Pensamento do Dia Economistas analisam a Economia, o Brasil e o mundo, mundo, na mídia diária 08 01 2010 ------------------------------------------------------------------Folha de S.Paulo 08 01 2010 LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS Que diferença um ano faz... Os analistas estão olhando para 2010 com dúvidas e preocupação, mas não com desespero, como em 2009 NOSSO PRIMEIRO encontro deste ano está marcado por expectativas que diferem radicalmente das que prevaleciam no início do ano passado. Vivíamos então -aqui no Brasil e no resto do mundo- sob o impacto de uma crise econômica profunda, assustadora mesmo. A sensação de pânico espalhava-se pelos mercados, afetando o comportamento de empresas e de consumidores em todo o mundo. Os profetas do caos ocupavam com destaque os principais canais de mídia, aumentando ainda mais a sensação de insegurança. Nem mesmo a posse de um novo presidente da nação mais poderosa do mundo serviu para interromper o verdadeiro colapso dos mercados. O ponto mais baixo da Bolsa de Valores americana foi atingido apenas nos primeiros dias de março, seis meses após o início do pânico. Hoje, os preços das ações recuperaram grande parte de suas perdas. A Bovespa é um dos melhores exemplos dessa mudança: no momento em que escrevo ao leitor da Folha, as ações estão sendo negociadas a um valor 70% superior ao de um ano atrás e 135% em relação ao auge da crise. Mas mesmo com essa extraordinária recuperação o índice Bovespa ainda está 4% abaixo do valor que prevalecia em setembro de 2008, antes do colapso do banco Lehman Brothers. Embora os mercados de ações nos países mais ricos não tenham tido o mesmo comportamento das chamadas nações emergentes, como o Brasil, sua recuperação foi também expressiva. O índice S&P da Bolsa de Nova York subiu 26% nesse intervalo de um ano, mas ainda está quase 10% abaixo do momento da crise. Esses números mais modestos estão associados a uma queda bem menos intensa do que a verificada nos chamados mercados emergentes. Essas mudanças de humor dos investidores refletem o fim do pânico a partir do terceiro trimestre do ano passado. A ação corajosa e agressiva dos governos e de bancos centrais do mundo todo conseguiu vencer o clima de desespero que prevaleceu em boa parte do ano de 2009. Os analistas estão olhando para 2010, principalmente no mundo desenvolvido, com dúvidas e preocupação, mas não mais com desespero. As questões discutidas hoje estão colocadas no campo da racionalidade e não mais no das emoções. A hipótese de um novo mergulho no abismo da depressão econômica, talvez com exceção do Japão, não está mais na pauta da grande maioria dos analistas. E os bancos centrais do mundo emergente já estão sinalizando, de maneira muito clara, a volta de uma política monetária mais restritiva. Ontem, para surpresa de muitos, o Banco da China provocou uma pequena elevação nas taxas de juros do mercado monetário. Em 2010, ficará mais evidente a existência de um mundo que se move a duas velocidades e que muitos teimam em não aceitar. De um lado, as nações desenvolvidas, ainda envoltas em desequilíbrios sérios e dependendo do apoio dos governos para manter um crescimento medíocre em relação a seu potencial. Provavelmente, principalmente nos Estados Unidos, terão de realizar um segundo movimento de estímulos fiscais para evitar uma recaída. De outro, as nações emergentes voltando a crescer perto de seu potencial e reduzindo a distância que as separa das economias mais ricas. A China, por exemplo, já é a maior exportadora do mundo e a maior produtora de automóveis, deixando Alemanha e Estados Unidos para trás. LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS , 66, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso). ---------------------------Folha de S.Paulo 08 01 2010 VINICIUS TORRES FREIRE A nova farra da finança Há quem diga que a alegria começa a acabar antes de meados deste ano, mas Roubini crê no vigor da bolha "SE 2008 foi o ano da crise financeira e 2009 foi o ano de remediá-la por meio de estímulos monetários e fiscais, 2010 deve ser o ano das "estratégias de saída", durante o qual os investidores deveriam levar em conta os fundamentos econômicos e que os mercados de ativos em breve terão seus preços determinados em um mundo que será menos influenciado pelos governos." Isso é Bill Gross, diretor da Pimco, um das maiores firmas de gestão de investimentos do planeta, a maior em renda fixa, em sua "carta mensal" deste mês. Não soa como grande novidade, aparentemente. Mas Gross vive no miolo da finança mundial. Ainda mais interessante, há quem diga coisas diversas. O oráculo da catástrofe de 2008, Nouriel Roubini, acredita que a farra ainda deve continuar em 2010. Ou seja, 2010 ainda seria um ano de grande liquidez (dinheiro de sobra e juros baixos em países ricos), de empréstimos baratos em dólar para especular com moedas de países de juros maiores e produtores de commodities (Austrália, Brasil etc.), de alta também nos mercados de commodities. Gross acha que essa história vai começar a acabar logo. Em 2008 e em 2009, o conjunto dos governos do G7 aumentou sua dívida em 20% do valor do PIB desses países. Os governos se endividaram para salvar instituições financeiras e estimular o consumo. O grosso do financiamento, no fim das contas, veio dos bancos centrais, em especial nos EUA e no Reino Unido, o que popularmente é chamado de "imprimir dinheiro". Além disso, o Fed, o BC americano, na prática se tornou o grande banco dos EUA no período, garantindo ou comprando dívida privada. Os papagaios nas contas dos BCs americano e britânico cresceram em valor equivalente a quase 20% dos PIBs de seus países, "nível da Depressão dos anos 1930". Isso não pode continuar mais por muito tempo, acredita o financista. Para Gross, o Fed vai começar a desmontar o esquema de "assinar cheques" à larga por volta de março. Sem o apoio dos BCs, governos terão de apertar os cintos e/ou convencer o mercado a financiá-los a taxas razoáveis, o que não é líquido e certo, escreve Gross. Num caso ou noutro, será sugado o dinheiro que inundou os mercados e elevou os preços de Bolsas e de outros ativos de risco. Ou seja, em março acabaria o mamão com açúcar nos mercados financeiros, diz o financista. Os livros de finanças ficaram bem desmoralizados em 2008, mas os de macroeconomia nem tanto. Um consenso mínimo -e beabá dos macroeconomistas- é que megadívidas públicas não desaparecem sem dor. Acabam em inflação ou em apertos fiscais (corte de gastos ou alta de impostos), ambas com impacto no crescimento econômico. Um programa organizado e crível, de médio prazo, de redução de dívida pode parcelar o sofrimento em prestações menores, digamos. Se Roubini estiver certo, continua a ser inflada alguma coisa parecida com uma bolha, não só por causa do financiamento barato da festa do mercado. Grandes instituições financeiras se sentem cada vez mais à vontade para voltar ao "business as usual". Confiam no colchão dos governos caso tombem e, enfim, a ideia de reformas duras das leis da finança parece cada vez mais distante. ---------------------------Folha de S.Paulo 08-01-2010 China sinaliza que vai subir taxa básica de juros BC eleva taxa de título após anunciar que manterá maior controle sobre crédito Governo teme o estouro de bolhas, principalmente no setor imobiliário, em que os preços não param de crescer em cidades como Xangai RAUL JUSTE LORES DE PEQUIM O banco central da China elevou a taxa de juros de seus títulos de três meses pela primeira vez desde agosto, confirmando que pretende controlar o excesso de liquidez e indicando que vai aumentar a sua taxa de juros básica (que está inalterada desde o fim de 2008). A decisão ocorreu um dia após a entidade anunciar que manterá maior controle sobre o crédito. O temor de que um aumento da taxa de juros esteja a caminho provocou queda em várias Bolsas de Valores asiáticas - a de Xangai caiu ontem 1,9%. Além de começar a desacelerar a concessão de crédito que marcou o programa de estímulo da economia chinesa no ano passado, o governo teme a volta da inflação e o estouro de bolha no setor imobiliário. O Banco do Povo da China, seu nome oficial, vendeu títulos de três meses a 1,3684%, 4,04 pontos-base acima dos da semana passada, nível mantido nos últimos quatro meses. A perspectiva de uma política mais dura afetou, além das Bolsas, o preço de commodities, já que investidores acreditam que os freios na economia reduzirão o apetite do país por matérias-primas como ferro e cobre. A China é o principal importador de produtos brasileiros -95% das exportações brasileiras para o país são formadas por matérias-primas. Economia reaquecida As medidas indicam que o BC chinês enxerga que a economia do país já voltou ao ritmo necessário de crescimento e que são necessários alguns ajustes. De janeiro a novembro, os bancos estatais chineses concederam 9,2 trilhões de yuans em créditos (R$ 2,3 trilhões, equivalente a 80% do PIB brasileiro). Estima-se que o crédito em 2009 tenha sido 2,5 vezes o total de créditos do ano anterior. Em 2010, bancos estatais chineses estimam que o crédito fique em 7 trilhões de yuans, ainda bem acima dos 4 trilhões de 2008 -os freios serão suaves porque a recuperação econômica ainda tem seus percalços. O governo teme o estouro de bolhas, principalmente no setor imobiliário, em que os preços não pararam de aumentar nas grandes cidades. Há centenas de prédios de escritório e residenciais de luxo em Pequim e Xangai vazios, por conta da especulação. Nos últimos oito meses, as reservas do BC aumentaram 1,6 trilhão de yuans (cerca de R$ 400 bilhões), enquanto passivos como títulos, bônus e requerimentos de reserva praticamente não mudaram. Anteontem, o presidente do banco central, Zhou Xiaochuan, disse que seu alvo é moderar o crescimento de empréstimos em 2010, depois da expansão do ano passado. Crédito para setores da indústria que já estão com capacidade excessiva serão os mais controlados. --------------------------------- Valor Econômico 08 01 2009 Riscos de 2010 Armando Castelar Pinheiro O ano começa com uma considerável dose de otimismo, aqui e lá fora. Com a atividade em alta, baixa inflação, a situação dos bancos aparentemente sob controle e os mercados de dívida e ações novamente em ebulição, se generaliza a percepção de que a crise não foi, afinal, tão diferente das anteriores, no sentido de que, após o choque inicial e as respostas de política econômica, a economia está voltando com rapidez ao seu patamar anterior. Nesse quadro, a direção mais ou menos universal de recuperação tem pesado mais do que as disparidades que persistem entre os países. Assim, as economias são vistas como em distintos estágios de um mesmo processo de retomada, liderado pela Ásia, em especial China e Índia, vindo em seguida a maioria dos países em desenvolvimento e, no fim, os EUA, a área do Euro e o Japão. Mantida essa tendência, já em 2011, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), o desempenho relativo dos países em desenvolvimento e desenvolvidos terá retornado ao padrão pré-crise, o mesmo ocorrendo com o crescimento do PIB mundial. Por trás desse otimismo de consumidores, empresários e investidores está uma renovada confiança nas autoridades e a convicção de que a política econômica tem antídotos suficientes contra novos choques, garantindo a continuidade da atual recuperação. Tanto internacional como domesticamente, porém, há fatores que podem causar, senão uma completa frustração, pelo menos turbulências nesse cenário. Ironicamente, alguns desses riscos se relacionam, pelo menos em parte, com os instrumentos de política econômica utilizados no enfrentamento da crise. Lá fora, os desafios principais serão o manejo das políticas de estímulo à demanda doméstica e a situação das contas e da dívida pública. O desafio fiscal se relaciona ao papel do setor público em facilitar a desalavancagem de bancos, famílias e empresas e evitar uma queda ainda maior da demanda agregada, num contexto em que o consumo e o investimento privado colapsaram, conforme as fontes de financiamento secavam, muita riqueza desaparecia e o desemprego subia. Assim, a contração da demanda privada encontrou sua imagem especular na alta do déficit público, não só por conta dos programas discricionários de gastos e isenções, mas também pela queda das receitas tributárias, reflexo da redução da renda e do gasto privado. Não por outra razão, os países que maiores booms de consumo e bolhas de ativos registraram, como Espanha, Irlanda, EUA e Reino Unido, também estão entre os com maior deterioração das contas fiscais. Esses déficits têm um impacto direto sobre a dívida, cujo atual ritmo de expansão é insustentável. Isso significa que os programas de estímulo fiscal não podem ser mantidos por muito tempo; por outro lado, o seu fim terá um impacto negativo importante sobre a economia. Infelizmente, será tão mais custoso mantê-los quanto mais necessários esses forem, o que aumenta a chance de cenários polares para a situação fiscal: em um, a demanda privada se recupera com rapidez, a receita tributária sobe, o déficit diminui e os programas de estímulo são descontinuados; em outro, o oposto se dá e a dívida cresce rapidamente. Quanto mais esta subir, maior a necessidade de aumentar os impostos no futuro e menor o potencial de crescimento, o que tornará o processo de ajuste fiscal mais doloroso. Na área monetária, as autoridades enfrentam um dilema semelhante. Caso se precipitem em elevar os juros básicos, podem enfraquecer a demanda privada antes que essa tenha se recuperado o suficiente, recolocando a economia numa trajetória recessiva. Se demorarem demais para apertar a política monetária, os juros de longo prazo vão subir, com a expectativa de mais inflação e de o Banco Central precisar aumentar mais os juros no futuro, para trazer a inflação de volta à meta. A alta dos juros longos trará prejuízos consideráveis aos bancos, crescentemente carregados desse tipo de papel, e elevará o custo das hipotecas, o que também refreará o crescimento. Para evitar esse resultado, as autoridades monetárias podem optar por manter os programas de compra de títulos de dívida, que em princípio serão descontinuados no primeiro semestre de 2010. Isso aumentaria o risco de bolhas e tornaria mais custoso reverter essa política no futuro. É razoável esperar, portanto, que o mercado de dívida soberana, cujos níveis de emissão são recordes (US$ 12 trilhões em 2009), ofereçam riscos importantes em 2010. O exemplo da Grécia ilustra os problemas que podem ocorrer. Especialmente com as agências de classificação de risco mais conservadoras, num esforço para recompor sua reputação, a possibilidade de rebaixamento na classificação de risco de países com dívidas e déficits públicos elevados é grande. Isso poderia colocar esses países numa situação crítica, de precisar conviver com um quadro recessivo por um longo tempo, aumentando o risco político de ruptura. A recusa do presidente da Islândia em assinar o acordo de pagamento de dívida com os governos inglês e holandês esta semana ilustra a natureza desse risco. Seu impacto sobre a economia mundial será pequeno enquanto se tratar de Grécia e Islândia, mas pode ser dramático se os problemas ocorrerem em economias maiores. No Brasil, o risco maior é de natureza política. Uma face do problema estará na gestão da política econômica, especialmente, mas não só, na área macroeconômica. Em particular, pela possibilidade de um aquecimento da demanda doméstica muito além do sustentável no longo prazo, o que resultaria em pressões inflacionárias e numa grande alta no déficit externo; nos dois casos, sinalizando a necessidade de ajustes fortes e mais volatilidade no futuro. Isso será especialmente ruim se vier associado, como em 2009, a um comprometimento permanente com novas despesas correntes. A outra face desse risco vai estar no debate eleitoral e nas propostas de política econômica para a próxima administração. Caso essas coloquem em dúvida a manutenção do tripé metas de inflação, razão dívida pública / PIB estável e câmbio flutuante, o mercado reagirá e o ano pode ser menos tranquilo do que parece visto de hoje. Armando Castelar Pinheiro, analista da Gávea Investimentos, é professor do IE/UFRJ. ---------------------------Folha de S.Paulo - 08/01/2010 Recuperação judicial dobra, mas falências têm queda A crise mais do que dobrou o número de empresas que, para evitar a falência, entraram na Justiça com pedido de recuperação judicial, o mecanismo de proteção contra a execução de dívidas que substituiu a concordata após a Lei de Falências, de 2004. Por outro lado, o número de falências decretadas caiu no ano passado -foram 908 falências decretadas após 969 casos no ano anterior, segundo pesquisa da Serasa. Para Carlos Henrique de Almeida, assessor econômico da Serasa Experian, a redução nas falências ocorreu porque as empresas optaram pela recuperação judicial. "A lei passou pelo teste da crise e atingiu o objetivo pelo qual foi criada, de manter os negócios [funcionando] e preservar os empregos." No ano passado, as empresas deram entrada a 670 pedidos de recuperação judicial. Em 2008, houve 312 requerimentos encaminhados. Dos 670 pedidos protocolados, só 492 foram deferidos -em 2008, foram 222. Para Luiz Galeazzi, vice-presidente da TMA (associação dos profissionais de recuperação judicial), o descompasso entre pedidos encaminhados e deferidos mostra que uma parcela das empresas não consegue fazer um pedido consistente, com chance de ser aprovado. "O processo não é barato. Precisa de uma boa assessoria jurídica e empresarial. Uma pequena empresa dificilmente consegue ter acesso a isso. Essas empresas também não têm a sua contabilidade bem estruturada." As micro e pequenas empresas fizeram 365 pedidos de recuperação judicial em 2009, mas só 237 foram aceitos. Dos 108 pedidos das grandes empresas, 93 foram aceitos. ------------------------------ Brasil terá 2 milhões de empregos a mais este ano Brasil Econômico - 08/01/2010 A economia brasileira deve crescer em torno de 7% em2010 e a geração de empregos passará de 2 milhões, em vista do avanço da economia, que começará a ser sentido logo nos primeiros meses do ano. A estimativa é do ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi. Para ele, a previsão dos analistas de crescimento de6% “é modesta”. Em entrevista ao programa Boa Dia, Ministro, no estúdio da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), ontem, Lupi lembrou que a previsão feita sobre a criação de 1 milhão de empregos em 2009 se cumpriu e disse que está pronto para ser cobrado no final deste ano quanto à previsão que faz para 2010. O ministro afirmou que, enquanto os Estados Unidos comemoram apenas a redução de demissões, o Brasil festeja a geração de empregos. Segundo ele, no ano passado o país superou internamente os efeitos da crise internacional graças ao grande mercado consumidor. Lupi afirmou que o setor de serviços vai começar a puxar a oferta de postos de trabalho neste ano. O comércio terá grande impulso, assim como a indústria, que não foi bem no ano passado mas que está com os estoques zerados e por isso deve começar logo a aumentara produção. Para o ministro, a reação do setor produtivo no início de2010 será uma inversão da tendência do que normalmente ocorre nos primeiros meses de cada ano. Seguro-desemprego Os pagamentos de benefícios do seguro-desemprego atingiramem2009 o valor recorde de R$ 19,57 bilhões, informou Carlos Lupi. Também foi histórico o número de trabalhadores beneficiados pelo sistema, que somou 7, 753 milhões de pessoas. Em 2008, o seguro-desemprego teve desembolsos totais de R$14,718 bilhões, beneficiando 7,1milhões de trabalhadores. Esse crescimento, disse o ministro, ocorreu por causa do aumento do desemprego e também do maior valor do salário mínimo no ano passado. Mas Lupi acredita que neste ano o volume de trabalhadores que receberá o seguro-desemprego será menor do que em 2009, por causa da estimativa de geração de empregos formais, embora, em volume financeiro, o ministro ressalte que os desembolsos continuarão crescendo. ----------------------------------- O fico argentino Celso Ming - O Estado de S.Paulo - 08/01/2010 A demissão do presidente do Banco Central da República Argentina, Martín Redrado, pela presidente da Argentina, Cristina Kirchner, revela a fragilidade política do clã dos Kirchners, mas é, também, uma oportunidade para entender melhor o que significa a autonomia operacional de um banco central. Primeiramente, os fatos. O governo argentino esperou que o Congresso entrasse em recesso para baixar, em 14 de dezembro, um decreto com força de lei pelo qual determinava que o Banco Central repassasse ao Executivo o equivalente a US$ 6,6 bilhões das reservas externas argentinas (de um total de US$ 48 bilhões) para o Fundo do Bicentenário para o Desendividamento e a Estabilidade, com objetivo declarado de resgatar títulos de dívida pública externa. Redrado entendeu que o decreto contrariava a Constituição na medida em que usava reservas monetárias para cobrir despesas correntes. Por isso, em vez de obedecer prontamente à determinação presidencial, decidiu submeter a matéria a análise jurídica. Por entender que Redrado estava resistindo ao cumprimento do decreto, Cristina pediu sua renúncia. Redrado avisou que não pretendia deixar o cargo uma vez que seu mandato expiraria dentro de seis meses. Na Argentina, a nomeação do presidente do Banco Central é referendada por uma comissão do Senado, mas, valendo-se do recesso parlamentar, Cristina o demitiu. O desfecho não acabou com a crise política. O Executivo argentino aparentemente já conseguiria arrancar pelos trâmites normais a destituição de Redrado. De 2002 agora, o Banco Central argentino teve seis presidentes e nenhum deles terminou mandato. É preciso ver como o Senado reagirá agora ao fato consumado. Mesmo se reagir, parece difícil que o governo consiga reverter sua perda de autoridade. não até seu não Do ponto de vista institucional, foi atropelado o estatuto da autonomia do Banco Central, exigência de um Estado moderno cujo objetivo é garantir condições para o fortalecimento do patrimônio econômico mais importante de um país, que é a sua moeda. Deixar a guitarra monetária nas mãos dos políticos, que adoram gastar, é uma temeridade, como já começou a acontecer na Argentina. A autonomia do Banco Central poderia não ser reconhecida, como acontece em muitos países. No entanto, na Argentina ela está assegurada pela Carta Orgânica do Banco Central. No caso da alocação das reservas argentinas, há enormes evidências de que se trata de financiamento de despesas correntes com recursos monetários. O objetivo declarado da operação é resgatar títulos do Tesouro argentino, que foram emitidos no passado para dar cobertura a esse tipo de gastos. Não bastasse isso, como informou o diário La Nación, o orçamento aprovado deste ano já prevê recursos suficientes para o pagamento da dívida. Por aí se vê que o objetivo real desse fundo é garantir mais recursos para a gastança oficial do governo central argentino. No Brasil, a autonomia operacional do Banco Central não está sacramentada em lei. Pelo menos nos últimos dez anos, ela prevaleceu de fato. Mas muita gente por aqui prega a submissão da instituição às decisões dos políticos. O que está acontecendo na Argentina é boa ocasião para repensar o assunto. Sem corrida - Em 2009, o saldo das cadernetas aumentou 17,9%. A redução dos juros básicos na economia deixou a caderneta mais atraente, mas não houve o esvaziamento dos fundos de renda fixa que o ministro Mantega chegou a temer. ------------------------------ Aperto chinês e 'payroll' inquietam Luiz Sérgio Guimarães - Valor Econômico - 08/01/2010 Os mercados globais ficaram ontem apreensivos com as notícias vindas da China. O Banco do Povo (o BC deles) iniciou um movimento, na aparência tímido, de contenção do crédito. Vendeu bônus equivalentes a US$ 8,8 bilhões com prazo de três meses por taxa de 1,3684%. O aumento da remuneração foi pequeno, já que a taxa estava congelada em 1,3280% desde 13 de agosto. A autoridade chinesa não mexeu no juro básico que cobra em empréstimos, de 5,31%, mais o movimento de ontem tem jeito de ser apenas o início do que parece ser um ciclo de aperto monetário mais severo. O desafio é delicado, requer paciência chinesa: moderar o crescimento movido a crédito potencialmente inflacionário, sem desacelerar demais a economia. Mas e se o banco errar na dose e provocar um desaquecimento mais intenso? Essa é a grande fonte de preocupação dos investidores. Na dúvida, trataram de vender parte dos ativos (commodities, petróleo, ações, bônus e moedas de países emergentes) que perderiam valor com o declínio chinês e a comprar dólar. O mercado brasileiro não escapou desse deslocamento, embora os números de fechamento tenham mostrado um pessimismo sob controle. O dólar fechou em alta (a terceira em sequência) de 0,34%, cotado a R$ 1,7450. O contrato mais negociado no mercado futuro de juros da BM&F, com vencimento na virada do ano, permaneceu estável em 10,33%, mas chegou a subir para até 10,36% no momento de maior aflição. No entender dos economistas do Bradesco, a decisão do BC chinês sinaliza para os bancos custos de captação mais elevados, "o que deverá implicar condições monetárias e creditícias mais apertadas ao longo de 2010, como forma de conter a aceleração do ritmo do crescimento, impulsionado fortemente pelo crédito no ano passado que começa a gerar preocupações com possíveis pressões inflacionárias ao longo deste ano", dizem, em relatório. Em julho do ano passado, diante da expressiva expansão de crédito observada no primeiro semestre do ano passado, o Banco do Povo chegou a subir a taxa em 0,363 ponto. E parou por aí. Vai fazer o mesmo agora, em mais um arremedo infrutífero de segurar a demanda por crédito? Os investidores agressivos que adoram pular de bolha em bolha, torcem para que sim. De qualquer forma, como resultado da medida, a Bolsa da China caiu ontem 1,89%, puxada por papéis de instituições financeiras e montadoras de veículos. A alta experimentada pelos juros futuros durante a maior parte do dia foi indevidamente atribuída ao susto chinês. Na verdade, a reação imediata dos CDIs a um arrocho monetário danoso ao crescimento chinês deveria ser de queda. Afinal, a moderação da arrancada chinesa iria segurar a brasileira, as exportações recuariam e a inflação não teria como subir mesmo que houvesse um repique na cotação do dólar. Não há como repassar câmbio depreciado aos preços se o consumidor não sancionar. A justificativa para a puxada nos juros é outra. E tem mais a ver com a divulgação, hoje, do "payroll", o relatório oficial sobre o mercado de trabalho americano. O prognóstico é de que possa ser anunciada a primeira criação de empregos em dois anos. Isso irá aumentar a pressão para que o Fed suba o juro básico para pelo menos 0,50%, nem que seja só no terceiro trimestre. Mas, se houver a certeza de que será feito este ano, já será suficiente para provocar mudanças profundas nos portfólios. E podem ser tão profundas que dispensem a adoção pelo governo chinês de novos óbices ao crescimento. A divulgação anteontem e ontem de indicadores que funcionam como uma preparação do mercado para o "payroll" - como a pesquisa ADP e o número de pedidos de auxíliodesemprego - indicou o caminho da alteração de portfólios. Os pedidos de segurodesemprego somaram 434 mil na semana terminada no dia 2 do mês, com alta de apenas mil relativamente à semana precedente, aquém das expectativas (8 mil novas solicitações). Na Europa, os mercados deram mais atenção ao ensaio de aperto na China do que aos indicadores positivos locais. O índice de confiança da zona do euro avançou 2,5 pontos em dezembro, para 91,3 pontos, sinalizando para melhora acentuada da economia da região. A alta contínua do dólar não combina tecnicamente com o desmonte das posições compradas em dólar carregadas por hedge funds nos mercados de derivativos cambiais da BM&F. O posicionamento cedeu de US$ 7,25 bilhões no último dia de 2009 para US$ 6,94 bilhões no primeiro de 2010, US$ 6,55 bilhões no dia 5 e US$ 6,28 bilhões no dia 6. Se a moeda está se valorizando à vista porque o interesse em desmanchar as operações futuras? Mas não se deve esquecer que, com o dólar em alta, o desfecho do negócio é mais lucrativo. ------------------------------ Mais um grande banco vai emitir cartão do BNDES Maria Cristina Frias, Mercado Aberto - Folha de S.Paulo - 08/01/2010 Nos próximos meses, um grande banco deve começar a emitir o cartão do BNDES, que oferece financiamento para compras de micro, pequenas e médias empresas. A informação é de Rodrigo Bacellar, chefe do departamento de operações por internet do banco estatal, que afirma ainda não poder divulgar o nome da instituição. Em 2009, dois novos bancos, Nossa Caixa e o Banrisul, passaram a emitir o cartão. Até então, o BNDES contava com Banco do Brasil, Bradesco e Caixa Econômica Federal. O processo para aumentar a quantidade de instituições emissoras vai auxiliar no crescimento das operações do cartão BNDES, que desembolsou R$ 2,5 bilhões em 174 mil operações de financiamento para micro, pequenas e médias empresas no ano passado. O valor, que representou um crescimento de 193% ante 2008, segundo o banco, foi puxado pelo aumento do prazo de financiamento, de 36 para 48 meses, pela ampliação do limite de crédito, de R$ 250 mil para R$ 500 mil, e pela redução da taxa de juros, que hoje é inferior a 1% ao mês. A escassez do crédito provocada pela crise também contribuiu para o crescimento da modalidade, segundo Bacellar. "No pico da crise, muitos bancos reduziram seus limites de crédito, e as empresas que acessavam linhas tradicionais buscaram alternativas." Com o cartão do BNDES, o empresário não recebe dinheiro, e sim um limite de crédito que pode ser usado para a aquisição de cerca de 200 mil itens disponíveis no portal de internet do banco, inclusive material de construção. Para 2010, a meta é que o cartão alcance R$ 4 bilhões em mais de 260 mil financiamentos, impulsionado pelo aumento do limite de crédito para R$ 1 milhão e pela participação dos novos bancos. NOS TRILHOS A ALL (América Latina Logística) procura parceiros para viabilizar o transporte ferroviário com contêineres em dois andares, o que permitirá à empresa ampliar a movimentação das cargas que saem de Santos. Para desenvolver o modelo, já adotado desde os anos 90 nos Estados Unidos, serão necessárias reformas nos túneis das rotas para o litoral e nos próprios vagões. "Menos de 1% dos contêineres que chegam em Santos hoje são transportados por trem", afirma Bernardo Hees, presidente da companhia. O investimento total da empresa em 2010 será de mais de R$ 700 milhões, necessário para atingir a média histórica de 10% de crescimento da ALL. Hees diz que a companhia tem aumentado a participação no transporte de mercadorias que, em sua grande parte ainda é feito por caminhões. "Ganhamos participação na crise econômica, pois muitas empresas buscaram as ferrovias para cortar custos", afirma Hees. "Minha vida é tirar caminhões das estradas", diz, sobre o esforço por incrementar a clientela. GAROTO-PROPAGANDA A fabricante de casacos Weatherproof Garment instalou na Times Square, em Nova York, na quarta-feira, um outdoor cujo garoto-propaganda é Barack Obama, aparentemente vestindo um de seus produtos. Mas o presidente dos EUA nunca posou para a campanha publicitária. A foto foi licenciada pela agência de notícias Associated Press, segundo o "New York Times". A imagem foi tirada durante visita de Obama à China, em novembro. A história desagradou a Casa Branca, que pediu para a companhia retirar o anúncio. Além do outdoor, a empresa afirma que também tentou veicular a imagem em outras publicações como "New York Times" e "New York Post", mas as empresas recusaram o anúncio. A Associated Press informou que a taxa pela licença da fotografia foi devidamente paga, mas que a permissão para as licenças de imagem é obrigação da compradora. O presidente da Weatherproof, Freddie Stollmach, diz que, com a campanha, a empresa não pretende afirmar que Obama endossa os produtos da marca. A Weatherproof é famosa por sua publicidade polêmica. LICITAÇÕES ON-LINE O sistema de comércio eletrônico desenvolvido pelo Banco do Brasil e usado pelo setor público para realizar compras e contratar serviços via internet movimentou R$ 15,2 bilhões em 2009, o que representa aumento de 30% sobre o ano anterior. NOVAS ESTRATÉGIAS A Allergan, da área farmacêutica e cosmética, acaba de nomear Nelson Marques, que era vice-presidente no Brasil e na América Latina, para o cargo de chairman para a América Latina. Quem assume as funções de Marques é o economista Arno Habicht, que trabalha há 20 anos na empresa. PRESIDÊNCIA 1 O Conselho Federal de Contabilidade tem novo presidente. O catarinense Juarez Domingues Carneiro assumiu ontem o cargo e passa a liderar 410 mil profissionais e 72 mil organizações contábeis. PRESIDÊNCIA 2 O registrador imobiliário Francisco José Rezende dos Santos, de Belo Horizonte, acaba de assumir a presidência do Irib (Instituto de Registro Imobiliário do Brasil). É a primeira vez na história do instituto, fundado em 1974, que um mineiro estará no comando. Helvécio Castello deixa o cargo após três anos de gestão. ------------------------------------Brasil Econômico - 08/01/2010 Chega ao Brasil o banco de microcrédito da Índia Ao abrir as portas do sistema financeiro para os pobres, o indiano Muhammad Yunus, fundador do Grameen Bank, a primeira instituição financeira especializada em microcrédito, ganhou notoriedade mundial - incluindo filiais em 44 países e um Nobel da Paz, em 2006. Agora, é a vez do Grameen Bank abrir suas portas no Brasil. A empreitada está sendo capitaneada pelo administrador Henrique Flory, recrutado por Yunus durante o primeiro semestre de 2009, em Boston, quando concluía um mestrado em políticas públicas e empreendedorismo. Flory e outras duas pessoas (uma no Rio de Janeiro e outra no Amazonas) estão conversando, no momento, com empresas que possam vir a se tornar potenciais doadoras para um fundo de US$ 6 milhões que está sendo formado. Segundo uma fonte do mercado que preferiu não ser identificada, a construtora Odebrecht estaria nessa lista. Concluída a captação do fundo, será dada a partida para as operações no Brasil, previstas para começarem ainda neste ano. A ideia inicial é trabalhar com bolsões de pobreza localizados na região amazônica, no Nordeste e em São Paulo. A meta de Flory é que o fundo alcance, em 2012, um montante de R$ 50 milhões. São esses os recursos que serão convertidos em microcrédito. O valor dos empréstimos deve variar de R$ 300 a R$ 2 mil, e a taxa de juro tende a ser fixada em torno de 1,5% ao mês. O resultado operacional da atividade cobre as despesas administrativas e o lucro líquido é redistribuído entre os tomadores de forma proporcional - fórmula adotada pelo Grameen em todo o mundo. Desde que foi criada, em 1983, a instituição já concedeu US$ 8 bilhões em crédito, atendendo a 7,84 milhões de pessoas. Detalhe: o índice de inadimplência é de apenas 2%. No microcrédito não há exigência de garantias, seja alienação fiduciária ou depósito caução. Como o banco não recorre à Justiça em caso de calote, também não é necessária assinatura de contrato. Mas como assegurar a viabilidade de um negócio que, aparentemente, dispensa qualquer tipo de proteção? Na opinião de Flory, boa parte do sucesso do Grameen na concessão de crédito se deve ao modelo de gestão criado por Yunus. São procedimentos rígidos, que incluem desde pagamentos semanais até priorização do atendimento ao público feminino, que hoje representa 97% dos clientes do banco. O tradicional gerente de banco, que no microcrédito dá lugar à figura do agente de crédito, profissional encarregado não só de conceder empréstimos mas, sobretudo, zelar pelo bom uso dos recursos, será “importado” de Bangladesh, num primeiro momento, para atuar no Brasil. “Esses agentes terão aula de português e ficarão encarregados de fazer a triagem dos tomadores”, adianta Flory, que não soube precisar, porém, o número de pessoas que virá para cá com essa missão. Feitos os trabalhos iniciais, é provável que os indianos passem a treinar brasileiros para dar prosseguimento à empreitada. “A oferta de microcrédito é um dos fatores cruciais para estimular o empreendedorismo, sendo mais eficaz que simples ações de incentivo tributário”, ressalta Flory, autor do livro Transformando Necessidades em Oportunidades - políticas públicas de apoio ao empreendedorismo para as classes sociais de baixa renda. ------------------------------ Empresa nacional exporta só 15% em altamanufatura Valor Econômico - 08/01/2010 As empresas brasileiras - tanto as de capital nacional como as multinacionais - estão encontrando dificuldades para manter as exportações de manufaturados de maior valor agregado. Depois de cair de 35,7% em 2003 para 28,5% em 2008, a participação desse segmento nas vendas externas das empresas que exportam acima de US$ 10 milhões por ano encolheu ainda mais em 2009, ficando próximo a 25%, segundo estudo e estimativa da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), com base em dados oficiais, mas usando uma estatística que olha apenas os manufaturados que não são commodities. Ela exclui vários tipos de aço, suco de laranja, açúcar refinado, óleo combustível e etanol, entre outros bens. Embora a perda das companhias nacionais seja proporcionalmente menor que a das multinacionais no mercado externo de manufaturados ao longo dos últimos cinco anos, o encolhimento ameaça a presença brasileira, pois em 2008 apenas 15% das vendas externas das companhias nacionais eram desse tipo de manufaturado, enquanto os 85% restantes eram de commodities, agrícolas ou industriais. A queda foi de 3,4 pontos percentuais. Nas multinacionais, a queda entre 2003 e 2008 atingiu 10 pontos, mas 50% das vendas dessas empresas ainda são de manufaturados. Os dados fazem parte de um estudo analítico das exportações brasileiras preparado por José Augusto de Castro, vice-presidente da AEB, com base na Secretaria de Comércio Exterior (Secex). "A conclusão é que a empresa tipicamente brasileira, controlada por capitais nacionais, não tem condição de exportar [produtos de maior valor agregado] em função do câmbio. Já a multinacional estrangeira tem mais flexibilidade", diz Castro. O trabalho mostra que a participação das exportações de manufaturados nas vendas externas das empresas de capital nacional vem tendo seguidas quedas, em especial em função do câmbio. Em 2003, os manufaturados representavam 18,40% das exportações desse grupo de empresas nacionais - a série utiliza sempre as empresas que exportam acima de US$ 10 milhões por ano. O percentual caiu para 17,60% em 2005 e atingiu 14,98% em 2008. Em contrapartida, aumentou a participação das commodities nas exportações dessas empresas. Ela saltou de 81,60% em 2003 para 85,02% em 2008. Entre as empresas estrangeiras, esse movimento aconteceu com maior vigor, mas o peso dos manufaturados é maior no conjunto das vendas externas. A participação das commodities nas exportações das multinacionais saiu de 41,34% em 2003 para 50,35% em 2008. "Essa mudança pode indicar, isoladamente ou em conjunto, desnacionalização no setor de commodities ou perda de competitividade das exportações de manufaturados", diz Castro no estudo. Para a análise, ele considerou 20.408 empresas listadas pelo Mdic/Secex que fizeram exportações em 2008. Desse universo, ele selecionou 1.376 empresas que exportaram individualmente acima de US$ 10 milhões naquele ano. Juntas essas empresas (nacionais e estrangeiras) responderam por 91,16% das exportações brasileiras, em valores, em 2008. Das 1.376 empresas pesquisadas, 60,61% tinham capital nacional e 39,39% eram controladas por estrangeiros. Em valores, também houve predominância das empresas de capital nacional, que somaram 60,94% do total. Em 2008, as empresas estrangeiras com exportações acima de US$ 10 milhões responderam por 68% das exportações de manufaturados, enquanto as nacionais foram responsáveis por 32%, em valores. Nas commodities, o quadro se inverte: as nacionais responderam por 72,5% das vendas externas, e as estrangeiras ficaram com a parcela restante - 27,5%. Os produtos exportados foram separados em três categorias: commodities agropecuárias, incluindo soja, café, carnes, cacau e os derivados desses produtos, além de suco de laranja, açúcar e etanol, entre outros; commodities metálicas e minerais, considerando-se petróleo e derivados, minérios, gusa e aço, entre outros, e manufaturados, categoria que inclui aviões, automóveis, caminhões, tratores, autopeças e máquinas e equipamentos, entre outros. Para 2010, Castro prevê que deve permanecer alta a concentração das exportações em poucas empresas e também será mantida a dependência das exportações de commodities. "É uma volta ao passado", avalia. A saída para enfrentar o problema passa, segundo ele, pela reforma tributária, pela redução de impostos e desburocratização das exportações, além maiores investimentos em infraestrutura. Dados do Mdic, que agrupam as commodities industriais como manufaturados, indicam que o peso desse segmento caiu para 43,7% em 2009 ante 46,8% em 2008. A participação dos produtos básicos, por sua vez, aumentou de 36,9% em 2008 para 40,7% em 2009. A fatia dos semimanufaturados permaneceu praticamente estável. Castro estima que no ano passado, mesmo tendo caído o número de empresas que exporta acima de US$ 10 milhões, permaneceu forte a concentração das vendas externas, em valores, nesse conjunto de empresas. Ele estima o percentual em 90,5% das vendas externas do país no ano passado. ----------------------------- Fundo do trabalhador tem primeiro déficit Folha de S.Paulo - 08/01/2010 Os gastos recordes com os pagamentos do seguro-desemprego e do abono salarial em 2009 levaram o FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) a registrar o primeiro deficit da sua história. O rombo de R$ 1,8 bilhão consumiu quase todo o ganho de R$ 2,4 bilhões que havia sido registrado pelo fundo no ano anterior. Com os efeitos da crise financeira internacional -que provocou uma onda de demissões a partir do último trimestre de 2008-, a principal despesa do FAT, que é o pagamento do seguro-desemprego, subiu 33%, alcançando expressivos R$ 19,571 bilhões. Já o gasto com o abono salarial aumentou 22% e atingiu R$ 7,280 bilhões. Enquanto isso, a arrecadação total cresceu apenas 5%. Formado basicamente por contribuições das empresas e pela remuneração obtida com aplicações no mercado financeiro, o FAT não conseguiu neutralizar a alta nos seus gastos. Desta vez, nem mesmo as receitas financeiras, que vinham ajudando a equilibrar a contabilidade do fundo nos últimos anos, resolveram o problema. A deterioração na saúde financeira do FAT preocupa porque o fundo é uma das principais fontes de recursos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) no financiamento do setor produtivo. Além disso, é do FAT que sai o dinheiro para pagar o seguro-desemprego e o abono salarial, despesas que, em última instância, precisariam sair do caixa do Tesouro. Em 2009, 7,7 milhões de trabalhadores recorreram ao seguro-desemprego. Outros 15,3 milhões de empregados com carteira assinada receberam o abono salarial anual. Treinamento A conta só não ficou pior porque o FAT praticamente não cumpriu suas funções com qualificação profissional e intermediação de emprego em 2009. Os gastos nessas áreas despencaram 70% e 66%, respectivamente, ante 2008. "Houve contingenciamento dos recursos e somente no final do ano foram liberados quase R$ 200 milhões, que foram empenhados e serão gastos neste ano", explicou o ministro Carlos Lupi (Trabalho). Otimista, o ministro garante que a situação deficitária do FAT será superada em 2010. Ele diz que não há risco de o FAT consumir suas reservas técnicas de cerca de R$ 15 bilhões com novos resultados deficitários. O governo usa essas reservas para cobrir eventuais resultados negativos do fundo. "O crescimento proporcional da arrecadação será maior do que o das despesas. Teremos em 2010 mais de 2 milhões de empregos gerados e vamos inverter isso [o deficit]", disse. Mas explicou: "Essa é a minha avaliação, não é a dos técnicos. Não quero comprometê-los". Alta rotatividade A concretização da aposta pessoal do ministro não é algo simples. Para reduzir os gastos com o pagamento de seguro-desemprego, o governo precisa principalmente encontrar uma solução para a alta rotatividade de mão de obra no país. Esse fenômeno é o maior responsável pelo crescimento anual nos gastos com o segurodesemprego. Além disso, há o impacto do aumento real do salário mínimo, que eleva os valores gastos com os benefícios. No caso do abono salarial, o aumento do mínimo faz ainda com que mais pessoas tenham acesso ao benefício, já que o alvo é o empregado formal que ganha o equivalente a até dois salários mínimos mensais. ----------------------------------- China e EUA disputam liderança em importações do Brasil em 2010 Brasil Econômico - 08/01/2010 A volta definitiva da liderança dos Estados Unidos no ranking dos maiores compradores dos produtos brasileiros ainda é incerta em 2010. Embora em dezembro passado o país tenha figurado como principal destino dos embarques após ter sido desbancado por sete meses consecutivos pela China, fatores como crescimento econômico e elevação dos preços das mercadorias no mercado internacional é que vão definir o páreo neste ano. O país asiático deverá seguir em um ritmo forte de expansão econômica. Já a economia americana ainda está propensa a alguns soluços. Aliado a isso, a expectativa de analistas é que o preço das commodities, principal produto do Brasil exportado aos chineses, deve aumentar mais do que o dos manufaturados. “A demanda da China por produtos básicos vai continuar intensa pelos próximos anos”, afirmou Sérgio Vale, economista- chefe da MB Associados. “O que ocorre neste momento específico está relacionado à recuperação mais rápida da economia dos Estados Unidos nos últimos meses”. Puxada econômica Como esse país consome produtos brasileiros de maior valor agregado, um impulso um pouco mais forte de importações faz diferença no montante financeiro. Essa mesma explicação se aplica à Argentina, que também encerrou 2009 como segunda colocada no consumo das mercadorias verde-amarelas, em especial manufaturados, no volume total de US$ 12 bilhões. “De qualquer maneira, não vejo uma liderança isolada e forte de apenas um país. Acho que teremos números consideráveis para ambos os países junto com a Argentina”, acrescentou Vale. O economista-chefe do banco Santander,Alexandre Schwartsman, difere da opinião sobre as importações chinesas do Brasil. Para ele, a China comprou muito no início de 2009, mas depois recuou. Nesse sentido, ele aposta que o país asiático não continuará puxando as exportações brasileiras para cima. Pelo contrário, as importações pesarão muito mais na balança comercial por conta da evolução da economia brasileira este ano. Aposta nos EUA Seja como for, o governo brasileiro não quer perder a janela de oportunidade aberta com a retomada econômica dos Estados Unidos, um mercado cobiçado mundialmente. O objetivo dos integrantes do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) é centrar fogo na recuperação do espaço perdido durante a turbulência internacional. Em 2009, houve um recuo de 42,4% nos embarques para o destino, com volume total de vendas de US$ 15,7 bilhões ante US$ 27,6 bilhões registrados no ano anterior. Há motivos de sobra para este esforço. Ao reconquistar o terreno, o Brasil venderá mais manufaturados e poderá reverter a tendência de queda desse item na participação das exportações, cujo percentual recuou a 43,7% no ano passado ante 46,8% em 2008. Além do fato de que produtos com maior valor agregado promovem a indústria local, gerando mais empregos em território brasileiro. Para tanto, juntamente com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), o MDIC vai intensificar as ações de promoção comercial, com incentivos para que empresários façam parte de grandes feiras e, inclusive, em eventos como da Fórmula Indy. Além da participação do secretário de Comércio Exterior, Welber Barral e do secretário-executivo, Ivan Ramalho, em uma série de encontros e reuniões naquele país. ----------------------------------- ECONOMIA & OUTRAS NOTÍCIAS Presidente do BC é demitido e crise se agrava na Argentina O Estado de S.Paulo - 08/01/2010 A presidente argentina, Cristina Kirchner, aprofundou ontem drasticamente a crise institucional cujo pivô é a autonomia do Banco Central ao emitir um decreto "de necessidade e urgência" que exonera o presidente da entidade, Martín Redrado, sob a alegação de "má conduta" e "falta de cumprimento dos deveres de funcionário público". Cristina ordenou também à Procuradoria-Geral que abra uma ação contra Redrado. Ele anunciou que entrará na Justiça com um pedido de anulação do decreto. Imediatamente após a emissão do decreto, analistas indicavam que a nova crise política - a terceira em dois anos de governo Cristina - se intensificará, pois os partidos da oposição anunciaram que resistirão às interferências no BC e a remoção de Redrado, cujo mandato vence em setembro. De acordo com a Carta Orgânica da entidade, o presidente do BC só pode ser demitido com a aprovação do Congresso. O chefe do bloco kirchnerista no Senado, Miguel Ángel Pichetto, declarou que após a publicação do decreto presidencial haverá um prazo de dez dias para que o caso seja analisado pelo Parlamento. Aliados do governo asseguram que a medida é totalmente legal, pois Redrado havia se negado a cumprir uma lei (da criação do Fundo Bicentenário), pela qual o Executivo poderia lançar mão das reservas cambiais para o pagamento de dívidas do Estado. Mas o constitucionalista Félix Loñ diz que Cristina "não pode demitir o presidente do BC, que tem estabilidade no cargo. O Banco Central e o Legislativo estão sendo atropelados". Outro constitucionalista, Gregorio Badeni, indicou que Redrado só poderia ser demitido se tivesse havido uma comissão parlamentar que avaliasse o caso, em relação à acusação de má gestão. "Esse decreto é de aplicação duvidosa", disse Badeni. "Recomendo a Redrado que não deixe o cargo", afirmou a líder da Coalizão Cívica, a deputada Elisa Carrió, de oposição. A presidente Cristina colocou interinamente Miguel Ángel Pesce, vice-presidente do BC, no lugar de Redrado até que o economista Mario Blejer assuma o cargo. Cristina justificou a medida para evitar "anarquia" na entidade financeira. Com o aumento da temperatura política, membros da oposição já cogitavam da possibilidade de abertura de um julgamento político de Cristina, que poderia resultar num impeachment. Essa hipótese ganhou ainda mais força depois que o senador Luis Juez, da Frente Cívica, de oposição, propôs que ela fosse julgada pelo Congresso por "violar" a Carta Orgânica do BC. A União Cívica Radical (UCR), principal partido opositor, também declarou que respaldará Redrado para "defender as instituições" do país. Além disso, a UCR lembrou que o governo não pode demitir o presidente do BC "sem o aval do Congresso". A UCR e a Coalizão Cívica entraram com pedidos na Justiça Federal para impedir o uso de reservas do BC para o pagamento da dívida. DISPUTA Juez, ex-prefeito de Córdoba, segunda maior cidade do país, disse que Cristina está tendo "uma conduta arbitrária". Irônico, ele afirmou que ela "não pode querer mudar o presidente do BC a toda hora". O vice-presidente argentino, Julio Cobos, declarou que o uso de reservas do BC para pagar dívidas deve ser discutido em uma sessão especial do Congresso, onde o governo tem minoria. Cobos, embora vice de Cristina, há um ano e meio tornou-se o principal presidenciável da oposição. O governo quer usar US$ 6,56 bilhões das reservas do BC para pagar parcelas da dívida pública neste ano. Redrado se opõe. "Ele é um homem do neoliberalismo", acusou a Confederação Geral do Trabalho (CGT). Segundo o secretário-geral da maior central sindical do país, Hugo Moyano, aliado dos Kirchners, representa a "ditadura financeira" e os "interesses transnacionais". AUTONOMIA GARANTIDA Segundo a Carta Orgânica do BC argentino, a demissão do presidente da entidade pode ser proposta pelo presidente da república, mas deve ser referendada pelo Congresso. O artigo 9 da Carta Orgânica diz que os integrantes da diretoria do BC "podem ser removidos de seus cargos pelo Poder Executivo em razãodo descumprimento de suas funções". Mais adiante, o texto afirma, no entanto, que para demitir o presidente do BC é preciso contar com a aprovação de uma comissão do Congresso Nacional, que seria comandada pelo presidente do Senado - que atualmente é o vice-presidente do país, Julio Cobos.