USO DA EXPERIMENTAÇÃO NAS AULAS DE QUÍMICA DAS ESCOLAS
PÚBLICAS DO MUNICÍPIO DE ARARUNA/PB
1
2
Deoclecio Ferreira de BRITO , José Erlandro Cardoso de LIMA , Janimery do Nascimento RIBEIRO
3
1
Professor do Departamento de Ciências da Natureza, Universidade Estadual da Paraíba-UEPB, Campus VIII,
Araruna-PB, Brasil. E-mail: [email protected]. Telefone: (83) 9673-0889.
2
Graduando em Licenciatura em Ciências da Natureza, Universidade Estadual da Paraíba-UEPB, Campus VIII,
Araruna-PB, Brasil. E-mail: [email protected]. Telefone: (83) 9938 5938.
3
Graduando em Licenciatura em Ciência da Natureza, Universidade Estadual da Paraíba-UEPB, Campus VIII,
Araruna-PB, Brasil. E-mail: [email protected]. Telefone: (83) 9677-2705.
RESUMO
Muito se discute no ramo das ciências da natureza (Química, Física e Biologia) o importante papel da
experimentação no processo de ensino e aprendizagem bem como na motivação e no interesse dos
alunos para o estudo de ciências. Porém, é do conhecimento de muitos a falta de aulas experimentais
nas escolas da rede pública seja elas municipais ou estaduais. Diversos são os fatores que os
professores colocam como justificativa do não uso desse método no processo de ensino e
aprendizagem, como por exemplo, a falta de laboratórios e reagentes específicos. Este trabalho teve
por objetivo investigar o uso da experimentação e a concepção dos professores de Ciências do 9º
ano do ensino fundamental e nas três séries do ensino médio de escolas públicas do município de
Araruna/PB sobre a mesma. A pesquisa de caráter investigativo e analítico foi realizada em escolas
públicas do município de Araruna/PB e para a coleta de dados foi aplicado um questionário aos
professores acima citados. Foram 8 (oito) professores que responderam ao questionário e pôde-se
observar que 100% acham que a experimentação é um recurso muito importante para a melhoria do
processo de ensino e aprendizagem em química. Dentre os entrevistados, 50% faz pouco uso da
experimentação em suas aulas, 25% não a utilizam e apenas 25% usam com frequência. Diante dos
resultados obtidos, pôde-se concluir que apesar dos professores acharem a experimentação um
recurso importante para o processo de ensino e aprendizagem, poucos fazem uso frequente do
mesmo.
PALAVRAS CHAVE: Experimentação, ensino de química, ensino aprendizagem.
1 INTRODUÇÃO
A experimentação desperta um forte interesse entre alunos de diversos níveis
de escolarização, sendo bastante comum ouvir de professores a afirmativa de que a
experimentação aumenta a capacidade de aprendizado, pois funciona como meio de
envolver o aluno nos temas em discussão e comprovar a teoria sobre os mesmos.
Segundo Bueno et. al (2011), “a função do experimento é fazer com que a teoria se
adapte à realidade [...]”. Porém, o uso da experimentação no ensino de ciências de
escolas públicas ainda é muito precário e porque não dizer raro.
No município de Araruna – PB, onde está situado o Campus VIII da
Universidade Estadual da Paraíba, segundo relatos dos alunos do curso de Ciências
da Natureza desse Campus (em sua maioria alunos oriundos das escolas públicas
desse município), os professores de Ciências e Química da rede pública
praticamente não ministram aulas ou atividades experimentais, dificultando o
entendimento significativo e o gosto dos alunos pelas ciências naturais. Eles (alunos
do curso de Ciências da natureza) lamentam esse fato e evidenciam que os
conteúdos ministrados seriam bem mais significativos e motivadores com a presença
dessas atividades e almejam que a situação das aulas de ciências e Química no
município de Araruna/PB sofram transformações nesse sentido. Porém, para mudar
essa realidade é preciso que os professores sejam capacitados, pois grande parte
deles nem formação na área possuem (e mesmo assim ministram aulas de
ciências), e quando possuem, no entanto, as universidades frequentemente não os
capacitam para enfrentarem a falta de estrutura das escolas públicas e entenderem
o verdadeiro intuito da experimentação. Como conseqüência, nas poucas vezes que
utilizam experimentos em suas aulas, fazem apenas como motivação ou “show da
ciência” esquecendo que a experimentação tem um papel muito além e deve
contribuir para uma aprendizagem significativa, a qual é uma abordagem cognitivista
da construção do conhecimento. Segundo David Ausubel “é um processo pelo qual
uma nova informação se relaciona, de maneira substantiva (não literal) e não
arbitrária, a um aspecto relevante da estrutura cognitiva do individuo”. Os cursos de
formação de professores falham no momento em que consideram a atividade
experimental
como
um mero
recurso
pedagógico usado
para
facilitar
a
aprendizagem de conteúdos previamente selecionados e expostos pelo professor,
esquecendo que ela deve ser problematizadora, estimulando o aluno a pensar e
produzir o conhecimento. A maioria dos cursos universitários também prepara esses
professores apenas para realizarem experimentos em laboratórios e com
substâncias apropriadas, esquecendo que grande parte das escolas públicas não
possui esses recursos.
Fazer o uso da experimentação é trazer para a sala de aula aquilo que os
alunos já sabem pela teoria, fazendo com que os mesmos possam levantar
questionamentos em relação aos conteúdos das aulas teóricas. Segundo Guimarães
(2009), quando não há relação dos assuntos que os alunos já têm domínio com os
que estão aprendendo, não há uma aprendizagem significativa.
O uso dos métodos experimentais é uma forma de aperfeiçoar o aprendizado
dos alunos, pois estes terão acesso aos conteúdos mais de uma vez, uma teórica e
a outra na forma prática; fazendo, assim, com que os alunos possam fixar o
conteúdo de uma forma mais significativa. A aprendizagem significativa ocorre
quando uma nova ideia é adicionada a conceitos preexistentes na estrutura cognitiva
do estudante; é como uma ponte que liga aquilo que os alunos já sabem ao que eles
estão aprendendo (GUIMARÃES, 2009). A experimentação é, justamente, essa
ponte que liga a teoria à prática, ou seja, faz com que o aluno levante
questionamentos daquilo que ele já tem certo domínio, fazendo assim, a construção
do seu próprio conhecimento.
O professor que aplica uma aula experimental não deve trazer esta pronta e
já acabada, como um manual de uma receita qualquer, onde os alunos irão
reproduzir essa receita e obter um resultado sofisticado, um resultado já esperado.
Mas sim, trazer uma aula de experimentação onde os aprendizes possam levantar
indagações sobre os conteúdos referentes à aula experimental e assim contribuir
para que os mesmos possam aprender a aprender e não ter conceitos já prontos
referentes a determinados conteúdos.
De acordo com Alves Filho (1999), o Laboratório Demonstrativo é aquele
onde o professor atua de modo ativo e os alunos são apenas espectadores. É neste
ambiente aonde os professores atuam na realização dos experimentos e os
resultados ali obtidos são de interia responsabilidade do mesmo, e os alunos são
meros espectadores, ou seja, atuam passivamente. O professor não pode fazer das
aulas experimentais apenas aulas expositivas, onde são eles os agentes ativos, mas
sim deixar que os alunos manuseiem os equipamentos e participem ativamente da
aula experimental. Fazendo com que haja o contato diretamente do aprendiz com o
experimento ali realizado. Só assim o estudante terá a oportunidade de levantar
questionamentos em relação ao experimento. Ferreira (1978), já dizia que esse tipo
de aula experimental demonstrativa é interessante apenas para quem está
realizando (o professor) e não para os observadores (os alunos). É por isso que o
professor não deve levar aos estudantes apenas aulas demonstrativas e sim aulas
experimentais, onde possa haver a interação dos professores e dos estudantes na
realização dos experimentos.
Segundo Schwahn e Oaigen (2009), o uso de atividades experimentais pode
vir a ser o ponto de partida para a compreensão de conceitos e ideias discutidas em
sala de aula. Já para Amaral (1996) a própria essência da química é introduzir essas
atividades experimentais aos alunos, aonde estas, propiciam aos estudantes uma
melhor compreensão cientifica dos fenômenos ocorridos na natureza. A química por
particularidade própria é uma ciência experimental. Trabalhar com as substancias,
fazer com que os alunos aprendam a observar um experimento cientifico, fazer com
que os alunos descrevam o que observaram durante a reação, tudo isto leva a um
conhecimento/aprendizado definido (QUEIROZ, 2004).
Já é consenso que o uso de atividades experimentais é fundamental no
ensino de ciências. De fato, o uso de experimentos no ensino das ciências (química,
física, matemática) é essencial para tornar mais eficaz e aperfeiçoar o aprendizado
dos estudantes, seja qual for o nível de escolaridade.
Visto sua importância nas aulas de ciências e de Química e entendendo que a
experiência é um recurso capaz de assegurar uma transmissão eficaz dos
conhecimentos escolares (porém a falta de preparo dos professores faz com que
essa não seja uma prática constante nas escolas e o ensino de ciências e Química
acaba se tornando algo distante da realidade e do cotidiano do aluno), surge a
necessidade de se investigar se os professores da rede pública deste município
realizam aulas experimentais e diagnosticar os motivos dos mesmos não realizarem,
logo esse trabalho teve esse objetivo. Afinal, segundo Paulo Freire “a teoria sem a
prática vira 'verbalismo', assim como a prática sem teoria, vira ativismo. No entanto,
quando se une a prática com a teoria tem-se a práxis, a ação criadora e
modificadora da realidade”.
2 METODOLOGIA
A pesquisa foi realizada em duas escolas da rede estadual e uma da rede
municipal do município de Araruna/PB, cidade localizada no Curimatau paraibano.
Esta distante 165 quilômetros de João Pessoa, capital do estado da Paraíba, cerca
de 110 km de Campina Grande e a 120 km de Natal, capital do Rio Grande do
Norte.
A pesquisa teve caráter investigativo e analítico, sendo realizada com 8 (oito)
professores atuantes nos respectivos anos letivos, 9º ano do ensino fundamental II e
ensino médio (dos professores de ciências e química que atuam na zona urbana do
município de Araruna/PB apenas dois não participaram da pesquisa).
Para coletar os dados aqui obtidos fora aplicado um questionário onde
continha questões referentes ao uso ou não da experimentação em sala de aula e a
concepção destes professores sobre a experimentação e seu uso.
Para a tabulação dos dados se utilizou o programa EXCEL 2007, disposto no
pacote da Microsoft Office. A partir da aplicação do questionário, foi possível fazer
uma análise e verificar se os professores realizam ou não aulas experimentais e qual
a concepção dos mesmos sobre o tema.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na figura 1 é apresentada a porcentagem de professores que consideram a
experimentação um recurso importante no processo de ensino e aprendizagem.
Figura 1: Concepção da importancia da experimentação, segundo os professores
entrevistados.
É observado na figura 1 que todos os professores entrevistados consideram a
experimentação como uma ferrementa importante no processo de ensino
aprendizagem, porém como já citado no texto, poucos trabalham com a mesma nas
escolas públicas do município de Araruna, ou seja, consideram um recurso
importante mas não o utilizam com frequência. Fica a pergunta: onde estará a
dificuldade?
Foi perguntado aos professores qual é o papel e/ou importância da
experimentação no ensino de química. Como respostas praticamente todos
responderam que é importante para a motivação dos alunos e para comprovar as
teorias estudadas, e sabemos que a experimentação deve ter um papel bem além
disso. Apenas um professor frisou que a experimentação deve ser utilizada para
aumentar a visão crítica dos discentes e melhorar sua formação científica, dando
ênfase que a experimentação deve ser problematizadora, fazer os alunos pensarem.
Tentando responder a pergunta feita na discussão da Figura 1 perguntou-se
aos professores se os mesmos foram formados para enfretarem a realidade da
maioria das escolas públicas, as quais não dispoem de laboratórios, materiais e
reagentes para se trabalhar experimentação. O resultado é apresentado na Figura 2.
Figura 2: Porcentagem de professores que receberam formação para trabalhar a
experimentação mesmo sem laboratórios e reagentes, quando graduandos.
A Figura 2 mostra que 62,5% deles não foram preparados na graduação para
trabalharem nessas condições (com experimentação alternativa) e apenas 37,5%
receberam esse tipo de formação quando alunos de graduação. Em muito dos casos
os professores, quando graduandos, recebem uma excelente formação acadêmica
na disciplina de química experimental, mas para aplicar esse conhecimento em
laboratórios, esquecendo-se as universidades da verdadeira realidade das escolas
públicas. Logo já está mais do que na hora das coordenações dos cursos da área de
ciências se preocuparem com esse aspecto e lançarem no mercado professores
preparados para lidarem com essas limitações.
Em seguida foi perguntado aos professores se eles acreditam que se tivessem
tido essa preparação (que se refere a formação da pergunta anterior) suas aulas
seriam melhores. A resposta é apresentada na Figura 3.
Figura 3: Porcentagem de professores que teriam suas aulas melhores, caso tivessem tido
uma formação de como usar matérias de baixo custo nas aulas experimentais.
Observa-se na Figura 3, que os professores sentem a necessidade de uma
formação que os levem a trabalhar a experimentação com materiais alternativos,
percebem que com isso poderiam ter suas aulas melhoradas e como consequência
melhoraria também o processo de ensino e aprendizagem.
Na Figura 4 é apresentada a porcentagem de professores que fazem ou não
uso da experimentação nas suas aulas.
Figura 4: Resultado em porcentagem dos professores entrevistados que fazem uso da
experimentação em suas aulas de química.
Observa-se na Figura 4 que 75% dos professores entrevistados não
trabalham ou trabalham pouco com experimentação e apenas 25% declaram que
trabalham sim com a mesma. Realidade que segundo outros trabalhos e relatos de
alunos de escolas públicas não é muito diferente, ou seja, o uso da experimentação
em escolas públicas ainda é bastante escassa e em Araruna não é diferente.
Foi pedido aos professores que responderam que não utilizavam ou utilizam
pouco a experimentação que justificassem sua resposta, e como justificativas
surgiram: falta de laboratórios e substâncias específicas, extenso currículo da
disciplina não disponibilizando de tempo para realizar experimentação e um dos
entrevistados relatou que não realiza experimentos devido a falta de conhecimento
em relação ao tema. Visto isso, é preciso preparar esses professores e conscientizalos que a experimentação pode ser realizada na própria sala de aula e com material
alternativo (baixo custo) de fácil acesso aos alunos, contribuindo assim para
melhorar esse aspecto nas aulas de Ciências.
Na Figura 5 é apresentada a porcentagem de professores que declaram que
quando alunos (ensino fundamental e médio) seus professores utilizavam ou não a
experimentação em suas aulas.
Figura 5: Porcentagem de professores que tinham aulas experimentais quando cursavam o
ensino fundamental e médio.
Percebe-se na Figura 5 que apenas 12,5% dos professores declararam que
quando alunos da educação básica tinham aulas experimentais ou que os
professores realizavam periodicamente experimentos. Logo se percebe que eles
quando alunos tinham pouco ou nenhum contato com a experimentação e agora na
condição de professores continuam repassando o ensino de ciências da mesma
forma. Logo surge a necessidade de conscientizar e estimular os professores da
área de Ciências da importância de se trabalhar a experimentação em suas aulas e
se trabalhar de uma maneira correta e problematizadora e não apenas como o
“Show da Ciência”, só assim a mesma poderá contribuir para uma aprendizagem
significativa.
Também foi perguntado aos professores se os mesmos se interessariam caso
houvesse um curso para capacita-los a trabalharem com experimentação com
material alternativo (baixo custo). Os resultados são apresentados na Figura 6.
Figura 06: Professores que se interessam por uma capacitação para se trabalhar a
experimentação com materiais alternativos e de baixo custo.
Observa-se na Figura 6 que 100% dos professores se interessariam em fazer
um curso dessa natureza. Talvez seja isso que esteja faltando, estados e municípios
capacitarem melhor seus docentes, para que os mesmos possam preparar melhor
os seus alunos e assim garantirem uma melhoria na qualidade da educação e
consequentemente da sociedade.
4 CONCLUSÃO
Diante dos resultados obtidos pode-se concluir que são poucos os
professores de
escolas públicas da
cidade
de
Araruna/PB que utilizam
experimentação em suas aulas, mesmo 100% deles considerando-a importante para
o processo de ensino e aprendizagem e percebendo que a introdução da mesma em
sala de aula acarretaria numa melhora em suas aulas. Um dos motivos relatados foi
a falta de laboratórios e reagentes específicos, o que poderia ser solucionado se
utilizando experimentação com material alternativo. Porém, concluiu-se que os
mesmos não têm preparação nessa área, evidenciando a necessidade de que as
universidades se preocupem em capacitar seus alunos para trabalharem com as
limitações das escolas públicas e também a necessidade da introdução de políticas
públicas como formação continuada para os professores da rede pública, uma vez
que os professores participantes dessa pesquisa demonstraram grande interesse
em participarem de curso de formação na área de experimentação.
5 REFERÊNCIAS
BUENO, L. O ensino de química por meio de atividades experimentais: a realidade do
ensino nas escolas. Disponível em: www.unesp.br/prograd/ENNEP/Trabalhos%....Acesso
em: 23/03/2011.
GUIMARÃES, C. C., Experimentação no Ensino de Química: Caminhos e
Descaminhos Rumo à Aprendizagem Significativa, Química Nova na Escola. Vol.
31, N° 3, AGOSTO 2009. p. 198-202.
SCHWAHN, M. C. A., OAIGEN, E. R., Objetivos para o uso da experimentação
no ensino de química: A visão de um grupo de licenciandos, acesso em
10/09/2012, disponível em www.foco.fae.ufmg.br/pdfs/933.pdf.
ALVES FILHO, J. P. Regras da Transposição Didática Aplicadas ao Laboratório
Didático. In: II Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências (ENPEC),
1999, Valinhos, SP, Anais.
FERREIRA, N.C. Proposta de laboratório para a escola brasileira. Dissertação de
Mestrado. FEUSP-IFUSP, São Paulo, 1978.
AMARAL, L. Trabalhos práticos de química. São Paulo, 1996.
QUEIROZ, S. L. Do fazer ao compreender ciências: reflexões sobre o
aprendizado de alunos de iniciação científica em química. Ciência & Educação,
Bauru, v. 10, n. 1, 2004.
Download

USO DA EXPERIMENTAÇÃO NAS AULAS DE QUÍMICA DAS