UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL – UNIJUÍ FACE-VALENÇA O PROCESSO DE SOCIALIZAÇÃO E FORMAÇÃO HUMANA DO CIDADÃO NO PROJETO AXÉ Uma análise reflexiva sobre o processo de inserção e formação humana de crianças e jovens em situação de rua, mediante as percepções de professores e alunos do Projeto Axé. SARAÍ SOUZA UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL – UNIJUÍ FACE-VALENÇA – 1º SEMESTRE/2008 TEORIA POLÍTICA PROFESSOR: DEJALMA CREMONESE Nascido em 1990, em Salvador, Bahia, tendo como apoio inicial à organização italiana não governamental, de cooperação internacional (TERRA NOUVA) e do Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua, o Centro do Projeto Axé de Defesa e Proteção a Criança e ao Adolescente (Projeto Axé), constituiu-se em um Projeto de educação para os filhos e as filhas da exclusão, cujo maior empenho consiste na sua relevante atuação política e pedagógica. Tal instituição tem em seu papel, a constituição de uma Proposta Política-Pedagógica em atendimento. Sabe-se que é uma sociedade civil sem fins lucrativos, reconhecida nacional e internacionalmente pela sua brilhante atuação na educação, e na defesa dos direitos das crianças e adolescentes, que vem sofrendo o impacto da exclusão social. O Projeto trabalha acima de tudo com a formação ética e cultural dos meninos e meninas em situação de risco. Esta instituição tem como princípio à educação de qualidade, e/ou, melhor educação para os mais pobres, cuja meta prioritária é processo de Educação de rua incentivador da saída de crianças e jovens da rua, a fim de ingressa-los em Unidades Educativas. Unidades Educativas são espaços pedagógicos nos quais são desenvolvidas atividades múltiplas a exemplo: alfabetização, empresas educativas, atividades lúdicas, artísticas e culturais, propiciando-se assim, a interação dos objetivos: político e o pedagógico, os quais, em parceria com os Poderes Públicos, visam transformar projetos em políticas, concretizando assim um processo pedagógico sistematicamente pautado, capaz de efetivar a modificação da história de vida de criança s e jovens socialmente marginalizados. Percebe-se que o Projeto Axé encontrou na arte sua maior inspiração para educação, pois concebe a arte não só como um instrumento de educação, mas, como a própria educação em si. Desta forma o Projeto Axé assume um caráter revolucionário, inovador, e mobilizador, no qual, a arte é capaz de dar voz de liberdade ao ser humano. O alvo central desta instituição é assegurar um processo de educação de rua que incentive a saída das crianças e dos jovens da clandestinidade conduzindo respectivamente os menores carentes ao Centro Projeto Axé de Defesa e Proteção a Criança e ao Adolescente (Projeto Axé), instituição educativa, onde será possível a realização de numerosas atividades como alfabetização, atividades artísticas, culturais e profissionalizantes. O Axé articulou parcerias com os poderes públicos tais como Secretaria Municipal de Educação, Secretaria de Segurança Pública, dentre outras, o axé conta também com o apoio de outras organizações não governamentais, e empresas privadas. O Projeto Axé dentro do seu compromisso político com a população mais pobre desenvolveu proposta de atendimento a crianças e Adolescentes que vivem em situação de rua, são propostas que tem como objetivo diminuir a desigualdade social e valorização das diferenças e trabalhar na qualificação dos seus serviços oferecidos, no nível de competência dos seus profissionais, e recursos humanos, gerando desta forma a disseminação e socialização dos conteúdos, de sua prática, de sua ética profissional e institucional. A estimulação da participação dos educandos é feita através da arte, da cultura, e da criatividade seu maior compromisso a construção da cidadania dos educandos que é o eixo ideal do Axé. Através de diversos programas que exercem suas atividades de forma paralela, que tem como finalidade atrair essas crianças e adolescentes que estão nas ruas; programas tais como: Educação de Rua, Apoio a Família e Juventude, Projeto Erê, Alfabetização, Defesa dos Diretos, Projeto de Moradia, Centro de Educação para Saúde e encaminhamento ao trabalho Os educadores não vão as ruas tirar os meninos do seu habitat, mas, vão para as ruas para desenvolver um trabalho de educação que é possível; educar nas ruas. Tais adultos que vão as ruas para educar, passam a imagem positiva de adulto, a qual demonstram que: é preciso ouvir, saber o que essas crianças desejam, conseguindo assim, desenvolver uma educação de rua, que tem as suas bases pautadas no dialógo, visto que, é fato que esses meninos e/ou meninas, não querem mais continuar a desenvolver suas atividades nas ruas, por isso, pedem para sair das ruas, demonstrando serem indivíduos, que falam, que desejam, e não são “marionetes” prontas para viverem em função dos desejos dos outros. Os educadores do Axé ampliam conhecimentos e saberes, através do desempenho de atividades tais como: alfabetização, profissionalização, o trabalho com eles e a relação com o mundo do trabalho. Seu alicerce se dá, ao compreender o educando como sujeito de desejos, de conhecimento, e de direitos, medidas que se mostram complementares e indispensáveis na prática pedagógica, pois, é impossível oferecer espaço para desenvolver os desejos e aprendizagem sem a inclusão do educando na sociedade, pelo menos após os primeiros contatos. Isto, deve vir acontecer até mesmo para que este venha se reconhecido como elemento de participação da sua própria construção. (...) Toda imagem do homem e uma imagem social. Fixar fins para a educação é escolher um tipo de homem, portanto de homem social, portanto de sociedade. Elaborar fins educativos optar-se por um modelo, ao mesmo tempo do homem e da sociedade. Essa escolha não é abstrata e intemporal. Há tantas escolhas possíveis quando classes e grupos em conflitos, pois determinação dos esses conflitos. (Aranha, 1996, p.) Ressalta-se que o Projeto Axé ao reconhecer a arte como um processo de educação em si, assume um caráter revolucionário, altruísta e transformador, em outras palavras, concebe a arte como elemento capaz de libertar o ser humano fazê-lo perceber sua subjetividade e conectá-lo com o mundo, re-significando-o. Ao passarem pelo Projeto Erê, as crianças e adolescentes que antes viviam nas ruas sem nenhuma perspectiva de vida. Vêem disciplinados e despertados neles, o desejo de quer saber, de aprender, de humanidade, de compreender seu papel na sociedade que até então lhe foi negada diante do fato de fazerem parte de uma população pauperizada e/ou marginalizada. Ampliando ainda mais esta questão e traçando um forte invés entre educação e resgate de dignidade humana que o educador Paulo Freire apud. Vivemos em uma sociedade dividida em classes, na qual os privilégios de uns impedem a maioria de usufruir os bens produzidos, e um desses bem necessários é a educação, da qual é excluída grande parte da população do terceiro mundo. Freire refere-se a dois tipos de pedagogia: a pedagogia dos dominantes, na qual a educação existe como prática de dominação, e a pedagogia do oprimido, na qual a educação surge com pratica de liberdade... O movimento de libertação deve partir dos próprios oprimidos, cuja pedagogia será, “ aquela que tem de ser forjada com ele e não para ele, enquanto homens ou povos , na luta incessante de recuperação da sua humanidade” (Aranha 1996, P. 30) É partindo desse princípio que o projeto Axé busca alfabetizar os seus integrantes, investindo na criticidade e resgate de autonomia, que é o caminho para a construção da cidadania e ponte para um processo de ensino e aprendizagem mais rico, significativo e essencialmente lúdico. Para entendermos bem a educação é preciso entender o homem. A essência do homem é algo que ele próprio constrói, ou seja, a História “A existência precede a essência”, o homem em sua essência é produto do meio em que vive, que constitui a partir de suas relações sociais. A educação esta relacionada com a organização social do homem, quanto mais complexa for essa organização social, mais complexa será o seu contexto educacional. Esta complexidade parte dos seus conteúdos diversificados e do interesse dos diversos segmentos da sociedade. Desta forma, dá vazão à prioridade do conhecimento a certo grupo social, criando assim uma desigualdade social, onde percebemos que as pessoas menos favorecidas não têm as mesmas oportunidades dentro de uma mesma sociedade. O Centro do projeto do Axé de Defesa e Proteção a Criança e ao Adolescente, pautado em princípios políticos que priorizam comportamentos tais como: Liberdade, Autonomia, Ética, Escuta e Diálogo, Produção Subjetiva, Conquista Coletiva dos Direitos e o Compromisso Político com a Sociedade, Contrapõem-se a uma proposta de educação tradicional, e distingui-se dos princípios behavioristas (chamada de abordagem comportamentalista e conhecida também pôr Teoria do condicionamento) O Projeto Axé contrapõe-se a suposta “passividade” dos indivíduos, ao considerar como relevantes às vivências, o contexto, e as representações sociais de cada criança e jovem participante da instituição A instituição teve como colaborador o grande educador Paulo Freire (1980), que através do seu método de educação sinaliza um processo educativo, baseado na comunhão, ou seja, na troca entre os saberes daqueles que ensinam e daqueles que aprendem, denunciando o modelo de educação “bancária” (aquela que privilegia o papel do professor como agente detentor e depositário do saber, e que restringe o papel do aluno simplesmente para a função de agente receptor do saber). Tal concepção de educação se opõe a filosofia pedagógica do Projeto Axé por não estimular a valorização do ser e conseqüentemente, ferir a premissa de Freire. O projeto Axé é reconhecido internacionalmente como uma das experiências mais bem sucedida de projeto sócioeducativo que trabalha na educação de crianças e jovens em situação de rua, contando com o apoio de diversas organizações internacionais, como o UNICEF (Fundação das Nações Unidas para a Infância), dentre outras. O Projeto Axé também tem sido temática de estudo em várias parte do Brasil e do mundo, por ser considerado um ponto de referência na solução para o problema social representado pelo abandono da infância e da juventude. No Brasil a proposta político-pedagógica do Projeto Axé tem se revelado um instrumento eficiente no processo de assegurar através da conscientização política, descoberta de seu papel no mundo e exercício da cidadania. No qual o garoto deixa de ser, um elemento passivo diante de uma história massacrante e marginal, e passa a ser um ser criativo discutindo o seu espaço, seus direitos e deveres, numa sociedade em que lhe é negado o direito de mudanças. O projeto Axé neste sentido significa libertação do indivíduo.