A caixa vazia da proteção social Juan Lozano 06/JUN/2014 Um dos problemas enfrentados por uma grande parte do mundo, em particular os países de média e baixa renda, é a informalidade. O trabalho informal é precário e carece de direitos e seguridade social. Na América Latina e no Caribe a informalidade está entre 60 e 70%, de acordo com o Banco Interamericano de Desenvolvimento. Falando de seguridade social, a informalidade não afeta apenas aqueles que, por não estar registrados, carecem de acesso à saúde e de economias para a velhice. Dado o princípio de solidariedade em que a segurança social está baseada, o fato de que uma menor proporção da população ativa esteja inscrita na seguridade social, tem um efeito negativo sobre a sustentabilidade do próprio sistema. O problema da informalidade não é novo. Na América Latina e no Caribe vem se arrastando, praticamente desde sempre, mesmo que durante a recente crise tenha se aprofundado. Os economistas atribuem este problema a uma combinação de incentivos e desincentivos que estão relacionados com uma infinidade de problemas. Está, por um lado, a dificuldade das pequenas e médias empresas de cumprir com os regulamentos. Outro aspecto é a incapacidade de cobrir os custos trabalhistas e fiscais adicionais, incluindo as contribuições para a seguridade social. É também reconhecida como uma razão para a prevalência da informalidade, uma fraca aplicação da lei, entre muitos outros fatores. A verdade é que, em países como o México, a informalidade está associada a uma baixa produtividade. Recentemente, a revista The Economist salientou que no México é observado um crescimento mais rápido no chamado sector tradicional (em oposição ao sector moderno ou industrial), que se desloca para trabalhos de produtividades menores. De acordo com a revista, o segmento tradicional tem representado 48% do crescimento do emprego desde 1999. As grandes empresas modernas estão se expandindo, mas não estão criando empregos a uma velocidade necessária para aumentar a proporção de 20% dos postos de trabalho que representam. O emprego nas médias empresas caiu de 41% em 1999, para 38% em 2009, polarizando ainda mais o emprego entre os dois extremos, a formalidade e a informalidade. Além disso, a falta de produtividade afeta incidindo no crescimento econômico. O México e outros países da região com este problema promovem políticas de cobertura social para preencher as lacunas que a informalidade tem desenhado. Essas políticas visam tornar o direito humano à proteção social uma realidade. Assim, estes países promovem o estabelecimento de pisos de proteção social; ou seja, a cobertura social mínima de saúde e renda, entre outros componentes1. Assim, geram programas de cobertura social para aliviar aqueles que não contribuíram com taxas para os cuidados de saúde e não pouparam para a aposentadoria. Procuram proporcionar proteção social para a população mais vulnerável, que de outra forma seriam abandonados à sua própria sorte. Em países com um grande setor informal, a cobertura social e a seguridade social, muitas vezes não são iguais. Por exemplo, um apoio financeiro para os idosos é, realmente, uma ajuda, cujo valor não pode ser comparado com a pensão que poderiam receber se estivessem inscritos na seguridade social, não importando quão baixa pudesse ser. Os programas de cobertura social, diferente da seguridade social, são financiados pelos impostos gerais, e não por contribuições específicas. Está aqui um debate de longa data, entre os economistas, sobre se os programas de cobertura social são um desincentivo para a seguridade social. De acordo com a opinião de alguns, a fim de facilitar o acesso à saúde e aos apoios econômicos, sem pagamentos prévios de contribuições para a seguridade social, há menos interesse na inscrição da seguridade social. No entanto, longe de entrar nesta discussão sobre se a cobertura social, é um incentivo para a informalidade, devemos reconhecer que a cobertura social e a seguridade social devem coexistir enquanto buscamos como incorporar toda a população que trabalha à formalidade. Temos que pensar que a cobertura social é necessária. Não é possível deixar tudo para as forças do mercado; em outras palavras, é pertinente a expressão que salienta a socialdemocracia, "tanto mercado quanto seja possível, tanto Estado quanto seja necessário". Certamente, é essencial promover as economias da América Latina e do Caribe para que produzam o que a Organização Internacional do Trabalho denomina como trabalho decente; ou seja, postos de trabalho com todos os direitos, seguridade social, e bem pagos. No entanto, isso não acontecerá por decreto, nem existe uma varinha mágica que consiga fazer com que isso aconteça de um dia para o outro. The Economist e um relatório recente da McKenzie Global sobre o México destacam que a informalidade é resultado de vários fatores e não de uma causa. Para debilitá-la é essencial promover a produtividade e facilitar 1 Recomendação 202 da Organização Internacional do Trabalho em pisos de proteção social (2012). o acesso ao crédito. Em relação a isso coincide Oscar Sanchez, autor do primeiro Working Paper Series da CISS. Para fazer isso, será necessário modificar o desenho institucional e o quadro legal em muitos casos. Enquanto tentamos fazer com que todos os postos de trabalho gerados pelas economias da América Latina e do Caribe sejam formais, existe uma tarefa inevitável às margens das críticas e vulnerabilidade das fórmulas que são usadas para realizar essa tarefa. Essa tarefa consiste em continuar construindo os pisos de proteção social e será necessária a cobertura social para aqueles que não têm acesso à seguridade social. Aqui temos outro dilema: como vamos financiar essa parte da proteção social? Devemos aumentar os impostos em geral? A resposta pode estar justamente nos comportamentos, tradições e produtos que estão prejudicando a nossa saúde, favorecendo o sobrepeso e a obesidade, gênesis de grande parte das doenças não transmissíveis, particularmente diabetes, hipertensão e câncer, aqueles com alto teor de carboidratos, incluindo bebidas açucaradas e produtos considerados comida rápida. Devemos repensar se os impostos sobre os produtos nocivos à saúde, com conteúdo de carboidratos e pouca ingestão nutricional podem financiar a proteção social. Por enquanto, os números não mentem. Os danos que os estilos de vida não saudáveis estão causando nas finanças públicas é de dimensões multimilionárias. Vamos começar a discussão que requer uma visão minuciosa destas questões. Fontes: Banco Interamericano de Desenvolvimento, Melhores aposentadorias, melhores trabalhos, 2014. Sánchez, Oscar. A Relevância do Acesso ao Crédito na Dinâmica da Informalidade no México, CISS, 2014. The Economist, "Bello: The reform that got away", 29 de maio de 2014. McKenzie Global, "A tale of two Mexicos: Growth and prosperity in a two-speed economy", 2014.