10 | Jornal de Negócios | Segunda-Feira, 30 de Maio de 2011
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Empresas
Maior academia de vinho dos EUA saca-rolhas para fazer “pop”! Empresas 14
AN TÓN I O M E LO PI RE S, DI RECTOR- G E RAL DA AU TOE U ROPA
“Fornecedores
têm que ser mais
agressivos
na inovação”
O líder da Autoeuropa faz um quadro sobre a capacidade
das empresas portuguesas e deixa um aviso: “Se não
conseguem, têm de perceber porque é que não conseguem”
FRANCISCO CARDOSO PINTO
[email protected]
Além de director-geral de umadas
maiores exportadoras nacionais,
AntónioMeloPireséjúrinoconcurso,promovidopelo Negócios,quevisa
sublinhar o sucesso das empresas
nacionais naexportação e internacionalização.Foinessaduplacondiçãoqueconcedeuestaentrevista.
Referiu recentemente que os fornecedores portugueses não estão preparados para competir na indústria automóvel. O que falta?
De uma maneira geral falta dimensão.Partedasempresassãode
pequenadimensãooquelimitalogo
à partida o alcance das condições
mais favoráveis paraserem fornecedores da Volkswagen. Uma empresade pequenadimensão, como
grande parte das nossas empresas
são,temlogoàpartidaumadesvantagem pelo facto de comprarem a
matéria-prima mais cara. É uma
questão de escala. Nós temos ofertas em que as pessoas dizem: “isto
nãopagasequeropreçodamatériaprima”.
Nesse sentido a exportação e a inter-
A que é que acha que isso se deve? É
uma questão cultural?
nacionalização são o caminho para adquirirem a tal escala de que fala...
Paraganharemvolume,paraganharemescalaesobretudoparapotenciar uma organização das empresas em estrutura vertical. Se
olharmos para o modelo japonês,
porexemplo,elescomeçamafazer
o projecto, constroem aferramenta, entregam a peça e entregam o
sub-conjunto, o que lhes permite
acrescentar valor em todaacadeia
enãosónoprodutofinal.Isso,grande parte das nossas empresas não
tem. Por exemplo, o grupo Simoldes, que talvez seja um exemplo
pelapositiva, integravárias valênciasdentrodogrupo,oquelhespermite fazer essa verticalização do
processo.
Empresas da dimensão da Autoeuropa têm o dever de ajudar as empresas
com quem têm relações a, também
elas, se internacionalizarem? Como a
Autoeuropa fez, em parte, com a Sodecia...
Temos procurado fazer isso.
Aliás temos umapessoasó dedicadaespecificamente aapoiar tecnicamente os fornecedores. Mas os
fornecedores não têm sido muito
proactivos nesse aspecto.
Fornecedores
não têm sido
muito proactivos
na internacionalização.
Quando se
coloca uma oferta
à frente do
fornecedor, eles
vêem que não
conseguem
competir e
acabam por
abandonar e cair
em descrédito.
Também é uma questão cultural. Quando se colocaumaofertaà
frentedofornecedor,elesvêemque
nãoconseguemcompetireacabam
por abandonar e cair em descrédito.Achoquetêmqueserumpouco
maisagressivosdopontodevistada
inovação. Não bastadizer: “eu não
consigo competir com este peço”.
Senãoconseguemtêmdeentender
porque é que não conseguem.
Que medidas defende para potenciar a
componente exportadora das empresas?
Existem alguns programas que
estão em vigor mas que na minha
opinião ainda não são suficientes.
Nós tomámos a iniciativa, juntamente com o AICEP, de desenvolver um programaqualificado para
exportar,precisamenteparaapoiar
aspequenasemédiasempresassobretudodopontodevistadagestão.
Jáfizasugestãováriasvezesdecriar
umconsórcioquepudesseapoiaras
empresas em questões de marketing, em questões de centrais de
compras, paraque essas empresas
pudessem beneficiar de reduções
de custo. Essa iniciativa tem que
partir, em grande parte, do sector
privado.
Desde que chegou à Autoeuropa que
tem colocado muita ênfase na aposta
em fornecedores locais, no sentido de
reduzir os custos de transporte das
matérias-primas. O que é que já foi feito?
Conseguimosalgunsfornecedores e neste momento estamos com
umacarteiraparaospróximoscinco anos de cerca de 23 milhões de
euros de fornecedores nacionais,
mas nanossaopinião aindaé muitopouco.Comoquenostemosdeparadoéquegrandepartedasofertas que são colocadas no mercado,
amaioriados nossos fornecedores
nãotemcapacidadeenemconcorrem.Serianecessárioqueessasempresas subissemnacadeiade valor
acrescentado,apostandoemnovos
processosenainovaçãodeformaa
conseguir concorrer no mercado
compreçosconcorrenciaisecoma
qualidade necessária.
No que toca a destinos de exportação,
defende que se elejam destinos em particular?
Eu acho que sim. Obviamente
queograndedestinovaisersempre
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Prémios Exportação & Internacionalização
Miguel Baltazar
PERFI L
A EM PRE SA
EM NÚMEROS
19 ANOS DE DEDICAÇÃO
À “CAUSA VOLKSWAGEN”
Natural da região de Setúbal,
António Afonso de Melo Pires
tornou-se, no dia 1 de Setembro de
2010, no primeiro português a
liderar os destinos da fábrica
portuguesa da Volkswagen, ao
suceder a Andreas Hinrich.
Antes de assumir a Autoeuropa, o
engenheiro, formado pelo Instituto
Superior Técnico em Engenharia
Aeronáutica, conta com 19 anos “de
casa”. Começou em 1992 na
unidade de carroçarias da fábrica
de Palmela, onde permaneceu
durante 11 anos, e de onde saiu
para dirigir a área de carroçarias da
fábrica de Navarra, Espanha.
Em 2006 assumiu a liderança da
fábrica de São Bernardo do Campo,
São Paulo, tendo sido nomeado
director-geral da fábrica de
Curitiba, no ano seguinte.
Entre os trabalhadores é muito
apreciada a simplicidade e
acessibilidade com que lida com
todos os quadros. A política da
fábrica prevê mesmo o “Café Com O
Director” – período em que é dada
aos trabalhadores a possibilidade
de exporem ao líder as suas
preocupações.
a União Europeia (UE), sobretudo no sectorautomóvel.
Mas não acha que um redireccionamento das nossas exportações
deveria ser equacionado tendo em
conta, por exemplo, a “explosão”
dos BRIC?
O grande problema dos
BRIC é que grande parte ainda
temomercadoprotegido.Aindústria automóvel tem que se
viraressencialmenteparaaUE
atéporumaquestãodecompetitividade. Porque os mercados
mais exigentes em termos de
qualidade e custo são necessariamenteosmercadoseuropeus
eissotambéménecessáriopara
forçarasempresasaseremconcorrenciais.
Mas a Autoeuropa oferece-nos um
exemplo paradigmático do aproveitamento dos BRIC, com o crescimento das exportações para a
China...
AindanãolançámosoSharan
naChina. Vaiserlançado naúltimasemanade Junho, e nasemanaanteriorlançamosoEOS.
Porissoesperamosqueesseaumentosejamaiornofuturo.
101.284
Número de veículos que saíram
da fábrica de Palmela em 2010 –
um crescimento de 18%
face a 2009.
133.000
Previsão de produção para 2011.
A confirmar-se, será a maior
produção desde 2001.
98,6%
Percentagem da produção de
2010 da Autoeuropa que foi
destinada a exportação.
“É fundamental discutirmos
com pessoas que são da empresa”
Melo Pires realça a
ausência de sindicatos
nas relações laborais da
empresa e aponta o
objectivo de, em 3 ou 4
anos, reduzir os custos
de transporte em 25%
Falava há uns meses atrás no abandono do transporte rodoviário e na aposta no transporte ferroviário como forma de reduzir custos de produção. Em
que pé está esse processo?
Já estamos a caminhar nesse
sentido.Aliásomercadodostransportadores ferroviários jáse estáa
mexeremfunçãodanossasolicitação. Depois do workshop que fizemoscomváriosexportadoreshouveumasériedepropostasapresentadas e que neste momento estão
em fase de concretização. Nós temosvindoaaumentardeumforma
“piloto” aimportação de mercadorias viacaminho de ferro, primeiro
de Barcelona, e neste momento já
estamoscomumapropostaparacomeçar atransportar directamente
da Alemanha, da Alemanha para
Barcelona, e de BarcelonadirectamenteaquiàAutoeuropa.Atéaofinaldoanoesperojáterumasolução
montadae afuncionar.
como se costuma chamar, vai ter
que ser feita sempre por camião.
Nós aqui temos a vantagem de ter
umterminalferroviário no parque
industrialeéissoqueestamosatentarmontar.Queremosqueoscomboios venham directamente para
nós, entremno parque industrial e
que alisejafeitaadescargadirecta.
A CP estará envolvida nesse processo?
A diferença de custos é significativa?
Não dáparacontabilizar ainda.
Obviamente que só vamos mudar
para o comboio se, de facto, apresentarumavantagemdecusto,mas
euesperoquenospróximostrêsou
quatro anos, com as várias optimizações que é possível fazer no processo,sechegueaumareduçãodos
25% do custo de transporte.
Recebemos propostas de vários
operadores. Uma delas foi da CP
Carga,mastemospropostasdeoutros operadores que operam jáem
Portugal.
Espera algum desenvolvimento com a
anunciada privatização da CP?
Isso só cabe àCPdizer.
Mas manter-se-á sempre uma componente de transporte rodoviário...
Qual o segredo para as relações laborais na Autoeuropa serem tão pacíficas?
A distribuição fina ou capilar,
Osegredoéaculturadetranspa-
rênciaqueexistenaAutoeuropaem
que os problemas não são escondidos. São claramente colocados.
Aconteceu isso quando passámos
porumacriseefoinecessáriocolocaràconsideraçãodostrabalhadores que, de facto, ou nós encontrávamos uma solução ou teríamos
que começar adespedir pessoas. E
agoraqueestamosaatravessarum
ciclo de subida as coisas foram colocadastambémdeformatransparente: “temos estas encomendas,
precisamosdeproduzirmais”.Agora eu penso que parte da questão
vem da criação de uma relação de
confiança de parte a parte em que
osproblemassãodiscutidosdeformaaberta.
Também é muito importante o
facto de discutirmos com pessoas
que são daempresae não compessoas que são externas à empresa.
Penso que isso é fundamental.
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