Universidade Federal do Pampa Aline Basso da Silva Bruna Cristiane Furtado Gomes APOIO MATRICIAL E REDE DE CUIDADO INTEGRAL EM SAÚDE MENTAL: vivências e percepções de profissionais de saúde do Município de Uruguaiana Trabalho de Conclusão de Curso URUGUAIANA 2010 Aline Basso da Silva Bruna Cristiane Furtado Gomes APOIO MATRICIAL E REDE DE CUIDADO INTEGRAL EM SAÚDE MENTAL: vivências e percepções de profissionais de saúde do Município de Uruguaiana Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal do Pampa, para a obtenção do título de Bacharel Enfermagem. Orientadora Profª Ms: Odete Messa Torres Uruguaiana 2010 em DEDICATÓRIA ―Pretendeis misturar o fogo com a água, pois a Loucura e a Prudência não são menos opostas que esses dois elementos contrários. — Não obstante sentir-me-ei lisonjeada por vos convencer disso, desde que continueis a prestar-me vossa gentil atenção. Se a prudência consiste no uso comedido das coisas, eu desejaria saber qual dos dois merece mais ser honrado com o título de prudente: o sábio que, parte por modéstia, parte por medo, nada realiza, ou o louco, que nem o pudor (pois não o conhece) nem o perigo (porque não o vê) podem demover de qualquer empreendimento. O sábio absorve-se no estudo dos autores antigos; mas, que proveito tira ele dessa constante leitura? Raros conceitos espirituosos, alguns pensamentos requintados, algumas simples puerilidades — eis todo o fruto de sua fadiga. O louco, ao contrário, tomando a iniciativa de tudo, arrostando todos os perigos, parece-me alcançar a verdadeira prudência. " Elogio à loucura - Erasmo de Roterdan Dedicamos aos profissionais da saúde, ainda sonhadores que mesmo diante de tantas barreiras e dificuldades... Não desistem de sonhar AGRADECIMENTOS Esta pesquisa compõe um pouco de história, um pouco de trajetória de vida, de pensamento, de emoção e de sonhos. Concluir uma formação, para nós, não seria somente fechar mais um ciclo, e sim, trazer para um cenário de prática durante anos de formação algum questionamento a mais, pensamentos, reflexões, dúvidas e utopias. Lembrando o início de tudo até o presente momento a muitas pessoas que devemos agradecer, impossíveis de ser esquecidas, e que compuseram um enorme retalho na colcha de retalhos de nosso ser, de nosso crescimento pessoal, intelectual, humano, de ser humano. Aos nossos pais, nossos primeiros orientadores na vida, que serviram de base para apoiar nossos afetos e desafetos com o caminho. Que possibilitaram a realização de muitas conquistas pelo amor, pela dedicação e companheirismo de apoiar e motivar o filho. `A Deus Que permitiu que este trabalho se concretizasse apesar de tantos obstáculos encontrados durante a caminhada e muitos momentos de instabilidade emocional que fez com que a fé nos fizesse levantar e seguir em frente. À Odete nossa orientadora, que muitas vezes acolheu nossas angustias, nossas revoltas, esclarecendo-nos, e conduzindo até o final desta pesquisa. Obrigada por sua atenção, paciência e amizade, por ter possibilitado o nosso crescimento e apoiado a nossa trajetória acadêmica. À Thomas, professor de Ciências Sociais, muito querido por nós, que desde o primeiro dia de aula, nos mostrou os diversos ângulos que compõem a Saúde, nos fez repensar inúmeras questões de assistência em Enfermagem, nos mostrando que os seres humanos são muito mais que um corpo físico, perpassando ao emocional, a cultura, as representações sociais, as narrativas, a vida humana. E que com certeza, fez pensarmos a Saúde para além do Biológico À Bia, incrível professora de Saúde Coletiva, que revelou o grande papel do mestre na graduação, trazendo em cada aula a motivação pela mudança, o senso de humor, a realidade escondida em cada teoria belíssima que estudávamos a experiência de vida e de olhar para vida. Enfim, as práticas e ensinamentos desta professora incentivaram a reflexão, a crítica e o trabalho que compôs esta pesquisa. Aos profissionais do centro de Atenção Psicosocial (CAPS), e das Unidades Básicas de Saúde (UBS), a razão deste trabalho. Que nos permitiram espaço para realização desta pesquisa, e a disponibilidade da participação em cada encontro. Dedicamos este estudo a eles e ao município de Uruguaiana, e esperamos que possa subsidiar futuros estudos que beneficiem o cenário em questão. RESUMO Trata-se de uma pesquisa qualitativa realizada no município de Uruguaiana com a integração de três serviços, sendo duas Unidades Básicas de Saúde e um Serviço Especializado em Saúde Mental. Esta pesquisa teve por objetivo: analisar as percepções de equipes de saúde da atenção básica e do CAPS sobre o matriciamento em redes de cuidado integral em saúde mental no município de Uruguaiana, a partir da identificação de experiências de apoio Matricial em saúde mental destas equipes, da compreensão da vivência destes profissionais sobre o tema, bem como, a identificação de linhas e traçados que apontem a configuração de uma rede de cuidado integral em Saúde Mental neste município. Para a concretização deste estudo utilizou-se da metodologia Qualitativa de Minayo (2007) e a Análise Institucional de Lourau (1993). Este percurso metodológico permitiu as pesquisadoras uma análise socioanálitica de diversos contextos e instituições utilizando da implicação coletiva (LOURAU, 1993) e o contato com subjetividades, singularidades, temas desconhecidos e análises macro/micro, externas/ internas de realidades e serviços (MINAYO, 2007). Para atingir os resultados da pesquisa utilizou-se da categorização dos dados em grupos de análises seguindo uma lógica das principais discussões levantadas durante a realização da coleta de dados. Estas análises e reflexões visam trazer à tona novos olhares sobre o tema de Apoio Matricial e Redes de Cuidado Integral, refletindo sobre políticas, sistemas, modelos assistenciais, barreiras e desafios identificados pelas realidades expostas pelos serviços participantes do estudo. Palavras chave: Apoio Matricial; Equipe de Referência; Atenção Integral à Saúde ABSTRACT This is a qualitative research conducted in the city of Uruguaiana with the integration of three services, two basic health units and a specialized mental health. This study aimed to: analyze perceptions of health teams in primary care and CAPS on the matricial network of integrated care in mental health in the municipality of Uruguaiana, by identifying support Matrix experience in mental health of these teams, understanding the experience of these professionals on the subject, as well as the identification of lines and strokes that indicate the configuration of a network of comprehensive mental health care in this county. To achieve this study we used qualitative methods, integrating qualitative methodology Minayo (2007) Institutional analysis and Lourou (1993), this methodological approach allowed the researchers an analysis of Socio various contexts and institutions using the collective implication (LOUROU, 1993) and contact with subjectivities and singularities, themes and analyzes unknown macro / micro, external / internal realities and services (MINAYO, 2007). To achieve the results of the research used in categorizing the data analysis groups following a logic of the main arguments raised during the data collection. These reviews and reflections designed to bring out new perspectives on the issue of Matrix Support Networks and comprehensive care, reflecting on policies, systems, models of care, barriers and challenges identified by the realities exposed by the departments studied. Keywords: Matrix Support; Reference Team, Comprehensive Health Care Lista de Ilustrações Figura 01: desenho Construído pelos profissionais da saúde.........................40 Figura 02: desenho Construído pelos profissionais da saúde.........................40 Figura 03: desenho Construído pelos profissionais da saúde.........................41 Figura 04: desenho Construído pelos profissionais da saúde.........................42 Figura 05: desenho Construído pelos profissionais da saúde.........................42 Figura 06: desenho Construído pelos profissionais da saúde.........................43 Figura 07: desenho Construído pelos profissionais da saúde.........................43 Figura 08: desenho Construído pelos profissionais da saúde.........................44 Foto 01: Profissionais realizando leitura do estado da arte...................................................................................................................54 Foto. 02: Profissionais construindo painel conceitual no I encontro institucional......................................................................................................54 Foto 3: Equipes Integradas debatendo conceitos de Apoio Matricial...........................................................................................................57 Listas de Abreviaturas e Siglas ACS- Agentes comunitários de Saúde CAPS- Centro de Atenção Psicossocial UBS- Unidade Básica de Saúde ESF- Estratégia da saúde da Família S- Serviço E- entrevistado SP- Situação problema NAPS- Núcleo de Atenção Psicossocial SIS - Sistema de Informação em Saúde PNI - Programa Nacional de Imunizações SUMÁRIO AGRADECIMENTOS .................................................................................................. 4 Lista de Ilustrações ..................................................................................................... 8 Listas de Abreviaturas e Siglas ................................................................................... 9 SUMÁRIO ................................................................................................................. 10 APRESENTAÇÃO ..................................................................................................... 12 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 13 1.1 Objetivo geral ............................................................................................................. 15 1.1.1 Objetivos específicos............................................................................................... 15 2 REFERENCIAL TEORICO ..................................................................................... 16 2.1 Sobre a História da saúde Mental: dos movimentos mundiais à Reforma Psiquiátrica brasileira .......................................................................................................................... 16 2.2 Apoio Matricial: uma proposta de mudança do modelo ―medicalizante‖ e concretização da Reforma Psiquiátrica ............................................................................ 19 2.3 Saúde Mental na Atenção Básica: organizando ações ............................................... 21 2.4 Os Componentes da Rede ......................................................................................... 24 3. PERCURSO METODOLÓGICO ............................................................................ 28 3.1 Cenários da Pesquisa ................................................................................................ 31 3.2 Os Sujeitos da Pesquisa ............................................................................................ 33 3.3 Encontros ................................................................................................................... 34 3.4 A Coleta, Análise de Dados e Registro das Informações............................................ 35 3.5 Considerações Éticas ................................................................................................. 36 4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS ............................................. 37 4.1 Encontros e descobertas ............................................................................................ 41 4.1.1 Saúde Mental e Equipe Multiprofissional: Frente a frente ........................................ 41 4.1.2 Primeiros Passos: auto percepção dos profissionais e seu cenário ......................... 48 4.2.O confronto com o novo: conceitos e realidades ........................................................ 55 4.2.1 Apoio matricial e redes de cuidado integral em saúde mental: construindo conceitos ......................................................................................................................................... 55 4.2.2.Ficção e realidade: o confronto de encontros .......................................................... 60 4.3 A subjetividade humana e desafios da pesquisa qualitativa ....................................... 66 4.3.1 Dialética e indentitária: entre o discurso e o gesto ................................................... 67 4.3.2 Apoio Matricial: utopias, barreiras e desafios........................................................... 72 4.3.2.1 Barreiras relacionadas à demanda excessiva ....................................................... 73 4.3.2.2 Barreiras organizacionais ..................................................................................... 76 4.3.2.3 Barreiras Políticas e de Comunicação .................................................................. 77 4.3.2.4 Obstáculo subjetivo e cultural ............................................................................... 79 5. Plano de Ação para a Efetivação do Apoio Matricial no município de Uruguaiana: um compromisso deste estudo ............................................................................................ 81 6. REFLEXÕES SOBRE UM PROCESSO INSTITUÍNTE ......................................... 85 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 86 APENDICÊS I - Questionário semi- estruturado I ...................................................... 91 APÊNDICES II - Questionários II / avaliação das atividades ..................................... 92 APÊNDICES III - Situação problema 01 .................................................................... 93 APÊNDICES IV - Situação problema 02 .................................................................... 96 APÊNDICE V – Termo de consentimento livre e esclarecido .................................... 98 APÊNDICE VI - Readequações da pesquisa em resposta ao pedido da Secretária Municipal de Saúde ............................................................................................................. 99 ANEXO I - Autorização da pesquisa pelo Secretário da Saúde ............................... 100 ANEXO II – Autorização do Centro de Atenção Psicossocial, (CAPS II) Asas da Liberdade........................................................................................................................... 101 12 APRESENTAÇÃO Este trabalho surgiu a partir de nossa experência acadêmica no desenvolvimento de atividades práticas curriculares da disciplina de Saúde Mental II, junto aos serviços de saúde do municipio de Uruguaiana, onde tivemos oportunidades de vivenciar situações complexas enfrentadas por trabalhadores no exercício de suas atividades profissionais no campo da saúde mental e coletiva. Durante estas atividades práticas os acadêmicos deveriam acompanhar profissionais da atenção básica e do CAPS, na tentativa de realizar o Apoio Matricial, com isso observamos que a prática de matriciamento em redes de cuidado integral em saúde mental estava longe de se tornar uma prática efetiva nesse municipio, em decorrência de diversas barreiras, necessitando, portanto de ações que viabilizem sua efetiva implementação. Essa experiência se constituiu em um desafio e um estímulo para o desenvolvimento de uma pesquisa de campo, na qual pudessemos conhecer o entendimento de profissionais de saúde a respeito do conceito do quem vêm a ser o Apoio Matricial em redes de Cuidado Integral em saúde Mental, bem como desvelar a apartir das falas dos mesmos os nós críticos que dificultam sua implementação efetiva. O desejo de realizar esta pesquisa vem ao encontro com nossa trajetória acadêmica, onde nos direcionamos para a área de Saúde Mental, e Saúde Coletiva, onde busacamos cada vez mais conhecer os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde, as políticas públicas e realcioná-los a nossa realidade locorregional. Por fim esta pesquisa foi desenvolvida buscando contribuir para as práticas de Saúde Mental e coletiva no município, desejando, assim, servir de subsídio para novas pesquisas, ações, reflexões que contribuam para a transformação da realidade. 13 1 INTRODUÇÃO Esta pesquisa trata da análise das percepções de equipes de saúde sobre Apoio Matricial e Redes de cuidado Integral em Saúde Mental no municipio de Uruguaiana. A mesma surgiu a partir de reflexões na disciplina curricular de Saúde Mental II do Curso de Enfermagem que proporcionou um melhor entendimento sobre o tema, provocou a curiosidade sobre o que dificulta a efetivação da rede integral em Saúde Mental. Ao estudar a rede de saúde mental, precisamos levar em consideração sua criação e relevância a partir de uma trajetória política do Sistema Único de Saúde (SUS) que ampliou olhares para atenção Integral em Saúde Mental com a Reforma Psiquiátrica. Conforme Oliveira, Martinhago e Moraes (2009) a rede em saúde mental tem um horizonte democrático e participativo no contexto das políticas públicas de saúde no Brasil e tem o objetivo de buscar um novo lugar social para as pessoas com sofrimento psíquico, promovendo a interação cotidiana entre a saúde mental e a sociedade. Segundo Buchele et al (2006) o Ministério da Saúde expandiu o conceito de saúde na tentativa de reverter o modelo assistencial centrado na doença para um modelo de atenção integral à saúde, em que haja a incorporação progressiva de ações de promoção e recuperação da saúde, bem como a prevenção das doenças. No contexto da Política de Saúde Mental, inserida no Sistema Único de Saúde a proposta da Reforma Psiquiátrica baseia-se em três metas: o processo de desistitucionalização, a redução da internação hospitalar em manicômios e a rede de atenção à saúde mental (OLIVEIRA, MARTINHAGO, MORAES, 2009). Para a concretização da Reforma Psiquiátrica e a promoção da integralidade em saúde mental, é necessário um trabalho em rede de cuidado, de base territorial e atuação transversal estabelecimento de com outras vínculos e políticas específicas acolhimento. Este que trabalho busquem o implica a multiprofissionalização, a interdisciplinaridade e a intersetorialidade. Uma proposta transdisciplinar que atua como quebra de barreiras das hierarquias de saberes, permitindo, assim, a re-estruturação do trabalho assistencial (BRASIL, 2003; OLIVEIRA, MARTINHAGO, MORAES, 2009). 14 O apoio matricial, tema central desta pesquisa, é considerado pelo Ministério da Saúde como um arranjo organizacional que visa outorgar suporte técnico em áreas específicas às equipes responsáveis pelo desenvolvimento de ações básicas de saúde para a população (BRASIL, 2003). O apoio matricial possibilita criar uma assistência integrada, desconstruindo a lógica de encaminhamentos, ou seja, quando um usuário de saúde mental necessitar do apoio do serviço será atendido pela equipe de Referência. Esta equipe é fundamental na organização do apoio matricial, pois têm a responsabilidade de conduzir um caso individual, familiar ou comunitário, objetivando ampliar a construção de vínculo entre profissionais e usuários (CAMPOS, 1998). A construção de vínculo proporciona segurança aos usuários e suas famílias diante de dificuldades, respeitando as individualidades e contexto social. Desta forma, a pesquisa buscou fundamentar-se nas políticas de saúde mental que visam proporcionar atenção digna e humanizada para os usuários do serviço, refletindo sobre a integralidade nas práticas de cuidado e as dificuldades de notá-las e desenvolvê-las nos cotidianos de trabalho em Saúde. Além das dificuldades, é importante ressaltar as potencialidades esquecidas pelas demandas e serviços, interrompidas por barreiras políticas locais, hierarquias e saberes não compartilhados por não haverem espaços propícios para reflexão das práticas em saúde, tornando-as mecanizadas. Voltando o olhar para essas questões, considera-se necessário para efetivação da reforma psiquiátrica e criação da rede integral em saúde mental, a reflexão de todos os profissionais envolvidos no cuidado. Assim, os esforços desta investigação dirigiram-se para identificar as dificuldades e potencialidades dos serviços, promovendo um espaço protegido de reflexão e construção de saberes. Este espaço ocorreu através de encontros com estas equipes, onde foi debatido o tema. Durante os encontros as pesquisadoras mantiveram um olhar atento acerca das percepções e experiências trazidas pelos participantes da pesquisa, valorizando o conhecimento de cada profissional envolvido. Esta idéia é trazida por Campos (1998) quando refere a importância de assegurar o cumprimento do objetivo primário de cada organização, quer seja produzir saúde e educar e, ao mesmo tempo, permitir e estimular os trabalhadores a ampliar sua capacidade de reflexão, de co-gestão, valorizando a realização profissional e pessoal. O mesmo acrescenta sobre a necessidade de criar espaços de democracia ampliada, 15 processos produtores de sujeitos-cidadãos, grupos aptos a impor resistência às determinações adversas do meio. Este processo retrata a busca pela autonomização dos sujeitos das equipes, formando grupos capazes de lidar com os saberes, refletir acerca dos problemas encontrados, criarem soluções e estratégias de ação junto à comunidade, a fim de suprir as necessidades para qualificação da saúde local. 1.1 Objetivo geral Analisar as percepções de equipes de saúde da atenção básica e do CAPS sobre o matriciamento em redes de cuidado integral em saúde mental no município de Uruguaiana. 1.1.1 Objetivos específicos - Identificar experiências de apoio matricial em saúde mental no município; - Compreender como os profissionais de saúde vivenciam experiências de apoio matricial em saúde mental; - Identificar linhas, traçados, desenhos que apontem para a configuração de uma rede de cuidado integral em saúde mental para o município de Uruguaiana. 16 2 REFERENCIAL TEORICO 2.1 Sobre a História da saúde Mental: dos movimentos mundiais à Reforma Psiquiátrica brasileira Percebe-se que na sociedade sempre existiu a doença mental, sendo que os indivíduos ―loucos‖ ou fora dos padrões impostos pela sociedade deveriam ser isolados dos cidadãos considerados ―normais‖. Na obra de Foucaut (1972) ―A História da loucura‖ o mesmo relata que o momento histórico em que se decidiu confinar do meio "sadio" os considerados anti-sociais, a Grande Internação do século XVI, foi atribuída uma mesma pátria aos pobres, aos desempregados, aos correcionários e aos insanos. Esta limpeza realizada nas cidades, típica do sistema capitalista dispunha de manter indivíduos inaptos, inúteis e perigosos longe dos olhos da sociedade capitalista, excluindo os incapacitados ao trabalho e produção na economia vigente. Neste contexto, Macedo (2006) acrescenta que a loucura sempre foi encontrada na sociedade em várias épocas, manifestando o indivíduo louco como ―diferente‖, esta definição sugeria incapacidade de convivência social e coletiva. Por isso, a exclusão do indivíduo da sociedade, como a negação de sua cidadania o tornou inapto em viver em coletividade, separando-os do convívio com o outro. Fazendo uma analogia com o pensamento de Foucaut (1972), observou-se na Idade Clássica aos reputados insanos o lugar de segregação que, durante a Idade Média, fora reservado aos leprosos. Finda – ou ao menos reduzida – a ameaça representada por estes últimos, restaram vazios os espaços físicos, sociais e ideológicos que ocupavam, que vieram a ser tomados pelos loucos, impondo assim, a necessidade de separação do corpo social. Segundo Macedo (2006) o surgimento da Psiquiatria moderna em 1794, trouxe consigo a individualização do sujeito portador de distúrbio mental, esta psiquiatria surgiu quase duzentos anos após o início das Grandes Internações. Tratase da Primeira revolução Psiquiátrica, onde a loucura foi ―definida‖ como doença, revolução essa liderada pelo médico francês Philippe Pinel, o qual agia em consonância com os ideais racionalistas e humanitários próprios da Revolução Francesa (TABORDA ET AL, 2004 p.32). 17 Esta Psiquiatria trabalha o chamado ―tratamento moral‖ que revolucionou a saúde mental dando o primeiro passo que foi discutir a loucura como doença, tendo tratamento e precisando ser analisada por especialistas. Conforme Macedo (2006) foi inserida, então, a noção de que a loucura não é irremediável. Não houve extinção do isolamento aplicável aos doentes mentais, mas estes passaram a ser recolhidos em asilos, onde recebiam auxílio humanitário e médico, alimentação e atividades terapêuticas. Porém o ―tratamento moral‖ não dava soluções humanas e dignas para a pessoa com sofrimento psíquico, o processo da Revolução Industrial, trouxe uma explosão no número de asilos, e um aumento na demanda de doentes mentais que não podiam ser acompanhados por uma assistência terapêutica individual. Assim, Macedo (2006) afirma terem-se reduzidos os índices de melhoria, a falta de expectativa na recuperação e a degradação destes espaços, que se transformaram em reais depósitos humanos, refletindo na reclusão os mesmos mecanismos opressores que o mundo exterior impunha ao sofrimento psíquico. No Brasil a Psiquiatria teve início com primeiros estabelecimentos específicos para doentes mentais que foram construídos no país na segunda metade do século XIX, a começar pelo Hospício Pedro II, no Rio de Janeiro, anexo à Santa Casa de Misericórdia da Corte II, criado pelo Decreto 82 de 1841, funcionando desse ano até 1852 como hospícios provisório. Desta forma também foram criados asilos em outros lugares, que se assemelhavam a verdadeiros presídios do que espaços para tratamento psiquiátrico, assistencial e humano (MACEDO, 2006). Com o decreto Lei 1.232 de 1903, promulgado no governo do presidente Rodrigues Alves e responsável por "Reorganizar a assistência aos alienados". Estava evidente a influência da Lei francesa de 1838 neste decreto, que encerrava, além da intenção de unificar a assistência psiquiátrica no país, o estímulo à construção de asilos estaduais e a proibição definitiva do cerceamento de doentes mentais, "alienados" na verdade, em prisões (MACEDO, 2006). Além disso, foi determinada a humanização do tratamento do doente metal ressaltando a não exclusão do mesmo. Neste período, a doença mental está associada a três dimensões: médica, jurídica e social, a psiquiatria possui em si estas três dimensões, sendo ao mesmo tempo médica (assistencial) e vinculada ao controle da ordem pública. (AMARANTE et al 1998). 18 A realidade brasileira vivenciou o processo da Reforma Psiquiátrica a partir da década de 1970, com crescentes manifestações de vários setores da sociedade no sentido de reduzir o cerceamento da liberdade individual na forma de manicômios. Além disto, preconizou-se um novo enfoque no modelo assistencial, através da promoção da saúde mental, ao invés dar direção apenas ao distúrbio psíquico já instalado e a forma de tratamento (MACEDO, 2006). Com esse importante passo, e a ideia de uma melhora na saúde mental no fim dos anos 80, surgiu o Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental, lançando o lema "Por uma sociedade sem manicômios" e estimulando a produção legislativa de vários estados no sentido de proceder à desistitucionalização. Amarante (2007) refere que a história da saúde mental no Brasil é uma narrativa de lutas e sonhos envolvendo diversos atores sociais suas trajetórias, mobilizações, discussões e rupturas. Desta forma, a Política Nacional brasileira foi evoluindo na Saúde Mental chegando ao seu ápice com o decreto lei 10.216/2001, na década de 1960, com o saber psiquiátrico convulsionado pelo surgimento da corrente antipsiquiátrica, a qual questionava a psiquiatria convencional enquanto conhecimento científico, indicando fragilidades nas bases que fundamentam a existência da doença mental. Este movimento conforme Nassere (2007) caracterizou-se pelas primeiras lutas antimanicomiais no Brasil, pelo intuito de discutir e pensar novas práticas para a Saúde Mental e a segregação dos manicômios. A corrente antipsiquiátrica defendia que a loucura não é doença, mas um reflexo da sociedade e da família que mostram desequilíbrios, como também do meio onde o indivíduo se encontra inserido, e sua cura seria localizar e trabalhar estas causas. A partir do ano de 1992, os movimentos sociais, inspirados pelo Projeto de Lei Paulo Delgado conseguem a aprovação em vários estados brasileiros as primeiras leis que determinam a substituição progressiva dos leitos hospitalares psiquiátricos por uma rede integrada de atenção à saúde mental (BRASIL, 2005). Para a ação desta lei foram expandidos os Centros de Apoio Psicosocial (CAPS), Núcleo de Atenção Psicosocial (NAPS) e Hospitais-dia, e as primeiras normas para fiscalização e classificação dos hospitais psiquiátricos. Finalmente, na história da saúde mental brasileira acontece no final do ano de 2001, em Brasília, a III Conferência Nacional de Saúde Mental. Dispositivo fundamental de participação e de controle social contando com a participação ativa 19 de usuários dos serviços de saúde, seus familiares, movimentos sociais e profissionais de saúde (BRASIL, 2005). Com esta conferência foi possível perceber a democratização dos serviços, pois contou com a participação popular, fornecendo assim, contribuições políticas e teóricas para a Política de Saúde Mental no Brasil. A Reforma Psiquiátrica direciona seus esforços para a busca de mudança no modelo de atenção, sendo que suas principais propostas nunca fogem do contexto de desistitucionalização, a redução da internação hospitalar em manicômios e a rede de atenção à Saúde mental. Amarante (2007) retrata, porém, que estamos longe de substituirmos o modelo ―medicalizante‖. Todavia a busca pela integralidade é um processo lento e árduo, que depende a inclusão do usuário da Saúde Mental como ator social, e também a sociedade como facilitador do mesmo. É importante ressaltar que para ocorrerem a integralidade e a desistitucionalização é necessário perceber a dimensão sociocultural do ser humano. Segundo Basaglia (1999) desinstitucionalizar não é somente modificar as formas de atenção à loucura, mas propiciar transformações na cultura, na sociedade exclusora das diferenças, enfim, produzir modificações na racionalidade social sobre este fenômeno. Assim, acrescenta Amarante (2006) que considerar a dimensão sociocultural também é muito importante, para modificar e melhorar a relação da sociedade com as pessoas com algum tipo de sofrimento psíquico. 2.2 Apoio Matricial: uma proposta de mudança do modelo “medicalizante” e concretização da Reforma Psiquiátrica A Reforma Psiquiátrica requer a articulação da saúde mental com a atenção básica, superando a modelo de atenção biomédico, hospitalocêntrico e institucionalizado, partindo para um modelo que favoreça uma assistência integral e territorializada. A concretização deste processo que propicia uma atenção integral ao indivíduo faz com que os CAPS e os hospitais não sejam os únicos centros de referência para o atendimento ao portador de sofrimento psíquico (OLIVEIRA, MARTINHAGO E MORAES, 2009). Nesse sentido, busca-se a transformação das 20 práticas em saúde mental, a partir de uma articulação em redes, coresponsabilizando os profissionais da atenção básica com os CAPS e os Hospitais. Essa transformação é possível com o apoio matricial, uma proposta de articulação da rede de Saúde Mental com as Unidades Básicas de Saúde (UBS), permitindo e/ou facilitando o direcionamento dos fluxos da rede, visando à implementação de uma clínica ampliada, co-responsabilizando as equipes, promovendo saúde e a diversidade de ofertas terapêuticas através de um profissionais de saúde mental que acompanhe periodicamente as UBS, e demais serviços de saúde, possibilitando o a formação de redes intersetoriais (OLIVEIRA, MARTINHAGO E MORAES, 2009). O arranjo matricial visa disparar a ampliação da clínica ampliada, das equipes interdisciplinares de saúde e reorientar a demanda para a saúde mental (FIGUEIREDO, 2006). Esse arranjo possibilita a diminuição dos encaminhamentos desnecessários a serviços especializados, rompendo com a lógica da hierarquização do cuidado, onde um paciente que entra em crise ou exarcebação dos sintomas deva ser encaminhado somente à internação hospitalar. Segundo campos (2000) o apoio matricial trata-se de uma metodologia de trabalho complementar, prevista em sistemas hierarquizados, a saber: mecanismos de referência e contra-referência, protocolos e centros de regulação. Desta forma o apoiador matricial tem o intuito de oferecer retaguarda assistencial como também suporte técnico e pedagógico as equipes de referências. A equipe de referência deve ser responsável pela condução dos casos individuais, familiares ou comunitários, com o objetivo de ampliar as possibilidades de construção de vínculo entre profissionais e usuários. Conforme Campos e Domitti (2007) a responsabilidade de condução refere-se à tarefa de encarregar-se da atenção ao longo do tempo, ou seja, de maneira longitudinal. Nesse sentido o conceito de equipe de referência pressupõe a adoção de uma lógica semelhante para profissionais que trabalhem em policlínicas ou hospitais. O Apoio Matricial é considerado um arranjo, porque ele só é possível atrelado a uma forma de organizar os serviços que garanta um sistema de referência entre profissionais e usuários (FIGUEIREDO, 2000). Analisando a ideia deste autor, compreende-se que para viabilizar este processo organizacional é indispensável à criação de vínculo entre usuário e profissionais. O usuário, por sua vez, quando 21 procurar pelo atendimento em saúde mental encontrará uma equipe de referência para garantir a resolutividade do problema. Apropriando-se da idéia de Figueiredo (2000), produzir a ampliação da clínica significa também que os profissionais possam, em alguns momentos, colocar seu saber prévio, o saber que vem garantido com a técnica, com o procedimento padrão, para se ampliar o contato intersubjetivo que se dá na relação profissional/paciente e para que ocorram reflexões em cada situação, sobre a melhor intervenção a fazer. Portanto, para a efetivação do apoio matricial torna-se fundamental a reflexão, e o compartilhamento dos saberes técnico e saberes cientificos, a discussão conjunta das práticas dos cotidianos dos serviços de saúde, e a integração das equipes multidisciplinares envolvidas no cuidado. Para isso, o apoio matricial possui a necessidade da construção de um projeto terapêutico integrado que deve respeitar as singularidades e necessidades de cada usuário, tornando fundamental uma relacão entre a equipe de referência e os apoiadores neste plano terapêutico. Campos (2007) indica três planos que tornam a prática do apoio matricial possível. ―(1) atendimentos e intervenções conjuntas entre o especialista matricial e alguns profissionais da equipe de referência; (2) Programar uma série de atendimentos ou de intervenções especializadas, mantendo contato com a equipe de referência, que não se descomprometeria com o caso, ao contrário, procuraria redefinir um padrão de seguimento complementar e compatível ao cuidado oferecido pelo apoiador diretamente ao paciente, ou à família, ou à comunidade;(3) é possível ainda que o apoio restrinja-se à troca de conhecimento e de orientações entre equipe e apoiador; diálogo sobre alterações na avaliação do caso e mesmo reorientação de condutas antes adotadas, permanecendo, contudo, o caso sob cuidado da equipe de referência‖ (CAMPOS, 2007, p. 401). Com isso, o apoio matricial vem a contribuir com a saúde mental no sentido de voltar os olhares da saúde mental para a atenção básica, buscando sua contribuição na construção de saberes para aumentar a capacidade resolutiva da equipe local. Isso se caracteriza como construção de um raciocínio integral sobre casos individuais, busca de novos caminhos para se alcançar a prática terapêutica com sucesso, juntamente com o apoio coletivo dos membros da equipe de saúde. 2.3 Saúde Mental na Atenção Básica: organizando ações 22 Os princípios fundamentais de articulação da Saúde Mental na Atenção Básica são a (1) noção de território, a (2) organização da Saúde Mental em rede, (3) a intersetorialidade, (4) a integralidade, (5) a desistitucionalização, (6) a reabilitação psicossocial e (7) a construção de autonomias possíveis de usuários e familiares (BRASIL, 2003). A organização das ações de Saúde Mental na atenção básica tem como eixos de suporte: o apoio matricial da Saúde Mental às equipes da Atenção Básica, a responsabilidade compartilhada, a desconstrução da lógica do encaminhamento, a priorização dos casos mais graves, o aumento da capacidade resolutiva no atendimento e a formação e supervisão continuada (BRASIL, 2003). Conforme Oliveira, Martinhago e Moraes (2009) a organização da rede tem como eixo o território, que não se limita apenas na área geográfica. Uma vez que é composto pelas famílias, instituições, associações e comunidade. Esta teia caracteriza-se como um mecanismo que engloba todos os componentes sociais e não apenas os serviços de saúde promovendo com isso a autonomia e cidadania das pessoas com transtornos mentais. Neste sentido, para que haja a organização do apoio matricial é necessário que os membros das equipes do CAPS utilizem o apoio matricial às diferentes equipes da atenção básica programando sua carga horária para encontros semanais, e formas de contato, para as demandas inesperadas ou intercorrências. Nos municípios que não existem CAPS é imprescindível que as equipes contem com no mínimo um psiquiatra, dois profissionais de nível superior e auxiliares de enfermagem, devendo referenciar de seis a nove equipes na atenção básica. Em municípios de pequeno porte, a equipe pode ser composta de um médico generalista com capacitação em Saúde Mental e um profissional de nível superior (BRASIL, 2003). As equipes de Saúde Mental precisam realizar ações de atendimento conjunto, discussão de casos, supervisão e formação continuada. É imprescindivel a noção de clínica ampliada, a elaboração de projetos terapêuticos que considerem a dinâmica familiar buscando a família como peça chave na ajuda de escolha de uma terapêutica mais humanizada que respeite a individualidade do paciente e questões sócio-culturais (OLIVEIRA, MARTINHAGO E MORAES, 2009). O desenvolvimento de ações conjuntas é outro passo a ser seguido pela equipe, onde se encontra a priorização dos casos de transtornos mentais severos, o uso abusivo de álcool e 23 outras drogas, pacientes egressos de internações psiquiátricas, pacientes atendidos nos CAPS, tentativas de suicídio, vítimas de violência doméstica intradomiciliar. O trabalho interdisciplinar precisa também envolver a equipe em um pensamento interdisciplinar, sem a intenção de ensinar nem de aprender, mas de viver e agir, sobretudo que os seus membros se mobilizem pela causa, a inexistência desse pensamento dificulta o cuidado integral (BUCHELE, 2006). Desta forma, é importante destacar a ampliação da clínica promovendo a discussão dos casos pela equipe, ampliando as questões subjetivas e buscando estratégias para os problemas elencados, tendo em foco o atendimento integral ao usuário. Para a formação desta atenção integral, o profissional de saúde deve ser incentivado a trabalhar com as famílias e com a comunidade, estimulando o vínculo, como também construindo espaços de reabilitação psicosocial na comunidade. Conforme Buchele (2006) a equipe que se compromete com o acolhimento, com a escuta do usuário, automaticamente responsabiliza-se e busca a resolutividade do problema de saúde. Portanto para qualificar a relação trabalhador-usuário é fundamental estabelecer parâmetros humanitários, de solidariedade e cidadania. Neste sentido, para que as ações de Saúde Mental sejam desenvolvidas na Atenção Básica é importante a capacitação das equipes em Saúde Mental, caracterizando a formação como prioritária para inclusão da Saúde Mental na atenção básica (BRASIL, 2003). A Coordenação de Saúde Mental, em seu Programa Permanente de Formação para a Reforma Psiquiátrica, propos em 2003, a implantação de Núcleos nas regiões de Capacitação e Produção de Conhecimento no interior dos Pólos de Educação Permanente em Saúde. Estes pólos foram instrumentos de apoio e cooperação para os municípios que estiverem realizando ações em Saúde Mental no sentido de qualificar a rede de cuidado e repensar novas visões e estratégias para a formação de profissionais (BRASIL, 2003), durante a primeira etapa de implementação da Política Nacional de Educação Permanente em saúde no período de 2003 á 2005. É fundamental, no contexto da Reforma Psiquiátrica, o incentivo as qualificações profissionais, bem como a motivação da autonomia dos usuários, e a participação da família como parceira na adesão ao tratamento. Assim, a qualificação profissional tem por objetivo estímular a formação permanente e não somente capacitações pontuais, a estratégia de qualificação a ser 24 desenvolvida pelos núcleos se comunica com a da implantação das equipes de apoio matricial, pois essas podem atuar na linha da formação continuada e em serviço, problematizando situações-problemas junto às equipes da atenção básica (BRASIL, 2003). Essas ações de Educação Permanente possibilitam a qualificação dos profissionais de saúde promovendo transformações no ambiente de trabalho pelo estímulo a reflexão e o trabalho em grupos transdisciplinares. 2.4 Os Componentes da Rede A Rede de Cuidado Integral é composta por linhas de cuidado que são a imagem pensada para expressar os fluxos assistenciais seguros e garantidos ao usuário, no sentido de atender às suas necessidades de saúde (FRANCO, 2004). Para formação destas linhas de cuidado é necessário o pacto realizado entre todos os atores que controlam os serviços de saúde. Para promoção da saúde integral ao usuário da Saúde Mental é fundamental a compreensão da linha de Cuidado Integral, que traz em sua definição a unificação de ações preventivas, curativas e de reabilitação; bem como o acesso a todos os recursos tecnológicos que o usuário necessita, partindo da atenção básica até o cuidado de alta complexidade (FRANCO,2004). A partir da definição de linhas de cuidado integral, pode-se desenvolver a Rede de Cuidado Integral em Saúde Mental. Esta rede é composta por vários serviços e profissionais da saúde que têm no usuário o elemento estruturante do processo de promoção em saúde, o que caracteriza conforme proposto por Franco (2004) uma quebra do tradicional modo de intervir sobre o campo de necessidades dos usuários, o trabalho não é de forma partilhada e sim integralizada, reunindo na cadeia produtiva um saber-fazer cada vez mais múltiplo. Na organização deste processo de Rede de Cuidado Integral ao usuário da Saúde Mental encontram-se na sua formação e execução os programas, políticas e serviços que compõem este processo. O programa Estratégia de Saúde da Família (ESF) permite que se evitem encaminhamentos desnecessários para níveis complexos da atenção (OLIVEIRA, MARTINHAGO E MORAES, 2009). Este programa trata-se de um plano de organização dos serviços de saúde ordenadora 25 da atenção básica no SUS, com o objetivo de reorganizar a prática assistencial com novas bases e critérios, em substituição ao modelo assistencial vigente, ainda ambulatorial e biomédico, centrado na queixa-conduta (GUISARD ET ALL, 2006) Nesse sentido, a Saúde Mental vem buscando a reformulação da atenção psiquiátrica com base na atenção básica de saúde e no contexto do modelo de sistemas locais de saúde (BUCHELE, 2006). Assim, as ações em Saúde Mental preconizam a organização de uma rede de serviços de forma hierarquizada e regionalizada contemplando a ESF. A Saúde Mental, então, é incluída em um plano de um sistema descentralizado, regionalizado e hierarquizado. Esta ação deve ser desenvolvida no município com uma proposta integrada aos serviços de saúde, com caráter interdisciplinar, científico, social, cultural e humanizado. Conforme a Política Nacional de Saúde Mental (BRASIL, 2002), apoiada na lei 10.216/02, busca consolidar um modelo de atenção à Saúde Mental aberto e de base comunitária, com uma rede de serviços e equipamentos variados tais como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), os serviços residenciais terapêuticos, os centros de convivência e cultura e os leitos de atenção integral. O programa de volta para casa, também se engaja na proposta oferecendo bolsas para egressos de longas internações em hospitais Psiquiátricos (BRASIL, 2002). Os Centros de Atenção Psicosocial conforme Oliveira, Martinhago, e Moraes (2009) são dispositivos estratégicos para contribuir com a organização da rede de atenção em saúde mental, tendo como função: Organizar a rede de atenção aos portadores de transtornos mentais, prestando assistência em regime de atenção diária, promovendo a inserção social dos usuários através de ações intersetoriais, regulando assim, a porta de entrada da rede na sua área de atuação e dando suporte à atenção à Saúde Mental (OLIVEIRA, MARTINHAGO E MORAES, 2009, p. 12). O objetivo do processo de atenção do CAPS, segundo os mesmos autores, é o acolhimento e a atenção às pessoas com transtornos mentais graves e persistentes, procurando o fortalecimento dos laços sociais do usuário de seu território. O mesmo diferencia-se pelo porte, capacidade de atendimento, clientela atendida e organiza-se no país de acordo com o perfil da população de cada município. Os CAPSs devem ser do tipo I para municípios com população entre vinte mil a setenta mil habitantes. O CAPS tipo II para municípios com populações ente setenta mil a duzentos mil habitantes. O CAPS atendimento infantil para municípios com duzentos mil habitantes para crianças e adolescentes com transtornos mentais, o CAPS Alcóol e Droga (ad) para municípios com mais de setenta mil habitantes para atendimento especializado de dependência química. E finalmente o CAPS III para 26 populações acima de duzentos mil habitantes, para atendimento complexo, incluindo finais de semanas e feriados (OLIVEIRA, MARTINHAGO E MORAES, 2009, p. 16). Outro componente da Rede de Atenção Integral em Saúde Mental, são as residências terapeuticas. Oliveira, Martinhago e Moraes (2009) as definem como: Moradias integradas a constituídas para responder às necessidades de habilitação de pessoas com transtornos mentais graves, incluindo egressas de hospitais psiquiátricos, que se internaram por longo tempo, e não possuam suporte social e laços familiares (OLIVEIRA, 2009, p.18). Assim, este serviço visa à garantia do direito à moradia e assistência destes moradores, viabilizando a sua inserção social. A residência terapêutica é uma estratégia de inclusão social, sua organização deve acolher no máximo oito moradores e contar com um profissional cuidador que será um suporte de apoio para os moradores nos conflitos diários e suas dificuldades de adaptação ao contexto social. Cada residência deve ter a referência de um serviço de saúde e operar junto à rede de atenção à Saúde Mental dentro da lógica do território. Já os centros de convivência e cultura compõem a rede de atenção substitutiva em Saúde Mental e oferecem aos portadores de transtornos mentais espaços de socialização, produção cultural e intervenção na cidade (OLIVEIRA, MARTINHAGO E MORAES, 2009). Este componente da rede tem significado estratégico com efetiva inclusão social, não realizam atendimento terapêutico e médico, mas sim, são centros funcionando como significativas incubadoras de experiências de geração de renda, não apenas no campo da saúde e fundamentalmente no campo da cultura. O último componente da rede é o Programa de Volta para Casa, que se trata de um auxílio- reabilitação mensal com o objetivo de contribuir para o processo de inserção social que passaram por longas internações em hospitais psiquiátricos. Com esta política aponta-se para o fim da idéia de que usuários com grande dificuldade de convivência em sociedade e com transtornos graves não tenham a tentativa de inserir-se no meio social, buscando a integralidade do atendimento ao paciente (OLIVEIRA, MARTINHAGO E MORAES, 2009). Com as políticas de organização em redes, visa-se também a discussão de formas de participação dos usuários nos serviços públicos de saúde. Visto que, atualmente vem se discutindo no campo da saúde a participação efetiva da população apontando problemas e soluções referentes as demandas locais, com o 27 intuíto de promover avanços na qualidade dos serviços e ações de saúde. Portanto, as instituições que atendem ao usuário em Saúde Mental passam a ser democratizadoras através do momento em que se promovem: maior democratização da informação, valorização dos usuários, como sujeitos no processo do cuidado e não somente como objeto de práticas e prescrições, conscientização dos usuários quanto aos seus direitos e ao seu papel na defesa dos próprios interesses (ANDRADE, 2002). 28 3. PERCURSO METODOLÓGICO Esta pesquisa com caráter qualitativo com a integração da análise institucional e a metodologia qualitativa. A abordagem qualitativa responde a questões particulares, trabalhando com o universo dos significados, valores e atitudes (MINAYO, 2007). Conforme Minayo e Deslandes (2007) o homem se distingue por pensar sobre o que faz e interpretar suas ações dentro e a partir da realidade vivida e partilhada com seus semelhantes. Nesta análise, com toda a sua complexidade, trata-se de um tema abrangente, que engloba a concretização da Reforma Psiquiátrica que, segundo Desviat (1999), surgiu para questionar a instituição asilar e a prática biomédica e humanizar a assistência. Desta forma, para atingir o objetivo de humanização e desistitucionalização é necessária a democratização do conhecimento entre os atores sociais de uma equipe profissional na saúde, resgatando suas percepções e reflexões sobre o tema. O método qualitativo é um método muito usado na antropologia e na sociologia, e atualmente vem ganhando espaço em áreas como a psicologia, a educação, a enfermagem e a administração de empresas (NEVES, 1996). Esse método tem melhor aplicabilidade quando utilizado para investigações de grupos e segmentos delimitados e focalizados. Nesta lógica, esta pesquisa foi realizada com a participação de três campos de observação e prática, constituídos pela UBS07/ESF I, UBS 14/PSF II, e o CAPS II, serviços de saúde vinculados ao Sistema Único de Saúde (SUS) de Uruguaiana. Outra questão que justifica a escolha do método qualitativo de integração entre metodologia qualitativa e análise institucional é devido à pesquisa se tratar de uma análise de diversidades de sujeitos quando se trabalha a interdisciplinaridade, como também, de questões políticas e institucionais quando estuda-se a Instituição e a intersetoriedade . A escolha do tema de pesquisa surgiu a partir de reflexões durante os estágios curriculares da Disciplina de Saúde Mental II, onde se trabalhou com essas equipes a lógica de matriciamento em redes de cuidado integral em saúde mental. As pesquisadoras identificaram que este tema não se tornou uma ação contínua no município, provocando a curiosidade a cerca da dificuldade de sua implantação 29 efetiva, pois se notava sutis delineamentos que demonstravam uma prática incipiente e com muitos desafios.. Considerando o potencial desta prática incipiente, ocorreu nas pesquisadoras a indagação do que as equipes de profissionais destes serviços de saúde conhecem sobre o tema, como o associam a suas práticas profissionais, para que possam implementar um apoio matricial efetivo. Analisando que tais atuações possuem pouca visibilidade para a promoção do apoio e integração entre as equipes, justificou-se a necessidade de aprofundamento teórico-prático deste tema no município. E desta forma, foi trabalhado o tema, visando assim, a contribuição para a implementação do apoio matricial para a Rede de Saúde Mental na cidade de Uruguaiana. Neste contexto, utiliza-se da metodologia e Minayo (2007) a qual afirma que o método qualitativo permite desvelar processos sociais pouco conhecidos, propicia a construção de novas abordagens, revisão e criação de novos conceitos e categorias durante o período de investigação, permitindo a sistematização progressiva de conhecimento até atingir a compreensão do processo em estudo. Neste sentido, considera-se que com esta metodologia seja possível dar maior visibilidade aos processos instituintes, como idealiza Lourau (ALTOÉ, 2004), para a compreensão do tema de matriciamento. Os aspectos conceituais referentes ao tema em análise passaram a ser objeto de atenção no processo investigativo, tendo em vista a necessidade de subsidiar os debates provocados na execução da pesquisa. Minayo (2007) contribui revelando que marco teórico conceitual possibilita o discurso argumentativo e as noções trazidas no processo de coleta de dados. Assim, analisando a obra da autora podese ressaltar a necessidade do estado da arte que permite com que o pesquisador possua a capacidade de refletir sobre o que leu, debater, fazer análises e críticas sobre as obras já existentes, construindo suas hipóteses e formas de investigação. Desta maneira, a pesquisa foi construída através da busca por fontes e conhecimentos sobre matriciamento de redes de cuidado integral em saúde mental, e suas perspectivas na melhora na qualidade da atenção. Esta busca norteou a condução dos encontros e as formas metodológicas de abordagens junto aos participantes. Nos pressupostos metodológicos, integra-se a metodologia qualitativa com a Análise Institucional. A Análise Institucional é uma opção metodológica que utiliza 30 uma abordagem que desenvolve conceitos que são instrumentos para a análise e intervenções em instituições facilitando a compreensão das percepções das equipes de saúde da atenção básica e do CAPS sobre o matriciamento em redes de cuidado integral em saúde mental no município de Uruguaiana. Entre os conceitos utilizados para realização da pesquisa com a proposta da Análise Institucional, aponta-se em especial a implicação coletiva que trata da inclusão do pesquisador no processo de trabalho trazendo conhecimentos e problematizações para os pesquisados, provocando a reflexão de todos os envolvidos no estudo e finalmente resultando em uma transformação coletiva (ALTOÉ, 2004). Lourau (1994; 1997) e Guatari (1987) apud L’ABBATE (2003) propõe que os trabalhos que envolvem a Análise Institucional destacam a relevância da utilização do conceito de instituição, em seus três momentos (instituído / instituinte / institucionalização), a percepção da transversalidade, a elucidação dos analisadores, permitindo o contato com suas próprias implicações, através da relação direta com a situação de trabalho, identificando possibilidades e/ou impossibilidades para a atuação e intervenção, junto a processos que geram implicações. Esse método permite analisar conjunturas relacionadas diretamente à situação de trabalho, obtendo maior clareza de possibilidades e impossibilidades de atuar e intervir nos processos que envolvem a implicação coletiva da equipe. Lourau (1993) afirma que a Analise Institucional trabalha a contradição, tentando seguir a lógica dialética em oposição à lógica identitária. Este método tem como características analisar suas próprias contradições. Percebe-se que essas contradições são também evidentes na metodologia qualitativa quando Minayo (2007) afirma que o ser humano é um ser mutável e ao mesmo tempo permanente. Para a autora esse é permanente, por ser autor das instituições, das leis e visões de mundo, e ao mesmo tempo é mutável, pois as mesmas possuem ritmos diferentes, são provisórias, passageiras e tendem para a transformação. Embasando-se nas teorias destes autores foi trabalhada a contradição da dialética com a identidade, buscando a singularidade dos sujeitos e sua interação na coletividade, como também, o desafio de notar supostas transformações da visão dos profissionais sobre os temas e práticas abordadas. Estes objetivos foram buscados com o uso dos questionários, dos exercícios coletivos de resolução de situações problemas e rodas de conversas, entre outras dinâmicas. 31 Dando continuidade ao estudo do método utilizado, outra questão a ser ressaltada é trazida pela metodologia da Análise Institucional, que trabalha o estudo integrado de diferentes instituições, como é o caso do trabalho entre CAPS e as UBSs. Considerando que estes serviços possuem identidades diferentes, mas objetivos em comum em promover a saúde da população, a humanização e a busca pela autonomia dos sujeitos. Desta forma, Carvalho (2002, apud L’ABBATE, 2003), contribui afirmando que a Análise Institucional abrange um conjunto complexo de saberes e práticas relacionados ao campo da saúde, envolvendo desde organizações que prestam assistência à saúde da população até instituições de ensino e pesquisa e organizações da sociedade civil, justificando-se assim o uso desta integração metodológica em todo o processo investigativo que subsidiou a pesquisa. 3.1 Cenários da Pesquisa Esta pesquisa foi realizada na cidade de Uruguaiana que está situada na micro-região da campanha ocidental, especificamente na fronteira oeste do Estado do Rio Grande do Sul. Sua área é de 5.713 km 2 com uma população de 123.743 habitantes (BRASIL, 2008). A principal atividade econômica deste município volta-se para a agropecuária, com sua extensa lavoura de arroz, gado de corte e reprodução. O Município de Uruguaiana é o maior porto seco da América Latina, com 80% da exportação nacional (BRASIL, 2008). Nesta cidade, foram escolhidos três serviços para serem palcos da coleta de dados que subsidiaram este estudo, são eles: PSF II- localizado no bairro União das Vilas, UBS- Posto 14 – Bairro Tabajara Brites, e CAPS II - Asas da Liberdade, serviço especializado referência de Saúde Mental do município. Estes serviços foram escolhidos por demonstrarem interesse em efetivar o Apoio Matricial. Segundo (MARTINS et al, 2008) bairro União das Vilas, que compreende as Vilas Pró-Morar, Pró-Ficar, Cristal e Áreas Verdes possuem em torno de 15 mil habitantes, sendo que 5 mil desses são assistidos pelo ESF II. Das estratégias, programas e ações de saúde propostos pelo Ministério da Saúde, os que são 32 realizados no ESF II – Posto 7 são: Pré-natal, Imunizações, Viva Mulher e HiperDia. Por sua vez, Gomes et al (2008) relatam que a UBS - Posto 14, inserida no bairro Tabajara Brites, abrange aproximadamente 4.100 habitantes, distribuídos em 6 micro-áreas e cada agente é responsável em média por 250 famílias. A UBS 14 oferece os serviços ambulatoriais, consultas de enfermagem e realização de procedimentos específicos. Os principais programas desenvolvidos na UBS 14 são: Sistema de Informação em Saúde (SIS) Pré-natal, Programa Nacional de Imunizações (PNI), Hiperdia, Sistema de Informação em Saúde (SIS) - colón. Identifica-se com o relato dos autores que os dois bairros apresentam problemas em comum, como baixas condições socioeconômicas, saneamento básico precário, Agentes Comunitários de Saúde (ACS) insuficientes para suprir o atendimento das micro-áreas e dificuldade de transporte para usuários e funcionários obterem acesso ao centro da cidade. Estes problemas, dentre outros, limitam a atuação das equipes de saúde interferindo na qualidade da atenção aos usuários. Neste sentido, a ampliação das ações de saúde, para a integração da saúde mental na atenção básica, torna-se o principal desafio da gestão e dos trabalhadores no serviço. A estruturação dos serviços de saúde mental no Município de Uruguaiana, a partir da mudança de modelo da atenção manicomial, fruto da Reforma Psiquiátrica, perpassa o Ambulatório de Saúde Mental, a internação psiquiátrica em Hospital Geral, através da Santa Casa de Uruguaiana, e o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) tipo II, Asas da Liberdade. Segundo Basso, Ereno e Rosário (2009) o CAPS II ―Asas da Liberdade‖ foi criado em 2002, com a proposta institucional de constitui-se como um serviço extrahospitalar de assistência pública, aos problemas de saúde mental, individual e coletiva. As atividades incluídas na instituição baseiam-se em consultas, terapia medicamentosa, oficinas de canto, expressão corporal, artes, atividades de vida diária, entre outras, a partir de um atendimento multidisciplinar. O município de Uruguaiana demonstra-se carente na atenção em saúde Mental, visto que possui apenas o CAPS II para suprir a demanda dos usuários advindos da rede de Saúde Mental. Esta rede é incipiente, e não possui profissionais capacitados para o cuidado integral em saúde mental que atendam na atenção básica. Esta cidade apresenta também indicadores de uso abusivo de álcool e outras drogas, caracterizando uma epidemia local, e não dispõe de um CAPS AD 33 álcool e outras drogas para estes casos. Este fato ocasiona um super lotamento do serviço especializado em saúde mental, que acaba por atender diversos usuários com necessidades diferentes e situações complexas que requerem também uma atenção e apoio aos familiares. O cenário em questão foi palco desta pesquisa envolvendo os três serviços de saúde em uma discussão a cerca do Apoio Matricial e redes de cuidado integral em saúde mental, onde o foco foi analisar as percepções dos profissionais envolvidos sobre este tema. Durante os encontros realizados para coleta de dados da pesquisa foi considerada a realidade do município, os papéis dos profissionais em uma equipe multidisciplinar, e as experiências trazidas pelos mesmos que sugerissem a configuração de uma rede de cuidado integral em saúde mental. 3.2 Os Sujeitos da Pesquisa A pesquisa integrando os três serviços UBS 14/PSF II, UBS 07/ PSF I e CAPS II de Uruguaiana tiveram como sujeitos pesquisados equipes multidisciplinares de cada serviço. A UBS 14/PSF II e a UBS 07/PSF I contaram com a participação de uma Enfermeira, um técnico em Enfermagem e dois ACSs de serviço. O CAPS II esteve presente com a participação de três Psicólogas, três oficineiras, uma enfermeira, duas técnicas de enfermagem, uma auxiliar de serviços gerais, um nutricionista, e uma terapeuta ocupacional, contando também com a participação de outros profissionais que participaram aleatoriamente dos encontros integrados, totalizando 25 participantes, que foram codificados de forma geral através de numeração. O convite para participação da pesquisa ocorreu através da inserção das pesquisadoras no campo, com o desdobramento do projeto ―Apoio Matricial e Redes de Cuidado Integral em Saúde Mental‖ vinculado a Universidade Federal do Pampa. Durante a coleta de dados da pesquisa não foram aplicados critérios de exclusão, visto que, por se tratar de um estudo que visou a reflexão e transformação das práticas profissionais, valorizou-se a disponibilidade do profissional em Saúde a participar do processo, sendo que o pesquisado que compareceu a um único 34 encontro foi considerado objeto de análise pela proposta da integração do método qualitativo e análise institucional. 3.3 Encontros Realizou-se 04 encontros, envolvendo reuniões de equipes, rodas de conversas, oficinas, construções e discussões de Situações Problemas (SP). Os horários, locais e amostra das equipes foram combinados com a Secretaria Municipal de Saúde (ANEXO I), visto que, a mesma alegou dificuldades de participação das equipes em horário de atendimento dos serviços, disponibilizando as terças- feiras à tarde para a realização das reuniões integradas com as equipes de saúde e coleta de dados da pesquisa. Os encontros ocorreram contemplando as seguintes etapas metodologicas: I Encontro – apresentou como objetivo (1) o conhecimento da equipe; (2) a apresentação dos acadêmicos e do projeto de pesquisa; (3) a identificação do conhecimento dos participantes sobre os temas propostos, e como o associam em suas práticas profissionais; e (4) finalizando com a aplicação de um questionário que visou conhecer o perfil individual dos membros da equipe, e suas percepções sobre o tema (Apêndice I). II Encontro – iniciou com (1) a retomada dos questionários do I Encontro, realizando-se uma devolutiva aos participantes; (2) a discussão sobre a história da loucura, do processo de apoio matricial e da rede de serviços em saúde mental com a proposta de reflexão teórica - prática; (3) a construção em grupo de situaçõesproblema que envolvam o matriciamento em saúde mental no Município de Uruguaiana; (5) avaliação das atividades diárias. III, e IV Encontros - (1) discussão das situações-problema; (2) elaboração de planos de trabalho. 35 3.4 A Coleta, Análise de Dados e Registro das Informações Para registrar as atividades desenvolvidas as pesquisadoras utilizaram, com ciência e autorização dos participantes, através do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCL) (Apêndice IV), câmeras digitais fotográficas, câmera filmadora, atas de reuniões e registro em diário de campo, como métodos facilitadores da análise e avaliação dos dados obtidos. Os questionários semi-estruturados aplicados durante o processo de pesquisa foram redigidos pelos participantes no final dos encontros. A análise temática dos dados procedeu a partir da pré- análise, exploração do material, tratamento dos resultados obtidos e interpretação que conforme Minayo (2007), deve abranger a leitura flutuante do material coletado, constituição do corpus do universo da pesquisa que responda aos objetivos, formulação das hipóteses e objetivos que permitam abertura de indagações e rumos interpretativos, visando buscar categorias que organizem e desenvolvam o conteúdo. E por fim, o analise e interferência do pesquisador trazendo pistas e novas dimensões teóricas e interpretativas sugeridas pela leitura do material. Neste contexto, as pesquisadoras realizaram a análise do material coletado e a partir da exploração dos mesmos, emergiu as seguintes categorias e subcategorias: (1) Encontros e Descobertas, com as subcategorias: Saúde Mental e Equipe Multidisciplinar: Frente a frente; Primeiros Passos: Auto- Percepção dos profissionais e seu cenário. (2) O Confronto com o Novo: Conceitos e Realidades, contendo as subcategorias: Apoio Matricial e Redes de Cuidado Integral em Saúde Mental: construindo conceitos; Ficção e Realidade: o confronto de encontros. (3) Subjetividade Humana e os desafios da pesquisa qualitativa, com as seguintes subcategorias: Dialética e Identitária: O discurso e o gesto; Apoio Matricial: Barreiras, utopias e desafios. (4) A proposta: Plano de ação para efetivar o apoio matricial no município de Uruguaiana. Estas cinco categorias são refletidas e analisadas teoricamente nos resultados e discussões deste estudo. 36 Ao longo da coleta de dados utilizou-se de três diferentes questionários. A utilização do questionário I (APÊNDICE I) teve por objetivo conhecer o perfil dos integrantes da equipe e seu conhecimento prévio sobre o assunto. Por sua vez, o questionário II (APÊNDICE II) possibilitou aos participantes avaliarem as abordagens que foram utilizadas, tornando possível a reflexão sobre as metodologias utilizadas. 3.5 Considerações Éticas Este estudo teve por bases os conceitos éticos da pesquisa envolvendo seres humanos de acordo com a Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde/Ministério da Saúde, especialmente no que se refere ao Consentimento Livre e Esclarecido, em que o participante tem total liberdade para participar, recusar-se ou desistir sem nenhum prejuízo para si e para o pesquisador (BRASIL, 1996). A ética trata-se da ciência do dever, da obrigatoriedade, a qual rege a conduta humana. A ética trabalha conceitos como liberdade, valor, consciência e sociabilidade, também a moral e como é transformada em seus juízos morais (CAMPOS; GREICK; VALE, 2002). Para que os entrevistados tivessém seus direitos resguardados, esta pesquisa foi submetida ao comite de ética em Pesquisa da UNIPAMPA , o qual aprovou arealização d apesquisa sob o parecer nº 011.2010. Foram facultadas a participação ou não do estudo, onde se explicitou que caso, o sujeito que desistisse da pesquisa não lhe acarretaria dano algum. A realização da pesquisa contou com a concordância dos participantes com assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE (Anexos IV). Neste TCLE constaram as informações quanto ao conteúdo da pesquisa, seus objetivos, de forma a proporcionar a compreensão, buscando a participação voluntária. 37 4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS A Reforma Psiquiátrica requer a articulação da Saúde Mental com a Atenção Básica, isso devido à importância de superar o modelo de atenção fundado no modelo biomédico, hospitalocêntrico e institucionalizado, partindo para um modelo que favoreça uma assistência integral e territorializada. Para concretização da mesma, reflete-se que é necessário fazer com que os CAPS e os hospitais não sejam o único centro de referência para a atenção aos usuários da Saúde Mental, buscando-se a consolidação de novos serviços com novas visões sobre o sofrimento psíquico e suas formas de intervenção, a partir de uma articulação em redes e co-responsabilidade dos profissionais da atenção básica com o CAPS e o Hospital. Nesta proposta, esses serviços integrados substituem o modelo manicomial, gerando uma verdadeira transformação do modelo clássico em Psiquiatria. Com a transformação do modelo manicomial torna-se possível mudar as tradicionais perspectivas em Saúde Mental, promovendo a saúde junto às comunidades e mantendo os usuários vínculados as suas famílias e inseridos na sociedade (AMARANTE, 2007). Pode-se observar segundo Figueiredo (2006) e Braga (2000) que a implantação de equipes mínimas de saúde mental na atenção básica, cuja necessidade seria a prevenção e tratamento conforme o nível de complexidade, não é suficiente para o rompimento das práticas tradicionais. Na prática ocorre a hierarquização do cuidado, onde um paciente que entra em crise ou possui exacerbação dos sintomas psiquiátricos acaba sendo encaminhado para a internação hospitalar, como de praxe neste tipo de intervenção. Para trabalhar este tema de grande relevância para construção e reflexão das práticas de cuidado embasadas nos princípios do SUS, principalmente a Integralidade, optou-se por uma pesquisa de caráter qualitativo que exigia a implicação coletiva dos participantes da mesma, fazendo com que os pesquisados não fossem apenas objeto de análise, e sim, fruto de transformação, questionamento, reflexão e descoberta do desconhecido. Desconhecido este, longe da cientificidade, perfeição, conceitos políticos e padrões de saberes concebidos e trazidos pelo conhecimento acadêmico. Ou seja, esta pesquisa buscou a subjetividade e singularidade dos sujeitos o que conforme Minayo (2007) é uma das 38 características da pesquisa social, que torna possível compreender a simultaneidade das diferentes culturas e diferentes tempos num mesmo espaço, isto é, o global e o local, convivendo e sendo ao mesmo tempo mutáveis e permanentes. Para esta autora a pesquisa social estuda o ser humano que é o autor das instituições, das leis, das visões de mundo, que em ritmos diferentes são todas provisórias, passageiras, trazendo em si mesma as sementes de transformação (MINAYO, 2007). Transformação esta, abordada também na metodologia de Lourau (1993) a qual propõe a noção de implicação coletiva em instituições, ou seja, tenta não fazer um isolamento entre o ato de pesquisar e o momento em que a pesquisa acontece na construção do conhecimento. Refere-se a um conjunto de condições no ato da pesquisa. Seguindo as metodologias referenciadas por Lourau (1993) e Minayo (2007) esta pesquisa utilizou dos encontros com a integração das equipes, na busca pela implicação coletiva de todos os participantes, onde as pesquisadoras participaram ativamente da construção de conhecimento, isso ocorreu na forma de rodas de conversa, debates conceituais, estímulo a criação e resolução de situações problemas e oferta de materiais científicos construídos pelas pesquisadoras. Dessa forma, as metodologias escolhidas para a realização da pesquisa vêm de encontro com a proposta de Campos e Domitti (2007) no modo de fazer matriciamento a partir da criação de espaços coletivos protegidos, buscando construir uma análise e uma interpretação sintética, bem como pensando linhas de intervenção e comprometimento entre os sujeitos envolvidos. Neste sentido, realizamos encontros integrando os trabalhadores dos serviços, criando espaços de discussões e reflexões sobre questões vivenciadas na realidade dos cotidianos que configurassem algum traço, linha ou sugestão de Apoio Matricial na prática de cuidado desempenhada pelos profissionais destes serviços Na realização da pesquisa, primeiramente foi aplicado um questionário (APÊNDICE I) que objetivava investigar como cada integrante reconhecia seu papel em uma equipe multidisciplinar, sua percepção inicial em relação à Saúde Mental, o conhecimento a cerca do tema de Apoio Matricial e, por fim, como o identificava em sua prática e realidade local. Após, a equipe de cada serviço construiu um conceito de apoio matricial e sua implicação para a efetivação na prática cotidiana do serviço. Para isso, foi disponibilizado o material do capítulo II deste estudo. 39 Dando continuidade a pesquisa, realizamos o primeiro encontro integrado das equipes, onde foi trabalhado através de slides e explanação a história da saúde mental e da loucura (FOUCAULT 1972; MACEDO 2006; TABORDA et al 2004; AMARANTE et al 2008; BRASIL 2005), conceitos e objetivos do apoio matricial e equipe de referência (OLIVEIRA MARTINHAGO E MORAES 2009; FIGUEIREDO 2006; CAMPOS 2000) organizações da saúde mental na atenção básica (BRASIL 2003; BUCHELE et al 2006; BRASIL 2003) e por fim apresentaram-se os componentes da rede (FRANCO, 2004;OLIVEIRA, MARTINHAGO, e MORAES 2009; ANDRADE, 2002). Dessa forma, proporcionou-se o debate entre os membros da equipe a respeito do tema, e por fim, os mesmos foram estimulados a confeccionar uma Situação - Problema. (SP) em grupos multiprofissionais e interinstitucionais. As pesquisadoras utilizaram o tema central das situações problemas, tornando-as complexas, e capazes de promover debates, estimulando a equipe a encontrar proposta de solução adequada, para isso os pesquisados deveriam utilizar-se dos princípios do apoio matricial, do vínculo do CAPS com a atenção básica, dos conceitos de equipe multiprofissional e equipe de referência, e rede de cuidado integral em saúde mental. As SP (Apêndice I, e Apêndice II ) propostas provocaram debates teóricos-práticos, associando os aspectos teóricos da pesquisa às práticas profissionais. Os encontros subseqüentes tiveram como foco a resolução e discussão das situações problemas sobre as linhas do Apoio Matricial, onde os participantes associavam a ficção das situações problemas com a realidade por eles vivenciada. Em meio às discussões e dinâmicas, os profissionais foram solicitados a construir novamente um conceito de apoio matricial com base nas reflexões realizadas ao longo dos encontros. No penúltimo encontro, foi distribuída a situação problema dois (SP2) a um representante de cada serviço para que cada equipe se comprometesse em discutir a SP2 nos serviços durante a semana. Salienta-se que a discussão deveria envolver os profissionais que não participavam da pesquisa, promovendo o debate e reflexão de todos os membros da equipe e pautando a saúde mental nos serviços. E para finalizar a pesquisa, o último encontro, solicitou-se que os participantes em grupo construíssem estratégias, ações, planos, e agendas que efetivassem o apoio matricial entre o CAPS e as UBSs envolvidas na pesquisa. 40 Este último e decisivo encontro, planejado para execução dos planos de trabalho e propostas de avaliação, provocou a reflexão a respeito da relevância da pesquisa no campo, pois no encontro anterior uma das atividades propostas foi à confecção de debates de uma nova situação-problema em cada serviço para ser trazida para o grande grupo. Portanto, as equipes das UBs não compareceram na coleta de dados, e a equipe do CAPS II que estava presente não havia realizado a discussão da SP2 no serviço. Esta ausência e descompromisso aponta a significativa necessidade do tema permanecer na agenda destes serviços, com risco de perda da potência das ações aqui desencadeadas. Neste encontro, observou-se a partir dos relatos e atitudes dos participantes as grandes dificuldades e problemas enfrentados em relação à organização, hierarquização, desmotivação e barreiras políticas, culturais e de comunicação que dificultam a implantação de novas abordagens no processo de cuidado e implantação da rede de cuidado integral em saúde mental no municipio de Uruguaiana. A pesquisa foi concluída nesta etapa, tendo em vista a satisfatória coleta de dados para a análise da pesquisa e as dificuldades apontadas pelos serviços para a manutenção dos encontros, estando previsto um momento para a devolutiva desta aos respectivos serviços. O último encontro, a ser realizado separadamente em cada instituição, com o objetivo de avaliar a pesquisa através de um questionário semi-estruturado, não foi realizado, isso devido ao não comparecimento dos participantes que representavam a atenção básica no último encontro integrado. Visto que, sem a participação da atenção básica torna-se inviável a construção de planos e ações para a efetivação do apoio matricial. A seguir será descritas e analisadas as categorias emergidas desta pesquisa. 41 4.1 Encontros e descobertas Nesta categoria será abordada a forma de aproximação das pesquisadoras com o campo e com os participantes da pesquisa, expondo como ocorreu o encontro com o desconhecido e as descobertas trazidas nesta interação mutua de diferentes profissionais. 4.1.1 Saúde Mental e Equipe Multiprofissional: Frente a frente Para dar início a pesquisa, optou-se por entrar contato em com a visão dos profissionais a respeito da saúde mental através de desenhos representativos por eles elaborados. Esta proposta é justificada pela necessidade de analisar e conhecer como os participantes da pesquisa compreendem o universo da saúde mental, quais suas representações e significados simbólicos sobre este tema, visto que, para se trabalhar apoio matricial e redes de cuidado integral em saúde mental não podem desconsiderar afinidades, distanciamentos e motivações em relação ao tema da Saúde Mental que podem interferir nos resultados da pesquisa. A partir desta idéia, no primeiro encontro interinstitucional foi distribuído aos profissionais de saúde participantes da pesquisa, uma folha, canetas coloridas, e lápis, onde foi proposta a realização de um desenho que representasse a sua percepção sobre a Saúde Mental. Os participantes da pesquisa, após refletirem sobre o tema expressaram sua criatividade e sentimentos através de diversos desenhos, na seqüência, as pesquisadoras, selecionaram e analisaram as imagens que despertaram maior relevância. 42 FIGURA 1 - Desenho construído por profissional da saúde Em análise a esta imagem desenhada por um profissional de Saúde observase a relação da saúde mental com a instabilidade, onde um lado da figura representa a tranqüilidade e outra em face de tempestuosidade. Observa-se também que este desenho não relacionou a saúde mental com a instituição, e sim demonstrou que o tema advém da contradição e instabilidade da mente humana, focando as questões que comprometem a saúde mental no individuo. FIGURA 2 - Desenho construído por profissional da saúde Em análise a esta imagem pode-se apresentar duas hipóteses de reflexões, a primeira pode ser uma afirmação de que quando refletimos sobre a saúde mental, relacionamos com problemas advindos somente da mente humana, nesta visão, o corpo e o lado social tornam-se pequenos perto da mente. A segunda hipótese pode 43 estar relacionada a uma crítica realizada pelo profissional a esta fragmentação. Percebe-se também uma forte valorização da mente no desenho, ou seja, a corpo é moldado em proporções menores em relação à cabeça. FIGURA 3 - Desenho construído por profissional da Saúde Lançando olhares para o terceiro desenho presume-se uma relação da saúde mental com o paradigma da loucura, e institucionalização. Onde a solução para o ―doente mental‖ seria uma instituição de repouso, um local isolado do convívio social. FIGURA. 4 - Desenho construído por profissional da saúde 44 Esta imagem, por sua vez relaciona-se com padrões sociais, valores concebidos pela comunidade, voltando novamente ao paradigma da loucura. Onde a sociedade impõe o que é ―certo‖ e o que é ―errado‖, como por exemplo, nesta imagem o sujeito tem uma longa caminhada e escalada até ―aprender‖ ou ―reaprender‖ a vida. FIGURA 5 - Desenho construído por profissional da saúde O desenho representado pela figura 5 propõe a saúde mental focalizando na mente humana, onde o profissional da saúde apresenta em seu desenho uma face humana, com diversos questionamentos, dúvidas e incertezas, demonstrando, também, várias faces de humor e emoções de um mesmo indivíduo. Sob outro olhar este desenho também pode representar as dúvidas e questionamentos das equipes de saúde frente ao tema da saúde mental, sugerindo o desejo e a vontade de aprender e questionar. FIGURA 6 - Desenho construído por profissional da saúde 45 Esta outra imagem provoca nas pesquisadoras a suposição de que para este participante da pesquisa, sua visão sobre a saúde mental relaciona-se com a igualdade, respeito as diferenças, a inclusão social, e a comunicação. Evidenciado pela representação dos sujeitos em uma roda, sem hierarquização e a diversificação dos traços de cada pessoa representada no desenho, onde uns são maiores e outros menores. FIGURA 7 - Desenho construído por profissional da saúde Em relação a esta reprodução gráfica da saúde mental, observa-se que o participante da pesquisa desenha uma cabeça sem o corpo sob a sombra de uma árvore. Esta representação pode ser indicativa da relação da saúde mental exclusivamente ligada a mente humana, onde neste desenho a árvore sugere a hipótese de proteção da mente. Esta imagem também permite transceder a uma visão complexa na qual o indivíduo, com suas particularidades, como o sofrimento psíquico, interage com a natureza, demonstrando a interferência desta nos processos de saúde e adoecimento psíquico. 46 FIGURA 8 - Desenho construído por um profissional da saúde Esta grafia, por sua vez, nos remete novamente ao estigma dos padrões de normalidade impostos pela sociedade. Esta hipótese fundamenta-se na leitura escrita abaixo do desenho onde o profissional afirma que a saúde mental é representada por: “Uma pessoa sem chão, sem orientação, totalmente perdida no meio da sociedade, olhando para todos os lados, naquele mundo que ele vê diferente da mente dele.”E2 Esta subcategoria, denominada ―Saúde Mental e Equipe Multiprofissional: Frente a frente‖ foi escolhida para iniciar a pesquisa e tornar possível um contato inicial com a visão e as realidades dos serviços pesquisados a respeito de suas percepções sobre o tema da saúde mental, visto que, seria irrelevante abordar Apoio Matricial e Redes de Cuidado em Saúde Mental sem considerar as afinidades e ou distanciamentos da equipe em relação a área. Neste sentido, as pesquisadoras propuseram esta forma de interação inicial com os participantes do estudo partindo da hipótese que o trabalho em redes e o matriciamento é construído com a participação da atenção básica e do serviço especializado. Desta forma, para sua concretização é necessário o vínculo entre profissionais da equipe especializada e profissionais da atenção básica, e destes profissionais com o usuário, ou seja, para a criação deste processo de vínculo deve- 47 se considerar a visão que este profissional tem sobre Saúde Mental, bem como, seus conceitos e pré-conceitos que irão influenciar na atenção a este usuário. Para justificar esta hipótese utiliza-se da reflexão de Campos (2007) que refere que o Apoio Matricial tem como uma de suas propostas a criação de vínculo entre equipe multidisciplinar e o usuário da Saúde Mental. Para Pinheiro e Mattos (2003) este vínculo tem por objetivo reformar o tratamento psiquiátrico caminhando em direção a Integralidade, para estes autores a atenção integral e uma forma de transbordar a doença e penetrar nas dimensões da vida do sujeito. Neste contexto, a criação do vínculo possui uma importante maneira de reconhecer o usuário da Saúde Mental como um indivíduo pertencente de um contexto sócio-cultural, possuindo suas singularidades, particularidades e complexidades que devem ser levadas em conta na atenção à saúde. Para isso, é necessário o rompimento de paradigmas sobre a loucura que segundo Amarante (2007) constitui a base para a criação do modelo de terapia tradicional ou pineniano, onde a pessoa com sofrimento mental é considerada uma ―alienada‖. Esta alienação provoca nestes indivíduos a incapacidade de compreender a realidade e viver em sociedade. O mesmo autor refere que este conceito da razão possui raízes no Iluminismo, onde um homem que não tem razão se aproxima do grotesco, necessitando ser excluído, tratado, vigiado e controlado. Partindo destas questões e paradigmas que permearam e ainda permeiam a loucura, é importante refletir que na sociedade atual, apesar da irracionalidade do tratamento pineniano ser denunciada na década de 70, ainda o mesmo existe nas práticas de saúde, onde o tratamento é centrado na internação hospitalar. Este modelo funciona há mais de 200 anos e é o predominante na maioria dos países (AMARANTE, 2007). Assim, é impossível desconsiderar os paradigmas históricos e culturais que são levantados quando o assunto é Saúde Mental. Trazendo esta reflexão para realidade desta pesquisa, percebe-se ainda a ligação da Saúde Mental com a institucionalização, com a desrazão da mente humana, a incapacidade e doença. Neste sentido Foucaut (1992) ressalta que na renascença, a Nau dos Loucos ocupava um espaço fundamental. Ele transportava tipos sociais que embarcavam em uma grande viagem simbólica em busca de fortuna e de revelação. Estes barcos transportavam os loucos, que eram expulsos das cidades para territórios distantes. Para este autor esta circulação era simplesmente de utilidade social, visando a 48 segurança dos cidadãos, onde o desejo de embarcar os loucos em um navio simbolizava a inquietação em relação a loucura na Idade Média. Estas questões de exclusão explicitadas na obra de Foucaut (1992) possuem visibilidade em muitos tratamentos clínicos baseados na Internação e Institucionalização de sujeitos, visto que, não promovem inserção destes indivíduos na sociedade, voltando olhares somente para incapacidades e diagnósticos, e não, para a contextualização, histórias de vida, e como se desencadeou este problema. Desta forma, Amarante (2007) contribui dizendo que a equipe em saúde deve ser móvel para se adequar um pouco a cada situação e organizar-se em torno do paciente. Deve-se também atingir ações intersetoriais que busquem a inclusão destes sujeitos nos espaços sociais, a idéia não é segregar, e sim, integrar. Por fim, esta sub-categoria, ―Saúde Mental e Equipe Multiprofissional: Frente a frente‖, buscou trazer reflexões a cerca das concepções de Saúde Mental na visão dos profissionais estudados, bem como, relacionar estas idéias e percepções com a história da Saúde Mental, e os paradigmas que envolvem a percepção da loucura na história cultural das comunidades, e que ainda influenciam e refletem na sociedade contemporânea. 4.1.2 Primeiros Passos: auto percepção dos profissionais e seu cenário Nesta categoria inseriu-se a avaliação inicial do tema pelos participantes da pesquisa, bem como sua inserção na equipe multidisciplinar e sua visão e percepção inicial sobre matriciamento e realidades e vivências no município. Para chegar a este contato inicial com a equipe multidisciplinar e o cenário palco da realização da pesquisa utilizou-se um questionário semi- estruturado inicial (Apêndice I) e por seguinte, uma dinâmica realizada em cada instituição. Nesta dinâmica, primeiramente as pesquisadoras disponibilizaram materiais de apoio sobre o tema, após a leitura cada equipe construiu dois painéis, onde o primeiro tinha como proposta de construção o ―Conceito de apoio Matricial‖, e o segundo a pergunta sobre ―Qual o seu papel na equipe em relação a este tema‖. Analisando e refletindo sobre os resultados apresentados pelo questionário I aplicado na atenção básica, relacionando-o com a Política de Atenção Básica do 49 Sistema Único de Saúde, e levando em consideração as funções e atribuições de cada membro da equipe multidisciplinar, chegou-se aos seguintes resultados quanto ao papel do profissional na equipe de saúde. “Minha função é promover a integração da comunidade com a unidade em saúde.” (E2) ―Minha função é fazer com que cheguem no posto todos aqueles que visitamos.‖ (E3) “Meu papel é a realização de visitas domiciliares, estar bem informado sobre questões da saúde e do SUS.”( E6) “Meu papel na equipe é a realização de visitas domiciliárias.” (E7) Conforme a Política de Atenção Básica, Brasil (2007), o profissional Agente Comunitário de Saúde (ACS) tem como principais funções desenvolver ações que busquem a integração da equipe e a população adstrita à UBS, desenvolvendo ações educativas, orientações quanto aos serviços disponíveis, atividades de promoção da saúde, prevenção de agravos de doenças, isso por meio de visitas domiciliares e de ações educativas individuais e coletivas. Observa-se que nas falas dos sujeitos da pesquisa estas funções são nitidamente identificadas. O profissional de enfermagem tem como papel realizar o planejamento, gerenciamento e avaliação de atividades desenvolvidas pelo ACS, consultas de enfermagem, assistência integral nos serviços, nos domicílios e demais espaços comunitários, educação permanente e gerenciamento da unidade (BRASIL, 2007). Estas funções também foram relatadas pelas profissionais de enfermagem envolvidas na pesquisa, como pode-se observar nas seguintes falas: ―Meu papel na equipe é a coordenação da Estratégia da Saúde da Família (ESF), atendimento individual, atividades de Educação em saúde e capacitação profissional.”(E1) “Meu papel é supervisionar a Enfermagem, gerenciar, realizar consultas de Enfermagem e planejar ações com as equipes.” (E5) A mesma política afirma que o técnico de Enfermagem tem a função de realizar procedimentos conforme regulamento no exercício de sua profissão, ações de educação em saúde conforme o planejamento da equipe, entre outros. “Minha função é fazer curativos, aplicações, entrega de medicações, atendimentos ao dentista da UBS, vacinas.” (E4) 50 “Meu papel na equipe é o atendimento ambulatorial, realização de técnicas, atendimento ao médico, auxiliando em consultas e procedimentos.” (E8) Neste contexto, percebeu-se que a identificação de suas funções na equipe apresenta-se clara na maioria dos participantes, que reconhecem sua importância no serviço quando questionados pelo instrumento de análise. Em relação às potencialidades e fragilidades do serviço de saúde mental, um dos entrevistados não respondeu a pergunta, e os demais participantes revelaram as seguintes falas: “Sobre as potencialidades e fragilidades da Saúde Mental no município destaco como potencialidades a equipe comprometida, profissionais preparados, uma estrutura organizada e como fragilidades no atendimento em Saúde Mental destaca a demanda centralizada e a falta do CAPS alcóol e drogas”. E1 “As potencialidades destaco o CAPS que tem grande importância para comunidade e deveria existir um ou dois funcionário do CAPS nas unidades básicas”. E2 “Como fragilidades da Saúde Mental vejo a falta de profissionais no contato com o paciente”. E3 “Em relação às potencialidades destaco o CAPS, pois o mesmo possui profissionais capacitados e espaço físico adequado, as fragilidades é que deveria ter mais profissionais e é um serviço centralizado.”E7 “Como fragilidades da Saúde mental, destaco a falta de capacitação de profissionais da atenção básica.” E8 Observa-se que as falas trazem a necessidade de atualização técnica e cientifica das equipes de saúde da atenção básica para trabalharem com questões referentes à Saúde Mental, destacando-se também a necessidade de descentralização do serviço especializado. Outro participante faz a seguinte contribuição: “Sobre as potencialidades e fragilidades da Saúde Mental no município destaco como potencialidades a equipe comprometida, profissionais preparados, uma estrutura organizada e como fragilidades no atendimento em Saúde Mental destaca a demanda centralizada e a falta do CAPS alcóol e drogas”. E1 51 Esta última fala, por sua vez, destaca o importante papel da Unipampa como apoiadora neste processo incipiente no municipio. Quanto às percepções sobre o Apoio Matricial, os profissionais de uma das equipes da atenção básica revelam as seguintes falas: “É um programa piloto que iniciou suas atividades em junho de 2010, muito bem vindas pela necessidade que passamos na UBS, pela dificuldade de atendimentos em alguns pacientes, principalmente o atendimento clínico, com o matriciamento houve uma aproximação da ESF com o CAPS. Por ser pioneiro, enfrentamos algumas dificuldades com a adesão dos funcionários ao trabalho da equipe de apoio”. E1 Esta fala revelada por este profissional relaciona o Apoio Matricial ao momento em que o CAPS inicia estas atividades diretamente na UBS. Desconsidera as ações de Apoio Matricial realizadas nos semestres de 2009/2 e 2010/1,quando a Unipampa, na disciplina de Saúde Mental II aproximou o CAPS e a UBS em ações conjuntas de Apoio Matricial em seus territórios. Outro profissional da saúde faz a seguinte referência em relação ao Apoio Matricial: “Considero bom o matriciamento em Uruguaiana, pois a psicóloga costuma ir ao posto e fazer chás com os usuários”. E3 Esta fala refere-se ao momento de aproximação das equipes do serviço especializado com a atenção básica, onde a equipe tinha o entendimento de que o Apoio Matricial iniciava-se com a aproximação dos usuários. Ao analisar as potencialidades fragilidades da saúde mental conforme as percepções dos profissionais pode-se observar que esta equipe, reporta ao CAPS a responsabilização pelos usuários da Saúde Mental, revelando na maioria dos relatos que realizam encaminhamentos para o serviço especializado quando em contato com um caso de Saúde Mental. A equipe destaca a dificuldade que os profissionais da atenção básica possuem no manejo com o usuário da Saúde Mental e suas inseguranças na abordagem a estes sujeitos. O que sugerem a necessidade de atualização técnica e emocional para a construção de um caminho seguro para a criação das redes em Saúde Mental. Quanto às percepções sobre o tema Apoio Matricial, um dos participantes da pesquisa destaca a seguintes fala: 52 “Em relação ao tema da pesquisa, não existe na realidade local atividades de matriciamento, começam a se pensar sua implantação e assessoramento. Se faz necessário apoio em todos os sentidos, pois há dificuldades da compreensão da rede pelos gestores.”(E5) Esta afirmativa aponta para um arranjo incipiente do Apoio Matricial em Uruguaiana, anteriormente identificado pelas pesquisadoras, o qual provocou a realização desta pesquisa. Na seqüência outros profissionais da atenção básica relatam suas percepções em relação ao tema abordado: “Em relação a percepção do tema destaco a dedicação das pesquisadoras e refere ser uma idéia nova no SUS.(E6)” “Este tema tem um grande caminho para percorrer no município, falta integrar mais as equipes, onde a UBS não esta preparada para atender pessoas com sofrimento psíquico.” (E7) “Minha percepção em relação ao tema proposto e a realidade do município é que a atenção básica deve estar preparada para atender pacientes de saúde mental, descentralizando o CAPS.” (E8) “O apoio matricial não existe no município, é relevante para o atendimento a pacientes com necessidades especiais.” (E9) Analisando essas falas e levando em consideração as observações e registros em diário de campo, observa-se um distanciamento perceptível deste processo em suas práticas de cuidado na realidade dos serviços de saúde envolvidos. Outro fato que pode ser observado é a concentração de conhecimento em alguns membros da equipe, o que dificultou a comunicação e troca de informações entre eles, onde alguns de seus membros tinham dificuldades de exporse, sugerindo a necessidade de promoção de novos encontros. Ao aplicar o questionário I (Apêndice I), na instituição especializada em saúde mental, observa-se que as oficineiras definem seu papel na equipe de saúde da seguinte forma: “Meu cargo é destinado á preservar e orientar o uso de materiais de oficina, dirigir oficinas com conhecimento em artes manuais, disciplinares e éticas.” (E9) “O meu papel na equipe é ensinar trabalhos manuais com funções terapêuticas, como sou oficineira convivo com eles direto, sou uma amiga que escuta e conversa quando estamos trabalhando na oficina ou quando fizemos feiras e ficamos em uma roda de conversa.”(E10) 53 “O meu papel na equipe de saúde é prestar um atendimento direto com o usuário em oficinas terapêuticas, realizando atendimento de grupos especiais vencendo limites.” (E11) As psicólogas do serviço definem seu papel: “Responsável por realizar psicoterapia individual e grupal, matriciamento posto 14, avaliação, diagnósticos, encaminhamentos para oficineiras, e demais serviços, atendimento aos grupos de álcool e usuários de drogas. Avaliação em caso de baixa hospitalar”(E12) “Entendo a psicologia no CAPS de um modo amplo, ampliado. Já fiz de tudo, coordenei oficinas, fiz buscas, internações. Atualmente atendo individualmente, em grupos, coordeno grupos de familiares AD, faço atendimento domiciliar, bem como visitas. Sou responsável por alguns pacientes que não tem mais famílias e foram deixados de lado por elas, tenho a curatela de 03 usuários, realizando um cuidado extra CAPS. Também estou realizando o apoio matricial no posto 07. Gosto mais do trabalho coletivo, fora da minha sala, me identifico com esta forma de fazer saúde mental”(E13) A equipe de enfermagem define sua inserção no serviço especializado em saúde mental da seguinte forma: “O meu papel na equipe é ser responsável técnica pela equipe de enfermagem; coordenar as funções de cada um da equipe, supervisionar e administrar medicações.”E14 “O meu papel na equipe é cuidar da assistência para um melhor atendimento em outros setores aos usuários.”E15 “Meu papel na equipe é o atendimento aos pacientes administrando medicações tanto via oral como injetável fazendo buscas e internações, higienização dos pacientes, encaminhando os pacientes para consultas médicas tanto para o clinico como para o psiquiatra, agendar consultas para as psicólogas, auxiliar os pacientes na higienização.” E16 Ao pesquisar as percepções dos participantes do serviço especializado em saúde mental a cerca do apoio matricial em redes de cuidado integral, observou-se o interesse pelo tema, conhecimento mais acentuado sobre o tema em comparação 54 com a atenção básica, entretanto revela a dificuldade de implementar ações voltadas ao apoio matricial, reportando a falta de capacitação profissional. “O matriciamento seria uma atividade de apoio de uma equipe especializada à equipe de atenção básica de saúde em ações de saúde menta.l”(E9) “Andamos ainda em passos lentos, é algo novo no município, considero Importantíssimo esse trabalho, já que responsabiliza a rede no cuidar em saúde mental.”(E14) “Percebo que estamos conseguindo aos poucos interferir nos profissionais da saúde de saúde mental neste contexto da atenção básica, mesmo que este processo seja lento e que alguns profissionais ainda não aceitam.‖ (E17) “O matriciamento em redes é muito bom, porém tem que ter capacitação para o trabalhador.”(E16) Em relação às potencialidades e fragilidades do atendimento em saúde mental, na visão dos profissionais dos serviços especializados, emergiram as seguintes falas: ―Como potencialidades da Atenção em saúde mental ela destaca o CAPS, e como fragilidades a falta de conhecimento e força do poder público município.‖ (E14) “As potencialidades estão nas equipes especializadas e organizadas, embora existam muitas necessidades, como um CAPS AD, e um CAPS infantil, uma unidade de psiquiátrica na santa casa de Uruguaiana para atender melhor os usuários do município.” (E12) “Como fragilidade do atendimento em saúde mental destaca pouca aceitação do trabalho em rede com o hospital, encontramos grande dificuldade, e como potencialidades o grande potencial da equipe multidisciplinar do CAPS.” (E17) Estas falas reveladas pelos profissionais da equipe especializada denotam o reconhecimento pelo trabalho realizado por eles, entretanto revelam também as dificuldades enfrentadas em relação ao contexto social, cultural e político. 55 4.2.O confronto com o novo: conceitos e realidades Esta categoria possui um caráter exploratório das percepções dos sujeitos pesquisados a respeito do tema, buscando desmistificar realidades do cenário de estudo e estimular a construção de novos conceitos e saberes baseados nestas percepções e vivências sobre o Apoio Matricial e Redes de Cuidado Integral no município. 4.2.1 Apoio matricial e redes de cuidado integral em saúde mental: construindo conceitos Esta categoria trata-se de um estudo realizado a partir dos conceitos de apoio matricial sugeridos pelos participantes. Para fazer com que os pesquisados expusessem os conceitos de apoio matricial utilizou-se duas metodologias. A primeira metodologia realizada em cada instituição no I encontro, e a segunda no III encontro integrado entre as equipes da atenção básica e do CAPS, após reflexões e debates a cerca dos conceitos. Para a realização em cada instituição, disponibilizou-se aos participantes cartazes e canetas coloridas, as pesquisadoras solicitaram que os participantes construíssem dois painéis com os seguintes questionamentos ―Conceitue Apoio Matricial‖ e ―qual o seu papel na equipe em relação ao tema‖. Salienta-se que neste momento foi disponibilizado um referencial teórico contendo conceitos de apoio matricial, ou seja, os sujeitos da pesquisa puderam realizar um consulta bibliográfica durante a realização desta atividade. 56 Foto 1 - Profissional da saúde realizando leitura do material Foto 2 - Profissional da saúde construindo painel conceitual no primeiro encontro Assim, em resposta a esta dinâmica o painel conceitual confeccionado pelos profissionais conforme revelou os seguintes conceitos: “(1) O apoio matricial é uma mudança do modelo medicalizante e concretização da reforma psiquiátrica; (2) trata-se de um trabalho complementar; (3) Um trabalho com orientação; e, por fim, que (4) o apoio matricial se trata de uma rede de cooresponsabilização.” (S1) “(1) O apoio é a integração da equipe da UBS e CAPS; (2) ampliação do atendimento ao usuário do CAPS pela equipe da UBS e CAPS; (3) criação de vínculo usuário profissional; (4) mais conhecimento e capacitação para atender pacientes do CAPS.” (S2) “(1) ampliação da clínica da equipe interdisciplinar; (2) responsabilização da atenção básica em saúde mental; (3) adoção de uma lógica para os profissionais; (4) nova visão da loucura e suas formas de intervenção.”(S3) 57 Em resposta para painel que questiona os papéis das equipes de saúde obtivemos como resultado: “(1) apoio, vínculo, mediadora com apoio, apoio; (2) aprender e repassar; (3) ter uma equipe de referência.” (S1) “(1) assistir ao usuário planejando ações e complementar com a equipe; (2) dar continuidade ao atendimento iniciado pela equipe do CAPS na UBS; (3) orientar os usuários e famílias.” (S2) “(1) proporcionar o vínculo entre usuários e profissionais; (2) colocar o saber prévio e o saber técnico; (3) passar segurança no manejo; (4) compartilhar responsabilidades; (5) propiciar discussão de casos de atendimento e formação continuada; (6) elaborar projetos terapêuticos.” (S3) Para analisar estes dados utizou-se da observação participante e o diário de campo, onde podemos perceber que após a leitura do material didático disponibilizado aos pesquisados, os mesmos apresentaram maior facilidade em expor o tema. Esta observação entra em contrastante com o questionário I onde muitos relatam desconhecer o tema ou respondem de forma breve. Ao questionarmos sobre a percepção dos pesquisados em relação ao apoio matricial e o papel de cada um neste contexto, um dos profissionais afirmam que: “O serviço deve ser mais humanizado (...) todos os pacientes que identificamos com algum problema na saúde mental mandamos para o CAPS” (E6) Esta fala revela uma contradição da prática com a lógica de Apoio Matricial, que procura reduzir encaminhamentos ao serviço especializado. Outro profissional afirma: “No meu ponto de vista ainda não podemos ter uma resposta, pois está iniciando e os resultados foram poucos.” (E17) “Estamos apenas engatinhando sobre o assunto poucos lugares conhecem o nome e o porquê do matriciamento” (E11) Neste momento não se pode deixar de ressaltar e considerar que este tema é inovador nas políticas de saúde do SUS, e pouco conhecido em vários municípios. Além disso, como em muitos relatos no decorrer de nossa pesquisa, denotam a 58 dificuldade estrutural destes serviços envolvidos, como: estrutura física inadequada, profissionais insuficientes para atender a demanda excessiva, desconhecimento de seus direitos por parte dos usuários, hábitos culturais dos usuários que demonstram o não rompimento de paradigmas vinculados a reforma psiquiátrica e falta de CAPS AD. Essas questões levantadas tornam-se barreiras que dificultam o acesso a informação e diálogo entre os profissionais, visto que, a estrutura dos serviços analisados não permite um ambiente de reflexão, uma qualidade do atendimento e motivação para os profissionais inovarem suas práticas de cuidado. Essas barreiras por nós identificadas também são referenciadas por Campos (2007) que a define como uma fragilidade que dissolve a responsabilidade sob os casos acompanhados, bem como torna quase impossível a integração comunicativa das abordagens diagnósticas e terapêuticas, este obstáculo leva a perda de eficácia e aumento da iatrogênia verificada em serviços de saúde. Este fato pode ser identificado nos seguintes relatos: “É necessário apoio em todos os sentidos, pois há dificuldades da compreensão da rede pelos gestores (...) as equipes não tem preparo para o atendimento em Saúde Mental e há falha na rede de todos os setores do município.” (E5) “Muitas vezes nos tornamos frágeis perante determinadas situações, das quais não podemos resolver. O sistema de atenção em saúde mental no nosso município ainda é muito isolado. Não dá pra integrar entre partes, acredito que deveria haver outra visão dos gestores, um olhar mais carinhoso, um olhar mais comprometido.” (E16) Refletindo sobre o autor e os relatos dos profissionais, nota-se o desafio de tornar possível a efetivação desta política no município, desafio este que requer o envolvimento de várias esferas de gestão e não só os profissionais responsáveis pelo cuidado direto com o paciente. Lembrando também que o usuário deve ter uma atenção especial ao falar de redes de cuidado integral, já que o mesmo possui um processo histórico de abandono e discriminação social, precisando também ser preparado para este tipo de atenção em saúde. Os usuários vinculados aos serviços especializados, resistem á atenção integral constituída através de uma linha de cuidado em Saúde Mental no município, este, portanto, aponta novo desafio ao Apoio Matricial. 59 Dando continuidade a pesquisa e buscando identificar uma evolução dos pesquisados em relação ao tema, no 3º encontro integrado entre as equipes da UBS e CAPS solicitou-se novamente a criação de um conceito de apoio matricial. Porém desta vez os grupos foram compostos por profissionais interdisciplinares e interinstitucionais. Foto 3 - Equipes Integradas debatendo sobre o conceito de Apoio Matricial Os grupos conceituaram o apoio matricial como: “Uma rede de assistência e apoio entre os profissionais da rede e usuários da comunidade, com o objetivo de dar um acompanhamento intensivo e mais segurança aos profissionais da rede pública.” (G1) “Uma união de todos da rede, envolvendo familiar, bairro, colégios, assistência social, hospital, postos de saúde, promotoria, conselho tutelar, e o CAPS, todos em prol da comunidade. (G2) “Rede de atenção integrada, que envolve a família, os usuários, e os serviços em saúde mental, com a finalidade de apoio e cooperação, buscando na totalidade a qualidade de vida dos envolvidos.” (G3) A análise dos conceitos criados pelos participantes da pesquisa envolvendo a troca entre os serviços ocorreu através da comparação com o conceito criado por Campos (2007) o qual afirma que o apoio matricial é uma forma garantir retaguarda especializada a equipes e profissionais encarregados pela atenção. Essa metodologia abrange mecanismos de referência e contra-referência, protocolos e centros de regulação. O mesmo oferece retaguarda assistencial e suporte técnicopedagógico às equipes de referência. E seu sucesso depende da construção compartilhada de diretrizes clínicas e sanitárias entre os componentes de uma 60 equipe de referência e os especialistas que oferecem apoio matricial, formando um mecanismo de co-responsabilização (CAMPOS, 2007). Ao comparar as construções teóricas das equipes com a citação do autor, observa-se que todos os conceitos por eles construídos referenciam a rede de cuidado integral e sua importância para a efetivação da atenção integral em saúde mental, porém não relatam como pode ser construída esta rede através do apoio matricial, ou seja, não referem à função do apoiador matricial e da equipe de referência neste contexto. A construção da rede, a definição dos papéis do apoiador matricial e da equipe de referência é a base para a efetivação do matriciamento em redes. Campos (2007) corrobora afirmando que a associação do apoio matricial e da equipe de referência permite ampliar as possibilidades de realizar clínica ampliada e promover a integração dialógica entre distintas especialidades e profissões, juntos buscam a ampliação do trabalho clínico, garantindo maior eficácia e eficiência ao trabalho em saúde, investindo na autonomia dos usuários. A ampliação da concepção de Apoio Matricial dos participantes da pesquisa está contida nos objetivos desta investigação, e foi possível ser efetivada a partir destes resultados que avaliam processualmente as respostas dos mesmos. 4.2.2.Ficção e realidade: o confronto de encontros A reforma e ampliação da clínica e das práticas de atenção integral à saúde dependem da instituição e dos relacionamentos entre os sujeitos as compõem (CAMPOS, 1999). Sugere-se para esta ampliação da clínica um processo que estimule o vínculo entre equipes de saúde e os usuários, porém se faz importante refletir sobre os processos humanos é contraditório do cotidiano, que servem para estudar a noção de implicação e instituição importantes para este tema, essas são trabalhadas na metodologia de Lourau (1993) para o autor o ser humano é geralmente gerido pela heterogestão, ou seja, permite a autogestão a outras 61 pessoas, o que para Marx seria a ―alienação‖, para esses a análise das implicações em cada pessoa se torna doloroso, bem como, a análise dos lugares que ocupamos no mundo. Neste contexto, inclui-se a linha que parte esta pesquisa, baseada no contato com os diferentes ângulos e contradições que englobam uma instituição, para que assim seja possível compreender a visão que os profissionais têm sobre o tema do Apoio Matricial em sua realidade local e institucional, isso inclui dificuldades e potencialidades encontradas durante a implicação coletiva, pesquisador e pesquisado, pesquisado e pesquisado, e pesquisado e coletivo. Nesta implicação coletiva é importante a busca pelo ―instituínte‖ denominado por Lourau (1993) o ato de transformação e autogestão de um sujeito pertencente a uma instituição. Desta forma, ressalta-se a complexidade da tarefa diante aos diversos mundos e olhares apresentados pelos participantes durante o momento de implicação coletiva na coleta de dados, onde se procurou estimular a crítica e o poder de transformação de cada sujeito. Diante disto, a proposta principal dos encontros foi a criação, a identificação, a reflexão, o trabalho coletivo e a troca de conhecimentos entre os pesquisados, atitudes necessárias quando o assunto é apoio matricial e Redes de Cuidado Integral em Saúde Mental. Esta proposta vem ao encontro das reflexões de Figueiredo (2005) quando afirma que o apoio matricial é interdisciplinar e depende de trocas de saberes entre equipes especializadas em saúde mental aos demais profissionais da Saúde. Ampliar a clínica se faz ao coletivo, diante de invenções e experimentações que lidam com o auxílio para equipe aumentar a escuta, o vínculo, e compreender as subjetividades dos usuários. Para alcançar as propostas expostas anteriormente, promoveram-se encontros interdisciplinares e interinstitucionais, onde equipes da atenção básica tinham contato com a realidade do CAPS e vice-versa, e desta forma, pudessem expor suas dúvidas, vivências e anseios em relação aos temas. Uma das abordagens escolhidas nos encontros de maior ênfase foi a proposta de situaçõesproblemas criadas por pequenos grupos, de acordo com suas realidades, após as pesquisadoras tornaram-nas mais complexas, e enfim, foram devolvidas para serem solucionadas pelos grupos e discutidas em grande grupo. Conforme Pereira e Nunes (2008) as situações problemas possuem o papel de disparar processos de reflexão e de teorização no grupo. Favorecendo a relação 62 com a realidade dos participantes e possibilitando a exploração do tema. Os mesmos autores retratam que esta metodologia permite explicitar os saberes prévios de uma equipe, identificar necessidades de aprendizagem e construir novos significados e saberes que possibilitem novas competências. Então, a primeira situação problema 1 (Apêndice III) foi criada por grupos interdisciplinares e interinstitucionais, a maioria dos grupos elencou trabalhar o problema do uso de álcool e outras drogas, focalizando principalmente nos sinais e sintomas característico do modelo biomédico. Após foram escolhidas algumas situações problemas, tendo em vista que a equipe ao criar a situação-problema focalizou apenas no tema central, uso de álcool e outras drogas e no tratamento, as pesquisadoras consideram pedagógico reformular e inserir um contexto familiar e comunitário. No encontro seguinte redistribuiu-se as situações problemas para quatro grupos distintos, para que a partir de perguntas norteadoras descrevessem propostas para solucionar o problema. Por fim, discutia-se em grande grupo as possibilidades de solução para o caso em questão. Salienta-se que quando o grupo realizou a primeira exposição dos resultados em plenária, as pesquisadoras não realizaram nenhum tipo de intervenção, justifica-se a escolha desta abordagem para não interferir nas respostas encontradas pelos grupos, evitando trocas de opiniões durante as discussões realizadas pelos profissionais. Em análise as respostas obtidas através das situações-problemas, percebese diante do material coletado que a equipe multidisciplinar em totalidade conhece a existência e o papel da rede, reconhecem a UBS como porta de entrada para a atenção em saúde mental, fazendo inclusive citações de componentes intersetoriais advindos do território da UBS que fazem parte da comunidade, importantes para a atenção em saúde. Nesta mesma situação-problema, outra questão relevante é em relação aos encaminhamentos, em que a paciente chegou ao serviço especializado sem uma referência da UBS. Os membros da equipe especializada referem ser comum em sua realidade, e em resposta a mesma questão da situação-problema, um grupo refere que este encaminhamento pelos familiares é adequado visto que o indivíduo já era usuário do CAPS. Em todas estas interferências anula-se o papel da atenção básica no cuidado ao usuário da saúde mental. 63 “O encaminhamento foi feito pelos familiares, pois ela já era usuária do CAPS. E nenhum serviço se envolveu neste processo.” (E2) Outro participante retribuíu afirmando que: “Isso é comum acontecer aqui, muitas vezes vem familiares pedindo ajuda, no nosso caso, às vezes, vem encaminhados do ambulatório de saúde mental, às vezes vem da escola. Mas a maioria vem pelo familiar, até mesmo algum conhecido ou gente estranha que observou algo diferente e vem nos procurar, um morador da rua ou vizinho da comunidade.” (E8) Esta fala aponta para a realização de diagnósticos e identificações de sinais e sintomas pela rede de apoio, no lugar da UBS, que deveria ser a porta de entrada. Outra questão que emergiu das análises dos dados coletados, foi à forte referência da equipe aos planos terapêuticos, voltados para a instituição CAPS, responsabilizando este pela condução da atenção em saúde a este paciente. Todos os grupos destacaram termos como planos de cuidado semi-intensivo e intensivo, avaliação psiquiátrica e psicológica e oficinas terapêuticas. Podemos observar nesta fala onde se questiona os grupos sobre os mecanismos de superação que poderiam ser utilizados para solucionar o caso, onde um grupo enfatiza que: “Ah, sobre os mecanismos de superação nós discutimos muito, por que nos perguntávamos que mecanismos seriam esses, se seriam os mecanismos internos da pessoa, ou os mecanismos que os serviços podem oferecer. Bem, por que se for os que os serviços podem oferecer seria a medicação, o tratamento medicamentoso, a oficina, entendeu? Mas a parte social também conta. Vocês entenderam assim?” (E13) Nesta fala observa-se a ausência da concepção de rede, não é acessado mecanismos que envolvam os serviços e possibilitem constituir Rede Integral em Saúde Mental. A situação problema tinha como propósito a análise do caso para se chegar a um entendimento de como a UBS e o CAPS proporcionariam uma atenção terapêutica integral ao usuário a partir de um plano terapêutico individual e integrado que proporcionassem o vínculo com o sujeito respeitando a individualidade e a singularidade do sujeito. O plano terapêutico em saúde mental visa qualificar as alternativas na abordagem do trinômio saúde-doença-reabilitação, envolvendo ações que 64 possibilitem a ampliação da autonomia do usuário da saúde mental, como também a qualificação dos profissionais envolvidos no cuidado através das discussões de casos (BRASIL, 2004). Neste contexto, as pesquisadoras perseguiam ao longo da pesquisa a compreensão dos profissionais sobre a relevância de elaborar o plano terapêutico individual de forma integrada visando alcançar as necessidades e singularidades de cada usuário. Ou seja, esperava-se que durante as propostas de condução dos casos, as equipes descrevessem sua abordagem ao usuário, família e comunidade, incluindo no planejamento a realização de visitas domiciliárias, articulações com a rede de cuidado integral, a escuta dos sujeitos em relação as suas principais necessidades, e de forma seriam realizadas os registros e comunicações entre os membros da equipe multidisciplinar. Entretanto, na pergunta que solicitava a construção do plano terapêutico, dos quatro grupos envolvidos, apenas um grupo apresentou o plano que abordasse um planejamento de ações que visassem alcançar a integralidade da atenção considerando o contexto social e as individualidades do sujeito. O plano construído por este grupo apresenta-se da seguinte maneira: ―(1) Intervenção para conter o surto psicótico; (2) Quando o indivíduo retornar para o seu lar deve ser assistido e acompanhado pela rede integral em saúde mental e pela UBS de referência, a qual possui uma equipe de matriciamento; (3) Visitas domiciliárias regulares pela equipe e ACS; (4) envolvimento do usuário em oficinas terapêuticas.‖ (G1) Em contrapartida o segundo grupo relatou como sugestões de planos terapêuticos: “(1) Consulta com Psiquiatra para avaliação da Patologia; (2) avaliação psicológica para avaliação do Plano Terapêutico; (3) definição do Plano: Intensivo, UBS: Participação; Família: Participação.” (G2) A partir da análise e reflexão deste plano, observa-se a centralização da figura do profissional médico Psiquiatra na definição do processo patológico e da Psicóloga como profissional indicada e detentora do conhecimento para a realização da abordagem terapêutica melhor indicada para o caso. Este fato também é evidenciado na seguinte fala: 65 “Aqui na nossa realidade no serviço funciona assim, o paciente chega passa pelo psiquiatra, quando tem, porque quando não tem psiquiatra ele vai direto pra psicóloga. Ai o psiquiatra avalia, define a medicação que ele vai utilizar, encaminha para a psicóloga e para a terapeuta ocupacional, o psicólogo faz o plano terapêutico e encaminha para a oficina”(E18) Outra questão que pode ser observada analisando os planos terapêuticos relaciona-se a participação da família, onde o grupo não explicitou de que forma abordou esta família e como a envolveu na criação do plano terapêutico. Observa-se também, que a UBS foi apenas convidada a participação do plano terapêutico já definido pelo Psicólogo. O terceiro grupo descreveu o seguinte plano terapêutico individual: “(1) Avaliação Psicológica, Psiquiátrica e Ocupacional para depois ingressar nas oficinas em um plano intensivo, participando diariamente das oficinas; (2) encaminhamento do filho para tratamento de dependência química.” (G3) Em análise a esta sugestão de plano terapêutico individual, percebe-se o CAPS novamente como referência pelas especialidades: Psiquiatra, Psicóloga e terapeuta ocupacional. Cabe lembrar que os grupos de profissionais eram multiprofissionais, intersetoriais e por vezes interdisciplinares. Observa-se também que o grupo não citou a participação da UBS, salienta-se também que esta questão de integração entre UBS e CAPS na Saúde Mental para efetivação do matriciamento e da Rede Integral em Saúde Mental foi debatida desde o primeiro encontro na implicação coletiva entre pesquisadoras e participantes da pesquisa. Outro grupo participante da pesquisa merece ênfase por ser o único a envolver outros componentes da rede no processo de atenção ao usuário da Saúde Mental, considerando como plano terapêutico ideal para o caso a seguinte proposição: “(1) Definição da modalidade de tratamento: Intensivo; (2) medicações adequadas; (3) envolvimento da UBS; (4) envolvimento dos agentes comunitários de Saúde; (5) envolvimento do clube de mães, igrejas, associações de bairro; (6) avaliação Psicológica.” (G4) 66 Neste plano observa-se uma identificação do papel da rede na busca de uma atenção a este problema quando citam a UBS, o clube de mães, as associações, e as igrejas. Descreve-se a participação do agente comunitário com ênfase no esquema, citando-o a frente da avaliação Psicológica, o que sugere que durante a avaliação psicológica serão consideradas informações trazidas pelos agentes comunitários, pelos profissionais da UBS e da rede. Porém, não é explicitado com clareza como será abordada a família e o usuário e como ocorrerá a construção do vínculo entre profissionais e profissionais, e entre profissionais - usuários. Salienta-se que todas as propostas de planos terapêuticos destacaram as modalidades de tratamento dando prioridades para o tratamento intensivo e baseadas na institucionalização e medicalização do sujeito. Inclusive um dos profissionais faz a seguinte referência em relação a construção de um plano terapêutico. “Não tem como construir um plano terapêutico sem saber o diagnóstico do paciente, tem que saber se ele esta em surto, ou bipolaridade, e o tempo do tratamento e da internação vão depender disso.” (E17) Considera-se relevante a abordagem medicamentosa e intensiva devido à exarcebação do caso revelado pela situação-problema. No entanto, é necessário refletir que os planos construídos pelos grupos não demonstram a continuidade da atenção a este usuário após a estabilização dos sintomas, ou seja, não revelam que ações viabilizariam para ocorrer à inserção dos sujeitos na sociedade, e a manutenção e acompanhamento do caso pela atenção básica. 4.3 A subjetividade humana e desafios da pesquisa qualitativa Esta categoria trata-se de uma análise da Subjetividade dos sujeitos envolvidos na pesquisa, desvelando o desafio da complexidade humana exposta por suas palavras, ações, gestos e contextos que revelam a história e o cotidiano destas pessoas na atenção a Saúde, envolvendo os sonhos construídos e as barreiras 67 encontradas. Assim, esta categoria subdivide-se em Dialética e Indentitária: entre o discurso e o gesto, e Apoio Matricial: Utopias, barreiras e desafios. 4.3.1 Dialética e indentitária: entre o discurso e o gesto Segundo Minayo (2007) a pesquisa social é um estudo dos ―subjetivos‖ que visa compreender a lógica interna dos grupos, das instituições e dos atores envolvidos. Seguindo o caminho da pesquisa social, este estudo dedicou-se também a análise interna dos três serviços estudados, fazendo observações aos discursos utilizados pelos sujeitos da pesquisa, quais suas atitudes e falas durante os encontros e de que forma suas colocações eram evidenciadas em suas práticas em saúde ao longo de suas histórias nos serviços. Esta questão é abordada por Minayo (2007) quando refere que análise interna de grupos pode ser realizada por: ―(1) Valores culturais e representações sobre sua história e temas específicos; (2) relações entre indivíduos, instituições e movimentos sociais; (3) processos históricos, sociais e de implementação de políticas públicas e sociais.‖ (MINAYO, 2007, p23). Desta forma, observam-se os três serviços como componentes de um todo que é a atenção em Saúde Mental, analisando cada serviço em um contexto particular, porém, que pertence a um contexto amplo e totalitário. Ou seja, durante a realização dos encontros as pesquisadoras estiveram atentas as identidades e falas de cada componente da equipe interdisciplinar considerando as questões expostas acima por Minayo (2007), e por fim analisando estas questões particulares de cada equipe na construção do todo que é a atenção em Saúde Mental. Este tipo de análise do subjetivo vai ao encontro no conceito de dialética referenciado por Minayo (2007) que retrata este tema no ponto de vista filosófico, como a dissolução de dicotomias tais como quantitativo/ qualitativo, macro/ micro, interioridade/ exterioridade. Considerando que todos é parte integrante da totalidade, devendo ser compreendidos e interpretados, tanto no nível de representações sociais como das determinações essenciais. Diante disto, a análise e interpretação das falas, gestos e expressões: de angústia, medo, alegria, motivação, desgaste, agressão foram incorporadas ao 68 corpo deste estudo. Trazendo que no ponto de vista metodológico qualitativo a complexidade e a diferenciação devem ser consideradas para o trabalho de antagonismo, de conflito e de colaboração entre os grupos sociais e no interior de cada um deles (MINAYO, 2007). Este antagonismo pode ser gerador da contradição que também são retratadas na metodologia qualitativa por Minayo (2007) que refere que o ser humano é um ser mutável e ao mesmo tempo permanente. Para a autora este é permanente, por ser autor das instituições, das leis e visões de mundo, e ao mesmo tempo é mutável, pois as mesmas possuem ritmos diferentes, são provisórias, passageiras e tendem para a transformação. Estas questões subjetivas e contraditórias corroboram com a Análise Institucional de Lourau (1993) que afirma que esta metodologia trabalha a contradição, tentando seguir a lógica dialética em oposição à lógica identitária. Este método tem como características analisar suas próprias contradições. Este autor refere que a análise das implicações é o cerne do trabalho socioanálitico, isso quer dizer que durante a implicação coletiva dos grupos podem ocorrer graves contradições que devem ser refletidas pelo pesquisador. Lourau (1993) trás como exemplo de situações relevantes para o processo qualitativo socioanálitico a seguinte contribuição: ―Uma equipe pode conhecer os pressupostos políticos e ideológicos de um pesquisador e, necessariamente, não se contrapor a estes. Pode-se ter um acordo ideológico, e também referências políticas comuns e, no entanto, a situação de intervenção cria tensões e conflitos.‖ (LOUROU, 1993; p36) Neste contexto, esta pesquisa embasou-se nas teorias destes autores que trabalham subjetividades, contradições, dialéticas e identidades de sujeitos componentes da pesquisa social. Estas teorias buscam retratar singularidades dos sujeitos e sua interação na coletividade, como também, o desafio de identificar supostas transformações da visão dos profissionais sobre os temas e práticas abordados nos encontros. Estas questões teoricamente embasadas nesta subcategoria são evidenciadas e analisadas a seguir. Em relação à compreensão da situaçãoproblema na prática destes profissionais, os mesmos relatam: “Este texto que estamos trabalhando aqui este mal elaborado, no sentido de que não é assim que funciona na realidade.” (E17) 69 Em contrapartida, outro profissional refere: “A realidade do hospital apresentado na situação problema é condizente com a realidade do município não poderia ser diferente.” (E20) Nesta fala a profissional relaciona a SP com a realidade dos serviços de saúde do município. Durante os discursos e discussões nas rodas de conversa, observa-se que os profissionais relatam vários problemas advindos da política, das administrações, do modelo Medico hegemônico ainda centralizado no curativismo e nas necessidades dos serviços: “Quando fala ali no texto que o paciente procurou o hospital, e no pronto socorro foi estabilizado o caso, quer dizer que deram uma medicaçãozinha pra ele, mas não significa que foi estabilizado... o surto estabiliza na urgência? o paciente precisa de internação, mas ai não tem leito.” (E13) “Eu acho que o problema do hospital não esta só em não ter leito, mas eu acho que começa na qualificação profissional, não tem profissionais capacitados, para atender os usuários da saúde mental.” (E1) “Estas dificuldades de implantação do Apoio Matricial não é dos profissionais, isto é da política! Por exemplo, nos hospitais sempre esbarra na administração, então não dá!”(E20) Percebe-se nestes discursos dos profissionais, a exposição da realidade dos serviços do município. Onde os mesmos, quando questionados sobre a possibilidade de elaboração do plano terapêutico individual integrado, permanecem por alguns segundos calados, ocorrendo um momento de tensão no grupo, onde uma profissional se sobressai afirmando: “É, até pode, mas neste texto não tem conteúdo, falta conteúdo, não tem como dizer. Por que o mecanismo que tu vai ter que usar é a conversa, no nosso caso aqui ela teria que passar por todos os profissionais. Ai fazemos uma reunião e vemos o que pode ser feito.” (E18) Nesta fala, analisa-se que a profissional não define claramente sua opinião sobre a possibilidade ou impossibilidade de construir um plano terapêutico integrado, voltando-se de forma critica para a situação problema referindo que essa não possui 70 conteúdo suficiente para a criação de um plano, estando na mesma clara a descrição do caso (Apêndice III). Salienta-se, porém que foi questionada a possibilidade e impossibilidade da realização do plano nas realidades dos serviços, e isto não foi contemplado na resposta que se voltou a ficção como uma hipótese de fuga. Elucidou-se durante este debate que existe a criação deste plano terapêutico, percebido nos relatos dos profissionais, no entanto, apenas realizado no serviço especializado. Nota-se, então, que este plano esta vínculado ao serviço especializado e não atinge as UBSs. “O plano terapêutico parte de um planejamento familiar, e o planejamento familiar quem faz é a assistente social que trabalha na rede. Só que não é o planejamento pra uma pessoa, é o planejamento familiar. Tem que ajudar todos, até os que não apresentam ter problemas.” (E12) Quando as pesquisadoras questionam que o plano terapêutico deve ser construído em conjunto pelo CAPS e UBS levando em consideração a contextualização do sujeito e que isso não foi demonstrado nos relatórios apresentados pelos grupos, ocorre novamente um atrito, onde uma das profissionais se sobressai no grupo referindo: “Isto que tu esta dizendo, a gente faz, a gente só não colocou no papel. Mas a gente nunca que vai olhar para um paciente sem lembrar que ele tem uma família” (E19) Outra profissional corrobora: “Tanto é que a gente descobre coisas é com a família.” (E13) Em um dos momentos finais do terceiro encontro integrado, uma das profissionais questiona as pesquisadoras com a seguinte pergunta: ―Qual a maior dificuldade que vocês estão encontrando para aplicar o matriciamento nas equipes?‖ (E17) Neste momento, como resposta a pergunta, as pesquisadoras referem que seu papel não é a realização do matriciamento, e sim um apoio teórico e estímulo a 71 Reflexão do tema, que as mais indicadas a responder a pergunta seriam as apoiadoras que estão dando início na prática do apoio matricial, bem como as profissionais envolvidas neste processo. Então uma das apoiadoras relata: ―No início a nossa maior dificuldade era que a equipe participasse. Nós chegávamos no posto e quem participava mais era a comunidade e a Enfermeira. Então, nossa dificuldade no início foi esta. Até que tivemos uma reunião do projeto com as meninas e elas nos esclareceram que o matriciamento era para a equipe. Foi então que nos reunimos novamente com a Enfermeira e entendemos que seria bom a participação de todos os trabalhadores, chamamos o médico, na outra semana já estava toda a equipe nos esperando, ai o medico participou. Agora na última o dentista já participou, estamos estudando, realizando estudo de caso. Tudo a partir do que a equipe trás, eu não levo nada pronto.‖(E13) Uma das profissionais da UBS refere: “Esta sendo bom, é um tempo para gente pensar, as meninas também desabafam as dificuldades e tal. Eu não vejo a hora de chegar na sexta de tarde, por que e um tempo para a gente pensar , trocar experiências. Pena que a gente não consegue reunir toda a equipe, mas a gente tenta fazer o máximo.” (E1) Outra profissional relata: “Agora a gente já consegue reunir toda a equipe, claro que falta os médicos, mas a gente já consegue discutir entre a equipe. Esclarecer um pouco, para que todos possam entender o que é.” (E5) Neste contexto, nota-se que a pergunta da profissional durante a pesquisa pode vir a denotar uma grande visão de responsabilização da Universidade com a implantação do matriciamento para estes profissionais, onde os mesmos demonstram fragilidades para alcançar o objetivo na prática. Em contrapartida, os profissionais mais envolvidos no processo demonstram atitude positiva ao relatar as práticas iniciais e sua evolução no serviço. Esta atitude positiva entra em contraste com os discursos dos demais profissionais, onde a maioria ressalta muito mais as barreiras e fragilidades do que as potencialidades para implantar o tema na prática. 72 Neste sentido, é importante ressaltar que durante o discurso e o gesto, muitos membros das equipes envolvidas, iniciavam demonstrando interesse e responsabilização, porém em relação a muitos de seus gestos representavam desmotivação, instabilidade, irritabilidade e inquietude. Estas subjetividades sugerem que os profissionais possuem grandes potencialidades para reflexão, para questionamentos, desejos e sonhos de trazer melhorias para a atenção à saúde, e criar possibilidades para qualificar seu espaço de trabalho. No entanto, esses sonhos esbarram em outros obstáculos, que não dependem destes profissionais, e isso gera a desmotivação e instabilidade emocional quando são provocados a lembrar e refletir sobre estas barreiras. Para esta discussão de obstáculos dedica-se a próxima categoria, a qual se aprofunda os debates e discussões sobre cada um dos obstáculos identificados na voz dos participantes da pesquisa. 4.3.2 Apoio Matricial: utopias, barreiras e desafios Essa pesquisa trouxe consigo um grande desejo de contribuir para a efetivação do apoio matricial no município de Uruguaiana, algo desafiador, e ao mesmo tempo necessário. Esta necessidade vem ao encontro dos desafios enfrentados pelo cotidiano dos serviços de saúde, onde a produção de saúde e a autonomia exigem novas práticas e saberes que possam ampliar a capacidade de intervir no contexto local e recriar o próprio espaço. O apoio matricial por sua vez incentiva a criação de um espaço que permite reflexão sobre as práticas de saúde, e a construção de saberes entre equipes muldiciplinares. Para isso é fundamental que ocorram relações horizontais entre os sujeitos implicados no cuidado transcendendo a lógica de hierarquização. No decorrer da pesquisa observou-se, que os profissionais da saúde construíram conhecimento sobre o significado do apoio matricial, os conceitos, as exigências, e as transformações exigidas para que este fosse efetivado, como pode ser observado nas seguintes falas: 73 “A entrada no CAPS deveria ser a última instância do tratamento. Deveria se pensar primeiramente na UBS. A UBS e a comunidade devem ser o primeiro lugar para iniciar o tratamento, no caso aqui (CAPS) é quando o paciente já não tem mais chance, já ta sofrendo, não dá pra ser tratado na comunidade.” (E12) “Eu acho que o objetivo do texto que estamos vendo aqui sobre o apoio matricial, é ver de que forma vamos dar apoio pra UBS, de que forma vamos fazer isso, como vai ser esse fluxograma CAPS-UBS-ACS, na nossa realidade.” (E13) Ao analisar as falas acima se observa a preocupação da participante em relação a ―como fazer‖, como construir os laços do apoio matricial entre a atenção básica e o CAPS. Porém, o apoio matricial exige ações que vão além de uma ―receita‖ de como reorganizar a atenção prestada por serviços especializados em saúde mental, requer encontros para arranjos próprios adequados aos serviços. Contudo, a efetivação do apoio matricial no municipio esbarra em barreiras, que dificultam, e impossibilitam sua concretização efetiva. Essas barreiras também foram relatadas por Campos e Domitti (2007) onde os autores referem os obstáculos estruturais, excesso de demanda e carência de recursos, obstáculos políticos e de comunicação, como barreiras que dificultam o trabalho integrado em saúde. algumas dessas barreiras citadas pelos autores foram identificadas nesta pesquisa, e serão discutidas a seguir: 4.3.2.1 Barreiras relacionadas à demanda excessiva O método de trabalho do apoio matricial prevê uma relação dialógica e transversal entre a equipe de saúde, a discussão de casos e um compartilhar de responsabilidades. Porém os serviços de saúde do municipio, tanto da atenção básica como do CAPS, não proporcionam estes espaços, são consumidos pela sua demanada de atenção em saúde, e não reorganizam, as práticas, e ainda possuem deficit de profissionais como pode observar nos relatos apresentados. 74 “Eu acho que para o apoio matricial dar certo a UBS tinha que ter ACS com cobertura de 100% da área, e ai agente consegue acompanhar os fluxos dos pacientes da saúde mental, através de visitas semanais. Só que estamos numa realidade que não possibilita isso, uma realidade de cem mil pessoas para dois ACS... Mas sem isso é impossível, claro que pode acontecer aleatoriamente pode acontecer, mas é impossível acompanhar de perto.” (E1) Salienta-se que alguns destes relatos foram discutidos em outras categorias, porém agora apresentam-se com outras interpretações devido a sua relevância na contextualização da pesquisa, como é o caso desta citação: “A realidade do hospital apresentado na situação problema é condizente com a realidade do município não poderia ser diferente. A cidade tem 127 mil habitantes, no modelo político em que vivemos não poderia ser diferente.” (E20) “A assistência ao usuário de álcool e drogas é muito difícil para nós, pois temos apenas um CAPS, não existe CAPS AD. Nem sabemos quando vai existir. E ficamos nos perguntando e quando existir, quem é que vai trabalhar nele? Será que vão chamar outros profissionais? Ou nós vamos ter que trabalhar nele também. Fica difícil” (E17) “É de uns anos pra cá, cresceu muito a demanda de pacientes usuários de álcool e drogas, está bem difícil o atendimento para eles.” (E12) Quando as pesquisadoras questionam como ocorre a atenção ao usuário de álcool e drogas, um dos profissionais refere: “Sim eles tem o atendimento, sim. Mas é como da pra fazer, como se pode adaptar, eles tem assistência medicamentosa e uma oficina especifica para eles nas terças-feiras.”(E17) Segundo Campos e Domitti (2007) o Apoio Matricial é dinâmico e depende de relações interpessoais, que visam à ampliação da visão sobre o processo saúde doença e intervenção, sem diluir a responsabilidade pelos casos. Para a criação deste processo não se pode esquecer que o número de serviços oferecidos para a população brasileira ainda é insuficiente (REIS, 2001). Estas referências trazidas pelos autores podem ser observadas nas falas acima quando os mesmos dirigem reflexões a cerca de suas realidades nos 75 serviços, onde há carência de recursos para atingir a demanda excessiva de usuários. Desta forma fica evidente nas falas dos pesquisados que esta demanda excessiva, o aumento da procura por atendimento, e falta de recursos, e profissionais, configura-se em uma barreira para a implantação do Apoio Matricial. Neste sentido, os autores também propõem uma solução para esta dificuldade: Entre outros arranjos, também o apoio matricial poder ser relevante para racionalizar o acesso e o uso de recursos especializados, alterando-se ainda a ordenação predominantemente multidisciplinar do sistema para uma outra mais consentânea com a interdisciplinaridade. Esse arranjo permite um uso racional de recursos, quando cria oportunidade para que um único especialista integre organicamente seu trabalho com o de várias equipes de referência. (CAMPOS e DOMITTI, 2007,p.404) Analisando e refletindo sobre esta citação, observa-se que os autores trazem a solução de colocar um profissional especialista em várias unidades para dar o apoio a equipe da atenção básica. Porém, esta solução pode servir para organizar a atenção em saúde mental no serviço especializado, visto que está vai demandar apenas um profissional do serviço especializado acompanhando a UBS. Neste contexto, considerando os discursos da pesquisa aqui apresentada observa-se que os problemas perpassam um único serviço, onde neste caso se faz necessário pensar na falta de profissionais na UBS, para atingir a demanda de Saúde Mental da comunidade. Vale aind aconsiderar que o Apoio matricial em Saúde Mental é uma prática que requer um certo preparo da equipe da atenção básica. Este fato pode ser evidenciado na seguinte fala de um profissional da atenção básica: “É a gente sente dificuldade de lidar com este tipo de paciente, por que demora mais tempo, tu tem que fazer mais visitas, saber como falar, demora mais tempo pra estabelecer um contato com eles.” (E7) Por fim, observa-se que é inviável uma solução plausível para este caso, sem o envolvimento de profissionais, gestores, e usuários dos serviços. Assim, se faz necessário a participação popular, a reivindicação de direitos, e autonomização de sujeitos, para que juntos possam desamarrar os nós críticos desses serviços. 76 4.3.2.2 Barreiras organizacionais Em relação às barreiras estruturais, Campos e Domitti (2007) afirmam que existem obstáculos na própria maneira como as organizações vêm se estruturando, que contrariam a interdisciplinaridade e o diálogo. Segundo os autores esses obstáculos precisam ser conhecidos, enfrentados, removidos ou enfraquecidos para que seja possível trabalhar na lógica de uma equipe interdisciplinar e sistemas de co-gestão. Analisando os dados coletados, observa-se na pesquisa algumas falas de profissionais da saúde que demonstram esta centralização de saberes na instituição especializada. Como por exemplo, nas narrativas: “Eu acho que de repente os usuários enxergam que agente aqui no CAPS, o atendimento é mais rápido, é melhor, não é nem questão de referência, é questão de solução.” (E15) “No CAPS eles vão encontrar profissionais para aquela área que eles estam precisando.” (E10) Outra questão observada nas falas relaciona-se a insegurança demonstrada pelos profissionais da UBS, em se tornar uma equipe de referência e assumir a responsabilização pelo caso. Evidenciado pela seguinte fala: “A gente é um pouco afastado dos usuários do CAPS... saúde mental com psicólogo é bem mais fácil deles contar. Por exemplo, nós estamos na casa deles e eles tentam esconder a realidade, principalmente os usuários de crack. Eles tentam esconder a dependência, pra eles vir até a unidade é difícil, eles sentem vergonha, como se perdessem a dignidade.”(E1) Neste discurso sugere-se a hipótese da dificuldade de tratar um caso de forma interdisciplinar. Para alcançar a interdisciplinariedade, as equipes precisam trabalhar esta noção de fragmentação e especialização dos saberes, precisam buscar o diálogo, a transversalidade, horizontalidade, a troca de experiências e a construção de saberes coletivos. Neste sentido esta transformação possibilita reorganizar o modelo de assistência ainda perceptível em algumas ações deste serviço, que carcteriza-se pelo Modelo Biomédico. O Modelo Biomédico segundo Guedes, Nogueira e Junior (2006) foi criado a partir da racionalidade médica, buscando a objetivação de casos, ou seja, o usuário 77 é fragmentado em sinais e sintomas, onde as subjetividades, muitas vezes, não são levadas em conta. Outra forte característica desse modelo é a centralização e hierarquização de saberes, onde ocorre a supervalorização do processo de cura e tratamento. Assim, apesar de diversas reflexões sobre a transcendência do modelo biomédico, percebe-se que a sociedade contemporânea, ainda continua arraigada neste modelo, gerando dificuldades de consolidar uma rede de atenção integral em saúde. Esta rede de atenção integral a saúde é baseada na integralidade, uma das diretrizes do SUS, que conforme Merhy (2006) tem por objetivo a construção de novos modos de agir em saúde, com a lógica do compromisso, com a produção da vida, devendo estar articulada as intenções que ambicionam um agir micropolítico como dobra de fazeres macro, como ecologista deve imaginar seu fazer aqui e agora olhando para o mundo geral e o amanhã. Seguindo a lógica deste autor as organizações em saúde devem olhar para a integralidade, não com a esperança de obter resultados imediatos, e sim em longo prazo. Trazendo para a realidade dos serviços pesquisados, reflete-se que para ocorrer a mudança destas organizações de saúde, na busca pela construção da integralidade e da interdisciplinariedade, deve-se primeiramente pensar e repensar antigas abordagens de cuidado ainda focalizados na solução imediata e centralizada, na ênfase evidente ao diagnóstico e tratamento. Estas formas de abordagens devem ser substituídas por planos terapêuticos individuais e integrados construídos pela interdisciplinariedade de uma equipe, enfatizando individualidades, contextos, complexidades e a construção de vínculo para este usuário. Ou seja, um desafio que rompe barreiras e antigos paradigmas, porém não é construído de um dia para outro. 4.3.2.3 Barreiras Políticas e de Comunicação Ao referenciar as barreiras políticas e de comunicação, Campos e Domitti (2007) relacionam-nas com as concentrações de poder que permeiam as instituições, impossibilitando a gestão compartilhada. Os atores afirmam também que o apoio matricial, e as equipes de referência dependem de um grau de 78 compartilhamento do poder entre distintos profissionais componentes de uma equipe e desses com outros especialistas. Guisard et al (2006) contribui para o debate referindo que alguns indícios nos fazem questionar se os desenhos institucionais de configurações do SUS respondem plenamente aos desafios de democratização das políticas do setor, perspectiva que orienta o direito constitucionalmente assegurado a saúde. Esta autora aponta também que grandes são as resistências micro e macro-políticas que revelam potentes obstáculos nos cotidianos dos serviços. Desta forma relacionamse as teorias dos autores a realidade da pesquisa, onde evidenciou-se o obstáculo políticos e de comunicação explícitos nos diálogos abaixo: “Estas dificuldades de implantação do Apoio Matricial não é dos profissionais, isto é da política! Por exemplo, no hospital sempre esbarra na administração, então não dá!”(E19) “A dedicação não é tratar o usuário, é o bolso mesmo. Este tipo de internação (Saúde Mental) não é bem vinda, isto é a realidade!”(E22) “Eu acho que tem várias coisas que dificultam, por exemplo, o paciente chega para a consulta médica, e eu não posso ficar ali grudada 24 horas com o médico, e ele encaminha direto para o CAPS. Então, tudo bate nesta questão médica, o médico encaminha para o CAPS, não sabe, não quer nem saber, não conhece, e o paciente vai encaminhado para o CAPS.‖(E5) Como se pode observar com os discursos dos profissionais estudados, essas dificuldades políticas e de comunicação, dificultam as práticas, como também geram a desmotivação dos profissionais de saúde, estes por sua vez não são estimulados a repensar seu agir em prol de mudanças, e também possuem baixa autonomia sobre seus processos de trabalho. Assim, Castanheira (2000) corrobora com este resultado quando afirma que existem conflitos entre necessidades institucionais de estabelecer normas para o atendimento e as necessidades imediatas trazidas pelos usuários, Ou ainda conflito entre interesses de grupos de trabalhadores, e de cada trabalhador individual, com as normas da instituição de um lado e com as demandas de usuário de outro. Neste contexto, refletindo sobre os autores e as realidades evidenciadas durante a pesquisa observa-se que as normas institucionais podem não estar adequadas as necessidades imediatas dos usuários, bem como o interesse coletivo ou individual 79 de um profissional da saúde fragmenta-se entre as normatizações e as demandas, sugerindo a necessidade de articulação destes processos. 4.3.2.4 Obstáculo subjetivo e cultural Segundo Campos e Domitti (2007) esta barreira caracteriza-se no modo de funcionamento das instituições contemporâneas, onde há dificuldades de criticar e tomar decisões de maneira compartilhada, voltando-se para o individualismo e competição entre profissionais. Portanto criam-se ambientes de concorrência e as pessoas tendem a cristalizar-se em identidades reativas, que induzem a desconfiar do outro e defender-se da critica do outro. Outra questão é o profissional construir segurança na identidade do núcleo especializado, não criando ações interdisciplinares pela dificuldade de abertura com o diferente, de suas antigas atuações como profissionais. Esta referência a Campos e Domitti (2007) pode ser observada nesta fala que já foi analisada em outra categoria, porém demonstra um exemplo dos obstáculos subjetivos e culturais que envolvem o índividuo. “A gente se vê um pouco afastada dos usuários do CAPS. A saúde mental com as psicólogas é bem mais fácil para eles contarem. Por exemplo, nós estamos perto deles na casa deles. E eles tentam esconder a realidade, principalmente os usuários de crack. Para eles vir ate nos ate a UBS é difícil, eles tem vergonha é como se ferisse a dignidade deles”. (E1) Desta forma, Campos e Domitti (2007) referem que esta barreira subjetiva e cultural somam-se as dificuldades encontradas nos serviços e as dificuldades de interação entre profissionais. Porém, durante a pesquisa identifica-se que a questão cultural e subjetiva perpassa as questões somente institucionais, chegando a comunidade, ao usuário e sua família que possuem um desconhecimento a respeito da atenção transdisciplinar, já que no contexto histórico e cultural da atenção em saúde, a Saúde Mental sempre esteve ligada aos manicômios, exclusão e modelo Pineano de assistência. Desta forma, identificamos algumas das falas dos profissionais que revelam a subjetividade que envolve o usuário e a família: 80 ―A família não participa! A gente convida para reuniões e elas não vão! A família ainda esta naqueles moldes antigos, trás o usuário e diz: olha é com vocês!‖ (E14) “Eu sinto que muitas vezes a dificuldade está na própria família. Eu sei por que tem muitos pacientes que atendo eu digo que tem o posto perto da casa deles, tem uma enfermeira, um médico, tem oficinas, tem ginástica, mas eles não procuram! Eu sinto que a resistência está na própria família.” (E12) “E isso é da cultura deles também, por que antes os pacientes estavam em modelo de manicômio e depois passou para o CAPS, e eles ficaram sem esse vínculo com a UBS.” (E1) “O CAPS é bom pra eles porque esta longe da casa deles, é outra realidade, distante da casa deles ninguém vai saber o que eles vem fazer aqui, aqui eles conversam, aqui eles são outras pessoas.”(E1) A atenção básica corrobora: “Eu também percebo assim porque a gente está na casa deles, a gente conhece eles, conhece a família e eles querem esconder isso [sofrimento psíquico] de nós. Quando a gente pergunta: como está o fulano? Eles se surpreendem, ah, ela conhece!”(E1) Em análise as narrativas destes profissionais, nota-se que a construção de redes integrais não dependem exclusivamente dos serviços, e sim de uma reflexão coletiva da sociedade, onde incluí-se políticas, profissionais, instituições, e usuários. Também é importante ressaltar que toda sociedade faz parte de um contexto histórico e cultural que sempre considerou a pessoa em sofrimento psíquico como um sujeito sem condições de conviver em sociedade, e este ―rótulo‖ faz com que o próprio usuário da saúde mental se exclua, se sentido incapaz de conviver na sociedade. Se faz necessário pensar estratégias de mudanças destes paradigmas efetivamente inserindo os usuários da Saúde Mental na sociedade, compartilhando ações entre serviços especializado e atenção básica, qualificando os profissionais para a clínica ampliada, para a atenção integral em Saúde Mental e efetivação de uma efetiva rede de cuidados. 81 5. Plano de Ação para a Efetivação do Apoio Matricial no município de Uruguaiana: um compromisso deste estudo Este estudo possui uma linha de condução metodológica, onde se buscou a análise da percepção dos profissionais de saúde dos três serviços envolvidos, através da compreensão à respeito do Apoio Matricial, pelo entendimento de como os profissionais o identificam em suas práticas, aproximando-se de linhas e traçados que configuram desenhos do tema no município. Para alcançar estes objetivos os encontros eram baseados na implicação coletiva, que sugerem também a construção em conjunto dos resultados. Assim a proposta das pesquisadoras foi integrar as instituições de saúde interessadas no tema, através de encontros que possibilitassem o contato das realidades da atenção básica e do serviço especializado. Este contato teve o propósito da reflexão a partir da realidade exposta por cada serviço, levando a construção do plano de ação que efetivasse de forma eficiente o apoio matricial de acordo com as realidades dos serviços. Este plano de ação não foi construído pelas equipes, pois no último encontro não participaram os serviços da atenção básica, impossibilitando a elaboração de um plano integrado, visto que, apoio matricial depende da integração e reflexão dos serviços envolvidos, neste caso a atenção básica e o CAPS. Neste sentido as pesquisadoras propõem um plano de ação para contribuir com a efetivação do Apoio Matricial no município, partindo dos resultados desta pesquisa e reflexão teórico prática com foco as necessidades dos serviços. O apoio matricial visa dar suporte especializado para as equipes de referência, neste contexto o apoiador matricial, é um especialista com conhecimento teórico e prático sobre Saúde Mental. Já o papel da equipe de referência é acompanhar um caso individual e coletivo de forma transversal, ou longitudinal, baseando-se na criação de vínculo e co-responsabilização com a atenção a este usuário (CAMPOS, DOMITTI, 2007) Seguindo esta lógica, para a efetivação do apoio matricial e criação da equipe de referência Campos (2000), propõe um plano de ação que deve contemplar o atendimento e intervenção conjunta entre o especialista matricial e alguns profissionais da equipe de referência. O autor salienta que o apoiador deve 82 programar uma série de atendimentos ou de intervenções especializadas, mantendo o vínculo com a equipe de referência, que procuraria redefinir um padrão de seguimento complementar e compatível ao cuidado oferecido pelo apoiador. O autor também destaca que o Apoio Matricial pode ainda restrinja-se à troca de conhecimento e de orientações entre equipe e apoiador; diálogo sobre alterações na avaliação do caso e mesmo reorientação de condutas antes adotadas, permanecendo, contudo, o caso sob cuidado da equipe de referência (CAMPOS, 2000). Desta forma, a partir do embasamento teórico adquirido durante a leitura deste referencial, entre outros, e trazendo-os para a realidade do município, e descobertas vivenciadas nas práticas da pesquisa. As pesquisadoras propõem o seguinte plano de ação para efetivar o apoio matricial no município de Uruguaiana, considerando realidades, subjetividades, percepções e vivências dos profissionais que participaram da pesquisa: (1) Se faz necessário que o serviço especializado, primeiramente promova reuniões para possibilitar discussões entre os profissionais da própria instituição. Neste momento, o foco deverá ser as abordagens terapêuticas utilizadas neste serviço, avaliando e repensando as práticas de atenção a saúde que vem sendo oferecidas aos usuários. (2) Em um segundo momento, deve-se buscar fortalecer a atenção básica, onde o serviço especializado, então, buscará aproximar-se da atenção básica, contextualizando a saúde mental, criando um vínculo com a equipe da UBS, esclarecendo dúvidas iniciais, anseios, e desmistificando paradigmas da ―loucura‖. (3) Dando continuidade ao plano de ação, o apoiador matricial, participará de abordagens ao usuário da saúde mental juntamente com a equipe da atenção básica, seu foco deverá ser avaliar como a equipe se sente no contato com este usuário, quais as principais dúvidas, quais foram as primeiras ações, isso subsidiará a reflexão de como deve ser os próximos encontros entre Apoiador Matricial e a equipe de referência da atenção básica possibilitando a qualificação da equipe da UBS. (4) Criar a equipe de referência, pela construção coletiva dos profissionais envolvidos neste processo, e a partir deste momento a equipe de referência tem como objetivo conhecer e reconhecer quais são os usuários de saúde mental pertencentes ao seu território, identificando-os, bem como promovendo ações 83 preventivas. Neste sentido, o foco da equipe de referência será em visitas domiciliárias aos usuários, contextualizar os casos, e criar o vínculo. (5) Dando continuidade, a equipe de referência tomou contato com a realidade dos usuários, a partir de agora, esta equipe passa a dar a referência da UBS, como porta de entrada para a atenção a este usuário. (6) Os casos mais complexos serão visualizados por esta equipe de referência, a partir do contato com a realidade dos usuários de seu território. Assim esta equipe comunicará e contará com o apoiador matricial, vinculado ao serviço especializado. (7) O apoiador matricial estimulará a reflexão desta equipe de referência em relação a cada caso, o foco do apoiador matricial e da equipe de referência será a construção do plano terapêutico individual e integrado para cada usuário. (8) O plano terapêutico individual e integrado estará adaptado para as individualidades, necessidades e contextualização socioeconômica e cultural deste usuário de saúde mental. Bem como, serão associados componentes da rede conforme cada necessidade. A ênfase será inclusão social, aderência ao tratamento clínico, suporte e inclusão dos familiares no plano. (10) Assim, deve-se considerar, que quando um usuário apresentar uma exacerbação dos sintomas, e fugir do controle da UBS, será atendido pelos serviços especializados, porém, estes serviços especializados deverão manter a atenção básica informada. Isto se faz necessário pela necessidade de reformulação do plano e reinserção deste sujeito na comunidade. (11) E para finalizar o plano, deve-se garantir a realização de reuniões semanais entre apoiador matricial e equipe de referência, para a reflexão das abordagens, trocas de experiências, exposições de dúvidas e anseios, complexidades advindas da inserção da equipe de referência no contato com o usuário da saúde mental. Esta ação justifica-se também como uma forma de avaliar o andamento das ações desenvolvidas pelos apoiadores e equipe de referência. Este plano de efetivação do Apoio Matricial apresentado a cima, por si só não tem valor, se não houver a implicação coletiva, o apoio político, o envolvimento de gestores, a participação das equipes, a continuidade de encontros que assegurem a criação de espaços protegidos para a troca de saberes. Lembrando também, que se deve resgatar a motivação dos profissionais da saúde para a relevância de seu papel social de garantir a igualdade de acesso aos 84 direitos humanos. Para isso, precisam-se transpor barreiras que dificultam a implantação do apoio matricial, identificadas e analisadas nas narrativas destes sujeitos durante a coleta de dados da pesquisa. 85 6. REFLEXÕES SOBRE UM PROCESSO INSTITUÍNTE Após meses de estudo, reflexão e trabalho, finaliza-se esta pesquisa, trazendo consigo diversos olhares sobre as vivências e realidades expostas pelos encontros com os profissionais de saúde estudados, das intuições analisadas, e das questões políticas levantadas. O objetivo de analisar as percepções de profissionais da atenção básica e do CAPS foi alcançado, entre subjetividades, conflitos, narrativas, relatos de vivências e obstáculos identificados, nota-se sim, como é desafiadora a pesquisa qualitativa, o encontro com o outro, a contradição humana, o contato com o desconhecido. Reflete-se também, como é provocador a análise do outro, esse repleto de contradições, enredos e contextos, que nunca devem ser desconsiderados, mas, porém, acabam em hipóteses, que não podem ser analisadas objetivamente. Ressalta-se que durante esta pesquisa houveram muitas dificuldades, como a dificuldade de promover os encontros integrados entre os serviços, de oportunizar espaços protegidos de reflexões em que todos os participantes se sentissem à vontade para questionar, contribuir, relatar experiências, e debater as questões abordadas. Deve-se, refletir também sobre as potencialidades desta pesquisa, que foi a integração destes serviços promovendo o choque de encontros, bem como, o reconhecimento de realidades distintas com um intuito em comum, a promoção da saúde. Estas realidades trouxeram à tona, um corpus de análise, que ultrapassa conceitos, teorias e a implantação do Apoio Matricial, esbarrando, assim, em questões estruturais, políticas, organizacionais, subjetivas e culturais. Por fim, considera-se este estudo como um passo inicial de uma longa caminhada em busca do instituínte para implantação de práticas efetivas de apoio matricial e cuidado integral em Saúde Mental em Uruguaiana. Salienta-se que a construção deste trabalho visou a contribuição para a atenção em Saúde Mental do município, desejando, assim, servir de subsídio para novas pesquisas, ações, reflexões que contribuam para a transformação da realidade. 86 REFERÊNCIAS AMARANTE, P. Et aL . Loucos pela vida: a trajetória da reforma psiquiátrica no Brasil. 2.ed.Rio de Janeiro: Fiocruz, 1998. AMARANTE, P.; SAÚDE MENTAL E ATENÇÃO PSICOSSOCIAL. Fiocruz. 2007. 120 pp. (Temas em Saúde). Rio de Janeiro: ABRASME; Reforma Psiquiátrica – A Construção da Rede de Atenção à Saúde Mental. 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Identifique seu cargo e suas principais funções. 2. Como você percebe o matriciamento em redes de cuidado integral em saúde mental no município de Uruguaiana? 3. Quais os papéis das equipes de saúde da atenção básica e do CAPS neste contexto? 4. Caracterize potencialidades e fragilidades na atenção em saúde mental no município. 5. Avalie o 1º encontro () (:/) (). Sugestões de melhorias. 92 APÊNDICES II - Questionários II / avaliação das atividades Questionário II 1. Qual(is) a(s) sua(s) opinião(ões) sobre os temas abordados: saúde mental, apoio matricial e rede de cuidado integral em saúde. Qual seu interesse por cada tema em uma escala de 1-5. 2. Comente e avalie, em uma escala de 1-5, a(s) metodologia(s) na(s) qual(is) o(s) tema(s) vem sendo abordado(s). 3. Quais sugestões dariam para contribuir com estas metodologias. 4. Descreva potencialidades e fragilidades de cada metodologia e aponte sugestões. 5. Quais dúvidas não foram esclarecidas em relação aos temas trabalhados. 93 APÊNDICES III - Situação problema 01 Maria 40 anos, usuária do CAPS, moradora das áreas Verdes, do Bairro Longe de Tudo, mãe de 4 filhos, 3 adolescentes, com 12, 14 3 16 anos, e um adulto, com 28 anos casado. Há dois meses, Maria perdeu seu filho de 16 anos, usuário de Crack, vitima de violência. Este filho representava grande valor afetivo para Maria, sendo que a mesma foi incansável nas tentativas de ajudar o filho a superar o vicio. Após a morte do adolescente, a usuária apresentou sintomas como: negação, isolamento social, pensamento suicida e irritabilidade. Foi encaminhada ao CAPS por familiares, onde participava as segundas e quartas de tarde nas oficinas de artesanato, porém demonstrava apatia, desinteresse e baixa comunicação com os demais usuários e equipe. Durante uma consulta com a Psicóloga a usuária revelou que seu filho de 14 anos esta fazendo o uso de álcool e drogas. Na semana seguinte a equipe do CAPS foi acionada pela UBS, pois a paciente entrou em surto Psicótico, agredindo o filho adolescente e em seguida tentando suicídio, com o uso de todas as medicações disponíveis. O Pronto Socorro foi acionado e estabilizou o surto, porém o Hospital justificou falta de leitos psiquiátricos e encaminhou a usuária de volta para casa. Como continuidade no tratamento terapêutico os familiares retornaram a usuária ao CAPS. No entanto, a equipe do CAPS observou que a usuária piorou globalmente seu caso, apresentando surtos psicóticos freqüentes, crises de agressividade, isolamento social acentuado, e ameaças freqüentes de suicídio. 1. Como ocorreu o encaminhamento de Maria ao CAPS? Quais serviços de Saúde se envolveram no processo? 2. Como foi organizado o plano terapêutico individual da usuária no CAPS? Quais as atividades e freqüência de atendimento?Como ocorreu a adesão da usuária ao tratamento? Quais os mecanismos de superação das dificuldades foram acessados? 3. Qual a participação do Hospital no cuidado a esta usuária? 4. Quais processos de controle social e participação social podem ser acionados para o enfrentamento deste caso? 5. Como se configura a rede de cuidado em Saúde Mental acessada por Maria? Quais os componentes acessados e os que não foram acessados? 94 6. Quais os profissionais/equipes envolvidas no cuidado? Quais poderiam se envolver? 7. Elabore um Plano Terapêutico para a condução ideal neste caso levando em consideração o Apoio Matricial e a Rede de Cuidado Integral em Saúde Mental? 95 96 APÊNDICES IV - Situação problema 02 Francisco, 17 anos, solteiro, freqüenta a sexta série do ensino fundamental, vem apresentando transtorno de conduta e atualmente fazendo uso de crack. Francisco mora com os pais, sua mãe é hipertensa e seu pai apresenta sérios problemas cardíacos. O casal costuma buscar tratamento medicamentoso na UBS, próximo a sua residência, freqüentando sistematicamente o grupo HIPERDIA. A enfermeira da UBS percebeu que há aproximadamente 03 meses o casal não vem comparecendo a unidade para retirar as medicações de uso contínuo e participar dos grupos. A enfermeira e a agente comunitária em saúde (ACS) realizaram uma Visita Domiciliária (VD) para esta família. Durante a VD o pai relata tristeza profunda, que vem passando noites sem dormir e perdeu peso nos últimos meses, e que está muito preocupado com o filho, pois o mesmo está internado no hospital e sua mãe permanece como acompanhante. Após a equipe questionar o motivo da internação, o pai receia em falar, porém confessa que o filho costuma trocar o dia pela noite, diversas foram às vezes que o recolheram de ruas e valas com muitos ferimentos por agressões. O pai relata ainda que quando Francisco não usa crack, acaba fazendo uso de álcool associado a medicações controladas. Atualmente Francisco vem apresentando surtos de agressividade, principalmente contra mulheres, afirma ouvir coisas e apresenta discurso desconexo, isolamento social e familiar, também tentou agredir sua mãe. Roubou objetos em casa e também na rua. Antes de ser internado o pai relata que encontrou o filho contorcendo-se e tremendo, afirmando que se sentiu constrangido em procurar auxilio na UBS, buscando então atendimento no CAPS. Este por sua vez, buscou avaliação psiquiátrica e psicológica para Francisco, porém relatou a exacerbação do caso e encaminhou para o hospital, que embora relutante, aceitou ofertar cuidados intensivos para este usuário. O pai emociona-se ao falar com a enfermeira da UBS, refere que não sabe o que fazer quando o filho voltar para casa, pois impedi-lo de ir a escola foi uma solução imediata que ele encontrou. Este acredita que na escola Francisco encontrará com os colegas e amigos que o incentivaram ao uso de crack e que seu tratamento será, desta forma, prejudicado. 97 1. Como ocorreu o encaminhamento de Francisco ao CAPS? Quais os serviços de Saúde envolveram-se em TODO o processo? 2. Construa um fluxograma exemplificando o papel da Rede de Cuidado Integral em Saúde Mental envolvida neste caso. 3. Qual é o vínculo da UBS com esta família? E como deveria ser este vínculo, considerando a rede de cuidado integral? 4. Qual a participação do hospital no cuidado deste usuário? Qual a relação deste com os demais serviços de saúde mental deste município? 5. Quais os profissionais em saúde foram envolvidos neste processo? Qual foi o papel deles diante do caso? E qual deveria ser? 6. Considerando a contextualização do caso, como devem proceder às equipes de cuidado multidisciplinar para superar as dificuldades encontradas? Aponte caminhos para os problemas de saúde mental desta família. 7. Elabore um plano terapêutico, para a condução IDEAL deste caso, levanto em conta o Apoio Matricial e a Rede de Cuidado Integral em Saúde Mental. 98 APÊNDICE V – Termo de consentimento livre e esclarecido Eu, ..............................................., concordo em participar voluntariamente da pesquisa Apoio Matricial: vivências e percepções dos profissionais de saúde do município de Uruguaiana. Esta pesquisa é um estudo que pretende trabalhar as percepções das equipes da atenção básica ESF II - Posto 7 (Bairro União das Vilas) e UBS – Posto 14 (Bairro Tabajara Brites) e do CAPS Asas da Liberdade no município de Uruguaiana acerca da importância do apoio matricial e do atendimento em redes de cuidado integral em saúde mental. Tem como objetivo geral ―analisar as percepções das equipes de saúde da atenção básica e do CAPS sobre o matriciamento em redes de cuidado integral em saúde mental no município de Uruguaiana‖ e especificamente: (I) estimular a reflexão dos profissionais em saúde a respeito do tema; (II) conhecer e analisar como os profissionais de saúde vivenciam experiências de apoio matricial; (III) identificar linhas, traçados, desenhos que apontem para a configuração de uma rede de cuidado integral em saúde mental em Uruguaiana. A condução da pesquisa ocorrerá em 6 encontros através de seminários e dinâmicas. Serão realizadas reuniões, rodas de conversa, oficinas, discussão de artigos e filmes. Para a coleta de dados será utilizado questionário semi-estruturado onde não ocorrerá a identificação do participante, a fim de garantir o anonimato dos mesmos. Para o registro de informações serão utilizadas câmeras fotográficas (com ciência e autorização dos participantes ao assinarem este TCLE), atas de reuniões e diários de campo. Sua participação na pesquisa consiste participar das reuniões e responder aos questionários propostos pelas pesquisadoras. Os dados e análises coletadas durante a pesquisa subsidiarão futuras publicações. Esta pesquisa está de acordo com a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, seguindo, desta forma, os conceitos éticos de pesquisa envolvendo seres humanos. A sua participação nesta pesquisa é livre e voluntária, podendo desistir a qualquer momento sem que isso acarrete prejuízo para si. Este documento foi elaborado em duas vias idênticas pela qual uma ficará com você. Suas dúvidas podem ser esclarecidas pelo conjunto das pesquisadoras, cujos contatos foram acima disponibilizados. Assinatura do Participante 99 APÊNDICE VI - Readequações da pesquisa em resposta ao pedido da Secretária Municipal de Saúde 100 ANEXO I - Autorização da pesquisa pelo Secretário da Saúde 101 ANEXO II – Autorização do Centro de Atenção Psicossocial, (CAPS II) Asas da Liberdade