A dama de Safira e o seu amado Patrícia Juliana da Silva (Paju Monteiro) Da dama para Raio de Sol. Paz era o que eu sentia, estava em meus aposentos a vislumbrar as minhas gigantescas e familiares janelas douradas e minhas cortinas transparentes, eu tinha a impressão de estar do lado de fora, com o brilho do sol em meu rosto me cumprimentando pela manhã, me aquecendo! Estava sentada, e olhava atentamente o trajeto de uma borboleta azul em meu jardim... A manhã tinha um cheiro suave... A brisa acariciava meu rosto. Minhas amigas árvores riam, como a muito não acontecia, eu podia ouvir sua música! Era como o soar de flautas... Minha porta se abriu com um ranger que nada tinha de assustador, dois olhos fitaram-me desconfiados… Ela tinha um rosto angelical,a pele fina e branca como minhas cortinas; Longos cabelos castanhos, uma menina. Eu diria que mais uma das muitas de nosso reino... Mas era uma Filha de Eva, tinha um porte imperial e uma postura de guerra… Trouxe-me a sensação de que minha paz seria abalada, que algo acontecia em nossa linda Narnia... Apesar de usar um longo vestido, e não a habitual vestimenta de couro que uma guerreira de Narnia usaria, tive medo. Medo de minha visitante, não ser portadora de boas novas. Mas todo o medo passou quando seu sorriso iluminou minha sala, sorriso esse que me deixou mais calma, sabia que era sincero, que ela só estava cumprindo uma promessa feita em tempos remotos,da qual nem ela mesma lembrava; A magia de Narnia havia trazido-a. Raio de Sol, minha amiga de séculos, não lembrava mais de mim, ou talvez apenas como em um sonho. Seus olhos estavam arregalados, como se eu pudesse proporcionarlhe algo de impressionante... Batalhamos juntas tantas vezes pela paz de Narnia, quando ela era uma garotinha, quando ainda nem sabia manusear a espada, já corríamos pelas clareiras, nas beiras dos rios, conversávamos com os castores, íamos às festas dos faunos, e juntas enfrentamos todos os tipos de perigos. Quanto esperei até este ultimo encontro, ela tinha apenas oito anos da ultima vez... Mas os tempos por aqui, não são como o tempo de seu mundo, passara-se um ano, e a pequena Raio de Sol, estava agora com a aparência de uma mulher, uns dezesseis ou dezessete anos... A mais bela criatura que eu já vi! Apressei-me em convidá-la: "Filha de Eva, das terras longínquas de Sala Vazia, onde reina o eterno verão da bela cidade de Guarda Roupa. Que tal tomarmos uma xícara de chá?” A garota me olhou com desconfiança, e eu bem sabia que a pergunta que balbuciou inaudível aos meus ouvidos, era: “Como ela sabe de onde venho?” Segurei-me para não rir. Cumprimentou-me com um abraço desajeitado, e voz trêmula, ela estava toda atrapalhada, pois afirmava saber que deveria ir ver-me, mas não sabia o porquê. Eu a expliquei que a havia chamado; Ela ficou mais tranquila, pois aqui quando chamamos até mesmo outros mundos respondem. Ela sabia disto! Comemos os biscoitos, tomamos mais chá, fomos ao jardim, e acabamos por adormecer, sob o céu, que mesmo à noite, nos trazia a sensação de calor e proteção, cada estrela por cada aventura, que vivemos e que ainda vamos viver! Carinhosamente, Dama de Safira. Eu quem sou. ... O medo. O anseio. Quero querer, sem querer. Apenas sentir. Submergir. Andar faceira por mais colinas verdejantes. Amar o mesmo amor todos os dias. Ser amante... Do mesmo amante. Sou chuva que molha o chão. Lágrimas a regar o colchão. Sou o riso frouxo; E o lamento intenso. A escrita que ecoará. No mais pobre pensamento. Sou eu. E aqui estou. A compartilhar com você. Meus versos... Meu amor. Dama de Safira, a apaixonada. Minhas asas. Eu olho para um lado. Olho para o outro... Chuto uma lata vazia; Ela faz um barulho ensurdecedor. Ao menos na minha concepção; Ao menos nessa hora da madrugada. Atravesso a rua. E não vejo mais nada. A escuridão; profunda, devoradora. Observo mais uma vez ao redor; ninguém. Armo então minhas asas. E alada volto para casa. Dama de Safira, alada; O amor da amada. Ele senta-se na calçada. O suor pingando do rosto. Ela chega, de mansinho. Espreme-se, torna-se um novelo. Encosta a cabeça no colo dele sem pedir. Ele suspira. Ela o respira; E seus finos dedos de músico; Fazem música em seus cabelos azuis. Ao tocar a pele fina; Tão branca. Parafina. Como o pincel molhado de tinta no papel. A face da dama enrusbesce; Ela o puxa para si; Ele corresponde sem luta. Instantes antes da dama cerrar os olhos; Ele sussurra: – Minha Dama de Safira; E ela apenas suspira. Eis aí... Suas asas! Esgueirar-se E o relógio faz seu tic. Mas o Tac está cansado. O tempo passa, e ela nada faz. Apenas escreve, escreve... Bobagens ou coisas sérias... Mas não cessa. Levanta os olhos. Mira-se no espelho. Caminha, por toda a noite. Suas unhas vermelhas. E pela manhã se esgueira. Sorrateira. Solitária. Sai ao sol de vez em quando. Quando ninguém está olhando. A alada dorminhoca. Nem voa mais. Apenas repousa. Escreve, lê, escreve, escreve; Ama e delira; apenas isso. A Dama de Safira.... Suspira. Ama, canta... E escreve, escreve; Azul O azul profundo dos cabelos; Ornam com o vestido preto... Unhas vermelhas; branca como um coelho. Uns diriam: – Mas que estranha criatura. Mas os conhecidos, familiares e amigos apenas dizem: – Ah, é apenas ela. Ela responderia um cumprimento com um aceno de cabeça. E voltaria calmamente para as páginas amareladas que devora. Introspectiva e sorrateira, é apenas isso que ela é. Uma dama... De cabelos azuis. Azuis, como Safira. Casamento. A verdade é que a maioria do sentimento de alegria encontra-se comprimido no seu seio; resta apenas a vontade que sente de beijar e abraçar o amado! A culpa? – Do amado oras... Ele veio, ficou, casou-se com a Dama de Safira e deu a ela como presente lindas e brancas asas. Muito, mais muito maiores que as de outrora. Muito mais prateadas e luminosas! Ah o amado a cativou; tornou-se responsável eterno dos lábios de mel da Dama; e a Dama? Deixou-se ser cativada, acalentada e embalada no sono do amor do amado;