FONTE: http://cafesfilosoficos.wordpress.com/2009/09/09/o-homem-dos-ratos/ “O HOMEM DOS RATOS” (1909) ○ Ernest Lanzer, de formação universitária e carreira militar. ○ Freud iniciou o tratamento desse caso em 1907. ○ Queixa-se de sofrer de obsessões desde sua infância, mas com maior intensidade nos últimos quatro anos anteriores ao início do tratamento. ○ Seu pai havia sido suboficial do exército, o que lhe fez permanecer com certo tom de autoridade. ○ Relata também que seu pai fizera um casamento por conveniência com sua mãe, que era mais rica que ele. ○ Quando seu pai era suboficial, ele perdeu todo o dinheiro do regimento a ele confiado. Um de seus amigos, contudo, emprestou-lhe o dinheiro para pagamento da dívida. Este amigo nunca mais foi visto, o que impediu que a dívida para com ele fosse paga. ○ Sua mãe comentava a respeito de uma moça pobre e bela por quem seu pai apaixonara-se antes de casar-se. Seu pai dizia ter sido algo sem importância. ○ Ambos acontecimentos causaram graves desconfortos ao paciente. ○ Basicamente, suas obsessões relacionavam-se ao medo que ele tinha de que algo pudesse acontecer a duas pessoas a quem ele amava: seu pai (já falecido há nove anos) e uma dama a quem admirava. ○ O paciente apresentava também, conscientemente, alguns impulsos compulsivos, como cortar a garganta com uma lâmina, bem como algumas proibições, que muitas vezes não tinham relação com coisas importantes. A sexualidade infantil do paciente Iniciou-se entre os 4 e 5 anos de idade. Relata a Freud que havia uma governanta em sua casa, jovem e bonita, e que um dia pedira à ela para arrastar-se para debaixo de sua saia. Ela assim o permitiu e, ele manipulou os genitais dela com os seus dedos. “Depois disso, fiquei com uma curiosidade ardente e atormentadora de ver o corpo feminino. Ainda posso lembrar a intensa excitação com que eu, nos Banhos, esperava a governanta despir-se e entrar na água.” Toda vez que tal curiosidade se manifestava, ele tinha um sentimento estranho: como se algo devesse acontecer caso ele pensasse em tais coisas e, que deveria evitar esses pensamentos. Apesar desses acontecimentos, o paciente revela que somente aos 26 anos de idade tivera sua primeira relação sexual. O grande medo obsessivo Os sintomas se agravaram a partir de um acontecimento em particular, gerador de grande angústia ao paciente. O paciente estava na frente de batalha quando perdera seus óculos, e pediu que outros lhe fossem enviados pelo correio. No mesmo dia, ouviu uma história contada por um capitão, a respeito de um castigo “particularmente horrível” aplicado em criminosos. O capitão disse ter lido sobre um tipo de castigo em que o criminoso era amarrado a um vaso virado para suas nádegas. No vaso haviam muitos ratos que cavavam caminho pelo ânus do criminoso. O paciente relatou este fato com muita dificuldade. Porém, Freud observou que ao fazê-lo, o paciente “assumiu uma expressão muito estranha e variada. Eu só podia interpretá-la como uma face de horror ao prazer todo seu do qual ele mesmo não estava ciente.” No momento em que ouviu a história dos ratos um pensamento atravessou sua mente, como um relâmpago, “a ideia de que isso estava acontecendo a uma pessoa que lhe era muito cara.” O paciente reconhece que essa pessoa era a dama a quem admirava, bem como seu pai já falecido. Na mesma noite recebeu do capitão cruel o pacote dos correios com seus óculos e a recomendação de que ele deveria reembolsar o Tenente A pelas despesas com o envio. Neste instante ele pensou que não deveria fazer o reembolso, senão o castigo dos ratos poderia se realizar com seu pai e com a dama. Para combater este pensamento surgiu-lhe uma ordem na forma de um juramento: “Você deve pagar as 3.80 coroas ao Tenente A”. Ele estava em um dilema: tinha jurado pagar, mas se pagasse seu pai e/ou a dama sofreriam o castigo dos ratos. O fato de seu pai já estar morto em nada contribuía para a tranqüilidade do paciente, pois ele desenvolveu a ideia de que a punição poderia ocorrer mesmo no outro mundo. Porém, antes mesmo do capitão cruel lhe entregar os óculos e dizer-lhe para fazer o pagamento ao Tenente A, ele havia se encontrado com um outro oficial que tinha estado, pouco antes, no correio e soube da encomenda em seu nome. Este oficial lhe disse que fora a jovem do correio quem tinha feito o pagamento das despesas postais por ele. Conclusões Freud conclui que o paciente fizera seu juramento em cima de uma premissa que ele já sabia ser falsa. Seu juramento foi feito para não ser cumprido. Assim, a dívida torna-se impagável. Ele é impelido a buscar compulsivamente o cumprimento de sua promessa, ao mesmo tempo em que é impedido por seus pensamentos. A própria situação foi armada de modo a possibilitar que uma ação anulasse a outra para que nada se resolvesse. Assim, o próprio sintoma serve de solução: com ele, o Homem dos Ratos paga e não paga a sua dívida. Apontando para uma característica do desejo obsessivo - a impossibilidade.