1. INTRODUÇÃO
A etiologia da palavra adolescência vem do latim “adolescere” e remete a “crescer” ou
“crescer até a maturidade”. Trata-se de uma fase da vida que vêm recebendo inúmeros
tratamentos por várias linhas e áreas de estudo, que determina significados variados para cada
sociedade pela diferença com que cada uma lida com questões econômicas, ideológicas e
políticas, onde reconhecer-se adolescente e definir o período abrangido pela adolescência
depende da cultura de cada povo, dos seus costumes e da maneira como vêem o mundo
(VARELA, 2008).
Segundo Castro, Abramovay e Silva (2004, p. 426) o conceito de adolescência está
explícito em:
[...] corresponde ao período referente ao segundo decênio da vida, ou seja, dos 10
aos 19 anos de idade. Este conceito é definido tendo como base a passagem das
características sexuais secundárias para a maturidade sexual, a evolução dos padrões
psicológicos, juntamente com a identificação do indivíduo que evolui de fase infantil
para fase adulta, e a passagem do estado de total dependência para o de relativa
independência.
Porém, quando se admite a idéia de que ser/estar na adolescência tem estreita relação
com determinadas transformações biopsicosociais que ocorrem no individuo e que o ambiente
sócio-cultural em que esse adolescente está inserido tem total responsabilidade no tempo em
que essas transformações irão ocorrer, é correto afirmar que a idade não define o estado de
adolescente porque essa fase pode anteceder ou suceder a puberdade (VARELA, 2008).
É sabido que os adolescentes formam um grupo etário que vivencia bruscas mudanças
nas esferas biológica, psíquica e social. É uma época da vida em que se iniciam muitos
conflitos pessoais e interpessoais, na qual os adolescentes assumem na sua personalidade
influências culturais da mídia, dos amigos, da família, enfim, do ambiente em que vivem, o
que resulta em estado de grande vulnerabilidade física, psicológica e social (TORRES;
BESERRA; BARROSO, 2007).
Advindo da área da advocacia internacional pelos Direitos Universais do Homem, o
termo vulnerabilidade nomeia, em sua origem, grupos ou indivíduos fragilizados, jurídica ou
politicamente, na promoção, proteção ou garantia de seus direitos de cidadania (AYRES et al,
2003).
Segundo os autores acima, o conceito de vulnerabilidade, em discussão há mais de 15
anos, especificamente aplicado à saúde, pode ser considerado o resultado do processo de
progressivas interseções entre o ativismo diante da epidemia da Aids e o movimento dos
Direito Humanos.
2
Vulnerabilidade do adolescente pode ser interpretada como a interação dos fatores
individuais do ser - cognição, afeto, psiquismo - com fatores sociais de desigualdade nos
quais ele está inserido - gênero, classe, raça – determinando acessos, oportunidades e
produzindo respostas sobre e para ele mesmo e o mundo. Uma pessoa pode ter a sua
vulnerabilidade aumentada se não tiver oportunidades de decodificar as mensagens emitidas à
sua volta, como também pode se tornar menos vulnerável, dependendo de sua capacidade de
discernir mensagens sociais que a colocam em situações de perigo (VILLELA e DORETO,
2006).
De acordo com o Ministério da Saúde, o número de jovens brasileiros de 10 a 19 anos
ultrapassa 33 milhões de pessoas, perfazendo um total de 17% da população brasileira
(DATASUS, 2009). Apesar dos altos índices demográficos, muitos desses jovens ainda não
têm acesso a informações e serviços de saúde adequados ao atendimento de suas
necessidades, em termos de educação sexual e reprodutiva, que os estimulem a tomar
decisões de maneira livre e responsável.
De modo geral, o adolescente não recebe da família informações que envolvam a
saúde e, quando tem acesso a essas informações, são muitas vezes limitadas e inadequadas,
provenientes de amigos ou de pessoas pouco preparadas para a função de esclarecer
adequadamente as importantes dúvidas dos adolescentes. A maior parte das informações
transmitidas a eles diz respeito ao uso do condon para prevenção de DST/AIDS. Entretanto, o
mecanismo de funcionamento do corpo relacionado à puberdade, maturação sexual, vivências
e conflitos decorrentes do crescimento e da sexualidade são pouco abordados
(BRENNEISEN; SERAPIÃO, 2007).
A ampliação de políticas públicas de saúde voltadas para os adolescentes,
especialmente aquelas para a saúde sexual e reprodutiva, requer novas perguntas sobre a
realidade destes sujeitos. Requer, ainda, que tais indagações sejam feitas a eles próprios,
respeitando e considerando seus olhares, opiniões e propostas (BRASIL, 2006).
Neste sentido, a escola é considerada o espaço privilegiado ao desenvolvimento de
ações de educação sexual para adolescentes, já que, além de oferecer informações corretas e
adequadas com embasamento teórico dos educadores, também
pode possibilitar
questionamentos, discussões e reconhecimento de valores necessários ao amadurecimento dos
adolescentes (BRENNEISEN; SERAPIÃO, 2007).
Neste contexto, vários autores afirmam que é essencial que os adolescentes possam
aprofundar, gradativamente, os conhecimentos sobre o corpo reprodutivo – e do seu próprio –
para permitir a ampliação das possibilidades de se conhecer para se cuidar, valorizando o
3
corpo como sistema integrado, as questões ligadas à construção de identidade e às
características pessoais (BRENNEISEN; SERAPIÃO, 2007).
A fim de preencher esta lacuna do conhecimento, a presente pesquisa investigou o
conhecimento e percepção que os adolescentes têm do próprio corpo, seus conhecimentos
sobre sexualidade, além das questões sobre cultura (tabus) e gênero, o que pode subsidiar
ações de prevenção e promoção à saúde deste grupo etário.
2. OBJETIVOS
OBJETIVO GERAL
Descrever o perfil dos adolescentes matriculados no primeiro ano do ensino médio em
uma escola pública de Cuiabá - MT, quanto aos seus conhecimentos e percepções do próprio
corpo, sexualidade, cultura (tabus) e gênero.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
1.
Identificar o conhecimento dos adolescentes quanto aos órgãos reprodutivos
femininos e masculinos, através da porcentagem de erros e acertos;
2.
Relacionar qual a idade da primeira menstruação/ejaculação e a primeira fonte de
informação sobre o evento;
3.
Identificar as questões de gênero e tabus relacionadas à sexualidade.
3. METODOLOGIA
Trata-se de um estudo quantitativo, de corte transversal, desenvolvido em uma escola
estadual do município de Cuiabá-MT, cuja amostra foi composta por alunos do 1°ano do
Ensino Médio, que concordaram em participar da pesquisa.
O instrumento utilizado foi um questionário de 13 questões, sendo quatro (4) abertas e
nove (9) fechadas (Anexo I) e foi aplicado à população de estudo em sala de aula pelas
próprias pesquisadoras.
Os dados foram processados pelo programa Excel e os resultados estão apresentados
em gráficos e tabelas, com números absolutos e relativos.
O presente projeto é parte do Projeto de Pesquisa intitulado “CONHECIMENTO E
PERCEPÇÃO DOS ADOLESCENTES DAS ESCOLAS PÚBLICAS DE CUIABÁ SOBRE
4
SEXUALIDADE.”, cadastrada na Pró-Reitoria de Pesquisa (PROPEQ) da Universidade
Federal de Mato Grosso, sob o protocolo 23108.010010/09-7, registro nº 150/CAP/2009.
Os adolescentes foram convidados a participar da pesquisa de forma voluntária e
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo II), resguardando os
participantes quanto ao sigilo absoluto das informações, assim como a privacidade e o
anonimato.
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética do Hospital Universitário Júlio Müller,
Universidade Federal de Mato Grosso (Anexo III). A Secretaria de Estado de Educação de
Mato Grosso autorizou por escrito o desenvolvimento do estudo (Anexo IV), bem como a
Diretoria da respectiva escola (Anexo V).
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram analisados 88 questionários, sendo 42 de adolescentes do sexo feminino e 46 do
sexo masculino.
Em relação aos órgãos internos, foi questionado aos adolescentes quais são os órgãos
internos masculinos e femininos que eles conheciam. O Gráfico 1 nos mostra uma proporção
de acertos de apenas 9,0% quanto aos órgãos internos masculinos e de 22,0% em relação aos
órgãos internos femininos.
Diante do resultado do Gráfico 1, o que mais chama a atenção é o grande percentual
dos adolescentes que erraram as respostas (37% e 30% respectivamente), ou que não
responderam e não sabiam responder a questão, o que no caso dos órgãos genitais masculinos
totalizaram 54%. Isso nos mostra a grande lacuna de conhecimento que os adolescentes têm
de seu próprio corpo e o não conhecimento da função de cada órgão, o que contribui
principalmente para o aumento de casos de gravidez nessa faixa etária. Segundo Bacarat
(2002), os partos de jovens brasileiras com idade entre 10 e 14 anos aumentou 20% nos
últimos anos. Evidencia-se, ainda, a grande necessidade que eles têm sobre informações
corretas acerca de sua sexualidade e reprodução humana e, mais ainda, de uma educação
sexual precoce e constante na vida desses adolescentes e jovens.
5
ÓRGÃOS GENITAIS MASCULINOS INTERNOS
27%
27%
37%
9%
Erros
Acertos
Não sabe
Não respondeu
ÓRGÃOS GENITAIS FEMININOS INTERNOS
28%
20%
30%
22%
Erros
Acertos
Não sabe
Não respondeu
Gráfico 1 – Distribuição das respostas dos adolescentes quanto ao conhecimento dos órgãos
genitais internos masculinos e femininos. Cuiabá, 2009.
Para se fazer educação sexual de forma adequada, é necessário que, além da empatia
com o assunto e de tratá-lo com naturalidade, o educador tenha um nível de conhecimento
sobre o tema suficientemente bom para que sua transmissão aos adolescentes seja clara, o que
se torna imprescindível à discussão dos temas relacionados à saúde dos adolescentes. A
educação para a sexualidade deve estar vinculada à formação das crianças e jovens como um
processo contínuo, para que possa oferecer esclarecimentos compreensíveis em diferentes
momentos da vida, de forma saudável (COSTA et al, 2001).
6
Foi questionado aos adolescentes o que o ovário e a ejaculação produzem. A maioria
respondeu que o produto da ejaculação são os espermatozóides e o líquido seminal com 79,5%
e 9,6% respectivamente, totalizando 89,1% de respostas corretas. Quanto ao produto dos
ovários (Gráfico 2), apenas 45% das respostas estavam corretas sendo que, quase um quinto
dos entrevistados não respondeu a pergunta. Destacamos a presença de respostas como sangue
e espermatozóides (1% e 2,2% respectivamente) que, apesar de serem em baixas proporções,
não deixam de ser relevantes. Em segundo lugar ficou a resposta “bebê”, com 35,1%.
PRODUTO DO OVÁRIO
Sangue
1%
35,1%
Bebê
45%
Óvulos
Espermatozóides
2,2%
16,5%
Nâo respondeu
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
45%
Gráfico 2 – Distribuição das respostas dos adolescentes sobre qual é o produto do ovário.
Cuiabá, 2009.
O resultado da questão acerca do produto feminino revela o não conhecimento dos
adolescentes sobre como se dá a concepção, evidenciando a confusão de idéias que eles fazem
por não saberem realmente como acontece a fecundação e concepção. Já o conhecimento em
relação à ejaculação talvez seja decorrente da maior naturalidade em relação ao produto
masculino, sem tantos tabus.
O índice crescente de gravidez na adolescência representa um problema social e de
saúde pública devido às conseqüências que ela traz na vida dessas adolescentes: confrontos
biológicos, psicológicos e sociais que podem interferir no desenvolvimento dessa faixa etária.
O fenômeno é verificado com maior freqüência na população de baixa renda e, dentre os
motivos, destaca-se o desconhecimento sobre o funcionamento do próprio corpo. Alguns
estudos que investigaram o conhecimento sobre o funcionamento do corpo, a puberdade, a
reprodução e a sexualidade, realizados no Brasil e no exterior, confirmam a desinformação e o
7
baixo nível de conhecimento dos temas, como também alertam sobre a não oferta de
orientação sexual correta à essa população (CARVACHO et al, 2008).
A tabela 1 faz referência às respostas dos adolescentes quanto à primeira fonte de
informação sobre ejaculação/menstruação. A fonte de informação que apareceu com maior
freqüência foi a Mãe com 28,2%.
Tabela 01 – Distribuição das respostas dos adolescentes
quanto à primeira fonte de informação sobre
ejaculação/menstruação. Cuiabá, 2009.
Fonte de Informação
Mãe
Pai
Irmã/irmão
Amiga
Amigo
Parente
Professor(a)
Não respondeu
Não sabe
Livros/revistas
Outros (internet, palestras)
Total
Nº
33
1
7
12
15
6
15
13
3
8
4
117
%
28,2
0,8
5,9
10,2
12,8
5,1
12,8
11,1
2,5
6,8
3,4
100,0
Observamos que, apesar de haver inúmeras fontes de informações sobre as
transformações do corpo que os adolescentes podem buscar sozinhos como internet, palestras,
livros ou revistas, que juntos somam 10,2% das respostas, ou com outras pessoas que não
sejam da família, na transição da fase infantil para adolescência através do início da
menstruação para as meninas e da primeira ejaculação para os meninos, notamos que a mãe
ainda exerce forte influência e é referida como a principal orientadora quando se trata deste
assunto.
De acordo com Martins e Faria (2006), a adolescência é um período de grandes buscas
e experimentações. Este processo pode ser muito saudável e rico em crescimento pessoal,
especialmente se os adolescentes tiverem com quem dividir suas angústias, medos, aflições e
dúvidas. Este estudo mostrou que estudantes dos graus oito a 10 (correspondentes ao último
ano do ensino fundamental e aos dois primeiros anos do ensino médio, no Brasil) consideram a
mãe como melhor orientadora, quando o assunto é sexo/sexualidade.
O próximo gráfico indica a idade em que o evento ejaculação/menstruação aconteceu
na vida dos adolescentes entrevistados, sendo a idade de 12 a 13 anos a mais prevalente
(Gráfico 3). Primeiramente, a análise do gráfico chama a atenção para o grande percentual
(mais de 60%) de adolescentes do sexo masculino que dizem não se lembrar ou que não
8
responderam à pergunta “Qual a idade da sua primeira ejaculação?” Isso nos leva a pensar
que esse acontecimento, a transição da infância para a adolescência, não tem a mesma
importância para os meninos em relação à primeira menstruação para as meninas, levando-se
em consideração que o evento é o sinal mais evidente que o corpo está preparado para gerar
uma criança. Entretanto, não foi encontrado na literatura estudo que permitisse a comparação
desses resultados.
Interessante observar que os dados confirmam o que alguns estudos já realizados
indicam: atualmente a puberdade chega cada vez mais cedo (NEDEFF, 2003).
IDADE DA PRIMEIRA EJACULAÇÃO
30,4%
30,4%
35%
30%
17,5%
25%
20%
10,9%
15%
4,3%
4,3%
2,2%
10%
5%
0%
10 anos
11 anos
10 anos
12 anos
11 anos
13 anos
12 anos
14 anos
13 anos
14 anos
Não lembra
Não respondeu
Não lembra
Não respondeu
IDADE DA PRIMEIRA MENSTRUAÇÃO
28,6%
23,8%
30%
25%
20%
14,3%
11,9%
9,5%
9,5%
15%
10%
2,4%
5%
0%
10 anos
10 anos
11 anos
11 anos
12 anos
12 anos
13 anos
13 anos
14 anos
14 anos
16 anos
16 anos
Não lembra
Não lembra
Gráfico 3 – Distribuição das respostas dos adolescentes em relação à idade em que o
evento ejaculação/menstruação ocorreu em sua puberdade. Cuiabá, 2009.
9
De acordo com a distribuição das respostas dos adolescentes sobre o questionamento
de quando o sexo deve acontecer (Tabela 2), pudemos observar que praticamente metade dos
adolescentes entrevistados (49,5%) responderam que ele deve acontecer durante o namoro,
enquanto apenas 21,0% acreditam que o relacionamento sexual deva acontecer somente após o
casamento.
Tabela 02 – Distribuição das respostas dos adolescentes de
acordo com a opinião de quando o sexo deve acontecer.
Cuiabá 2009.
Quando o sexo deve acontecer
Após o casamento
Quando existem planos para o casamento
No namoro
Sem namoro
Nenhuma das questões anteriores
Não respondeu
Total
Nº
20
3
47
14
7
4
95
%
21,0
3,2
49,5
14,7
7,4
4,2
100,0
Além dos resultados já comentados, é importante ressaltar também que 14,7% da
população estudada respondeu que o sexo deve acontecer ainda sem o namoro, ou seja, que o
compromisso de namoro sério ou casamento não seja necessário existir para que haja relação
sexual entre eles. Isso demonstra claramente a liberação sexual ocorrida nas últimas décadas,
sendo que o “ficar” de hoje em dia, pode-se dizer, é bem mais avançado do que se imaginava.
De acordo com o estudo de Rieth (2002), a população feminina dessa faixa etária liga
o sexo ao contexto de um relacionamento amoroso, por isso elegem os namorados como
parceiros para experiências sexuais. Elas relatam também que no “ficar” não acontecem
relações sexuais, pois se preocupam com sua reputação. Isso significa que valorizam o
“namorar” ou o “ficar” várias vezes com a mesma pessoa para que, com isso, as iniciativas
masculinas de serem pedidas em namoro aconteçam. Essas são idéias compartilhadas tanto de
jovens virgens como as que já se iniciaram na vida sexual.
Já pelas declarações dos rapazes na pesquisa da mesma autora, exercer a sexualidade
com a parceira remonta ao acúmulo de experiência sexual, ou seja, aprendizagem técnica e a
afirmação da virilidade. Os que já se iniciaram sexualmente, dizem terem relações quando
“ficam”, embora isso dependa do querer da parceira. Consideram inevitável que o casal
mantenha relações sexuais no namoro, pois o sexo seria conseqüência da troca de intimidades.
Ainda segundo os meninos, a intenção de transar com a parceira estará sempre presente,
independente do tipo do relacionamento, pois é próprio do instinto masculino.
10
Sobre a questão “O que é preciso para ter relação sexual?” as respostas foram
apresentadas separadamente de acordo com o sexo dos adolescentes que participaram dessa
pesquisa, para que pudéssemos avaliar a diferença na percepção dos gêneros (Gráfico 4).
O que é preciso para ter relação sexual:
46,2%
50%
45%
40%
35%
30%
23,1%
19,2%
25%
20%
7,7%
15%
3,8%
10%
5%
0%
Amar a parceira
Sentir
Gostar da
Basta ficar com
atração/tesão
parceira
a garota
Não respondeu
Respostas Masculinas
O que é preciso para ter relação sexual:
81,4%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
18,6%
30%
20%
0%
10%
0%
0%
Amar o parceiro
Sentir atração/tesão
Gostar do parceiro
Basta ficar com o garoto
Respostas Femininas
Gráfico 4 – Distribuição das respostas dos adolescentes quanto ao que é
preciso para ter uma relação sexual. Cuiabá, 2009.
11
Inicialmente, o instinto sexual para os meninos tem pouco a ver com sentimentos
românticos e afetividade, como é para as meninas. O desejo sexual é localizado no órgão
genital e é urgente, pois costuma necessitar de rápido alívio. Para as moças, o amor tem
prioridade sobre a genitalidade. Apesar de haver hoje algumas exceções a essa afirmação,
poucas experimentam o desejo da maneira como a que os rapazes o fazem. Para elas, nem
sempre o orgasmo é o objetivo primordial (COSTA et al, 2001).
No sexo masculino, a metade dos jovens inicia a vida sexual com namoradas ou
eventuais parceiras e cerca de 30% com prostitutas. No sexo feminino, o parceiro da primeira
relação sexual em geral é o namorado e, em alguns casos, um eventual parceiro. Infere-se aí
que as mulheres, predominantemente, julgam necessário algum envolvimento afetivo para as
relações, já os homens não se prendem tanto nesse quesito (COSTA et al, 2001).
Entretanto, parece ter havido uma mudança nesse sentido, pois mais de 30% dos
adolescentes do sexo masculino referem a afetividade (amar a parceira e gostar da parceira)
como elemento importante na vivência da sexualidade.
Homens precisam fazer sexo mais vezes que a mulher? Esta é a pergunta cujas
respostas estão distribuídas na tabela 3, onde pudemos observar que as respostas com maiores
percentuais foram “acho que sim” com 27,5% e “acho que não” com 28,6%, totalizando
56,1% de incerteza.
Tabela 03 – Distribuição das respostas dos adolescentes de
acordo com a questão: homens precisam fazer sexo mais vezes
que a mulher? Cuiabá. 2009.
Opinião
Acho que sim
Acho que não
Com certeza sim
Com certeza não
Não sei
Não respondeu
Total
Nº
25
26
8
15
13
4
91
%
27,5
28,6
8,8
16,5
14,2
4,4
100,0
As mudanças nos valores morais em relação ao sexo se refletiram claramente nas
respostas dos adolescentes. Muitos ainda criados por famílias/pais mais conservadores, outros
com maior liberdade para tratar deste assunto com seus familiares. É o que foi retratado no
estudo de Bozon (2003), onde ele encontrou dois discursos presentes na sociedade, sendo
estes contraditórios e coexistentes no que diz respeito às mudanças sexuais. De um lado temos
a sexualidade contemporânea que é denunciada porque ela favorece, tanto para homens como
para mulheres, oportunidades de terem vários parceiros sexuais. Já o discurso conservador,
12
defende a moral sexual e os valores tradicionais da família. No entanto, pode-se ter uma
leitura positiva das transformações contemporâneas e ver nelas uma revolução sexual que,
enfim, consagraria o direito ao prazer, à liberação das minorias sexuais, à aproximação das
experiências de homens e mulheres e à igualdade sexual entre mulheres e homens.
É nesta trajetória afetiva e sexual que se observa, na época contemporânea, as maiores
renovações na maneira pela qual as relações de gênero são sexualmente observadas,
principalmente pelo fato das mulheres terem transformado suas atitudes frente à sexualidade
(BOZON, 2003).
A tabela 4 apresenta as respostas dos adolescentes quanto à preferência por casar com
alguém virgem ou não. A resposta mais freqüente foi que a virgindade para se casar não faz
diferença para a população pesquisada (40,9%).
Tabela 04 – Distribuição das respostas dos adolescentes quanto à
preferência por casar ou não com alguém virgem. Cuiabá 2009.
Preferência
Sim, acho importante
Não, isso não faz diferença
Não, se tivesse sido só o único parceiro de transa
Sim, mas só por causa da AIDS
Não sabe
Não respondeu
Total
Nº
29
38
7
4
12
3
93
%
31,1
40,9
7,5
4,3
13,0
3,2
100,0
Com a liberação sexual das últimas décadas, os mitos e os tabus existentes em torno da
virgindade vêm caindo em desuso como mostra os resultados na tabela. A maioria dos
adolescentes respondeu que a virgindade não faz diferença na hora de escolher alguém para se
casar, porém uma parte deles afirma que considera importante (31,1%), ao passo que 13,0%
disseram não saber responder a questão, demonstrando dúvida sobre o assunto. O estudo de
Pinheiro et al (2000) nos diz que os adolescentes, de uma forma geral, tanto do sexo feminino
como do sexo masculino, têm respostas bastante parecidas quando se trata de se casar virgem
ou não: eles consideram que a virgindade é uma opção pessoal, no entanto afirmam que
decidir fazer sexo antes de se casar com alguém é algo benéfico, ou melhor, quase uma
condição para que o relacionamento possa vir a ter chances de dar certo. Discursos de
adolescentes mostraram que eles não acreditam mais em tradições conservadoras no que diz
respeito a esse assunto, pois dizem que são conceitos bastante ultrapassados para a época em
que vivemos.
13
Estes resultados são similares aos encontrados em outros estudos que mostram que,
apesar da importância dada à virgindade, como um valor moral e que está em constantes
modificações às vistas da sociedade, a sua preservação não está mais ligada ao casamento.
Atualmente, com a relativa perda do valor remetido à virgindade feminina, se cria um novo
modelo de relacionamento entre as gerações mais jovens, como a dos adolescentes de hoje
(ANDRADE, 2006).
Na tabela 5, mostramos a distribuição das respostas dos adolescentes de acordo com
suas opiniões sobre o significado do aborto. Percebemos que a maior parte dos adolescentes
tem consciência de que esta prática traz malefícios tanto para a garota, quanto para a criança
que ela estiver esperando. Porém, o que nos revela esta questão é que, mesmo eles sabendo
que a prática é ilegal, a maioria das garotas fazem o aborto e continuam a transar sem
camisinha evidenciado em 42,0% das respostas.
Tabela 05 – Distribuição das respostas dos adolescentes quanto ao significado do aborto.
Cuiabá. 2009.
Significado do aborto
É um meio eficaz para interromper a gravidez em qualquer situação
É ilegal, mas a maioria das garotas fazem e continuam transando sem se prevenir
É uma forma de eliminar uma criança não desejada e que o garoto não quer assumir
Ao tentar realizar o aborto pode trazer riscos tanto para a garota como para a criança
Não sei
Não respondeu
Total
Nº
%
5
5
42
42
8
8
33
33
8
8
4
4
100 100,0
Mesmo havendo uma intensa difusão na mídia a respeito de métodos contraceptivos, o
conhecimento, necessariamente, não predispõe a mudança no comportamento dos jovens.
Pressupõe-se que o acesso à informação transforme de imediato as práticas sexuais juvenis,
instaurando uma conduta de autoproteção que eliminaria possíveis riscos (BRANDÃO e
HEILBORN, 2006). Isto confirma o resultado mais agravante de nossa pesquisa, na qual os
adolescentes afirmam que, apesar dos riscos, eles ainda continuam mantendo relações sexuais
sem se prevenir.
Rieth (2002) nos mostra que em 1984, apenas 35,2% dos rapazes na faixa etária de 16
a 19 anos já haviam se iniciado sexualmente, percentual que cresce para 46,7% em 1998. De
forma mais significativa, ocorre o crescimento desse percentual entre as mulheres dessa
mesma faixa etária: de 13,6% para 32,3%.
Desse modo, a atividade sexual dos adolescentes está relacionada à gravidez em idade
precoce, fenômeno que está acontecendo numa freqüência cada vez maior, segundo dados do
14
Ministério da Saúde. Estimativas indicam que, no Brasil, cerca de 1.000.000 de adolescentes
engravidam todo ano e 10,7% terminam em aborto (SOUZA, et al, 2001).
Estudos elaborados por Souza et al (2001), revelam que, entre as adolescentes que
abortam 28,0% estão na faixa etária dos 19 anos, enquanto que, 72,5% delas têm de 17 a 19
anos, o que nos remete pensar nas repercussões negativas que estas adolescentes podem
apresentar por estarem no início da sua vida reprodutiva.
5. CONCLUSÕES
A presente pesquisa teve como principal objetivo descrever o perfil de uma pequena
amostra de adolescentes quanto aos seus conhecimentos e percepções do próprio corpo,
sexualidade, cultura (tabus) e gênero.
Identificamos o pouco conhecimento dos adolescentes quanto aos órgãos sexuais
internos e ao produto do ovário.
Observamos também que a idade da primeira ejaculação/menstruação para a maioria dos
adolescentes está entre 12 e 13 anos de idade, sendo que quase 10% das meninas disseram ter
menstruado aos 10 anos, apontando a precocidade da puberdade e o risco de engravidarem
cada vez mais cedo se não receberem informações corretas acerca de sua própria sexualidade.
A primeira fonte de informação sobre o evento é, em grande parte, a mãe, o que revela a
grande importância que a família tem no processo de aprendizagem sexual que os
adolescentes precisam desde a infância.
Foi identificado também neste trabalho o resultado de algumas questões envolvendo
tabus e a diferente percepção dos gêneros, como o que é preciso para se ter uma relação
sexual, cujas respostas deixam claro que ainda existe a falta de igualdade entre o
comportamento sexual dos adolescentes do sexo feminino e masculino.
Observamos a relevância de se conhecer as percepções e atitudes dos adolescentes frente
à sexualidade, tendo em vista a grande dificuldade de se abordar o assunto na família e/ou na
escola.
Os resultados mostram a necessidade da prevenção e promoção da saúde reprodutiva e
sexual na adolescência a fim de melhorar o perfil epidemiológico deste grupo etário.
Esperamos que a pesquisa possa possibilitar uma atualização/fundamentação da prática
de profissionais envolvidos com adolescentes, para que possam promover um processo de
aprendizagem compartilhada entre os adolescentes em que os medos, preconceitos e
15
ansiedades relacionados ao tema sejam discutidos e elaborados com base nos conhecimentos
científicos, bem como nas vivências individuais.
Destaca-se a importância de atuar na instrução de pais e professores para que eles
possam trabalhar o tema com seus filhos e alunos, respectivamente.
Os resultados também apontam a importância de se criar políticas públicas efetivas
voltadas à essa população, aumentando assim o acesso dos jovens à rede para que se
desmistifique os tabus da sexualidade e para que se diminua os altos números de gravidez na
adolescência (cada vez mais cedo) e AIDS/DSTs nessa faixa etária (cada vez mais comum).
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