T7, esse evento pode ter sido decisivo para inibição de seu potencial de desenvolvimento, visto que, ocorreu durante a fase de especialização motora. Em todos os casos o casamento veio acompanhado de paternidade. Esta relação afetiva com a esposa pode exercer uma grande influencia sobre o desportista, podendo ser uma fonte de incentivo ou de conflito na prática do esporte (GONZÁLES (1997). Com relação a constituição da nova família e os papéis que os talentos tiveram que assumir, o talento T3 citou o casamento com o fator 98 determinante para o seu abandono e o talento T7 apontou esse evento como um fator que contribuiu para o abandono do esporte competitivo. Estabelecendo outra relação entre o timing dos talentos do atletismo e os eventos não-normativos, retoma-se os depoimentos, dos talentos T1 e T2 com relação ao falecimento de seus pais. Embora esse evento tenha ocorrido durante o processo de especialização motora, somente em um período posterior pode-se perceber o seu efeito na vida dos talentos. Embora nenhum dos talentos tenha determinado ao falecimento do pai sua opção por abandonar o esporte, com a chegada da idade de jovem adulto, as dificuldades financeiras, a falta de estrutura da equipe de atletismo, os talentos atribuíram em parte seu abandono a necessidade de ajudar a família, onde exerciam o papel de filho primogênito e assumiam as responsabilidades deixadas pelos pais. A utilização da categoria timing vital e social (expectativa, atributos pessoais, eventos não-normativos), permitiu identificar fatores que direta ou indiretamente contribuíram para o abandono esportivo precoce de talentos do atletismo. Com a finalidade de revelar outros fatores, além daqueles centrados na pessoa, que concorreram para que esse fenômeno ocorresse utilizou-se da categoria interdependência. 4.2.2 A interdependência entre talentos do atletismo e a estrutura do esporte como fatores do abandono do contexto competitivo O desenvolvimento dos talentos nas diferentes áreas do conhecimento humano parece ser uma tarefa complexa. A ampla diversidade das relações que se estabelecem entre indivíduos e contextos, demonstram a complexidade dos fatores que promovem ou inibem o potencial de desenvolvimento de uma pessoa. Nesse sentido, os talentos do atletismo durante seu processo de especialização motora, elaboraram expectativas pessoais em relação a equipe de atletismo e, consequentemente às estruturas administrativas que as gerenciam. Em relação às expectativas depositadas no técnico da equipe, durante a fase de especialização motora, os talentos revelaram: 99 “quanto a patrocínio e financeiro quem mais coordenava isso era ele (técnico) até por outros motivos eu quase nem chegava a falar com o secretário... depois de uma época fiquei pensando... se eu tivesse ido falar com o secretário poderia ter pedido mais coisas... poderia ter sido melhor para mim.... deixava tudo nas mãos dele foi um negócio que eu fiz errado” (T7) “...faltou uma pessoa que me direcionasse e falasse vai nesse lugar que você vai bem... acho que tem que ter essa pessoa porque eu tinha tudo para dar certo... mais o estímulo que veio do meio não foi bom” (T8) Com esses comentários, os talentos do atletismo perceberam em outras pessoas ou contextos alguns elementos ou fatores que interferiram na busca pelo sucesso no esporte competitivo. Em uma de sua hipóteses BRONFENBRENER (1996) ressalta: Quanto maior o grau de poder socialmente sancionado para um dado papel, maior a tendência do ocupante do papel exercer e explorar o poder e dos que estão numa posição subordinada a responder com maior submissão, dependência e falta de iniciativa (p. 74). Com base na hipótese, acima, formulada por Bronfenbrenner, pode-se perceber a importância do papel do técnico em termos de busca dos recursos materiais e financeiros que oferecem suporte ao desenvolvimento dos talentos. Nesse sentido, o técnico de atletismo é o elemento de ligação entre as expectativas dos talentos na equipe e as estruturas que dão sustentação a essa atividade, principalmente as prefeituras municipais. Os talentos apontaram, a falta de estrutura material, a dependência em relação a prefeitura municipal, a falta de recursos financeiros, a desvalorização municipal em relação a sua atividade como fatores que influenciaram suas decisões pelo abandono do contexto competitivo. Nesse sentido, o papel do técnico amplia-se além das funções desempenhadas no contexto da equipe de atletismo incorporando o papel de interlocutor entre os talentos e as entidades mantenedoras da equipe de atletismo. Dentro do contexto da equipe de atletismo, os relacionamentos interpessoais entre técnico e atleta, intensificaram-se em função de um maior envolvimento na 100 busca pelo rendimento esportivo. Esses relacionamentos também foram fatores de abandono esportivo, “aconteceu com o técnico daqui é que na reunião ele falou pra gente que quando a pessoa passava de juvenil pra adulto não interessava né... que se quisesse ir embora podia ir embora e tal... isso começou a desanimar... eu recebia duzentos e vinte e quatro reais aí quando foi um certo dia o professor chegou e falou que a prefeitura... o prefeito falou que não ia ter mais como pagar isso pro pessoal ai ele pegou e abaixou o meu salário pra oitenta e nove reais... aí foi a gota d’água... aí eu tive uma discussão com ele... e aí eu tive que trabalhar também eu não tinha condições minha porque a família é é simples... tive que parar pra mim começar a ajudar minha família... um fator que me levou a parar mesmo foi esse motivo de eu ter que ajudar ela que eu só tenho minha mãe e meu irmão e eles dependiam de mim” (T2) “é uma pessoa assim muito nervoso... e eu observava ele muito dependente da mãe dele o carlos perdeu o pai muito novo quando tinha onze doze anos ... então ele ficou muito dependente da mãe... coruja muito possessiva então isso fez que muito da personalidade que ele tem hoje foi uma das causas” (P2) A interdependência dos fatores que levam ao abandono do contexto competitivo, durante a fase de especialização motora ficou evidenciada, principalmente, na definição de exossistema. BRONFENBRENNER (1993), define exossistema: O exossistema inclui as interligações e processos que acontecem entre dois ou mais ambientes, pelo menos um não contém a pessoa em desenvolvimento, mas no qual acontecem eventos que indiretamente influenciam o processo dentro do ambiente imediato (p. 22) Interpretando essa definição em relação ao contexto do talento do atletismo, percebeu-se que um fato ocorrido na administração pública municipal, que foi o corte do recurso financeiro da equipe de atletismo, levou o técnico da modalidade a diminuir o salário do talento, com isso desencadeou uma indisposição pessoal entre ambos, cujo resultado, foi o abandono do contexto esportivo. Apesar do fator 101 determinante do abandono, ser a discussão entre o técnico e o talento do atletismo, outros fatores atuaram como intervenientes. Esses fatores, segundo os interlocutores, estiveram associados ao vínculo mãe (viúva)-atleta, a condição financeira da família do talento, aos atributos pessoais do talento e do técnico. Além do relacionamento entre técnico e atleta, a qualidade e os objetivos do técnico de atletismo, tem importância fundamental no processo de especialização motora. Esse processo, precisa ser desenvolvido de maneira a proporcionar ao talento as condições necessárias para a sua auto-realização esportiva. Nesse sentido, a qualidade dos treinamentos visando promover o talento pode ocasionar um efeito contrário e negativo e, assim, conduzir ao abandono do contexto competitivo. Para ilustrar a importância da qualidade do técnico, um talento que abandonou o esporte competitivo narrou assim sua experiência: “é a grande desvantagem de você se destacar logo cedo mas o desgaste que você tem com o treinamento logo cedo... que o técnico insiste que você tem que treinar de segunda a sábado todo o dia... eu era infantil fui para o jogos da juventude e primeiro lugar e aí na visão dele é que eu deveria competir no juvenil e não na minha categoria no infantil... a prova era três quilômetros e eu fazia dez quilômetros... com dezesseis fui para o sul-americano e aí sobe na cabeça com dezessete eu já competia vinte quilômetros... mas eu não culpo ele mas foi um falta de não ter pensado para o futuro” (T9) Para FILIN & VOLKOV (1998), os períodos para alcançar os diversos níveis nas categorias, devem constar no planejamento da preparação dos atletas, Para programar o treinamento é necessário conhecer as faixas etárias e respectivas idades em que se alcançam resultados máximos. Esta idade deve ser o período de desenvolvimento máximo do organismo, somente nesse caso são possíveis a longevidade no desporto e a estabilidade de resultados durante vários anos. A preparação “forçada” do atleta quando jovem, e a ascensão prematura às categorias superiores, geralmente conduzem ao esgotamento físico e nervoso e ao abandono também prematuro. Portanto, a qualificação profissional foi um atributo pessoal dos técnicos de atletismo, que deveria proporcionar as condições necessárias para o desenvolvimento das funções dentro do contexto da equipe. Além dessas funções, o técnico, parece ser 102 o elo de ligação entre o talento e os outros ambientes nos quais o talento não participa ativamente, por exemplo a prefeitura, a federação de atletismo e os patrocinadores. Com esse pensamento, eventos que ocorreram nesses ambientes ou contextos podem ter tido influencia no abandono do contexto esportivo competitivo. “... então eu decidi abandonar no ano passado... eu falei vou deixar de vez não tem como você fica esperando melhorar sempre piora né... como atleta já decepcionei já na realidade não tô querendo mais.... tem os estudos né a falta de apoio financeiro é tudo uma coisa vai juntando com a outra e vai te tirando to esporte né ...” (T5) “foi um conjunto de fatores... eu tava fazendo engenharia química o curso exigia uma dedicação como em qualquer outro só que o meu curso eu tive que estudar um pouquinho mais... depois dessa época eu tive oportunidade de fazer uma prova em uma empresa nessa empresa que eu fui pra fora (estados unidos) e falei sabe de uma coisa vou parar de vez....”(T8) “a razão penso que seja a falta de estrutura... não tinha técnico específico para a prova... mas deve ter um conjunto de fatores... tem que trabalhar você vê ele pintando pintando carro arrumando caminhões então tem o fator financeiro somado ao fator estrutura que é péssimo” (P4) Os talentos T4, T5, T7, T8, T10 apontam, em seus relatos, que não houve um fator determinante, mas, um conjunto de fatores que intervieram e levaram ao abandono. A falta de estrutura da equipe, a necessidade de continuidade nos estudos, as oportunidades para o trabalho, as cobranças da família exemplificam os fatores apontados pelo talentos. Nesse sentido, as evidências demonstraram que paralelo ao processo de especialização motora, ocorreu um processo que conduziu ao abandono do contexto esportivo. Esse processo iniciou na estrutura e condição da família, continuou na falta de estrutura da equipe de atletismo, nas decisões a nível de prefeitura municipal e, finalizou na opção pelo abandono do contexto competitivo. Portanto, para conhecer e compreender o processo que determinou o abandono do contexto competitivo, parece ser necessário uma análise que considere todos os 103 elementos envolvidos, pessoas, relacionamentos, contextos e a dinâmica das interconexões entre eles. Com relação a esse conjunto de fatores, Havighurst citado por KREBS (1995), desenvolveu um modelo teórico baseado em uma série tarefas evolutivas que devem ser desempenhadas entre a adolescência e a idade de jovem adulto: preparação da carreira econômica, preparação para o casamento, assumir responsabilidades cívicas, entre outras. Portanto, nessa fase do desenvolvimento dos talentos do atletismo, existe uma ampla variedade de papéis e funções que o tornam responsável perante pessoas significantes, como por exemplo, os familiares e a sociedade. O conjunto de fatores, pode ser interpretado com base no modelo das necessidades humanas de Maslow apud KREBS (1995). Para este autor, as necessidades são apresentados em forma de uma pirâmide ou de uma escada na seguinte ordem hierárquica: necessidades fisiológicas, de segurança, de afiliação (de amor e pertença), de estima e, de auto-realização. Assim sendo, os talentos do atletismo, desistiram da busca pela auto-realização de suas capacidades e potencialidades esportivas, em função de satisfazer necessidade de segurança e afiliação. Especificamente o talento 1, parece ter vivenciado esse dilema entre a busca pela auto-realização e o abandono do esporte competitivo, devido a oportunidade de desempenhar uma atividade profissional mais rentável e estável. O talento emocionado, descreveu seu opção pelo abandono, dessa maneira: “fiquei sabendo que eu ia parar no dia vinte e quatro de dezembro.... de noventa e sete quando a orientadora do colégio da fundação B. me chamou... me dizendo que tinha aberto a vaga no banco em S. e eu ia ter que ir imediatamente.... pensei bem fui pra casa depois fui lá falar para ela olha eu vou pro banco”(T1) “essa pessoa J. de família humilde dá o emprego pra ele e condições de treinar seria o ideal... mas muitas vezes a firma ela mata o atleta precocemente porque ela dá o emprego mas não dá condições para ele ir treinar... então é que mata mais ainda”(P2) 104 Embora o abandono do esporte tenha ocorrido em função de uma oportunidade oriunda em um exossistema (direção da escola e gerência administrativa de um banco particular), o talento demonstrou atributos pessoais, que promoveram o seu enquadramento entre as qualidades solicitadas por essa instituição privado. Assim, o abandono parece significar uma perda em relação ao contexto competitivo mas, pode significar também uma oportunidade para a vida. Em seu depoimento pessoal,o talento associou essa oportunidade aos valores e atributos que demonstrava quando de sua participação no contexto esportivo. De acordo, com os resultados do estudo, parece que o exossistema que mais influenciou na estrutura interna da equipe de atletismo, foi a prefeitura municipal. As eleições municipais e os secretários de esportes, foram fatores determinantes para que talentos do atletismo tenham abandonado o contexto esportivo. Essa afirmação está baseada nas seguintes colocações: “no ano noventa e dois a prefeitura... infelizmente tudo tá ligado a política troca a política acaba tudo... porque a política não tem uma seqüência eles não vêem uma continuidade eles não vêem um trabalho sério...” (P4) “olha foi em noventa e sete porque assumiu teve uma eleição e assumiu a outra administração e o prefeito falou o esporte em primeiro lugar e ele acabou com o esporte” (F6) “ele P. parou inclusive por causa da administração anterior porque eu tinha uma briga com essa administração e ele sentiu a pressão ele ainda ganhava um pouco aqui mas ele já tava mais preocupado em estudar e tudo mais” (P3) As mudanças de secretários e prefeitos municipais, foi apontada por um dos talentos como o fator determinante para seu abandono. Os talentos associaram a falta de patrocínio, a falta de estrutura da cidade, a desvalorização, às mudanças ocorridas nos cargos eletivos a nível municipal. Desta forma, indiretamente, a prefeitura municipal contribui significativa para o abandono de talentos esportivos do atletismo. Essas mudanças, podem ocorrer em relação aos indivíduos, seus relacionamentos interpessoais ou nos contextos nos quais o talento participa. As trocas e mudanças 105 ocorridas durante o processo de especialização motora e que influenciaram no abandono dos talentos são apresentadas na próxima categoria. Outros dois contextos participam da estrutura administrativa a qual esteve vinculada a equipe de atletismo dos talentos, são: os patrocinadores e a secretaria de estado do esporte e turismo. Sobre os patrocinadores os entrevistados relataram o seguinte: “...é no Paraná não tem nenhuma empresa que patrocina nenhuma equipe de atletismo... a estrutura eu vejo muito fraca... foi feito uma lei de incentivo muito parecida com aquela dei de incentivo de Maringá ... só que não deu certo o prefeito não sancionou esta lei... não tem empresas fortes não tem eles não tem interesse eles acham que pra eles não divulga nada” (P2) “a gente esbarrava sabe aonde na agência de propaganda porque a agência é muito mais tranqüilo ela pega a verba faz um filme e põe na televisão do que tomar conta de um evento esportivo...” (D4) Com relação a atividade esportiva, o patrocinador utiliza-se de estratégias de marqueting, visando a sua promoção própria, de sua logomarca ou de seu produto, através do esporte. Portanto, o marqueting esportivo é classificado por GRACIOSO (1995), como o patrocínio a equipes, atletas ou eventos esportivos. Se por um lado, o marqueting pode representar oportunidades concretas para a promoção de atletas (MULLIN, 1995); de outro lado, é o consumidor que determina se essa ação mercadológica persistirá. Portanto, o patrocínio da modalidade de atletismo parece estar dependente da valorização dessa atividade esportiva competitiva pela cultura ou pelo público que atinge. O macrosistema esse foi representado, neste estudo, de maneira objetiva, pela secretaria estadual do esporte e turismo, cuja função foi de gerenciar o desenvolvimento do esporte a nível de estado. Sobre a estrutura da secretaria de esportes e turismo no estado do Paraná e suas políticas para promover o desenvolvimento de talentos esportivos no esporte no estado, os dirigentes afirmaram: 106 “será que o problema mais sério não está nos próprios técnicos essa é que é a questão o que está acontecendo com o atletismo... já é uma modalidade difícil não tem mídia não tem estrutura não tem isso não tem aquilo o que temos só é professor e técnico reclamando... nós temos excelentes técnicos... só que eles tinham que se organizar essa é minha opinião... é o mesmo problema a mesma coisa que aconteceu em setenta e nove está se repetindo hoje em noventa e nove então tem que se fazer alguma coisa e quem tem que fazer é o profissional se unam se organizem procurem os centros regionais...” (D1) “acho que um fator negativo é a falta de continuidade da implantação e implementação das políticas colocadas entra um dirigente quer mudar tudo muda nome de projeto muda projeto extingue projeto cria outros que são semelhantes... outra é a questão dos dirigentes esportivos municipais não são da educação física eles são colocados politicamente não tem a mínima visão de desenvolvimento de esporte... acho que cinqüenta e três não são da área de educação física é um dado alarmante pelo menos para mim... a falta de recursos é outro fator... outro fator é a falta de articulação dos segmentos esportivos isso é algo assim há dualidade de ligações tem lá o estado fazendo o mesmo trabalho que a Paraná esporte tá fazendo tem outro que tá fazendo e nós não temos a capacidade de nos articularmos e fazermos algo em conjunto e utilizar recursos a gente pulveriza recursos no estado quer dizer é uma falta de oportunidade então essa falta de articulação dos segmentos esportivos que compõem o sistema estadual tem que ser motivo de estudo” (D2) Os dirigentes esportivos em seus depoimentos retratam de um lado, a falta de envolvimento político do técnico desportivo e a incapacidade de formular projetos que viabilizem o desenvolvimento dos talentos do atletismo. Por outro lado, os dirigentes reconhecem as deficiências administrativas a nível de secretaria de estado. Sob a ótica da teoria dos sistemas ecológicos, as dificuldades que ocorrem a nível de macrossistema parecem ter origem na falta de participação e conhecimento multiambiental, carência de laços indiretos e empobrecimento das comunicações entre os ambientes. Nesse sentido, técnicos não participam do desenvolvimento das políticas de esporte do estado e dirigentes não conhecem a realidade das equipes esportivas, especificamente do atletismo. 107 4.2.3 As trocas e continuidade durante a especialização motora dos talentos do atletismo O desenvolvimento do talento na área esportiva, parece ter sido um processo dinâmico que envolveu períodos de trocas e de continuidade. Com a relação ao contexto familiar e sua percepção sobre a participação do filho na equipe de atletismo a nível competitivo, pode-se observar que os pais não demonstraram envolvimento durante as fases de estimulação e aprendizagem motora. Na fase de prática motora, esse envolvimento tornou-se mais intenso caracterizando-se pela aprovação. Na fase de especialização, com a obtenção dos resultados esportivos os pais intensificaram esse envolvimento na forma de valorização do rendimento. Mas, devido ao abandono do filho em relação ao contexto competitivo, percebe-se uma alteração nessa valorização. Essa troca pode ser percebida nas próxima descrições: “eu tenho até trauma quando passa programa de esporte na televisão eu não aprecio como eu apreciava... até hoje eu luto contra ele ir pra o esporte pra mim não vale nada... porque a pessoa brilha tanto antes quando chega numa idade tem que tirar tudo tudo de uma vez pra que isso e fiquei desiludida” (F4) “nós como pai não temos mais interesse que ele volte o atletismo... porque não tem futuro tem que ter incentivo e se o município não da incentivo pro atleta acho que não vale a pena o pai estar investindo estar incentivando... hoje tá empregado se sustentando sozinho entendeu... não preciso estar mais me preocupando em roupa pra ele em tênis e se ele voltar pro atletismo eu sei que ele não vai ter recompensa só o momento...” (F6) “parece que ele se tornou um menino que o sonho dele foi quebrado ele se decepcionou ...todo aquele plano dele todo o sonho foram podados ai veio o casamento .... sabe se ele tivesse tido oportunidade tanto ele quanto outros” (F1) Portanto, verifica-se que os pais trocaram sua percepção em relação ao envolvimento do filho, principalmente, após os filhos terem abandonado o contexto competitivo. Durante o seu processo de especialização motora os talentos do 108 atletismo não procuraram trocas ou transições que promovessem o seu desenvolvimento esportivo. Nesse sentido, permaneceram durante todo o processo de especialização motora com o mesmo técnico e na mesma equipe de atletismo, esta continuidade foi percebida nas seguintes declarações: “tive proposta de ir pra Franca e Presidente Prudente só que o meu técnico me incentivou um monte pra eu ficar aqui e eu não quis abandonar ele né e uma que eu não queira abandonar a cidade...” (T6) “se o atleta tem condições e eu não tenho condições de dar qualidade de treinamento pra ele... mais um suporte financeiro ele vou ter que deixar o atleta ir embora..”(P5) Os talentos do atletismo, deste estudo, vivenciaram as fases de aprendizagem, prática e especialização motora sob a orientação do mesmo técnico de atletismo e na mesma cidade. O comentário feito pelo técnico P5, reflete a sua preocupação com o desenvolvimento do talento, quando percebe a falta de condições dentro de seu contexto, procurando facilitar a transição para um contexto que proporcione melhores condições materiais ou financeiras. Segundo um estudo realizado por VIEIRA et al. (1998), as trocas ambientais ou ecológicas devem ser efetuadas no sentido selecionar ambientes que ofereçam condições materiais e humanas que sejam instigativas ao desenvolvimento. Com relação ao ambiente escolar, ao concluir o final do ensino médio ocorre uma transição para o ensino superior. Dos talentos do atletismo, do estudo, atualmente, um ainda continua no ensino médio, dois completaram o ensino médio, três estão cursando o ensino superior e quatro completaram o ensino superior. Embora, o ensino superior seja uma continuidade da formação acadêmica, as universidades parecem não proporcionar recursos e condições para que os talentos continuem desenvolvendo seu potencial esportivo. Sobre as universidades talentos e dirigentes esportivos relataram que: 109 “... e era uma crítica que a gente fazia muito por exemplo lá... tinha uma piscina olímpica tinha ginásio de esportes tinha professores e aquilo é um outra vida não é da comunidade a comunidade não participava de nada... eles podiam pegar os atletas da cidade levar para lá... aquilo era uma coisa que ninguém podia mexer e além o professor de ciclismo era brigado com o de atletismo e era brigado com o outro então a comunidade nunca usufruiu da universidade...” (D4) “todo ano a gente faz um gerenciamento de esportes e de lazer aqui em Curitiba... agora com relação as universidades algumas vem outras não não sei porque...” (D3) O ambiente universitário que seria a continuação acadêmica normal para o adolescência, poderia também ter caracterizado-se como um ambiente que promovesse o desenvolvimento de talentos esportivos. CSIKSZENTMILAHYI et al. (1997) comenta que a promoção de talentos nas diferentes áreas da competência humana deve ser uma preocupação de todos os segmentos da sociedade. Nesse sentido, as universidades estaduais do Paraná, que possuem os recursos humanos e materiais para a promoção de talentos na modalidade de atletismo, parecem não desenvolver projetos com esse objetivo. Especificamente, apenas um dos técnicos entrevistados utilizou do espaço da universidade, em sua cidade, para atuar como técnico de atletismo, nas outras instituições universitárias, não se promoveu a prática do atletismo a nível competitivo. A nível de federação de atletismo, ocorreram trocas ou transições esportivas, que produzem efeitos no desenvolvimento dos talentos na equipe de atletismo. Essas trocas, referem-se aos eventos normativos eletivos para os cargos de presidente da federação, e além desse evento ocorreu a categorização para a participação competitiva. Sendo essa categorização realizada de acordo com a idade: até dezesseis anos o talento participa da categoria “menores”, de dezesseis a dezenove anos da categoria “juvenil” e, acima de dezenove anos da categoria adulta. Essas trocas ou transições de categorias foram vivenciadas pelos talentos da seguinte maneira: “quando eu era menores... treinamos o ano todo pra essa competição em Natal mas chegou uma semana antes da competição... a federação ligou nós não 110 temos verbas não vamos levar ninguém... aí foi só esse comunicado... nessa época desmotivou... eu tinha uns dezesseis dezessete anos” (T5) “.. nós temos no brasil hoje uma geração de veteranos com doze ou treze anos são pessoas que odeiam o esporte porque puseram o moleque muito cedo e ao invés de brincar vinha praticar esporte” (D4) Como pode-se perceber nos relatos de técnicos, talentos e dirigentes esportivos essas duas transições dentro da modalidade de atletismo parecem influenciar na percepção de rendimento dos atletas. Visto que, os talentos do estudo obtiveram um rendimento esportivo, principalmente, nas categorias menores e juvenil; a transição para a categoria adulta, parece ter sito um fator que concorreu para uma baixa percepção do rendimento atlético. Nesse sentido, é importante a avaliação desse processo de categorização, visto que, essa troca de categoria é uma avaliação muito significativa para a continuidade ou desistência à dedicação ao esporte competitivo. Apenas dois talentos deste estudo, abandonaram o atletismo competitivo antes de adentrar a categoria adulta, cinco abandonaram entre um e três anos de experiências na categoria adulta e, três com mais de seis anos na categoria adulta. Mesmo tendo obtido resultados a nível internacional, em categorias menores, nenhum dos talentos do atletismo demonstrou o mesmo nível de rendimento na categoria adulta. Este nível de rendimento na categoria adulta pode não ter sido alcançado em virtude do abandono precoce dos talentos do estudo, considerando as expectativas de resultados pra a idade. Além dessa categorização, a administração da federação, parece ter influenciado o processo de especialização motora dos talentos. Com esse pensamento, a pessoa que administrava a federação de atletismo, tinha funções específicas cujo papel primordial era o desenvolvimento e a promoção do atletismo nível de estado. Dirigentes esportivos opinaram sobre o papel da federação de atletismo da seguinte forma: “quanto ao esportes elas (as federações) fazem parte da política estão contempladas no apoio do governo estadual... geralmente tem um campeonato 111 brasileiro que vai acontecer em algum lugar chegam aqui duas semanas antes da competição pedem passagem pedem um auxílio... então não existe um critério de apoio as federações tipo assim os títulos conquistados o trabalho que a federação está fazendo...” (D4) “...outra coisa que precisa melhorar são as federações nós temos aí federações que é o mesmo presidente desde que fundou alguns são bons mas tem presidente aí que você nunca nada de falar da modalidade dele... e se você pegar o passaporte dele tem mais de não sei quantos carimbos e naquela época um cara muito bom que nós perdemos foi o martinho do atletismo...” (D4) Com relação a continuidade e trocas que ocorrem a cada eleição normativa para governador onde os secretários de estado são trocados em função de indicação partidária os dirigentes foram enfáticos: “não continuou eu responsabilizo primeiro eu acho os professores de educação física e as faculdades de educação física porque não cobraram isso do governo nunca cobraram nada... todos sossegaram de um jeito e as federações também são responsáveis muito por causa disso... e em terceiro lugar o governo porque o governo nunca vai ter dinheiro para fazer tudo ele faz diretamente proporcional ao resultado então se você tá quieto e não tá reclamando para ele tá bom...”(D4) Em seu depoimento, o dirigente, atribuiu às pessoas e as instituições que administravam o esporte no estado do Paraná, a responsabilidade pela falta de envolvimento na promoção de talentos no estado do Paraná. Portanto, os fatores que determinam o abandono do contexto esportivo parecem estar associados á diversas instituições sociais, desde a família, os clubes organizados, a administração pública municipal, as empresas patrocinadoras, a secretaria de estado do esporte e turismo, enfim a toda uma estrutura social. A interpretação dos fatores que conduzem ao abandono do esporte competitivo, especificamente no atletismo, deve ser rigorosamente elaborada, pois através dos resultados deste estudo verificou-se a complexidade e a diversidade dos fatores que conduzem a decisão definitiva pelo abandono. O quadro 5 apresenta os fatores determinantes e intervenientes no abandono de talentos do atletismo. 112 Quadro 5 – Fatores determinantes e intervenientes no abandono de talentos do atletismo Talento Fator determinante Fatores intervenientes T1 Oportunidade de trabalhar condição financeira da família / falecimento do pai dependência equipe-prefeitura Discussão com o técnico teve que trabalhar / falecimento do pai/ teve que estudar / Casamento e paternidade falta de estrutura da cidade / teve que trabalhar Conjunto de fatores Maturação precoce / teve que trabalhar lesão muscular / teve que estudar Conjunto de fatores Lesão / teve que estudar / falta de estrutura na cidade / falta de técnico especializado/ teve que trabalhar Prefeito extinguiu a secretaria de desvalorização pessoal e da equipe / lesão muscular esportes interferência familiar no treino/ teve que trabalhar / Conjunto de fatores teve que estudar / pressões familiares / busca de atividades de lazer / falta de patrocínio / casamento Conjunto de fatores Estudo no ensino superior / oportunidade de emprego / falta de orientação pessoal Falta de valorização de sua teve que estudar / teve que trabalhar / desgaste prova no atletismo psicológico / competir em categorias elevadas Conjunto de fatores pressões familiares / situação financeira pessoal e da equipe / ter que estudar T2 T3 T4 T5 T6 T7 T8 T9 T10 Com base no Quadro 5, verificou-se que para cinco talentos ocorreu um fator que determinou o abandono do atletismo, embora tenham relatado outros fatores que intervieram nessa decisão. Para os outros cinco talentos não ocorreu um fator determinante mas, um conjunto de fatores. Nesse sentido, o fator determinante específica, claramente, o motivo e o momento exato do abandono. Nos depoimentos pessoais o talento T1, caracteriza a oportunidade de trabalho como o fator decisivo. O talento salientou outros fatores que contribuíram para essa decisão, a estrutura e condição financeira de sua família (humilde e mãe viúva), e a estrutura da equipe de atletismo (baixa remuneração financeira). Para o talento T2, o fator determinante foi, a discussão com o técnico. O motivo da discussão foi a redução de seu auxílio financeiro, em função da diminuição recursos proporcionados pela secretaria de esportes do município. Devido a sua condição familiar (humilde e mãe viúva) após a discussão com o técnico, o talento engajou-se em uma atividade profissional., portanto outros fatores intervieram no processo de abandono. Com relação ao talento T3, o casamento seguido de paternidade, foram os fatores que embora determinantes. O talento citou que a cidade não oferecia mais 113 condições para melhoria do rendimento, ter que trabalhar e estudar, o levaram a decisão de abandonar o atletismo. Para o talento T6, o prefeito municipal extinguiu da fundação de esportes do município e, consequentemente, o talento foi buscar um emprego. Para o técnico desse talento, o pai interferia no treinamento do filho, além dessa ocorrência, o baixo rendimento escolar e, a falta de valorização do esporte foram fatores que conduziram ao abandono. O fator determinante para o talento T9 abandonar o atletismo foi a falta valorização da sua prova, a marcha atlética. Esse talento obteve os seus melhores resultados a nível internacional em uma idade inferior a idade esperada para rendimentos ótimos. O talento associou a intensidade e o volume do treinamento durante seu processo de especialização ao seu abandono. Salientou que conseguiu um emprego devido a sua espontaneidade e, comentou que essa espontaneidade foi adquirida no ambiente esportivo. Com relação aos outros cinco talentos não existiu, para esses talentos, um fator determinante que estabelecesse o momento exato do abandono. Os talentos descrevem o seu abandono citando um conjunto de fatores que foram se associando e, ao final, determinaram o abandono. Entre os fatores, denominados intervenientes, ter que estudar foi um fator citado pelos cinco talentos, todos engajados em atividades discentes em instituições de ensino superior, quatro com o objetivo de terminar o curso de educação física e, um o curso de engenharia química. Entre os dez talentos do estudo, seis relataram como fator interveniente de seu abandono as pressões familiares, que eram realizadas devido a baixa remuneração em relação ao tempo dedicado na equipe de atletismo. Através das pressões, os familiares demonstravam a sua preocupação com a falta de valorização do atletismo ao longo do tempo em termos de retorno financeiro e profissional para o filho. As lesões musculares foram citadas por três talentos como fatores intervenientes. Para o talento T4, cujos melhores resultados foram obtidos aos dezesseis anos de idade, a lesão foi apontada fundamental para seu abandono. Esse talento na categoria adulta não conseguiu o mesmo sucesso das categorias menores. Dessa forma, realizou testes com o objetivo de verificar sua idade biológica e maturacional e, chegou a conclusão de que ocorreu uma maturação precoce. Para o talento T6, a lesão foi motivo de abandono devido a falta de suporte financeiro a 114 nível da prefeitura municipal. O talento T5 cita a lesão como um fator interveniente mas, não salientou o efeito desse evento no seu abandono. Outros fatores intervenientes citados pelos talentos do atletismo foram: a busca de atividades pessoais, o falecimento do pai, a falta de um técnico especialista na cidade e a falta de uma pessoa na orientação de sua carreira esportiva. Apesar do contexto esportivo competitivo ser caracterizado como um ambiente onde as atividades requerem alto nível de solicitação física e psicológica, apenas o talento T9 salientou que o desgaste psicológico e competir em categorias mais elevadas foram fatores intervenientes para o abandono. Após apresentar os fatores intervenientes e determinantes do abandono de talentos do atletismo, as evidências demonstram que parece existir uma diversidade de fatores que contribuem, isoladamente ou em conjunto, para o abandono do contexto competitivo. Alguns fatores parecem ser indicadores do provável abandono precoce e, estiveram relacionados com os contextos onde o talento se desenvolveu. Nesse sentido a estrutura interna (ausência de um dos cônjuges) e a condição financeira da família parece ser um indicativo do abandono precoce. Parece ser na fase de especialização motora que se amplia o rol de fatores que podem intervir no processo que conduz ao abandono, entre esses fatores foram citados, atributos pessoais dos talentos, pessoas que gerenciam os contextos primordiais para o desenvolvimento, principalmente, o pai, mãe ou outro familiar e o técnico de atletismo e, dos contextos que indiretamente influenciam no desenvolvimento do talento, o presidente da federação de atletismo, o secretario de esportes do município e, a nível de macrossistema, o secretario estadual do esporte e turismo. O término da carreira esportiva é um fato, que independente do talento ou dos contexto, ocorre. Para sete talentos do atletismo a decisão pelo abandono ocorreu com idade anterior às esperadas para o rendimento esportivo, portanto, caracterizaram-se como abandono esportivo precoce. Desses sete talentos, cinco decidiram abandonar devido às oportunidades para trabalhar. Nesse sentido, a estrutura administrativa a qual a equipe de atletismo esteve vinculada parece não proporcionar um ambiente de desenvolvimento para indivíduos adultos. Os outros três talentos que persistiram até as idades de vinte e três e vinte e seis anos, o fizeram devido às oportunidades de conciliar as exigências dentro da equipe com as demandas das tarefas profissionais e acadêmicas. Embora tenham persistido em 115 atividades competitivas, devido as atividades concorrentes (estudo e trabalho), sua dedicação passou a não ser exclusiva e esse foi um fator apontado como responsável falta de desempenho na categoria adulta. Embora o abandono esportivo seja associado a um sentimento de perda, três talentos relataram que as oportunidades de emprego ocorreram em função de seus atributos pessoais (espontaneidade, dedicação) ou participação(aprender a viver sob pressão) no contexto esportivo. Cinco talentos avaliaram seu envolvimento com o esporte competitivo e, sintetizaram esse período como uma positiva lição de vida. Com relação a sua condição acadêmica quatro talentos comentaram que buscaram o ensino superior em educação física devido à sua experiência no contexto esportivo competitivo. Nesse sentido, o sentimento de perda em relação ao esporte pode ter significado uma oportunidade para a vida em termos de ascenção pessoal e social dos ex-atletas considerados talentos esportivos. Os diversos fatores apresentados podem ser categorizados na forma de atributos, atividades, relacionamentos ou em contextos. Apesar da ocorrência dos fatores determinantes e devido a diversidade de fatores intervenientes, as evidências mostraram que o abandono depende de como esses fatores se interconectam nos diferentes momentos da história da vida pessoal e esportiva dos talentos do atletismo. 5. CONCLUSÕES E SUGESTÕES Ao término deste estudo cujo objetivo principal foi investigar os fatores determinantes para que talentos do atletismo do Paraná tenham abandonado o contexto do esporte competitivo e, tendo por base os procedimentos de análise adotados, procuramos, neste momento, responder aos objetivos propostos no início de nossa pesquisa. As características antropométricas (biótipo) e as capacidades físico e motoras (ex. força e coordenação), foram as mais evidenciadas nas fases iniciais, estimulação, aprendizagem e prática motora. O gosto por atividades variadas na fase de estimulação e a motivação para aprender esportes e viajar foram os atributos sócio-emocionais mais evidenciados nas fases de aprendizagem e prática motora. Na fase final, do processo de especialização motora, os atributos sócio-emocionais parecem prevalecer em relação as características antropométricas, e físicas. Os atributos sócio-emocionais mais evidenciados na fase de especialização motora foram: a força de vontade, a determinação e a dedicação ao esporte. Com relação ao processo de especialização motora dos talentos que abandonaram o contexto competitivo; na fase de estimulação motora foram vivenciadas as brincadeiras infantis, pequenos jogos de corridas e saltos e jogos préesportivos, essas atividades variadas foram realizadas no contexto da vizinhança ou da comunidade. Na fase de aprendizagem motora, ocorreu a iniciação esportiva em vários esportes, voleibol, handebol, futebol, futsal, basquetebol e atletismo, esses esportes foram aprendidos no contexto escolar, especificamente, nas aulas de educação física, as evidências mostraram que o atletismo foi aprendido tanto na escola quanto no contexto da equipe de atletismo. Na fase de prática motora, os talentos praticaram as diferentes provas da modalidades de atletismo relacionadas a sua competência pessoal, por exemplo, os mais velozes praticavam os cem, duzentos metros e salto em distância, os mais fortes, os arremessos de peso, dardo e disco, essa fase do processo ocorreu no contexto da equipe de atletismo. Na fase de 117 especialização motora, os talentos se dedicaram a prova do atletismo na qual obtiveram os melhores resultados, essa fase final do processo de especialização motora, também, ocorreu na equipe de atletismo, com o mesmo técnico das fases anteriores, aprendizagem e prática. motora. Os talentos do atletismo iniciaram a prática e a especialização esportiva dentro das idades esperadas para a idade, no entanto, seus melhores resultados foram conseguidos em média cinco anos antes das idades esperadas para o alto rendimento, caracterizando, dessa forma, um resultado esportivo precoce. As evidências encontradas parecem indicar que os contextos onde ocorreram os fatores que determinaram o abandono foram: a família devido a sua estrutura e condição financeira; ao local de trabalho dos pais, cuja renda não parecia ser suficiente para a manutenção da família; a equipe de atletismo, na intensidade e volume das atividades realizadas durante a fase de especialização motora e nos relacionamentos interpessoais entre técnico e atleta; nas prefeituras municipais, enquanto entidades mantenedoras não geraram recursos suficientes para promover o desenvolvimento dos talentos; na federação de atletismo, que normatizam as categorias etárias nas quais o atleta compete, na escola/universidade e no local de trabalho dos talentos, onde as exigências acadêmicas e profissionais parecem ter concorrido com a dedicação ao esporte e, finalmente, foram atribuídos fatores relacionados o governo estadual e sua política de desenvolvimento do esporte que não valorizou a modalidade de atletismo. Para caracterizar os períodos em que ocorreram os abandonos adota-se o tempo em relação ao talento e aos contextos a partir da modalidade de atletismo. Em relação ao talento, o período de abandono foi situado entre os anos de mil novecentos e noventa e seis e mil novecentos e noventa sete, apenas um talento abandonou no ano de mil novecentos e noventa e três. Nessa época os talentos tinham idades entre dezoito e vinte e seis anos, com prevalência de idade entre dezenove e vinte e dois anos, essa idade caracteriza-se entre o final da adolescência e o início a vida adulta. Essas idades em relação as esperadas para o rendimento esportivo parecem sugerir que ocorreu um abandono esportivo precoce. Em relação a modalidade de atletismo as idades de abandono situa-se na transição da categoria juvenil para a adulta (dezenove anos), portanto essa passagem parece ter sido um momento decisivo na trajetória dos atletas; as evidências mostraram que as equipes de atletismo no estado 118 do Paraná eram mantidas pelas prefeituras municipais, com o objetivo de participação em jogos abertos e jogos da juventude promovidos pela secretaria estadual de esporte e turismo. Sendo a prefeitura a entidade mantenedora, as eleições de mil novecentos e noventa e seis, determinaram trocas nas secretarias e fundações de esporte municipais. Essa transição na estrutura administrativa parece ter afetado negativamente a valorização da equipe de atletismo, quanto à estrutura, recursos materiais e financeiros, desta forma, o abandono dependeu dos eventos e períodos históricos dos contextos que promovem ou inibem o desenvolvimento nas diversas estruturas sociais. Com relação ao abandono, os fatores determinantes evidenciados foram: oportunidade para trabalhar, casamento seguido de paternidade, extinção da fundação de esportes municipal, falta de valorização do atletismo, discussão com o técnico e, um conjunto de fatores. Nesse conjunto de fatores foram apontados: maturação precoce, ter que estudar, busca por outras atividades, ter que trabalhar, lesões musculares, falecimento do pai, condição financeira da família, falta de estrutura na cidade, pressões familiares, interferência do pai no treinamento, falta de técnico especializado, competir em categorias mais elevadas, desgaste psicológico, falta de orientação pessoal, falta de patrocínio, dependência equipeprefeitura e falta de valorização da modalidade. Diversos fatores foram determinantes ou intervieram mas, o abandono dependeu da seqüência e ocorrência desses fatores durante a vida pessoal e esportiva do talento, indicando que cada história de abandono parece ser um processo único. Portanto, as evidências demonstraram que uma diversidade de fatores contribuíram para o abandono e, compreender como esses fatores se inter-conectaram reflete a complexidade do estudo do desenvolvimento humano em contexto e, em especial, do fenômeno do abandono do contexto esportivo competitivo. A partir das conclusões desta investigação sugere-se outros estudos que procurem investigar as seguintes temáticas: Sugere-se estudos que repliquem o presente estudo em diferentes sujeitos e contextos, para que se possa identificar e compreender as diferenças e semelhanças dos fatores que levam ao abandono do contexto esportivo competitivo. 119 Devido a influências das prefeituras municipais e do governo estadual no desenvolvimento do esporte no estado do Paraná, sugerimos a realização de estudos que analisem e avaliem as políticas de desenvolvimento do esporte tanto em municípios quando nos estados; Da mesma forma, na estrutura administrativa das instituições que gerenciam o esporte, percebeu-se que a função de secretario de esportes a nível municipal e estadual foi questionada. Nesse sentido, sugerimos estudos sobre a qualificação profissional das pessoas que ocupam essas funções administrativas. Em função dos resultados obtidos neste estudo sugere-se também estudos cujo objetivo seja verificar a possibilidade de correlação entre resultado esportivo precoce e abandono esportivo precoce. Ao final, sugerimos estudos multi disciplinares onde profissionais de diversas áreas do conhecimento, como fisiologia, biomecânica, psicologia, sociologia, pedagogia, admininistração, comunicação e marqueting, ciências sociais e políticas, entre outras poderiam analisar, sob diferentes perspectivas, o fenômeno que é o esporte e sua importância para o desenvolvimento do ser humano. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABREU, R, C. Análise do Fenômeno do drop-out em nadadores de 12 a 15 anos de ambos os sexos em Minas Gerais. Belo Horizonte. UFMG, 1993 p. 138. Dissertação (Mestrado em Educação física) Universidade Federal de Minas Gerais. ACKLAN, T. R, BLOOMFIELD, J, ELIOT, B. C, ET AL. Talent identification for tennis and swimming. Journal of Sports Sciences, n 8, p. 161-162, 1990. BACKX, F. J. G. 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ANEXOS 129 ANEXO I – Seção 3.4 FICHA DE IDENTIFICAÇÃO DO TALENTO Nome = ___________________________________________________ Local e data de nascimento = _____________________ ____/___/____ Idade = ____________________ Estado civil_____________________ Escolaridade = _____________________________________________ Descendência = ___________________ Profissão =________________ Endereço = _________________________________________________ Cidade = __________________________________________________ C. E. P. = _______________________ Telefone = _________________ Modalidade = ______________________________________________ Nome dos Pais = _____________________ e _____________________ Endereço dos Pais = _________________________________________ Cidade= ___________________________ Telefone = ______________ Período aproximado do abandono = _____________________________ Idade quando do abandono = __________________________________ Resultados Evento data = _____________ _________________________________ ____/____ _____________ _________________________________ ____/____ _____________ _________________________________ ____/____ _____________ _________________________________ ____/____ _____________ _________________________________ ____/____ _____________ _________________________________ ____/____ _____________ _________________________________ ____/____ _____________ _________________________________ ____/____ 130 ANEXO II – seção 3.4 ROTEIRO DA ENTREVISTA COM O TALENTO Estimulação Motora (Experiências iniciais com a atividade motora) a) Comente sobre suas atividades motoras na infância. Roteiro – Quais? Onde? Com quem? Com que idade? Aprendizagem Motora ( aprendizagem das modalidades esportivas) a) Comente sobre os esportes que você aprendeu. Roteiro – Quais? Onde? Com quem? Com que idade? Como a tua família participava do teu envolvimento com esses esportes? O que te motivou a aprender esses esportes? Prática Motora ( as aprendizagem a automatização ) a) Dentre os esportes que aprendeu com quais se envolveu. Roteiro – Quais? Onde? Com quem? Por que? Alguma característica pessoal tua foi importante para praticar esse esporte? Quanto tempo por semana, horas por dia? Comente sobre o teu técnico Que outras atividades tinha além de treinar essas modalidades/ Como tua família participava do teu envolvimento com esses esportes? O que recorda de positivo ou negativo desta época. Especialização motora ( dedicação exclusiva ao esporte escolhido ) a) qual o esporte escolhido. Roteiro – Qual foi o esporte que escolheu para dedicar-se? Em que ano ou época isso aconteceu/ Quantos anos tinha naquela época. Quais foram os fatores que te levaram a optar por essa modalidade? Quantos horas e dias de treinos por semana? Como era o teu relacionamento com o teu técnico Que outras atividades tinha que fazer além de se dedicar aos treinamentos? 131 Como era o teu relacionamento com tua família Teve algum tipo de suporte financeiro... da família..... de patrocinadores.... do governo municipal... estadual ... ? Considera que por ter sido atleta foi valorizado dentro da comunidade que vivia? Quando decidiu abandonar o esporte competitivo? Comente sobre o fator (es) que determinou (ram) o abandono. Como? Quando? Onde? Porque? Quais? Comente sobre os aspectos positivos e negativos de ter sido um talento que abandonou o esporte competitivo. 132 ANEXO III – Seção 3.4 FICHA DE IDENTIFICAÇÃO DO PAI DO TALENTO Nome = __________________________________________________ Nome do filho = ____________________________________________ Local de nascimento = ______________________________________ Data do nascimento = ________________________________________ Idade = ___________________________________________________ Estado civil = _______________________________________________ Escolaridade = _____________________________________________ Descendência = ____________________________________________ Endereço = ________________________________________________ Telefone = ________________________________________________ Cidade = __________________________________________________ C. E. P. = __________________________________________________ Modalidade do filho = _______________________________________ Período em que o filho abandonou o esporte competitivo = __________ Idade aproximada do filho quando do abandono = __________________ Profissão = ________________________________________________ Tipo de envolvimento com o esporte = __________________________ 133 ANEXO IV – Seção 3.4 ROTEIRO DA ENTREVISTA COM O PAI DO TALENTO Estimulação Motora ( Experiências iniciais com a atividade motora) a) Comente sobre as atividades motoras do seu filho na infância. Roteiro – Quais? Onde? Com quem? Com que idade? Aprendizagem Motora ( aprendizagem das modalidades esportivas) a) Que esportes seu filho aprendeu. Roteiro – Quais? Onde? Com quem? Com que idade? Quais eram as qualidades físicas/motoras/psicológicas de seu filho? Como a família participava do envolvimento do filho com esportes? Prática Motora ( as aprendizagem a automatização ) a) Que esportes seu filho mais se identificou/treinou. Roteiro – Quais? Onde? Por que? Alguma característica pessoal do filho foi importante para praticar esses esportes? Quanto tempo por semana, horas por dia seu filho treinava? Comente sobre os técnicos do teu filho Que outras atividades o filho tinha além de treinar essas modalidades/ Como a família participava do envolvimento do filho com esses esportes? O que você recorda de positivo ou negativo desta época. Especialização motora ( dedicação exclusiva ao espore escolhido ) a) Que esporte o filho se dedicou. Roteiro – Qual o esporte o filho escolheu para dedicar-se? Em que ano ou época isso aconteceu/ Quantos anos ele tinha naquela época. Quais foram os fatores que o levaram a optar por essa modalidade? Quantos horas e dias de treinos por semana Como era o teu relacionamento com o teu técnico? 134 Que outras atividades o filho tinha que fazer além de se dedicar aos treinamentos? Como era o relacionamento do filho com a família O filho teve algum tipo de suporte financeiro... da família..... de patrocinadores.... do governo municipal... estadual ... Você considera que por ter sido atleta seu filho foi valorizado dentro da comunidade que vivia? Quando o filho decidiu abandonar o esporte competitivo? Comente sobre o fator (es) que determinou (ram) o abandono. Como? Quando? Onde? Porque? Quais? Comente sobre os aspectos positivos e negativos de ser pai de um talento que abandonou o esporte. 135 ANEXO V – Seção 3.4 FICHA DE IDENTIFICAÇÃO DO TÉCNICO DO TALENTO 1. Ficha do Técnico do Atleta = _______________________________ Nome = ___________________________________________________ Local de nascimento = ________________________________________ Data do nascimento = ________________________________________ Idade = ___________________________________________________ Estado civil = _______________________________________________ Escolaridade = _____________________________________________ Descendência = _____________________________________________ Endereço = ________________________________________________ Telefone = _________________________________________________ Cidade = _________________________________________________ C.E.P. = ___________________________________________________ Modalidade = _______________________________________________ Período em que atleta abandonou o esporte competitivo = ___________ Idade aproximada quando do abandono = _________________________ Profissão = _________________________________________________ Tipo de envolvimento com o esporte = ___________________________ Principais competições representando cidade/estado/país, resultados e data _____________________ ______ ___________________ ____/___ _____________________ ______ ___________________ ____/___ _____________________ ______ ___________________ ____/___ _____________________ ______ ___________________ ____/___ 136 ANEXO VI – Seção 3.4 ROTEIRO DA ENTREVISTACOM O TÉCNICO DO TALENTO Especialização motora ( dedicação exclusiva ao espore escolhido ) a) Como foi que você o conheceu. b) Qual a idade dele naquela época... qual a sua idade? Quando você o conheceu/ c) Quais os qualidades físicas/psicológicas tinha o atleta____________________ d) Quantos horas e dias de treinos por semana e) Como era o teu relacionamento com o atleta. ? e) Como era o teu relacionamento com a família do atleta ( )? f) O atleta e você tiveram algum tipo de suporte financeiro... da família..... de patrocinadores.... do governo municipal... estadual ... ? g) Você considera que por ter sido técnico do atleta ( ) foi valorizado dentro da comunidade que vivia em função do sucesso do atleta h) Quando o atleta decidiu abandonar o esporte competitivo? Comente sobre o fator (es) que determinou (ram) o abandono. Como? Quando? Onde? Porque? Quais? i) Comente sobre os aspectos positivos e negativos de ter sido técnico de um talento esportivo que abandonou o esporte. 137 ANEXO VII – Seção 3.4 FICHA DE IDENTIFICAÇÃO DOS DIRIGENTES ESPORTIVOS Nome = ____________________________________________________________ Local e data de Nascimento =___________________________________________ Idade = ___________________ Escolaridade = ____________________________ Profissão = ____________________________ Tempo de serviço na secretaria Período = de ____________________________ à ________________________ Endereço =__________________________________________________________ Telefone = ___________________________ Cidade = _______________________ C.EP = _______________________________ Principais Projetos da Secretaria ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 138 ANEXO VIII – Seção 3.4 ROTEIRO DA ENTREVISTA COM O DIRIGENTE ESPORTIVO - Como foi estruturada a política de esporte no estado do Paraná desde os anos oitenta? Quais os governos? Quais os secretários? - Como eram determinados aos secretários os objetivos e as metas. - Como são obtidos e destinados os recursos financeiros para o esporte - Quais as principais promoções da secretaria a nível do esporte para o estado - Como as prefeituras, as federações, as universidades e outras instituições participam da estrutura do esporte a nível de estado - Quais os principais projetos desenvolvidos para dar apoio financeiro/ material/ educacional aos talentos esportivos do estado - Quais os principais projetos desenvolvidos para dar apoio/ aperfeiçoamento /atualização aos técnicos dos talentos esportivos do estado (inicio- fim conseqüências motivos) - Quais as influencias ou estruturas a qual a secretarias estiveram subordinadas e promoveram ou prejudicaram o desenvolvimento de talentos esportivos no estado - Quais as dificuldades (mídia/ orçamentos/ comunicação com federação, prefeituras técnicos atletas que podem ser observadas na estrutura do esporte no estado - Como é a valorização do esporte enquanto fenômeno cultural no estado no paraná - Aspectos positivos e negativos do desenvolvimento do esporte paranaense desde os anos oitenta 139 ANEXO IX - Seção 3.4.1 Normas gerais de transcrição (OLIVEIRA, 1998) • pausa (exceto a que recebe outra marcação): ... • quebra do fluxo textual: / • comentário paralelo: - - • alongamento silábico: :: • entonação enfática: MAIÚSCULA • interrogação: • fragmento incompreensível: ( • suposição de audição: (palavra) • comentário do transcritor, com indicação de tosse, riso, voz etc: (( • turno assaltado ou interrompido: (.....) • citação de fala de outro ou estrangeirismos: “ • sobreposição de fala: • entoação, admitindo-se combinações: ↑↓→ • siglas e inicial de nomes próprios: MAIÚSCULA ? ) )) “ palavra Restam, ainda, as seguintes observações • repetições em análise encontram-se negritadas; • números são transcritos por extenso; • não se usam o ponto final, o de exclamação, os dois pontos, o ponto e vírgula e a vírgula, já marcados genericamente pela pausa ....; • não se marca o ritmo da frase; • formas ouvidas como né e pra foram assim mantidas; • omite-se a identidade dos informantes como o uso da inicial de cada um deles: P. distinguem-se os pontuadores discursivos: eh (fático), e (aditivo) e é (continuativo); • os marcadores conversacionais transcrevem-se em posição central. 140 ANEXO X - Seção 3.4 MATRIZ DA ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA Categorias Indicadores Elementos Características Fatores sócio- físicas e demográficos demográficas Informativa Atributos pessoais Timing Período vital Período social Microssistema Interdependência Mesossistema Exossistema Macrossistema Estimulação motora Processo Aprendizagem motora Prática motora Especialização motora Informações Idade, sexo, estado civil, etnia, nível de escolaridade, local de residência, profissão e tipo de envolvimento com o esporte Características Encorajam o envolvimento com o pessoais esporte Características Valências físicas e físicas antropométricas Características Motivação, sócio-emocionais Traços de personalidade Tempo histórico Sincronia com a carreira esportiva pessoal (idade) transições em relação a idade Expectativas Seqüência de transições expectativas e crenças relacionada com a idade Atividades, Envolvimento na atividade, relações dificuldades encontradas e grau de interpessoais e satisfação em relação aos papéis, papéis desejo de melhorar, relacionamento entre pessoas no decorrer dos anos Laços primários, Pessoas que participam em dois secundários, ambientes, outras pessoas que indiretos, participam desses ambientes, comunicação entre pessoas que não participam ambientes diretamente dos ambientes, formas de comunicação Ligações , Eventos que interferiam na carreira processos do atleta em ambientes onde ele não participa, Tipos de projetos desenvolvidos pelo Riscos, crenças, recursos, estado, valorização do esporte, oportunidades, influencias das trocas de governo no divulgação do esporte, intercâmbios esporte Detalhes dos tipos de envolvimento Tipos de vivências com atividades, tipos de motora relacionamentos, ambientes de desenvolvimento das atividades Modalidades Tipos de modalidades esportivas esportivas aprendidas, ambientes de desenvolvimento destas atividades, tipos de relacionamentos Escolha de Preferência por modalidades modalidades esportivas Opção pelo esporte Motivos, tipos de suporte, ambiente Fatores do de desenvolvimento, pessoas, abandono atividades, atributos, períodos Questões Que? Qual? Onde? Quando Que? Qual? Qual? Quais? Quais? Qual? Quando? Que? Quais? Quando? Quais? Que? Como era? Quem? Com quem? Quando? Quando Qual? Quais? Como? Porque? Com quem? Onde? 141 ANEXO XI – SEÇÃO 3.7 MATRIZ DE ANÁLISE DOS DADOS SÓCIO DEMOGRÁIFOCS DOS FAMILIARES DOS TALENTOS DO ATLETISMO Familiar F1 F2 F3 F4 F5 F6 F7 F8 F9 F10 Data de Idade Escolaridade Estado nascimento Atual Civil Profissão Envolvimento com o Esporte 142 ANEXO XII – SEÇÃO 3.7 MATRIZ DE ANÁLISE DOS DADOS SÓCIO DEMOGRÁFICOS DOS TÉCNICOS DE ATLETISMO Técnico Data de Idade Nascimento Atual P1 P2 P3 P4 P5 Escolaridade Profissão Estado Eventos Civil importantes 143 ANEXO XIII – SEÇÃO 3.7 MATRIZ DE ANÁLISE DOS DADOS SÓCIO DEMOGRÁFICOS DOS TALENTOS DO ATLETISMO Informações Data de nascimento Estado civil Data do abandono Idade quando do abandono Idade atual Escolaridade Profissão Projetos Melhores resultados Idade dos melhores resultados T1 T2 T3 ..... T10 144 ANEXO XIV – SEÇÃO 3.7 MATRIZ DE ANÁLISE DO PROCESSO DE ESPECIALIZAÇÃO MOTORA DOS TALENTOS DO ATLETISMO Talento Informações Estimulação Aprendizagem Motora Motora T1 T2 T3 .... T10 Prática Motora Especialização Motora Local Idade Atividades/ esportes horas e dias por semana Local Idade Atividades/ esportes horas e dias por semana Local Idade Atividades/ esportes horas e dias por semana Local Idade Atividades/ esportes horas e dias por semana Local Idade Atividades/ esportes horas e dias por semana A matriz de análise categorial está exemplificada com os talentos, entretanto, a mesma matriz foi utilizada para técnicos e familiares 145 ANEXO XV – SEÇÃO 3.7 MATRIZ DE ANÁLISE DOS ATRIBUTOS PESSOAIS DOS TALENTOS DO ATLETISMO Talento Atributos pessoais Atividades Processo Estimulação motora Aprendizagem motora T1 Prática motora Especialização motora Estimulação motora Aprendizagem motora T2 Prática motora Especialização motora Estimulação motora Aprendizagem motora T3 Prática motora Especialização motora Estimulação motora Aprendizagem motora ... Prática motora Especialização motora Estimulação motora Aprendizagem motora T10 Prática motora Especialização motora A matriz de análise categorial está exemplificada com os talentos, entretanto, a mesma matriz foi utilizada para técnicos e familiares 146 ANEXO XVI – SEÇÃO 3.7 MATRIZ DE ANÁLISE DOS PARÂMETROS DO CONTEXTO DA MODALIDADE DE ATLETIMO Talento Microssistemas Dados demográficos/atividades papéis/relações interpessoais Meso e exossistemas Participação/ comunicação e Conhecimento multiambiental Laços indiretos Macrossistema Crenças/recursos/ estilo de vida/ oportunidades/ divulgação T1 T2 T3 ... T5 A matriz de análise categorial está exemplificada com os talentos, entretanto, a mesma matriz foi utilizada para técnicos e dirigentes esportivos 147 ANEXO XVII – SEÇÃO 3.7 MATRIZ DE ANÁLISE DOS FATORES DO ABANDONO DE TALENTOS DO ATLETISMO Talento Fator determinante do abandono Fatores intervenientes no abandono T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 T8 T9 T10 A matriz de análise categorial está exemplificada com os talentos, entretanto, a mesma matriz foi utilizada para técnicos e familiares