UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
LIMITES NA EDUCAÇÃO
INFANTIL
DANIELLE LIZZIE MARQUES VON BOECK
Orientadora: Prof. Dra. Darli Collares
Porto Alegre, julho de 2007.
“As pessoas que não transpõem
limites a serem superados é
que atravessam os limites a
serem respeitados”
(YVES DE LA TAILLE, 2006, p.51).


Este estudo trata de uma análise
reflexiva da minha prática docente
em Educação Infantil.
Apóio-me em Yves de La Taille, que
trata dos limites não apenas como
sendo algo imposto, mas também
como algo a ser transposto, não
apenas como uma regra a obedecer,
mas
como uma meta
a ser
alcançada e atravessada.

Sigo Jean Piaget para analisar
situações vivenciadas na Educação
Infantil, acolhendo, como objetivo
de investigação, refletir sobre a
importância da ação dos adultos,
em especial das ações dos pais, na
construção dos limites nas crianças
da Educação Infantil e sua
conseqüência para o
desenvolvimento das mesmas.
O QUE ME LEVOU A
INVESTIGAR ESTE TEMA


Em festas em que as crianças deveriam
ir fantasiadas, os pais que não haviam
se lembrado de que haveria festa
naquele dia, corriam para comprar uma
fantasia, embora a escola tivesse
fantasias para emprestar.
Uma mãe, tão preocupada com seu
esquecimento de uma festa à fantasia,
falsificou a data do bilhete escrito pela
professora.
PROBLEMA DE PESQUISA
O que são limites e como os pais
de crianças da Educação Infantil
interferem na sua construção e
quais as possíveis implicações
dessas ações na vida futura das
crianças?
OBJETIVOS



Refletir sobre o significado da noção de
limite no comportamento e na educação
infantis;
Refletir sobre a origem dos limites;
Mostrar a importância das ações dos pais
na colocação dos limites no cotidiano das
crianças da Educação Infantil e suas
implicações na vida futura das mesmas.
METODOLOGIA

Este trabalho baseia-se em:


Pesquisa bibliográfica; e
Reflexão sobre minha prática
em escola de Educação
Infantil.
O QUE SÃO LIMITES?


Dicionário Aurélio: é o “ponto que
não se deve ou não se pode
ultrapassar” .
Outeiral
(1994,
p.34):
“limite
significa a criação de um espaço
protegido” no qual a criança ou o
adolescente “poderá exercer sua
espontaneidade e criatividade sem
receios e riscos”.

De La Taille (1999) afirma que o
limite não é apenas aquele que
delimita o que se pode e o que
não se pode fazer. É algo a ser
transposto pelo sujeito. Limite
não é apenas uma linha a não
ser quebrada, mas a ser
superada.
COMO SE CONSTROEM OS
LIMITES?
Piaget, em O Juízo Moral na
Criança (1932), ao estudar o
desenvolvimento das regras e da
noção
de
moral,
mostra
o
seguinte processo:



Anomia - ausência de regras;
Heteronomia
é
o
respeito
unilateral pela regra, pelo outro. O
sujeito heterônomo acredita que as
regras sempre existiram e que não
podem ser modificadas.
Autonomia – é a capacidade de se
governar por si mesmo. O sujeito
autônomo acredita que as regras
podem ser modificadas, desde que
haja a aceitação do grupo.
LIMITES NUMA DIMENSÃO
EDUCACIONAL

Segundo DE LA TAILLE, os limites
podem ser pensados a partir de
três dimensões educacionais:



como barreiras a serem transpostas consiste em trabalhar os limites como sendo
linhas a serem superadas, tanto para a
maturidade quanto para a excelência.
como fronteiras a serem respeitadas - como
indicações daquilo que se pode e não se pode
fazer.
E como fronteiras a serem construídas - está
ligada aos limites como fronteiras que a
criança ou o adolescente constrói para se
proteger, bem como proteger sua intimidade
e sua privacidade.
POR QUE OS PAIS NÃO COLOCAM
LIMITES?


Pouco
tempo
juntos
devido
ao
trabalho: “já passo tão pouco tempo
com ele que não quero brigar...”.
Depois de um dia exaustivo de trabalho
não se tem energia, paciência para
explicar o que é certo ou não. “É
melhor deixar fazer o que quiser, desde
que não incomode”.


Medo de traumatizar a criança. Os
pais insistem em pré julgar que a
criança não será capaz de suportar
um “não”.
Convicção de que o tempo ensinará.
Os pais, dessa forma, se isentam de
sua responsabilidade, já que o
tempo será o educador. Tenta-se
poupar o sofrimento de uma coisa
pequena, jogando o problema para
depois.

De La Taille (1999, p.63) afirma
que “O que poderia ser interpretado
como generosidade libertária acaba
sendo visto por eles como simples
ausência”. Além de perceber que ali
quem manda é ela, a criança se dá
conta de que não vale a pena seguir
regras, pois é contrariando-as que
se leva vantagem, que se consegue
as coisas de forma mais rápida e
fácil.

De acordo com Yves De La Taille
(1999, p.37), “Ao passar uma
imagem artificial da excelência, o
excesso de mimo falha em
instrumentalizar a criança para
alçar vôos maiores”. Penso que
estamos em uma era em que as
crianças
são
tratadas
como
reizinhos, com todo o paparico à
sua volta, e, por isso, acabam por
não terem motivo para crescer,
para transpor seus limites.
CONSIDERAÇÕES FINAIS


Preocupação a ser enfrentada: a
construção dos limites está sendo
entregue à escola.
Os pais parecem estar com medo de
serem vistos pelas crianças como
malvados, e, mesmo que saibam da
importância dos limites, estão optando
por ficarem às boas com seus filhos,
deixando para a escola a tarefa da
construção de limites.


A criança recebe a falta de limites como
ausência. Ela sente-se abandonada pelos
pais que a deixam fazer tudo sem se
preocuparem com seu estado, tanto
moral quanto físico.
Um comportamento comum nas crianças
é a pouca tolerância a uma resposta
negativa. É comum os pais não quererem
contrariar a criança, “para ela não ficar
chateada”.

Agir com base na imposição de limites é
apoiar-se na heteronomia, que é
característica da educação repressora.
Por outro lado, não se quer a anomia,
que consiste na ausência de regras. O
que se quer é a autonomia, a qual se
obtém por construção. “O equilíbrio não
estaria na imposição de limites, mas
seria obtido por meio de um processo
de construção, visando à autonomia
moral, onde dizer não, no momento
adequado, é fundamental” (PIAGET).

Uma forma como a escola pode
ajudar é explicando as coisas de
forma detalhada, ao invés de dizer
frases genéricas como: “não bata no
seu amigo porque é feio fazer isso”.
Para a criança o que significa fazer
uma coisa feia? O melhor é dizer que,
se bater no colega, ele vai se
machucar, vai chorar, enfim, algo
mais
concreto
para
facilitar
o
entendimento da criança.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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WEBER, Lídia. Weber, L N.D. & BRANDENBURG, O.J. (2005).
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(www.prppg.ufpr.br)
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