Taciana Deprá Magrini Avaliação da resposta celular devido a Terapia a Laser de Baixa Intensidade em Culturas de Tumores Mamários Santo André 2010 Taciana Deprá Magrini Avaliação da resposta celular devido a Terapia a Laser de Baixa Intensidade em Culturas de Tumores Mamários Dissertação de mestrado apresentada ao Centro de Ciências Naturais e Humanas da Universidade Federal do ABC, para a obtenção de Tı́tulo de Mestre em Nanociências e Materiais Avançados, na Área de Biossistemas e Biofotônica Orientador: Herculano Martinho da Silva Colaboradores: Giselle Cerchiaro e Nathalia Villa dos Santos Santo André 2010 Ao meu querido Deus Aos meus pais e irmã E disse Deus: Haja luz; e houve luz. E viu Deus que era boa a luz. Gênesis 1: 3,4 Agradecimentos Agradeço primeiramente a Deus, de tudo Conhecedor, e que através deste trabalho me ajudou a também conhecer um pouco sobre sua criação. À UFABC, PPG-NANO e à CAPES apoio institucional e suporte financeiro. Ao orientador Herculano toda gratidão por me aceitar como aluna e com paciência e sabedoria me instruiu ao longo deste curso. À Giselle e Nathalia pela ajuda com o cultivo das células e com as discussões. À Marcella pela disponibilidade em discutir os resultados. Aos colegas orientandos Erika, Thami, Luı́s Felipe e Thiago pela companhia e apoio. Ao grupo GBIOF pelas dicas e conselhos. À minha famı́lia que de longe apóia e se orgulha de mim. E por último, mas não menos importante, ao Daniel Alva pela companhia e incentivo em todos os momentos. Resumo A terapia a laser de baixa intensidade (TLBI) é um tipo de terapia que faz uso de baixas doses de irradiação com laser em tecidos, principalmente para fins de reparação. Além dos aspectos clı́nicos, usualmente também são de interesse os mecanismos de ação da radiação em culturas de células ou em tecidos, os quais podem levar à reparação tecidual e outros benefı́cios clı́nicos, porém ainda não são bem entendidos. O objetivo deste trabalho é verificar a ocorrência ou não de alterações fı́sico-bio-quı́micas, em outras palavras, os mecanismos secundários (que ocorrem horas depois da irradiação) em células de adenocarcinoma mamário (MCF-7) depois de irradiadas com luz de comprimento de onda de 633 nm. Foi utilizado um filtro espacial para homogeneizar a distribuição de intensidade espacial da frente de onda (verificado com imagens de ccd e manipulação de dados). Foram utilizadas três diferentes fluências com uma única aplicação de luz cada experimento (quadruplicata), as amostras foram coletadas a cada 12 horas por 6,5 dias para FT-IR e AFM e a cada 24 h para o teste de viabilidade. Foi empregado o teste de exclusão de Tripan Blue, a técnica de micro-espectroscopia FT-IR e a de microscopia de força atômica (AFM) para detectar os efeitos da luz sobre as células irradiadas, comparadas ao grupo controle (não irradiado). Foi observado nos resultados dos espectros que não houveram deslocamentos de bandas dos grupos irradiados em relação aos controles ao longo do tempo mas houveram diferenças significantes quando analisada a área integrada de cada banda contra o tempo, também houveram diferenças estatı́sticas no número de células (teste de viabilidade), e nas dimensões (medidas de AFM). Palavras-chave: TLBI, câncer, espectroscopia, AFM, viabilidade celular. Abstract Low Level Laser Therapy (LLLT) is a kind of therapy that makes use of low dose laser irradiation in tissues mainly to repairing. Beyond clinical aspects, usually are of interest the mechanisms of action of radiation on culture cells or tissues which can lead to wound healing and other clinical benefits, but not yet well understood. The objective of this work is to verify the occurrence or not of bio-physic-chemistry alterations, in other words, the secondary mechanisms (hours after irradiation) in mammary adenocarcinoma cells (MCF-7) after the interaction with light of wavelength 633 nm. It was used a spatial filter to homogenize the spatial intensity distribution on the wave front (checked by ccd imaging and data manipulation). It was used three different fluences with a single aplications of light to each experiment (quadruplicate), sample was collected on every 12 hours interval by 6,5 days for FT-IR and AFM and on every for the viability test. It was employed the Trypan Blue excluding test, the micro FT-IR spectroscopy technique and the atomic force spectroscopy (AFM) to detect the effects of the light on irradiated cells, compared to the control group (not irradiated). It was observed in results of spectra that they did not have displacements of groups’ bands irradiated in relation to controls over time, but there were significant diferences when analy zed the integrated area of the bands against tima, of irradiated and control group was plotted against time, also there were statistical diferences in the cell number (viability test), and in the dimensions (AFM measures). Key words: TLBI, cancer, spectroscopy, AFM, cell viability. Lista de Figuras 3.1 (a) Figura de células MCF-7 em baixa confluência e (b) em alta confluência deste experimento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.2 Gráfico do número de publicações por ano pesquisado na base de dados web of science pelas palavras “cell” e “irradiation” e “laser” por tópico. . . . . . . . . . . 3.3 Espectro de ação de células HeLa, o eixo da ordenada significa desintegrações por minuto de H3 timidina para 4×104 células, ou a taxa de sı́ntese de DNA, e o eixo da abssissa é o comprimento de onda em nm. Adaptado da referência [1]. . . . . 3.4 Esquema de mecanismo de caminho de sinalização retrógrado de interação da mitocôndria com o núcleo, onde ↑ indica aumento e ↓ diminuição dos valores, [ ] indicam concentração, ∆FFH significa mudanças na homeostase de fissão-fusão da mitocôndria, AP-1 significa proteı́na ativadora 1, NF-𝜅B significa fator nuclear kappa B e h𝜈 indica a radiação incidente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.5 Gráfico da taxa de sı́ntese de DNA, com dose constante de 100 J/m2 , 𝜆 = 633 nm, onde a abssissa mostra a potência aumentando ao mesmo tempo em que o tempo de exposição diminui. O eixo da ordenada significa o número de desintegrações por minuto de H3 timidina para 4×104 células. Adaptado da referência [2]. . . . . 3.6 Exemplos de vibrações que podem ocorrer em moléculas. . . . . . . . . . . . . . . 3.7 Caminho óptico em um interferômetro de Michelson. (LS: fonte de luz, L: lentes, M: espelhos, BS: Feixe divisor). Figura retirada da referêcia [3]. . . . . . . . . . . 3.8 Diagrama de um espectrômetro comercial. (Q: fonte de radiação, DV: Divisor de feixes, SM: varredura mecânica, A: abertura, D: detector, D𝐿 : detector do laser,E1-E4: espelhos de foco, E: espelhos planos. Retirada da referência [4]. . . 3.9 (a) Interferograma de transmissão através de um filme de polietileno. Em detalhe é mostrada a estrutura do polı́mero. (b) Espectro de feixe único (sb) e espectro de absorbância (abs) de FT-IR de polietileno. Adaptados da referência [3]. . . . . 3.10 Esquema demonstrando a interação de um raio de luz de intensidade I0 incidente em um filme sobre um substrato com uma amostra, resultando em parte dele refletido especularmente (I𝑎𝑟 ), parte dele transmitido e refletido (I𝑠𝑟 ) e n é o ı́ndice de refração. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.11 Substrato de platina utilizado na obtenção dos espectros, com filmes de amostra. 3.12 Esquema de AFM, adaptado da referência [5] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 28 30 4.1 33 Esquema de parâmetros de irradiação em duas placas de seis poços. . . . . . . . 13 14 16 18 19 24 25 25 26 4.2 4.3 4.4 4.5 4.6 4.7 4.8 5.1 5.2 5.3 5.4 5.5 5.6 5.7 5.8 5.9 (a) Fotografia de fenda circular obtida em microscópio óptico (aumento de 400 vezes); (b) Filtros ópticos; (c) Franjas de interferência de padrão circular da luz (d) Irradiação de cultura de células em um dos poços, sem que a luz atinja os demais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Esquema da caixa na qual estão inseridos os dispositivos ópticos para irradiação das células. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Esquemas experimentais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Gráfico da intensidade da frente de onda da luz sem utilização de filtro espacial em número de pixels. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Teste para verificação de espalhamento de luz sobre a placa de cultura quando utilizada e não utilizada a capa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Intensidade da frente de onda da luz com utilização de filtro espacial. . . . . . . . Espectro representativo, grupo controle em tempo de 36 h. Lb significa espectro ainda sem subtrair a linha base, slb significa que foi subtraı́da linha base, e slbnorm significa q foi subtraı́da a linha base e foi normalizado. Os pontos indicam os locais escolhidos para a subtração da linha base. As linhas indicam a delimitação da banda para cálculo de sua área. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Espectros de absorção no tempo de adaptação de 24 h. São mostrados os originais e com linha de base subtraı́da para fins de comparação. . . . . . . . . . . . . . . Contagens de células do teste 1 (a) cujo controle seguiu a tendência de aumento crescente e do teste 2 (b) cujo controle não seguiu a tendência de aumento crescente do número de células, n=1. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Cristais de PBS observados em filme de amostra. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Número de células totais (vivas mais mortas) e vivas com barras de erro padrão da média para n=4 para todas as três fluências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . De cima para baixo ângulo de Feret médio, área média e densidade integrada média, cálculo feito com em média 10 células por tempo com barras de erro padrão da média. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Imagens de AFM com resolução de 512 px, do tempo de 36 h (a) controle e (b) irradiado e 144 h (c) controle e (d) irradiado de irradiação de 28,8 mJ/cm2 . . . . Box plot de todos os espectros (controles e irradiados, todos os tempos) de 28,8 mJ/cm2 cuja linha preta representa o espectro médio. Não foram verificados ruı́dos nem diferenças visı́veis entre as bandas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Gráficos das áreas das bandas 1, 2 e 3 dos espectros de amostras controle e irradiadas com 5, 28,8 e 1 J/cm2 normalizados pela área do tempo de 12 h com barras de erro padrão da média para n=4 (28,8 mJ/cm2 ) e n=3 (5 mJ/cm2 e 1 J/cm2 ). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Gráficos das áreas das bandas 4, 5 e 6 dos espectros de amostras controle e irradiadas com 5, 28,8 e 1 J/cm2 normalizados pela área do tempo de 12 h com barras de erro padrão da média para n=4 (28,8 mJ/cm2 ) e n=3 ( 5mJ/cm2 e 1 J/cm2 ). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 36 37 38 39 40 41 44 45 45 46 48 49 50 51 52 5.10 Gráficos das áreas das bandas 7, 8 e 9 dos espectros de amostras controle e irradiadas com 5, 28,8 e 1 J/cm2 normalizados pela área do tempo de 12 h com barras de erro padrão da média para n=4 (28,8 mJ/cm2 ) e n=3 (5 mJ/cm2 e 1 J/cm2 ). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5.11 Suposições para os caminhos celulares envolvidos após a irradiação das células com (a) 5 mJ/cm2 , (b) 28,8 mJ/cm2 e (c) 1 J/cm2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54 C.1 Dois esquemas de ciclo celular. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75 53 Lista de Tabelas 4.1 4.2 Parâmetros experimentais empregados nos experimentos piloto. . . . . . . . . . . Parâmetros experimentais empregados nos experimentos finais. . . . . . . . . . . 32 33 5.1 5.2 Números de onda e correspondentes vibrações moleculares. . . . . . . . . . . . . Tempos em que houve diferença estatı́stica entre a intensidade da banda da amostra irradiada em relação ao controle. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 B.1 Composição do meio RPMI - 1640 [6]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72 50 Lista de Siglas ACP Análise de componentes principais AFD Análise de função discriminante AFM Atomic Force Microscopy ATCC American Type Culture Collection EDTA Ethylenediaminetetraacetic Acid EVA Ethylene Vinyl Acetate ou em português “espuma vinı́lica acetinada” FT-IR Fourier Transformed Infra Red HD Hard Disc Laser Light Amplification by Stimulated Emission of Radiation, ou Amplificação da Luz por Emissão Estimulada de Radiação LED light-emitting diode LLLT Low Light Laser Therapy MCT Mercurio Cádmio Telúrio PBS Phosphate Buffered Saline TFD Terapia Fotodinâmica ou em inglês Photodynamic Therapy (PDT) TLBI Terapia a Laser de Baixa Intensidade Sumário 1 Introdução 8 2 Objetivo 11 3 Revisão teórica 3.1 Câncer e células MCF-7 . . . . . . . 3.2 Terapia a Laser de Baixa Intensidade 3.3 Mecanismos de ação da TLBI . . . . 3.4 Instrumentação - Espectroscopia . . 3.5 Espectroscopia vibracional FT-IR . . 3.6 Microscopia de Força Atômica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 12 13 14 20 28 29 4 Materiais e métodos 4.1 Parâmetros de irradiação . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.2 Construção do aparato de irradiação . . . . . . . . . . . 4.3 Obtenção e tratamento dos espectros . . . . . . . . . . . 4.4 Obtenção de imagens de Microscopia de Força Atômica 4.5 Células e manuseio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 32 34 39 42 42 5 Resultados e discussão 5.1 Conclusões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5.2 Perspectivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5.3 Publicações e Trabalhos apresentados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 55 56 56 Referências Bibliográficas 57 A Definições 68 B Manuseio das células B.1 Plaqueamento de células . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . B.2 Contagem de células . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71 71 73 C Ciclo celular 75 . . . . . . . . . TLBI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . D Mecanismos de morte celular 76 Capı́tulo 1 Introdução A fototerapia, aplicação de luz em tecidos biológicos, iniciou-se com as pesquisas de Niels Finsen, inventor deste termo, o qual ganhou o prêmio Nobel em 1903 por suas descobertas, como a de que a exposição à luz vermelha pode ser usada para o tratamento de varı́ola, e também de que a luz ultravioleta do Sol poderia ser usada para tratar Tuberculose cutânea [7]. Posteriormente outros pesquisadores deram seguimento à pesquisas nesta linha, tais como Endre Mester o qual testou em ratos o efeito da luz laser como possı́vel causadora de câncer, no entanto, ao invés disso descobriu que o laser ajudou na cicatrização de feridas e então iniciou estudos in vitro sobre a ação desta em fibroblastos, tendo publicado alguns artigos sobre o assunto nas décadas de 1970 e 1980. Nos anos seguintes foram feitos experimentos para verificar a cicatrização e a reparação de tecidos, principalmente nas células mais relacionadas a esses processos, os fibroblastos (que foram estudados nos mais variáveis estados, saudáveis ou não, in vivo, em cultura, tratados ou não) bem como seus subprodutos, o colágeno e a elastina. Depois o uso do laser foi expandido para o tratamento de outros casos clı́nicos, como o câncer [8]. Existem dois vieses de tratamentos tendo como base a luz laser. Em um deles utiliza-se apenas a luz como fonte do tratamento e é geralmente chamada de Terapia a Laser, a qual possui duas vertentes diferindo basicamente quanto à fluência de luz empregada e são chamadas de Terapia a Laser de Baixa Intensidade (TLBI) e Terapia a Laser de Alta Intesidade. No outro tipo, além da luz é adicionado um fotofármaco, ou seja, um medicamento à base de corantes que absorve luz em determinados comprimentos de onda e que na presença desta e de oxigênio leva à geração de agentes citotóxicos como espécies reativas de oxigênio, tendo como principal resposta a morte celular por via necrótica. Esta é chamada de Terapia Fotodinâmica (TFD), modalidade que tem sido utilizada especialmente para tratamentos de neoplasias em estágios iniciais, com Capı́tulo 1. Introdução 9 várias vantagens sobre os tratamentos tradicionais (Para mais detalhes sobre a TLBI e a TFD veja o apêncice A). Este trabalho será focado na Terapia a Laser de Baixa Intensidade cujos efeitos retratados na literatura podem ser classificados em nı́vel molecular, celular e tecidual. Efeitos a nı́vel molecular incluem mudanças na produção de espécies reativas de oxigênio (EROs), na concentração do ı́on 𝐶𝑎+2 , no potencial transmembrana mitocondrial (∆Ψ𝑚 ), no pH intracelular [9], na quantidade de ATP [10], dentre outros. Alguns efeitos a nı́vel celular reportados são proliferação [11], diferenciação [12], viabilidade celular [13] e morte celular [14]. Segundo Karu [15] o efeito do LBI, dependendo dos parâmetros de irradiação pode provocar a ação de biomodulação, que é um efeito a nı́vel tecidual, ou seja, bioestimulação ou bioinibição. A bioestimulação é caracterizada pelos fatores de cicatrização/reparação tecidual e inflamação/drenagem linfática, enquanto a bioinibição é caracterizada pelo fator de analgesia/contenção de hipertrofia celular. Resultados clı́nicos publicados do ponto de vista do tipo de fonte de radiação sendo coerente ou não coerente não levaram à conclusões precisas de que lasers têm um maior potencial terapêutico do que diodos emissores de luz (LEDs) [16] pois em certos casos o efeito terapêutico do laser parece ser maior do que LEDs [17] enquanto outros estudos levam à conclusão contrária. Alguns experimentos a nı́vel celular têm provido evidências de que luz coerente e não coerente com o mesmo comprimento de onda, intensidade e tempo de irradiação provém o mesmo efeito biológico [18, 19, 20], no entanto, esta situação é diferente quando um tecido macroscópico é irradiado, sendo a coerência espacial a principal responsável na entrega de luz dentro do biotecido [21]. Como se pode perceber, apesar de antiga, a TLBI ainda é fonte de controvérsias, portanto pesquisas nesta área ainda são necessárias. Um dos motivos para isso é a carência de literatura confiável no sentido de que muitas vezes os artigos não dão informações completas sobre o método de entrega de luz, sobre os parâmetros de luz utilizados (dose, potência) e sobre o tempo de irradiação. Além disso, a literatura é muito divergente em relação aos parâmetros de irradiação e linhagem celular utilizados, de tal forma que existem muitos resultados, porém na maioria das vezes não se pode chegar a um consenso a partir deles, especialmente quando se trata de proliferação ou morte celular [22, 23]. Demonstrado o cenário atual da pesquisa em TLBI o estabelececimento de padrões de parâmetros de irradiação como dose de luz e comprimento de onda do laser (vide Apêndice A) tem se mostrado uma necessidade, pois em geral os resultados são muito diferentes quando se utiliza diferentes tipos de células mesmo mantendo iguais esses parâmetros [24]. Também Capı́tulo 1. Introdução 10 tem se mostrado muito importante a determinação de quais são os mecanismos e fatores fotobioquı́micos que levam as células à bioestimulação ou bioinibição [13]. No entanto, um fator a se levar em consideração quando se fala em TLBI é que os resultados obtidos no estudo de células em cultura nem sempre podem ser levados para uma aplicação in vivo sem a devida experimentação, devido às diferenças de dimensões entre os sistemas. Expostos os muitos problemas em aberto em se tratando de TLBI, achou-se ser de grande contribuição um estudo da ocorrência ou não de alterações fı́sico-bio-quı́micas nas células de adenocarcinoma mamário in vitro (células da linhagem MCF-7) após a interação destas com luz coerente (633 nm), cujo parâmetro variado é a densidade de energia aplicada (5 mJ/cm2 , 28,8 mJ/cm2 e 1 J/cm2 ), portanto as células MCF-7 foram submetidas a um experimento de cinética, ou seja, de avaliação de seu comportamento ao longo de 6,5 dias após a irradiação. Para tal verificação e subsequente análise, foi utilizado o método de micro-espectroscopia FT-IR, técnica que vem sendo amplamente utilizada na área biológica para verificação de informações moleculares, a microscopia de força atômica (AFM) para verificação de variações morfológicas, bem como a tradicional contagem de células para verificação de viabilidade celular. A escolha do tipo celular de carcinoma MCF-7 e das fluências foi devido ao potencial uso dos resultados como base para outros estudos, como por exemplo de terapia fotodinâmica sobre este mesmo tipo celular, e porque resultados para esta ordem de grandeza de fluências já foram razoavelmente reportados, contribuindo portanto para a padronização dos parâmetros de irradiação. A utilização do tempo de acompanhamento de 6,5 dias teve como principal motivo o de se ter um panorama da extensão de tempo dos efeitos da luz sobre as células. Capı́tulo 2 Objetivo Verificar e caracterizar a ocorrência (ou não) de alteraçãoes fı́sico-bio-quı́micas em células de adenocarcinoma de mama ao longo de 6,5 dias após a interação destas com uma única dose de luz via espectroscopia FT-IR, microscopia de força atômica e teste de viabilidade celular pela técnica de exclusão do azul de tripano, variando-se a densidade de energia utilizada e comparando-se os resultados com os já reportados na literatura para os mesmos parâmetros. Capı́tulo 3 Revisão teórica 3.1 Câncer e células MCF-7 Câncer é uma palavra utilizada genericamente para representar um conjunto de mais de 100 doenças, incluindo tumores malignos de diferentes localizações. O câncer de mama é o segundo mais frequente no mundo e o mais comum entre as mulheres, a cada ano cerca de 22% dos casos novos de câncer em mulheres são de mama segundo o Instituto Nacional de Câncer do Brasil (INCA). São palavras de Luiz Antonio Santini Rodrigues da Silva, diretor geral do INCA: “Compreender e controlar as doenças malignas requer conhecimentos cientı́ficos e experiências que vão desde o conhecimento dos complexos mecanismos de regulação molecular intracelular às escolhas individuais do estilo de vida. Também se exige uma gestão competente e o melhor uso dos recursos disponı́veis para o planejamento, execução e avaliação das estratégias de controle da doença. A prevenção e o controle de câncer estão entre os mais importantes desafios, cientı́ficos e de saúde pública, da nossa época”. MCF-7 são uma linhagem de células imortalizadas de adenocarcinoma que foram extraı́das e isoladas de glândulas mamárias de uma mulher caucasiana em 1970 e estabilizadas no ano de 1973 no Michigan Cancer Foundation (daı́ a denominação MCF) [25, 26]. Possui morfologia epitelial (Vide Fig. 3.1), caracterı́stica de aderência (a qual influencia nos protocolos de cultura e contagem), habilidade para processar hormônio estradiol e tempo de duplicação de 29 horas [26]. Capı́tulo 3. Revisão teórica (a) 13 (b) Figura 3.1: (a) Figura de células MCF-7 em baixa confluência e (b) em alta confluência deste experimento. 3.2 Terapia a Laser de Baixa Intensidade - TLBI A TLBI tem sido realizada clinicamente no intuito de reduzir dor, de curar inflamações e edemas, cicatrização de feridas e de nervos e prevenir dano tecidual ao longo de quase quarenta anos desde a invenção dos lasers [24]. O gráfico da Fig. 3.2 é resultado de uma pesquisa na base de dados Web of Science com as palavras “cell”, “laser” e “irradiation” por tópico, o qual mostra que a quantidade de artigos relacionados à irradiação de células com laser até 1990 era baixo e estável, mas a partir deste ano aumentou consideravelmente. A despeito do grande número de artigos existentes sobre o tema, os resultados parecem ser controversos [23], além disso os mecanismos bioquı́micos que permeiam os resultados não são completamente entendidos, em grande parte porque existe um grande número de parâmetros de iluminação [24] e também porque a qualidade metodológica em geral é pobre[22]. Os artigos sobre TLBI geralmente se concentram na procura de danos ao DNA [27, 28], na monitoração da atividade da mitocôndria [29, 10] e das espécies reativas de oxigênio (EROs) [30, 10, 13], em estudos relativos aos mecanismos primários e secundários [1, 21], em comparação de efeitos entre diferentes células [31, 32], em comparação de efeitos de diferentes fluências ou fontes de luz [33, 34, 35], nos efeitos da luz na proliferação ou morte celular [36, 11, 30, 37, 38], em estudos de cicatrização de feridas [39, 40, 41] ou em mais de um destes assuntos acoplados. Capı́tulo 3. Revisão teórica 14 Figura 3.2: Gráfico do número de publicações por ano pesquisado na base de dados web of science pelas palavras “cell” e “irradiation” e “laser” por tópico. 3.3 Mecanismos de ação da TLBI Atualmente são propostos alguns mecanismos de ação da luz nas células, são os mecanismos primários e secundários. Os mecanismos primários de ação da luz são os que ocorrem no momento em que é efetuada a irradiação e existem algumas propostas [1], quatro delas explicadas a seguir. Primeiramente, tem sido sugerido que um possı́vel processo envolve aceleração de transferência de elétrons na cadeia respiratória devido a mudanças nas propriedades redox dos carreadores de elétrons da cadeia, como o NAD, FAD e citocromo c, seguindo fotoexcitação de seus estados eletrônicos [42]. Por segundo, é sugerido que durante a excitação de estados eletrônicos pela luz uma notável fração da energia de excitação é convertida em calor, o que causa um aumento de temperatura dos cromóforos. Esse aumento local transiente na temperatura de biomoléculas absorvedoras poderia causar mudanças conformacionais e estruturais e desencadear atividades bioquı́micas (reações secundárias no escuro) tal como ativação ou inbição de enzimas [43]. Por terceiro, supõe-se que alguns efeitos de laser de baixa potência podem ser relacionados ao aumento da produção da espécie reativa oxigênio singlete o qual reage produzindo o peróxido de hidrogênio, e cuja produção na mitocôndria está relacionada à regulação do metabolismo celular [44]. É também possivel que sejam geradas espécies reativas como o oxigênio singlete Capı́tulo 3. Revisão teórica 15 e peróxido de hidrogênio simplesmente modulando-se a atividade redox da mitocôndria e/ou o estado redox da célula. Ou seja, o primeiro e terceiro mecanismo provém um resultado muito similar. Em quarto, certas moléculas fotoabsorvedoras como porfirinas e flavoproteı́nas (alguns componentes da cadeia respiratória pertencem a essa classe de componentes) podem ser reversivelmente convertidos em fotossensibilizadores e a absorção de luz por essas moléculas seria convertida em oxigênio singlete [45, 46]. Este podendo ser um mediador nos efeitos biológicos da irradiação, pois estados quimicamente ativos de oxigênio com energias de 1 e 1,5 eV podem ser importantes em alcançar efeitos biológicos. Muitas publicações demonstraram que a mitocôndria deve ser a principal organela resposável pela absorção de luz na célula e isso já foi estabelecido na literatura através de experimentos de espectros de ação. Um espectro de ação (EA) (Fig. 3.3) foi feito para células HeLa cultivadas em frascos de cintilação com um número inicial 1×105 células por frasco [47, 2]. Foi medida a taxa de sı́ntese de DNA 1,5 ou 4 horas após a irradiação na fase log (de crescimento acelerado) com precursores radioativos H3 timidina e C14 uridina (descrito em [48]). A intensidade da luz foi mantida constante a 10 W/m2 (1 mW/cm2 ), variando-se a voltagem da lâmpada, com tempo de irradiação de 10 segundos, fluência de 100 J/m2 (10 mJ/cm2 ) e comprimentos de onda de 580 a 860 nm. Este espectro de ação é uma medida da sı́ntese de DNA em função do comprimento de onda de luz incidido nas células, a partir do qual se pode deduzir quais são os principais comprimentos de onda absorvidos quando se olha para apenas para a função de sı́ntese de DNA. Para se determinar quem é o fotoaceptor que absorve a luz foram ajustadas lorentzianas (tracejado) ao espectro de ação (os quadrados são os resultados experimentais e a linha cheia é o ajuste às lorentzianas), as quais teoricamente seguem o espectro de absorção da molécula fotoaceptora [49]. Apesar de o efeito verificado ser o de sı́ntese de DNA, os comprimentos de onda absorvidos pela célula não tinham nenhuma relação com nenhum cromóforo do núcleo, mas sim da mitocôndria. Por isso se diz que o caminho de sinalização ocorrido na célula devido a luz é retrógrado, pois é a mitocôndria quem manda sinalização para o núcleo para produzir DNA e não o contrário, como estabelecido anteriormente. A absorção de luz pela mitocôndria depende do comprimento de onda de luz incidido, tendo sido definidos até mesmo quais os comprimentos de onda absorvidos pela mitocôndria em cada fase do ciclo respiratório [50, 51]. A absorção de luz pela mitocôndria tem sido verificada indiretamente pela quantidade de ATP produzido [52, 53, 54, 55], pela quantidade de oxigênio molecular consumido [52, 54, 55], pelo potencial de membrana e pelo gradiente de prótons da membrana mitocondrial. Foram feitos também espectros de ação para sı́ntese de DNA na fase platô (de crescimento estagnado) e de sı́ntese de RNA na fase log e na fase platô. Também foi feito o Capı́tulo 3. Revisão teórica 16 Figura 3.3: Espectro de ação de células HeLa, o eixo da ordenada significa desintegrações por minuto de H3 timidina para 4×104 células, ou a taxa de sı́ntese de DNA, e o eixo da abssissa é o comprimento de onda em nm. Adaptado da referência [1]. EA da adesão de células HeLa a um substrato de vidro, este porém com parâmetros um pouco diferentes (intensidade de 1,3 W/m2 , tempo de irradiação de 40 segundos e dose de 52 J/m2 ). Todos os cinco espectros de ação foram utilizados na dedução de qual seria o fotoaceptor de luz. Para isso, cada banda dos espectros de ação foi analisada separadamente onde houveram quatro bandas de absorção as quais foram relacionados com energias de transição eletrônicas de componentes especı́ficos (centros absorvedores, como por exemplo o Cobre) de algum fotoaceptor. Portanto determinou-se de forma indireta que este fotoaceptor era o citocromo c oxidase [56-61], cuja forma e função dentro da célula é bastante complexa [60, 62-67]. Também se concluiu que o citocromo c oxidase não pode ser um fotoaceptor primário quando está completamente oxidado ou reduzido, mas somente quando está nas formas intermediárias (parcialmente reduzido, ou de valência mista) [1]. Outro candidato a fotoaceptor é uma flavoproteı́na como NADH desidrogenase a qual absorve luz azul e vermelha [56, 57]. Mais explicações sobre a dedução de que o citocromo c é o principal fotoacpetor celular podem ser encontradas em [35] e [1]. As reações secundárias são as reações bioquı́micas que ocorrem horas ou dias após o pro- Capı́tulo 3. Revisão teórica 17 cedimento de irradiação. Essas reações supostamente ocorrem como consequência da absorção de luz por cromóforos como a molécula de citocromo c oxidase e/ou componentes flavı́nicos como o NADH. Acredita-se que o foto-sinal percocorra uma cadeia de amplificação e transdução através da cadeia redox respiratória pois esta é capaz de controlar a homeostase celular tendo como consequências alterações no potencial redox da mitocôndria e modulações de reações bioquı́micas como a sı́ntese de ATP e de DNA levando a macroefeitos fotobiológicos como aumento da proliferação (marcado pela sı́ntese de DNA). Sabe-se que um pequeno aumento no pH citoplasmático (estreitamente conectado com o estado redox da célula) é um dos componentes necessariamente envolvidos na transmissão de sinais mitóticos na célula [58, 59, 60]. Tem sido observados como efeito da irradiação mudanças na força motiva protônica (fmp), no potencial elétrico da membrana mitocondrial, no pH citoplasmático e na sı́ntese de ATP [10, 61, 62], e aumento no tamanho das mitocôndrias [63], indicativo de intensificação do metabolismo energético. Na Fig. 3.4 é mostrado esquematicamente os caminhos de sinalização retrógrado, onde os caminhos marcados por flecha cheia são os experimentalmente provados e os de flecha tracejada são os teoricamente sugeridos. A lei da reciprocidade ou lei de Bunsen-Roscoe em fotobiologia proposta no século XIX por R. Bunsen e H. E. Roscoe diz que o surgimento de algum efeito biológico devido à luz é diretamente proporcional à dose de energia administrada, que é o produto da intensidade (ou densidade de potência) pelo tempo de exposição. Porém esta lei tem sido posta à prova ao longo de muitos anos e tem sido considerada imprópria devido aos resultados de alguns experimentos, como por exemplo no experimento em que foi medida a taxa de sı́ntese de DNA de células HeLa, irradiadas com laser de 633 nm à dose constante de 100 J/m2 , sendo que o tempo de irradiação e a intensidade foram variados. O resultado pode ser visto na Fig. 3.5, onde a linha tracejada representa o grupo controle e pode-se notar que há um aumento na taxa de sı́ntese de DNA a partir de 4 mW/cm2 , chegando a um pico em 8 mW/cm2 (cujo tempo de irradiação correspondente foi de 10-12 segundos), e então, um decaimento desta taxa. Um fator que pode influenciar na forma como as células respondem à interação com a luz é a fase do ciclo na qual a célula estava quando foi irradiada como por exemplo um experimento foi realizado para a verificação da produção de ATP por células HeLa após irradiação com 632,8 nm, 10 mJ/cm2 por 10 s ao longo de 8 dias [64], porém a irradiação foi feita uma vez ao dia e a quantidade de ATP foi medida 20 min após cada exposição, obteve como resultados uma intensa produção de ATP no terceiro dia (correspondente à fase log de crescimento das células) em comparação com o grupo não irradiado, o que indicou basicamente que a produção de ATP após exposição com aquela fluência depende da fase de crescimento celular na qual ela estava quando foi irradiada. Em outro experimento com estes mesmos parâmetros [65] cujas irradiações foram Capı́tulo 3. Revisão teórica 18 Figura 3.4: Esquema de mecanismo de caminho de sinalização retrógrado de interação da mitocôndria com o núcleo, onde ↑ indica aumento e ↓ diminuição dos valores, [ ] indicam concentração, ∆FFH significa mudanças na homeostase de fissão-fusão da mitocôndria, AP-1 significa proteı́na ativadora 1, NF-𝜅B significa fator nuclear kappa B e h𝜈 indica a radiação incidente. feitas uma durante a fase exponencial e outra durante a fase platô das células revelou que há um possı́vel aumento no número de células sintetizando DNA tanto na fase exponencial quanto na fase logarı́tmica, mas na fase exponencial este aumento é maior. Em ambas fases este aumento foi dependente do tempo, sendo que nas primeiras horas após a irradiação houve um aumento brusco na produção e depois foi quase linear, portanto, a sı́ntese de DNA após a irradiação tem uma dependência com a fase de crescimento, e com o tempo após a irradiação. Outro fator que influencia os resultados obtidos é o comprimento de onda, como no espectro de ação onde influenciou a sı́ntese de DNA, e nos resultados de [66] onde influenciou na proliferação celular. Como visto anteriormente, vários são os fatores ligados aos efeitos biológicos nas células após sua irradiação. A seguir, são brevemente relatados alguns estudos recentes, como por exemplo um estudo feito com cultura de células de pele humana em cicatrização [33], o qual demon- Capı́tulo 3. Revisão teórica 19 Figura 3.5: Gráfico da taxa de sı́ntese de DNA, com dose constante de 100 J/m2 , 𝜆 = 633 nm, onde a abssissa mostra a potência aumentando ao mesmo tempo em que o tempo de exposição diminui. O eixo da ordenada significa o número de desintegrações por minuto de H3 timidina para 4×104 células. Adaptado da referência [2]. strou que quando irradiados com 5 J/cm2 houve estı́mulo da atividade mitocondrial levando aos fibroblastos migrarem rapidamente indicando que eles estavam em processo de reparação e também houve aumento da proliferação e viabilidade sem que houvesse aumento de dano molecular e celular. No entanto, com doses maiores, de 10 e 16 J/cm2 houve um decréscimo na taxa de viabilidade e proliferação celular e dano à membrana celular e ao DNA. Outro estudo [34] comparou o efeito de irradiação em fibroblastos de gengiva com 5% de déficit nutricional, ou com 10 % de soro fetal bovino (controle) usando diferentes comprimentos de onda e fluência fixa de 2 J/cm2 . Em condições normais as células com déficit nutricional apresentaram taxa de proliferação menor do que as com suprimento nutricional ideal, no entanto quando irradiadas apresentaram crescimento igual ou maior do que aquelas (não irradiadas) sendo que lasers de igual potência de saı́da apresentaram efeitos similares sobre o crescimento celular independentemente de seus comprimentos de onda. Já outro estudo [36] utilizando altas fluências, de 120 J/cm2 e 80 J/cm2 em dois tipos de célula, adenocarcinoma de pulmão humano (ATSC-a-1), e células de fibroblasto de macaco africano transformadas (COS-7) foram irradiadas com laser de Capı́tulo 3. Revisão teórica 20 633 nm, cujo objetivo era induzir a apoptose e verificar qual a sequência de mecanismos que leva a ela. Foi verificado dessa forma geração máxima de EROs em 60 s após a irradiação, diminuição de membrana mitocondrial com mı́nimo após 50 min após a irradiação, ativação de caspase 3 entre 30 e 180 min após a irradiação, com apenas pequenas diferenças de tempo entre os tipos celulares, e que a caspase-8 não foi afetada com esse experimento. Medindo-se os tempos em que ocorreu formação máxima desses componentes pôde-se supor uma sequência de eventos que antecediam a apoptose. Em outro trabalho [64], células HeLa foram irradiadas com luz de 633 nm com dose de 10 mJ/cm2 por 10 s e a sı́ntese de ATP foi medida por 50 min após a irradiação, notou-se um aumento considerável de quantidade de ATP após 20 min de irradiação, sendo que depois diminuiu, e a quantidade do grupo controle permaneceu contı́nua. A quantidade de ATP por célula ao longo de 8 dias, comparado ao controle, e o grupo irradiado se mostrou muito maior, mas com um máximo no tempo de três dias, como o controle. 3.4 Instrumentação - Espectroscopia A espectroscopia vibracional oferece informações sobre a composição molecular, estrutural e interações moleculares em uma amostra. A luz infravermelha de uma fonte contı́nua (usualmente de 400 a 4000 cm−1 ) incidente nas moléculas, quando absorvida, causa a transição destas para um estado de vibração mais alto, o que significa que os estados de energia vibracionais das moléculas são excitados devido a absorção de luz. O comprimento de onda e a energia da luz estão relacionados pela Eq. 3.1, onde h é a constante de Planck, c é a velocidade da luz e 𝜆 é o comprimento de onda. 𝐸= ℎ𝑐 𝜆 (3.1) Considere-se uma molécula como um sistema massa-mola oscilante simples. Sua energia vibracional é prevista quanticamente pela Eq. 3.2. 1 𝐸𝑣𝑖𝑏 = (𝑛 + )ℎ𝜈0 2 (3.2) onde n é um número natural, chamado de número quântico vibracional, e 𝜈0 é a frequência do oscilador harmônico clássico, dada pela Eq. 3.3. Capı́tulo 3. Revisão teórica 21 1 𝜈0 = 2𝜋 √︃ 𝑘 𝜇 (3.3) onde k é a constante de força de ligação entre os átomos e 𝜇 é a massa reduzida dos átomos que compõem a molécula (Eq. 3.4), onde m𝑖 é a massa do i-ésimo átomo. 𝑖=1 ∑︁ 1 1 = 𝑚𝑟𝑒𝑑 𝑚𝑖 𝑛 (3.4) A energia do oscilador harmônico quando n=0 (o estado vibracional fundamental) é conhecida como a energia do ponto zero. Estamos interessados na energia responsável pela transição entre os estados vibracionais, que é a energia absorvida. A diferença de energia envolvida na transição do estado vibracional n para o estado m é dada pela Eq. 3.5. ∆𝐸 = 𝐸𝑚 − 𝐸𝑛 (3.5) Pelas Equações 3.4 e 3.5, percebe-se que as moléculas somente absorvem frequências selecionadas de radiação. Para incidência de luz de frequências idênticas às das vibrações das moléculas há absorção de energia, o que se traduz em picos ou bandas no espectro de absorção da amostra. Note-se entretanto que nem todas as ligações em uma molécula são capazes de absorver luz infravermelha, mesmo se a frequência da radiação é exatamente a mesma do movimento da ligação. O conjunto das probabilidades de transição entre os possı́veis estados n e m é conhecido como o conjunto das regras de seleção para as transições. No caso de uma molécula diatômica, só ocorre absorção de energia se houver mudança no valor do momento de dipolo elétrico dessa molécula1 (⃗ 𝑝), mesmo quando a molécula não tiver momento de dipolo permanente2 , e se o número quântico vibracional mudar por uma unidade (∆n=±1), ou seja, somente serão possı́veis transições entre nı́veis adjacentes. Essas regras de seleção são válidas apenas como primeira aproximação pois, 1 O momento de dipolo elétrico é definido como o produto da magnitude da carga elétrica de cada átomo pela dist^ ancia entre o componente positivo e o negativo destas cargas. 2 Por exemplo, ligações como as de H2 ou de Cl2 não absorvem radiação infravermelha por que seu momento de dipolo não muda com o tempo. Capı́tulo 3. Revisão teórica 22 como se sabe, o potencial interatômico não é perfeitamente harmônico [67]. Portanto, tais regras podem ocasionalmente falhar, mas se uma transição embora proibida pela regra ocorrer, o fará com intensidade quase sempre muito pequena. As vibrações de moléculas poliatômicas costumam ser analisadas tratando cada modo normal de vibração como um oscilador independente com seus próprios nı́veis de energia. A energia vibracional total da molécula é então calculada como a soma das energias dos osciladores individuais 𝐸 = (𝑛1 + 1/2)ℎ𝜈1 + (𝑛1 + 1/2)ℎ𝜈1 + ... + (𝑛1 + 1/2)ℎ𝜈1 (3.6) A introdução da anarmonicidade no estudo do comportamento vibracional de moléculas poliatômicas faz com que os modos normais não possam mais ser tratados como independentes. As regras de seleção, obtidas anteriormente para o caso de uma molécula diatômica, podem ser estendidas a moléculas poliatômicas [67]. A intensidade de uma linha espectral depende da probabilidade de transição entre dois estados, dado pelas regras de seleção e pelo número de moléculas no estado inicial da transição. Seja n𝑖 o número de moléculas no estado de maior energia e n𝑗 o número de moléculas, naquele de menor energia. Considerando um sistema em equilı́brio térmico, a lei de Boltzmann da distribuição de energia relaciona-os de acordo com a equação: 𝑛𝑖 𝑔𝑖 = Δ𝐸 𝑛𝑗 𝑔𝑗 𝑒 𝐾𝑇 (3.7) onde ∆E é a variação de energia entre os dois estados, T é a temperatura em Kelvin, g a degenerescência ou o peso estatı́stico dos estados e k é a constante de Boltzmanm. Observe que, se T é a temperatura ambiente, o número de moléculas em um estado excitado n𝑖 pode ser desprezado. Assim, nos espectros à temperatura ambiente somente aquelas transições a partir do estado fundamental são observadas, embora existam linhas que se originam a partir de estados excitados. Por isso a intensidade é uma informação quantitativa e permite detectar a concentração de uma espécie quı́mica . A largura de uma linha espectral depende do tempo de permanência em um dado estado de energia. Pelo princı́pio da incerteza de Heisenberg, se uma molécula permanece isolada por um tempo (∆t) [68] em um dado estado de energia, a energia deste estado terá uma incerteza de Capı́tulo 3. Revisão teórica 23 (Eq. 3.8 e 3.9). ∆𝐸 = ℎ∆𝜈 ∼ = ∆𝑡∆𝜈 = ℎ 2𝜋∆𝑡 ℎ 2𝜋 (3.8) (3.9) Então, quanto mais tempo uma molécula permanecer em um dado nı́vel de energia, menor será a incerteza da frequência. Para sistemas moleculares no estado fundamental, a energia é mais precisamente definida do que em estados excitados, já que pela lei da distribuição da energia de Boltzmann, o número de moléculas no estado fundamental é muito maior do que em estados excitados. A energia total de uma molécula, não considerando a energia devida aos movimentos translacionais, é a soma das energias eletrônica, vibracional e rotacional, esta última só no caso de moléculas em fase gasosa. Se em um sistema há N átomos não combinados, livres para se movimentarem em três dimensões, o sistema possui 3N graus de liberdade. Contudo se estes átomos estão combinados formando uma molécula não linear haverá 3N-6 graus de liberdade para as vibrações. Para moléculas lineares não há rotação em torno do eixo internuclear e em conseqüência restam (3N5) graus de liberdade para as vibrações. Estes graus de liberdade corresponde aos diferentes modos normais de vibração em uma molécula [68]. Um modo normal de vibração é aquele em que cada núcleo realiza uma oscilação harmônica simples em torno de sua posição de equilı́brio e todos os núcleos se movem em fase com a mesma freqüência e o centro de gravidade da molécula permanece inalterado. Por exemplo, o benzeno C6 H6 apresentaria 3×12–6=30 modos normais de vibração. Porém, experimentalmente (IV e Raman) observa-se apenas 20 modos normais de vibração. Este fato é explicado devido à degenerescência, que é a existência de diferentes modos normais de transição apresentando a mesma energia e em conseqüência, a mesma posição no espectro [68]. Os movimentos moleculares podem ser simplesmente agrupados em estiramento vibracional (representado por 𝜎), deformações vibracionais no plano da molécula(𝛿) deformações vibracionais fora plano da molécula (Fig. 3.6). Este evento de complexa movimentação dos átomos de moléculas envolve multiplicidade de energias, especialmente se os átomos possuem diferentes massas e estão conectados com diferentes tipos de ligações, tais como, ligações únicas, duplas ou triplas. Capı́tulo 3. Revisão teórica 24 Portanto, em se se tratando de moléculas, especialmente se forem biológicas, sua geometria é grande influenciadora sobre as vibrações que ocorrem quando uma frequência é absorvida. Figura 3.6: Exemplos de vibrações que podem ocorrer em moléculas. Espectros com luz infra-vermelha podem ser feitos basicamente com dois tipos de técnicas: a dispersiva e a não-dispersiva, ou espectroscopia interferométrica. Isso é devido ao modo de construção de cada espectrômetro, a técnica dispersiva utiliza prismas e grades de difração para a luz, enquanto que a interferométrica utiliza o interferômetro de Michelson, sendo que esta tem algumas vantagens sobre a dispersiva [3]. Um espectrômetro interferométrico utiliza uma ferramenta matemática chamada transformada de Fourier e um interferômetro de Michelson, mas com um dos espelhos móvel (Fig. 3.7). A interferometria funciona da seguinte maneira: a luz branca incide na lente L1 é separada pelo divisor de feixe (é um elemento óptico que permite parte da luz seja refletida e parte transmitida), onde a parte refletida é focalizada no detector D depois de ser refletida pelo espelho estacionário M1 e depois de uma segunda divisão pelo divisor de feixe. A parte transmitida também é focalizada no detector após ser refletida pelo espelho M2 e dividido novamente pelo divisor de feixe. A amostra é posicionada entre o divisor de feixe BS e a lente L2. Mudando o espelho móvel M2 de uma certa distância, franjas de interferência são produzidas no detector devido a diferença de fase entre os feixes parciais. Sua intensidade I(x) depende da posição x do espelho M2, onde I(x) é chamada função de interferograma, que é dada pela Eq. 3.10: ′ 𝐼 (𝑥) = 𝐼(𝑥) − 1 2 ∫︁ 0 𝐼(𝜈)𝑑𝜈 = ∞ 1 2 ∫︁ 0 𝑐𝑜𝑠(4𝜋𝜈𝑥)𝑑𝜈 (3.10) ∞ onde x é a posição do espelho móvel, e 𝜈 é a frequência da luz. Por razões técnicas o interferograma não é obtido continuamente, e sim ponto a ponto. Para isso é utilizado o padrão de interferência de um laser, o qual é detectado em um detector de diodo (Veja Fig. 3.8). O cruzamento entre ambos os feixes (na figura, o contı́nuo e o tracejado) quando a fase da luz do laser é máxima em amplitude, define os pontos da posição x do espelho móvel onde são obtidos os interferogramas. Capı́tulo 3. Revisão teórica 25 Figura 3.7: Caminho óptico em um interferômetro de Michelson. (LS: fonte de luz, L: lentes, M: espelhos, BS: Feixe divisor). Figura retirada da referêcia [3]. Figura 3.8: Diagrama de um espectrômetro comercial. (Q: fonte de radiação, DV: Divisor de feixes, SM: varredura mecânica, A: abertura, D: detector, D𝐿 : detector do laser,E1-E4: espelhos de foco, E: espelhos planos. Retirada da referência [4]. O interferograma é um sinal complexo da intensidade pelo tempo, mas seu padrão de onda contém todas as frequências que pertencem ao espectro infravermelho. Um operação matemática sabida como transformada de Fourier pode separar as frequências de absorção individuais do interferograma, produzindo um espectro virtualmente idêntico àquele obtido com um espectrômetro dispersivo. A vantagem de um instrumento FT-IR é que ele adquire o interferograma em menos que um segundo. Assim é possı́vel coletar dezenas de interferogramas da mesma Capı́tulo 3. Revisão teórica 26 amostra e acumulá-las na memória do computador. Quando a transformada de Fourier é realizada sobre a soma dos inteferogramas acumulados, um espectro das absorções individuais pode ser obtido. Quando comparada com a técnica dispersiva, a interferométrica tem duas vantagens principais, sabidas como vantagem da energia e vantagem múltipla. A vantagem de energia se origina do fato de que durante o perı́odo inteiro de medida quase sempre a intensidade total do feixe atinge o detector. Isso significa que a detecção opera sobre um alto nı́vel de sinal, o que melhora a taxa sinal-ruı́do. A vantagem múltipla se origina do fato de que a cada mudança do espelho móvel é realizada uma varredura completa de todo o espectro e com isso varreduras individuais são combinadas resultando em uma melhor representação de absorbância, portanto, quanto maior o número de varreduras, menor o ruı́do enquanto que em espectroscopia dispersiva N partes de comprimentos ∆𝜈 do espectro são medidos sucessivamente. A Fig. 3.9a mostra um interferograma de um filme de polietileno. Após transformado pela transformada de Fourier, é obtido um espectro como o (sb) da Fig. 3.9b, também chamado feixe único [4]. (a) (b) Figura 3.9: (a) Interferograma de transmissão através de um filme de polietileno. Em detalhe é mostrada a estrutura do polı́mero. (b) Espectro de feixe único (sb) e espectro de absorbância (abs) de FT-IR de polietileno. Adaptados da referência [3]. A forma geral do espectro (sb) é determinada principalmente pelas caracterı́sticas da fonte de luz e pelos elementos ópticos do caminho óptico, incluindo o detector. Se o espectrômetro é operado sob condições ambientais adicionais, linhas de absorção de CO2 e de H2 O da atmosfera aparecem. Desde que essas linhas não tenham relação com as propriedades da amostra a ser analisada, o resultado do feixe único é usualmente dividido pelo espectro de background. O Capı́tulo 3. Revisão teórica 27 logarı́tmo desta razão é graficado contra a energia da luz (em número de onda). A quantidade obtida deste modo é a absorbância, a qual oferece uma caracterização muito melhor da amostra. A transmissão observada é diretamente relacionada com a absorção de acordo com a lei de Lambert (Eq. 3.11), e reflexões tem apenas uma pequena influência sobre o espectro. 𝐼(𝑥) = 𝐼0 𝑒−𝛼𝑙𝑐 = 𝑇 (3.11) Onde I é a intensidade da luz transmitida após passar pelo material, I0 é a intensidade de luz incidente, 𝛼 é o coeficiente de absorção ou absortividade molar da substância, l é a espessura da amostra, c é a concentração de material e T é a transmitância. A absorbância é definida como −𝛼𝑙𝑐. Atualmente os aparelhos de espectroscopia fazem todos esses procedimentos automaticamente, obtendo-se diretamente o espectro de absorção. Existem algumas condições de operação do espectrômetro que se desviam das ideais, sendo que duas delas são muito importantes, o valor finito de mudança de lugar do espelho e como consequência o número de registros durante a varredura é limitado. Como o espelho não pode ser mudado de -∞ a +∞, a transformada de Fourier é truncada [3]. O espectrômetro utilizado nestes experimentos foi o micro-espectrômetro Varian 610 com a técnica de reflectância especular. Essa técnica é bastante utilizada para medidas de camadas monomoleculares em substratos, medidas de filmes finos em substratos refletivos e análise de materiais massivos. Em geral dispensa prévio preparo das amostras. Ela fundamenta-se na medida da intensidade da luz infravermelha refletida pela superfı́cie da amostra em determinado ângulo, conforme mostrado na Fig. 3.10. No caso de amostras muito espessas ou absorvedoras, I𝑡 será muito atenuado e a luz espalhada será majoritariamente devido à reflexão especular I0 . Esta aumenta consideravelmente para valores altos de 𝜃𝑖 e depende também do ı́ndice de refração do material. Então,por conta de rugosidades na superfı́cie e de não homogeneidade da amostra, podem aparecer artefatos e distorções nos espectros. Portanto, a padronização do método de deposição do filme de amostra, a espessura correta do material a ser empregado são parâmetros chave para a obtenção de espectros adequados, reprodutı́veis e livres de artefatos, visto que uma má preparação pode levar a rugosidades e ı́ndices de refração diferentes. As amostras podem ser alı́quotas a serem depositadas numa lâmina recoberta de ouro, ou substratos de platina (Fig. 3.11), ou ainda material sólido em pastilha. Capı́tulo 3. Revisão teórica 28 Figura 3.10: Esquema demonstrando a interação de um raio de luz de intensidade I0 incidente em um filme sobre um substrato com uma amostra, resultando em parte dele refletido especularmente (I𝑎𝑟 ), parte dele transmitido e refletido (I𝑠𝑟 ) e n é o ı́ndice de refração. Figura 3.11: Substrato de platina utilizado na obtenção dos espectros, com filmes de amostra. 3.5 Espectroscopia vibracional FT-IR Desde que a detecção micro-espectroscópica pode distinguir qualitativamente e quantitativamente as diferenças entre as caracterı́sticas espectrais de muitas moléculas, os perfis moleculares e submoleculares, pesquisas tem utilizado espectroscopia para averiguação de distribuição de compostos moleculares (lipı́dios, proteı́nas, ácidos nucléicos e carboidratos), para informação de estrutura quı́mica e histológica de uma única célula em estudos de biologia celular [69, 70], e para definir e diferenciar tecidos humanos doentes e saudáveis (incontáveis trabalhos [71, 72]). Também tem sido feito estudos em identificação da natureza de desenvolvimento de colônias, formação de biofilmes por microorganismos e fermentação microbiológica [73, 74], de caracteri- Capı́tulo 3. Revisão teórica 29 zação funcional de tecidos de plantas e sementes[75, 76], da interação de implantes com sistemas biológicos [77, 78], da detecção de abuso e distribuição de drogas em estudo forense [79, 80] e da medição de taxas de CH2 /CH3 [81]. Métodos, especialmente os estatı́sticos têm tido ampla aplicação à espectroscopia. Alguns dos métodos de análise de espectroscopia utilizados são por exemplo a análise de componentes principais (ACP) [82, 69], a análise de função discriminante (AFD) [72], mı́nimos quadrados parciais (MQP), teste-t [72, 83, 84], regressão logı́stica binária, ou análise discriminante ou validação cruzada (baseado nos resultados de CP), dendograma e análise de cluster [85, 86], redes neurais avançadas, redes neurais probabilı́sticas, análise quimiométrica. Também são utilizadas as deconvoluções [87, 88, 89], a segunda derivada dos espectros [90] e imageamento espectroscópico [91, 92]. Cada uma dessas análises encontra uma aplicabilidade de acordo com o que se quer verificar. 3.6 Microscopia de Força Atômica A Microscopia de Força Atômica (AFM) é a produção de imagens topográficas em escala nanométrica e micrométrica através de um sistema de interação entre uma sonda ou ponta com a amostra. Esta interação pode ser de contato ou de não-contato. A ponta fica localizada na extremidade de um cantilever, feito de material piezoelétrico, ligado ao sistema de detecção do sinal para produção da imagem. Na figura a seguir é esquematizado o sistema de obtenção de imagens por AFM. Neste caso a amostra é varrida enquanto o cantilever fica parado, movendo-se apenas verticalmente. A imagem é formada pela informação da altura que é obtida da luz laser refletida do cantilever para o foto-detector, e da informação da posição da amostra. A força entre a ponta e a amostra para pequenas distâncias é dada por [93]: 𝐹 (𝑟) = 12 𝐵 𝐷 −6 7 12 𝑟 𝑟 (3.12) onde B e D são constantes que dependem do material da ponta e da amostra (como a distribuição de carga elétrica) e r é a distância entre os átomos da ponta e da amostra. Esta é a força de interação medida nas imagens de contato, onde a ponta encosta na amostra e portanto o primeiro termo da equação é repulsivo e é dominante, pois é devido à interação de sobreposição dos orbitais mais externos dos átomos da ponta e da amostra [94]. As imagens de não contato Capı́tulo 3. Revisão teórica 30 Figura 3.12: Esquema de AFM, adaptado da referência [5] são produzidas pela técnica chamada Microscopia de varredura por tunelamento (STM), onde a ponta não encosta na amostra, mas fica tão perto que existe a probabilidade de tunelamento. No entanto esta técnica pode somente ser utilizada em amostras condutoras ou semi-condutoras. Além das imagens é possı́vel construir curvas de distância x força (curvas de força) que podem fornecer informações sobre elasticidade, dureza, constante de Hamaker, adesão e densidade de carga da superfı́cie além de uma análise de forças de superfı́cie. A força é medida pelo cantilever, que por ser piezoelétrico produz uma diferença de potencial quando defletido pela amostra. O AFM de contato vem sendo utilizado para o estudo de tecidos biológicos, células, organelas e móléculas porque esta técnica não necessita que a amostra seja condutora. Algumas técnicas de preparação de amostra têm sido desenvolvidas devido a condição de pouca dureza destas quando vivas, no entanto, estudos também podem ser feitos de amostras não-vivas e secas. Um tipo de medida recorrente na literatura é a de propriedades viscoelásticas de células [94, 95], identificação de estruturas de membrana plasmática envolvidas em exocitose, tensão de cisalhamento induzida em células endoteliais, propriedades de biomoléculas, Capı́tulo 4 Materiais e métodos Células de câncer de mama da linhagem MCF-7 foram previamente cultivadas conforme protocolo preconizado pela ATCC® [96] e então transferidas para placas de cultura em número que satisfizesse a confluência desejada (vide Apêndice B) com 24 horas de antecedência da exposição à luz de comprimento de onda de 633 nm proveniente de um laser de Hélio-Neônio, tempo necessário para a aderência das células à placa. Para a exposição à luz foi utilizado um filtro espacial para uniformização da frente de onda desta e após a exposição única, as células permaneceram em cultura até decorrido o tempo de adaptação que é o tempo entre a irradiação e a retirada das amostras para avaliação por FT-IR e contagem. Todas as irradiações foram precedidas de verificação de uniformidade da frente de onda, da verticalidade dos raios luminosos incidentes nas células, e de verificação da potência de saı́da do laser e da fenda circular. Foram realizados experimentos piloto para verificação de quais seriam as condições experimentais ideais da confluência das células, do tamanho do poço e do tempo de retirada das células, portanto foram testadas duas confluências de 30 e 70%, dois tamanhos de poço de 2 cm2 (placa de 24 poços) e 10 cm2 (placa de 6 poços) e três tempos de retirada das células de 6, 12 e 24 horas. Ao fim desses experimentos determinou-se que a melhor confluência seria de 30%, pois em 70% as células preencheriam o fundo do poço antes do tempo planejado de 6,5 dias de experimento, o que poderia causar resultados falsos devido ao excesso de células. Foi escolhido o tamanho de placa de 6 poços porque com a de 24 não haviam células suficientes para avaliação decorrido o tempo de adaptação e também porque a fluência era menor do que na placa de 6 poços. O tempo de 12 h se mostrou um bom tempo para avaliação das mudanças celulares por questões práticas de comparecimento ao laboratório. Após os experimentos piloto foram realizados os experimentos de cinética, ao longo dos quais Capı́tulo 4. Materiais e métodos 32 foi acompanhada a reação das células por 6 dias e meio com retirada das amostras a cada 12 horas para avaliação por espectroscopia FT-IR e microscopia de força atômica e a cada 24 horas para avaliação de viabilidade celular, os quais foram feitos em quadruplicata (foram utilizados 104 poços por fluência). Os experimentos de irradiação e verificação da viabilidade celular foram realizados no Laboratório de Processos e Transformações II, L203 Bloco B, e a obtenção dos resultados de espectroscopia e de imagens AFM foi realizada na central multi-usuário da UFABC. 4.1 Parâmetros de irradiação Na Tab. 4.1 é apresentado um resumo dos parâmetros de irradiação de experimentos piloto, os quais foram úteis para o aprimoramento do método experimental. Tabela 4.1: Parâmetros experimentais empregados nos experimentos piloto. Tempos de rada (h) reti- Teste 1 Teste 2 Teste 3 Teste 4 6; 12; 24 6; 12; 24 12; 24 12; 24 Potências (mW) 0; 5; 10 e 15 0; 5; 10 e 15 0; 4,5; 7,5 0; 5; 7,5; 10 e 15 Densidades de potência (mW/cm2 ) 0; 0,32; 0,48 e 0,97 0; 0,32; 0,48 e 0,97 0; 0,064; 0,096 0; 0,064; 0,096; 0,13; 0,20 Área de irradiação por poço (cm2 ) 9,8 9,8 2 2 Fluências (mJ/cm2 ) 0; 19,2; 39,0 e 58,2 0; 19,2; 39,0 e 58,2 0; 3,84; 5,76 0; 3,84; 5,76; 7,8 e 11,63 Tempo de irradiação (min.) 1 1 1 1 Em todos os testes foi adotada a confluência de 70% no momento da irradiação, alı́quotas de 2 𝜇L de amostra para os espectros e substrato de ouro para FT-IR. Um esquema de irradiação do teste 1 pode ser visto na Fig. 4.1 Na Tab. 4.2 é apresentado um resumo dos parâmetros experimentais empregados nos experimentos finais. Os parâmetros mais importantes desta tabela são a fluência (também chamada densidade de energia), pois ela contém a informação de tempo, área e potência (veja Eq. 4.2) e a densidade de potência (potência por unidade de área), embora se saiba que variando-se a densidade de Capı́tulo 4. Materiais e métodos 33 Figura 4.1: Esquema de parâmetros de irradiação em duas placas de seis poços. Tabela 4.2: Parâmetros experimentais empregados nos experimentos finais. Exp 5 (quadr.) Exp 6 (quadr.) Exp 7 (quadr.) Tempo de retirada (h) 12 12 12 Potências (mW) 1,3 7,5 15 Densidades de potência (mW/cm2 ) 0,083 0,48 0,97 Área de irradiação por poço (cm2 ) 9,8 9,8 9,8 Fluências (mJ/cm2 ) 5 28,8 1000 Tempo (min.) 1 1 16,5 de irradiação potência e o tempo e mantendo-se fluência constante hajam variações nos efeitos celulares neste trabalho foram utilizados os dados de fluência para as denominações. Para os experimentos da Tab. 4.2 as células foram retiradas para contagem a cada 24 h, e para FT-IR a cada 12 horas para o qual foram utilizados substratos de platina (HDs de computador) com alı́quotas de 20 𝜇l. Os experimentos foram feitos em quadruplicata, ou seja, foram plaqueados 104 poços, 52 para os controles e 52 para os irradiados com 1,71×105 células à uma confluência de 30%, porém, durante a lavagem da amostras para remoção do sal algumas amostras foram perdidas, de tal forma que a estatı́stica dos espectros do grupo irradiado dos experimentos 5 e 7 se refere a n=3. Capı́tulo 4. Materiais e métodos 4.2 34 Construção do aparato de irradiação O objetivo da construção de um aparato de irradiação foi para que a intensidade da luz incidente nas células fosse o mais uniforme possı́vel dentro da área de um poço de uma placa de cultura de 6 ou de 24 poços, e também que durante a irradiação o sistema estivesse isolado de luz externa, tudo isso para garantir a reprodutibilidade do experimento. O aparato é formado por duas caixas de isopor coladas uma à outra (de forma que o caminho óptico do feixe de luz seja totalmente coberto), em cujo interior foram dispostos os dispositivos ópticos (lentes, fenda circular, filtro óptico e o espelho defletor) e a irradiação ocorre no interior da caixa. A montagem do filtro espacial que alcançou nossas expectativas, de distribuição uniforme de energia, é formada de duas lentes plano-convexas de distância focal de 1,5 cm cada, uma fenda circular de 0,23 mm de diâmetro aproximadamente (Fig. 4.2a), uma lente bi-côncava de distância focal de aproximadamente 12 cm em cada face. Para que se cumpra a uniformidade, são igualmente importantes as distâncias entre os dispositivos ópticos. Substituindo-se os valores das distâncias focais das duas lentes (de distâncias focais f1 e f2 ) plano-convexas na Eq. 4.1, no caso 1,5 cm, e a distância entre as lentes de 2,1 cm, o resultado é de uma distância focal conjunta de 2,5 cm, que seria o local correto de posicionamento da fenda circular, no entanto, experimentalmente foi verificada uma maior uniformidade na distância de 6,5 cm. As medidas de distância foram feitas a partir dos planos principais das lentes. 1 1 1 𝑑 = + − 𝑓 𝑓1 𝑓2 𝑓1 𝑓2 (4.1) Quando se deseja mudar a intensidade da luz se adiciona um filtro óptico (Fig. 4.2b) de acordo com a intensidade desejada, a qual é medida com um medidor de potência. Na Fig. 4.3 é mostrado um esquema do arranjo experimental e na 4.4a são mostrados os componentes do filtro espacial, com as respectivas distâncias utilizadas sendo que o caminho óptico seguido pela luz é da direita para a esquerda. A luz passa pelas lentes plano convexas de forma que esta converge aproximadamente para o lugar onde está posicionada a fenda circular. Neste ponto as frentes de onda apresentam um padrão de difração em forma de franjas circulares (um exemplo pode ser visto na Fig. 4.2c). A fenda circular é posicionada neste ponto a fim de deixar passar a franja de potência maior (central) e barrar as de potências menores (periféricas), assim o padrão de intensidade de luz resultante será mais homogêneo. A seguir a luz passa pelo filtro óptico, e então, pela lente bi-côncava cuja função é expandir o feixe de luz para que este abranja a totalidadade de área Capı́tulo 4. Materiais e métodos (a) 35 (b) (c) (d) Figura 4.2: (a) Fotografia de fenda circular obtida em microscópio óptico (aumento de 400 vezes); (b) Filtros ópticos; (c) Franjas de interferência de padrão circular da luz (d) Irradiação de cultura de células em um dos poços, sem que a luz atinja os demais. de um poço de cultura. A função do espelho é defletir a luz para o poço sendo que em torno e em cima da placa de cultura foi utilizada uma capa escura feita de EVA para que esta isolasse a irradiação incidente em cada poço dos demais que não deviam receber luz (veja Fig. 4.2d). É importante ressaltar que as medidas apresentadas na Fig. 4.4a não retratam as posições de maneira exata, pois a cada vez que um experimento foi feito, o filtro precisava ser realinhado, no entanto, a mudança era muito pequena, e não interferiu significativamente na intensidade de luz. O alinhamento foi feito manualmente e de forma que as figuras de difração coincidissem uma sobre as outras. Foram feitos testes de potência diretamente no feixe de luz do laser para se saber se havia flutuações de voltagem da rede elétrica, ou mesmo do laser. Para isso foi feito o background (da luz ambiente), e a seguir foram tomadas medidas de potência da luz do laser a cada minuto por 15 a 20 minutos em diferentes partes do dia. A potência máxima de saı́da medida foi de 24,7 e a mı́nima de 24,2 mW indicando que houve uma variação de apenas 2%. Para a verificação da uniformidade da frente de onda utilizou-se o seguinte método. Posicionouse no filtro espacial, no local do espelho, uma folha de papel branco perpendicular ao feixe de luz sobre o qual este irá incidir. Atrás da folha de papel posicionou-se uma câmera CCD paralela ao papel e obteve-se uma fotografia deste (vide Fig. 4.4). A fotografia foi submetida ao software Image J para se obter uma distribuição de intensidade de luz. A Fig. 4.5a é uma fotografia do feixe de laser perpendicular à folha de papel, na ausência de filtro espacial, e a Fig. 4.5b é uma distribuição de intensidade do referido feixe. Pode-se perceber que a intensidade de luz não está distribuı́da de maneira uniforme e sim de forma gaussiana, e além disso não cobre a área de irradiação de um poço de placa de 6 poços Capı́tulo 4. Materiais e métodos 36 Figura 4.3: Esquema da caixa na qual estão inseridos os dispositivos ópticos para irradiação das células. (aproximadamente 10 cm2 , sendo que na figura o cı́rculo indica o tamanho aproximado de um poço de placa de 6 poços em relação ao tamanho do feixe). Quando se utiliza o filtro espacial para uniformização e expansão do feixe, o resultado é como mostra a fotografia da Fig. 4.7a (demarcado por um molde do tamanho de um poço de uma placa de 6 poços), produzindo um gráfico da intensidade radial integrada pelo número de pixels (no programa Image J, editado no programa Origin Pro 8) como o da Fig. 4.7b a partir da qual pode-se perceber que o feixe de luz possui frente de onda consideravelmente uniforme, pois a variação de intensidade do centro para a borda é de 27% para um tamanho de poço de 10 cm2 . A partir dela foram calculadas no programa Origin Pro 8 as fluências empregadas utilizando-se os dados de área integrada, número de pixels e áreas dos poços, e a variação de intensidade foi calculada utilizando-se os dados de número de pixels e áreas dos poços. Para obtenção das fluências calcula-se a área total sob o gráfico (potência), digamos que seja 15 mW, a área correspondente ao limite do poço, e através de regra de três simples calcula-se a potência apenas da área do poço. Digamos que seja 10 mW. Para se descobrir qual é a fluência basta usar a seguinte equação [11], [97]: ∆𝑡 = 𝐽 ×𝐴 𝑃 (4.2) Capı́tulo 4. Materiais e métodos 37 (a) Esquema do aparato experimental de iluminação (b) Esquema do modo de obtenção das fotografias Figura 4.4: Esquemas experimentais. Onde ∆t é o tempo em segundos, J é a fluência em J/cm2 , A é a área em cm2 e P é a potência em W (1 W = 1 J/s). Digamos que o tempo de exposição é de 60 segundos, a área é de aproximadamente 10 cm2 e a potência é de 10 mJ/s. A fluência portanto é aproximadamente de 60 mJ/cm2 , diferindo à de 58,2 mJ/cm2 na Tab. 4.1 apenas devido a algumas aproximações aqui feitas. Também foi feito um teste para se verificar a efetividade da capa preta sobre um poço individual de uma placa de cultura de células e detectar um possı́vel espalhamento de luz sobre o material da placa que viesse a interferir nas demais culturas durante a irradiação. Para isso, foi feita uma distribuição radial de fotografias tiradas por trás de um poço com as laterais cobertas e do feixe de luz sem cobertura (Fig. 4.6) e, conforme se pode perceber, não há espalhamento significativo para os poços vizinhos em comparação com o não coberto. Para a irradiação foram utilizados laser He-Ne 633 nm de modo TEM00 Unilaser 08/23796, E.V.A. para a capa das placas de cultura, duas lentes plano-côncavas de 25,4 mm de diâmetro Capı́tulo 4. Materiais e métodos 38 (a) Fotografia feita com c^amera Sony Cyber-Shot 4.1 MP de feixe de laser perpendicular à folha de papel (b) Distribuição da intensidade de luz da fotografia, obtida com o software Image J Figura 4.5: Gráfico da intensidade da frente de onda da luz sem utilização de filtro espacial em número de pixels. e 150 mm de distância focal, Newport KP×100 PCX Lens BK7 P040858, fenda circular de 0,23 mm de diâmetro que foi feita com objeto pontiagudo em papel alumı́nio preso a um suporte, lente bi-côncava, filtros ópticos, espelho, caixas de isolamento térmico e luminoso, suportes para lentes modelo MC New Action VPH Series, para fenda modelo LH-1 M4, e para filtro óptico e espelho o modelo Mitutoyo 7013B, óculos de proteção para laser, câmeras Digitais CCD Samsung NV8 Capı́tulo 4. Materiais e métodos 39 Figura 4.6: Teste para verificação de espalhamento de luz sobre a placa de cultura quando utilizada e não utilizada a capa. 8 MP e Sony Cyber-Shot 4.1 MP, computador para a análise das fotografias, Dell com sistema operacional Windows Vista e Processador AMD 64 Athlon X2, medidor de potência N1034-2 U. S. Laser Corp. ou Newport 841-PE e o software Image J (vs. 1.41o, Java 1.6.0 11). 4.3 Obtenção e tratamento dos espectros A espectroscopia FT-IR foi realizada para se identificar as alterações bioquı́micas relevantes nas células decorrentes do processo de estı́mulo luminoso através da técnica de reflectância especular. Para aquisição dos espectros, as células foram desaderidas dos poços, foram lavadas conforme descrito no Apêndice B, e então o sobrenadante retirado. Do pélete uma alı́quota de 1 (testes 1 a 4) ou 20 𝜇L (experimentos 5 a 7) foi retirada e colocada na lâmina de FT-IR sendo que a de 20 𝜇L foi utilizada devido à melhor qualidade dos espectros. Todas as alı́quotas foram colocadas em lâmina de ouro ou em substrato de platina adequadamente limpos e podem ter sido liofilizadas à vácuo à 30 °C por 5 minutos ou secas ao ar livre sendo que o tempo entre a secagem e obtenção dos espectros foi de 1 a 8 semanas. Após secas as amostras, foi feita uma lavagem com água ultra pura com o objetivo de que o sal fosse removido, ficando apenas as células depositadas e Capı́tulo 4. Materiais e métodos 40 (a) Fotografia feita com c^amera Sony Cyber-Shot 4.1 MP de feixe de laser perpendicular a uma folha de papel. (b) Gráfico da intensidade radial integrada pelo número de pixels. Figura 4.7: Intensidade da frente de onda da luz com utilização de filtro espacial. os espectros foram obtidos com mı́nimo ruı́do. Os espectros de absorção pelo número de onda foram obtidos com resolução espectral de 2 cm−1 , 200 acumulações, em aproximadamente 2 minutos por coleta e com área de escaneamento de 200×200 𝜇m (representado pelo quadrado central da Fig. 5.3) e foram obtidos 3 espectros por alı́quota. Os espectros foram submetidos a alguns tratamentos para eliminação de efeitos de preparação da amostra e devido ao aparelho para facilitação de sua análise. Primeiramente foram subtraı́das as linhas de base com o software FitYK nos três pontos mais inferiores (vide Fig. 4.8) de Capı́tulo 4. Materiais e métodos 41 cada espectro, então foram normalizados pela unidade (“normalize to [0,1]”), após foi calculada a média dos três espectros por amostra, e a seguir as áreas integradas das bandas espectrais, as quais foram divididas visualmente (não foi feita a deconvolução) (Fig. 4.8). A Normalização, o cálculo de área e a média dos espectros foram feitos com o software Origin, e um requisito para a divisão das bandas para cálculo da área é o de que bandas acopladas foram calculadas conjuntamente, como por exemplo, uma banda com um ombro foram deixadas juntas. O esquema seguido foi o seguinte: Linha Base→ Normalização→ Média dos espectros→ Área integrada das bandas Figura 4.8: Espectro representativo, grupo controle em tempo de 36 h. Lb significa espectro ainda sem subtrair a linha base, slb significa que foi subtraı́da linha base, e slb-norm significa q foi subtraı́da a linha base e foi normalizado. Os pontos indicam os locais escolhidos para a subtração da linha base. As linhas indicam a delimitação da banda para cálculo de sua área. O microespectrômetro utilizado neste trabalho atua na faixa do infravermelho médio (de 400 a 4000 cm−1 , ou de 10 a 40𝜇m) e está equipado com um detector MCT , o qual atua sob intensa refrigeração mediante N2 lı́quido. A fonte de luz é a lâmpada New High Performance Duraglow™ de cerâmica resfriada a ar. Para a espectroscopia foram utilizados lâmina de ouro ou substrato de platina (HD de computador) devido à maior disponibilidade sem que ocorresse perda de Capı́tulo 4. Materiais e métodos 42 informação, espectrômetro 610 Varian associado à microscopia, picetas, água ultrapura e os softwares FitYK 0.9.2 Copyright (©2001-2010 Marcin Wojdyr) e Origin Pro 8 v8.0724 (B724) (©1991-2007 Origin Lab Corporation). 4.4 Obtenção de imagens de Microscopia de Força Atômica As imagens de AFM foram obtidas da mesma fonte que os espectros (do substrato de platina), pelo modo de contato, com uma resolução de 512 pixels, de 80x80 𝜇m de tamanho, ganho proporcional (P) de 9% e integral de 4 ou 5% dependendo da amostra, pelo modelo 5500 Atomic Force Microscope da Agilent Technologies. 4.5 Células e manuseio Maiores detalhes sobre o manuseio e viabilidade celular podem ser encontrados no Apêndice B. Capı́tulo 5 Resultados e discussão A seguir são expostos os resultados das contagens de células, espectroscopia micro FT-IR e AFM dos experimentos e dos quatro testes feitos. O primeiro teste foi feito para se verificar a qualidade da contagem, dos espectros, e se haveria alteração destes pela influência de 3 fluências distintas de luz. Foi feito com 12 amostras, cujos parâmetros são mostrados na Tab. 4.1, e cujo esquema de irradiação é mostrado na Figura 4.1. Os espectros (mostrados do tempo de 24 h para exemplificação na Fig. 5.1) apresentaram ampla região ruidosa entre 1400 e 1800 cm−1 , de tal forma que não se pode interpretá-los com segurança. Além disso, o número de células do grupo controle não obedeceu a forma esperada de crescimento exponencial com o tempo (Fig. 5.2a), possivelmente por um erro de manuseio da cultura e/ou contagem. Em vistas a melhorar a qualidade dos espectros e das contagens um seguinte teste (2) foi feito com os mesmos parâmetros do primeiro experimento, porém eles continuaram muito ruidosos (resultados não mostrados). Pensou-se que isso era devido à baixa concentração de células nas amostras de FT-IR, então as células das amostras da lâmina foram ressuspendidas com 30 𝜇L de água ultrapura e centrifugadas para que ficassem mais concentradas, novamente depositadas na lâmina e os espectros refeitos. O resultado foi que o ruı́do diminuiu, mas persistia, no entando, a contagem de céulas do grupo controle obedeceu ao esperado crescimento exponencial (Fig. 5.2b). Um terceiro teste foi feito nos parâmentros de irradiação mostrados na Tab. 4.1 Teste 3. Foram utilizadas placas de 24 poços com o intuito de se economizar material, no entanto com a diminuição da área ocorre diminuição da potência de luz incidente e por consequência a diminuição da fluência, segundo a Eq. 4.2, e embora se tenham feito esforços, não se conseguiu mantê-la a mesma devido a limitações experimentais. Novamente ocorreu muito ruı́do na faixa Capı́tulo 5. Resultados e discussão 44 Figura 5.1: Espectros de absorção no tempo de adaptação de 24 h. São mostrados os originais e com linha de base subtraı́da para fins de comparação. espectral entre 1400 e 1800 cm−1 e ainda não se sabia exatamente o porquê, no entanto, foram observados nas amostras ao microscópio do equipamento de FT-IR cristais (Fig. 5.3), os quais deduziu-se que eram de sal PBS. Para o quarto teste (Tab. 4.1, teste 4), devido a presença de PBS nos filmes de amostra, foi feito o background de uma gota de PBS seca depositada sobre a lâmina, ao invés do background apenas da lâmina e então os espectros apresentaram menos ruı́do do que antes na região de 1400 a 1800 cm−1 , o que demonstrou que este era devido a ao PBS, no entanto os espectros tiveram alguns artefatos como bandas de CO2 invertidos. Um dos motivos pelo qual obtivemos resultados um pouco dissonantes entre os testes tanto nas contagens de células como nos espectros é houve certa dificuldade no cultivo e manuseio das células MCF-7 pois ainda não havia familiaridade com a metodologia. A partir deles foi definido o tamanho do poço, o modo de preparação das amostras para FT-IR e a padronização do protocolo de contagem. Os parâmetros experimentais da avaliação de cinética são mostrados na Tab. 4.2. Os resul- Capı́tulo 5. Resultados e discussão 45 Figura 5.2: Contagens de células do teste 1 (a) cujo controle seguiu a tendência de aumento crescente e do teste 2 (b) cujo controle não seguiu a tendência de aumento crescente do número de células, n=1. Figura 5.3: Cristais de PBS observados em filme de amostra. Capı́tulo 5. Resultados e discussão 46 tados das contagens para as três fluências podem ser vistos na Fig. 5.4, onde o grupo controle apresentou crescimento exponencial, aproximando-se da fase platô na fase final do experimento (perto de 144 h). Todos os grupos (de células vivas) irradiados apresentaram semelhante número de células ao controle até o tempo de 48 horas, distinguindo-se dele após esse tempo sendo que o grupo que foi irradiado com a dose de 5 mJ/cm2 apresentou quantidades de células estatisticamente inferiores, aumentando no tempo de 144 horas em relação ao grupo controle possivelmente devido a um erro na contagem de células, o grupo de 28,8 mJ/cm2 permaneceu no mesmo nı́vel que o controle, decaindo no tempo de 120 horas e igualando-se novamente após, e no grupo de 1 J/cm2 houve aumento em relação ao controle após 48 horas, um decaimento no tempo de 120 horas e subsequente aumento. Essas pequenas variações no tempo de 120 horas podem dever-se à troca de meio neste mesmo tempo e a discrepância do controle em relação ao irradiado de 5 mJ/cm2 no tempo de 144 h deve-se a um erro de contagem. Figura 5.4: Número de células totais (vivas mais mortas) e vivas com barras de erro padrão da média para n=4 para todas as três fluências. Devido a não terem apresentado uma bioinibição ou bioestimulação as células do grupo de Capı́tulo 5. Resultados e discussão 47 28,8 mJ/cm2 foram submetidas a imageamento de AFM para verificação de possı́veis mudanças topográficas nas células irradiadas em relação ao controle e a partir das imagens foram obtidas informações sobre o tamanho das células. Na Fig. 5.5a têm-se o diâmetro de Feret1 médio, a área média (Fig. 5.5b) e a intensidade integrada média (Fig. 5.5c) onde se pode perceber que as três medidas permaneceram aproximadamente constantes até 84 h, com uma tendência de diminuição após este tempo, tanto para o grupo controle quanto para o irradiado, o que pode ser tanto por causa da diminuição do espaço como do alimento ao longo do tempo. Quanto ao diâmetro de Feret foram observadas distinções estatı́sticas entre os grupos controle e irradiado especificamente em 96 h, 108 h e 144 h, para a área média em 96-120 h e 144 h e para a densidade integrada em 96-120 h, 144 h e 156 h. Visulamente não foram observadas variações topográficas entre as células dos grupos controle e irradiado (como um exemplo veja a Fig. 5.6). Os espectros médios do perı́metro de fingerprint podem ser vistos na Fig. 5.7, os quais em geral se apresentaram muito homogêneos, e diferenças visı́veis entre as bandas em cada tempo não podem ser percebidas. Cada banda corresponde a vibrações caracterı́sticas de ligações, grupamentos ou moléculas presentes nas células e foram obtidos em nossos resultados vibrações correspondentes a vários componentes celulares como DNA, RNA, nucleotı́deos, fosfato, aminoácidos, amida e grupo metil, conforme detalhado na Tab. 5.1. Tabela 5.1: Números de onda e correspondentes vibrações moleculares. Banda N° de onda (cm−1 ) 1 938-993 C-O e C-C de desoxirribose e C-C de ribose, e fosfato de ácidos nucléicos 2 1008 a 1144 (Ombro à direita) indica um grau de dano oxidativo ao DNA; C-O-C de ácidos nucléicos e fosfolipı́dios; Fosfato, que pode ou não ser de ácidos nucléicos; (Ombro à esquerda) de RNA 3 1143 a 1187 C-OH de Serina, treonina, tirosina 4, 5, 6 1190 a 1268 Fosfato de ácidos nucléicos 7,8 1272 a 1330 Amida III, colágeno e N-H de citosina e timina 9, 10 1360 a 1480 Vibrações de CH3 (grupo metil) Principais vibrações moleculares As áreas são diretamente proporcionais à intesidade das bandas e portanto à quantidade de 1 A dist^ acia projetada mais longa entre dois pontos quaisquer dentro do limite de seleção de um objeto [98]. Capı́tulo 5. Resultados e discussão 48 Figura 5.5: De cima para baixo ângulo de Feret médio, área média e densidade integrada média, cálculo feito com em média 10 células por tempo com barras de erro padrão da média. material na célula, e serão chamadas aqui de intensidade da banda. Nas Figuras 5.8, 5.9 e 5.10 tem-se os gráficos das áreas das bandas calculadas pelo tempo, onde os gráficos na horizontal correspondem à mesma banda, e na verical correspondem à mesma fluência. As áreas foram normalizadas pela área do tempo inicial (de 12 horas) para comparação das mudanças com o tempo. Capı́tulo 5. Resultados e discussão 49 Figura 5.6: Imagens de AFM com resolução de 512 px, do tempo de 36 h (a) controle e (b) irradiado e 144 h (c) controle e (d) irradiado de irradiação de 28,8 mJ/cm2 . Pode-se verificar a variação dos grupos controle ocorreu em “zigue-zague”, o que pode ser um reflexo do ciclo celular da célula, tendo-se em vista que o material nuclear é duplicado na fase S do ciclo, é razoável dizer que quando existe um ponto máximo no gráfico, este corresponde à fase S do ciclo e quando existe um mı́nimo, este corresponde à fase G0 . Isto também está de acordo com o tempo de duplicação médio da MCF-7 que é em média de 29 horas. Maiores detalhes sobre os tempos em que as bandas dos grupos irradiados tiveram diferenças estatı́sticas em relação aos controles podem ser vistos na Tab. 5.2. A seguir uma discussão discriminada por fluência de luz aplicada. 5 mJ/cm2 Capı́tulo 5. Resultados e discussão 50 Figura 5.7: Box plot de todos os espectros (controles e irradiados, todos os tempos) de 28,8 mJ/cm2 cuja linha preta representa o espectro médio. Não foram verificados ruı́dos nem diferenças visı́veis entre as bandas. Tabela 5.2: Tempos em que houve diferença estatı́stica entre a intensidade da banda da amostra irradiada em relação ao controle. Banda 5 mJ/cm2 28,8 mJ/cm2 1 J/cm2 1 24, 36, 48, 72, 84, 96, 108 Todos exceto 132 24, 36, 48, 72, 84, 96, 132 2 24, 72 Todos 24, 72, 84, 96, 156 3 24, 72, 156 Todos 24, 60, 72, 84, 96, 132, 156 4 72, 156 Todos exceto 132 24, 84, 96, 132, 156 5 72, 156 Todos exceto 84, 120, 132 24, 84, 96, 132, 156 6 24, 72, 156 48, 72, 96, 144, 156 24, 72, 84, 96, 132, 156 7 72 96 84, 96, 132, 156 8 72 Nenhum 84, 96 9 120 Nenhum 48 Capı́tulo 5. Resultados e discussão 51 Figura 5.8: Gráficos das áreas das bandas 1, 2 e 3 dos espectros de amostras controle e irradiadas com 5, 28,8 e 1 J/cm2 normalizados pela área do tempo de 12 h com barras de erro padrão da média para n=4 (28,8 mJ/cm2 ) e n=3 (5 mJ/cm2 e 1 J/cm2 ). Para uma fluência de 5,6 mJ/cm2 , intensidade de 0,6 mW/cm2 e 𝜆 = 632.8 nm foi encontrado na literatura um resultado de aumento na concentração intracelular de [Ca+2 ]𝑖 nos primeiros minutos depois da irradiação com laser em linfócitos [99]. Também foi verificado um máximo na taxa sı́ntese de sı́ntese de RNA, bem como variações conformacionais da cromatina entre 2 e 5 horas após o tratamento, porém, apesar disto, os linfócitos não entraram na fase S e não houve proliferação com relação ao grupo controle. Em nossos resultados para essa fluência e 𝜆 em células MCF-7 foi verificado uma bioinibição celular, ou seja, diminuição da multiplicação de células em relação ao grupo controle, o que foi correspondido ao resultado de espectroscopia, nas bandas de ribose e desoxirribose, que são componentes do DNA, onde estas permaneceram em intensidades inferiores às do grupo controle. Também não houve aumento do metabolismo celular, pelo contrario, pelos resultados das demais bandas, que apresentaram intensidades inferiores ao grupo controle, houve diminuição do metabolismo celular, cuja via supostamente foi um aumento na Capı́tulo 5. Resultados e discussão 52 Figura 5.9: Gráficos das áreas das bandas 4, 5 e 6 dos espectros de amostras controle e irradiadas com 5, 28,8 e 1 J/cm2 normalizados pela área do tempo de 12 h com barras de erro padrão da média para n=4 (28,8 mJ/cm2 ) e n=3 ( 5mJ/cm2 e 1 J/cm2 ). produção de ROS na mitocôndria, o qual inibiu a respiração mitocondrial, levando por meio de um caminho direto ao núcleo (sem a nessecidade de agentes de sinalização do núcleo) à diminuição da expressão gênica (Fig. 5.11a). Como foi visto, existe uma diferença entre o resultado da literatura, o que pode ser devido às diferenças de tipo celular, nas fluências, no tempo de irradiação ou na densidade de potência. 28,8 mJ/cm2 Na literatura não foi encontrado nenhum resultado com a aplicação de luz de fluência e comprimento de onda parecidos com esta. Para esta fluência não houveram diferenças estatı́sticas no número de células entre os grupos controle e o irradiado, resultado não correspondido ao de espectroscopia onde houve um aumento nas bandas de desoxirribose (banda 1), fosfato (2), serina, treonina e tirosina (3) e de fosfato de ácidos nucléicos (4, 5 e 6) os quais foram requisitados Capı́tulo 5. Resultados e discussão 53 Figura 5.10: Gráficos das áreas das bandas 7, 8 e 9 dos espectros de amostras controle e irradiadas com 5, 28,8 e 1 J/cm2 normalizados pela área do tempo de 12 h com barras de erro padrão da média para n=4 (28,8 mJ/cm2 ) e n=3 (5 mJ/cm2 e 1 J/cm2 ). pelas células para outros propósitos que não a proliferação celular. Nossa suposição é que a banda de fosfato aumenta como um resultado de sı́ntese de ATP, a qual desencadeia produção de enzimas e outros metabólitos, demonstrados pela banda 3 de serina, treonina e tirosina que são importantes aminoácidos. Portanto, uma proposta de mecanismo de atuação para esta fluência é a que não involve o caminho dos agentes de sinalização do núcleo, ou seja NF𝜅B e AP-1 (figura 5.11b) e que por isso não influenciou na proliferação celular. 1 J/cm2 Com relação à fluência de 1 J/cm2 foi encontrado um resultado de efeito de proliferação em células A2058 de melanoma humano irradiados com laser He-Ne 633 nm, que em relação ao grupo não irradiado houve aumento de ATP intracelular [100], de potencial mitocondral ∆Ψ𝑚 , de cAMP, e expressão da atividade de AP-1. Nossos resultados, embora com tipo celular diferente, Capı́tulo 5. Resultados e discussão 54 também apresentaram proliferação celular, correspondido pelo resultado de espectroscopia da banda 1 de desoxirribose, cuja intensidade aumentou no grupo irradiado em relação ao grupo controle, porém também pode-se deduzir que houve um aumento de metabolismo celular devido ao aumento da banda de fosfato (banda 2), possivelmente devido ao aumento de ATP como para a fluência de 28,8 mJ/cm2 , a qual foi superior ao controle em alguns tempos (24, 72, 84, 96 e 156 h). Portanto uma proposta para esta fluência é a que inclui caminhos de sinalização via agentes de sinalização do núcleo NF𝜅B e AP-1 (Fig. 5.11c), devido à proliferação observada. Neste caso, os resultados foram parecidos aos da literatura, provavelmente porque o tipo celular é semelhante. (a) (b) (c) Figura 5.11: Suposições para os caminhos celulares envolvidos após a irradiação das células com (a) 5 mJ/cm2 , (b) 28,8 mJ/cm2 e (c) 1 J/cm2 . Capı́tulo 5. Resultados e discussão 5.1 55 Conclusões A luz de fato influenciou o comportamento celular em certa escala dependente da fluência e por um perı́odo de tempo de até 6,5 dias, supostamente em cada uma das fluências ocorreram mecanismos de sinalização diferentes. - Para a fluência de 5 mJ/cm2 houve uma bioinibição e diminuição do metabolismo celular, ocorrido supostamente por uma produção de ROS o qual provocou uma inibição da respiração mitocondrial, responsável pela diminuição do metabolismo e expressão gênica. - Para a fluência de 28,8 mJ/cm2 não houve proliferação, porém houve um aumento do metabolismo celular, o qual foi relacionado com um mecanismo de ação retrógrado independente de certos agentes sinalizadores do núcleo. - Para a fluência de 1 J/cm2 houve uma bioestimulação celular com um aumento do metabolismo celular, o qual foi relacionado com um mecanismo de ação dependente de agentes sinalizadores do núcleo. - A partir de nossos resultados pode-se definir como sendo de baixa intensidade uma fluência utilizada de até 1J/cm2 com um tempo de irradiação de 16,5 minutos, pois com esses parâmetros ainda não são observados efeitos drásticos no comportamento celular em termos de proliferação e morte. - Esta é uma área onde existe muito a ser descoberto pois quaisquer parâmetros de irradiação que são alterados resultam em uma resposta celular diferente. Capı́tulo 5. Resultados e discussão 5.2 56 Perspectivas Como continuidade a este trabalho serão obtidas medidas de AFM para as demais fluências (5 mJ/cm2 e 1 J/cm2 ), para verificação de possı́veis variações topográficas e do tamanho das células. Nesta área existe uma grande demanda por pesquisas variando-se parâmetros como comprimento de onda, densidade de potência, tempo de exposição e tipo celular estudado, além disso, também seria interessante um estudo com células não neoplásicas para comparação com as neoplásicas e verificação dos mecanismos bioquı́micos que permeiam a interação da luz com estas. Será dada continuidade nesta linha de pesquisa durante o doutorado com a construção de um sistema SERDS, Shifted Excitation Raman Difference Spectroscopy, ou raman diferencial, para análise das modificações bioquı́micas via espectroscopia raman. 5.3 Publicações e Trabalhos apresentados Apresentação oral no Congresso de Fı́sica Aplicado à Medicina (CONFIAM), Botucatu, SP, 2009. Apresentação de painel no International Workshop on Spectroscopy for Biology (IWSB), São Sebastião, SP, 2010. Artigo submetido ao Proceedings da International Society for Optical Engineering (SPIE), 2010. Apresentação oral na conferência Biomedical Optics da SPIE, San Francisco, CA, 2011. Referências Bibliográficas [1] Karu T. Primary and secondary mechanisms of action of visible to near-ir radiation on cells. J. Photochem. Photobiol. B: Biol., 49(1):1–17, 1999. [2] Karu T. I. and Kolyakov S. F. Exact Action Spectra For Cellular Responses Relevant To Phototherapy. Photomedicine and Laser Therapy, 23(4):355–361, 2005. [3] Kuzmany H. Solid-state spectroscopy: an introduction. Springer Verlag, Berlim, Alemanha, 1998. 450 pp. [4] Mostaço-Guidolin L. B. Caracterização Bioquı́mica de Células Sadias e Neoplásicas Através de Espectroscopia Vibracional, 2009. [5] H.J. Butt, B. Cappella, and M. Kappl. 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Apêndice A Definições Fototerapia é um termo comumente utilizado quando se refere à utilização de luz visı́vel ou próxima do visı́vel para tratamento de doenças [96] sem restrição com relação ao tipo de fonte de luz. No entanto, existem algumas vantagens em se utilizar uma fonte de luz do tipo coerente (laser), como o fato de ser monocromática e também de possuir melhor acesso às lesões através de fibra ótica. Atualmente o laser tem tido cada vez mais aplicabilidade tanto para diagnóstico como para tratamento de doenças [8]. Os benefı́cios da utilização do laser são classificados de acordo com o tipo de laser utilizado (quanto à intensidade). Lasers de baixa intensidade (menor que 1 Watt, com variação de temperatura de 1°C) induzem efeitos fotofı́sico-quı́micos (ação em receptores ou aceptores celulares). Eles podem ser utilizados tanto em diagnóstico (biópsia óptica) como em tratamento (terapia fotodinâmica (TFD ) e biomodulação (Terapia a Laser de Baixa Intensidade - TLBI)) [8]. Lasers de alta intensidade (maior que 1 Watt) são mais usados para cirurgias, portanto são também chamados de lasers cirúrgicos, e seus efeitos são fototérmicos (coagulação, carbonização e vaporização), fotomecanicoacústicos (corta com precisão), fotoablativos (destruir para disrupção) e fotoionizantes (quebra ligação quaternária do DNA) [8]. Os tratamentos de TLBI e TFD possuem em comum a necessidade de irradiação com luz, no entanto, a diferença entre eles é que o primeiro é realizado na presença de fotoaceptores nativos, pré-existentes dentro da célula (fotoaceptor endógeno), e o segundo ocorre na presença de um fotoaceptor que é colocado no local da lesão (ou na cultura de células, e também é chamado de fotoaceptor exógeno, ou simplesmente de fotossensibilizador) e para indução de morte celular deve ocorrer na presença de oxigênio molecular [8]. Algumas importantes variáveis com relação à irradiação listadas a seguir [101]. Apêndice A. Definições 69 1. O comprimento de onda (𝜆). 2. A densidade de potência (também chamada de irradiância ou intensidade). 3. A densidade de energia (também chamada de fluência ou dose), que é o produto da intensidade de luz pelo tempo de exposição. 4. Energia total sobre a área tratada. 5. Potência de saı́da do laser. 6. Tempo de irradiação. 7. Spot (área) da saı́da de luz do laser. 8. Tipo de emissão: contı́nua ou pulsada. 9. Tipo de célula a ser estudada. 10. Concentração de fotossensibilizador adicionado (somente no caso de TFD). Apesar de ser denomidada de baixa intensidade, a TLBI pode ser de alta ou baixa fluência, o que depende do tempo de exposição à luz e da potência do laser. Quanto maior a exposição ao laser e maior sua potência, maior também será a fluência de luz empregada no tratamento. A designação de alta ou baixa fluência não é clara [29]. Refere-se à alta fluência de irradiação quando uma inibição de viabilidade celular óbvia é observada [14], de forma a se distinguir o efeito de proliferação devido à baixa fluência, que tem sido reportado [102]. Alguns autores se refrem à baixa fluência como sendo uma densidade de energia menor que 1 J/cm2 e alta fluência sendo maior que 1 J/cm2 [8], outra referência, por exemplo, considera de baixa fluência uma dose entre 10−2 e 102 J/cm2 [103]. Algumas outras nomenclaturas para a TLBI podem eventualmente ser encontradas na literatura, tais como: Laser de baixa intensidade de potência (LBIP); Low Level Laser Therapy (LLLT); Laserterapia ou Lasertherapy; Fotobiomodulação; Low Power Laser ; Medical Laser Therapy e também Low Intensity Laser Therapy [8]. Alguns exemplos de aplicações de TLBI são em reparação tecidual com diminuição do tempo de cicatrização, aceleração do tempo de inflamação, aumento da sı́ntese de colágeno [23], melhoramentos em lesões esportivas e sindrome do túnel de carpo, redução de dor em artrite e neuropatia e melhoria em danos de ataques do coração, golpes, lesões em nervos e toxicidade da retina [24]. A TLBI é clinicamente utilizada principalmente nas áreas de dermatologia, saúde bucal e fisioterapia. Apêndice A. Definições 70 A TFD, por induzir morte celular, é utilizada em tratamentos de neoplasias tais como carcinoma brônquico, neoplasias de reto, bexiga estômago, esôfago, palato, laringe, pálpebra, pele, dentre outros. É uma modalidade de tratamento local do câncer aplicada geralmente a pacientes com pequenos cânceres inoperáveis e refratários às técnicas convencionais de tratamento (radioterapia e quimioterapia). Neste contexto, uma das grandes vantagens para os pacientes que recebem TFD é a eliminação dos efeitos colaterais desagradáveis da quimioterapia e da radioterapia que podem provocar enjôos, vômitos e queimaduras na pele [104, 105]. Muitas vezes se elimina a necessidade de cirurgia, não sendo necessária também a aplicação de anestesia. Alem disto a TFD possui um aspecto estético importante para a qualidade de vida paciente: ela induz a regeneração do tecido da pele, deixando cicatrizes leves; previne o afundamento do local tratado e a perda de cartilagem. Apêndice B Manuseio das células B.1 Plaqueamento de células As células MCF-7 foram compradas da ATCC. Antes de serem plaqueadas elas ficam dentro de grandes garrafas de cultivo e em processo de multiplicação. O plaqueamento é a colocação destas células nas placas com poços, com números iguais de células em cada poço, de forma é garantida a reprodutibilidade do experimento. A quantidade de células é pré-determinada para cada confluência, por exemplo, para uma confluência desejada de 60 a 70% é necessário 4×104 células por cm2 , sendo que a confluência é a porcentagem de células que cobre a placa, a olho vivo. Quando as células são desaderidas da garrafa e depois se readerem nos poços, todas as células iniciam a mesma fase celular G0 [106], assim é garantido que durante o experimento pelo menos a maioria delas estarão na mesma fase do ciclo celular. O processo de plaqueamento é descrito a seguir. O meio (RPMI-1640, vide composição na Tab. B.1 ) é retirado e colocado em tubo Falcon. É colocada uma solução de tripsina mais PBS a uma concentração de 1:5 na garrafa onde as células estão em uma alta confluência (a tripsina serve para desaderi-las) em quantidade suficiente para cobrir as células. Depois a garrafa é colocada na estufa por 4 minutos, tempo necessário para que as células desadiram, então são novamente colocadas no meio que antes foi retirado com a tripsina e o PBS. São centrifugadas a 1200 rpm por 5 minutos, o sobrenadante é descartado e adicionados 10 ml de meio (dependendo do tamanho do pélete pode ser um pouco a mais ou a menos). A mistura de células e meio é homogeneizada e as células são contadas no microscópio óptico com aumento de 400 vezes em câmara de neubauer, a média dos campos é multiplicada pelo volume da câmara e pelo volume de diluição. Apêndice B. Manuseio das células 72 Tabela B.1: Composição do meio RPMI - 1640 [6]. Sais Inorgânicos (mg/L) Ca(NO3 )2 .4𝐻2 O (100), KCL (400), MgSO4 .7𝐻2 𝑂 (100), NaCl (6000) NaHCO3 (800), 𝑁 𝑎2 𝐻𝑃 𝑂4 (2000) Aminoácidos (mg/L) L-cistina (50), L-ácidoglutâmico (20), L-glutamina (300), glicina (10), L-arginina.HCL (200), L-histidina.HCL.H2 O (15), L-asparigina.H2 O (50), L-hidroxiprolina (20), Lácido, aspártico (20), L-isoleucina (50), L-leucina (50), L-lisina.HCL (40), L-metionina (15), L-fenilalanina (15) L-triptofano (5), L-prolina (20), L-tirosina (28), L-serina (30), L-valina (20), L-treonina (20) Vitaminas (mg/L) biotina (0,2), pantotenato de cálcio (0,250), cloreto de colina (3), ácido fólico (1), inositol (35), nicotinamida (1), ácido p-aminobenzóico (1), piridoxina.HCL (1) riboflavina (0,2) tiamina.HCL (1), vitamina B12 (0,005) Outros componentes (mg/L) glicose (2000), glutatione (1), vermelho de fenol (5) Digamos que foram contadas 84×105 células em 10 ml de meio (células mais meio). Em uma placa de 24 poços, cada poço possui 2cm2 de área. Para uma confluência de 60 a 70 % são necessárias 192×104 células ao total para a placa. Independente do número de células, em cada poço devem ser colocados 500 𝜇l de solução total (composta por 90% de meio mais 10% de soro e células), no caso de placa de 6 poços são 2 ml por poço, ou seja, em 24 poços são necessários 24×500 𝜇l que são 12 ml de solução total. Sabendo-se que em 12 ml deve-se ter 192×104 células, para se saber a quantidade da solução de células mais meio necessária, se utiliza a seguinte equação: 𝑐1 𝑣1 = 𝑐2 𝑣2 (B.1) Onde c1 é igual a 192×104 células, v1 é igual a 12 ml, c2 é igual a 84×105 e v2 se quer descobrir. É encontrado como sendo 2,74 ml o volume de solução necessária. No entanto, dos 12 ml de solução total sabe-se que 10,8 ml (90%) devem ser de meio e 1,2 ml (10%) devem ser de soro, portanto, àqueles 2,74 ml que são de meio mais células são adicionados 1,2 ml de soro e o resto é completado com meio (8,06 ml). Assim, tem-se os 12 ml necessários Apêndice B. Manuseio das células 73 para a placa de 24 poços com a quantidade de células necessária para a confluência de 60 a 70%. O mesmo procedimento é feito quando se necessita uma confuência de 30%, porém a quantidade de células necessária é de 1,71×104 células por cm2 . B.2 Contagem de células A contagem de células foi feita para se diferenciar o quanto de células estava viva (viável) e o quanto estava morta. Foi feita com o teste de viabilidade celular pela técnica de exclusão do azul de tripano. Esse teste é baseado no princı́pio de que as células vivas possuem membranas celulares intactas nas quais o corante não pode entrar, e que células mortas possuem algum rompimento pelo qual o corante entra e torna seus citoplasmas azuis. A contagem também foi feita para se verificar se haviam diferenças entre o número de células do grupo irradiado em relação ao grupo controle. Para a contagem foi utilizado o protocolo do laboratório, a saber. Em fluxo, o meio do poço a ser contado é colocado em um tubo Falcon, depois lava-se as células com PBS-EDTA autoclavado, adiciona-se 200 𝜇l (em placa de 24 poços ou 1 ml em placa de 6 poços) de solução de tripsina 1:4 PBS-EDTA autoclavado, deixando-as em estufa a 37°C por 4 minutos. Deve-se retirá-las da estufa e colocá-las no tubo com o meio que foi retirado anteriormente para que este inative a tripsina. Então centrifuga-se a 2.000 rpm por 3 minutos, descarta-se o sobrenadante e faz-se a lavagem das células com 1 ml de PBS não autoclavado uma vez (a lavagem consiste em adicionar PBS, centrifugar e descartar o sobrenadante). Após isso, adiciona-se 100 𝜇l de PBS para diluir as células (dependendo do tamanho do pélete, dilui-se em maior volume de PBS). Homogeiniza-se, retira-se uma alı́quota de 20 𝜇l e esta é adicionada a uma solução de Azul de Tripano (100 𝜇l de Azul de Tripano e 80 𝜇l de PBS). A seguir, conta-se em câmara de Neubauer as vivas (incolores) e as mortas(azuis). É contado cada quadrante e feita uma média das contagens a qual é multiplicada pelo volume da câmara (×104 ) e pelo volume de diluição de PBS utilizado. Para a cultura e teste de viabilidade das células foram utilizados capela de fluxo laminar Trox Technic, placas de 6 poços BD Falcon Poliestireno de área de crescimento de aproximadamente 10 cm2 , placas de 24 poços BD Falcon Poliestireno de área de crescimento de aproximadamente 2 cm2 , meio para cultura de células Sigma, pipetas Pipetman/Gilson CE, estufa Thermo Fisher Scientific Hepa Class 100, tripsina Sigma, solução tampão Phosphate buffered saline (PBS) composto de cloreto de sódio (NaCl), fosfato de sódio (NaHPO4 ), fosfato de sódio monobásico (NaH2 PO4 ), todos Sigma, e água ultrapura, microscópio óptico invertido com aumento de 400 Apêndice B. Manuseio das células 74 vezes Olympus IX71, câmara de Neubauer New Optik, tubo Eppendorfe (ou “tubo plástico de 1 e meio”), tubo Falcon (ou “tubo plástico de 15”), centrı́fuga Eppendorf Centrifuge 5810 R, azul de Tripano Sigma. Apêndice C Ciclo celular O ciclo celular tem como divisão padrão quatro fases, Mitose (M), Gap 1 (G1), Sı́ntese (S), Gap 2 (G2), o qual decorre tempos diferentes para cada tipo celular (Fig. C.1) . Gap 1 é o intervalo entre o fim da mitose e o começo da sı́ntese de DNA, onde a célula monitora o ambiente e seu próprio tamanho para então decidir se fará a duplicação do DNA. Caso sim, a célula duplica seu material nuclear, a qual é chamada fase de sı́ntese, e então ocorre um novo intervalo onde a célula se assegura que a replicação do DNA estava completa e reparação de possı́veis erros que é chamado Gap 2. Por fim a célula completa seu ciclo com a formação dos cromossomos e duplicação celular, chamada fase M [107]. Quando se trata de uma cultura de células plaqueada em pequena concentração, a contagem nos estágios iniciais segue uma tendência de crescimento contı́nuo chamada fase log, até atingir um máximo e estagnar, chamada de fase platô. Figura C.1: Dois esquemas de ciclo celular. Apêndice D Mecanismos de morte celular Atualmente existem várias propostas de caminhos de morte celular. As mais comuns são a apoptose (dependente de caspases) e a necrose [108]. A necrose é resultado de altos nı́veis de danos celulares onde a integridade da membrana plasmática é perdida e a partir da qual são disparados processos de inflamação e lise celular, com conseqüente extravasamento de material intracelular no meio extracelular [109] e é visto como um processo acidental [108]. Apoptose é a morte fisiológica da célula, um processo normal e essencial de controle do desenvolvimento do tecido. É um suicı́dio regulado, controlado por processos intra e extra-celulares seguindo em uma seqüência de mudanças morfológicas e bioquı́micas, e terminando na morte programada da célula [109]. É dependente de algumas proteases conhecidas como caspases, as quais quando ativadas reagem em cascata. Dentre os alvos celulares no processo de apoptose, a mitocôndria é a organela central neste processo. Os sinais dos receptores de morte celular ou dos sı́tios danificados convergem para a mitocôndria, permeando suas membranas e dissipando o potencial interno transmembranal [110, 111]. Todos os tipos de morte celular programada envolvem caminhos extremamente complexos e até agora não completamente desvendados. Como exemplo, a apoptose mediada por caspases possui vários caminhos diferentes de ocorrência [112, 113, 114, 115] e mesmo a quantidade de ocorrências ou a expressão de proteı́nas especı́ficas de apoptose pode variar em uma mesma linhagem de células advindas de diferentes laboratórios [113]. Além disso, existem outros tipos de morte celular programada independente de caspases atualmente aceitas, porém, menos comuns, como a autofagia, a paraptose, e a catástrofe mitótica, que são caminhos importantes quando as rotas mediadas por caspase falham, mas podem também ser desencadeadas em resposta a agentes citotóxicos ou outros estı́mulos de morte [108].