Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Catarinense - IFC Resolução de Equações de Segundo grau Através Método de Al-Khwarizmi Claudia Cavalcante Fonseca Johann Felipe Voigt Disciplina de Matemática Fundamental I Professoras: Fátima Peres Zago de Oliveira Paula Grawieski Civiero Trabalho solicitado pelas professoras Fátima Peres Zago de Oliveira e Paula Grawieski Civiero como parte da avaliação de aprendizagem na disciplina Matemática Fundamental I do Instituto Federal Catarinense. Rio do Sul – SC 1 A época de Al-Khwarizmi Entre os séculos VIII e IX, viveu, na Pérsia, um matemático chamado Abū Abdallāh Muḥammad ibn Mūsā al-Khwārizmī (originalmente )ن موســـــى الخوارزمـــــي, que realizou grandes descobertas e escreveu sobre aritmética, álgebra (sendo considerado seu pai, juntamente com Diofanto), astronomia, geografia e o calendário. Devido às suas grandes contribuições, a palavra “algarismo” deriva de seu nome, que espalhou-se pela Europa a partir da tradução de seu livro "Sobre a arte hindu de calcular", no qual introduzia o sistema de numeração indu, para o latim. Na obra que será abordada, Al-Kitab al-Jabr wa-lMuqabala (“O livro resumido de cálculos por complemento e equilíbrio“), os primeiros passos da álgebra atual são apresentados, incluindo métodos para solucionar equações quadráticas de forma mais rápida na época. Al-Khwarizmi propõe que, para solucionar qualquer equação quadrática, é necessário aplicar nela três passos simples, que vão preparar e formatar a equação para sua forma correta. Os métodos são os seguintes; 1. Al-jabr (originalmente الجــب, “restauração“): Como os cálculos árabes baseavam-se e eram utilizados apenas para estudos geométricos; a grandezas negativas não eram consideradas. Por este motivo, expressões onde deveriam existir valores negativos eram somadas a estes valores para restaurá-los. Desta forma, eles deveriam ser adicionados, também, à expressão igualada para garantir a validade da equação. 2. Al-muqabala (originalmente المقـــاب, “equilíbrio“): Neste processo os elementos cujas potências de x são equivalentes unem-se formando apenas um termo. 2 3. Al-radd: Com o objetivo de simplificação do cálculo, o coeficiente do termo deve ser operado de forma a tornar-se o número 1, multiplicando-se cada membro da equação pelo inverso de tal elemento. Uma vez aplicadas essas regras, existem ao todo seis formatos diferentes de equações quadráticas que podem ser encontrados: ● ● ● ● ● ● Quando o coeficiente de é anulado; a equação torna-se linear. 3 Resolução de equações quadráticas Primeiro caso Para a resolução proposta por Al-Khwarizmi, deve-se reduzir esta equação ao primeiro grau. Para tanto, primeiro, aplicaremos al-jabr. Simplificando: Deve-se dividir ambos os lados da equação por : E simplificando: Como resultado de seu estudo, Al-Khwarizmi divulga que a raiz deste tipo de equação será sempre . Segundo caso Primeiro deve-se aplicar al-jabr. Simplificando: Como o coeficiente do termo é diferente de 1, deve ser aplicada a técnica al-radd. E, simplificando: Calculando-se a raiz quadrada de ambos os lados 4 Concluímos que . Como a equação apresenta apenas um resultado no conjunto de números positivos, apenas este era encontrado por Al-Khwarizmi. Terceiro caso Exemplo Primeiro apliquemos al-jabr. Logo: E, agora, al-radd. Assim: Podemos representar o termo a partir do seguinte quadrado de lados com medida : 5 , nos permite criar 4 áreas com um lado medindo O segundo termo da equação, outro medindo , da seguinte forma: Como a área total dos retângulos recém desenhados equivale a , e que os quatro retângulos são idênticos, concluímos que a área de cada um dos retângulos vale simplificando: e , ou, . Sabendo-se que a área de cada retângulo equivale a e que um de seus lados mede , podemos concluir que seu segundo lado mede . Desta forma: 6 Completando as lacunas até formar um novo quadrado, maior que o inicial, cria-se mais 4 retângulos, da seguinte forma: 7 Neste momento, ambos os lados dos quatro novos retângulos criados são conhecidos: e , o que os torna quadrados. A partir desses dados pode-se calcular a área de cada quadrado: . Nossa equação inicial calculada em , ou seja, a área da região sombreada abaixo é : A área total das regiões brancas é facilmente obtida a partir do cálculo . Portanto, a área total da figura limita-se a Sendo um quadrado de lados . , a figura nos permite perceber que: , ou seja, 8 Solução geral Tomando por equação inicial: área calcula-se em . Em seguida, criam-se, com área total de calculada em , consideremos um quadrado inicial, cuja e lados e , quatro retângulos cuja área individual é ; e, anexando-os aos 4 lados do quadrado obtemos uma figura geométrica semelhante a uma cruz. Preenchendo as lacunas deixadas ao lado dos 4 retângulos de forma a termos um retângulo em cada um dos cantos, percebemos que formam-se 4 novos quadrados com área . Percebemos, a partir da equação, que a área da cruz vale , já que representa a soma das áreas dos outros termos da equação ( ). Podemos concluir então que a área do quadrado maior equivale à soma das áreas da cruz com a área dos 4 quadrados menores e, ao mesmo tempo, pode ser calculada como a multiplicação de seus lados, ou seja: . 9 Al-Khwarizmi e Bhaskara Partindo da equação , Bháskara nos propõe que . Al-khwarizmi nos propõe realizar a operação de al-radd, tendo como resultado: E al-jabr, que resulta a equação anterior em: (já que, para este caso, c sempre será negativo; já que apresenta-se do lado oposto do sinal de " "). Para Al-Khwarizmi, Como . e : Que pode ser escrita como: Como e , será sempre positivo. 10 Caso , Al-Khwarizmi não encontrará raiz alguma. Caso contrário, encontrará apenas a raiz positiva da fórmula de Bháskara. Quarto caso Exemplo Iniciando com a equação, e aplicando-se al-jabr, tem-se como resultado: Equações deste tipo são as únicas que podem possuir duas raízes positivas, logo as únicas que proporcionam um resultado duplo em Al-khwarizmi. Este fato pode ser provado a partir de que equações do segundo grau provém, em sua (Sendo, desta forma, A e B, as raízes da origem, de equações do tipo e equação; já que, a satisfazem devido Desenvolvendo o lado esquerdo . da , logo; se equação, e vemos que , então . e Primeira raiz Partindo da representação de como área de um quadrado com lado : Percebendo que o segundo termo do lado esquerdo da equação tem um valor numérico independente de e que o termo à direita da equação, se representado pela área de um retângulo, pode ter um dos lados equivalente a e outro a , temos que: 11 Neste caso, na representação, o retângulo com área equivalente a maior que o quadrado com área foi tomado como . Esta decisão possui extrema importância e para a delimitação da outra raiz, deve-se considerar o contrário. Tomando como lado a região do quadrado maior não comum com o retângulo de área , formamos um quadrado menor com lado , denominado A na figura. 12 Delimitando-se os valores, percebe-se que: Observando que os lados do retângulo D, que são: (já que e , tal como os de B ). Desta forma, a área é comum a ambos. Partindo dos preceitos: A partir da figura inicial, temos que A área do quadrado , logo , já que seu lado mede . unidades de medida. 13 A área do quadrado de seu lado permite inferir que: equivale a e pode ser calculada pelo quadrado da medida . Obtemos, desta forma, , que, desenvolvendo, nos . Segunda raiz Iniciando o desenvolvimento da forma geométrica representativa da equação da mesma forma que a resolução da primeira raiz, criamos um lado com lado valor para que sua área tenha . Diferencialmente à resolução anterior, o retângulo cuja área representa o valor equação, desta vez, deve ser representado menor que o quadrado com área da : 14 Como na resolução anterior, o lado maior do retângulo ( ) é dividido em duas partes iguais que geram um quadrado de lado : Desta forma, a partir da observação de suas representações geométricas, pode-se concluir que, a área somada dos retângulos A e B equivale à área de C, já que possuem os mesmos comprimentos dos lados ( e ). Assim, pode-se aferir que as áreas . A partir da equação inicial, temos que ; logo, Como ; que pode ser desenvolvido como: e . Exemplo curioso A partir desta equação, deve-se aplicar al-jabr segundo o método de Al-Khwarizmi. Logo: 15 Consideremos como a área do quadrado: Da mesma forma que as resoluções anteriores, representaremos o coeficiente independente de como a área de um retângulo com um lado igual a e outro desconhecido: A exemplo das resoluções de Al-khwarizmi para este caso, deve-se dividir o lado maior em dois e tomar-se um quadrado com um deles. 16 Seguindo a resolução, delimita-se um quadrado menor na região pertencente ao quadrado de lado e não pertencente ao retângulo inicial de área . Delimitando-se os dados que podem ser aferidos da imagem, percebemos que: Da mesma forma que antes, da equação inicial, temos que a região composta por tem área equivalente a unidades de medida. Considerando-se que também possuem área equivalente a , a região possui área . Logo, equivalem-se, e . Percebe-se assim que, como a soma das áreas das regiões de e e , portanto e mostra-se igual à área . 17 Solução geral A resolução da equação de formato padrão é iniciada a partir da representação de um quadrado com área equivalente área adicional, não relacionada com a grandeza com área e lados iguais a , representada por . Acrescenta -se uma para que forme o retângulo . Dividindo-se o maior lado do retângulo maior em duas partes e tomando uma delas como precursora de um quadrado de lado com e outra com Caso ; temos que o problema divide-se em duas situações. Uma . Prosseguindo com os dois casos, é possível aferir que: , formar-se-á um retângulo maior de lados e Neste caso, deve-se delimitar 4 áreas: • A área , representada pela área que pertence ao quadrado de lado e também pertence ao retângulo de área • A área representada pertencente ao quadrado de lado p/2, mas não pertencente ao retângulo de área q é dividida em e • A área e , sendo um quadrado com lado a área restante. , representada pela área pertencente ao retângulo de área q, mas não pertencente ao quadrado de lado . 18 Percebe-se que as áreas e se equivalem, por serem representadas por retângulos com lados de mesmo comprimento, neste caso: A partir da equação inicial, temos que a área . ; da multiplicação dos comprimentos dos lados que medem , temos que a área Como os lados do quadrado de área medem . Logo: , temos que: 19 Caso , formar-se-á um retângulo menor de lados e Neste caso, deve-se delimitar 4 áreas: • A área , representada pela área que pertence ao quadrado de lado p/2 e também pertence ao retângulo de área . • A área , representada pela área pertencente ao quadrado de lado p/2, mas não pertencente ao retângulo de área . • A área , representada pela área pertencente ao retângulo de área q, mas não pertencente ao quadrado de lado • A área . , não pertencente a nenhuma das duas áreas. Percebe-se, também, que a soma das áreas somadas equivalem à área e que e valem ; que as áreas e . Logo: . Como a área de ; . 20 Como , , ou seja, , logo: . Al-Khwarizmi e Bhaskara Mais uma vez, toma-se a equação , com . Al-khwarizmi propõe que seja feito Al-rad e Al-jabr, obtendo-se: Aplicando-se a fórmula encontrada por AL-khwarizmi, temos que: Logo, 21 Quinto caso Exemplo Para resolver, começaremos aplicando a regra de al-jabr: Simplificando: Agora, aplicando al-radd. E simplificando novamente: . A resolução inicia-se pela inscrição de um quadrado com área e lado como nos casos anteriores. 22 A seguir, divide-se a semi-reta a uma distância de Desta forma, vemos que o monômio lados e , tem medida . Como somando , portanto, como , temos que a semi-reta formada , . Marcam-se dois ponto de complementa com tem como área . Marcando o ponto médio da reta assim como da seguinte forma: é representado por um retângulo . Ainda na equação inicial, o monômio percebe-se que o retângulo do ponto e ; de tal forma que formem um quadrado no interior , o lado deste quadrado, mede . 23 A partir do ponto , prolonga-se através de lados de um outro quadrado de lado e semi-retas que formam dois , ou seja, a mesma medida do segmento de reta . 24 Observando-se o retângulo mede , tem seu lado , percebe-se que este, sendo a metade de medindo medida coincide com a de . Seu outro lado, , ou seja, , que , mede a diferença entre ), e , que mede (cuja . Logo, mede . O lado do retângulo seja, equivale à porção de . Seu outro lado, que não faz parte de , mede , ou , ou seja, . Portanto, pode-se concluir que os retângulos e . possuem áreas iguais, Como a área do retângulo polígono são congruentes, e representa o monômio possui a mesma área do retângulo equivale à área do polígono , pode-se afirmar que o e que a área do quadrado somada à área do quadrado , logo, ; assim, obtém-se que seu lado é a raiz , o valor de quadrada de sua área, ou seja, Finalmente pode-se concluir que ou seja, . equivale à soma dos segmentos de reta e , . 25 Solução geral Partindo da equação inicial, e área ; inicialmente cria-se um quadrado de lado , formado pelos pontos com área ,e . Internos a ele são traçados dois outros retângulos: , com área . Marcando-os dentro do quadrado com seus lados verticais medindo seus lados horizontais assumem os valores Marca-se um ponto e e , percebe-se que , respectivamente. , médio entre os pontos , com comprimento mede , . Assim, com e , formando os segmentos de reta medindo e, , ; o segmento . . E, a partir do Forma-se, então, um quadrado com esta medida com vértices ponto , cria-se um outro quadrado, desta vez com lados Sabe-se que a área do retângulo e área, equivale a , e que os retângulos são congruentes, logo, a área do polígono Como o quadrado menor, , ou seja, Com a medida de . também mede . mede a soma do polígono , pode-se inferir que seu lado mede , e tendo em mente que e com o quadrado . equivale ao lado AB, sabe-se que . E esta é a fórmula geral para resolução de equações quadráticas neste formato. 26 Al-Khwarizmi e Bhaskara No quinto caso, tem-se , logo e na equação padrão . Al-khwarizmi propõe que, neste quinto caso, faça-se Como, e ; Como , , , Como , logo, Como , a raiz negativa é maior, em módulo, que a raiz positiva. e e ou e . . Sexto caso Um último formato possível para equações quadráticas seria o mais conhecido: , ou, para os padrões de Al-Khwarizmi, . Entretanto, é fácil notar que esta equação não tem solução para a lógica arábica da época, em que os problemas eram solucionados através da geometria; e, portanto, não havia grandezas negativas. Como seria possível para três grandezas diferentes de zero, quando somadas, resultarem numa figura de valor nulo? 27 Referências Muhammad ibn Mūsā al-Khwārizmī. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2010. Disponível em: <http://en.wikipedia.org/w/index.php?title=Muhammad_ibn_M%C5%ABs%C4%81_alKhw%C4%81rizm%C4%AB&oldid=362511339>. Acesso em: 16 maio 2010. ● Bhāskara II. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2010. Disponível em: <http://en.wikipedia.org/w/index.php?title=Bh%C4%81skara_II&oldid=361009838>. Acesso em: 16 maio 2010. ● PACHECO, André. Al-Khwarizmi e as equações do segundo grau. Disponível em: <http://www.prof2000.pt/users/andrepache/matetavira/tarefa7/alkhwarizmi.htm>. Acesso em: 16 maio 2010 ● PAULA, Ana. O sistema de numeração decimal tem história. Disponível em: <http://educar.sc.usp.br/matematica/let1.htm>. Acesso em: 16 maio 2010. ● 28