Introdução aos estudos literários Goiânia, 05 de Fevereiro de 2014. Série: 3 º ano Aluno(a):______________________________________________________________ Disciplina: Literatura Professora: Willian e-mail: [email protected] 1. Leia os textos abaixo para responder à questão: Texto 1 Descuidar do lixo é sujeira Diariamente, duas horas antes da chegada do caminhão da prefeitura, a gerência de uma das filiais do McDonald’s deposita na calçada dezenas de sacos plásticos recheados de papelão, isopor, restos de sanduíches. Isso acaba propiciando um lamentável banquete de mendigos. Dezenas deles vão ali revirar o material e acabam deixando os restos espalhados pelo calçadão. (Veja São Paulo, 23-29/12/92) Texto 2 O bicho Vi ontem um bicho Na imundície do pátio Catando comida entre os detritos. Quando achava alguma coisa, Não examinava nem cheirava: Engolia com voracidade. O bicho não era um cão, Não era um gato, Não era um rato. O bicho, meu Deus, era um homem. (Manuel Bandeira. Em Seleta em prosa e verso. Rio de Janeiro: J. Olympio/MEC, 1971, p.145) I. No primeiro texto, publicado por uma revista, a linguagem predominante é a literária, pois sua principal função é informar o leitor sobre os transtornos causados pelos detritos. II. No segundo texto, do escritor Manuel Bandeira, a linguagem não literária é predominante, pois o poeta faz uso de uma linguagem objetiva para informar o leitor. III. No texto “Descuidar do lixo é sujeira”, a intenção é informar sobre o lixo que diariamente é depositado nas calçadas através de uma linguagem objetiva e concisa, marca dos textos não literários. IV. O texto “O bicho” é construído em versos e estrofes e apresenta uma linguagem plurissignificativa, isto é, permeada por metáforas e simbologias, traços determinantes da linguagem literária. Estão corretas as proposições: a) I, III e IV. b) III e IV. c) I, II, III e IV. d) I e IV. e) II, III e IV. 2. Leia os textos a seguir para responder à questão: Texto 1 Piratininga virou São Paulo: o colégio é hoje uma metrópole Os padres jesuítas José de Anchieta e Manoel da Nóbrega subiram a Serra do Mar, nos idos de 1553, a fim de buscar um local seguro para se instalar e catequizar os índios. Ao atingir o planalto de Piratininga, encontraram o ponto ideal. Tinha “ares frios e temperados como os de Espanha” e “uma terra mui sadia, fresca e de boas águas”. Os religiosos construíram um colégio numa pequena colina, próxima aos rios Tamanduateí e Anhangabaú, onde celebraram uma missa. Era o dia 25 de janeiro de 1554, data que marca o aniversário de São Paulo. Quase cinco séculos depois, o povoado de Piratininga se transformou numa cidade de 11 milhões de habitantes. Daqueles tempos, restam apenas as fundações da construção feita pelos padres e índios no Pateo do Collegio. Piratininga demorou 157 anos para se tornar uma cidade chamada São Paulo, decisão ratificada pelo rei de Portugal. Nessa época, São Paulo ainda era o ponto de partida das bandeiras, expedições que cortavam o interior do Brasil. Tinham como objetivos a busca de minerais preciosos e o aprisionamento de índios para trabalhar como escravos nas minas e lavouras. (Disponível em http://www.cidadedesaopaulo.com/sp/br/a-cidade-de-sao-paulo) Texto 2 Soneto sentimental à cidade de São Paulo Ó cidade tão lírica e tão fria! Mercenária, que importa - basta! - importa Que à noite, quando te repousas morta Lenta e cruel te envolve uma agonia Não te amo à luz plácida do dia Amo-te quando a neblina te transporta Nesse momento, amante, abres-me a porta E eu te possuo nua e fugidia. Sinto como a tua íris fosforeja Entre um poema, um riso e uma cerveja E que mal há se o lar onde se espera Traz saudade de alguma Baviera Se a poesia é tua, e em cada mesa Há um pecador morrendo de beleza? (Vinícius de Moraes) Sobre os textos, é correto afirmar, exceto: a) O primeiro texto explora a linguagem não literária, caracterizada pelo uso da função referencial, que preza pela objetividade e imparcialidade da informação. b) O segundo texto explora a linguagem literária, na qual podemos observar o emprego de recursos estilísticos e expressivos. Predominância da função poética da linguagem. c) As notícias, artigos jornalísticos, textos didáticos, verbetes de dicionários e enciclopédias, anúncios publicitários e textos científicos são exemplos da linguagem não literária. d) Os textos literários apresentam uma preocupação com o objeto linguístico. Suas características são bem delimitadas, como o uso da objetividade, a transparência e o compromisso em informar o leitor. 3. Enem 2013 Na verdade, o que se chama genericamente de índios é um grupo de mais de trezentos povos que, juntos, falam mais de 180 línguas diferentes. Cada um desses povos possui diferentes histórias, lendas, tradições, conceitos e olhares sobre a vida, sobre a liberdade, sobre o tempo e sobre a natureza. Em comum, tais comunidades apresentam a profunda comunhão com o ambiente em que vivem, o respeito em relação aos indivíduos mais velhos, a preocupação com as futuras gerações, e o senso de que a felicidade individual depende do êxito do grupo. Para eles, o sucesso é resultado de uma construção coletiva. Estas ideias, partilhadas pelos povos indígenas, são indispensáveis para construir qualquer noção moderna de civilização. Os verdadeiros representantes do atraso no nosso país não são os índios, mas aqueles que se pautam por visões preconceituosas e ultrapassadas de “progresso”. AZZI, R. As razões de ser guarani-kaiowá. Disponível em: www.outraspalavras.net. Acesso em: 7 dez. 2012. Considerando-se as informações abordadas no texto, ao iniciá-lo com a expressão “Na verdade”, o autor tem como objetivo principal a) expor as características comuns entre os povos indígenas no Brasil e suas ideias modernas e civilizadas. b) trazer uma abordagem inédita sobre os povos indígenas no Brasil e, assim, ser reconhecido como especialista no assunto. c) mostrar os povos indígenas vivendo em comunhão com a natureza e, por isso, sugerir que se deve respeitar o meio ambiente e esses povos. d) usar a conhecida oposição entre moderno e antigo como uma forma de respeitar a maneira ultrapassada como vivem os povos indígenas em diferentes regiões do Brasil. e) apresentar informações pouco divulgadas a respeito dos indígenas no Brasil, para defender o caráter desses povos como civilizações, em contraposição a visões preconcebidas. 4. Texto I “Um certo tipo de função psicológica é talvez a primeira coisa que nos ocorre quando pensamos no papel da literatura. A produção e a fruição desta se baseiam numa espécie de necessidade universal de ficção e de fantasia, que de certa forma é coextensiva ao homem, por aparecer invariavelmente em sua vida, como indivíduo e como grupo, ao lado das satisfações das necessidades mais elementares. E isto ocorre no primitivo e no civilizado, na criança e no adulto, no instruído e no -1- analfabeto. A literatura propriamente dita é uma das modalidades que funcionam como resposta a essa necessidade universal, cujas formas mais humildes e espontâneas de satisfação talvez sejam coisas como a anedota, a adivinha, o trocadilho, o rifão. Em nível complexo surgem as narrativas populares, os cantos folclóricos, as lendas, os mitos. No nosso ciclo de civilização, tudo isso culminou de certo modo nas formas impressas, divulgadas pelo livro, o folheto, o jornal, a revista: poema, conto, romance, narrativa romanceada. Mais recentemente, ocorreu boom das modalidades ligadas à comunicação oral, propiciada pela técnica: fita de cinema, [...] história em quadrinhos, telenovela. Isto sem falar no bombardeio incessante da publicidade, que nos assalta de manhã à noite apoiada em elementos de ficção e de poesia e em geral da linguagem literária. Portanto, por via oral ou visual, sob formas curtas e elementares, ou sob complexas formas extensas, a necessidade de ficção se manifesta a cada instante; aliás, ninguém pode passar um dia sem consumi-la, ainda que sob forma de palpite na loteria, devaneio, construção ideal ou anedota. E assim se justifica o interesse pela função dessas formas de sistematizar a fantasia, de que a literatura é uma das modalidades mais ricas”. (Antonio Candido. “ A literatura e a formação do homem”. Revista Ciência e Cultura, set.1972. p.84.) Texto II Hoje já chegamos a uma época em que os romancistas e os poetas são olhados como criaturas obsoletas, de priscas eras. No entanto, só eles, só a boa literatura poderá evitar o tráfico final desta mecanização: o homem criando mil milhões, virando máquina azeitada que age corretamente ao apertar do botão - estímulo adequado. A arte, e dentro dela a literatura, é talvez a mais poderosa arma para evitar o esclerosamento, para manter o homem vivo, sangue, carne, nervos, sensibilidade; para fazê-lo sofrer, angustiar-se, sorrir e chorar. E ele terá então a certeza de que ainda está vivo, de que continua escapando. A literatura é o retrato vivo da alma humana; é a presença do espírito na carne. Para quem, ás vezes, se desespera, ela oferece consolo, mostrando que todo ser humano é igual, e que toda dor parecer ser a única; é ela que ensina os homens os múltiplos caminhos do amor, enlaçando-os em risos e lágrimas, no seu sofrer semelhante; ela que vivifica a cada instante o fato de realmente sermos irmãos do mesmo barro. A moléstia é real, os sintomas são claros, a síndrome está completa: o homem continua cada vez mais incomunicável ( porque deturpou o termo comunicação), incompreendido e incompreensível, porque se voltou para dentro e se autoanalisa continuamente, mas não troca com os outros essas experiências individuais; está " desaprendendo " a falar, usando somente o linguajar básico, essencial, e os gestos. Não lê, não se enriquece, não se transmite. Quem não lê, não escreve. Assim, o homem do século XX, bicho de concha, criatura intransitiva, se enfurna dentro de si próprio, ilhando-se cada vez mais, minado pelas duas doenças do nosso tempo: individualismo e solidão”. ( Ely Vieitez Lanes. Laboratório de literatura. São Paulo: Estrutural, 1978). Responda ao que se pede: 1) De acordo com Antonio Candido, a literatura satisfaz uma necessidade essencial do ser humano. a) Qual é essa necessidade? b) Qual é o perfil das pessoas que têm essa necessidade? São crianças ou adultos? São pessoas com ou sem escolaridade? 2) De acordo com o texto de Ely Lanes, a falta de comunicação e, consequentemente, o individualismo e a solidão são as doenças do mundo em que vivemos. a) Segundo o ponto de vista do autor, por que a literatura pode contribuir no combate a essas doenças? b) O pensamento de Nelly Novaes Coelho coincide com o pensamento de Ely Lanes? Por quê? 3) A partir dos excertos reproduzidos nesse roteiro de estudos, pense na função do poema e da poesia abaixo. Escreva um parágrafo analisando o poema de Ferreira Gullar: sua vida fechada Não há vagas em arquivos. O preço do feijão não cabe no poema. O preçoComo não cabe no poema o operário do arroz que esmerila seu dia de aço não cabe no poema. Não cabem no poema o gás e carvão nas oficinas escuras a luz o telefone – porque o poema, senhores, a sonegação está fechado: “não há vagas” do leite Só cabe no poema da carne o homem sem estômago do açúcar a mulher de nuvens do pão. a fruta sem preço O funcionário público O poema, senhores, não cabe no poema com seu salário de fome não fede nem cheira. Leitura e atividades CONTINUIDADE DOS PARQUES - Julio Cortázar Começara a ler o romance dias antes. Abandonou-o por negócios urgentes, voltou à leitura quando regressava de trem à fazenda; deixava-se interessar lentamente pela trama, pelo desenho dos personagens. Nessa tarde, depois de escrever uma carta a seu procurador e discutir com o capataz uma questão de parceria, voltou ao livro na tranqüilidade do escritório que dava para o parque de carvalhos. Recostado em sua poltrona favorita, de costas para a porta que o teria incomodado como uma irritante possibilidade de intromissões, deixou que sua mão esquerda acariciasse , de quando em quando, o veludo verde e se pôs a ler os últimos capítulos. Sua memória retinha sem esforço os nomes e as imagens dos protagonistas; a fantasia novelesca absorveu-o quase em seguida. Gozava do prazer meio perverso de se afastar, linha a linha, daquilo que o rodeava, a sentir ao mesmo tempo que sua cabeça descansava comodamente no veludo do alto respaldo, que os cigarros continuavam ao alcance da mão, que além dos janelões dançava o ar do entardecer sob os carvalhos. Palavra por palavra, absorvido pela trágica desunião dos heróis, deixando-se levar pelas imagens que se formavam e adquiriam cor e movimento, foi testemunha do último encontro na cabana do mato. Primeiro entrava a mulher, receosa; agora chegava o amante, a cara ferida pelo chicotaço de um galho. Ela estancava admiravelmente o sangue com seus beijos, mas ele recusava as carícias, não viera para repetir as cerimônias de uma paixão secreta, protegida por um mundo de folhas secas e caminhos furtivos, o punhal ficava morno junto a seu peito, e debaixo batia a liberdade escondida. Um diálogo envolvente corria pelas páginas como um riacho de serpentes, e sentia-se que tudo estava decidido desde o começo. Mesmo essas carícias que envolviam o corpo do amante, como que desejando retê-lo e dissuadi-lo, desenhavam desagradavelmente a figura de outro corpo que era necessário destruir. Nada fora esquecido: impedimentos, azares, possíveis erros. A partir dessa hora, cada instante tinha seu emprego minuciosamente atribuído. O reexame cruel mal se interrompia para que a mão de um acariciasse a face do outro. Começava a anoitecer. Já sem olhar, ligados firmemente à tarefa que os aguardava, separaram-se na porta da cabana. Ela devia continuar pelo caminho que ia ao Norte. Do caminho oposto, ele se voltou um instante para vê-la correr com o cabelo solto. Correu por sua vez, esquivando-se de árvores e cercas, até distinguir na rósea bruma do crepúsculo a alameda que o levaria à casa. Os cachorros não deviam latir e não latiram. O capataz não estaria àquela hora, e não estava. Pelo sangue galopando em seus ouvidos chegavam-lhe as palavras da mulher: primeiro uma sala azul, depois uma varanda, uma escadaria atapetada. No alto, duas portas. Ninguém no primeiro quarto, ninguém no segundo. A porta do salão, e então o punhal na mão, a luz dos janelões, o alto respaldo de uma poltrona de veludo verde, a cabeça do homem na poltrona lendo um romance. (CORTÁZAR, Julio. Continuidade dos parques. In: Final do jogo. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura,1971.) 1. Todo texto narrativo, se constrói a partir da presença de alguns elementos básicos: narrador, personagens, cenário, tempo e enredo. a) Quem conta a história em “Continuidade dos parques”? b) Quais são as personagens envolvidas na história? Como elas são caracterizadas? c) O texto apresenta dois cenários. Quais são eles? O que se descobre sobre o primeiro cenário no final da história? d) Em que intervalo de tempo a história se passa? e) Há no texto, um acontecimento que desencadeia a ação final. Qual é ele? 2. No conto, há duas histórias narradas: a do fazendeiro-leitor e a dos amantes. Uma reflete a outra, e as duas histórias terminam por se entrelaçar. Explique como o trabalho de construção de cenário, das personagens e do enredo ajuda a promover esse efeito. 3. Após a leitura do conto, podemos afirmar que a primeira pista que Cortázar nos fornece sobre o caráter fantástico de sua narrativa é o título da história. Por quê? 4. A literatura e as demais formas de arte podem levar o ser humano a refletir sobre as angústias e alegrias da própria existência. A leitura do conto nos ajudaria a compreender melhor a realidade? Por quê?