DESAFIOS DA EXPERIMENTAÇÃO NO ENSINO DE QUÍMICA
Valdiane Araújo SANTANA
Graduada em Ciências Naturais (UEPA) e Especialista em Metodologia do Ensino de Biologia e Química
(Uninter). Atua como secretária em uma escola da rede estadual. Email: [email protected]
Alan Ripoll ALVES
Licenciado em Ciências Biológicas (UFC) e Doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento (UFPR). Atua como
pesquisador no Programa de Pós-Graduação em Turismo (PPGTurismo) da UFPR e no Programa de PósGraduação em Gestão Urbana (PPGTU) da PUC - PR. E-mail: [email protected]
RESUMO
O presente trabalho mostrou o desafio dos professores na utilização de aulas experimentais
dentro do ensino de Química, nas principais escolas públicas de Ensino Médio, no município
de Barcarena - PA, dentro da abordagem de temas que iam desde o despreparo do corpo
docente até a falta de infraestrutura nas escolas, como a ausência de um laboratório de
química. Para a análise dessa problemática, foram aplicados questionários a 40 alunos, sendo
20 do 1º ano e 20 do 3º ano do Ensino Médio, com o intuito de investigar a opinião deles
acerca das aulas de química e do uso da experimentação como recurso didático pelo professor.
Também foram aplicados questionários aos professores desses alunos, objetivando averiguar
as dificuldades encontradas na inserção de aulas práticas nas respectivas escolas. Os
resultados mostraram que os alunos ansiavam por aulas práticas, ainda que para muitos não se
dispusesse de recursos alternativos. A pesquisa também demonstrou que os professores não
inseriam essas aulas no plano de suas disciplinas devido à defasagem de infraestrutura, assim
como à falta de tempo para o planejamento dessas atividades. Perante essa perspectiva, o
trabalho discutiu a possibilidade de se inserir atividades práticas com métodos simples e de
baixo custo nas aulas de química das instituições analisadas, os quais possibilitassem uma
melhor compreensão, assimilação e aprendizado por parte do aluno nos contextos em que se
encontram inserido.
Palavras-chave: Aulas práticas de química. Recursos alternativos. Processo de ensino-aprendizagem.
1 INTRODUÇÃO
A Química é uma disciplina que faz parte do programa curricular do ensino
fundamental e médio. A aprendizagem de Química deve possibilitar aos alunos a
compreensão das transformações químicas que ocorrem no mundo físico de forma abrangente
e integrada, para que os estes possam julgar, com fundamentos, as informações adquiridas na
mídia, na escola, com pessoas, etc. A partir daí, o aluno tomará sua decisão e dessa forma,
interagirá com o mundo enquanto indivíduo e cidadão (PCNs. MEC/SEMTEC, 1999).
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Como ciência experimental, a Química vem se aperfeiçoando ao longo dos séculos,
desde as práticas com a alquimia em busca do elixir da vida até hoje com as descobertas e
domínios dos elementos químicos, um estudo essencial para o Ensino Médio.
Na Rede Regular de Ensino, esta disciplina ainda é tratada de forma tradicional,
sendo a experimentação opcional por iniciativa das escolas, por escolha do professor ou em
último caso por imposição, já que em muitos Estabelecimentos de Ensino não existe o
laboratório de aulas práticas.
As atividades experimentais desenvolvidas no laboratório ou até mesmo na sala de
aula são fundamentais para complementar a aula teórica, fixando ainda mais o conhecimento
no aluno, além de despertar o interesse visto que ainda esta disciplina causa aversão a alguns
estudantes, criando barreiras no aprendizado.
Os desafios que o professor encontra para desenvolver a experimentação no ensino
de Química são suficientes para que esta se torne totalmente teórica. Esta pesquisa mostra que
a inexistência do laboratório ou de recursos como vidrarias e outros equipamentos são os
principais motivos que levam o docente a optar por este tipo de metodologia, nesta visão, este
trabalho justifica que é possível utilizar a experimentação, alcançar resultados satisfatórios
para o aprendizado do discente e permitir que o aluno construa seu próprio conhecimento.
2 OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
Analisar os principais desafios enfrentados pelo professor de química nas aulas
práticas de química das principais escolas públicas do Ensino Médio, no município de
Barcarena PA.
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Discutir a experimentação com recursos alternativos para atenuar as limitações
laboratoriais;

Propor sugestões às principais práticas usadas na experimentação dentro do cenário
considerado; e
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
Discutir a importância das aulas práticas sob a perspectiva de aprendizagem dos
alunos.
3 METODOLOGIA
A primeira etapa desse trabalho consistiu em um levantamento teórico com os
principais trabalhos sobre as metodologias aplicadas no ensino da química experimental, uso
do laboratório no ensino médio e recursos alternativos, com a consulta de trabalhos, livros,
artigos, sites e materiais de divulgação. Em seguida, foram analisadas as principais propostas
de atenuar as dificuldades enfrentadas pelos professores na aplicação das aulas práticas e a
contextualização desses dados com a realidade vivenciada pelos professores e alunos do
Ensino médio no município de Barcarena - PA, visando auxiliar e propor metodologias para
melhorar o desempenho dos alunos.
Diante dessa realidade, no processo de ensino-aprendizagem atual, propôs-se nessa
etapa uma investigação nas principais escolas de Ensino Médio de Barcarena, acerca da
existência e conservação dos laboratórios de Química. Essa investigação deu-se na aplicação
de um questionário aos alunos que estavam iniciando o 1º ano do Ensino Médio em 2014, e a
alunos que estavam concluindo o 3º ano do Ensino Médio no mesmo ano. Além disso, foi
aplicado um questionário aos professores de Química dessas escolas, com o objetivo de saber
se os mesmos utilizavam o recurso da experimentação e quais eram os desafios encontrados
no ensino dessa disciplina.
4 RESULTADOS E DISCUSÃO
O questionário foi aplicado a 40 alunos de três escolas públicas do Ensino Médio do
município de Barcarena, sendo 20 alunos do 1º ano e 20 alunos do 3º ano, com os principais
questionamentos: a opinião deles sobre as aulas teóricas de química; se eles já tiveram aulas
práticas; o que essas aulas melhorariam na sua vida de estudante e se os mesmos teriam
interesse em aulas experimentais simples mesmo que fossem somente dentro da sala de aula.
Dentre os alunos entrevistados do 1º ano, 50% deles consideraram as aulas teóricas
de química regular, 20% consideram-nas péssimas e 30%, ótimas. Todos eles nunca tiveram
aulas práticas nas suas escolas e também todos concordam que as aulas ficariam mais
interessantes e melhorariam no desempenho escolar se fossem práticas e consequentemente,
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gostariam de ter aulas experimentais simples envolvendo conteúdo do seu cotidiano mesmo
que fosse dentro da sala de aula.
Dos alunos do último ano do 3º ano do Ensino Médio, 60 % consideraram as aulas
teóricas de química ótimas, 20% consideram-nas regulares e 20%, péssimas. Desses
entrevistados apenas dois de 20 alunos já tiveram algum tipo de aula experimental durante
todo o seu percurso no Ensino Médio, o que não significou que foram nas respectivas escolas
entrevistadas. Novamente, a totalidade dos alunos se revelou acreditada que com a inserção
das aulas experimentais, as aulas ficariam mais interessantes e melhoraria o desempenho
escolar, portanto, todos também concordaram que gostariam de ter aulas experimentais
simples.
Aplicou-se também um questionário a quatro professores de química de três escolas
diferentes, os principais questionamentos foram: Se eles utilizavam o laboratório de química;
porque eles não usavam e quais recursos eram empregados para a complementação das suas
aulas. Todos foram unânimes em responder que não faziam uso do laboratório de química. Os
motivos apontados foram: a inexistência desse espaço em uma das escolas; falta de
equipamentos como reagentes, vidrarias e outros materiais necessários e para complementar, a
falta de tempo para planejar essas atividades. Todos os professores concordaram que a
utilização de recursos alternativos melhoraria a motivação e a participação dos alunos, porém,
nenhum deles utilizava esses recursos, optando por recorrer a vídeos, datashow, artigos e
revistas nas suas aulas totalmente teóricas.
Os dados obtidos mostraram que os estudantes desconheciam as atividades práticas
da disciplina de química e que gostariam de ter essas atividades, porém, as dificuldades
apresentadas pelas docentes nas suas escolas eram inúmeras e eles acabavam impondo essa
situação aos seus alunos e se conformando com essa realidade mutável.
A pesquisa confirmou que seria possível o uso dessas atividades práticas perante
essas dificuldades, com métodos simples e de baixo custo, fazendo com que os alunos se
sentissem mais motivados e instigados a construir seu próprio conhecimento e que, apesar do
despreparo de alguns docentes e limitações das escolas, mostrava-se relativamente acessível
simples a aplicação dessas metodologias e os seus resultados eram majoritariamente
satisfatórios, pois auxiliavam o aluno na compreensão mais didática dos fenômenos químicos.
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5 CONCLUSÕES
A partir da análise dos resultados das entrevistas percebeu-se que o ensino de
química, nas instituições de ensino médio consideradas, estava sendo ministrado somente de
forma teórica, apesar de alguns professores alegarem que utilizavam outros recursos, porém,
não através da prática experimental.
A opinião dos alunos nessa análise é bem clara: todos gostariam de ter a prática da
experimentação, o que evidenciou que o ensino de química nessas escolas estava com baixo
reconhecimento na opinião dos alunos que estavam iniciando essa disciplina, o que
evidenciaria possíveis bloqueios e rejeição. As atividades complementares enriquecidas pela
experimentação poderia fazer com que melhorasse essa opinião e consequentemente a
aprendizagem dos estudantes.
Outra situação questionada pelos alunos foi a forma tradicional de ensinar que ainda
permanecia em algumas escolas, o professor se sentia apenas um reprodutor das mesmas
didáticas conservacionistas desses estabelecimentos. Rosenau e Fialho (2008, p. 39)
buscavam explicar tal situação, mencionando que:
Ensinar Química de maneira inovadora não é uma tarefa muito fácil; requer atitude,
força de vontade, tempo e muito estudo uma vez que o professor encontra muitas
dificuldades, desde a falta de materiais didáticos atuais que estejam condizentes com
os avanços tecnológicos até a disponibilidade de um laboratório preparando com os
devidos aparelhos e substâncias para a realização de aulas práticas.
Diante dessas situações, o professor deveria buscar mais conhecimento através de
estudos continuados, cursos, pesquisas e troca de experiências com os demais profissionais da
área para inserir em suas aulas a experimentação com recursos alternativos, porém, não seria
uma tarefa fácil, pois requereria muita criatividade, interesse e compromisso da parte do
professor, mas os resultados serão alcançados, pois a experimentação alternativa seria um
ensino inovador que melhoraria a compreensão dos alunos, facilitando o processo de ensinoaprendizagem.
O papel do educador, seja ele recém-formado ou veterano, nas práticas de ensino é
de ser um facilitador desse processo, o que se torna um desafio perante a tanta dificuldades,
que vão desde a falta de tempo até a falta de laboratórios para as atividades de química, o que
acabam desmotivando os novos professores e gerando conformismo nos professores mais
experientes.
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Ao invés do professor responsabilizar a realidade da escola como responsável pelo
seu método conservacionista, ele poderia optar por alternativas que desenvolvessem o ensino
inovador e construtivista, com habilidade e interesse, agindo de forma flexível a realidade
escolar, inserindo assim as práticas alternativas de maneiras simples e que fizessem parte do
cotidiano dos seus alunos. Sabe-se também que as maiorias das escolas públicas brasileiras
preferem adotar um ensino de química eminentemente teórico afastando-se totalmente das
realizações práticas, dando como desculpa o alto custo de formação e manutenção dos
laboratórios. Uma alternativa para esse problema é a experimentação de baixo custo,
utilizando materiais alternativos ou recicláveis, uma forma barata e de fácil aquisição para
resolver esse problema (CHRISPINO, 1986).
Com a alternativa de desenvolver experimentos ligados ao cotidiano dos alunos e ao
mesmo tempo condizentes com os conteúdos programáticos de Química de uma maneira mais
didática, seria possível, tornar os alunos mais participativos e conscientizados sobre a
diversidade da química que os cercam.
Portanto, os resultados deste trabalho mostraram a realidade do ensino de química
em algumas escolas públicas e que a contextualização de atividades experimentais simples
são práticas possíveis e essenciais para o desenvolvimento do aluno, da didática do professor
e também da escola, modernizando as práticas pedagógicas oque facilitou o processo de
ensino-aprendizagem.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) – Ensino
Médio, 1999.
CHRISPINO, A. Ensinando Química Experimental com Metodologia Alternativa. Revista
Química Nova, São Paulo: Editora Química Nova, p.187-191, 05 abr. 1986.09.
ROSENAU, L. S.; FIALHO, N. N. Didática e avaliação da aprendizagem em química.
Curitiba: Ibpex, 2008. 39-40 p.
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