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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” EM EDUCAÇÃO INCLUSIVA
PROJETO A VEZ DO MESTRE
ALTERNATIVAS DA COMUNICAÇÃO COM O
PORTADOR DE DEFICIÊNCIA AUDITIVA
PAULA RAMALHO CAMURATE FULY
ORIENTADORA:
PROF. MARIA POPPE
RIO DE JANEIRO
2004
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“Para ir ao encontro da linguagem do corpo
é preciso desenvolver as possibilidades do
movimento corporal, que exige a descoberta
do próprio corpo, percebendo seus aspectos
físicos, psíquicos e suas inter-relações.”
Lola Brikman
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AGRADECIMENTOS
♦ Agradeço primeiramente à Deus por ter me dado fôlego
de vida, forças para não desistir da caminhada;
♦ A minha orientadora Maria Poppe pela paciência e interesse
em ajudar no meu trabalho, mostrando –me os rumos a seguir;
♦ Aos meus pais Carlos e Zilma ( portadores de deficiência auditiva),
que foram minha fonte de inspiração para esse trabalho;
♦ À instituição e demais professores;
♦ À professora Fátima Alves pelo incentivo;
♦ Aos colegas de turma que caminharam comigo ;
♦ A todos que, direta ou indiretamente, me ajudaram.
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DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho ao meu marido Claylson,
que esteve comigo durante todo tempo ajudando-me, incentivando-me, dando
forças para não parar mas sim prosseguir nessa caminhada da vida, agradeço
à Deus por essa pessoa maravilhosa que Ele me deu.
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RESUMO
O objetivo desta pesquisa é mostrar que existem várias alternativas para
se comunicar com um deficiente auditivo. Várias desculpas são utilizadas por
aqueles que não sabem LIBRAS, alternativas estas, que qualquer pessoa
interessada em comunicar com um surdo o fará tranqüilamente.
Uma delas é: se a principal língua dos surdos é a LIBRAS, e eu não sei,
como vou falar com ele? Já outras pessoas dizem assim, eu não sei, mas me
viro! E essa é a resposta certa.
Sabemos que a língua oficial dos deficientes auditivos é a LIBRAS
(Língua Brasileira de Sinais), sendo que um surdo não consegue se comunicar
com o outro só através da LIBRAS , ele utiliza além desta, a expressão facial, a
expressão corporal, a oralidade, os gestos, a mímica, enfim, ele utiliza recursos
que facilitam a compreensão da conversa deles.
Tanto os surdos ou ouvintes são capazes de comunicar com outros
surdos, basta ter um pouco de vontade!
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METODOLOGIA
A metodologia utilizada neste trabalho foi a pesquisa bibliográfica
onde tiveram duas etapas para a produção deste .
A primeira voltada para o levantamento do material bibliográfico no
que tange a ampliar os instrumentos para a análise abrangente da questão
proposta.
Um segundo momento constou do exame criterioso do ponto de
vista de autores, consideradas como um todo, ora reforçando-se, ora
completando-se uns aos outros.
Finalmente, foi procedida a redação do texto monográfico em que foram
apuradas as teorias que explicam os tipos de linguagem existentes para os
surdos e como as pessoas podem se comunicar com eles.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO......................................................................................9
1- DEFINIÇÃO DE SURDEZ....................................................................13
2- A CRIANÇA SURDA E A LINGUAGEM...............................................24
3- TIPOS DE LINGUAGEM PARA COMUNICAÇÃO COM SURDOS.....32
CONCLUSÃO..........................................................................................39
BIBLIOGRAFIA .......................................................................................40
ANEXOS..................................................................................................43
ÍNDICE.....................................................................................................44
9
INTRODUÇÃO
Será que para nos comunicarmos com pessoas portadoras de
deficiência auditiva é necessário saber LIBRAS?
Nessa proposta, considerando-se que o portador de deficiência auditiva
para se comunicar utiliza LIBRAS, buscaremos provar que para se comunicar
com um deficiente auditivo, não é necessário saber Libras.
Este trabalho tem por objetivo verificar os tipos de linguagem utilizadas
em pessoas portadoras de deficiência auditiva (surdos). Tentaremos provar
que existem outros meios de comunicação além da LIBRAS .
Várias pessoas dizem que para se comunicar com os deficientes
auditivos (surdos), é necessário saber a Linguagem Brasileira de Sinais, e
através deste trabalho, mostraremos que para se comunicar com um surdo
basta ter força de vontade, paciência e dedicação, pois pode ser utilizado como
meios de comunicação a LIBRAS, as mãos (dominante e apoio), o corpo (zona
superior-pescoço para cima, zona média- cintura para baixo) a postura do
corpo, a expressão facial, que também é muito importante.
As linguagens apresentadas acima dizem muita coisa, e elas têm muita
coisa a dizer. O nosso corpo é antes de tudo um centro de comunicação para
nós e para os outros.
Por meio do presente trabalho, será possível revelar as pessoas que
para se comunicar com os surdos não é necessário saber LIBRAS , mas sim,
fazer uso de outros meios de comunicação, como: expressão facial, gestos,
movimentos com o corpo, mãos e leitura labial.
Iniciamos o presente trabalho, no capítulo 1 fazendo um breve histórico
sobre o que é surdez, mostrando uma definição, causas, concepção para os
10
tipos de surdez existentes, abrangendo também a história da educação dos
surdos no Brasil.
Logo em seguida, no capítulo 2, a criança surda e a linguagem,
mostramos um pouco os problemas com crianças surdas tanto nas escolas,
lares, enfim, no meio em que vivem.
Após esse assunto, introduzimos no capítulo 3 os tipos de linguagem
existentes para a comunicação
com o surdo, tais como: Bilingüísmo e
biculturalismo. Onde o surdo necessita dominar a Língua Brasileira de Sinais
para comunicar-se com a comunidade surda e o português para se integrar na
sociedade onde vive e a própria LIBRAS onde é a língua natural da
comunidade surda.
Com suas regras morfológicas, sintáticas, semânticas e pragmáticas
próprias, possibilita o desenvolvimento cognitivo da pessoa surda, favorecendo
o acesso aos conceitos e aos conhecimentos existentes na sociedade.
A linguagem sinalizada, é outro tipo de comunicação dos surdos, onde
se comunicam nas dimensões espaciais e corporais. Tem também a mímica
que é importante para a comunicação deles.
Já o alfabeto dactilológico é um sistema gestual em que cada letra do
alfabeto escrito corresponde a uma configuração da mão e dos dedos.
O sistema de auxílio à leitura orofacial também é muito utilizado por
profissionais como fonoaudiólogos, psicólogos, professores e pais.
A expressão facial e/ou corporal é outro tipo de linguagem muito
importante para os surdos.
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Finalizamos o trabalho falando sobre a linguagem da ação, onde esta
permite aprender, reconhecer e construir a realidade do mundo material, a
realidade dos objetos do espaço e é um meio de comunicação com o outro
contido nas atitudes e gestos.
Em suma, tentamos mostrar neste trabalho que a LIBRAS é muito
importante para a comunicação com os surdos, mas mostrarei que existe
outros tipos de comunicação
comunicação deles.
que também são muito importantes para a
12
CAPÍTULO 1
DEFINIÇÃO DE SURDEZ
13
1 – DEFINIÇÃO DE SURDEZ
A partir de agora daremos uma definição de surdez para que depois
possamos explorar o assunto proposto.
A audição é geralmente medida e descrita em decibéis (dB), uma medida
relativa da intensidade do som. Zero decibéis representa audição normal e uma
perda auditiva de até 25 decibéis não é considerada uma deficiência
significativa. Quanto maior o número de decibéis necessários para que uma
pessoa possa responder ao som, maior a perda auditiva.
As definições de perda auditiva e graus de perda ainda são dados em
decibéis, embora haja uma tendência nessa área, bem como em outras, de
enfatizar as implicações educacionais e sociais da deficiência.
A criança com dificuldade de audição é aquela que, com o auxílio do
aparelho auditivo, ainda consegue compreender a fala, enquanto a surda não
consegue. As definições aceitas que se seguem levam em conta tanto as
dimensões físicas quanto as educacionais da deficiência auditiva.
São necessárias para avaliar a perda auditiva, duas dimensões:
freqüência e intensidade. A freqüência refere-se ao número de vibrações (ou
ciclos) por segundo de uma determinada onda de som: quanto maior a
freqüência maior a intensidade do som.
Um indivíduo pode ter dificuldade para ouvir sons de certas freqüências,
enquanto escuta bem os de outras freqüências. Por outro lado, a intensidade
se refere à altura relativa do som.
O grau da perda auditiva tem um significado educacional importante, pois
determina o tipo e a quantidade de treinamento especial necessários, se os
14
aparelhos e amplificadores são adequados, e se devem ser ensinados meios
alternativos de comunicação.
Além dos testes de puro som, outros testes, que utilizam listas de
palavras cuidadosamente elaboradas , podem ser empregados para avaliar a
capacidade
da
criança
para
ouvir
palavras
faladas,
a seguir mostraremos as categorias comumente aceitas de nível de perda
auditiva.
As três primeiras categorias são de grupo de crianças com audição
reduzida e as duas últimas de um grupo de crianças surdas. À medida que a
perda auditiva aumenta, também aumenta a necessidade de ajuda profissional
intensiva.
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Segue abaixo, uma tabela de níveis de perda da audição para que se
possa entender melhor os níveis que existem:
Nível de perda
Intensidade do som para Implicações
a percepção
para
a
educação
Pode ter dificuldade de ouvir
sons distantes. Pode precisar
Leve
27-40 decibéis
sentar-se
em
lugar
preferencial e de terapia de
fala.
Compreende a fala de uma
conversa.
Pode
acompanhar
Moderada
41-55 decibéis
as
não
discussões
em classe. Pode precisar de
aparelhos auditivos e terapia
especial.
Precisará
Moderadamente grave
56-70 decibéis
do
aparelho
auditivo, treinamento intensivo
de em fala e linguagem.
Consegue ouvir somente sons
próximos,
às
vezes
é
considerado surdo. Precisa de
educação especial intensiva,
Grave
71-90 decibéis
aparelhos
treinamento
auditivos,
de
fala
e
linguagem.
Pode perceber sons altos e
vibrações.
Profunda
91 decibéis +
Confia
mais na
visão do que na audição para
o processar de informações.
Considerado surdo.
* Fonte: RUSSO,Leda C.Pacheco.Audiologia infantil/ Leda C.Pacheco,Tereza
Momensohn dos Santos- 4 ed.ver.e amp.-cortez,1994.
16
Qualquer condição que obstrua a seqüência das vibrações ou que as
impeça de chegar ao nervo auditivo pode causar uma perda condutiva. Um
problema condutivo raramente causa uma perda auditiva de mais de 60 ou 70
decibéis, pois as vibrações levadas pelo osso ao ouvido interno ainda são
capazes de levar o som que não pôde ser conduzido através dos ouvidos
internos e médios.
O audiômetro tem um receptor de condução óssea e um receptor de
condução do ar podendo, consequentemente, medir a capacidade do indivíduo
de receber o som através da condução óssea. As perdas condutivas levam à
situação de audição reduzida, mas não à surdez. O próprio nervo auditivo
precisa estar danificado para provocar a surdez.
1.1- Causas da perda auditiva
Nesse item, falaremos sobre as causas da perda auditiva, onde várias
possibilidades de perda acontecem. A maior parte das informações disponíveis
sobre a causa da deficiência auditiva trata da surdez em oposição às perdas
auditivas leves.
Existem cinco causas principais identificadas para a surdez infantil:
hereditariedade , rubéola materna, nascimento prematuro( ocorre muitas das
vezes pois a mãe é muito nova não tem condições de fazer um pré natal e a
criança nasce antes do tempo), meningite e incompatibilidade de sangue entre
a mãe e a criança . O tipo de doença que existe também é o Tifo-febre tifóide.
As deficiências auditivas menos graves são freqüentemente causadas
pela otite média, uma infecção comum do ouvido médio na infância. Pode ser
surpreendente saber que, apesar da existência de instrumentos sofisticados de
diagnóstico, a maior porcentagem dos casos de deficiência auditiva (30 por
cento) é relegada a categoria de causa desconhecida.
17
♦
Hereditariedade:
muitas condições genéticas diferentes podem
levar a surdez. As transmissões tem sido atribuídas a genes dominantes,
genes recessivos e genes ligados ao sexo. Embora concorde-se com o fato de
a hereditariedade ter um papel importante, é difícil estabelecer a porcentagem
exata de crianças cuja surdez é devida à hereditariedade. As estimativas
variam entre 30 e 60 por cento. A determinação da influência hereditária não é
simplesmente uma questão de interesse intelectual . A nova área de
aconselhamento genético, que procura informar os casais sobre a possibilidade
de transmitirem um problema específico a seus filhos, pode ser um recurso
importante para os deficientes auditivos.
♦
Rubéola materna: Quando a rubéola afeta uma mulher durante os
três primeiros meses de gravidez , os seus efeitos sobre a criança são muitas
vezes bastante sérios.
♦
Nascimento prematuro: As crianças nascidas com o peso de 2,5
Kg, ou menos, são geralmente consideradas prematuras. O nascimento
prematuro é a causa da surdez em 53,7 entre 1.000 crianças matriculadas nas
escolas para deficientes auditivos. Também é causa de deficiência mental e
visual. Ë bastante duvidoso que o simples nascimento prematuro seja o caso
da surdez. A verdadeira causa pode estimular um nascimento prematuro.
Ainda, a perda de oxigênio ou uma lesão cerebral ocorrida durante o parto
prematuro pode ser a verdadeira causa da deficiência auditiva. De qualquer
modo, as crianças prematuras correm um risco maior de terem deficiência
auditiva e muitos outros distúrbios.
♦
Incompatibilidade de sangue entre a mãe e a criança: Sangue RH
positivo e RH negativo são incompatíveis. Quando uma mulher cujo sangue é
Rh negativo gera uma criança com Rh positivo, o sistema da mãe desenvolve
anticorpos que podem passar para o feto e destruir as células de Rh positivo.
Esta condição pode ser fatal. As crianças que sobrevivem podem Ter vários
distúrbios, inclusive a surdez. Se a incompatibilidade de Rh é diagnosticada
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durante a gravidez, a condição pode ser tratada para impedir que prejudique a
criança.
♦
Meningite: 8,1 por cento das crianças deficientes auditivas
perdem a sua audição após o nascimento como conseqüência da meningite,
que envolve uma invasão bacteriana, que ocorre freqüentemente através do
ouvido médio. Das causas pós natais ou exógenas da surdez, a meningite tem
encabeçado a lista. A incidência de surdez devido à meningite tem diminuído
nos últimos, possivelmente graças ao uso crescente de antibióticos e
quimioterapia.
♦
Otite média: Esta condição refere-se a infecções que provocam
acúmulo de fluídos no ouvido médio. Se a condição for crônica ou não for
tratada, pode causar perdas auditivas de leves a moderadas, pois a condução
do som através do ouvido médio é perturbada.
Como esta é uma das doenças infantis mais comuns atacando uma em
cada oito crianças- estima-se que a otite média ocorra seis ou mais vezes
antes dos 6 anos de idade- não se deve negligenciar o tratamento imediato e a
avaliação auditiva cuidadosa na fase pré-escolar no caso de suspeita de perda
auditiva.
1.2 - Concepção sócio-antropológica da surdez
Falaremos um pouco sobre a concepção sócio-antropológica da surdez,
explicando como foi a um tempo atrás. Na década de sessenta, antropólogos,
lingüistas, sociólogos, psicólogos começaram a ter um certo interesse pelo
surdo, por sua cultura, sua língua e sua educação.
Este fato foi fundamental para iniciar a mudança da Representação
Social, que até esta data a sociedade ouvinte tinha construído a respeito
19
destes indivíduos. Uma nova concepção filosófica, não mais baseada na
patologia, começa a surgir.
De acordo com a concepção de Carlos Skliar(1995), o surdo é um ser
sociolingüístico diferente, pertencente a uma comunidade lingüística minoritária
caracterizada por compartilhar o uso da Língua Brasileira de Sinais e valores
culturais, hábitos e modos de socialização.
A Língua Brasileira de Sinais é um elemento aglutinante e identificatório
dos surdos, constituindo seu modo de apropriação com o mundo, o meio de
construção de sua identidade, sendo através dela e de outros tipos de
linguagem que o surdo põe em funcionamento a faculdade da linguagem,
inerente a sua condição humana.
Isto não significa que a oralização seja desconsiderada, pelo contrário,
como veremos mais a frente, a capacidade de articulação é muito desejável. O
essencial é que as pessoas surdas não conseguem falar naturalmente, esta
habilidade tem que ser ensinada, através de um penoso e prolongado trabalho,
durante muitos anos.
Portanto, não é possível esperar por este ensino individual e intensivo,
para depois transmitir informações, cultura e habilidades mais complexas. É
preciso que o surdo tenha acesso ao conhecimento através da sua língua
natural, resultando daí sua condição bilingüe e bicultural.
O que é ser surdo? Para nós que ouvimos responder a essa pergunta
talvez seria muito difícil pois não faz parte da nossa vida, mas tentaremos
responder a essa pergunta.
Ser surdo, em um mundo onde a palavra ouvida ocupa um papel
preponderante, é uma situação de grande complexidade e difícil de ser
20
imaginada. O surdo habita um corpo diferente, sem voz, a realidade externa é a
mesma, porém o mundo interno é imaginado de forma muito diferente.
Diferenças estas que impossibilitam a criança surda de construir uma
identidade, caso algumas providências não forem tomadas. Os surdos
enfrentam extraordinários desafios de terem que se esforçar para conseguirem
entrar nesse mundo dos ouvintes, quando não adquirem uma verdadeira
linguagem, pois mesmo com inteligência normal demonstram limitações em
seu funcionamento intelectual.
De acordo com Oliver Sacks (1998), ele considera que a ausência de
uma língua não despoja o ser humano de uma mente ou a torna mentalmente
deficiente, porém fica gravemente restrito no alcance de seus pensamentos,
confinado de fato, a um mundo imediato pequeno.
Já Vigotsky sempre destacou o papel social e intelectual da linguagem,
não desconhecendo
entretanto a relação cognição, linguagem e afeto. Na
criança surda este equilíbrio se altera, havendo portanto conseqüências para
os três aspectos.
Para Schlesinger e Meadow resumem esta situação no livro “Sound an
Sign”, com a seguinte frase: “a surdez profunda na infância é mais do que um
diagnóstico médico, é um fenômeno cultural com padrões e problemas sociais,
emocionais, lingüísticos e intelectuais que estão intimamente ligados”.
Os surdos dão muita importância para a sua língua natural, consideram
como parte de sua pessoa, possuem também um certo medo inconsciente de
que lhes possa ser retirada, paradoxalmente, com uma certa freqüência.
Em 1972, Kannapel fundou uma organização “Deaf Prid” (Orgulho
Surdo), com a finalidade de despertar a consciência dos surdos e anular os
sentimentos que até o final da década de 70 eram comuns, não só em relação
21
a depreciação de sua língua natural, como também no que refere e submissão,
passividade e até vergonha, que os surdos sentiam de sua condição.
1.3 - História da Educação dos surdos no Brasil
Faremos um breve histórico da educação dos surdos no Brasil que data
de cerca de 400 anos, sendo que nos seus primórdios havia pouca
compreensão da psicologia do problema, e os indivíduos deficientes eram
colocados em asilos.
A surdez, e a conseqüente mudez, eram confundidas com uma
inferioridade de inteligência. É verdade, porém, que a ausência da linguagem
influi profundamente no desenvolvimento psico-social do indivíduo. Felizmente,
o deficiente auditivo pode aprender a se comunicar utilizando a língua dos
sinais, ou a própria língua falada.
Os primeiros educadores de surdos surgiram na Europa, no século XVI,
criando diferentes metodologias de ensino, as quais se utilizavam da língua
auditiva-oral nativa, língua de sinais, datilologia (representação manual do
alfabeto) e outros códigos visuais, e podendo ou não associar estes diferentes
meios de comunicação.
A partir do século XVIII, a língua dos sinais passou a ser bastante
difundida, atingindo grande êxito do ponto de vista qualitativo e quantitativo, e
permitindo que os surdos conquistassem sua cidadania.
Porém, devido aos avanços tecnológicos que facilitavam o aprendizado
da fala pelo surdo, o oralismo começou a ganhar força a partir da Segunda
metade do século XIX, em detrimento da língua de sinais, que acabou sendo
proibida. A filosofia oralista baseia-se na crença de que a modalidade oral da
língua é a única forma desejável de comunicação para o surdo, e que qualquer
forma de gesticulação deve ser evitada.
22
Na década de 60, a língua dos sinais tornou a ressurgir associada à
forma oral, com o aparecimento de novas correntes, como a Comunicação
Total e, mais recentemente, o Bilingüísmo.
A comunicação total defende a utilização de todos os recursos
lingüísticos, orais ou visuais, privilegiando a comunicação, e não apenas a
língua. Já o Bilingüísmo acredita que o surdo deve adquirir a língua dos sinais
como língua materna, com a qual poderá desenvolver-se e comunicar-se com a
comunidade de surdos, e a língua oficial de seu país como segunda língua.
No brasil, a educação dos surdos teve início durante o segundo império,
com a chegada do educador francês Hernest Huet. Em 1857, foi fundado o
Instituto Nacional de Surdos-Mudos, atual Instituto Nacional de Educação dos
Surdos (INES), que inicialmente utilizava a língua dos sinais, mas que em 1911
passou a adotar o oralismo puro.
Na década de 70, com a visita de Ivete Vasconcelos, educadora de
surdos da Universidade Gallaudet, chegou ao Brasil a filosofia da Comunicação
Total, e na década seguinte, a partir das pesquisas da professora Lingüista
Lucinda Ferreira Brito sobre a Língua Brasileira de Sinais e da professora
Eulalia Fernandes, sobre a educação dos surdos, o Bilingüísmo passou a ser
difundido.
Atualmente,
estas
paralelamente no Brasil.
três
filosofias
educacionais
ainda
persistem
23
CAPÍTULO 2
A CRIANÇA SURDA E A LINGUAGEM
24
2 - A CRIANÇA SURDA E A LINGUAGEM
Faremos uma associação entre uma criança surda e a linguagem. A
criança que ouve, adquire a fala de forma ativa e responsiva. Ela vai
compreendendo os significados, escolhendo, associando as palavras. Ela vai
organizando seu pensamento e suas respostas mostram sua personalidade.
Sua fala não resulta em uma “fala de papagaio”.
A língua natural, não a aprendemos nos dicionários e nas gramáticas,
nós a adquirimos a partir de conversas concretas que acontecem durante a
comunicação viva entre as pessoas.
No caso dos surdos, é o olho, e não o ouvido, que vê a palavra, são as
mãos e não as cordas vocais que articulam. A criança surda, por sua falta de
acesso à linguagem, e como resultado do treino escolar/clínico, o que pode
conseguir é uma fala “morta”. Ela repete palavras decoradas que tenta
desesperadamente encaixar em contextos sempre diferentes que se esforça
por reconhecer através de pistas dadas por alguma palavra conhecida.
As palavras, sem a correspondência fonética de uma língua já
conhecida, são difíceis de associar a um conceito, pois se parecem demais e
são muitas, os detalhes gráficos são mínimos, os sentidos completamente
diferentes, vejam por ex: bolo e rolo. A sintaxe e os enunciados são mistérios
completos. Porque uma palavra vem antes ou depois, porque colocar verbo se
o substantivo já mostra o que é?
O entendimento que uma criança surda tem da linguagem falada é
sempre fragmentado, pois a leitura labial, com o melhor dos treinos possibilita a
compreensão de até 40 % da mensagem. Até aqui falamos de surdos
escolarizados
fonoaudiológico.
e
beneficiados
por,
protetização
e
longo
tratamento
25
Dados de uma pesquisa diz que não se tem notícias das centenas que
permanecem isolados, enclausurados em seu permanente silêncio apenas
quebrado por alguns gritos e mímicas de conhecimento dos seus familiares
mais próximos. Sofrendo as conseqüências psicológicas desta situação, alguns
já adultos, aparecem em hospitais ou vagando pelas ruas com quadros
emocionais graves.
Escolas ou associações de surdos são procuradas por autoridades da
saúde ou policiais para que alguém que entenda sinais se comunique com a
criatura.
Na maioria das vezes, inutilmente, a criatura não tem linguagem alguma,
ela não aprendeu língua de sinais o que ela faz são algumas mímicas
insuficientes para dizer quem é, esse tipo de mímicas que esses surdos fazem
muitas das vezes não são conhecidas totalmente pelos outros surdos até
porque esse surdo não estudou então ele criou a mímica dele para poder se
comunicar. Quem é mesmo? Ela não sabe.
Em situações em que os surdos se encontram e começam a conversar é
impressionante a animação das conversas sinalizadas, mãos e bocas
movimentam-se rapidamente, risos e diálogos acontecem de fato. Que situação
diferente daquela na qual o surdo é obrigado a falar e tem de procurar a
palavra, articular com esforço, desesperar-se e desesperar o ouvinte que
também se esforçou, mas não conseguiu entender.
Tentar e adivinhar o que o outro está dizendo , pegar uma palavra que
foi compreendida como pista e imaginar o todo, torcendo para que seja aquilo
mesmo. Ou rir que, nem um tolo, e concordar com a cabeça por não estar
entendendo nada.
As línguas de sinais são línguas naturais que se desenvolvem no meio
em que vive a comunidade surda. As pessoas surdas de uma determinada
26
região encontram-se e comunicam-se através de uma língua de sinais da
mesma forma que qualquer grupo sócio-cultural que utiliza uma língua falada.
Tais línguas são naturais porque refletem a capacidade psicobiológica humana
para a
linguagem e surgiram da mesma forma que as línguas orais – da
necessidade de que os seres humanos têm de expressar idéias, sentimentos e
ações.
As línguas de sinais são sistemas lingüísticos que passaram de geração
a geração de pessoas surdas, são línguas que não derivam das línguas orais,
mas fluíram das necessidade natural de comunicação entre pessoas que não
utilizam o canal auditivo-oral, mas o canal espaço-visual.
As línguas de sinais apresentam os mesmos princípios de organização
gramatical das línguas orais.
Embora elas usem mecanismos viso-espaciais, são processadas no
hemisfério esquerdo do cérebro que é responsável pela linguagem e não no
hemisfério direito que é responsável pelas informações espaciais pesquisas
que relatam este fato, foram feitas observando várias pessoas surdas que
usavam línguas de sinais e sofreram lesões de um lado do cérebro.
Foi constatado que surdos com lesões no lado esquerdo do cérebro
passaram a ter problemas com a sua língua, enquanto continuava perfeita a
sua percepção espacial. Ao contrário, surdos com lesões no hemisfério direito
continuaram usando bem a língua de sinais enquanto perdiam a sua percepção
espacial para as outras atividades.
Assim, de acordo com pesquisas feitas por estudiosos, ficou comprovado
cientificamente que para o cérebro funcionam como sistema lingüístico tanto as
línguas orais como as línguas de sinais, mas, foi importante para a comunidade
científica que precisa sempre de provas documentadas e para os surdos que
27
assim começaram a ter vozes de ouvintes qualificados ajudando a defender o
direito de usar sua língua.
A exclusão das línguas de sinais da educação dos surdos expulsas à
partir do fortalecimento do oralismo reduziu todas as implicações emocionais,
educativas, sociais e laborais dos surdos a colocar-lhes uma prótese e fazê-los
freqüentar clínicas de fala.
Este grande erro fez com que muitas gerações de surdos fossem
condenados à marginalidade, sem oportunidade para desenvolver seus
potenciais, sem oportunidade para adquirir uma boa educação, conseguir um
bom emprego, interagir com suas famílias e participar da sociedade
enriquecendo-a com suas diferenças representadas por sua cultura da qual o
item mais relevante é sua língua de sinais.
2.1 - A criança surda e os problemas de comunicação
Mostraremos as dificuldades encontradas nas crianças que nasceram
surdas e os problemas que terão na comunicação. Uma criança que nasceu ou
se tornou surda antes de desenvolver linguagem ela apresenta, geralmente,
problemas lingüísticos decorrentes de sua condição de não ouvinte.
A criança surda dificilmente tem acesso a toda a informação que lhe é
passada apenas através da linguagem oral. Se for filha de pais ouvintes, pode
acontecer, de seus pais não disporem de um sistema sinalizado para com ela
se comunicar. Assim, na interação com os pais, alguma forma de comunicação,
seja ela gestual ou oral, muitas vezes tais comportamentos não podem ser
chamados de língua.
A criança surda de pais ouvintes, acaba sendo prejudicada na sua tarefa
de desenvolver linguagem, o que implica em prejuízo de seu desenvolvimento
cognitivo e sociocultural .
28
Grande parte dos estudos realizados dentro do tema linguagem e criança
surda, evidenciam o fato de que , para essa criança, a constituição de uma
língua se torna extremamente complexa.
As alterações que se desencadeiam no processo interativo da criança
surda com interlocutores ouvintes estão intimamente ligados à representação
ou imagem que os interlocutores que tem ou constróem da surdez, a qual tem
um papel fundamental não só no desenvolvimento, como na constituição da
criança como interlocutor.
A surdez caracteriza a criança como alguém que não desenvolverá
linguagem naturalmente. As bases desse pressuposto se apóiam na idéia de
que a criança surda, geralmente necessita de uma atenção especializada para
adquirir linguagem.
Geralmente, a criança surda, leva um período bem mais longo do que a
criança ouvinte para alcançar um domínio da linguagem, porém, esse período é
suficientemente satisfatório para que ela possa atingir níveis de compreensão
e produção da linguagem escrita, e assim poder alcançar graus mais
complexos de escolaridade.
Durante mais de um século a educação de crianças surdas
fundamentou-se nas perspectivas da aquisição da linguagem oral como
requisito essencial para sua integração na sociedade. O uso exclusivo da
linguagem oral para a compreensão e expressão foi, assim, considerado como
o princípio fundamental tanto para o desenvolvimento lingüístico e cognitivo da
criança surda, como sua inclusão no meio social.
Estudos dizem que na década de 70, uma das maiores representantes
da abordagem unissensorial, apresenta algumas regras práticas através das
quais, segundo ela, pode se desenvolver ao máximo a audição residual: 1)
diagnóstico precoce, antes dos dois anos de idade; 2) adaptação de aparelhos
29
de amplificação sonora individual imediatamente após o diagnóstico; 3) uso de
aparelho de amplificação sonora individual binaurais; 4) estimulação auditiva
precoce durante os anos considerados “críticos” para o desenvolvimento da
criança; 5)
desenvolvimento da fala através de mecanismos de feedback
auditivo.
De acordo com a abordagem multissensorial, ela propõe que a recepção
da linguagem pela criança surda se dê
através da leitura orofacial e da
utilização dos restos auditivos, amplificados com o uso de próteses. A criança
surda precisa
aprender a compensar sua deficiência, desenvolvendo sua
capacidade de captar a comunicação através da audição, visão e tato.
Já a abordagem oralista dominou a educação de surdos, desde 1888,
quando, no Congresso Internacional sobre Surdos, realizado em Milão, Itália,
foi aprovada a obrigatoriedade do uso exclusivo oral na educação de surdos.
Entretanto, na década de 60, observou-se uma mudança significativa na
educação de surdos, em primeiro lugar, alguns estudos procuraram mostrar
que a língua americana de sinais (ASL), que os surdos utilizavam para se
comunicar com os outros surdos, apresenta organização formal nos mesmos
níveis encontrados nas línguas faladas.
Os estudos sobre a língua americana de sinais, por um lado, levaram
estudiosos pais e professores de crianças surdas, a começarem a estudar a
possibilidade de usar um sistema “combinado”, do qual fariam parte sinais e
fala, possibilitando aos deficientes auditivo acesso mais fácil a linguagem oral.
Tal sistema recebeu o nome de Método Simultâneo, sendo, portanto, uma
combinação da abordagem oral com sinais e alfabeto digital.
Recebem linguagem através de leitura orofacial, amplificação sonora,
sinais e alfabeto digital e se expressam através da fala, sinais e alfabeto digital,
30
e tem como objetivo a comunicação oral, e os recursos de que lança mão não
substituem a fala, apenas a complementam.
31
CAPÍTULO 3
TIPOS DE LINGUAGEM PARA COMUNICAÇÃO COM SURDOS
32
3 – TIPOS DE LINGUAGEM PARA COMUNICAÇÃO COM
SURDOS
Apresentaremos abaixo, alguns tipos de linguagens que fazem parte da
comunicação com o surdo pois com elas podemos conversar de várias
maneiras, até mesmo aquela pessoa
que não sabe LIBRAS pode se
comunicar com o surdo usando outros tipos de comunicação como: bilingüísmo
e biculturalismo, LIBRAS (Língua de Sinais), linguagem sinalizada, alfabeto
dactilológico (alfabeto manual), sistema de auxílio à leitura orofacial, mímica,
expressão facial e corporal, utilizados para se comunicar com os surdos.
3.1- Bilingüismo e biculturalismo
Apresentaremos todos os tópicos acima a cerca dos tipos de linguagem.
Desde que a surdez passou a ser vista de forma mais abrangente, através de
uma visão sócio-antropológica, muitas pessoas começaram a fazer questão de
distinguir a surdez auditiva da surdez como entidade lingüística e cultural,
escrevendo a primeira com “s” minúsculo e a segunda com “s “maiúsculo.
Esta nova
concepção trouxe como primeira
conseqüência a
necessidade de reconhecer o surdo, como um ser bilíngüe e bicultural, que
necessita comunicar-se com dois mundos e vivenciar duas culturas. O surdo
necessita
dominar a Língua Brasileira de Sinais para comunicar-se com a
comunidade surda e o português para se integrar na sociedade.
A construção da identidade da pessoa surda está relacionada com sua
convivência com sua própria cultura. Vivenciar valores, hábitos e compartilhar o
uso de uma língua desperta na pessoa surda a sensação de pertencer a uma
comunidade, necessidade básica para a afirmação do ser humano.
33
A necessidade de integração, na sociedade majoritária, obriga o surdo a
tentar se expressar na língua oral. Uma boa oralização é demanda dos próprios
surdos, que têm consciência da importância que ela representa para a
integração no mundo do trabalho.
3.2 – Língua de Sinais (LIBRAS)
São
sistemas
de
sinais
independentes
das
línguas
faladas.
Contrariamente a uma idéia pré-concebida, não existe uma língua de sinais
utilizada e compreendida universalmente. As línguas de sinais praticadas nos
diferentes países diferem uma das outras.
No brasil temos a LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais ); nos EUA utilizase a ASL (American Sign Language); e na França a LSF (Langue de Signes
Français). Existem também, como para as línguas orais, dialetos ou
variabilidade regional dos sinais.
A língua de sinais é uma língua de dimensão espacial e corporal, ela é a
língua natural da comunidade surda. Com suas regras morfológicas, sintáticas,
semânticas e pragmáticas próprias, possibilita o desenvolvimento cognitivo da
pessoa surda, favorecendo o acesso desta aos conceitos e aos conhecimentos
existentes na sociedade.
Os sinais são formados a partir de parâmetros, como a combinação do
movimento das mãos com um determinado formato num determinado lugar,
podendo este lugar ser uma parte do corpo ou um espaço em frente ao corpo.
34
Os parâmetros da Língua de Sinais são:
♦ Configuração das mãos;
♦ Figuras geométricas;
♦ Movimento;
♦ Orientação espacial;
♦ Expressão facial e/ou corporal.
Na combinação desses parâmetros obtém-se o sinal. Portanto, falar com
as mãos é combinar esses sinais que formam as palavras e as frases num
determinado contexto.
As línguas são consideradas Naturais quando são próprias das
comunidades inseridas, que as têm como meio espontâneo de comunicação.
Podendo ser adquiridas, através do convívio social, como primeira língua (ou
língua materna), por qualquer um de seus membros desde a mais tenra idade.
A língua de sinais facilita e propicia o desenvolvimento lingüístico e
cognitivo da criança surda, auxiliando no processo de aprendizagem de
Línguas Orais, favorecendo a produção escrita, servindo de apoio para a leitura
e compreensão dos textos escritos.
3.3 – Linguagens sinalizadas
As linguagens sinalizadas, utilizam um léxico gestual, emprestando a
organização gramatical das linguagens orais correspondentes. Um exemplo é o
português sinalizado. Existe também o SE (Signed English) e o FS (Français
Signé).
35
Esses sistemas, criados artificialmente, exploram menos possibilidades
que as línguas gestuais que se desenvolvem com base nas dimensões
espaciais e corporais.
Para Vigotsky, ele confirma a importância da mímica para os surdos, ou
seja, o fato de estar “arraigada” neles. Vigotsky diz que: “os hábitos da mímica
e dos gestos estão tão arraigados que a linguagem oral não pode lutar contra
eles” (1989:91).
Apesar de considerar a “mímica” uma linguagem primitiva, Vigotsky dá
uma enorme contribuição para a mudança na Educação dos surdos, pois,
desde seus primeiros textos de 1925, Vigotsky já percebia que a língua de
sinais era própria dos surdos, intrínseca
aos grupos humanos surdos, ao
afirmar:
“A luta da linguagem oral contra a mímica, apesar de todas as boas
intenções dos pedagogos, como regra geral, sempre termina com a
vitória da mímica, não porque precisamente a mímica do ponto de
vista psicológico seja a linguagem verdadeira do surdo-mudo, nem
porque a mímica seja mais fácil, como dizem muitos pedagogos,
senão porque a mímica é uma língua verdadeira em toda a riqueza
de sua importância funcional e a pronúncia oral das palavras
formadas artificialmente está desprovida de toda sua riqueza vital e
é só uma cópia sem vida da linguagem viva.”(1989:190)
A partir deste momento, Vigotsky passa a defender a mímica na
educação dos surdos: “As investigações psicológicas (experimentais e clínicas)
demonstram que a poliglossia (o domínio de diferentes formas de linguagem)
é a via mais beneficiosa e inevitável da linguagem e educação da criança
surda. (1989:294).
36
No entanto, a mímica ainda é vista por Vigotsky como um meio auxiliar
para a educação dos surdos, ele não avança na possibilidade de se Ter um
processo educacional exclusivamente baseado na Língua de Sinais.
3.4 – Alfabeto dactilológico
Alfabeto Dactilológico ou alfabeto manual é um sistema gestual em que
cada letra do alfabeto escrito corresponde a uma configuração particular da
mão e dos dedos. Esse sistema utiliza, na realidade, uma escrita no espaço.
Quando queremos “escreve r” uma palavra, a mão realiza as configurações
que correspondem às letras das palavras de forma seqüencial.
3.5 - Sistemas de auxílio à leitura orofacial
Dentro de sistemas de sinais como LIBRAS e o português sinalizado, os
gestos correspondem a conceitos próprios ou palavras da língua oral. Nos
sistemas de auxílio à leitura labial, os gestos não têm razão de existir sem a
fala. Eles têm por objetivo facilitar a leitura labial.
Estes sistemas são inscritos dentro de uma perspectiva oralista. Como
exemplo desses sistemas, podemos citar o Cued Speech e o AKA ( Alphabet
des Kinémes Assistés).
Existem vários surdos que foram estimulados à leitura orofacial, onde
estes surdos têm uma habilidade maior nesse tipo de linguagem, para eles se
torna mais fácil compreender o outro através da orofacial do que até mesmo a
LIBRAS. Existe também surdos que têm vergonha de se comunicar com os
outros através de gestos, e prefere se comunicar de forma orofacial.
37
3.6 – Expressão Facial e/ou corporal
As línguas gestuais-visuais possuem sinais que, juntamente com
expressões corporais e faciais, expressam o pensamento que é captado pela
visão e decodificado a partir dos contextos onde estão sendo utilizados. Isto
porque existem sinais que são iguais e a significação depende das expressões,
pois a ênfase é que dá fluência às palavras.
Muitos sinais, além desses parâmetros citados, têm em suas
configurações, como traço diferenciador, a expressão facial e/ ou corporal. É
importante usar uma expressão fisionômica adequada para que a pessoa surda
sinta e entenda. A expressão é muito importante pelo fato de poder mudar o
significado de um sinal.
Portanto, as expressões faciais e corporais podem retratar uma
interrogação, exclamação, negação, afirmação e/ou ordem. Se balançarmos a
cabeça afirmativamente ou negativamente, o sinal é o mesmo, a significação
depende das expressões que serão usadas.
Podemos dizer que o corpo “fala” na medida em que nos dá informações
sobre a personalidade das pessoas: sexo, idade, origem étnica, social, estado
de saúde, o caráter etc. A aparência física do indivíduo é o que nos leva a dizer
se ele é energético ou tímido, inteligente ou estúpido, sincero ou velhaco,
antipático ou simpático.
Desde a antigüidade, a análise do caráter pela morfologia tem dado
origem a constituição de estruturas de signos em oposição : testa/ queixo,
largo/estreito, etc.
Os gestos, expressões corporais, faciais, coloração da pele, o brilho nos
olhos percebido em algumas situações, tudo isso dentro de um contexto, pode
ser entendido como forma de comunicação, tanto a percepção de uma
38
mensagem não verbal, quanto a reação da mesma podem ser conscientes ou
inconscientes.
A linguagem corporal é uma necessidade de exprimir-se fisicamente,
uma reação contra as inibições do século passado, e a necessidade de criação
é resposta ao fato de que tudo se compra, nada se fabrica pessoalmente, com
isso, os instintos de criatividade estão totalmente recaucados.
A expressão corporal nos faz tomar consciência de lembranças
nostálgicas que relegamos ao mais profundo de nosso ser. Mexer-se com
liberdade é exprimir nossos sentimentos mais escondidos, partilhar o que
pensamos mas não sabemos dizer, reencontrar o contato com a natureza e
com o outro, realizar um pouco nossa necessidade de autenticidade.
A linguagem corporal não tem o intuito de curar distúrbios psíquicos
graves, mas simplesmente ajudar as pessoas a encontrarem melhor equilíbrio
para viver mais de acordo com sua natureza profunda.
Pela linguagem do corpo você diz muitas coisas aos outros e eles tem
muitas coisas a dizer para você.
3.7 – Linguagem da ação
As posturas, as atitudes, exprimem o que é a personalidade, o que são
seus sentimentos, é a ação que expressa a intenção. A psicologia do
conhecimento nos ensinou que a ação permite apreender, reconhecer e
construir a realidade do mundo material, a realidade dos objetos do espaço.
A ação não é somente relação com o objeto, é um meio de comunicação
com o outro, é o significado afetivo contido nas atitudes e gestos.
39
5 – CONCLUSÃO
No trabalho apresentado sobre os tipos de linguagem para os
deficientes auditivos , tentamos mostrar que a LIBRAS (Língua Brasileira de
Sinais) é muito importante e fundamental para a comunicação do surdo com o
próprio surdo e com as pessoas sem
Mas além da
problema de surdez.
LIBRAS mostramos que existe outros tipos de
comunicação que é a expressão facial, a oralidade, a mímica, a dactilologia,
enfim, comunicações que qualquer pessoa ouvinte pode usar para se
comunicar com o deficiente auditivo.
A desculpa de muitas pessoas que ouvem é que, a comunicação com o
surdo é muito difícil, e para elas muitas das vezes, é melhor deixar eles de
lado, excluindo do mundo, pois acham que não tem capacidade de serem
alguém na vida, ou até mesmo terem alguma coisa, pois dizemos que não é
por aí.
Sabemos de várias histórias de surdos que são muito inteligentes e que
fazem até muitas coisas que os próprios ouvintes não fazem, mas sabemos
que é uma questão de aceitação e a própria inclusão, não podemos querer
que tudo mude de um dia para o outro, mas podemos crer que isso vai mudar e
para melhor, pois eles são seres humanos como nós, agem muitas das vezes
como nós, pensam como nós, mas apenas não escutam.
40
BIBLIOGRAFIA
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VIGOTSKY, L.S. Obras completas – Tomo cinco- Fundamentos
defectologia Havana, Editorial Pueblo y Educacion, 1989.
de
42
ANEXOS
43
ANEXO 1- ALFABETO DACTILOLÓGICO
44
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO...............................................................................2
EPÍGRAFE.............................................................................................3
AGRADECIMENTO...............................................................................4
DEDICATÓRIA......................................................................................5
RESUMO...............................................................................................6
METODOLOGIA....................................................................................7
SUMÁRIO..............................................................................................8
INTRODUÇÃO.......................................................................................9
CAPÍTULO 1
DEFINIÇÃO DE SURDEZ.....................................................................13
1.1 - Causas da perda auditiva.............................................................16
1.2 - Concepção sócio –antropológica da surdez.................................18
1.3 - História da educação dos surdos no brasil...................................21
CAPÍTULO 2
A CRIANÇA SURDA E A LINGUAGEM...............................................24
2.1- A criança surda e os problemas de comunicação.........................27
45
CAPÍTULO 3
TIPOS DE LINGUAGEM PARA A COMUNICAÇÃO COM SURDOS
3.1- Bilingüísmo e biculturalismo..........................................................32
3.2- LIBRAS( Língua Brasileira de Sinais)............................................33
3.3- Linguagens sinalizadas.................................................................34
3.4- Alfabeto dactilológico....................................................................36
3.5- Sistemas de auxílio à leitura orofacial...........................................36
3.6- Expressão facial e/ ou corporal.....................................................37
3.7- Linguagem da ação.......................................................................38
CONCLUSÃO.......................................................................................39
BIBLIOGRAFIA.....................................................................................40
ANEXOS...............................................................................................43
ÍNDICES...............................................................................................44
46
Download

alternativas da comunicação com o portador de deficiência auditiva