Ascedio José Rodrigues Relato do Caso Paciente feminina, 30 anos de idade, sofreu acidente de motocicleta e foi atendida no serviço de emergência. Sofreu trauma crânio encefálico sem necessidade de intervenção, trauma abdominal fechado com rompimento do baço sendo esplenectomizada. Permaneceu internada na UTI por 12 dias sob intubação orotraqueal. Evoluiu com melhora do quadro, sendo extubada sem seqüelas neurológicas. Recebeu alta da UTI no 16° d ia e alta hospitalar no 21° dia, deambulando e em boas condições físicas. Quinze dias após a alta retorna ao pronto socorro referindo falta de ar ao subir escadas e durante caminhada por mais de 15 minutos. Ausculta pulmonar normal e RX de tórax normal. No momento da consulta não apresentava dispnéia. Negava febre, negava tosse. Recebeu alta com orientações gerais. Trinta e cinco dias após a alta hospitalar (20 dias após a última consulta no pronto socorro) a paciente é trazida pelos familiares com dispnéia, respiração ruidosa, referindo que a “falta de ar” piorou, acontecendo mesmo em repouso e com cianose perilabial quando tentava subir escadas. HF Nada digno de nota Exame físico BEG, afebril, acianótica, corada, hidratada AR: MV presentes bilateralmente, sibilos difusos, expiração prolongada e estridor inspiratório. Sem alterações na qualidade de voz. Saturação de O2: 91% em ar ambiente. ABD: flácido, indolor, ruídos hidroaéreos presentes. ACV: BNF R2T sem sopro. Oroscopia e otoscopia normal. Hipertrofia de cornetos nasais e secreção clara. Questão 1: Quais suas hipóteses diagnósticas mais prováveis? a) ( ) – Pneumonia aspirativa b) ( ) – Paralisia bilateral de pregas vocais em abdução c) ( ) – Asma grave de difícil controle. d) ( ) – Laringite pós intubação e) ( ) – Estenose laringotraqueal Questão 2: Qual a melhor conduta neste caso?: a) ( ) – Tomografia de tórax de alta resolução com reconstrução e broncoscopia virtual b) ( ) – Inalação com adrenalina e antibioticoterapia de amplo espectro c) ( ) – Traqueostomia urgente d) ( ) – Intubação orotraqueal na sala de emergência e) ( ) – Broncoscopia com anestesia geral Evolução Considerando que há 1 mês e meio a paciente havia ficado intubada por tempo prolongado, recebeu alta em boas condições e estava progredindo com dispnéia com piora progressiva, instridor inspiratório, sem sinais claros de infecção (sem tosse, sem febre, sem secreção) foi optado por internação hospitalar e realização de broncoscopia flexível. Durante a broncoscopia foi diagnosticada estenose traqueal circunferencial, fibrótica, com obstrução parcial do fluxo de ar em traquéia média distal provavelmente na área de contato com o “cuff” do tubo orotraqueal. Realizado tratamento endoscópico com eletrocautério associado a dilatação com balão hidrostático. Apresentou boa resposta ao tratamento desobstrutivo. Após 1 ano, mantém acompanhamento ambulatorial sem quadros de recidiva até o momento. Exame endoscópico Visão endoscópica da estenose traqueal Visão endoscópica durante o eletrocautério Visão após eletrocautério Dilatação com balão hidrostático Aspecto após uma semana da abordagem As respostas corretas são 1-E e 2-E. A estenose laringotraqueal adquirida consiste no estreitamento da porção inferior da laringe ou da traquéia resultante de um processo anormal de cicatrização com formação de tecido fibrótico e obstrução do fluxo de ar. A causa mais comum da estenose laringotraqueal é a lesão secundária à intubação orotraqueal. Etiologias pouco frequentes incluem processos inflamatórios decorrentes de acidentes com produtos cáusticos, policondrites, doenças autoimunes, queimaduras e algumas infecções. O diagnóstico da estenose laringotraqueal adquirida é inicialmente clínico, com a maioria dos pacientes apresentando graus variáveis de desconforto respiratório, geralmente progressivo, associados a antecedente de intubação orotraqueal por diferentes doenças. O paciente apresenta estridor, que pode ser inspiratório e expiratório, associado à dispnéia. Alguns pacientes apresentam laringites de repetição. Quando o diagnóstico é tardio e o paciente apresenta-se com grave insuficiência respiratória, a intubação orotraqueal pode não ser possível, sendo a intervenção de emergência com dilatação ou realização de traqueostomia salvadoras. A endoscopia respiratória é o “padrão ouro” para o diagnóstico da estenose laringotraqueal. A laringoscopia e a broncoscopia rígida ou flexível com o paciente sob ventilação espontânea são considerados métodos confiáveis e seguros para avaliação endoscópica. A inspeção endoscópica das vias aéreas inclui a verificação da mobilidade da laringe, da presença de cicatrizes interaritenóides, sinais de inflamação, granulação, fibrose, obstruções. Cuidado especial deve ser dado à avaliação dinâmica investigando broncomalácia, traqueomalácia, laringomalácia e paralisia de pregas vocais. Existem basicamente duas modalidades de tratamento, o endoscópico minimamente invasivo e os procedimentos cirúrgicos abertos. A decisão de qual terapêutica deve ser utilizada nas estenoses laringotraqueais sintomáticas deve-se considerar o tipo, grau e extensão da estenose, além de fatores clínicos como idade, malformações associadas e estado nutricional. Referências Bibliográficas: 1. Mandour M, Remacle M, Van de Heyning P, Elwany S, Tantawy A, Gaafar A. Chronic subglottic and tracheal stenosis: endoscopic management vs. surgical reconstruction. Eur Arch Otorhinolaryngol. 2003;260(7):374-80. 2. Andrews BT, Graham SM, Ross AF, Barnhart WH, Ferguson JS, McLennan G. Technique, utility, and safety of awake tracheoplasty using combined laser and balloon dilation. Laryngoscope. 2007;117(12):2159-62. 3. Taha MS, Mostafa BE, Fahmy M, Ghaffar MK, Ghany EA. Spiral CT virtual bronchoscopy with multiplanar reformatting in the evaluation of postintubation tracheal stenosis: comparison between endoscopic, radiological and surgical findings. Eur Arch Otorhinolaryngol. 2009;266(6):863-6.