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Estudo aponta necessidade de aumentar valores
cobrados pela água
O relatório reconhece que, apesar dos avanços dos últimos anos, a gestão dos recursos
hídricos no Brasil ainda é deficiente
A crise de abastecimento de água, sem previsão para terminar, deve provocar efeito colateral no bolso dos
usuários que realizam captação nos rios: quem não paga para usá-la deve começar a fazê-lo. Para quem já
faz isso, os valores devem aumentar. A necessidade de cobrar pelo uso da água algo mais que um valor
simbólico é um dos principais assuntos do relatório Governança dos Recursos Hídricos no Brasil, divulgado
ontem, desenvolvido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE) por encomenda da Agência Nacional de Águas (ANA).
O relatório reconhece que, apesar dos avanços dos últimos anos, a gestão dos recursos hídricos no Brasil
ainda é deficiente. De acordo com o estudo, faltam coordenação, critérios claros e estabelecimento de
prioridades. O documento aponta dificuldades de gestão também em relação às competências das diferentes
esferas de poder (municipal, estadual e federal). “É difícil aplicar normas de qualidade da água e regras de
captação nos locais onde dois ou mais órgãos de gestão dos recursos hídricos são responsáveis por trechos
diferentes de um rio”, diz um trecho.
O estudo aponta um “isolamento setorial dos ministérios e órgãos públicos” que dificulta “a coerência
política entre os setores de recursos hídricos, agricultura, energia, licenciamento ambiental, saneamento e
uso do solo”.
Em relação à cobrança pelo uso da água, o relatório considera que os valores estão abaixo do necessário e
“raramente se baseiam em estudos de acessibilidade ou em avaliação de impacto”. O baixo preço da água,
segundo o estudo, “impede o seu uso como instrumento de política de promoção do uso racional dos
recursos hídricos e de indicação da escassez”.
Um centavo
Na Bacia do Rio São Francisco, uma das poucas que cobram pela água no Brasil, os preços são irrisórios.
Para abastecimento humano, o valor é de um centavo para cada mil litros (m³). Para efeito de comparação,
basta lembrar que a faixa mais barata da Caesb é de
R$ 2,58 pelo mesmo volume. Já para os grandes projetos de fruticultura irrigada na região de Juazeiro (BA)
e Petrolina (PE), o metro cúbico de água do São Francisco custa R$ 0,0005 — cinco mil vezes mais barato
que o da água da Caesb. Para gastar
R$ 1, o irrigante precisa consumir 2 milhões de litros de água, o suficiente para atender uma cidade de 10
mil habitantes durante um dia inteiro.
“A cobrança deve ser um instrumento efetivo de gestão”, diz o diretor de Regulação da ANA, João Gilberto
Lotufo. “À medida que a cobrança é simbólica, com valores muito baixos, não se consegue resolver os
problemas da bacia. A cobrança busca sinalizar o valor da água”, diz. “Quem joga esgoto no rio deve pagar
pela poluição que causa. Mas o preço cobrado deveria ser caro o suficiente para incentivar o município a
tratar o esgoto. O sistema de cobrança existente está na direção certa, mas é pouco eficaz”, avalia.
Mais que a discussão sobre valores, a gestão de recursos hídricos ainda deve se ocupar de uma etapa
anterior, a de efetivamente cobrar pelo uso da água. Entre as bacias de jurisdição interestadual, apenas em
cinco se cobra pelo uso da água. Da mesma forma, dos 27 entes da Federação, só cinco taxam o uso da
água — Ceará, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná e São Paulo, sendo que apenas nos dois primeiros a
cobrança abrange todas as bacias.
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Estudo aponta necessidade de aumentar valores cobrados