Tratamento Cirúrgico da Estenose Subglótica Avançada e Recorrente R2 Leila Roberta Crisigiovanni Definição Estenose Subglótica (ES) é o estreitamento das vias aéreas abaixo das pregas vocais Congênito Adquirido Subglote Comissura anterior: 10mm Comissura posterior: 5mm Lúmen normal é de 4,5 a 5,5 mm < 4.0 mm na criança a termo é considerada estenótica <3.5 mm em prematuros é considerada estenótica Fatores de Risco/Predisposição A subglote é mais susceptível a lesões Cartilagem circular e de dimensões reduzidas Mucosa endolaríngea com glandulas submucosas Facilmente rompida É a parte mais estreita em RN Funções da Laringe Respiração Proteção contra aspiração Fonação Valsalva Tosse Considerações Anatômicas A laringe é proporcionalmente maior em crianças A parte mais estreita da VA pediátrica é a subglote No adulto é a glote Posicionamento Pediátrico: 2ª vertebra cervical Adulto: 6ª vertebra cervical A função normal da laringe é importante para evitar a aspiração, já que na criança a epiglote é mais flexível e menos funcional Embriologia Desenvolve-se a partir 4º e 5º arcos branquiais Em consequência ao desenvolvimento da faringe primitiva A abertura laringotraqueal se da entre os arcos Formam-se 3 massas Eminência hipobranquial Epiglote Aritenóides (par) Ocorre a recanalização da via aérea Estenose Subglótica Congênita É considerada congênita sempre que não houver história que justifique seu desenvolvimento no período pós natal imediato É secundária a recanalização inadequada do lúmen laríngeo (3 meses de gestação) Responsável por 5% dos casos de estenose subglótica Classificação ES Membranosa ES Cartilaginosa Graduação Estenose localizada Webs Web ES Membranosa Geralmente circunferencial Pode envolver região glótica Decorrente de hipertrofia do tecido conjuntivo fibroso submucoso ou de hiperplasia das glândulas submucosas ES Cartilaginosa Variável, pois a podem desenvolver-se diversos tipos de anomalias na cartilagem cricóidea Deformidade na forma da cartilagem cricóidea Espessamento ou deformidade Face anterior e interna da cricóidea, podendo-se estender para posterior Falha na expansão no seu diâmetro transversal com desenvolvimento elíptico ( e não circular) Pode ser localizado ou circunferencial ES Congênita Localizada Estenose Subglótica Adquirida 95% dos casos Intubação prolongada Trauma direto Inalação de fumo/fumaça Ingestão de substâncias cáusticas Infecções crônicas TB, sífilis, lepra, febre tifóide... Doença inflamatória crônica Sarcoidose, LES, Wegner DRGE, Neoplasias laríngeas Trauma de Intubação Responsável por 90% dos casos de estenose subglótica em crianças e RN Incidência de 0,9 a 8,3% após a intubação 44% para RN de Baixo peso ao nascer Produz necrose de pressão no local de contato com a via aérea, depende da Duração de intubação Tamanho do tubo Número de intubações Trauma de Intubação Necrose de pressão da braçadeira Pior ainda com baixo volume de alta pressão Microcirculação cessa com 30mmHg Tempo de intubação (Whited 1985) 2-5 dias 0 – 2% de chance de estenose 5-10 dias 4 – 5 % de chance de estenose > 10 dias 12-14% de chance de estenose Patofisiologia Injúria tecidual Necrose, Edema, e Ulceração Infecção secundária e Pericondrite Disfunção laríngea e aumento da susceptibilidade da lesão Estase mucociliar Tecido de Granulação e cicatrização Anormalidade da via aérea, voz e alimentação Sinais e Sintomas 1. Via Aérea Estridor bifásico, dispneia, retrações costais 2. Voz 3. Choro anormal, afonia, rouquidão Alimentação Disfagia, pneumonial aspirativa recorrente Sinais e Sintomas Subglótico : rouquidão, voz afonica, estridor bifásico,, tosse de cachorro Glótico: rouquidão, afonia, estridor inspiratório/Bifásico, +- tosse Supraglótico: voz afabada/gutural, estridor inspiratório, dificuldade para se alimentar, ausência de tosse Apresentação Inicial Estenose Subglótica congênita Ao nascimento, moderado à severo Estenose Subglótica adquirida Usualmente em 2-4 semanas após o trauma/insulto Qualquer tipo, em sua forma leve, pode ser assintomática e presente após insulto subseqüente ao das vias aéreas Anamnese e Exame Físico História do nascimento (prematuridade?) História de Intubação Alimentação/voz/dificuldade respiratória? Refluxo? Infecções? Doenças autoimunes? Outros sintomas sistêmicos? Nasofibroscopia Flexível Nariz/ Nasofaringe Estenose da abertura piriforme Atresia de coanas Supraglote Alterações estruturais Laringomalácia Glote Mobilidade de PV’s Fenda/ Sulcos/Massas Subglote Imediata Avaliação Radiológica Rx Rápido e de baixo custo para crianças TAC Muito específico para avaliar local e extensão do envolvimento RNM Bom para o planejamento cirúrgico Ultrassom Excelente para avaliar diâmetros das vias respiratórias Rápido Avaliação Inicial Carretta et al. (2006) Comparou achados de TAC pré ops com intraoperatorio e resultados de endoscopia rígida (videolaringoscopia) Resultado: a endoscopia rígida é mais confiável Padrão Ouro: Endoscópio Rígido Permite uma melhor visualização das cordas vocais Melhor avaliação dos níveis estenóticos Deve ser feita delicadamente para evitar a irritação das mucosas e exacerbação da estenose Laringoscopia Rígida Demonstra dados importantes intra-operatórios Diâmetro externo do maior tubo ET ou broncoscópio que pode ser passado Localização da região e comprimento da estenose Outras anomalias das vias aéreas Alterações causadas pelo refluxos Avaliação Adicional Laboratório PPD, C-anca, FAN... Phmetria de 24h com duplo-probe EDA com biópsia Se suspeitar de esofagite Videoendoscopia da deglutição Estadiamento de Cotton-Meyer Estadio I - 0 a 50% de estenose Estadio II - 51 a 70% de estenose Estadio III - 71 a 99% de estenose Estadio IV – Completa obstrução sem visualização do lúmen Objetivos do Tratamento Obter uma via aérea adequada Laringe competente Voz aceitável Tratar a área estenótica preservando os segmentos normais Opções de Tratamento Traqueotomia Manejo endoscópico Dilatação Excisão da área estenosada com laser Divisão Anterior da Cricóide Reconstrução Laringotraqueal ( em 1 ou 2 tempos) Ressecção Cricotraqueal Traqueotomia Mantem uma adequada via aérea Usa o menor tubo permitido para ventilação Permite o vazamento de ar para evitar lesões de pressão e preserva a função fonatória É a base do tratamento inicial A decanulação só é realizada uma vez que a via aérea adequada seja recriada Deve-se cuidar com a granulação supraestomal quando se considera a decanulização Reparação Endoscópica Dilatação Útil nas fases iniciais Corticoides locais injetáveis podem reduzir a cicatrizes Excisão a laser Popularizando Preserva tecido adjacente Reduz sangramento, edema, e necessidade de traqueotomia Útil nos graus 1 e 2, porem requerem múltiplos procedimentos Reparação Endoscópica Herrington et al. (2006) 70% dos pctes que realizaram dilatação, necessitaram de novos procedimentos Recomendada para Grau I ou II, antes de considerar a intervenção aberta Divisão Anterior da Cricóide 1980 – descrita por Cotton Alternativa à traqueotomia Indicações Crianças com ES membranosa circunferencial com < 1 ano Critérios de Indicação Crianças com > 1500 g Não utilização de ventilação assistida nos 10 dias prévios à avaliação cirúrgica 2 ou + tentativas falhas de extubação em função exclusiva da patologia laríngea Ausência de ICC ou HAS de difícil controle Necessidade de O2 inferior a 30% Ausência de infecção respiratória Divisão Anterior da Cricóide Técnica Cirúrgica Anestesia geral Incisão cutânea horizontal sobre a cartilagem cricóidea Segue-se pela divisão do istmo tireóideo Exposição das cartilagens: tireóidea, cricóidea e primeiros anéis traqueais Incisão vertical, na linha média, ao longo da c. tireoidea (iniciando 2mm inferior à incisura tireoidea), cartilagem cricoide e os 2 primeiros anéis traqueais Passa-se um tubo nasotraqueal (1 tamanho maior que o já passado) servirá como sonda para a manutenção da abertura das extremidades da cartilagem cricóidea Divisão Anterior da Cricóide O espaço compreendido entre as extremidades é preenchido por tecido fibroso resultará numa ampliação da área intraluminal em 26% Os planos muscular, subcutâneo e pele devem ser aproximados por pontos separados e a criança deve ser mantido em UTI pediátrica por 7 a 14 dias com fisioterapia respiratória, aspiração frequente do tubo e uso de ATB O tubo nasotraqueal é mantido por 7 dias em crianças de peso superior a 2500 g e por 14 dias em menores de 2500 g A extubação pode ser orientada pelo escape aéreo em torno do tubo endotraqueal (indica a ampliação do diâmetro intraluminal) Deve-se iniciar CTC intravenoso 24h antes da extubação e mantido por cerca de 24-48h pós-extubação Divisão Anterior da Cricóide Complicações Atelectasia predispõe a criança ao desenvolvimento de complicações respiratórias infecciosas como traqueíte e pneumonia Extubação acidental Mau posicionamento do tubo endotraqueal Cirurgia de Expansão Laringotraqueal - Laringotraqueoplastias Inclui um diversidade de procedimentos Princípio básico Divisão da área estenosada na subglote com subsequente interposição de alguma forma de enxerto para manutenção da perviedade aérea Materiais de enxerto Tubos de silicone ou de teflon Tubos em “T” Laringotraqueoplastia Anterior com Enxerto – Larringofissura anterior Indicações ES anterior sem envolvimento da região glótica (que não apresenta perda significativa do suporte cartilaginoso) Crianças com ES Graus I e II e casos selecionados de ES grau II de Cotton Técnica Cirúrgica Incisão cutânea transversal ou em “U”, em nível da cartilagem cricóidea Confecção de retalho subplatismal e subsequente retração lateral das musculaturas pré-laríngea e pré-traqueal Realização de uma incisão vertical, em nível da linha média, ao longo da cartilagem tireóidea, incluindo seus pericôndrios externo e interno, estendendo-se de um ponto inferior às pregas vocais até os primeiros anéis traqueais Laringotraqueoplastia Anterior com Enxerto – Larringofissura anterior Após isso, insere-se e fixa o enxerto elíptico na parede cartilagíneo- mucosa laringotraqueal Enxertos: cartilagem costal autóloga (escolha) Cartilagem tireóidea Cartilagem do pavilhão auricular Pericárdio Osso hióide Cotton et al, 1989, diz que a sutura do enxerto pode ser feita com Vycril simples 4-0 A cartilagem enxertada serve não apenas à ampliação da área intraluminal, mas também como suporte à migração epitelial mucosa, o que assegura a incorporação do segmento enxertado à área laringotraqueal Laringotraqueoplastia Anterior com Enxerto – Larringofissura anterior O pericôndrio, de ao menos uma das superfícies da cartilagem costal, deve ser mantido e a face do enxerto cartilaginoso com o pericôndrio deve ser fixada voltada para o lúmen Auxilia o processo de epitelização e reduz a incidência de infecção no enxerto A inserção de uma sonda laringotraqueal vai assegurar a estabilidade e a preservação da integridade estrutural do enxerto enquanto se dá o processo de cicatrização Deve ser mantida por 6 semanas em média Remover por via endoscópica e avaliar a via aérea para analisar a perviedade Laringotraqueoplastia Anterior com Enxerto – Larringofissura anterior O pcte deve ser mantido traqueotomizado enquanto estiver com a sonda endolaríngea Para LUSK et al., 1991 e SEID et al., 1991 o pcte deve ser mantido em UTI, com ventilação e paralisia respiratória, por um período superior a 10 dias tubo funciona como sonda Após 7 dias o pcte deve retornar ao CC para avaliação endoscópica para extubação Laringotraqueoplastia Antero-posterior Indicações ES com envolvimento glótico posterior ou com deformidade significativa de cartilagem cricóidea ES e glótica posterior ES e traqueal superior moderadas com perda do suporte cartilaginoso ES e glótica completas Técnica Cirúrgica Variante da laringotraqueoplastia anterior caracterizada por abertura, com ou sem inserção de enxerto autógeno, também posteriormente na cartilagem cricóidea Laringotraqueoplastia Antero-posterior Passos cirúrgicos seguem aqueles descritos anteriormente Uma sonda ou molde intraluminal (tipo Evans ou Aboulker) faz-se necessária para prover estabilidade à via aérea durante o período de cicatrização (6 a 12 semanas) no qual a traqueotomia deve ser mantida Anastomose Término-terminal Indicação ES em que existe extensão de mucosa endolaríngea normal abaixo do nível das PPVV’s com deformidade importante da cartilagem cricóidea, de forma que a inserção do enxerto torna improvável a obtenção de sucesso na manutenção da perviedade laríngea A maior parte dos autores postula a necessidade de existir pelo menos 10mm de mucosa normal inferiormente à glote Ressecção da porção estenosada envolvendo a cricóide com anastomose tireotraqueal término-terminal Interposição de Hióide Tem-se utilizado nas cirurgias de reparo de estenoses combinadas glóticas e subglóticas, enxertos autógenos de hióide A curvatura do hióide presta-se à reconstrução de defeitos significativos envolvendo a cartilagem cricóidea com bons resultados em termos de ampliação e manutenção do lúmen laríngeo Baixa morbidade Inexistência de problemas relativos a rejeição de enxerto Ressecção Cricotraqueal 1953 – Conley descreveu pela primeira vez em adultos 1978- Savary descreveu pela primeira vez em crianças Tem melhores resultados em pacientes com estenose traqueal isolada É uma abordagem mais difícil em pctes com ES Bem tolerado em pctes com Grau II ou IV de estenose Ressecção cricotraqueal é melhor que a Ressecção laringotraqueal em pctes com estenose grau IV Ressecção Cricotraqueal Ressecção cricotraqueal Cuidados pós-operatórios (GUPTA et al.,2010) Requer UTI pediátrica Intubação nasotraqueal por 7 a 14 dias Sedação e paralisia Utilização de CTC 12 horas antes e 5 dias após a decanulação Realizar o teste de vazamento de ar antes da extubação ATB por 2 semanas , se nao houver colocação de stent; Meses se houver stent Todos recebem medicamentos anti-refluxo Necessita de alimentação enteral Fisioterapia respiratória Recomendações Traqueostomia é a 1ª opção para a fase aguda Grau I e II Reparação endoscópica Grau III ou casos refratários Laringotraqueoplastia com enxerto anterior ou posterior Grau IV Ressecção cricotraqueal O tratamento precoce é melhor para preservar ou melhorar o desenvolvimento funcional Resumo A ES é um problema comum em pacientes com IOT prolongada Cada paciente precisa de uma propedêutica adequada, incluindo anamnese, exame físico e exame laringoscópico O tratamento é impulsionado por classificação O tratamento visa melhora via aérea, voz e deglutição Referências Bibliográficas 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 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