Hotel Altis Lisboa, 3 de Abril de 2013 Intervenção de José Manuel Constantino na tomada de posse como Presidente do Comité Olímpico de Portugal Quero agradecer a vossa tão significativa presença e o estímulo e incentivo que constituem para o nosso trabalho. As instituições não vivem sem memória. E ela que transmite identidade e sentido da missão. Ao assumir a Presidência do Comité Olimpico de Portugal é minha obrigação recordar todos quantos ao longo de mais de cem anos o serviram, o engrandeceram e tornaram possível aqui estarmos hoje imbuídos da nobre missão de servir Portugal, de servir o movimento olímpico, de servir o desporto nacional. Mas existe uma palavra especial que é preciso dar aos que nos antecederam e de quem recebemos o testemunho para continuarmos. Quero nesta ocasião prestar em meu nome e da equipa que me acompanha o reconhecimento ao Comandante José Vicente Moura pelo modo como diligentemente dirigiu os destinos do Comité Olimpico de Portugal e o serviço que prestou ao País. Teve de enfrentar momentos difíceis, teve de lidar, em certos períodos, com um elevado grau de instabilidade governativa, que outros países não tiveram, bateu-se por um modelo de planeamento mais sustentado e que garantisse e maior sucesso desportivo. É da mais elementar justiça reconhecer e valorizar publicamente o seu labor. E faço-o não por cedência a qualquer retórica de circunstância mas porque se lhe deve a si e às suas equipas o facto de ter elevado o estatuto institucional do Comité Olimpico de Portugal valorizando o seu papel, o seu património e a sua ação desportiva. Como já tive oportunidade de lho dizer em privado considero um dos traços mais negativos da nossa vida pública que pessoas que servem as instituições, quando terminam 1 os respetivos mandatos, não sejam aproveitado o conhecimento, a experiencia e o prestígio que acumularam. Que o país despreze esse valor. É, por isso, nossa intenção propor ao Comandante José Vicente Moura e a todos os ExPresidentes da Comité Olímpico de Portugal ainda entre nós, que aceitem missões de representação institucional, no plano interno e externo, e possam desse modo continuar a colocar o seu saber e experiência ao serviço do movimento olímpico. Quero também aproveitar a circunstância para manifestar publicamente ao Comandante José Vicente Moura o nosso reconhecimento pelo trabalho que desenvolveu em torno do ato eleitoral, pela dignidade com que o mesmo decorreu e desejar-lhe sucesso no seu novo desafio num clube com assinaláveis pergaminhos desportivos e olímpicos. Quero também cumprimentar e agradecer o contributo e o empenho do Engª. Manuel Marques da Silva para valorizar esta disputa eleitoral e que teve, como momento de alto sentido democrático, a adesão massiva às urnas. Minhas Senhoras e meus senhores No passado dia 26 de Março o desporto português transmitiu ao país, claramente e sem equívocos, através da plena participação de todo o colégio eleitoral do Comité Olímpico de Portugal, uma mensagem clara quanto ao seu futuro. Essa mensagem não pode deixar de ser valorizada. É uma mensagem de esperança e de mudança. Uma nova e reforçada ambição de que é possível vencer o desânimo, a resignação e o conformismo, mesmo perante as maiores adversidades, e lutar por um desporto mais forte, mais competitivo e mais desenvolvido. Neste ato, e perante vós, é esta a responsabilidade que assumo. Sei bem que não estou só. 2 A meu lado, e com a minha equipa, caminham não apenas os que me elegeram, mas também aqueles, que não o tendo feito, partilham a ambição de um desporto melhor para o seu país. Sou, portanto, o presidente de todos. Com todos, sem exceção, pretendo trabalhar nos próximos quatro anos para concretizar este desígnio. Mas permitam-me que as minhas palavras se dirijam, antes de tudo, aos que são a razão de aqui estarmos. Àqueles a quem, em primeira instância, os nossos esforços devem apontar. Àqueles que, com o apoio dos seus treinadores, alimentam diariamente esta cadeia de valor do desporto Sem os quais não é possível almejar um ensejo de mudança. Refiro-me, como não poderia deixar de ser, aos atletas. Coubertin quando idealizou a renovação dos jogos olímpicos modernos fê-lo a pensar na juventude de todo o mundo. Na realização de uma grande festa desportiva. Fê-lo a pensar nos atletas. É por vós, atletas, que nós aqui estamos. É o vosso talento, o vosso esforço e a vossa superação que nos alimentam as esperanças e os sonhos. O desporto é palco de múltiplos atores. Mas sem atletas não há desporto. Não é condição suficiente. Mas é necessária. Quero que esta vitória seja a vitória da vossa ambição e do vosso sucesso. E conto naturalmente com a vossa participação critica para conseguirmos ultrapassar as dificuldades e a ajudar a elevar o nível desportivo do País. Estimadas Senhoras e senhores, 3 Antes de aceitar o repto de candidatura que me lançaram, e que hoje aqui me coloca, fiz questão de clarificar que mais importante do que discutir a liderança e os nomes seria discutir os objetivos, as estratégias, o planeamento e os critérios de constituição da equipa. Só após reflexão sobre as ideias e orientações que publicamente apresentei poderia assumir uma decisão. Foi o que fiz. Tem sido esta a conduta que tem pautado a minha vida pública nos cargos que assumi. Definir uma doutrina, um pensamento que alimentem e justifiquem uma ação. É esta a conduta que pretendo manter nas funções em que hoje sou empossado. Sendo público, em dois documentos produzidos para o efeito, o nosso pensamento sobre a situação desportiva nacional em diversos domínios de intervenção estratégica do movimento olímpico, bem como o programa de ação, sufragado nas urnas, dispenso-me, nesta ocasião, de esgotar a vossa atenção sobre matérias que a qualquer momento podem consultar, e que espero aprofundar e atualizar ao longo deste quatro anos nos mais diversos fóruns de debate, a começar por aqueles que o COP se propõe realizar no referido programa. Outrossim, quero falar-vos do futuro. Importa, desde já, situar as enormes expectativas geradas durantes este processo eleitoral em torno da dimensão daquilo que nos espera. De onde estamos. De onde viemos. Para onde, e como, queremos ir. Só assim poderemos capitalizar ambições, centrar energias, assumir a audácia e o risco para assumir novos desafios, superando contrariedades e vendo recompensado o esforço e os sacrifícios que, não duvidem, nestes tempos difíceis, serão cada vez mais exigentes. Só assim, não descolando da realidade e com o vosso apoio e labor permanentes, o Comité Olimpico poderá ser uma instituição de referência para responder aos ensejos e ambições de mudança, que cimentaram este projeto e o conduziram até aqui. 4 Uma instituição aberta, transparente e que assentará a sua ação nas federações desportivas como estruturas de topo do associativismo desportivo núcleo central do sistema desportivo português. O Comité Olímpico não é um sindicato de federações, mas não daremos falsas expectativas a ninguém: pretendemos um COP ativo, reivindicativo, exigente e com valores de liderança sobre o sistema desportivo nacional. Dando voz aos que não têm voz e ampliando a daqueles que têm alguma voz. O caminho inicia-se, pois, neste momento. Trata-se de uma jornada longa, cujas adversidades continuarão a exigir a perseverança, a solidariedade e o empenho, animados pela vossa esperança num futuro diferente. Portugal, é sabido, vive um momento particularmente delicado da sua história. Politica, social e economicamente frágil, no panorama nacional e internacional. Cerca-nos um clima de instabilidade e de insegurança quanto ao futuro. Portugal está a empobrecer. E com ele as famílias portuguesas O desporto, naturalmente, não vive alheado desta realidade e não deixa de ser por ela afetado. Praticar desporto é cada vez mais oneroso e o tecido associativo disso se recente. E a desvitalização dos clubes e coletividades desportivas um risco de incalculáveis dimensões. Com um poder local financeiramente exaurido receia-se que os apoios ao tecido associativo local e que tão significativos foram no passado, escasseiem no presente. Os problemas da situação desportiva nacional são, nestas circunstâncias, particularmente vulneráveis a um conjunto de ameaças que, de há longa data, enfermam o seu processo de desenvolvimento, as quais, apenas pontualmente, são atenuadas. 5 De facto, houve um progresso, em diversos fatores de desenvolvimento, que não se reflete no crescimento sustentado dos indicadores desportivos de referência. E isso deve ser motivo de preocupação e reflexão. Sem uma atitude intelectualmente humilde que diagnostique as debilidades de competitividade desportiva nacional, identifique nichos e fatores críticos de sucesso, para, a partir daí, se definirem, a vários ciclos olímpicos, metas e objetivos claramente mensuráveis, não é possível implementar uma terapêutica eficaz que vá para além da aplicação de paliativos. Não tem sido possível distinguir o que é urgente e prioritário, daquilo que é importante e fundamental. Por outro lado, é conveniente dizer, que está condenada ao fracasso qualquer estratégia de desenvolvimento do desporto onde os seus protagonistas -políticos ou associativos - e as suas instituições, não o saibam valorizar socialmente, através das suas atitudes, dos seus comportamentos, dos seus discursos, das suas práticas e dos exemplos que dão ao País . Sem que tal aconteça não é expectável a mobilização do país em torno do desporto, para além de circunstâncias excecionais, cujo exemplo acabado bem traduz o breve afã mediático na proximidade e durante os Jogos Olímpicos… Perante isto o que esperar do Comité Olimpico de Portugal? Numa economia global, o movimento olímpico enquanto repositório de um inestimável património cultural, educativo e cívico, que se expressa em diversas e novas áreas como o desenvolvimento sustentável, a paz, a integridade das competições, o desporto para todos, a diplomacia económica, a inclusão social ou a cidadania, assume um espectro de intervenção transversal no âmbito do desporto, mas também um papel privilegiado de ligação e diálogo social, politico, económico e intercultural. Daqui resulta que o Comité Olimpico seja, naturalmente, a casa de todas as federações desportivas: as olímpicas e as não olímpicas. Uma casa onde todos devem coabitar independentemente da expressão e dimensão das suas modalidades 6 Um elo com outros sectores de complementaridade com o desporto, como é o caso do turismo, da cultura, da educação, do ambiente, da saúde, do trabalho e da solidariedade social. Dissemo-lo antes: com recursos escassos e uma economia recessiva os ganhos só podem vir do lado das poupanças. Limitando o que sendo oneroso não acrescenta valor. Maximizando as economias de escala que a colaboração sinérgica permite obter. Quem se encontra melhor situado que o Comité Olimpico para promover esta colaboração sinérgica? O Comité Olimpico tem de ser não só um elemento de valorização social do desporto, mas também um facilitador do trabalho e mobilizador de recursos para as federações desportivas. O movimento desportivo nacional e com ele o Comité Olímpico de Portugal devem por isso ser exemplares no modo como colocam à sociedade portuguesa o seu papel e o contributo que pretendem dar ao País. Num momento em que está colocada na agenda politica a questão da reavaliação ou da redefinição do papel social Estado é a altura adequada para que as autoridades políticas nacionais tornem claro aquilo que em matéria de políticas públicas desportivas pretendem dedicar-se de modo exclusivo, as missões que entendem dever partilhar ou delegar em outros corpos sociais e as tarefas que devem ser do domínio exclusivo da iniciativa associativa e privada. Um momento que deve ser aproveitado da parte do movimento desportivo nacional para também sinalizar, à luz das realidades atuais, qual entende deverem ser os papéis do Estado e dos parceiros desportivos, designadamente as federações desportivas clarificando-se domínios de intervenção de ambos. 7 Só desse modo será possível evitar a assunção pelo Estado de funções que manifestamente escapam à sua vocação e assumir as organizações desportivas, atribuições e competências para as quais estão mais aptas e com níveis de eficácia superiores. Um dos grandes dramas dos tempos atuais é tendência para uniformizar o que é diferente, a tendência para criar dimensão em vez de reduzir, a tendência para padronizar em vez de respeitar as diferenças a ânsia em regulamentar em vez de responsabilizar. A saída para este dilema tem sido o Estado produzir legislação sobre legislação, procurando modernizar por imposição normativa quando na realidade o que se consegue é, muitas vezes, complicar ainda mais a vida às organizações A obsessão normativista que tem modelado o sistema desportivo nacional, a cultura administrativista e o clima sufocante de diplomas criou mecanismos de relacionamento entre o Estado e os entes privados e associativos que são financeiramente onerosas e que bloqueiam muita iniciativa. A cultura do Estado no modo como monitoriza os apoios que concede estrangula e complica. Torna-se, portanto, cada vez mais premente que as políticas desportivas - quer as políticas públicas, quer as políticas associativas – descompliquem, reduzam disfuncionalidades, eliminem redundâncias, concentrem recursos nos processos críticos para o sucesso desportivo e evitem que estes se dispersem em tarefas laterais e burocráticas que não acrescentam valor. Torna-se necessário que nos concentremos no essencial: a produção de resultados desportivos. Mas sejamos ainda mais claros! Para elevar o nível e potenciar a competitividade do desporto nacional não basta a mobilização de meios e vontades das federações, dos poderes públicos e dos agentes desportivos. 8 Urge que todos, no âmbito da sua missão e no quadro das suas competências, se concentrem mais no produto e menos nos processos, tendo presente que jamais os processos se justificam a si mesmos, mas que devem concorrer para concretizar o mesmo fim: a elevação, nos seus diversos níveis, da qualidade da prática desportiva em Portugal. Precisamos que se concentrem esforços, energias e meios na produção de mais e melhores resultados. Mais e melhores praticantes. Mais e melhores atletas! Está em causa - não nos cansamos de o afirmar -, por esta via, aumentar e qualificar a participação desportiva desde a deteção de talentos à gestão pós-carreira. Impulsionar a afirmação do país no espaço europeu e lusófono esbatendo as diferenças que nos separam de países com potencial semelhante. Generalizar a prática desportiva nos diversos segmentos populacionais, atraindo parceiros e envolvendo a sociedade. Valorizar o papel e a intervenção da mulher no desporto. Preservar e divulgar os valores do Olimpismo. Estimular a educação para o desporto e para o olimpismo. Trata-se de calibrar o sistema entre as responsabilidades do Estado e os deveres dos agentes e organismos desportivos, em torno de uma clara estratégia integrada para o desenvolvimento sustentado do desporto português, a partir da qual, no respeito pela vocação e missão de cada um, se estabeleçam as respectivas políticas setoriais. Para isso, há que separar a gestão política e o controlo da legalidade, a cargo do Estado, da gestão, coordenação e supervisão, técnica e estratégica, da atividade desportiva, a cargo das entidades desportivas e do Comité Olímpico de Portugal. As organizações desportivas não são empresas e as políticas desportivas não podem ser prejudicadas por procedimentos contabilísticos de quem prefere “contas certinhas” do que resultados desportivos. É incompreensível que as avaliações de auditoria incidam sempre sobre os processos administrativos e contabilísticos tão ao gosto dos burocratas e não sobre o essencial: a produção de resultados desportivos. 9 As organizações desportivas são entidades de direito privado não são prolongamentos do Estado onde o labiríntico direito público administrativo penetra e contamina todo o sistema desportivo desviando o foco das organizações desportivas do essencial e que são a sua razão de ser :o desporto. Como o Estado delega federações desportivas funções de natureza pública é óbvio que tudo deve ser devidamente contratualizado e escrutinado como se exige quando está em causa a boa gestão de recursos públicos, conferindo a necessária estabilidade e segurança ao enquadramento jurídico dos processos. Com bons senso, equilíbrio e sentido de responsabilidade não afastando as organizações desportivas daquilo que é a sua missão e vocação fundamentais. Aquilo para que existem: organizar e desenvolver o desporto. Estabilidade e segurança são valores fundamentais que, no âmbito da regulação pública, e no âmbito da regulação desportiva, carecem de ser melhor preservados. Não se presta um bom serviço ao país quando as referências normativas são recorrentemente modificadas ou ignoradas, sem cuidar de avaliar e acautelar a sua boa aplicação. Não se presta um bom serviço ao país quando não se amadurecem, e se dissipam na espuma dos dias, as referências normativas que devem consolidar a estrutura e a orgânica do sistema desportivo, essenciais para orientar a programação e a ação dos agentes no terreno. No fundo, não se presta um bom serviço ao país quando a regulação se afigura mais como um obstáculo e menos como um incentivo. Mais como uma dificuldade e menos como um estímulo. Contribui mais para nos distanciar do que para nos aproximar de garantir o direito de todos ao desporto consagrado na nossa Constituição. 10 Nos afasta daquilo que dizia Coubertin: “Um país pode considerar-se realmente desportivo quando a maior parte de seus habitantes sente o desporto como uma necessidade pessoal” Minhas senhoras e meus senhores, Existem nesta altura para o movimento olímpico nacional um conjunto de dossiers e de matérias que importa discutir e definir com o governo .Espero naturalmente que o governo as queira também analisar e discutir com o Comité Olímpico. E porque assim penso, nesta circunstância, a elas não me referirei. Não quero que qualquer exposição pública ou tomada de posição prejudique a consensualização ente a vontade do Governo e o Comité Olímpico. Existe um espaço próprio para o fazer: nas relações e conversações bilaterais.Com frontalidade, com sentido de responsabilidade e de serviço público. Não contem comigo para deixar recados ou para aproveitar o palco publico para afrontar quem quer que seja. E por mais razões que tivesse no plano pessoal, atendendo ao que se disse, ao que se fez e escreveu a meu respeito e dos que me acompanham, a minha responsabilidade é agora de natureza institucional. Saberei separar as águas. Saberei distinguir os meus estados de alma das responsabilidades institucionais Não porque sofra de qualquer síndrome amnésico e esqueça com facilidade, mas porque o exige as funções de serviço público que passo agora a exercer. Caros amigos, O Comité Olimpico é uma instituição de referência. Mas nada o impede de ser uma instituição de irreverência. De ousadia. De insatisfação. De inquietude. Uma instituição capaz de traçar novas estratégias, novas leituras da realidade, de impedir a cristalização das ideias, de ser capaz de evitar uma gestão cinzenta do quotidiano, de viver aniquilado pela crise e pelo pós-crise. 11 Uma instituição que não pode viver enclausurada num Olimpo inacessível à sociedade e a todos os que gostam do desporto. O Comité Olimpico tem de abrir as suas portas e as suas janelas à entrada da cultura, do saber, do conhecimento e da ciência. Ensinou-nos o pai do olimpismo moderno, Pierre de Coubertin, que a cultura e o desporto não são realidades desirmanadas. O desporto como fenómeno social total interessa à cultura, mas a cultura como suplemento arguto que ajuda a ler e a compreender a realidade só pode interessar ao Desporto. A simplicidade é sempre mais atrativa que a complexidade e a fé mais confortante que dúvida. Mas o mundo não está para apreciações simplistas. E por isso não vale a pena discutir soluções antes de perceber os problemas. Deixemos que a história e a filosofia, a economia e a sociologia ou a antropologia nos inquietem nas nossas certezas. Sem descurarmos as ciências do rendimento desportivo que nos ajudam a otimizar o talento desportivo. Enfrentar a dimensão dos desafios que se colocam no contexto em que hoje vivemos exige mais conhecimento e mais saber que nos posicionem numa rota de mudança duradoura e não apenas circunstancial. Para tal são necessárias organizações mais competentes, mais exigentes, mais democráticas, mais transparentes, mais cultas, melhor organizadas e melhor governadas. A começar pela organização a que presido a partir desta data. Neste sentido, o COP carece de uma estrutura de governação e de um regime estatutário compaginável com as disposições da Carta Olímpica, à altura das exigências de um desporto moderno no quadro de uma sociedade globalizada e de uma economia de 12 mercado. Ajustada à transversalidade da missão do movimento olímpico expressa nos textos de referência do Comité Olímpico Internacional. À altura dos desafios que nos esperam. Afirmei-o desde o princípio, repito-o agora. Não assumimos um projeto de rutura. Lideramos um projeto de mudança disposto a trabalhar em prol de um futuro melhor. Um futuro com mais pessoas a praticar. Mais atletas a competir. Mais treinadores competentes a enquadrar. Mais dirigentes qualificados a gerir e a organizar. Melhores espetáculos desportivos.Com mais espectadores. Trabalhando não para os dirigentes mas para todos: atletas, treinadores, árbitros, pessoal médico e paramédico. Tornar possível tal futuro é a vontade e o empenho daqueles que me acompanham e, desde a primeira hora, tudo fizeram para que liderasse a missão de serviço publico que hoje aqui assumo. Para elevar o valor desportivo do país, este projeto orienta-se por um desígnio mobilizador de maior envolvimento da sociedade portuguesa com o desporto, contribuindo para uma cidadania desportiva mais exigente e informada, e para o escrutínio de uma opinião pública mais critica e conhecedora. Assumindo o risco e a audácia em direção a esse futuro e animados por este desígnio. Para o concretizar, é chegado o momento em que precisamos de um desporto coeso e confiante, permanecendo firme e perseverante no empenho, no rigor e no trabalho que nos conduziu até aqui. Podem contar connosco para ir mais longe, mais alto e mais forte e assim, confiantes, ajudar a valorizar socialmente este bem intemporal e de inestimável valor que é o desporto, respeitando, em cada decisão, e a cada momento, o legado que herdámos dos pais fundadores do olimpismo moderno. 13 E é para o conseguirmos que conto convosco. Obrigado. Lisboa,3 de Abril de 2013 José Manuel Constantino 14