PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA NA EDUCAÇÃO: O CASO DO ESTADO DO PARANÁ GESTÃO 2011 A 2014 Delvana Lúcia de Oliveira1 - SEED/PR Ana Paula Pacheco Palmeiro 2 - SEED/PR Grupo de Trabalho – Políticas Públicas, Avaliação e Gestão da Educação Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo O presente relato objetiva apresentar e analisar as ações que a Secretaria de Estado da Educação do Paraná - SEED/PR realiza para o acompanhamento da frequência escolar dos estudantes do ensino fundamental e médio, em situação de pobreza e extrema pobreza, beneficiários do Programa Bolsa Família. Estas ações foram orientadas pelo Ministério da Educação, o qual se embasa em documentos legais que dispõem sobre o funcionamento do referido programa instituído pela Lei nº 10.836/04, Decreto nº 5.209/04, os quais indicam que estas ações acontecerão intersetorialmente entre as áreas da Assistência Social, Educação e Saúde. Destacamos neste trabalho o processo de acompanhamento da frequência escolar, ação sob responsabilidade da área educacional, comprometendo os governos: federal, estadual e municipal, os quais de modo articulado realizam o acompanhamento individual dos motivos que ocasionaram as baixas frequências de crianças e adolescentes de 06 a 17 anos oriundos das famílias beneficiárias do PBF. As ações realizadas pelos técnicos pedagógicos dos Núcleos Regionais de Educação na articulação e apoio aos municípios tendem a efetivar um regime de colaboração entre os governos: federal, estadual e municipal, comprometendo-os na garantia do direito à educação dos estudantes. Em suas considerações finais, o relato explicita a importância do planejamento intersetorial na prevenção da baixa frequência e evasão escolar, dado que estas questões extrapolam a responsabilidade da área da educação. Palavras-chave: Programa Bolsa Família. Baixa Frequência Escolar. Direito à Educação. Políticas Públicas Intersetoriais. Regime de Colaboração. 1 Mestre em Educação na linha de Pesquisa em História e Políticas Educacionais -UEPG. Pós-graduada na Área de Linguagem-Alfabetização - UEPG. Graduada em Pedagogia e Letras - UEPG. Coordenadora Estadual do Programa Bolsa Família na Educação - SEED/PR. E-mail: [email protected]. 2 Pós-graduada em Gestão do Cuidado para uma Escola que Protege - UFSC. Graduada em Ciências Sociais UFPR. Interlocutora de Educação em Direitos Humanos /MEC/PR. Técnica Pedagógica - SEED/PR. E-mail: [email protected]. ISSN 2176-1396 5984 Introdução Na área de políticas públicas, a intersetorialidade constitui-se como uma possibilidade de superação de práticas fragmentadas, as quais não se coadunam com as responsabilidades do Estado de Direito no que tange à garantia e continuidade dos atendimentos fundamentais aos cidadãos brasileiros. Neste contexto, a política na área da assistência social exige a prática intersetorial como um dos seus princípios, pois propõe ações que se articulam com as áreas da educação e da saúde. Para tanto, o Programa Bolsa Família 3 (PBF) constitui-se referência nas práticas intersetoriais, propondo um trabalho conjunto entre as áreas da assistência social, educação e saúde, objetivando a condução e garantia dos direitos fundamentais. O programa regulamenta-se pela Lei nº 10.836/044, Decreto nº 5.209/04, caracterizando-se como uma ação de transferência condicionada de renda, de modo a beneficiar famílias em situação de pobreza e extrema pobreza. Ressaltamos que, no início do processo de implantação deste programa considerava-se como critério de seleção apenas renda familiar, atualmente, tem-se exigido, também, as condições de acesso destas pessoas e grupos familiares aos serviços fundamentais, o que pode ser traduzido como condicionalidades. Estas condicionalidades constituem-se exigências que integram o programa, geridas intersetorialmente entre o Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), Ministério da Educação (MEC) e Ministério da Saúde (MS). Nesta perspectiva, “as condicionalidades são compromissos assumidos tanto pelas famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família como pelo poder público. Em última instância, objetiva contribuir para o rompimento do ciclo intergeracional de transmissão da pobreza”. (Relatório Executivo, MEC, 2010, p. 03) Sendo assim, as condicionalidades da educação no PBF têm por objetivo a garantia do acesso e da permanência dos estudantes na faixa etária de 06 a 17 anos, e principalmente, incumbem aos gestores à obrigatoriedade do registro da frequência escolar. Na saúde, a condicionalidade estende-se à oferta de serviços para a realização do pré-natal pelas gestantes 3 A gestão administrativa do referido programa é de competência do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS. 4 Em julho de 2004 o Estado do Paraná celebrou com a União o Termo de Cooperação, objetivando sua Integração ao Programa Bolsa Família. Ainda em 2004, o estado estrutura a Secretaria do Trabalho e Promoção Social (SETS), a qual terá a incumbência de realizar parceria com o governo federal na implantação do Programa Fome Zero, tendo uma coordenação específica para fazer a gestão dos programas e recursos federais, coordenando, também, o Cadastro Único e o Programa Bolsa Família. No dia 26 de outubro de 2005, acontece a assinatura do Termo de Adesão ao processo de atualização do Cadastro Único de Programas Sociais e do Programa Bolsa Família. 5985 com idade entre 14 e 44 anos, bem como o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento de crianças de 0 a 06 anos. Em relação à assistência social, gestora do programa, esta tem a responsabilidade de acompanhamento das famílias beneficiárias que se encontram em situação de descumprimento às condicionalidades definidas pelo MDS. Ressaltamos, ainda, que as condicionalidades da educação são regidas pela Portaria Interministerial MEC/MDS nº 3789/04, a qual também se respalda na Constituição Federal de 1988 e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9394/96. Tais documentos retomam as atribuições e normas para o cumprimento das condicionalidades da frequência escolar no PBF, reiterando a responsabilidade do estado e da sociedade civil na concretização do direito à educação de estudantes em situação de pobreza e extrema pobreza. Destacamos a Portaria Interministerial MEC/MDS nº 3789/04, Art. 2º: A frequência escolar deverá ser apurada mensalmente pelos estabelecimentos regulares de ensino para verificação do índice mínimo de 85% (oitenta e cinco por cento) da carga horária mensal. [...] § 3º A obtenção, pelos alunos, de índices mensais de frequência escolar inferiores a 85% (oitenta e cinco por cento) deverá ser avaliada pelo dirigente do estabelecimento de ensino, com vistas à comunicação aos pais ou responsáveis no sentido de restabelecer a frequência mínima e, conforme o caso, informar ao Conselho Tutelar para as medidas cabíveis. (MEC/MDS nº 3789, 2004). Para além da responsabilidade dos gestores escolares o cumprimento das condicionalidades exigiu a pactuação federativa entre os governos: estaduais e municipais, de maneira a garantir o acompanhamento às famílias beneficiárias do PBF. Assim, fez-se necessária a implementação de um Plano de Metas, mobilizando todos pela Educação, no qual a união, os estados, o distrito federal e os municípios, em regime de colaboração, através de programas e ações objetivam a melhoria da qualidade da educação básica. Tal situação pode ser constatada no Decreto nº 6.094/07, Art. 2º, “a participação da União no Compromisso será pautada pela realização direta, quando couber, ou, nos demais casos, pelo incentivo e apoio à implementação, por Municípios, Distritos Federal, Estados e respectivos sistemas de ensino [...]”. A legitimidade desta ação exige a compreensão da proximidade entre os conceitos de regime de colaboração e o princípio federativo, preconizados na Constituição Federal de 1988. Significa dizer que ambos, regime de colaboração e princípio federativo só acontecem em relações horizontais entre governos: federal, estadual e municipal não comportando dominação e subordinação entre os entes federados. 5986 Num contexto em que há colaboração entre os governos, torna-se possível vislumbrar a descentralização de ações, bem como a implementação de políticas públicas que possuam zona de interseção ou confluências que conduzam às práticas intersetoriais. Desde a implantação do PBF em 2004, realizaram-se ações intersetoriais entre assistência social, saúde e educação nas três esferas de governo. Essa prática propiciou que estas instâncias de governo viessem a cooperar umas com as outras na proposição de planejamentos conjuntos para atendimento a objetivos comuns. Com base nestes dispositivos legais, salientamos que este relato de experiência objetiva analisar as ações propostas para a gestão do Programa Bolsa Família na Educação, período de 2011 a 2014 na Secretaria de Estado da Educação do Paraná – SEED/PR. Em 2011, a Diretoria de Políticas e Programas Educacionais/SEED assumiu a coordenação do processo de acompanhamento da frequência escolar no PBF, o qual estava sob responsabilidade do Departamento de Educação Especial e Inclusão Educacional. No PBF, a ação coordenada pelo Ministério da Educação através do Sistema Presença5, permite que o referido trabalho aconteça em regime de colaboração entre os governos. De modo a atender a estes propósitos, o (a) Secretário (a) Municipal de Educação, responsável por todas as ações de registro e acompanhamento da frequência escolar em sua jurisdição, indicará um técnico pedagógico que assumirá a função de Coordenador Municipal do PBF na Educação responsabilizando-se pelos estabelecimentos de ensino. No âmbito estadual, o (a) Secretário (a) de Estado da Educação constitui-se o responsável por esta ação em todo estado, indicando para esta função um técnico pedagógico que responderá pela Coordenação Estadual do PBF na Educação, tendo o compromisso de orientar e apoiar os municípios nas ações referentes ao programa. A efetivação deste trabalho exigiu a construção de um plano de ação estadual, o qual possui como um dos principais objetivos a redução da baixa frequência escolar, bem como a prevenção a situações de abandono e evasão escolar. O estabelecimento deste plano de ação aconteceu por ocasião da realização do I Seminário Estadual da Frequência Escolar no PBF, ocorrido em outubro de 2011 e tendo como público-alvo os técnicos pedagógicos atuantes nos trinta e dois (32) Núcleos Regionais 5 Sistema Presença – sistema de acompanhamento e coleta da frequência escolar dos alunos beneficiários do PBF. Construído pela área de tecnologia (TI) do MEC, sob as orientações da SECAD/MEC, trouxe significativos avanços, porque foi construído em plataforma web e disponibilizado aos 5.563 municípios brasileiros e ao Distrito Federal sem necessidade de instalação de aplicativos. Através da contribuição dos parceiros municipais e estaduais o Sistema Presença é aperfeiçoado constantemente. 5987 de Educação (NRE). Além destes, estiveram presentes os trezentos e noventa e nove (399) Coordenadores Municipais do PBF na Educação, responsáveis pelo acompanhamento da frequência escolar junto ao Sistema Presença/MEC. Tendo em vista a necessidade de articulação entre os técnicos, apresentaram-se ações comuns de acompanhamento à frequência escolar, a partir de demandas propostas pelos participantes. Na sequência, estes indicativos integraram o plano estadual com ações e metas que objetivaram a redução da baixa frequência e evasão escolar. A execução e avaliação ocorreram através de encontros presenciais e a distância, com a participação dos técnicos nas áreas da educação, saúde e assistência social. Apresentaremos, a seguir, detalhes das ações propostas neste plano, com vistas a garantir o direito à educação dos estudantes que se encontram em situação de pobreza e extrema pobreza. Desenvolvimento Nas ações propostas pelo Programa Bolsa Família a área da educação atua como parceira, sendo assim, ao mesmo tempo em que atende aos termos estabelecidos pelo programa cumpre, também, com os indicativos de sua própria legislação, no que tange ao direito à educação, fato que se comprova nos Arts. 205 e 206 da Constituição Federal de 1988. Art. 205 – A educação direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania [...]. Art. 206 – O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I – igualdade de condições para acesso e permanência na escola [...]. O direito à educação e a igualdade de condições para a permanência na escola, mencionados acima, são, também, garantidos no cumprimento da condicionalidade do PBF na educação, efetivando-se através do Sistema Presença com procedimentos e regras estabelecidas entre MEC e MDS, as quais proporcionam o constante diálogo entre os ministérios, bem como o repasse de dados e informações confiáveis sobre os estudantes oriundos de famílias beneficiárias do PBF. Sendo assim, nos casos em que se constata a baixa frequência escolar desses estudantes, faz-se necessário a indicação dos motivos que ocasionaram essa ausência. O instrumento utilizado para averiguação dessas situações denomina-se Tabela de Motivos da 5988 Baixa Frequência6, na qual se elencam vinte e quatro (24) motivos com descrições de questões sociais que impedem o acesso e permanência à escola. Importante, ainda, destacar que a identificação desses motivos colabora com ações preventivas às situações de evasão escolar, tais questões induzem, também, às práticas intersetoriais envolvendo a Coordenação Municipal Intersetorial do PBF e a Rede de Proteção Social da Criança e do Adolescente. A execução deste trabalho exige o estabelecimento do regime de colaboração entre os entes federados, neste caso a proposição do Sistema Presença pelo MEC permite ações articuladas entre os governos: federal, estadual e municipal, através dos diferentes papéis e funções destes no processo de acompanhamento da frequência escolar. Em 2011, a SEED/PR organizou o 1º Seminário Estadual de Acompanhamento da Frequência Escolar, sendo reeditado em 2012 e 2013, atendendo aos trezentos e noventa e nove (399) municípios do estado do Paraná e aos técnicos dos NRE, responsáveis pelo acompanhamento da frequência escolar no PBF, dando origem às demais ações que vieram a compor o plano estadual, conforme tabela 1. Ação Tabela 1: Formações realizadas no período de 2011 a 2014 - SEED Objetivo Público Alvo Data Seminário Estadual do Programa Bolsa Família na Educação Proporcionar aos representantes municipais e regionais a participação em discussões sobre o funcionamento do PBF na Educação Coordenadores Municipais do PBF na Educação e Técnicos Pedagógicos dos NRE 2011, 2012 e 2013 Encontro Regional Possibilitar aos responsáveis pelo PBF o planejamento de ações intersetoriais Coordenadores Municipais do PBF (Assistência Social, Saúde e Educação) 2013 e 2014 Webconferência Orientar os técnicos pedagógicos dos NRE sobre suas funções junto ao PBF Técnicos Pedagógicos dos NRE (responsáveis pelo PBF na Educação) 2011 a 2014 Videoconferência Subsidiar aos gestores escolares sobre o processo de acompanhamento da frequência escolar PBF Gestores Escolares das Redes Estadual e Municipal 2013 e 2014 Criação de Senha SERE Possibilitar aos Coordenadores Coordenadores 2012 6 O Sistema de Acompanhamento da Frequência Escolar (Sistema Presença) disponibilizou aos seus usuários tabela específica intitulada “Tabela de Motivos da Baixa Frequência”, com o objetivo de caracterizar INDÍCIOS, para posterior identificação real, das causas que estariam provocando a baixa frequência do estudante. 5989 WEB Municipais do PBF na Municipais do PBF na Educação acesso restrito no Educação SERE WEB Inserção do documento Incluir no documento de Coordenadores de transferência transferência a informação Municipais do PBF na sobre aluno beneficiário do Educação PBF Fonte: Dados organizados pelas autoras com base nas formações realizadas - 2011/2014. 2012 Este seminário constituiu-se principal ação deste plano, por possibilitar aos representantes dos municípios e aos responsáveis regionais, discussões sobre os desafios em relação ao trabalho com o PBF na Educação. Naquele momento, os participantes estaduais preocupavam-se em compreender suas funções, conforme o estabelecido na Portaria Interministerial 37894, Art. 7. Inciso I, parágrafo IV “apoiar os municípios na implantação do sistema de frequência escolar, com vista ao acompanhamento dos alunos”. As discussões dos técnicos pedagógicos das regionais, com os representantes de cada município, resultaram no planejando de ações a serem executadas culminando na realização dos Encontros Regionais do PBF. Em 2012, esses encontros aconteceram somente com a área da educação, sendo coordenados pelos técnicos pedagógicos junto aos municípios jurisdicionados aos seus NRE. Na continuidade desta ação constatou-se a necessidade da presença dos responsáveis técnicos das áreas da assistência social e da saúde, fato que se concretizou nos encontros realizados em 2013 e 2014, fomentando práticas intersetoriais, conforme o estabelecido no Decreto 5.209/04 no Arts. 4 e 14: Art. 4 - V - promover a intersetorialidade, a complementaridade e a sinergia das ações sociais do Poder Público. Art. 14. Cabe aos Municípios: I - constituir coordenação composta por representantes das suas áreas de saúde, educação, assistência social e segurança alimentar, quando existentes, responsável pelas ações do Programa Bolsa Família, no âmbito municipal. A retomada das coordenações municipais proporciona a constante interlocução entre os gestores municipais, os quais passam a elaborar seus planos de ação em conjunto. Este processo foi orientado pela coordenação estadual do PBF na Educação e demais representações estaduais, fomentando a realização das reuniões com as coordenações municipais intersetoriais do PBF. 5990 Ainda neste contexto e acolhendo as demandas regionais e municipais, a representação estadual do PBF na educação, propôs a inserção de um campo para registro sobre a situação do estudante beneficiário do PBF no documento de transferência, objetivando a localização destes. Outra ação que atendeu a este propósito constituiu-se da criação e disponibilização de uma senha, do Sistema Estadual de Registro Escolar 7, aos coordenadores municipais, a fim de que tivessem mais um recurso para atender às situações dos estudantes não localizados. As webconferências e as videoconferências objetivaram formar e informar os responsáveis pelo monitoramento da frequência escolar no PBF. Em relação às webconferências, o trabalho direcionou-se à formação dos técnicos pedagógicos dos NRE, quanto às Videoconferências estas pautaram assuntos que tinham o propósito de orientar os gestores escolares no registro e acompanhamento da frequência escolar, ressaltando os encaminhamentos aos motivos que ocasionaram as faltas destas crianças e adolescentes. Neste trabalho, registramos ainda, a importância do Sistema Presença/MEC e seus relatórios, os quais permitiram que em cada período de acompanhamento pudéssemos analisar as situações de ausências e presenças dos estudantes beneficiários PBF. Para tanto, destacamos as tabelas 2 e 3, as quais apresentam dados sobre as situações de cumprimento, descumprimento e sem informação. Tabela 2: Relatório Gerencial com dados da coluna dos estudantes PBF sem informação - Frequência Escolar mínima exigida 85% (6 a 15 anos) ANO Total de Alunos Porcentagem 2011 - 5 Períodos 57.965 10,41 % 2012 - 5 Períodos 42.356 8,11 % 2013 - 5 Períodos 30.747 6,22 % 2014 - 3 Períodos 31.037 6,46 % Fonte: Dados organizados pelas autoras com base nos relatórios do Sistema Presença – 2011/2014. 7 O Sistema Escola (SERE WEB) é um Sistema de Informações voltado para a coleta, tratamento e disseminação de informações para o planejamento e gerência do processo educacional. É composto por um Módulo onde cada Escola da rede realiza seus cadastros de alunos, turmas, avaliações, movimentações e outras informações necessárias, denominado Sistema Escola. Uma base gerencial armazena, trata e distribui as informações conforme a demanda, tanto em nível Estadual como Federal e Municipal. 5991 Tabela 3: Relatório Gerencial com dados da coluna dos estudantes PBF sem informação - Frequência Escolar mínima exigida 75% (16 e 17 anos) ANO Total de Alunos Porcentagem 2011 - 5 Períodos 11.812 25,89 % 2012 - 5 Períodos 19.530 25,96 % 2013 - 5 Períodos 15.426 22,04 % 2014 - 3 Períodos 15.481 21,65 % Fonte: Dados organizados pelas autoras com base nos relatórios do Sistema Presença – 2011/2014. Em relação ao item sem informação, destacamos que este indicativo exigiu maiores intervenções, dado tratar-se de estudantes que não receberam o registro da frequência escolar, seja porque os gestores escolares não o fizeram, ou porque não foi possível identificar os locais onde estavam matriculados. Este fato tende a gerar o descumprimento da condicionalidade da educação, exigindo a proposição de planejamento intersetorial. Contudo, constatamos, através dos relatórios do Sistema Presença/MEC, que no período de 2011 a 2014, o número de estudantes sem informação vem diminuindo, gradativamente, fato que se deve ao conjunto de ações desenvolvidas por ocasião do plano estadual. Considerações Finais O plano de ação da Coordenação Estadual do Programa Bolsa Família na Educação, período de 2011 a 2014, foi construído a partir de demandas indicadas pelos Coordenadores Municipais do PBF na Educação, durante as edições dos Seminários Estaduais de Acompanhamento da Frequência Escolar no PBF, objetivando a redução das situações de baixa frequência e evasão escolar. Esta ação ocorreu articuladamente entre as três esferas de governo atendendo ao regime de colaboração disposto na Lei n. 9394/96, Art. 8, parágrafo 1º, “a União, os Estados, o Distrito Federal e os municípios organizarão em regime de colaboração, os respectivos sistemas de ensino”. A complexidade das situações de baixa frequência e evasão escolar exigiu a adoção do regime de colaboração entre os governos, possibilitando aos estudantes, em situação de pobreza e extrema pobreza, suas permanências nos espaços escolares. Todavia, neste processo existiram muitos desafios, dentre os quais citamos a tentativa de hierarquizar as relações entre os profissionais responsáveis pelo acompanhamento da 5992 frequência escolar PBF. Este fato, por diversas vezes, inviabilizou o desenvolvimento das ações propostas pelo programa, pois a hierarquização aniquila o regime de colaboração, o qual prescinde da parceria entre os envolvidos. Constatamos que, esta questão indica a necessidade de formação continuada dos profissionais da educação, com o intuito de proporcionar discussões e reflexões sobre a legislação educacional, tendo em vista que os sistemas e as redes de ensino devem atuar em regime de colaboração, reconhecendo o direito à educação. Ainda sobre isto, Cury (2005, p. 20) afirma: O direito à educação parte do reconhecimento de que o saber sistemático é mais do que uma importante herança cultural. Como parte do patrimônio cultural, o cidadão torna-se capaz de se apossar de padrões cognitivos e formativos pelos quais tem maiores possibilidades de participar dos destinos de sua sociedade e colaborar na sua transformação. Ter o domínio de conhecimentos sistemáticos é também um patamar sine qua non a fim de poder alargar o campo e o horizonte desses novos conhecimentos. Reiteramos as palavras de Cury (2005) à medida que, também, compreendemos a importância da educação formal na mudança do ciclo geracional de pobreza, transformando as pessoas em cidadãs capazes de contribuir com os movimentos da sociedade. Outro desafio a ser considerado, refere-se ao princípio da intersetorialidade, objeto da área da assistência social, pois a partir da Constituição Federal de 1988 apresenta suas ações e programas numa relação federativa entre estados e municípios. Sobre isto Tumelero (2013, p. 01) assim se expressa: No Estado brasileiro – democrático e de direito – afirmado pela Constituição Federal de1988, o indicativo de ações governamentais integradas intersetorial e interinstitucionalmente constitui diretriz para várias políticas públicas destinadas a assegurar direitos. Apesar disto, as práticas intersetoriais ainda figuram como processos inovadores experimentais viabilizados na maioria das situações pelo interesse dos atores que executam tais políticas e menos por uma decisão política de governo - são poucas as experiências em que administrações municipais optam por um desenho de governo pautado na intersetorialidade. Esta situação se assemelha aos processos de implantação e implementação do PBF, no que tange à gestão das condicionalidades, pois se faz necessária a constituição de comitês, coordenações intersetoriais, a fim de que possam com efetividade realizar este acompanhamento, incluindo as áreas da assistência social, da saúde e da educação nas três esferas governamentais. 5993 As dificuldades dos governos municipais em propor ações intersetoriais em seus planos de governo devem-se à inabilidade de planejar intersetorialmente suas ações em âmbito municipal. Na perspectiva federal, constatamos a efetivação de práticas intersetoriais delineadas por meio de um planejamento governamental, a qual objetiva a orientação e o acompanhamento aos municípios (TUMELERO, 2013, p. 01). Apesar das dificuldades, por ocasião, dos processos de implementação das ações intersetoriais consideramos relevante as experiências dos municípios, e no caso específico a do Programa Bolsa Família. Deste processo, destacamos a constituição de espaços formais, comitês, fóruns, coordenações, entre outros, efetivando a gestão das condicionalidades do PBF e reconhecendo a intersetorialidade como requisito para inserção das políticas setoriais. Nesta perspectiva, o programa proporciona a complementação de renda aos seus beneficiários e possibilita, por meio das condicionalidades, o exercício dos direitos sociais nas áreas da educação, da saúde e da assistência social. Apesar das dificuldades em relação ao funcionamento do regime de colaboração e a compreensão sobre importância da intersetorialidade nas políticas públicas de combate às diversas situações de pobreza, consideramos relevante as ações de acompanhamento da frequência escolar PBF, uma vez que esse processo antecipa e previne situações de baixa frequência e evasão escolar das crianças e dos adolescentes oriundos de famílias desprovidas de suas cidadanias. REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição (1988). Constituição da Republica Federativa do Brasil. São Paulo Saraiva, 2007. _______. Lei n 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial da União, Brasília, 23 de dezembro de 1996. _______. Decreto nº 5209, de 09 de janeiro de 2004. Brasília, 2004. Disponível em: http://presrepublica.jusbrasil.com.br/legislacao/97392/decreto-5209-04. Acesso em: 11 ago. 2015. ________. Lei 10.836, de 09 de janeiro de 2004. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/lei/l10.836.htm. Acesso em: 11 ago. 2015. ________. Ministério da Educação. Portaria nº 3789, de 17 de novembro de 2004. Estabelece atribuições e normas para o cumprimento da condicionalidade da frequência escolar no 5994 Programa Bolsa Família. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, Edição nº 221 de 18 de novembro de 2004. ________. Decreto nº 6094, de 24 de abril de 2007. Brasília, 2007. Disponível em: http://presrepublica.jusbrasil.com.br/legislacao/94807/decreto-6094-07. Acesso em: 11 ago. 2015. _________. Ministério da Educação. Relatório Executivo: Acompanhamento da Frequência Escolar de Crianças e Jovens em vulnerabilidade – Condicionalidade do Programa Bolsa Família. Brasília, 2010. CURY, Carlos, Roberto, Jamil. Os fora de série na escola. 1ª ed. Campinas: Autores Associados, 2005. 90 p. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Portal Dia a Dia Educação. Sistema Estadual de Registro Escolar. Disponível em: http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=22. Acesso em:13 ago. 2015. TUMELERO, Silvana Marta. Intersetorialidade nas políticas públicas. Congresso "Ciências, Tecnologías y Culturas. Diálogo entre las disciplinas del conocimiento: Mirando al futuro de América Latina y el Caribe". Santiago, Chile: Universidad de Santiago de Chile Instituto de Estudios Avanzados, 07 a 10 de janeiro de 2013.