AS TECNOLOGIAS DIGITAIS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA
EDUCAÇÃO: DESAFIOS, RISCOS, E OPORTUNIDADES
Patrick Medeiros de Jesus - CEFET-MG
Reinaldo Ríchardi Oliveira Galvão - CEFET-MG
Shirley Luana Ramos - CEFET-MG
Resumo:
O maior risco para o sistema educacional é a ausência de implementação de novas
tecnologias. Baseado nesta premissa, o uso da tecnologia na educação vem sendo alvo de
estudo de diversos autores.
Este trabalho propõe uma discussão de como as Tecnologias Digitais de Informação
e Comunicação (TDIC’s) podem ser usadas no ambiente escolar, sobretudo em sala de aula,
com o objetivo de verificar os desafios, riscos e oportunidades que estas ferramentas podem
proporcionar quando aplicadas e quais requisitos principais são demandados, e fazer uma
análise da pertinência do seu uso em sala de aula e os aspectos humanos e sociais que devem
ser levados em consideração sem correr o risco de se abstrair em um contexto longe da
realidade escolar.
Palavras-chave:
Educação
Tecnológica;
Tecnologias
Digitais
de
Informação
e
Comunicação; Ensino-aprendizagem.
Abstract:
The lack of new technologies implementation is the greatest risk to the educational
system. Based on this, the use of technology in education has been the subject of the study for
many authors.
This work proposes a discussion about how the Information and Communication
Digital Technologies (TDIC’s) can be used in a school context, especially in the classroom,
and it aims at verifying the challenges, risks and opportunities provided by these tools when
they are applied, and it makes an analysis of the relevance of their use in the classroom and
the human and social aspects which should be taken into consideration without risk of
abstracting in a context away from the school reality.
Keywords: Technology Education; (Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação);
Teaching-Learning.
1. Introdução
O grande desafio de aplicar as TDIC’s na educação é fazer com que as inovações
tecnológicas realmente melhorem a qualidade do ensino e não se tornem apenas ferramentas
obsoletas e sem adequação ao processo de ensino-aprendizagem (CYSNEIROS, 1999). Os
desafios se iniciam na estrutura das escolas: adequação dos espaços físicos, aquisição de
equipamentos tecnológicos e promoção da manutenção; e na preparação dos profissionais:
fornecimento de meios para sua capacitação, motivação e inovação metodológica, pois “a
escola precisa formar pessoas com potenciais muito flexíveis, que mudem, transformem e
transitem em diversas situações, experiências e contextos” (CASTELLS, 2009).
Transformar desafios em oportunidades é um obstáculo sempre presente e é
necessário entender que as TDIC’s são apenas ferramentas e que a solução não está apenas no
seu uso, mas principalmente na capacidade de contextualizá-las no processo ensinoaprendizagem.
Ao utilizar tecnologia em sala de aula, o risco de se confundir informação com
conhecimento é latente. A informação por si só não modifica o ser, já o conhecimento altera o
comportamento humano.
Os termos tecnologia e metodologia devem se complementar e não se excluírem
mutuamente. De nada vale um vasto aparato tecnológico sem o seu uso correto e adequado a
cada situação. Utilizar as TDIC’s de forma não produtiva é um grande risco. Para tal é
necessário que o processo seja sempre revisado e adequado à novas mudanças.
Este trabalho foi desenvolvido através de uma análise bibliográfica, abordando as
oportunidades, riscos e desafios na implementação das TDIC’s em sala de aula e também
verificando quais os principais requisitos humanos e materiais para o sucesso do uso dessa
ferramentas no ambiente escolar.
2. Referencial Teórico
As Tecnologias Digitais de informação e Comunicação (TDIC`s) não são
apenas a Internet e sim um conjunto de equipamentos e aplicações tecnológicas, que
têm na maioria das vezes a utilização da internet como meio de propagação e que se
tornam um canal de aprendizagem. Embora não substituam as tecnologias
convencionais (como rádio e televisão), que continuarão sendo utilizadas e possuem,
cada qual, a sua função.
No âmbito da educação, as TDIC`s podem ser entendidas como ferramentas
de suporte e devem ser orientadas segundo os objetivos da educação, pois a obtenção
de ótimos resultados depende de determinarmos de forma clara e objetiva o que
pretendemos trabalhar em sala de aula para depois definir qual tecnologia se enquadra
melhor para alcançar o resultado esperado no processo de ensino e aprendizagem, ou
seja, escolher primeiro a tecnologia a ser utilizada nem sempre trará um resultado
satisfatório, pois existem vários fatores que devem ser observados.
Segundo (Martínez, 2003), para incorporarmos as TDIC`s nas escolas devemos levar
em consideração vários fatores como:
- equipar as escolas com equipamentos que possuem plena capacidade de uso e local
adequado para serem instalados (um laboratório de informática, sala de multimídia
ou algum outro espaço destinado a esse fim);
- adquirir tecnologia, mobiliário adequado e comprar aplicativos e softwares de
administração de redes, entre outros;
- promover a distribuição, instalação, manutenção dos equipamentos e manter uma
estratégia de atualização dinâmica que evite a obsolescência rápida destes;
- conectar as escolas à Internet (inclusive as escolas que se localizam em áreas
rurais), investindo em infra estrutura e serviços de telecomunicações;
- preparar os profissionais para o uso das TDIC`s na sala de aula, pois muitos
profissionais não tem um conhecimento prévio de como utilizar essas ferramentas
não imaginam como poderiam explorá-las em sala de aula. Essa capacitação deve ser
permanente, principalmente se os profissionais não praticarem o uso das TDIC`s
constantemente e;
- fornecer meios para a capacitação, motivação e inovação metodológica desses
profissionais, incluindo no currículo de formação de professores disciplinas
envolvendo o uso das TDIC`s também em especializações e pós-graduacões. “A
escola precisa formar pessoas com potenciais muito flexíveis, que mudem,
transformem e transitem em diversas situações, experiências e contextos”
(CASTELLS, 2009).
Para obtermos sucesso com o uso das TDIC`s nas escolas será necessário várias
mudanças na forma como se dá o processo de ensino e aprendizagem. “... sem dar atenção às
condições do local de trabalho dos docentes e sem o reconhecimento dos saberes que levam
para a sala de aula, há pouca esperança de que as novas tecnologias tenham mais do que um
impacto mínimo no ensino e na aprendizagem. Sem uma visão mais ampla do papel cívico e
social que as escolas desempenham nas sociedades democráticas, nossa atual ênfase excessiva
no uso da tecnologia na escola corre o perigo de banalizar nossos ideais nacionais” (L. Cuban,
1986).
3. Análise Bibliográfica
3.1. Desafios
O grande desafio é fazer com que as inovações tecnológicas realmente melhorem a
qualidade do ensino e não se tornem apenas ferramentas obsoletas e sem adequação ao
processo de ensino-aprendizagem (CYSNEIROS, 1999).
Nota-se que o volume de informações disponíveis ao homem assume proporções
astronômicas e exige dele, mais do que conhecê-las, a capacidade de sintetizá-las em
conhecimentos de forma que o torne apto a enfrentar os problemas propostos pela vida. Dessa
maneira, alguns requisitos se tornam essenciais para garantir o êxito na inserção das TDIC’s
nas escolas:
3.1.1. Sensibilização dos agentes escolares
Diante de mudanças, a primeira palavra de ordem do ser humano é, em geral:
resistência. Assim, é necessário esclarecer aos agentes escolares quanto à viabilidade do
repensar
que
a
escola
exige
para
melhor
atender
aos
requisitos
da
aliança
sociedade/ciência/educação, tão presente e tão necessária na vida moderna.
O processo de adoção das TDIC’s no ambiente escolar não pode ser efetuado por
agentes isolados, pois envolve a remodelação de todos os papéis da educação e, por tanto,
requer a participação de todos: alunos, professores, pais, administradores escolares e
governantes.
Os pais precisam ser conscientizados quanto à importância da reforma para apoiar
seus filhos, que, enquanto alunos e cidadãos, precisam ser encorajados e estimulados pela
postura do professor. Este, por sua vez, deve abrir mão do título de detentor do saber e
assumir a posição de orientador, com auxílio da ação administrativa que precisa, então,
organizar as estratégias de planejamento, incentivo, execução e revisão de todo processo.
Todos precisam estar dispostos e aptos a transformar-se gradativamente, aprimorando seus
saberes e ações.
Segundo Fernanda Freire, do núcleo de informática aplicada à educação da
Universidade Estadual de Campinas, no artigo “A implantação da informática no espaço
escolar: questões emergentes ao longo do processo”,
[...] Mudanças estruturais e pedagógicas só poderão vir a acontecer se a
comunidade escolar estiver coesa e receptiva para compreender suas implicações.
Direção e corpo docente constituem peças fundamentais de uma mesma
engrenagem. Quanto uma pára, a outra sofre e vice-versa. Esse funcionamento
sincronizado, no entanto, garante que o trabalho possa ser da escola e ao mesmo
tempo, de cada professor. Não se trata de um projeto unilateral. [Freire, 1998, p.
59].
3.1.2. Capacitação Docente
A capacitação dos professores é requisito indispensável ao processo educacional
escolar, pois o docente, em conjunto com o aluno, constitui a instância escolar mais próxima
da formação propriamente dita do ser humano, objetivo principal da educação: a formação do
homem.
O corpo docente da escola que se prepara para implantar as TDIC’s em sua prática
educacional precisa de capacitação para saber explorar os novos ambientes de trabalho e para
contribuir com o processo.
O professor é peça-chave na estrutura, pois é o articulador natural da mudança na
prática educacional, principalmente, em virtude do seu papel mediador entre alunos e
administradores.
E, para isso, o professor precisa rever suas posturas, reavaliar seus propósitos e
utilizar as ferramentas que terá ao seu dispor. Além disso, terá de reestruturar-se, o que requer
estudo, análise e esforço. Todo este processo pode ser resumido em uma palavra: capacitação.
O professor representa a base de todo o trabalho. Sem o seu desenvolvimento,
pouco se pode realizar. É preciso estudar, ter iniciativa, e aprender-executarrefletir sobre o aprendido. Modificar o que for necessário. Exige-se, nesse processo,
abertura, ousadia, colaboração e dedicação [...]. É ele quem orienta as
investigações dos alunos, incentiva o modo como cada aluno constrói seu próprio
conhecimento [...]. O professor envolve-se em um processo que o mobiliza
internamente: aprender uma coisa nova leva-o a instaurar um diálogo consigo
mesmo. Aprender, atuar com os alunos, analisar sua ação pedagógica e modificá-la
permite-lhe, com o passar do tempo, desenvolver uma metodologia de trabalho
própria constantemente aberta a nova reformulação. [Freire, 1998, p. 60].
É possível determinar algumas características do perfil de educador almejado pelas
estratégias de capacitação de professores para implantação das TDIC’s na educação escolar, a
saber:
3.1.2.1. Disposição para Estudar
O professor, para atender às exigências da implantação dos recursos tecnológicos
digitais de informação e comunicação em sua prática profissional, deve apresentar disposição
para estudar, pois precisa ter conhecimento sobre, dentre outras coisas:
- o que as TDIC’s podem oferecer ao processo educacional escolar;
- como as TDIC’s podem ser usadas de forma que atendam aos objetivos da
educação;
- por que usar esses instrumentos.
Assim, a implantação desse recursos na educação escolar, inevitavelmente, vai exigir
leitura, interpretação, diálogo e questionamentos pelo professor. Demandará do educador,
portanto, disposição para estudar. Outro fator que reforça a necessidade de disposição do
professor para estudar é devido às rápidas mudanças tecnológicas e o grande fluxo de
informações que esse processo fornece, em especial na área da informática e tecnologias
digitais.
3.1.2.2. Conhecimento das TDIC’s
Os professores, assim como os outros agentes educacionais, necessitam dispor de
conhecimento e habilidades específicas. Precisam, dentre outras coisas, conhecerem as
ferramentas que podem ter serventia à sua prática educacional escolar e saber explorá-los de
forma que atendam aos objetivos educacionais.
É fundamental também que o professor possua uma visão realista das tecnologias, ou
seja, que não atribua às ferramentas tecnológicas o papel de alienadores ou de vilões da
educação escolar, muito menos o de salvadores da escola. É importante que o professor saiba
que o uso que se faz desses recursos é que pode trazer efeitos benéficos ou maléficos à
educação escolar.
Por outro lado, não é necessário que o professor seja um técnico completo, que seja
analista ou programador, basta dominar o assento de usuário crítico e consciente dos recursos
disponíveis.
3.1.2.3. Competência para se educar continuamente
Para atender à dinâmica contemporânea, o professor precisará apresentar
competência para educar-se continuamente. Nesse sentido a prática da pesquisa pode
favorecer o trabalho docente uma vez que, com a pesquisa, o educador pode adquirir
conhecimentos e habilidades:
No dia-a-dia das pessoas, pesquisa, como expressão educativa, significa a
capacidade de andar de olhos abertos, ler criticamente a realidade, reconstruir as
condições de participação histórica, informar-se adequadamente. Não se trata aí de
esperar elaborações teóricas, testes e ritos formais [...] [Demo, 1997, p. 34].
Dessa forma, a pesquisa é indispensável ao perfil do professor. Os recursos
disponibilizados precisam ser entendidos de forma crítica para que sua participação na
história da educação escolar seja efetiva e válida. Para tanto, o professor precisará informar-se
adequadamente.
Será útil distinguir entre pesquisa como atitude cotidiana e pesquisa como resultado
específico. Como atitude cotidiana, está na vida e lhe constitui a forma de passar
por ela criticamente, tanto no sentido de cultivar a consciência crítica, quanto no de
saber intervir na realidade de modo questionador e de reconstruí-la como sujeito
competente [Demo, 1998, p. 12].
3.1.2.4. Capacidade de ousar
A ousadia é ingrediente indispensável ao processo de implantação das TDIC’s na
educação, pois a necessidade de estudar exigirá que os professores avancem além dos limites
da área de conhecimento, o que não se constitui tarefa fácil, principalmente ao se
considerarem as especificações das formações docentes.
3.1.2.5. Cumplicidade com o Educando
É chegado o tempo em que o professor deve abandonar sua postura superior e
autoritária, para junto com os alunos, criar uma parceira que funcione de maneira efetiva.
Do mesmo modo, o aluno deverá ser motivado a sair da posição de mero ouvinte
para assumir a participação ativa, questionadora, criativa e comprometida com o exercício de
investigação e construção do conhecimento.
Professores e alunos, passarão portanto à condição de parceiros, na busca da
construção de saberes e fazeres individuais e coletivos.
3.1.2.6. Criatividade
A criatividade precisa aparecer, pois cada momento do pesquisar poderá promover a
ampliação gradativa dos saberes e cada turma de alunos constituirá nova cumplicidade, com
diferentes caminhos e descobertas.
A capacidade criadora humana constitui valiosa fonte de oportunidades e
possibilidades de desenvolvimento do homem, principalmente quando se trata da formação de
outros homens.
3.1.3. Recursos físicos e lógicos necessários à Escola
Um passo indispensável, no processo de adoção das TDIC’s no ambiente
educacional é equipar a escola.
Nessa tarefa, o ideal é que os agentes escolares tenham o apoio de profissionais da
área de tecnologia para elaboração das especificações dos equipamentos físicos (hardwares) a
serem adquiridos e das aplicações (softwares) necessárias à utilização destes nos objetivos
escolares, pois os avanços nessa área são significativamente velozes, geralmente dificultando
a elaboração de projetos de longo prazo.
3.1.4. Ajustar o funcionamento das atividades escolares
Para adoção das atividades tecnológicas digitais na prática educacional, ajustes no
funcionamento da escola são necessários: elaboração de horário de funcionamento dos
laboratórios, definição de equipe responsável pelo suporte técnico aos usuários dos
equipamentos, provisão de recursos para manutenção e material de apoio, adequação da real
necessidade e utilidade das TDIC’s.
É absolutamente necessário que a administração da escola tenha flexibilidade e
tolerância para abraçar um novo projeto pedagógico que certamente provocará um período de
instabilidade. São necessários ajustes de todo tipo: grade curricular, horário de aulas,
planejamento, reuniões e uso do laboratório em horário extra classe. A viabilização desse tipo
de trabalho na educação requer um bom planejamento organizacional, que se adeque às
necessidades e às condições da instituição, nas quais questões como manutenção dos
equipamentos e compra de materiais de consumo precisam estar previstas, para que não se
transformem em empecilhos para a prática do mesmo.
Outro ajuste de suma importância para o sucesso na implantação desses recursos em
sala de aula é definir a estratégia de entrosamento da equipe de suporte técnico com o corpo
docente, pois seus trabalhos complementam-se mutuamente.
Se houvesse algum método e/ou processo de ensino-apredizagem unanimemente
aceito e eficientemente comprovado, seria fácil programar as TDIC’s para educar.
Como cita Moraes em seu artigo “Subsídios para fundamentação do Programa
Nacional de Informática na Educação”, quando trata da educação para uma cidadania global:
Educar para a cidadania global significa formar seres capazes de conviverem, se
comunicarem, dialogarem num mundo interativo e interdependente utilizando os
instrumentos da cultura. É preparar o indivíduo para ser contemporâneo de si
mesmo, como membro de uma cultura planetária e, ao mesmo tempo, comunitária
próxima, que, além de exigir sua instrumentação técnica para comunicação a longa
distância, requer também o desenvolvimento de uma consciência de fraternidade, de
solidariedade e a compreensão de que a evolução é individual e, ao mesmo tempo,
coletiva. É prepará-lo para compreender que acima do individual deverá sempre
prevalecer o coletivo. [Moraes,1997, pp. 12-13].
Aceitar que a escola se distancie da necessidade do educando de capacitar-se
enquanto cidadão é, portanto, aceitar que a escola negligencie nossa condição social.
4. Riscos
Existem três principais posturas educacionais na implantação das TDIC’s nas
escolas:
- o ensino das TDIC’s, incluindo disciplinas específicas no currículo escolar;
- as TDIC’s no ensino, disponibilizando os recursos da computação para o
desenvolvimento das práticas educacionais escolares;
- A utilização das TDIC’s como instrumento pedagógico auxiliar no processo ensinoaprendizagem nos mais diversos conteúdos.
A proposta de ensino das TDIC’s, em relação ao uso das mesmas no ensino, é a mais
simples. A inserção de disciplinas específicas no currículo pode ser efetivada com a
contratação de professores com formação em informática e computação, construção de
laboratórios com recursos computacionais, organização do horário de utilização desses
laboratórios e alocação de mais disciplinas no horário das turmas contempladas com o
referido complemento curricular. Em compensação, com essa postura, a subutilização dos
recursos disponibilizados é mais provável, pois é maior o risco deles acabarem servindo
apenas aos próprios fins, e, talvez, não fazendo jus ao adjetivo “educativo”.
O uso das TDIC’s no ensino e como instrumento pedagógico, em relação à postura
descrita anteriormente, pode ter sua operacionalização mais complexa. Para que os recursos
possam ser usados nas ações educacionais, todo corpo docente e também os agentes escolares
precisam ser capacitados e, para tanto, devem ter suas resistências ao novo vencidas.
É preciso adotar um posicionamento crítico face a qualquer inovação tecnológica, o
que inclui o computador. O primeiro passo para isso é desmitificá-lo. Para acabar
com o mito do computador, é preciso encará-lo como uma máquina semelhante a
qualquer outra, criada e manipulada pelo homem e cuja influência sobre a
sociedade requer uma análise crítica [...]. O emprego do computador no processo,
assim como o uso de qualquer tecnologia, exige do educador uma reflexão crítica
[Haydt, 1997, p. 269].
As TDIC’s são, sem dúvida, velozes e confiáveis depositários de informações. No
entanto, para que essas informações se convertam em conhecimentos e/ou competências, as
referidas ferramentas precisam ser criteriosamente exploradas no ambiente escolar.
No ambiente educacional há fervorosos seguidores e ferozes opositores das TDIC’s a
debater se os computadores devem ser inseridos ou não no contexto escolar e de que modo.
Existem aqueles que atribuem às TDIC’s o papel “mágico” de salvadoras da educação e há os
que acreditam que a inserção delas nas salas de aula irá alienar os alunos, desempregar os
professores e desvirtuar os efeitos do processo ensino-aprendizagem.
Deve-se fazer uma análise necessária e criteriosa quanto ao uso das TDIC’s no
ambiente escolar, ou fora desse, para que seja possível aproveitar ao máximo esses recursos
sem no entanto subestimá-las, desperdiçar recursos ou atribuir–lhes papéis miraculosos,
superestimando-as.
5. Oportunidades
O mundo globalizado encurta as barreiras da comunicação de forma que ocorrem
diversas mudanças nas relações interpessoais. A sociabilidade, convívio social e cultural são
afetados diretamente pelas efêmeras relações virtuais. Os recursos de tecnologia de
informação e comunicação são hoje parte do dia-a-dia de grande parte dos alunos. Ainda que
se manifeste a ideia de que o acesso aos recursos informacionais, em especial a internet, não
são democráticos e acessíveis a todos em igualdade, não se pode desconsiderar que o uso da
TDIC’s possui uma vasta gama de oportunidades, que trabalhadas com critério, podem
favorecer o processo de ensino-aprendizagem. Para (Castells, 2003) a ascensão da tecnologia,
em especial da internet, remete a duas linhas de pensamento, a primeira da inovação,
criatividade e grande produção, a segunda da insegurança e da exclusão social. No entanto,
durante a leitura da obra percebe-se que o autor tem uma feição mais otimista sobre as
correntes de pensamento.
A questão não é apenas relativa ao uso das TDIC’s na educação, ou a substituição
dos modelos tradicionais de ensino por um mais atual e tecnológico, pois o simples uso de
tecnologia não melhora efetivamente a absorção de conhecimento. Segundo (Martinez, 2003)
“é necessário ter em mente que a incorporação de “novas tecnologias” não pretende substituir
as “velhas” ou “convencionais”, que ainda são – e continuarão sendo – utilizadas. O que se
busca, na verdade, é complementar ambos os tipos de tecnologias a fim de tornar mais
eficazes os processos de ensino e aprendizagem”. De toda forma o que se pretende é
promover um estudo que relativize as várias oportunidades que estão implícitas, no que se
refere ao uso das tecnologias na educação. Sendo que dessa forma pode-se vislumbrar que o
uso da tecnologia pode ser pertinente e agente transformador do ensino como um todo.
A grande variedade de recursos computacionais e informacionais permite que os
docentes tenham uma enorme gama de ferramentas à disposição para serem usadas na
educação. Entretanto, (Martinez, 2003) afirma que o importante não é saber quais as
tecnologias disponíveis para então aplicá-las em sala de aula, mas conceber o pensamento
inverso, de forma que o professor deve primeiramente saber o que pretende, para depois
descobrir quais as tecnologias disponíveis. O educador tem a disposição, por exemplo, de
inúmeros vídeo-aulas que podem auxiliar na abordagem dos diversos conteúdos. Neste
contexto, é plausível citar (Cuban, 1986) que em sua obra retoma trechos do discurso de
Thomas Edison, onde ele que os livros didáticos se tornariam obsoletos nas escolas e que,
usando filmes, seria possível instruir sobre qualquer ramo do conhecimento humano.
Atualmente se encontra gratuitamente na internet uma enormidade de vídeo-aulas, abordando
diversos temas de praticamente todas as áreas do conhecimento. Fato que pode ser bastante
relevante para o professor, haja vista que ele pode explanar um conteúdo em sala de aula e
como forma de trabalho em casa, recomendar certos vídeos que possam reforçar o conteúdo
abordado. Não é objetivo deste artigo estudar a metodologia utilizada pelo professor, se o uso
de vídeo-aulas é pertinente ou se a aplicação destes vídeos substitui a presença do professor,
mas sim reforçar que existe bastante conteúdo disponível e que este, de alguma forma, pode
ser usado de maneira positiva pelo professor. Com o acesso cada vez maior de aparelhos
celulares que possuem câmeras de vídeo, é possível também que o professor estimule os
alunos a confeccionar alguns vídeos acerca do tema proposto, portanto, mesmo que as
ferramentas não sejam totalmente disponibilizadas de forma equânime entre as pessoas, a
criatividade e a metodologia correta são aspectos importantes para que uso da tecnologia seja
aplicado de forma positiva na educação.
Além das vídeoaulas, pode-se citar também o uso das mídias sociais no ensino. A
possibilidade de se comunicar remotamente através de um computador e até mesmo de um
aparelho celular globaliza a informação e a comunicação. As mídias sociais permitem que os
debates surjam a todo o momento e se bem elaborados e direcionados, podem ser de grande
valia no processo de aprendizagem. Partindo desse princípio de horizontalidade das
ferramentas das mídias sociais, as pessoas normalmente não se contentam em ser apenas
receptoras. Castells (2003) ressalta que as comunidades virtuais trabalham com base em duas
características fundamentais comuns. A primeira é o valor da comunicação livre, horizontal.
A segunda é a possibilidade dada a qualquer pessoa de encontrar sua própria destinação na
rede, de modo que caso não encontre, “tenha a capacidade de criar e divulgar sua própria
informação induzindo assim a formação de uma rede”. O espaço para expressar suas ideias e
opiniões é democrático e igualitário. Sobretudo, o que o professor deve considerar é que como
as diversas redes sociais são dinâmicas e complexas, os usuários se atêm apenas no que lhes é
interessante. Por isso a abordagem aos conteúdos deve ser atrativa para os alunos, caso
contrário, o projeto caminhará a passos largos para o insucesso, pois o autor salienta ainda
que “os usuários tendem ainda a adaptar novas tecnologias para satisfazer seus interesses e
desejos”.
6. Considerações Finais
No Brasil, a Educação se revela como instância estratégica para romper com o atraso
tecnológico e promover a inserção na economia global, marcada por intensa competitividade.
É importante entender que o foco deve ser o aluno e não a ferramenta; a criatividade e a
técnica docente devem fazer a diferença. Os projetos devem ser bem planejados, estruturados
e reavaliados periodicamente para que se possam efetuar mudanças em tempo oportuno. As
TDIC’s são uma ferramenta e não uma solução, não importa qual seja a tecnologia
empregada, se não houver uma metodologia coerente aplicada ao projeto, o resultado
esperado não aparecerá. Existe uma vasta experiência internacional no uso de computadores
em educação que deve ser aproveitada. Projetos de sucesso podem ser adequados e
implementados sem maiores riscos. O grande número de ferramentas remete à inúmeras
possibilidades de aplicação na educação. As novas gerações estão mais tecnologicamente
adaptadas do que gerações anteriores. Para lidar com as novas tecnologias e saber aproveitálas depende não apenas das tecnologias em si, mas sim do que se é capaz de se fazer com elas.
Para que isso ocorra efetivamente, ao implementar os projetos devemos estar atentos a alguns
pontos cruciais: ser rigorosos quanto ao seu potencial; equilibrados, tendo a educação como
foco principal; inovadores, estando atentos à nossa realidade; honestos, reconhecendo o que
realmente é proveitoso; pacientes e persistentes, entendendo que o tempo da educação é mais
lento que o tempo da tecnologia.
7. Referências
CASTELLS, Manuel. A Galáxia Internet: Reflexões sobre Internet, Negócios e Sociedade.
2003.
CUBAN, L. Teachers and Machines: The Classroom use of Technology Since 1920. NY,
Teachers College Press. 1986.
CYSNEIROS, Paulo Gileno. Informática Educativa, UNIANDES – LIDIE, vol 12, No.1,
1999.
DEMO, P. Pesquisa e construção de conhecimento: metodologia científica no caminho de
Habermas. 3. Ed. Campinas, Autores Associados, 1997.
FREIRE, F. M. P.; Prado, M. E. B. B. Martins, M. C.& Sidericoudes, O. “A implantação da
informática no espaço escolar: questões emergentes ao longo do processo”. Revista brasileira
de informática na educação, Santa Catarina, n. 3, pp. 45-62, set, 1998.
HAYDT, R. C. C. Curso de didática geral. 3. Ed. São Paulo, Ática, 1997.
MARTÍNEZ, Jorge H. Gutierrez. Novas tecnologias e o desafio da educação. In Educação e
Novas Tecnologias: esperança ou incerteza? – org. Juan Carlos Tedesco. Cortez Editora. 2004
MORAES, Maria Cândida. Informática educativa no Brasil: um pouco de história... Brasília:
ano 12, nº 57, Jan/Mar , 1993.
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