A POPULARIZAÇÃO DO SABER
JOÃO DE BARROS
JOAQUINA FELÍCIO
«Sou, e nunca desejei ser senão um escritor, e,
nas horas de menos modéstia, um poeta que
teve ou pretende ter alguma coisa para dizer em
seu entusiasmo ou fervor lírico»
João de Barros (1950)
Nasceu em Figueira da Foz, no seio de uma
família burguesa, em1881;
 Concluiu o curso de Direito em 1904;
 Classificou-se em primeiro lugar ao
concorrer na função pública como professor
do Ensino Secundário, em 1905 ;
 Partiu em digressão a vários países da
Europa para visitar estabelecimentos de
ensino secundário, em 1907;
 Faleceu em 1960.

João de Barros foi professor, estadista e
pedagogo republicano, tendo-se
destacado como uma figura ilustre da
cultura e do ensino em Portugal.
Um homem de pensamento e de palavras,
mas antes de tudo um homem de acção.
Orientado para pedagogia e para a reforma
do sistema educativo português, com tal
entusiasmo e fulgor que ainda hoje é
considerado pelos estudiosos da história da
educação um dos maiores representantes
dos educadores republicanos.
Concorreu a uma bolsa oficial no estrangeiro,
o que lhe vai permitir visitar
estabelecimentos de vanguarda em
Espanha, França, Inglaterra, e Bélgica. Nesta
visita, começa, verdadeiramente, sua
carreira de pedagogo. É onde observa, na
prática, como se processa a libertação e a
aprendizagem.
Esta viagem permite-lhe observar o
progresso da didáctica nos novos centros
europeus ligados ao Livre Pensamento, e
sobre aquilo que pode ser definido como a
primeira fase da sua propaganda escrita em
prol da reforma educativa, por dentro,
através de modificações na metodologia.
É nesta base que João de Barros publica as
duas primeiras obras de educador:

A Escola e o Futuro ( 1908);

A Nacionalização do Ensino ( 1911).
Nesta primeira obra João de Barros recrimina
o modo de ensino onde o aluno somente
memorizava e não podia sequer questionar
o significado do que lhe estava a ser
ensinado.
O aluno deveria ser capaz de comentar,
interpretar e compreender o que lhe estava
a ser ensinado.
«Não dar ao Futuro, almas do passado, almas
como as nossas, vivendo do que já viveu,
tremendo do que já não existe: -mas energias
livres, indomadas, virgens – e aptas a tornar
mais belas, e mais intensas e mais complexas
as ideias, as lutas, as ambições desse Futuro,
que há-de ser o seu presente.»
( Barros, 1908, pp. 10-11)
O objectivo fundamental da educação:
criar um homem novo, salvar o indivíduo que a
criança representa, pois esta seria a força
nova e dinâmica de uma sociedade que
emergia, a republicana.
Muitos educadores republicanos se
empenhavam nesta árdua tarefa de salvar o
aluno como indivíduo pronto para enfrentar
um futuro republicano que se aproximava e
estes somente o podiam fazer na escola e
através da escola e isto só poderia ser feito
mediante os seus actos directos nas
estruturas do ensino.
João de Barros demonstra uma ideologia em
que o educador deveria se preocupar em
formar um cidadão.
Deve ser uma educação laica e utilizar o ensino
da educação cívica como meio de formar os
alunos em verdadeiros homens, para que estes
se tornassem cidadãos livres para pensar e
ambicionar, pois seria através desta ambição
que os alunos estariam aptos para trabalhar e
buscar mudanças para o seu país.
Era uma formação humanista e nacionalista.
A construção de uma sociedade democrática
implica a formação da “consciência cívica”
necessária à participação dos cidadãos na
vida social. É necessário que a educação
prepare um cidadão mais consciente e
sabedor de seu direito em intervir para a
consolidação desta nova sociedade.
O homem deveria ser apto a exercer seus
direitos e deveres, entre eles o voto, pois o
regime republicano estava assente na
organização do sufrágio popular.
Defendia uma educação laica, onde todos
fossem respeitados consoante as suas
opções.
«…a moral pedagógica deve ser a moral do
trabalho. Desse modo o professor terá um
vasto campo para expandir as suas ideias,
sem bulir com as crenças religiosas dos
discípulos.»
(Barros, 1908, p. 38)
A questão que é colocada seria a da
necessidade de todos acederem a um nível
mínimo de instrução, como parte da sua
integração cívica na sociedade republicana.
DUAS MANEIRAS DE FAZER EDUCAÇÃO
PATRIÓTICA:

Desenvolvimento do espírito cívico, que se
daria pela educação e pelo ensino cívico.

Amor à sua terra, à sua paisagem, aos seus
produtos, às suas tradições nobres, ao seu
pensamento e à sua arte - «por assim dizer, ao
seu corpo e à sua alma.»(Barros, 1914, p. 24)

O desenvolvimento do espírito cívico seria
um processo que deveria ser transmitido em
todos os ciclos escolares.

O amor à pátria e o valor ao que é Nacional
deve ser algo mais profundo e deveria ser
transmitido desde cedo e continuamente
para que criasse raízes profundas.
O pedagogo enfatiza que deve manter um ambiente
nacionalista nos jardins de infância através das
leituras escolhidas e que o professor deve também
aproveitar cada assunto a todo momento para
enfatizar uma lição de vida portuguesa.
Até o final da sua vida João de Barros vai
acompanhar a obra dos jardins-escola com todo o
carinho.

Para João de Barros educar é muito mais que
saber ler, escrever e contar, é formar um
cidadão, sob o ponto de vista social.

Para que isto aconteça é preciso que seja
transmitido o conhecimento necessário para
que tenha consciência de seus direitos e
deveres enquanto cidadão.

Um cidadão que ame e trabalhe pelo seu país e
que constitua uma força de acção, de
pensamento e de dedicação.
E para que o indivíduo ame a sua pátria é
necessário compreender o seu meio, sua
História, suas tradições e não memorizar sem
perceber o contexto dos factos acontecidos.
João de Barros é um republicano radical,
anticlerical e liberal, como tantos que, na sua
geração, vêem na República o ponto de
chegada de uma evolução que permitirá o
exercício da plena cidadania.
As ideias de João de Barros demonstram
toda uma preocupação com a popularização
do ensino, assim como:

Descentralizar o ensino;

Democratizar e facilitar o ensino com a
criação do ensino primário superior,
espalhando-o pelo país;

Procurar melhor forma de obrigatoriedade
do Ensino Primário Médio.

Criar uma fiscalização para que o ensino
fosse verdadeiramente pedagógico.
« A nossa Reforma seria portanto – radical,
democrática, prática, e nacional. Nacional –
porque não só procuraria não copiar
discernimento o que lá fora se fizesse, como
também um dos seus fins seria aproveitar
todas as forças vivas da nação, valorizandoas pelo Ensino Primário Superior, adaptado,
sempre que possível fosse, às várias
regiões.»
(Barros, 1911, pp. 257 - 259)
Sair da Monarquia, a situação em que se
encontravam e tornar-se uma República é
muito mais do que uma mudança social, é
um passo à frente, é uma transformação do
Estado em tudo o que existia de antigo em
algo novo e a educação deveria seguir de
mãos dadas com todas estas mudanças.
FONTES:

Barros, J. d. (1908). A Escola e o Futuro. Porto: Livraria de
Lopes & C.a .

Barros, J. d. (1911). A Nacionalização do Ensino. Porto:
Ferreira Ltda. - Editores.

Barros, J. d. (1914). A República e a Escola. Paris: AILLAUD,
ALVES & C.a.
Neste trabalho, optámos pela actualização da ortografia
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