ID: 61747161
07-11-2015
Tiragem: 27481
Pág: 17
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Diária
Área: 21,14 x 14,97 cm²
Âmbito: Informação Geral
Corte: 1 de 1
Médicos internos
do Hospital de Coimbra
recusam fazer urgência geral
ESCatatkAnestesistas em formação contestam turnos fora da especialidade e usam parecer da Ordem para os proteger. Unidade desconhece
DIANA MENDES
Os internos da especialidade de
anestesiologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
(CHUC) querem deixar de fazer urgências gerais a partir de dezembro,
alegando que põem em causa o regulamento do internato médico e
não contribuem para a sua formação. Para isso, decidiram enviar pedidos para que sejam excluídos das
escalas médicas. Esta é mais uma
tomada deposição dos internos do
hospital, que tem estado envolto
em várias polémicas. Ainda nesta
semana, o DN noticiou que dois intemos decidiram processar a unidade, por estarem a fazer mais horas extras do que o previsto na lei.
Um dos envolvidos no processo contou ao DN que "os médicos
já começaram a enviar cartas e
e- mails à direção de serviço. Estão
a pedir para ser excluídos da área
médica 1, que é a urgência generalista, alegando que as matérias
de formação cabem à Ordem dos
Médicos (OM)".
Ao todo, deverão participar nesta ação entre 15 e 20 internos, "ficando de fora os do primeiro ano,
que não fa7Pm urgência, e os do último, que já têm autonomia". Questionado pelo DN, o centro hospitalar respondeu que "desconhece" a
existência destes pedidos.
A ação está a ser preparada há algum tempo, já que os internos desta especialidade pediram à OM um
parecer sobre estas questões, nomeadamente sobre "os colegas que
estão a ser abrangidos compulsivamente nestas escalas". Além de estarem a ser colocados em demasia-
das escalas, queixam-se de estar a
ser integrados em funções que não
são as suas. "Para já, nem todos os
internos estão nas mesmas circunstâncias, já que há especialidades que não estão a ser abrangidas.
No nosso caso, estamos a ser incluídos. E a fazer um trabalho que
nada tem que ver com a especialidade, que é trabalhar na triagem.
É uma carga extra que prejudica a
formação", refere, embora admita
que "no seu serviço a formação seja
respeitada, bem como as horas em
urgência".
Na comunicação que estão a enviar , incluem o parecer da Ordem
dos Médicos, que apela a que "estas
funções nas urgências sejam anuladas, repondo a legalidade do regulamento do internato médico".
Mas este não é caso único. A OM
já emitiu pareceres em diversas es-
pecialidades, nomeadamente em
hematologia, endocrinologia e infecciologia. "São áreas médicas, o
que não quer dizer que faça sentido colocar todos os internos a fazer
a urgência generalista. Não estamos a tomar esta posição porque
não queremos trabalhai; mas porque queremos fazer a nossa formação e temos medo de que, sem o direito ao descanso, haja mais erros e
a qualidade seja afetada."
Mesmo fazendo uma urgência
por mês, são espaços no horário
que ficam por ocupar e que terão
impacto. "Terão de resolver o problema com os especialistas. Geralmente estas escalas são garantidas
sobretudo por internos", lamenta.
Quatro urgências numa semana
As situações do CHUC estão longe
de ser únicas. No ano passado, os
internos de medicina interna do
Amadora-Sintra recusaram fazer
horas a mais, tal como os de cirurgia do CHUC em julho. Em Faro,
têm sido recorrentes os problemas.
Nesta semana, um interno de ginecologia queixou-se à OM por ter
demasiadas urgências. "Já aconteceu estar escalado para três numa
semana, mas é a primeira que está
em quatro. E ele tem de ir de Portimão para Faro. Isto deixa-o sem
tempo para fazer outras atividades", lamenta Carlos Cortes, o presidente da secção regional do Centro da Ordem dos Médicos.
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Médicos internos do Hospital de Coimbra recusam fazer urgência