A REUNIÃO PEDAGÓGICA DO GRUPO ESCOLAR
JOSÉ AUGUSTO FERRAZ
Anne Emilie Souza de Almeida
Mestranda em Educação da Universidade Federal de Sergipe
[email protected]
Dr. Miguel André Berger
Professor da Universidade Federal de Sergipe
[email protected]
Palavras- chave: Reunião Pedagógica, Escola Nova, Pedagogia Moderna
Este trabalho é uma pesquisa em andamento, a qual tem o intuito de analisar a Reunião
Pedagógica, como uma prática para difusão do ideário escolanovista no interior do Grupo
Escolar José Augusto Ferraz. Durante a pesquisa que estamos realizando sobre os grupos
escolares em Sergipe encontramos, no Arquivo Público do Estado de Sergipe, algumas cópias
de atas das Reuniões Pedagógicas realizadas nos diferentes grupos escolares criados durante o
governo de Graccho Cardoso (1922-1926). Entre essas cópias estava a única do Grupo
Escolar José Augusto Ferraz, reflexo da falta de conservação e organização dos arquivos na
própria instituição escolar. O Grupo Escolar José Augusto Ferraz localizava-se no bairro
Industrial em Aracaju e ele foi inaugurado no dia 11 de abril de 1925. (ALMEIDA;
BERGER, 2006)
Nesse período, mais dez grupos foram inaugurados em Sergipe. A idéia era
desenvolver a instrução pública do Estado pautando-se nos preceitos da Pedagogia Moderna e
nos princípios higienistas. Nestes preceitos determinavam que o ensino devia desenvolver em
espaços adequados, em edifícios próprios, janelas amplas para uma melhor ventilação e
iluminação e utilizando um rico material pedagógico para favorecer o ensino.
Ao contrário das cadeiras isoladas ou escolas isoladas que funcionavam nas casas dos
professores ou em lugares alugados, os grupos escolares constituíram uma nova maneira de
organização do ensino primário. Nestes estabelecimentos havia várias salas com a presença de
alunos que possuíam o nível de aprendizagem homogêneo, coordenada por uma professora e
dirigida por uma pessoa.
Nas cadeiras isoladas utilizavam-se do ensino individual e depois passou a utilizar o
método mútuo. Luciano Mendes de Faria Filho (2007) explica que o método individual
assemelhava-se com o método desenvolvido na casa dos estudantes, ou seja, os professores
ensinavam aos alunos de maneira particular. O método mútuo, também conhecido como
método lancasteriano, tem como uma das suas peculiaridades a utilização de alunos mais
adiantados para auxiliar o professor no processo do ensino.
Segundo seus defensores estabelecendo-se as condições materiais
adequadas, dentre as quais a principal refere-se à existência de um amplo
espaço, um professor, com a ajuda dos alunos mais adiantados, poderia
atender até mil alunos em uma única escola. Considerando, ainda, que os
alunos estariam o tempo todo ocupado e vigiados pelos colegas e o
estabelecimento de uma intensa emulação entre os estudantes, o tempo
necessário ao aprendizado de primeiras letras seria bastante abreviado em
comparação com o método individual. (FARIA FILHO, 2007, p. 141)
Com os princípios da Pedagogia Moderna passou a ser desenvolvido o método
intuitivo, o qual determinava que a educação partisse da percepção das crianças. No processo
de ensino os alunos utilizavam seus sentidos para compreender os conteúdos sistematizados.
O assim chamado “método intuitivo” deve essa denominação à acentuada
importância que os seus defensores dava à intuição, à observação, enquanto
momento primeiro insubstituível a aprendizagem humana. Ancorados nas
tradições empiristas de entendimento dos processos de produção e
elaboração mental dos conhecimentos, sobretudo na forma como foram
apropriadas e divulgadas por Pestalozzi, os defensores do método intuitivo
chamaram a atenção para a importância da observação das coisas, dos
objetos, da natureza, dos fenômenos e para a necessidade da educação dos
sentidos como momentos fundamentais do processo de instrução escolar.
(FARIA FILHO, 2007, p. 143)
Com o surgimento da Escola Nova, o método intuitivo teve uma nova roupagem,
passando a denominar método intuitivo ativo, sendo que o ensino devia partir da experiência
dos próprios educandos. Esse método foi desenvolvido por John Dewey e ele concebia que a
aprendizagem acontecia por meio da reflexão sobre as experiências vivenciadas pelos alunos,
estas experiências estavam relacionadas com a vida cotidiana dos educandos, com isso
despertava o interesse do aluno durante o processo de aprendizagem.
Despertando o interesse do educando ele estaria preparado para compreender os
conhecimentos. A aprendizagem do método intuitivo iniciava com um problema, o qual devia
ser investigado. Depois era coletado os dados, para em seguida ser feita uma reflexão.
“Retornando agora às preposições metodológicas apresentadas por Dewey, chega-se à etapa
do processo de aquisição de conhecimento, nos quais as idéias obtidas com base na busca e
coleta de dados devem ser aplicadas para que não permaneçam como idéias sugestões”
(VALDEMARIN, 2004, p. 191).
Essas idéias filosóficas, denominadas de pragmatistas, foram concepções que estavam
inseridas no ideário escolanovistas. Os conceitos educacionais da Escola Nova passaram a
permear na política educacional do País, sendo que esses temas eram difundidos nas
Conferências da Associação Brasileira de Educação.
A ESCOLA NOVA E A ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA EDUCAÇÃO
Lourenço Filho (1978), um dos defensores da Escola Nova, afirma que esta surgiu
devido a um entusiasmo que se passou a ter em relação à educação. Depois da primeira guerra
houve uma necessidade de rever os princípios da educação em busca de uma paz no mundo.
Os efeitos do grande conflito imprimiram maior intensidade e velocidade ao
processo de mudança social. Deram ao mundo consciência de maior e
necessária dependência entre povos e nações e, sobretudo, que seria
necessário rever os princípios da educação e suas instituições, para que estas,
difundindo-se, visassem à preservação da paz. (LOURENÇO FILHO, 1978,
p. 25)
A escola nova surgiu em vários países devido a primeira guerra mundial e na
esperança que se colocava nas escolas em prover a paz. Diante deste fato era defendido o
princípio da escola única, onde todos pudessem ter acesso ao ensino. Com a segunda guerra
mundial, continuou com a idéia de que a escola tinha uma influência poderosa na manutenção
da paz, mas era necessário articular os procedimentos educativos com uma filosofia política
tendente a uma harmonia universal.
Apesar do autor não dizer que filosofia era essa, acreditamos que seja uma filosofia
democrática, pois no decorrer de sua obra, “Introdução ao estudo da Escola Nova” (1978), ele
comenta que a educação deve primar pelo desenvolvimento da democracia. Lourenço Filho
(1978) aborda que em vários lugares na Europa e nos Estados Unidos surgiram a Escola Nova
e acrescenta que os Estados Unidos foi o lugar propício para a realização da renovação
escolar, devido a cultura do auto-governo presente neste país.
Certas influências da formação social no povo americano facilitavam essa
conjugação teórico-prática. Acreditava-se no valor do homem comum; tinhase como objetivo organizar um estilo de vida democrática; exaltava-se o
valor da iniciativa e do trabalho na conquista do território. O preconceito
pelas tarefas manuais, embora dominasse certas classes, não existia no povo
em geral. Aprender fazendo – learning by doing – era um princípio por todos
admitido. (LOURENÇO FILHO, 1978, p. 171)
Uma das propostas da Escola Nova era que o aluno experimentasse as situações para
que pudesse adquirir o conhecimento. O aluno devia ser o elemento ativo no processo de
ensino. Para Dewey (1978), o conhecimento não deve ser transmitido, mas o próprio
educando precisa procurar respostas para as questões observadas. As idéias norte-americanas
foram apropriadas pelos alunos que estudaram nos Estados Unidos, dentre eles Anísio
Teixeira, e trouxeram para o Brasil as concepções escolanovistas com o intuito de demonstrar
e executar nas escolas brasileiras. Essas idéias eram discutidas e difundidas na Associação
Brasileira da Educação.
A Associação Brasileira de Educação (ABE), criada em 1924, tinha a função de
discutir os problemas presentes na Educação Brasileira e pregava diferentes idéias sobre a
mesma. Em uma reunião realizada por intelectuais1 na Escola Politécnica do Rio de Janeiro
foi fundada a Associação Brasileira de Educação no dia 16 de outubro de 1924. De acordo
com Clarice Nunes, a Associação “era um órgão de iniciativa privada, cujo departamento
carioca teria a função de coordenar os vários departamentos a serem criados em níveis
estaduais” (NUNES, 2000, p. 41).
A Associação Brasileira da Educação era organizada em nível nacional e estadual.
Cada estado criava uma associação e anualmente os representantes desses estados se reuniam
em Conferências para debater assuntos referentes a educação. A ABE tinha o intuito discutir
temas relacionados à educação e de aperfeiçoar o ensino no País, bem como de formar as
elites que iria direcionar as políticas educacionais e sociais, as quais não deviam favorecer os
interesses de determinadas classes.
Segundo Marta Maria de Carvalho os pilares da educação defendidos pela ABE era
“saúde, moral e trabalho”. Esses princípios estariam incluídos no processo de organização
racional do trabalho, a qual...
[...] engloba medidas destinadas a atenuar conflitos de classe e a aumentar a
produtividade do trabalhador lidando com questões de saúde e de moral,
com o objetivo de adequar a vida cotidiana do operário às exigências do
trabalho industrial na ordem capitalista”(CARVALHO, 1998, p. 152)
Na escola, a organização racional do trabalho privilegiava o uso dos princípios da
Escola Ativa. Esses estavam relacionados com a idéia de que a crianças deviam experenciar
certos comportamentos para pudessem refletir sobre os mesmos e melhorar, por meio da
inteligência as experiências vivenciadas. Com isso, a instrução primária teria a incumbência
de formar nos alunos as questões higienistas, morais e do trabalho.
É mister afirmar que na Associação Brasileira da Educação possuía grupos que
defendiam concepções diferenciadas de educação, dentre eles: os marxistas, os católicos e os
renovadores. Estes últimos eram quem defendiam as idéias da Escola Nova, destacando entre
os mais conhecidos Lourenço Filho e Anísio Teixeira. Clarice Nunes (2000) comenta que a
experiência de Anísio Teixeira no Teachers College, em Nova York, e as suas visitas à
escolas dos Estados Unidos permitiu que ele tivesse contato com uma educação diferenciada
da educação brasileira.
Nunes (2000) complementa que Anísio utilizou algumas obras de Dewey como “Vida
e Educação” e “Democracia”, as quais permitiram que ele desenvolvesse uma nova
abordagem de educação.
O ideário pedagógico do Movimento da Escola Nova, em sua versão
americana, encabeçada por John Dewey e William Kilpatrick, foi trazido
para o Brasil por Anísio Teixeira, ex -aluno do primeiro. Estas idéias
ganharam a adesão de intelectuais como Fernando Azevedo, Paschoal
Lemme, Lourenço Filho e outros. (SOUZA, 2003, p. 137)
Vale destacar que Anísio Teixeira foi membro da Associação Brasileira de Educação e
um dos pioneiros da Educação que difundiu novos princípios no tocante ao ensino, dentre
esses princípios destaca-se o uso do método ativo, além da defesa da co-educação, do ensino
ativo e do ensino laico.
A divulgação dessas idéias para outros estados incluindo o Estado de Sergipe
aconteceu devido a Associação realizar Conferências anuais e neste lugar existirem debates e
apresentações de teses sobre a educação. Cada estado tinha um representante que participava
das Conferências Nacionais da Educação. Um dos representantes sergipano na Associação
Brasileira de Educação foi Helvécio de Andrade. Este intelectual fundou a Associação
Sergipana de Educação e assumiu a presidência da mesma.
Para fundar a ASE, estavam presentes professores, inspetores e diretores dos grupos
escolares. No dia 06 fevereiro de 1934 foi inaugurada a Associação Sergipana de Educação2,
tendo como presidente Helvécio de Andrade. Apesar dele defender o uso do método ativo nas
escolas, ele era contra ao tipo de ensino laico, propagandeado pelos renovadores da educação.
Outro sergipano que defendia as idéias escolanovistas foi Ávila Lima. Ele contestou
o ensino religioso nas escolas, pois através das viagens que ele fez para o sul do país com o
intuito de verificar como a instrução estava sendo desenvolvida em outras localidades,
concluiu que o ensino devia ser laico. Segundo Carvalho do Nascimento (2006) alguns
técnicos foram ao sul e depararam com as idéias da escola nova, as quais foram trazidas para
Sergipe. Neste lugar, as idéias em relação ao método, foram apropriadas e defendidas por
alguns teóricos e governantes sergipanos, mas...
Em Sergipe, a denúncia sobre a ausência de interesse quanto a aplicação dos
novos métodos foi evidenciada também na administração do Presidente
Manuel Correia Dantas (1927 – 1930) ao criticar a distância entre a prática
tradicionalista e a moderna, mostrando que a Escola Normal havia recorrido
ao método intuitivo, mas não avançara no sentido de interessar-se pelo uso
do método ativo. (SOUZA, 2003, p. 116)
Além desse governante, outro teórico que defendeu o princípio da Pedagogia Ativa foi
Nunes Mendonça. Josefa Eliane (2003) demonstra, através das correspondências de Nunes
Mendonça, que ele teve contato com os pioneiros: Fernando de Azevedo e Anísio Teixeira.
“Como adepto do ensino público, nele via, a exemplo dos ‘pioneiros’, um caminho para a
conquista do sonho democrático” (SOUZA, 2003, p. 136)
Nunes Mendonça defendia a idéia de que a educação seria um meio para a formação
de uma sociedade democrática e o método ativo seria o princípio adequado para a formação
desse indivíduo. Porém, no seu livro Educação Sergipana (1958), ele denunciava que os
Grupos Escolares não tinham condições adequadas para o desenvolvimento do ensino ativo.
Para a aplicação do método ativo as escolas deviam estar equipadas adequadamente
com mapas, materiais que despertassem o interesse e a curiosidade das crianças. Esses
materiais serviam também, para que as crianças realizassem as suas experiências. Mas nem
sempre as escolas possuíam instrumentos adequados para realizar as suas atividades.
De fato, para o desenvolvimento da aprendizagem fundamentada no princípio da
Escola Nova necessitava desses materiais, porém isto não significa que as idéias
escolanovistas não eram debatidas nos Grupos Escolares. As Reuniões Pedagógicas foi uma
das maneiras de debater sobre diferentes temáticas dentre elas as concepções da Escola Nova.
A REGULAMENTAÇÃO DOS GRUPOS ESCOLARES E AS REUNIÕES
PEDAGÓGICAS
O decreto de nº 262 de 31 de outubro de 1945 foi criado com o intuito de normatizar
as atividades do corpo docente e administrativo desse tipo de ensino. Segundo Nunes
Mendonça: “Os deveres específicos do magistério encontram-se enumerados no Decreto nº
262, de 31 de outubro de 1945 que regulamenta as atividades docentes e administrativas nos
grupos escolares...” (MENDONÇA, 1958, p. 167).
O referido regulamento foi criado pelo Diretor Geral do departamento de Educação
Acrísio Cruz e foi apresentado ao Interventor Geral. Um dos motivos dessa regulamentação
foi apresentado pelo Diretor Geral:
Faz-se sentir, de muitos anos, a adoção de um Regulamento, de vez que na
parte referente ao funcionamento de casa de ensino daquêle tipo, existiam
apenas uns dispositivos esparsos em leis orgânicas, de caráter geral, sôbre o
ensino primário.3
O objetivo de Acrísio Cruz era fazer com que as funções do corpo docente e
administrativo dos grupos escolares não fossem realizadas pela simples intuição. Ele
acreditava que com a ausência de normas específicas para essas instituições os professores,
diretores e os auxiliares do corpo administrativo não estavam direcionando as suas funções de
maneira coerente.
Com isso, o Regulamento foi organizado em cem artigos e nele estão presente as
orientações de funcionamento dos grupos dentre elas as Reuniões Pedagógicas. De acordo
com o Regulamento, as Reuniões Pedagógicas dos grupos escolares deviam organizasse da
seguinte maneira: ela seria realizada uma vez por bimestre, cada ano haveria quatro reuniões,
estas teriam os aspectos de conversas, palestras sucintas, estudos, leitura e discussão de
artigos, jornais, revistas capítulos ou trechos de livros sobre educação.
Cada reunião pedagógica, segundo o Regulamento teria duração de duas horas e no dia
que tivesse a Reunião não havia aula. Percebe-se que as reuniões pedagógicas serviam como
um mecanismo de formação entre os professores, a idéia era abordar durante as reuniões
alguns temas que estavam sendo discutidos em relação a educação no País. Além de ser um
mecanismo de formação seria imprescindível que nestes momentos houvesse uma reflexão
sobre a atuação do trabalho docente.
Toda reunião realizada era registrada em ata e uma cópia da reunião era enviada para o
departamento da educação. Infelizmente, não foi possível até o momento encontrar a original
da ata do grupo escolar José Augusto Ferraz, há somente uma cópia, a qual está guardada no
Arquivo Público do Estado de Sergipe.
A REUNIÃO PEDAGÓGICA DO GRUPO ESCOLAR JOSÉ AUGUSTO
FERRAZ
No dia 14 de agosto de 1952, foi realizada a segunda reunião pedagógica, do referido
ano, no Grupo Escolar José Augusto Ferraz. Nesta reunião estavam presentes todas as
professoras do estabelecimento, menos duas professoras4. Era determinado que todas as
professoras participassem da reunião, mas até o momento não se sabe ao certo o motivo
dessas professoras não terem participado da segunda reunião pedagógica, consta somente na
ata que elas não foram para a reunião por motivo este ignorado. Toda reunião pedagógica era
assinada pelas professoras, diretoras e secretária. A secretária da reunião tinha a função de
lavrar a ata e de assiná-la.
Uma das características das reuniões pedagógicas dos grupos escolares era fazer com
que uma das professoras abordasse sobre um tema relacionado à educação. Nesta reunião
foram abordados três temas. O primeiro foi o da professora Júlia de Oliveira, ela comentou
sobre o tema, “Interesse”, bastante defendido pelos intelectuais do movimento da escola nova.
De acordo com as idéias pragmatistas, o interesse dos alunos é um elemento essencial para a
aquisição dos conhecimentos.
Segundo Dewey (1978) não basta transmitir o conteúdo para o aluno, faz-se necessário
que ele busque de maneira ativa os conhecimentos, através das suas experiências. Na ata é
salientado sobre a dificuldade de progredir a aprendizagem dos estudantes quando este não
tem interesse pelo assunto e quando o professor não tem importância de ensinar. Além disso,
afirma que é responsabilidade do professor buscar desenvolver essa necessidade dos alunos
aprenderem determinado conteúdo.
Em uma classe onde não haja interesse dos alunos e dos professores não há
progresso, torna-se portanto antes de tudo acordar o interesse do educando.
Ressaltando a professora que é necessário todo o esforço do mestre para
conquistar o mais possível a atenção dos alunos, procurando tornar as aulas
mais intuitivas possíveis, variando sempre para não ficarem cansadas5.
Nesta reunião não houve somente uma exposição do tema, as outras professoras e a
própria diretora participava dando alguma contribuição. Foi o que aconteceu quando a
diretora do estabelecimento acrescentou algo a mais sobre o que a professora Júlia de Oliveira
tinha comentado. A diretora disse que a “iniciativa” era, também, um dos assuntos essenciais
para o desenvolvimento da escola nova, ou seja, tornava-se necessário que as professoras
trabalhassem de uma maneira que os alunos buscassem adquirir os seus conhecimentos,
através do interesse e da iniciativa. O educando tinha primeiro o interesse e depois eles agiam
para poder adquirir um determinado conhecimento, o qual foi considerado como importante.
A questão da educação moral foi, também, uma temática discutida nessa reunião. Uma
das professoras dissertou que a conduta moral está relacionada com a formação do ser
humano. Para esta professora a criança não nasce nem bom e nem mal, isso irá depender da
formação do indivíduo. Segundo Lourenço Filho “em última análise, os valores são
adquiridos ou aprendidos, por ampliação de interesses, atitudes, propósitos e aspirações.
Referem-se a resultados gerais da aprendizagem, quer a que resulte a ação social difusa, que a
provenha de ação intencional e sistemática, exercida por pais e mestres.” (1978, p. 88)
A escola precisava se preocupar com este assunto, visto que ela era um meio de
formação do ser humano. Dewey (1978) comenta que a escola era para ser uma sociedade em
miniatura, onde os alunos pudessem conviver em grupo respeitando-se mutuamente.
O último tema discorrido estava relacionado as dificuldades de formar a educação dos
alunos. Para a professora Maria Pureza Bomfim Sacramento, o mestre devia desenvolver as
suas aulas de uma maneira bem clara para que os alunos pudessem ter uma melhor
compreensão do assunto abordado. Nisto percebe-se uma preocupação por parte do corpo
docente da Instituição em realizar um ensino, no qual todos os educandos compreendessem os
conhecimentos.
Na análise desta ata da reunião pedagógica percebemos alguns elementos, os quais se
referem a Escola Nova, porém é importante destacar que apesar de defender um ensino nos
moldes do método intuitivo ativo, a última temática demonstra que o professor seria o sujeito
ativo da aprendizagem e não o aluno. Visto que demonstra a preocupação por parte de uma
das professoras em realizar um ensino de uma forma que os alunos pudessem compreender,
como se a aprendizagem dependesse somente do professor.
As mudanças na concepção educacional não ocorrem repentinamente, muitas das
idéias são apropriadas, porém as concepções anteriores ainda são contempladas. Apesar de a
Escola Nova ter desenvolvido uma nova sistematização na educação nem sempre as idéias da
Pedagogia Moderna, a qual buscava estabelecer um método de ensino fundamentado na
percepção do aluno, foi ignorada pelas professoras do Grupo Escolar José Augusto Ferraz, foi
no caso da abordagem do terceiro tema.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As mudanças na educação acontecem por meio de processo. Essas mudanças não
ocorrem de maneira abrupta. As inovações do escolanovismo, as quais buscavam formar um
cidadão preparado para viver em uma civilização democrática, não foram atendidas de
imediato, isso pode se constar na ata do Grupo Escolar José Augusto Ferraz.
Na reunião pedagógica observamos algumas temáticas que se reportavam as idéias da
Escola nova, porém ainda nela verificamos elementos da chamada Pedagogia Moderna, que a
partir do momento que surgiu a Escola Nova, aquela deixou de ser moderna e passou a ser
tradicional.
A Escola Nova adotou os preceitos pragmatista e desenvolveu uma concepção de
ensino laico, gratuito, co-educador e que fosse utilizado o método de intuitivo ativo, onde
aprendizagem aconteceria a partir das experiências do próprio educando. Essas idéias da
Escola Nova foram debatidas na Associação Brasileira da Educação e divulgadas através das
Conferências Nacionais realizadas pela Associação.
Um dos defensores da Escola Nova, na década de 1920 e 1930, em Sergipe foi Àvila
Lima, ele não concordava com as ideais propugnadas por Helvécio de Andrade, pois o mesmo
defendia o ensino católico nas escolas. Outro defensor das idéias escolanovista foi Nunes
Mendonça.
Apesar de Nunes Mendonça na sua obra educação de Sergipe (1958) ter denunciado a
situação dos grupos escolares, verificamos por parte das professoras do Grupo Escolar José
Augusto Ferraz uma tentativa de discutir e de se formarem a respeito das novas abordagens
educacionais. Temas como “interesse”, “iniciativa” eram elementos essências do método
intuitivo ativo. Assuntos relacionados a formação de valores e da conduta moral foram
discutidos na reunião pedagógica do Grupo Escolar. Porém existiu uma temática que estava
associada à Pedagogia Moderna que era a de que o ensino dependia primeiro do professor.
Portanto, podemos inferir que as mudanças educacionais, especificamente nos grupos
escolares, não ocorre de maneira repentina, o que pode acontecer é um mecanismo de
adaptação das idéias anteriores com novas concepções educacionais.
NOTAS
1
Heitor Lyra da Silva, Mario Paulo de brito, Delgado de Carvalho, Melo Leitão, F. Labouriou, Leci
Carneiro, Branco Fialho, Othon Leonardos, Armanda Álvaro Alberto, Francisco Venâncio Filho,
Edgar Sussekind de Mendonça e Benvinuto Ribeiro (CARVALHO, 1998, p. 100)
2
SERGIPE. Diário Oficial de Sergipe, 1 de abril de 1934, ano XVI, p. 04
3
SERGIPE.Decreto n. 262 de 31 de outubro de 1945. BPED: Leis e Decretos. DS 916.
4
A professora Berenice Antunes de Azevedo e a professora Alayde Pinheiro da Silva
5
Ata da reunião pedagógica do Grupo escolar José Augusto Ferraz. APES E 6 1216
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, Anne Emilie S. de; BERGER, Miguel André. As festas de inauguração dos
grupos escolares como veículo de difusão da modernidade na instrução pública. In: Caderno
do Estudante, v.5. São Cristovão: Universidade Federal de Sergipe, 2006. p, 64-69.
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EDUSF, 1998.
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FARIA FILHO, Luciano Mendes. Instrução elementar no século XIX. In: LOPES, Eliane arta
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LOURENÇO FILHO, M. B. Introdução ao estudo da escola nova: Bases, sistemas e
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MENDONÇA, J. A. Nunes. A Educação em Sergipe. Aracaju: Livraria Regina, 1958.
SOUZA, Josefa Eliana. Nunes Mendonça: um escolanovista sergipano. São Cristóvão:
Editora UFS; Aracaju: Fundação Oviêdo Teixeira. 2003.
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NUNES, Clarice. Anísio Teixeira: a poesia da ação. Bragança paulista – SP, EDUSF, 2000.
VALDEMARIM, V. T. Os sentidos e a experiência: professores, alunos e métodos. In:
SAVIANI, Dermerval; ALMEIDA, J. S.; SOUZA, Rosa F.; VALDEMARIM, V. T. O legado
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