A educação na era planetária
pensamento complexo e
transdisciplinaridade na visão de
Edgar Morin
Ana Lúcia Lage
Edgar Morin
na Universidade do Conhecimento
http://www.youtube.com/watch?v=kzHjJd3cJCg&feature=related
época planetária
•
Na contemporaneidade (que Morin chama de época planetária):
– os fatos da vida concreta sofrem extrema interação dos fatores os mais
diversos (econômicos, religiosos, políticos, étnicos, demográficos , ... )
– o local é inseparável do global, o global influi sobre o local
– a vida do indivíduo é subdeterminada
– volume imenso de informações geradas o tempo todo ... e o conhecimento?
•
Morin aponta a inadequação do sistema educacional, que não é capaz de
conceber a complexidade, as numerosas relações entre diferentes aspectos do
conhecimento
•
E nos aponta a necessidade de nos questionarmos:
– sobre a humanidade,
– sobre as relações entre os homens
– sobre as relações dos homens com o conhecimento
erro e ilusão
Morin alerta que o conhecimento traz em si o risco de erro e de ilusão
– a percepção do mundo exterior não é objetiva (uma "fotografia“)
– todo conhecimento é uma tradução e uma reconstrução
– as ideias, as palavras são traduções e reconstruções
argumentos em torno de fontes biológica, psicológica e cultural do erro
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percepção (aparelho perceptivo e constância perspectiva)
leitura e interpretação
fenômeno psicológico de auto-engano (‘self-deception’)
marca da cultura através da linguagem, ideias centrais, crenças,
fenômeno de normalização, eliminação de desvios
conhecimento do conhecimento
•
o conhecimento do conhecimento
– [...] não pode ser restrito a uma elite de epistemólogos e a filósofos, [...] ele deve ser
fruto de autoconhecimento, [...] deve ser construído durante toda a vida.
•
possessão das ideias
– [...] cremos ingenuamente que possuímos as ideias, mas este é só um aspecto. [...]
possuímos e somos possuídos pelas ideias formadas nas comunidades, são elas que nos
possuem. ex. religião, ideologias
•
pertinência do conhecimento
– O conhecimento pertinente é o que permite situar as informações com o seu contexto
geográfico, cultural, social, histórico,
– é preciso contextualizar um conhecimento particular no conjunto global
– nem tudo e quantificável, o cálculo ignora os sentimentos e a vida concreta
•
a parte está na totalidade, mas também o todo está na parte
– principio hologramático: recursão e dialógica
– ex. caleidoscópio, fractais, patrimônio genético nas células de um organismo
a condição humana
• o que é o ser humano?
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seres biológicos no munda da vida,
máquinas físico-químicas, máquinas térmicas que lidam com calor e energia,
compostos de átomos de carbono, ligados à aventura planetária do cosmos,
indivíduos contextualizados na história, sociedade, economia, cultura, ecologia...
humanos diferenciados pela consciência, cultura, pensamento
• o que é a condição humana?
– tríade: indivíduo, espécie e sociedade
– a espécie produz o indivíduo que a produz a se reproduzir
– a sociedade produz o indivíduo que produz a sociedade; a sociedade com a sua
cultura volta-se sobre nós e nos transforma em indivíduos plenamente humanos
dimensões do humano
Conceber a unidade e a diversidade humana
• o homem como uma unidade que produz diversidade (cultura, linguagem saberes)
• a compreensão da diversidade, de outras concepções e crenças em outras culturas é
essencial ao conhecimento, conhecemos a cultura através de outras culturas
• ameaças a diversidade, incompreensões, indiferença ao sofrimento e à miséria alheia
homo sapiens, homo faber, homo economicus, homo demens, homo ludens
• dimensões inseparáveis do humano, pois entre elas circula a afetividade, o sentimento.
• a razão pura não existe, é movida pela paixão.
o ser humano é complexo, prosaico e o poético
• qualidade poética da vida abraça as emoções e as verdades profundas
• viver poeticamente é ser capaz de exprimir sua personalidade, suas comunhões, suas
participações, suas curiosidades
• dimensão subjetiva e afetiva na literatura, na poesia, no cinema, no teatro
Marisa Monte
Comida (de Arnaldo Antunes)
http://www.youtube.com/watch?v=hH4n8w1-Hp0
…
“pensar a condição humana, não é um conceito abstrato,
[...] é auto-conhecimento”
“é preciso ensinar a autonomia, a ter conhecimento dos
problemas de sua própria vida”
dividir para conquistar
Como conhecemos?
•
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O conceito clássico de análise reenvia ao objeto, a suas particularidades, a seus
componentes, num esforço de observação e descrição, de torná-lo inteligível por
meio de um trabalho mental de simplificação e manipulação.
Esta análise cartesiana, explicativa “é, de acordo com a sua etimologia,
instrumento de decomposição, desmonte, desconstrução de um todo em suas
partes elementares, com vistas a uma síntese, uma explicação ulterior”.
"Na escola primária nos ensinam a isolar os objetos (do seu meio ambiente),
a separar as disciplinas (em vez de reconhecer suas correlações),
a dissociar os problemas, em vez de reunir e integrar.
Obrigam-nos a reduzir o complexo ao simples,
isto é, a separar o que está ligado; a decompor , e não a recompor;
a eliminar tudo o que causa desordens ou contradições em nosso entendimento"
(MORIN, 2001, p.15).
o pensamento complexo
•
Morin argumenta que “os modos simplificadores do conhecimento mutilam, mais
do que exprimem as realidades ou fenômenos de que tratam, [...] produzem mais
cegueira que elucidação” (MORIN, 2006, p. 5)
•
Ele elabora um modo de pensar – o pensamento complexo –, um método que
busca responder ao desafio de lidar com o real, de dialogar e negociar com os
fenômenos do mundo em que estamos imersos.
“O que é a complexidade? A um primeiro olhar, a complexidade é um tecido
(complexus: o que é tecido junto) de constituintes heterogêneas inseparavelmente
associadas: ela coloca o paradoxo do uno e do múltiplo. Num segundo momento, a
complexidade é efetivamente o tecido de acontecimentos, ações, interações,
retroações, determinações, acasos, que constituem o nosso mundo fenomênico”
(MORIN, 2006, p. 13)
o método
• A dificuldade do pensamento complexo em enfrentar o emaranhado (o
inextrincável, o jogo de interrelações, a solidariedade dos fenômenos
entre eles, a ambiguidade) requer a elaboração de bases conceituais
• ‘O Método’ propõe instrumentos para pensar o real e compreender a
complexidade do real a partir de questionamentos fundamentais
o que é o ser humano? o que é identidade? o que a condição humana?
“O exercício da complexidade é tentar articular sem homogeneizar,
é a [...] busca de um metanível onde se possa ‘ultrapassar’ a contradição,
sem negá-la. Mas o metanível não é o da síntese cumprida:
também comporta sua brecha, suas incertezas e seus problemas.
Somos levados pela aventura indefinida ou infinita do conhecimento”
(MORIN, 2006, p. 98)
3 princípios para pensar a complexidade
1. O primeiro, o princípio dialógico nos permite manter a dualidade no seio da
unidade, associando dois termos (ordem e desordem) ao mesmo tempo
complementares e antagônicos.
2. O segundo é o princípio da recursão organizacional, que pressupõe um processo
onde os produtos e os efeitos são ao mesmo tempo causas e produtores do que os
produz. A ideia recursiva rompe com uma ordem linear de causa/efeito, já que
tudo o que é produzido volta-se sobre o que o produz num ciclo ele mesmo
autoconstitutivo, auto-organizador e autoprodutor.
3. O terceiro princípio é o princípio da auto-eco-organização, que tem valor
hologramático: não apenas a parte está no todo, o todo está no interior da parte
que está no interior do todo.
mit-disciplinaridade
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A multidisciplinaridade propõe que um objeto de estudo seja analisado por
múltiplas perspectivas disciplinares, sem que, no entanto, haja uma aproximação
entre elas;
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A interdisciplinaridade prevê a interação entre duas ou mais disciplinas e implica a
transferência de métodos, uma integração mútua de conceitos, epistemologias,
metodologias, procedimentos e organização da pesquisa. Na interdisciplinaridade
há um diálogo e negociação de significados e articulação de referenciais entre
diferentes ciências, originando, em alguns casos, um novo corpo disciplinar – como
a bioquímica, a psicolinguística e a arte tecnológica;
•
A transdisciplinaridade é uma proposta de ‘epistemologia da convergência’, uma
articulação de novas compreensões da realidade entre e para além das disciplinas
especializadas tradicionais. Trata-se de uma abordagem que passeia por, além e
através dos campos disciplinares, em busca do entendimento das complexas teias
epistemológicas e práticas que perpassam os fenômenos humanos e do mundo
circundante.
multirreferencialidade
– A multirreferencialidade propõe que a análise se dê a partir de múltiplos
sistemas de referência – poesia, arte, política, ética, religião, ciência –
igualmente significativos, todos irredutíveis uns aos outros e sem pretensão
de síntese, de conhecimento acabado – antes uma bricolagem de visões que
leva a uma compreensão.
“Assumindo plenamente a hipótese da complexidade, até mesmo da
hipercomplexidade, da realidade a respeito da qual nos questionamos,
a abordagem multirreferencial propõe-se a uma leitura plural de seus
objetos (práticos ou teóricos), sob diferentes pontos de vista, que
implicam tanto em visões específicas quanto linguagens apropriadas às
descrições exigidas, em função de sistemas de referências distintos,
considerados, reconhecidos explicitamente como não redutíveis uns
aos outros, ou seja, heterogêneos”
(ARDOINO, 1998, p. 24).
religar para compreender
Religação dos saberes
‒ O paradigma de simplificação impede o conhecimento complexo. Só a
religação dos saberes pode permitir a compreensão do complexo.
Ressignificação e ampliação do conceito de análise
‒ A análise multirreferencial considera o complexo como processo e não
como objeto estático.
“Analisar passa a ser acompanhar o processo, compreendê-lo, apreendê-lo
mais globalmente através da familiarização, nele reconhecendo a
relativamente irremediável opacidade que o caracteriza.
Passa a ser produzir a explicitação, a elucidação (e não a explicação racional),
sem procurar interromper o seu movimento,
mas realizar esta produção ao mesmo tempo em que tal processo se renova,
se recria, na dinâmica intersubjetiva da penetração na sua intimidade, na
multiplicidade de significados, na possibilidade de negação de si mesmo, que
caracteriza o sujeito das relações sociais”
(FRÓES BURNHAM, 1998, p. 41).
educação transdisciplinar
Morin propõe uma reforma profunda, criar uma nova universidade, para ensinar:
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a compreensão, a condição humana,
o ensino do processo civilizatório (globalização, economia, consumo, mídia, crise)
o conhecimento pertinente, o lidar com a incerteza,
a complexidade, a cientificidade, a multidimensionalidade, a multirreferencialidade
“não sabemos o que acontece e é isso que acontece“ (Ortega y Gaaset)
“o saber que temos não é definitivo, é preciso incessantemente modificar nosso
conhecimento, revê-lo, verificá-lo. É isto que é preciso fazer: quanto mais difícil o
problema, mais urge nos concentrarmos nele” (MORIN, 2005).
[Texto parcial em http://edgarmorin.org.br/textos.php?p=1&tx=30]
ciência com consciência
• A ciência é, intrínseca, histórica, sociológica e eticamente, complexa.
• Os efeitos da ciência não são simples, nem para o melhor nem para o pior.
Eles são profundamente ambivalentes.
“a ciência tornou-se cega em sua incapacidade de controlar, prever, até
mesmo conceber seu papel social, em sua incapacidade de integrar, articular,
refletir, sobre seus próprios conhecimentos” (MORIN, 2006, p. 52).
• compromisso ético-político de reclamar por ciência com consciência
“a ciência tem necessidade não apenas de um pensamento apto a considerar a
complexidade do real, mas para considerar a sua própria complexidade e a
complexidade das questões que levanta para a humanidade” (MORIN, 2007, p.9)
• progresso e conhecimento como conceitos complexos
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o pensamento complexo